O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Diplomacia da generosidade: quem paga a conta? - Deputado Mendes Thame

Quem paga a conta?
*Antonio Carlos Mendes Thame
Mala direta, 28/04/2011

O Congresso Nacional aprovou a revisão do Tratado de Itaipu, elevando de US$ 120 para US$ 360 milhões por ano o repasse que o Brasil faz ao Paraguai pelo uso da energia excedente de Itaipu. Até 2023, serão repassados US$ 3 bilhões a mais para o Paraguai e, além disso, o país vizinho herdará 50% da usina, avaliada em US$ 60 bilhões, sem nada ter investido na construção da hidrelétrica. Com certeza, essa doação será repassada para a conta dos consumidores residenciais e empresas. Ou seja, o cidadão brasileiro vai pagar a conta. Uma doação. Doação vem do verbo doar, que é sinônimo de ceder, conceder, fazer uma cessão. Concede-se quando não se é obrigado, mas se cede assim mesmo.

Foi o que ocorreu.

Uma doação no sentido estrito da palavra, sem nenhuma justificativa técnica, sem nenhuma obrigatoriedade jurídica, sem nenhuma contrapartida, sem quaisquer condicionantes quanto à aplicação do recurso. Em suma, uma concessão.

Como explicar que, havendo tantas carências no Brasil, deputados da base governista destinem R$ 5 bilhões ao Governo do Paraguai? Como explicar, sabendo que centenas de milhares de crianças brasileiras não têm creche, que se prefira destinar esses recursos ao pagamento de uma tarifa reajustada sem necessidade?

Os deputados representam as suas regiões e estão vendo o que está acontecendo com a infraestrutura rodoviária do País: o asfalto das rodovias federais se esfarela a cada dia, o transporte coletivo urbano impõe um imenso sacrifício no dia-a-dia do trabalhador. Como explicar que sejam ignoradas essas carências e aprovada essa doação de R$ 5 bilhões ao Paraguai?

Centenas de pessoas continuam em filas de espera para se submeter à hemodiálise, conscientes de que sem ela não conseguirão sobreviver. Milhares de pessoas estão em filas de espera para se submeterem à quimioterapia, conscientes de que ela é o passaporte para continuarem vivas. Dezenas de milhares de pessoas continuam sem tratamento condigno contra a hepatite. Centenas de milhares de pessoas esperam semanas por um exame de laboratório, meses por uma tomografia, ressonância magnética ou ultrassonografia. Prefeituras se desdobram para complementar os parcos recursos que recebem do governo federal, via SUS, para poder oferecer um serviço razoável de atendimento à saúde pública. Como explicar, então, esse volume imenso de recursos desviado do atendimento de saúde do nosso povo e doado ao Paraguai?

Só há uma explicação: parte dos eleitos não se sentem na obrigação de prestar satisfações a quem o elegeu, sentem-se acima de qualquer crítica, acima de qualquer questionamento. São donos absolutos do seu mandato e só vão se preocupar em dar satisfações aos seus eleitores no segundo semestre de 2014, às vésperas das próximas eleições, quando voltam a disputar a reeleição dos seus mandatos.

Por que chegamos a isso? Porque o sistema eleitoral, ou seja, a forma como os deputados são eleitos permite a eleição de muitos parlamentares sem vínculo como os eleitores. É o sistema que elege esses deputados que precisa ser mudado. Enquanto não se perceber ou não se tomar consciência de que há um nexo causal entre a qualidade da representação política e a maneira como se dá a eleição, não haverá pressão para mudar o sistema de escolha dos deputados. Quando isso ocorrer, o voto distrital, sem dúvida, será implantado.

É o voto distrital que aproxima os eleitos dos eleitores, permite que se faça uma análise mais acurada sobre o passado de cada um. Mais ainda, que se faça a responsabilização, que se acompanhe o voto dado por cada deputado, para saber se ele está realmente cumprindo o que prometeu, se o mandato que exerce é instrumento de mudança para melhorar a vida das pessoas.

Por isso, vamos lutar a cada dia pela distritalização do voto, para aproximar os eleitores dos eleitos, para que o conceito do Congresso melhore, a fim de que ele passe a merecer, de fato, como instituição, a confiança da população brasileira, por saber que é composta na sua grande maioria por pessoas que receberam uma procuração para representar os cidadãos e defender seus interesses, em primeiro lugar.

Antonio Carlos Mendes Thame é deputado federal e presidente do PSDB Piracicaba.

Oposicao: se o desmantelamento fosse obra do inimigo, nao haveria do que reclamar

Este editorial do Estadao confirma que a oposição está seriamente empenhada em desmantelar-se a si própria, como se já não bastasse o desmantelamento geral das instituições promovido pelo partido no poder.
Ele confirma, em termos práticos, o que eu tinha colocado num plano mais conceitual no meu artigo já citado que acompanha o de FHC na mesma revista:

Miséria da ‘oposição’ no Brasil: da falta de um projeto de poder à irrelevância política?
Revista Interesse Nacional (n. 13, abril-junho 2011, p. 28-36)
Link: http://interessenacional.uol.com.br/artigos-integra.asp?cd_artigo=103
Relação de Originais n. 2242; Publicados n. 1029.

A demolição do PSDB
Editorial - O Estado de S.Paulo
28 de abril de 2011
O autor francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) dizia que um romance não se escreve com ideias, mas com palavras. No que possa ter de verdade, a frase se aplica também à política, com uma diferença: em sentido estrito, a arte de conquistar e conservar o poder se faz com palavras e atos. A analogia vem a propósito dos solavancos mais recentes - e decerto não derradeiros - que abalam o PSDB, a agremiação que não sabe, entre outras coisas, o que fazer com o robusto patrimônio de 43,7 milhões de votos obtidos por seu candidato na última eleição presidencial.

De um lado, o ex-presidente e tucano emérito Fernando Henrique viaja pelo mundo das ideias em busca de bases conceituais para reconstruir o papel de sua legenda e dos aliados oposicionistas, depois da sua terceira derrota consecutiva para o PT de Lula em um decênio. De outro lado, no rés do chão da política partidária, atulhado do que nela há de mais velho, banal e, ainda assim, dominante - os cálculos de conveniência das ambições e vendetas pessoais -, o também tucano Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, toca a obra de demolição do enfermiço partido no seu berço e reduto mais consolidado.

Costumava-se dizer do seu correligionário José Serra que era uma figura politicamente desagregadora. Se foi, ou é, parece um aprendiz perto do rival que não se conforma até hoje com o apoio do outro ao afinal vitorioso concorrente do DEM, Gilberto Kassab, na eleição para prefeito da capital de 2008. Por conta disso e pelo aparente projeto de governar o Estado pela terceira vez, com um hiato entre 2007 e 2011, Alckmin se empenha em afirmar a hegemonia de seu grupo na seção paulista da legenda, tratando de confinar nas suas bordas os companheiros de diferentes lealdades.

Além disso - e aí já se trata dos prejuízos sofridos pelo interesse público -, deu de desmantelar políticas bem-sucedidas adotadas no interregno José Serra em áreas cruciais para a população, como educação e saúde. Chega a dar a impressão de querer apagar da história recente do Estado o período serrista. Essa política de demolição tem os seus custos, porém. Seis dos 13 membros da bancada do PSDB na Câmara de Vereadores paulistana deixaram o ninho na semana passada. E um tucano de primeira hora, o ex-deputado e secretário municipal de Esportes, Walter Feldman, acaba de fazer o mesmo.

Aqueles se guardaram de atribuir frontalmente ao governador a sua decisão. Mas este o acusou com todas as letras e argumentos ponderáveis. Argumentos que remetem à ascensão política do ex-prefeito de Pindamonhangaba pelas mãos de Mário Covas, de quem foi vice-governador e sucessor, depois de sua morte, e ao empenho de Alckmin em participar de todos os ciclos eleitorais da década passada: para governador, presidente, prefeito e novamente governador. Nem que para isso tivesse de implodir a aliança entre o PSDB e o DEM na citada eleição municipal de 2008. "Isso demonstra o seu apetite pelo poder", apontou Feldman. "Essa é a verdade."

A ironia é que, diante das baixas causadas pela iniciativa de Kassab de criar uma nova sigla, o PSD, o mesmo Alckmin que resistiu à parceria com o ex-PFL quando a agremiação tinha ainda razoável expressão política, agora, quando faz água, torna a recorrer aos seus quadros para recompor a equipe, depois de demitir o vice-governador e titular da estratégica Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Afif, que resolveu acompanhar Kassab.

As fraturas no PSDB paulista ocorrem na pior hora e no pior lugar. Elas são um entrave para o soerguimento do partido, em sua dimensão nacional. Qualquer que seja o peso das ideias para o que Fernando Henrique chama "refazer caminhos", as palavras e os atos que constituem a essência da política dependem de líderes dotados de coerência e carisma para proferi-las e praticá-los com credibilidade - e a crise paulista revela políticos que não estão à altura da tarefa. Sem líderes não se fortifica um partido, muito menos se chega às urnas com chances efetivas de sair delas vitorioso. Os erros de Alckmin não só o enfraquecem no plano regional, como sufocam as aspirações tucanas na esfera nacional. Assim os brasileiros não terão uma alternativa viável para o projeto de poder do PT.

BRICS: talvez fosse melhor escrever C > BRISA, e = #@%*!

Confuso, não é mesmo?
Mas a realidade é assim confusa, sempre, com assimetrias inevitáveis.
Alguns até acham que vão "corrigir assimetrias" construindo algum viaduto e asfaltando uma estradinha de interior. E enchem a boca com seus projetos mal concebidos.
Na verdade, o mundo é feito de assimetrias, como essa expressa acima.
Partindo de uma sigla para os especuladores de mercado, tentaram construir uma frente anti-imperialista e anti-hegemônica que só funciona no papel e na retórica, para fazer splash na mídia.
O C é obviamente maior do que todo o resto, que tampouco se entende quanto a prioridades.
E as "assimetrias" continuam sendo importantes.
Da coluna diária do Cesar Maia:

BRASIL X BRICS!

1. Investimento em relação ao PIB. Brasil em último.

2. Exportações em relação ao PIB. Brasil em último.

3. Dívida Pública em relação ao PIB. Só a Índia é pior que o Brasil.

4. Pagamento de juros em relação ao PIB. Só a Índia é pior que o Brasil.

5. Receita Tributária em relação ao PIB. Aqui, ninguém passa o Brasil.

6. Se quiser ler a matéria toda, são 18 páginas. Sebastian Briozzo e Joydeep Mukherji. Standard & Poor’s. Conheça.
Aqui em claro: http://www.joserobertoafonso.com.br/attachments/article/1687/BrazilxBRICs.pdf

Direitos Humanos: com aspas ou sem aspas?

Certas pessoas, incapazes, incompetentes ou covardes demais para assumir claramente suas posições favoráveis a ditaduras ignóbeis, dão voltas à imaginação para encontrar explicações sobre ações e posturas passadas que envergonham e envergonharam o Brasil e seus cidadãos e diplomatas, e envergonhariam qualquer um não submisso ideologicamente a essas ditaduras sórdidas e a essas ideias esclerosadas que eles ainda hoje envergonhadamente e defensivamente ainda defendem. Ficam disfarçando a realidade para não reconhecer diferenças claras, evidentes, cristalinas, entre o que se passou, de horrível, patrocinado por eles mesmos, e o que se passa agora, no plano da afirmação internacional do Brasil.
Ainda assim, tentam: pela pena, ou na oralidade das entrevistas de conveniência, tentam dourar a pílula a seu favor, ou encontrar uma última justificativa -- já não digo nem de ordem moral, mas de cunho apenas prático -- para defender políticas indefensáveis, e vergonhosas para qualquer padrão civilizatório. Pessoas assim deveriam se recolhar à sua falta de caráter e permanecer em silêncio, pois um dia o julgamento da História vai reduzi-las ao que são, verdadeirament^: celerados a serviço de propósitos indecorosos de organização política e social.
Já nem pretendo falar do personagem obscuro objeto da "crônica" abaixo transcrita, pois ele claramente é um operador da surdina, mas de outros personagens, que pretendem continuar frequentando a "mídia" -- essa expressão reservada ao "partido da imprensa golpista" -- e os auditórios com suas explicações canhestras sobre ignomínias passadas.
O julgamento da História virá, um dia...
Paulo Roberto de Almeida

Sem aspas, Garcia
Demétrio Magnoli
O Estado de S.Paulo, 28 de abril de 2011

"É mesmo lamentável ver o Brasil adotar essa posição", reclamou Sayad Sajjadi, embaixador do Irã na ONU, no dia 25 de março. A representação brasileira votara a favor de uma resolução patrocinada pelos Estados Unidos e diversos países europeus que institui um relator independente para investigar a violação dos direitos individuais na ditadura teocrática xiita.

"Não esperávamos isso do Brasil". Na sua surpresa genuína, Sajjadi deixa entrever o diagnóstico que, por aqui, se procura ocultar: a política externa de Dilma Rousseff promove uma ruptura conceitual, não um mero ajuste, em relação à de Lula. Dias atrás, no Palácio do Itamaraty, a presidente esclareceu o sentido da nova orientação, conectando a defesa dos direitos humanos à pretensão brasileira de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Durante oito anos o Brasil rejeitou todas as resoluções que condenavam o Irã. Ano passado, alegando uma "questão cultural", absteve-se em face da resolução que condenava o apedrejamento de mulheres condenadas por adultério. "Eu sei que cada país tem suas leis, sua Constituição, sua religião - e, gostando ou não, temos que respeitar o procedimento de cada país", explicou Lula no momento da abstenção ignóbil. O então chanceler Celso Amorim, na sua característica arrogância, deu um passo à frente para dizer que não votaria com a finalidade de "agradar à imprensa". A mudança em curso é indisfarçável, mas a facção derrotada tenta disfarçá-la para reconquistar, no futuro próximo, uma influência perdida.

Nas antigas enciclopédias soviéticas, lacunas narrativas ocupavam o lugar de eventos históricos "indesejáveis". O assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, em artigo consagrado à política externa do governo Dilma, publicado na edição de abril da revista Interesse Nacional, simplesmente não menciona a nova abordagem do tema dos direitos humanos. Numa entrevista, instado a falar sobre aquilo que lhe desagrada, atribuiu a reviravolta apenas a uma preferência pessoal da presidente, que refletiria seu passado de prisioneira política. Ele fala aos tolos, supondo que todos o são.

Menos melífluo, o ex-chanceler Amorim admitiu que, provavelmente, votaria contra a resolução sobre o Irã, por considerá-la "política". É, de fato, de política que se trata. Samuel Pinheiro Guimarães, o lugar-tenente de Amorim, num ensaio de 2002, qualificou a promoção dos "direitos humanos ocidentais" como política destinada a dissimular, "com sua linguagem humanitária e altruísta, as ações táticas das Grandes Potências em defesa de seus próprios interesses estratégicos". O adjetivo "ocidental", agregado aos direitos humanos, é o sinal inconfundível de uma doutrina de justificação dos regimes que violam sistematicamente os direitos humanos.

Um artigo do diplomata Sérgio Florêncio, também publicado na Interesse Nacional, mas em 2008, e devotado à defesa da abordagem dos direitos humanos na política externa de Lula, sintetiza exemplarmente tal doutrina. Florêncio aponta uma tensão entre "uma visão de fortalecimento da universalidade dos direitos humanos" e "um olhar de preservação de identidades culturais consideradas ameaçadas por um mundo globalizado" para, em seguida, denunciar os "propósitos políticos" das resoluções de condenação de regimes que criminalizam a opinião política, encarceram dissidentes, assassinam opositores. As passagens cruciais de seu texto poderiam ser encampadas pelo governo chinês ou subscritas por Hosni Mubarak, Muamar Kadafi e Fidel Castro.

"O Brasil deveria mostrar que é um país independente, e não um país pequeno que se curva aos interesses dos Estados Unidos". A crítica, emitida após o voto contra o Irã, casualmente não partiu de Amorim ou Garcia, mas do diplomata iraniano Mohammad Reza Ghaebi. Dilma Rousseff pode usá-la como condecoração involuntária oferecida pelo representante de uma ditadura que borra, cotidianamente, a fronteira entre civilização e barbárie. O voto brasileiro não é uma homenagem aos interesses dos Estados Unidos, mas aos valores nacionais, proclamados pela nossa Constituição.

No seu artigo sobre política externa, Garcia cerca a expressão "interesse nacional" com as aspas de uma rancorosa ironia. Por meio de uma longa digressão em torno do óbvio, ensina que o interesse nacional está sujeito a contrastantes interpretações, concluindo com uma afirmação tão vulgar quanto perigosa: "A política externa, como toda política, sempre dividiu e divide uma sociedade (...)". O interesse nacional não é, evidentemente, um dogma inscrito em pedra. Mas, ao contrário do que imagina o ideólogo, a experiência histórica das nações se condensa em valores coletivos e consensos duradouros. Quando a Constituição os converte em princípios políticos, como no caso da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil, é preciso reconhecer a existência de um interesse nacional não cerceado pelas aspas da "luta de classes".

O discurso de Dilma Rousseff no Itamaraty alinhou nossa política externa à prescrição constitucional - ou seja, ao interesse nacional. Nele os direitos humanos foram recolocados no seu lugar: "Vamos promovê-los em todas as instâncias internacionais, sem concessões, discriminações ou seletividade, coerentemente com as preocupações que temos a respeito em nosso próprio país". A mensagem é cristalina. As violações de direitos humanos nas democracias, inclusive na nossa, não invalidam os compromissos internacionais com os direitos humanos. Guantánamo deve ser criticada, mas não mais será transformada em pretexto para silenciar sobre as tiranias.

É uma mudança providencial, na hora em que os povos árabes se erguem contra ditaduras tantas vezes elogiadas por Lula e Amorim, exigindo precisamente o respeito às liberdades políticas - isto é, aos direitos humanos "ocidentais".

SOCIÓLOGO, É DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.
E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@TERRA.COM.BR

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Santo Deus: o PT virou neoliberal !!! (incrivel: o mundo já não é o mesmo...)

Pois é, vivendo e aprendendo, diria um velho marxista.
Não, não estou me referindo a mim mesmo, mas aos representantes da espécie que ainda sobrevivem no clima inóspito e desértico do cerrado central.
Mas essa da presidente (com "e") anunciar, pela voz do seu grão-vizir, que vão privatizar aeroportos é o desmentido da mentira ao cubo, ou seja, a fraude consumada. Onde vamos parar ?!

Foi preciso muita deterioração dos serviços aeroportuários para que a presidente se rendesse ao óbvio: em face de um governo incompetente, de petistas incapazes, melhor entregar tudo para a iniciativa privada.
Em outros termos, não é por falta de dinheiro que o governo está fazendo isso, ou pelo menos não é apenas por falta de dinheiro. Dinheiro sempre existe, basta remanejar o orçamento, quando se tem ideia exata do que se pretende fazer. É por incompetência mesmo.
Essa gente não deixa por menos: ao enfrentar a menor dificuldade já se rendem ao neoliberalismo assim de graça. Covardes...
Aposto como nem vão dar explicações ou justificativas.
Vão encolher o rabo e escondê-lo entre as pernas, como cachorro humilhado, e sobretudo vão ficar quietos, esperando que a oposição não acrescente sua própria gozação à humilhação pública.
Nisso eles podem contar com a "oposição" (com aspas reforçadas, para justamente denotar algo que não existe, por enquanto); ela é incapaz de sequer dizer o que pensa, quanto mais de interpretar o que não pensam os petistas.
Os petistas deveriam dizer: "Gracias, oposição de araque!"

Enfim, aqui fica o meu conselho: talvez os que sobraram na oposição deveriam chamar os petistas de neoliberais. Mas, pensando bem, talvez não cole mais. Como já foi consagrado no vocabulário político e nas aulas idiotas de acadêmicos abestalhados com o "povo no poder", eles, os da oposição, são os neoliberais, como os petistas nunca se cansaram de acusar.

Os petistas são algo mais elaborado: eles são agora os neo-neoliberais...

Paulo Roberto de Almeida

O papel da oposição - Rubens Antonio Barbosa

Transcrevendo:

O papel da oposição
Rubens Antonio Barbosa
O Globo, 26/04/2011

As três últimas derrotas do PSDB em eleições presidenciais deixaram a oposição sem discurso, adotado e incorporado habilmente pelo PT, e sem bandeiras (como a modernização do país e as privatizações), cujos resultados positivos foram renegados três vezes, pelo próprio partido, durante as campanhas eleitorais.
De maneira competente, o governo do PT ocupou todos os espaços políticos. A oposição, reduzida aos pronunciamentos parlamentares, teve pouca relevância e influência no processo político pela dificuldade de ser ouvida pela sociedade. O papel da oposição, em larga medida, foi representado pela mídia que, com competência e com amplo acesso à sociedade, tem fiscalizado as ações do executivo e denunciado o que entende serem equívocos de políticas e mazelas da administração pública.
Criou-se, assim, um vácuo político que a revista “Interesse Nacional” procurou preencher ao promover o debate sobre o papel da oposição no Brasil hoje. Afinal, na última eleição presidencial, 43 milhões de eleitores rejeitaram o que o PT representa e a sociedade brasileira, em profunda transformação, mostra a inclusão das classes D e E em uma classe média que conta hoje com mais de 100 milhões de pessoas, cujas aspirações e valores ainda não estão claramente identificados.
É tão grande o anseio da sociedade pela discussão de ideias e tão vigorosa a demanda pelo debate político que não chega a surpreender a repercussão que um único artigo sobre o papel da oposição conseguiu despertar na mídia e nos meios eletrônicos de comunicação, antes mesmo de sua publicação na revista. A demanda reprimida foi atendida e despertou imediata atenção da classe política e da mídia.
O artigo, publicado no último número da “Interesse Nacional”, pode ser visto como um convite para o inicio de um debate de alto nível sobre o aperfeiçoamento da democracia pelo fortalecimento das oposições. FHC, nos últimos tempos, tem chamado a atenção de seu partido para a urgente necessidade de se reciclar e de mudar seu discurso, sua estratégia e sua ação de modo a que possa ocupar um papel de realce no cenário político nacional.
Na revista, a análise do ex-presidente FHC foi acompanhada por dois outros provocativos trabalhos do sociólogo Demetrio Magnoli e do professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, cujas ideias básicas valem como contribuições importantes para o debate.
Demetrio Magnoli, em “Partido Único”, referindo-se ao PT, assinala que a sociedade brasileira — moderna, urbana, complexa — não se ajusta à sedimentação de seu sistema político sob o peso de um poder hegemônico. Na sua opinião, a rejeição do petismo se expressaria na sociedade sob as mais diversas formas. “Os partidos oposicionistas nada têm a dizer sobre o modelo (econômico) em gestação que subordina o interesse público ao interesse privado”, assinala Demétrio.
Em “Miséria da oposição no Brasil: da falta de um projeto de poder à irrelevância política”, Paulo Roberto de Almeida elabora sobre a inexistência de uma verdadeira oposição no atual cenário político brasileiro e sobre as tarefas da oposição num moderno sistema político democrático. “A oposição brasileira (….) falhou miseravelmente em sua missão oposicionista. Dizer que ela foi inepta, ineficiente, incompetente, patética, seria até ser generoso com as principais forças que foram agrupadas nesta classificação de oposição”, observa Paulo Roberto.
O Partido dos Trabalhadores fez a sua parte. Renovou-se, organizou-se nacionalmente e tem um projeto de poder. No governo há oito anos, e agora desfrutando mais quatro, tem um forte poder de atração e de cooptação.
Espera-se que as oposições, e, em especial, o PSDB, o partido mais forte dentro desse grupo, iniciem um debate democrático para criar condições de modo a apresentarem-se, nas próximas eleições, como uma real alternativa ao PT, com um projeto para o país, e não apenas de poder. A alternativa — caso isso não ocorra — é a consolidação do PT como partido hegemônico, a exemplo do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por quase 70 anos.

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Meu artigo ao qual ele se refere é este aqui:

Miséria da ‘oposição’ no Brasil: da falta de um projeto de poder à irrelevância política?
Revista Interesse Nacional (n. 13, abril-junho 2011, p. 28-36)
Link: http://interessenacional.uol.com.br/artigos-integra.asp?cd_artigo=103
Relação de Originais n. 2242; Publicados n. 1029.

Contra-homenagem aos anonimos (verdadeiros e falsos)

De vez em quando aparece por aqui algum anônimo comentarista, que pretende liquidar com duas ou três afirmações peremptórias, geralmente ligeiras, superficiais e inúteis, alguma frustração acumulada ao longo de uma carreira mal-sucedida de escritor ou uma outra jamais alcançada de diplomata.
Essas pessoas pretendem se fazer ouvir, e ficam contentes quando eu admito aqui duas ou três bobagens que escreveram, geralmente negativas para com minha atividade, depreciativas de minha escrita ou enraivecidas com minhas posições políticas (em geral anarquistas, reconheço, ou melhor, libertárias, absolutamente independentes e autônomas de qualquer poder ou autoridade).
Eu nem deveria prestar atenção nesse tipo de erva daninha, e simplesmente deletar os comentários maldosos.
Mas mesmo os anônimos maldosos prestam um serviço: eles sempre me dão a oportunidade de novas reflexões; por isso, devo agradecer sinceramente a eles, mesmo se eles o fizeram com outras intenções e de forma totalmente involuntária.
Enfim, tendo recebido mais uma inutilidade deste tipo, creio que seria oportuno, para deixar esses leitores amargos ainda mais frustrados, republicar um antigo texto dedicado especialmente a eles, que aparecem em diferentes categorias: os bons, os maus e os feios.

Minúsculo Tratado sobre o Anonimato
Paulo Roberto de Almeida

Há muito tempo pretendia escrever um mini-tratado sobre o anonimato, mais uma peça de relativa inutilidade substantiva, apenas para me distrair e para fazer companhia a meus outros mini-tratados (um primeiro sobre as reticências, outro sobre as entrelinhas, um terceiro sobre as interrogações, e um adicional, que aliás não sei se já foi terminado, sobre as exclamações). Não se inquietem os curiosos, pois tenho vários outros no pipeline, ou pelo menos nos meus circuitos mentais, e a coleção deve ser enriquecida com algum besteirol gratificante, cuja única função, pelo menos para mim, é servir a meu próprio divertissement intelectual.
Raramente escrevo textos para contentar ou servir alguém, e jamais escrevo algo com o qual não estou de acordo, o que não quer dizer que eu também não possa me divertir com essas pequenas distrações de um cotidiano mais sério. Sempre me divirto fazendo esse tipo de coisa, pois tudo é motivo para uma digressão a mais na extensa cadeia das minhas escrevinhações.
Pois o mini-tratado pretendido sobre o anonimato se deve obviamente ao fato que recebo incontáveis mensagens anônimas em meus blogs, algumas simpáticas, outras questionáveis (para usar um termo neutro), outras francamente dispensáveis. Se não destoar muito do espírito dos blogs, acabo publicando, mesmo quando se trata de crítica ou discordância em relação ao que escrevi. Um blog tem essa função, precisamente, oferecer um espaço para a livre expressão do pensamento.
Infelizmente, alguns comentários anônimos são extremamente curtos, e a gente fica sem saber o que pretendia exatamente o seu autor. Como, por exemplo, um sintético Anônimo que deixou um comentário sobre esta minha postagem:

sexta-feira, 12 de março de 2010
1779) A pedagogia freireana: nossa contribuicao ao atraso do mundo...

Cito: “Oferecemos ao mundo um PRA, com seu arsenal de inutilidades e pensamentos levianos!”

Como se vê, nada de muito esclarecedor ou útil a um debate importante sobre o tema desse post, que se referia ao papel deletério desse ícone da idiotice pedagógica que é o equivocadamente cultuado Paulo Freire, o representante máximo de nosso atraso educacional.
Mas entendo que o Anônimo em questão nunca teve a intenção de comentar de fato a substância da postagem e, sim, a de criticar o “postador”, no caso eu mesmo, com o que ele se desvia dos meus critérios requeridos para incorporação de comentários, ou seja, de que eles sejam pertinentes e tragam alguma contribuição para o distinto público leitor, se ouso me expressar assim.
Segundo esse Anônimo eu trago ao mundo um arsenal de inutilidades e pensamentos levianos. Curioso que ele se dê ao trabalho de me ler, o que revela um espírito crítico pelo menos deficiente, posto que se ocupando de bobagens e inutilidades. Esse Anônimo faria melhor em ocupar o seu tempo com coisa mais inteligente, em lugar de ficar aqui procurando sarna para coçar sabe-se lá que parte de seu corpo indolente, já que ele parece incapaz de expressar de modo mais claro ou completo o seu pensamento (se é o caso de usar este substantivo...)..

Em todo caso, eu gostaria de agradecer a este Anônimo comentarista, pois ele me oferece a oportunidade de antecipar ao meu previsto mini-tratado sobre o Anonimato, redigindo este minúsculo texto sobre esse tema, que ocupa, digamos assim, quase metade do volume de comentários em meus posts.

Certos comentaristas em meus blogs estão de fato interessados nos temas, e colocam observações inteligentes, correções a meus pontos de vista, complementos à informação em questão, enfim, fazem aquilo que se espera de um comentarista. Muitos, provavelmente mais da metade, são anônimos, o que pode querer dizer várias coisas: se trata de pessoas ocupando cargos na burocracia do Vaticano onde também trabalho, enfim, uma Santa Casa carente de liberdades democráticas mais amplas, posto que as pessoas evitam – e são induzidas a evitar – comentários abertos sobre seu objeto de trabalho, seu ganha-pão tradicional por temor de alguma retaliação indevida (e autoritária, como sempre acontece); outros querem justamente ter a liberdade de participar de um debate sem ter a necessidade de revelar sua identidade, para se sentirem mais livres, leves e soltos na expressão de seu pensamento real, que por vezes é puramente especulativo, ou até contrário ao que normalmente se espera de um profissional de sua condição pública; outros, ainda, querem justamente atacar meus posts ou meus argumentos – o que também é legítimo –, sem precisar se explicar sobre as razões de seus gestos; e existem também aqueles que comparecem com certo despeito, talvez até mesmo alguma raiva, pela liberdade que eu me concedo de ficar escrevendo tanta coisa – muita bobagem, reconheço – sem pedir permissão a nenhuma dessas autoridades que supostamente nos governam (e imagino que eles também sejam colegas de infortúnio intelectual...).
Existem alguns que o fazem por timidez, outros por covardia, outros ainda que atuam por maledicência, ou espírito ranzinza, gente frustrada que talvez gostasse de fazer o que eu faço e que se julga então no dever de me atacar – mesmo de forma tão superficial e incompreensível como o post de comentário negativo acima transcrito – para talvez compensar alguma frustração qualquer.

Enfim, existem anônimos de todos os tipos, inclusive aqueles que mesmo assim são flamenguistas ou corintianos, ou que não abandonam crenças ultrapassadas, há muito tempo na lata de lixo da história, como diria um ilustre marxista.
Pois bem, quero dizer a todos esses anônimos que freqüentam meus espaços de interação que eu os estou “observando”, se ouso dizer, para tirar minhas conclusões sobre sua atividade interessante, e sem dúvida enriquecedora dos meus blogs. Gostaria de lhes prometer que, assim que eu conseguir algum tempo livre, vou escrever meu “mini-tratado sobre o anonimato” en bonne et due forme, as appropriate, como diriam franceses e britânicos. Vai chegar o dia, não se inquietem. Por enquanto fiquem apenas com este minúsculo ensaio sobre um dos assuntos mais sérios do chamado cyberspace, o que permite (quase) todas as transgressões e liberdades.
Aliás, já está na hora de alguém propor uma associação de Anônimos Anônimos, ou seja, gente que se reúne sem revelar a identidade, apenas para discutir, cripticamente se for o caso, as diversas facetas de uma profissão florescente, uma atividade que requer certa coragem para sair do anonimato anônimo para se lançar no anonimato público. Enfim, anônimos anônimos, uni-vos, pois vocês não tem nada a perder, a não ser a vergonha de ser um membro dessa imensa confraria.
Meu mini-tratado virá, mesmo sob risco de algum outro Anônimo classificar minhas iniciativas como um arsenal de inutilidades. Não se pode contentar todos ao mesmo tempo.
Abraços Anônimos, se ouso dizer...

Brasília, 19 de março de 2010.

Revolucao cultural maoista: um dos grandes desastres humanos

De vez em quando, homens (mulheres também) cometem enormes bobagens, desastres que se revelam incomensuráveis. A expulsão dos judeus da península ibérica -- 1492 da Espanha, 1503 de Portugal -- foi uma dessas bobagens enormes que causaram um atraso secular -- vários séculos -- em termos de atraso, perda de capital humano e isolamento cultural e comercial.
O "grande salto para a frente" -- que provocou 25 a 30 milhões de mortos -- e a "revolução cultural" -- que simplesmente destruiu a educação na China, e pode ter provocado alguns poucos milhões de mortos -- ambas provocadas, sustentadas e estimuladas por esse grande tirano megalomaníaco que foi Mao Tsé-tung devem ter representado um desastre de proporções inimagináveis para a China.
Nenhuma família chinesa ficou imune a uma ou a outra. Tragédias fabulosas, se ouso dizer.
Paulo Roberto de Almeida

Calendário Histórico
1969: Termina a Revolução Cultural na China
Deutsche Welle, 27 de abril de 2011

No dia 27 de abril de 1969, seguindo as ordens de Mao Tse-tung, o Exército chinês dissolveu as Guardas Vermelhas.
Mao Tse-tung em 1966, no início da Revolução Cultural

A Revolução Cultural da China nasceu de um estrondoso fracasso do líder Mao Tse-tung. Com a campanha do Grande Salto para a Frente (1958-1960), ele pretendia industrializar a China em tempo recorde e, simultaneamente, construir a sociedade igualitária preconizada pelo comunismo.

Ele obrigou os camponeses a se juntarem em gigantescas comunas agrícolas e instalou siderúrgicas de tecnologia rudimentar por todo o país. Mas o único resultado da campanha foi a desorganização total da economia. Milhões de agricultores morreram de fome.

No dia 27 de abril de 1969, seguindo as ordens de Mao, o Exército chinês dissolveu as Guardas Vermelhas, que levaram a China praticamente à anarquia durante a Revolução Cultural. Oficialmente, o número de mortos durante a Revolução Cultural foi de 34 mil, embora muitos acreditem que, na realidade, houve milhões de vítimas.

Ostracismo e contra-ofensiva de Mao
O desastre do "grande salto" condenara Mao ao ostracismo. O Partido Comunista Chinês afastou-o da condução dos assuntos internos do país, mas ele continuou comandando a política externa.

Em 16 de maio de 1966, advertiu num documento interno que o PCCh estava repleto de revisionistas capazes de, a qualquer momento, instaurar o capitalismo na China. Começava assim sua audaciosa contra-ofensiva para recuperar prestígio, mergulhando o país na chamada Grande Revolução Cultural Proletária.

A revolução mobilizou os estudantes de Pequim e, em pouco tempo, alastrou-se por toda a China. Principalmente a juventude era estimulada a se rebelar contra o "elitismo, revisionismo e a mentalidade burguesa". As consequências foram dramáticas: filhos denunciavam os pais, estudantes agrediam seus professores e forçavam à suspensão das aulas, chefes torturavam seus subordinados.

Perseguições políticas
Cerca de 20 milhões de colegiais e universitários, liderados por Jiang Qing, a mulher de Mao, formaram as Guardas Vermelhas e iniciaram uma onda de perseguições políticas. Intelectuais e líderes do PCCh foram espancados, presos e, em muitos casos, mortos.

Um dos ilustres perseguidos, por exemplo, foi Deng Xiaoping, o dirigente que, depois de enfrentar o exílio interno, voltou ao poder nos anos 70 e arquitetou a revolução capitalista responsável pelo crescimento atual da economia chinesa.

Paralelamente à perseguição política, o movimento promoveu uma faxina cultural. Os "guardas vermelhos" destruíam templos e outros vestígios do "passado feudal", queimavam livros que não tivessem conteúdo revolucionário. A peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, por exemplo, era considerada incompatível com o sonhado "paraíso proletário". Mao usou a juventude também para levar ao extremo o culto à personalidade, promovendo marchas colossais em sua própria homenagem.

"Dez anos perdidos"
O "Grande Timoneiro", no entanto, logo perdeu o controle do movimento. Seguiram-se dez anos de turbulências que paralisaram o sistema educacional e abateram a economia. "Foram anos de injustiça, humilhações e sofrimento sem fim", resume o escritor Ba Jin. Os excessos dos "guardas vermelhos" levaram o exército a intervir, já em 1969, com o apoio de Mao. Era, na prática, o fim da Revolução Cultural.

Hoje, o governo comunista se refere à Grande Revolução Cultural e Proletária como "dez anos perdidos". A principal preocupação de Mao não era salvar a ideologia do proletariado. Sabe-se que ele arquitetou o movimento para se livrar de rivais políticos e consolidar seu poder. Seus maiores rivais eram dirigentes da ala moderada do PCCh, como Deng Xiaoping, que defendiam a "liberalização da economia".

Possuído pelo poder, Mao eliminou 12 dos 23 membros incômodos no politburo. A Revolução Cultural pareceu um golpe de Estado. No fim, o próprio Mao viu-se obrigado a acabar com o movimento, ordenando a dissolução das Guardas Vermelhas.

A decisão de extingui-las foi aprovada no nono Congresso do Partido Comunista, a 27 de abril de 1969, marcando formalmente o fim da Revolução Cultural. O país, porém, só voltou à normalidade em 1976, com a morte de Mao. Hoje o governo chinês procura ignorar o aniversário da revolução, para não arranhar a imagem do "Grande Timoneiro" Mao Tse-tung.

Greenpeace: por uma vez concordo com esses malucos...

Eu, geralmente, sou contra tudo o que o Greenpeace faz. Não por animosidade de princípio contra esse bando de quixotescos promotores do meio ambiente, mas porque acredito, pelo que vejo e leio, que eles dispõem de pouca base científica para suas ações militantes, atuando mais por transpiração do que por inspiração bem fundamentada.
Por uma vez concordo com eles, mas mais exatamente pelo lado fiscal e orçamentário, do que por uma oposição de princípio contra a energia nuclear. Ou seja, sou contra o financiamento público, não contra a energia nuclear em si.
Creio que o Brasil deve aprofundar a pesquisa e o desenvolvimento de todas as tecnologias, mas não precisamos de energia nuclear por enquanto...
Paulo Roberto de Almeida

BNDES banca calhambeque atômico
Porgente, 27/04/2011

O Greenpeace do Brasil lançou uma campanha contra o financiamento público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) à construção de novas usinas nucleares no País. Veja os argumentos da entidade ambiental mais famosa do mundo:

Na véspera do aniversário de 25 anos do acidente nuclear em Chernobyl, na antiga União Soviética, uma ‘nuvem radioativa’ cobriu a sede do BNDES, no Rio de Janeiro. A fumaça laranja que subiu aos céus no Largo da Carioca, endereço do banco no centro da cidade, foi ao mesmo tempo um alerta sobre os perigos de um acidente nuclear e um apelo para que o BNDES suspenda o financiamento para a construção da usina nuclear de Angra III.

Por volta das nove e meia da manhã, ativistas do Greenpeace vestidos como equipes de resgate em acidentes nucleares dispararam sinalizadores de fumaça na frente do prédio do BNDES, simulando contaminação por radiação. Um cartaz pedia ao BNDES para não financiar uma geração de energia tão insegura, como provam Chernobyl e Fukushima.

O governo brasileiro tem na manga cinco projetos de novas usinas nucleares. Quatro ainda estão sem endereço definido. Jacques Vagner, governador da Bahia, torce para levar a maior parte delas para seu estado. A quinta está para ser construída em Angra dos Reis, no litoral Sul fluminense, no complexo que já abriga as usinas nucleares de Angra I e II. A nova unidade, Angra III, já custou aos cofres públicos 1 bilhão de reais e a estimativa do seu custo total ultrapassa 10 bilhões de reais. É muito dinheiro para se investir em uma usina que até seus criadores, os alemães, consideram uma espécie de calhambeque atômico.

Progressos fantasticos do Mercosul -- as barreiras amistosas de nuestros hermanos

Bem, por uma vez não sou eu quem está dizendo...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina é o país com mais barreiras contra o Brasil
Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas de Londres
Blog PortoGente, 27/04/2011

Dos principais parceiros comerciais do Brasil, os “hermanos” da nossa vizinha Argentina são os que mais possuem barreiras contra os produtos nacionais. São, ao todo, 30 medidas protecionistas em vigor, e mesmo assim, a Argentina é o terceiro país que mais recebe produtos brasileiros, perdendo em volume financeiro apenas para a China e os Estados Unidos.

Dos R$ 317 bilhões que exportamos, quase 10% (o equivalente a R$ 29 bilhões) foram para a Argentina. “A Argentina é um parceiro importante para o Brasil, mas passou da hora de resolvermos as diferenças políticas e econômicas com nosso vizinho. As barreiras impostas desgastam a relação entre os dois e não cooperam para o desenvolvimento do Mercosul”, diz a economista Carla Rodrigues
Consultada pelo Portogente, a especialista avaliou os números surpreendentes de um levantamento divulgado semana passada pelo Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas de Londres. O órgão aponta a Argentina como o país que mais possui barreiras contra o Brasil, superando até mesmo a Rússia, que se notabilizou pela defesa excessiva de seu comércio.

“A relação entre Brasil e Argentina sofre testes diários. Transportadores reclamam das multas, os exportadores se sentem injustiçados com as tarifas e os impostos, a presidente sempre promete diminuir as barreiras, mas nunca coloca isso em prática e mesmo assim a troca de produtos subiu 45% em 2010 se compararmos com o ano de 2009. É um fenômeno”, destaca a economista.

Raio-X das exportações brasileiras em 2010

Argentina
30 barreiras contra o Brasil
US$ 18 bilhões em exportações brasileiras
45% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2010

Rússia
27 barreiras contra o Brasil
US$ 4,15 bilhões em exportações brasileiras
44,7% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2010

China
5 barreiras contra o Brasil
US$ 30,7 bilhões em exportações brasileiras
46,5% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2011

Estados Unidos
4 barreiras contra o Brasil
US$ 19,3 bilhões em exportações brasileiras
23% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2010

Fonte: Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas de Londres

De volta a uma moeda verdadeira ? - Klauber Cristofen Pires

A despeito de concordar com as premissas e os argumentos de meu amigo Klauber, sobre os verdadeiros fundamentos de uma moeda verdadeira, não julgo possível, prático, ou efetivo, uma volta aos padrões metálicos do passado.
Os bancos centrais, que detêm o monopólio emissionista nos últimos duzentos anos, assim como os governos que os secundam, que os criaram, que os deformaram, e que abusam de sua capacidade de empurrar o prejuízo para o público pagante -- ou seja, todos nós, reféns da moeda inflacionada e depreciada que eles nos empurram --, essas duas entidades absolutamente irresponsáveis -- algumas mais do que outras, claro -- não vão renunciar à faculdade criar papel pintado e de pretender nos fazer acreditar que isso é valor real.
Infelizmente, o fiat money veio para ficar e não acredito que seja possível voltar ao padrão-ouro ou adotar qualquer novo padrão que tenha algum lastro metálico em sua composição.
Simplesmente não é prático, não é economicamente credível, não é politicamente aceito pelos políticos que nos governam.
Acredito, ao contrário, que a globalização trará maiores opções em termos de moedas mais ou menos credíveis (todas papel, infelizmente, embora possa haver algum governo suficientemente "maluco" para prover lastro-ouro às suas expensas), opções que serão usadas por cidadãos suficientemente espertos para, ou em capacidade de, fugir ao monopólio abusivo -- muitas vezes arbitrário e irresponsável -- de bancos centrais e/ou governos deletérios.
Por outro lado, a globalização poderá também oferecer novas oportunidades para uma saudável competição entre "paraísos fiscais" e contas off-shore (mas teria de ser em alguma moeda nacional, por enquanto), para que os cidadãos também escapem, pelo menos parcialmente, dos privilégios abusivos que os governos se arrogam sobre seus ativos pessoais.
O dinheiro eletrônico em contas off shore será o padrão monetário do futuro, mas como disse, ele terá de ser baseado, no futuro previsível, em alguma moeda nacional.
Não sei se veremos esse tipo de fuga do monopólio no futuro previsível.
Enquanto isso não ocorre, esse tipo de tentativa -- estados americanos reconhecerem como moeda metais considerados de reserva, ouro ou prata -- me parece apenas parcial e paliativo, pois mesmo esses governos terão de dizer quanto vale o ouro ou a prata em circulação legal. Vão eles cotar pelos mercados spot? Vão estabelecer um valor fixo, mas qual? Uma banda? O quê, exatamente?
Se eu consulto o site da Bloomberg, constato que hoje, 27/04/2011, o ouro (gold spot) está cotado em US$ 1.507 (estava em 1.517 ainda ontem). e o platinum spot em US$ 1.810. Como as pessoas vão fazer? Carregar os seus lingotes de ouro por aí? Pagar um cofre em banco, um corretor para administrar esses ativos? As transações "externas", ou seja, não metálicas, terão de ter uma taxa de câmbio, portanto, uma comissão pela intermediação, e terão, de toda forma de ser cotadas pelo seu equivalente em alguma moeda papel.
O "papel exorbitante" do dólar -- como classificou Barry Eichengreen -- ainda vai continuar por muito tempo, e na verdade só é um pouco mais exorbitante do que outras moedas, que também têm esse direito abusivo de roubar valor aos particulares, sendo que os EUA apenas roubam um pouco do resto do mundo. Quem é grande e forte, geralmente faz isso, e na verdade o "papel exorbitante" do dólar não foi imposto aos outros; os outros é que fizeram bobagens suficientes para desqualificarem totalmente suas moedas.
O debate está aberto...
Paulo Roberto de Almeida

O dinheiro de verdade está voltando!
Por Klauber Cristofen Pires
Libertatum, 26 April 2011

A notícia econômica que promete ser a mais bombástica do século XXI simplesmente tem sido ignorada pelo mainstream jornalístico brasileiro. Refiro-me ao fato de que atualmente em treze estados norte-americanos tramitam projetos de lei com a finalidade de reconhecer os metais preciosos como o dólar e a prata como moedas legítimas. Em Utah, falta tão somente a assinatura do governador para a promulgação da lei. Além do Utah, em diferentes estágios de processo legislativo se encontram os estados do Colorado, Georgia, Montana, Missouri, Indiana, Iowa, New Hampshire, Oklahoma, Carolina do Sul, Tennessee, Vermont e Washington.

Um assunto de tamanha importância já deveria ter sido matéria veiculada pelos jornais e telejornais ao grande público, a transitar abertamente pelas bocas nos bares entre as rodas de chope, nas corridas de táxi, nos churrascos de domingo e nas barbearias. Ainda assim, a despeito de todo este silêncio sobre o assunto, decidi efetuar uma busca mais profunda na internet e só para confirmar o que eu já desconfiava, não encontrei sequer uma vírgula, fosse das Sras Mirian Leitão, Cladia Safatle, Raquel Landim, Dora Kramer, Tereza Cruvinel e Mônica Waldvogel, ou dos Srs Luís Nassif, Alberto Tamer, Sergio Leo, Joelmir Betting e outros que me perdoem pelo olvido de seus brilhantes nomes.

A razão pela qual esses estados estão tomando tal providência não é tão difícil de adivinhar: após quase oitenta anos de corridas quase ininterruptas de desvalorizações cambiais, o modelo keynesiano de moeda abstrata está virando farelo, e agora num passo acelerado. O processo contínuo de endividamento estatal adiado ao máximo pela possibilidade desimpedida de imprimir papel moeda a partir do literalmente nada está por encerrar um ciclo de empobrecimento mundial generalizado, com os estados e municípios totalmente quebrados e já sem condições de oferecer com uma qualidade minimamente aceitável os serviços públicos mais básicos, como a educação, a polícia e os bombeiros. Ei, estou falando aqui dos Estados Unidos! Do Brasil todos estamos fartos deste filme.

A despeito da fama de alguns indivíduos criminosos comuns, uma parte consideravelmente maior das emissões fraudulentas de papel-moeda, estas sim, realmente massivas, têm sido mesmo feitas por países tais como a China e a Rússia (esta tanto no anterior quanto posteriormente à queda do regime soviético). A suposta vítima, os E.U.A., por sua vez, não têm lá muita moral para reclamar: ao avaliarmos corretamente o seu “direito” próprio de emitir dinheiro, hoje em dia bastando-lhe para tanto alguns comandos eletrônicos como alguém que inocentemente efetua um saque em um caixa eletrônico, este país é justamente o maior falsário do seu sistema monetário.

Bail-out é o termo em inglês utilizado para definir o socorro que o governo norte-americano tem prestado a grandes instituições corporativas do seu país, com ênfase para a indústria automobilística, os bancos e as instituições de crédito imobiliárias. Este socorro tem sido prestado mediante uma combinação de concessões de crédito sob condições privilegiadas e muita, mas muita impressão de papel (ou de forma mais ecologicamente correta - se isto importa - pela digitação de uma numerosa quantidade de zeros). Seja como for, não se esconde a insatisfação de uma parcela significativa da população norte-americana, que por mais ajuizada que a brasileira, rapidamente tem entendido que seriam os seus cidadãos a pagar a conta pela má gestão destas instituições e das políticas falaciosas de seu governo central.

Todavia, o maior emblema do século da mentira não termina aí: como se não bastassem os governos dos diferentes países por décadas terem fulminado o valor representativo da riqueza das moedas, tenha sido por conta própria ou por ação malevolente dos demais, também as instituições bancárias têm multiplicado de forma absolutamente estelionatária a multiplicação de operações de créditos e a emissão de títulos representativos de propriedade de ouro e prata, de uma forma que, para a compreensão mais fácil, assemelha-se, em escala bastante reduzida, ao overbooking praticado pelas empresas aéreas ou às “linhas compartilhadas” que algumas estatais telefônicas no Brasil faziam quando vendiam uma mesma linha telefônica para mais de um cliente.

O que aparenta dar liga nesta cola é a mera prerrogativa que os bancos têm de não lhe entregar o bem físico em espécie, mas apenas o valor em dinheiro, isto é, em papel pintado, segundo a cotação do dia do precioso metal. Se eventualmente houver falta de cédulas e preciso for, estas serão providenciadas mediante encomenda do governo da hora. Moral: o cidadão comum é sempre o enganado. E os bancos se quedam cada vez não somente mais ricos, mas também mais poderosos, mancomunados que estão com os governos dos países nesta pirâmide-da-fortuna da qual formamos a base que os sustenta.

Garry Garret relata em seu livro The American Story como se deu a complexa operação em quatro passos conduzida pelo presidente Roosevelt que deu origem ao dinheiro sem lastro: primeiramente, foi decretado o fechamento dos bancos, bem como qualquer negociação em moeda estrangeira e transferência de capital para o exterior. Logo após, uma lei de iniciativa do governo foi baixada legalizando o fechamento dos bancos que havia sido imposto até então por decreto, e além disso, dispôs que nenhum banco no Sistema do Federal Reserve poderia reabrir senão sob licença do governo; em terceiro lugar, ela deu ao Presidente poder absoluto sob o câmbio externo, e em quarto, autorizou o Presidente a convocar os proprietários privados de ouro a abrir mão dele. Em seguida, mediante o apelo ao patriotismo e usando de todo o seu carisma político, os cidadãos e empresas foram convocados para depositarem os seus haveres em ouro no Federal Reserve em troca do papel-moeda que até então era 100% conversível.

Quando, enfim, todo o ouro já estava trancado nas caixas fortes no Banco da Reserva Federal, foi tornado crime para uma pessoa particular ter em sua posse tanto quanto uma moeda de ouro de cinco dólares. Para cortar a fita de inauguração do papel-moeda de curso forçado, uma lei posterior veio para autorizar o Presidente a: 1) desvalorizar o dólar por meio da redução de sua equivalência em ouro pela metade; 2) entrar no mercado financeiro e adquirir três bilhões de título do governo com papel-moeda; 3) emitir três bilhões de papel moeda fiduciário, garantido por nada, e torná-lo moeda corrente; 4) cunhar uma quantidade ilimitada de dólares de prata; 5) emitir uma quantidade ilimitada de certificados de prata em papel; e 6) fixar os valores do ouro e da prata em relação uma com a outra.

No Brasil, o governo federal possui a competência privativa para legislar sobre sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais (CF/88, art. 22, VI), o que coloca os nossos estados e municípios em uma posição extremamente vulnerável aos humores do governo central, sendo que este, por sua vez, irresponsavelmente nada está fazendo para evitar ou pelo menos minorar um grave processo de estagflação que já está dando os seus primeiros sinais de eclosão.

Para piorar, do muito pouco que se tem falado sobre o assunto, quando muito para comentar a sugestão meramente hipotética, principalmente por parte do falastrão Sarkozy, toda a abordagem dos sedizentes “especialistas” versa sobre a defesa mesma do papel-moeda de curso forçado, este impostor, o que não representa surpresa alguma, como se insistir em algo fundamentalmente errado pudesse por milagre resultar em algo correto.

O que seus adeptos pretendem é legitimar seus argumentos com base em especulações sobre o efeito deflacionário generalizado que o ouro alegadamente poderia impor à economia, o que não passa, na melhor das hipóteses, de uma tosca confusão mental. É claro que o agigantamento da produção de bens e serviços pode fazer com que o ouro se valorize, mas e daí? Isto já ocorre mesmo com o papel-moeda inconversível. Por volta dos anos quarenta, um agricultor brasileiro produzia, em média, para dezoito pessoas, e hoje, para mais de duzentas! Certa vez, meu pai quis transferir-me um consórcio sobre um aparelho de DVD, por não conseguir manter em dia as prestações, mas atualmente, um aparelho destes pode ser comprado por um valor que representa apenas uma única mensalidade daqueles idos anos! Há cerca de sete anos, adquiri um aparelho de tv de 29” por cerca de aproximadamente R$ 1.300,00, enquanto hoje assisto nos comerciais serem ofertados por menos de quinhentos reais! Na verdade, praticamente todos os produtos e serviços estão se barateando com o passar do tempo, devido à tecnologia crescente e aos repetidos aumentos de produtividade. Será que isto é necessariamente um problema?

O embaralhamento mental destas pessoas consiste em identificar um possível natural processo de valorização do ouro devido ao gradual aumento da oferta de bens e serviços com a ressaca resultante de políticas públicas falaciosas assentadas justamente em expansão artificial de crédito e manipulação dos juros a manter na marra baixas taxas. Ora, incutir ao ouro a conseqüência da incúria dos governantes é o mesmo que culpar o termômetro pela febre.

Além disso, sustentam que a adoção do ouro possivelmente resultaria em entesouramento especulativo. Isto é o que eles pensam, segundo os termos com que entendem o fenômeno natural que prefiro chamar de poupança. Com efeito, aos que reclamaram das ações do governo norte-americano de desatrelar o dólar do ouro, o governo da casa Branca respondeu: “- dinheiro é para circular”. Na verdade, o que eles estavam querendo dizer era “dinheiro é para se gastar”, o que refletia o pensamento inconseqüente e imprevidente da doutrina keynesianista em seus primeiros momentos de glória, a começar a gerar um progressivo e estratosférico endividamento tanto dos poderes públicos quanto dos particulares, quanto até o fim do padrão-ouro ambos eram - acreditem – absolutamente superavitários! Foi assim que queimaram - ou melhor, queimamos, porque estamos juntos nessa canoa furada - o futuro das gerações seguintes, por termos dado crédito para um sujeito por cujo comportamento pessoal pouco lhe importava sobre preocupar-se com futuros longínquos e proles.

Os processos inflacionários são decorrentes quase que exclusivamente por expansão monetária, e esta por sua vez, consiste em um efetivo meio arrecadatório. Imagine que uma indústria de laticínios decida retirar algo como 100ml de cada litro de leite a ser oferecido aos consumidores, substituindo-o por água. Com tal medida fraudulenta, ela colherá o lucro adicional de um litro de leite a cada dez unidades vendidas. Isto lhe permitiria até mesmo diminuir em parte o preço de cada litro como estratégia de marketing, claro, em um valor inferior ao que pagaria os 100ml surrupiados, o que deixaria muitos consumidores bocós satisfeitos. O mesmo fenômeno se dá com a moeda. Há algum tempo atrás, uma reportagem televisiva demonstrou que o dinheiro brasileiro suficiente para comprar um Fusca nos anos 70 não seria suficiente hoje sequer para comprar uma mera caixa de fósforos. Em termos de leite, o que o governo fez ao longo dos anos foi adulterá-lo cada vez mais e mais, de modo que atualmente um consumidor levaria para casa um litro de uma mistura na qual contivesse, quando muito, uma gota de leite. Eis a razão porque os governos centrais dos países opõem-se a aceitar o retorno ao padrão-ouro.

Concluindo, é difícil encontrar uma solução para o quadro brasileiro. Por um lado, temos os governos estaduais e municipais impedidos de reconhecer legalmente a aceitação dos metais como moeda corrente, e por outro lado, temos um governo central ímprobo e pródigo que não enxerga que está nos levando de encontro ao iceberg (ou enxerga sim e deseja justamente este resultado). Qualquer solução de grande porte há de vir por influência estrangeira, como a que está germinando nos EUA, e o máximo que pudermos fazer para evitar o pior desta catástrofe será adotarmos o metalismo como solução individual.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Fidel Castro: ultimo pronunciamento televisivo (despedida do socialismo)

Absolutamente inédito, aliás ainda não aconteceu: é só o rascunho...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel Castro: despedida da vida pública e do socialismo
Fidel Castro Ruz
Ex-Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba, Ex-comandante supremo da Revolução, ex-comunista, ex-socialista, ex-várias outras coisas...
Via Política, 24/04/2011

Fidel Castro, por Gon
(Esboço de último pronunciamento público a ser transmitido em rede nacional na única cadeia de televisão existente na República de Cuba; obtido antecipadamente.)

Caros amigos, caros irmãos, caros concidadãos,
Esta é, provavelmente, a última vez que me dirijo a vocês, e já não o faço, como antes, de um palanque na Praça da Revolução, obrigando vocês a ficarem horas sob o sol causticante de nossa ilha, enquanto eu desfilava meus argumentos em favor da revolução e do socialismo.

Não, o Fidel Castro que aqui aparece já não é mais o mesmo; não que eu já esteja velho de decrépito, o que também é o caso, mas não é por isso que eu escolhi falar a vocês em pronunciamento gravado por nossa única rede de televisão. É que, tendo chegado, de fato, ao ocaso de minha vida, e acabado de renunciar ao cargo de Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, cargo que eu já acumulei com o de presidente desta República, e tendo passado todos esses cargos a meu irmão mais jovem, resolvi que era chegada a hora de acertar contas com a História, e assim, de me despedir dignamente de vocês.

Este Fidel Castro que aqui se despede de cargos, de responsabilidades e de vocês, quer juntar-se a outras figuras históricas do século 20, mas quer fazê-lo na paz de sua consciência, e que por isso decidiu dirigir estas palavras sinceras a todos vocês.

Não sei bem o que farão depois deste pronunciamento, apenas espero que possamos realizar nossa transição política em paz, sem derramamento de sangue, sem vingança contra qualquer pessoa ou instituição, provando ao mundo que nós, cubanos, temos consciência e dignidade suficientes para tratar dos nossos próprios assuntos internos, sem interferências de qualquer poder estrangeiro.

Eis aqui, portanto, o que eu tenho a dizer a vocês.

Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano

Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...
Enquanto estávamos ocupados realizando o 6o. Congresso do Partido Comunista de Cuba, minha mente estava longe, muito longe. Eu estava pensando naquele longínquo 26 de Julho de 1953, quando teve início nossa revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.

Naquele 26 de julho, que depois virou, talvez equivocadamente, nossa data máxima, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início à nossa luta contra um regime ditatorial, submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento, que me condenou logo em seguida, eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, mas, antes dela me absolver, eu fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início assim à nossa luta, uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único e aborrecido jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.

Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase 60 anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.

Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, em 1961, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que nos ocupou pelos últimos 50 anos. E que, a julgar pelos dizeres de meu irmão no congresso que acaba de se encerrar, ainda não terminou. Sinto discordar dele, para dizer claramente. Terminou, sim: a construção do socialismo acabou por aqui, e já não devemos persistir nesse caminho insano.

Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo nossa opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e se afastaram da revolução: o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram. Foi uma decisão errada, pois dividimos a ilha, dividimos o povo, dividimos as famílias. Estima-se, hoje, que um quarto da população cubana tenha abandonado nossa bela ilha para ir viver no exterior, geralmente nos Estados Unidos.

Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo, que manteve um duro embargo contra nossa economia, Não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, 20 anos atrás. Nosso socialismo começou a patinar desde então, e nunca nos recuperamos.

Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente. O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos. Belo discurso, não é mesmo?

Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo. Eu pensei, sinceramente, mas hoje reconheço que errei redondamente, que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, nos textos que nos prometiam um futuro brilhante pela via do socialismo. Tudo parecia simples: bastava socializar a produção, construir o homem novo, e pronto: todos viveriam bem e satisfeitos na igualdade absoluta e na eliminação da pobreza.

Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – de tudo o que fosse considerado patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.

Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de dezenas de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas.

Aliás, já matamos também muita gente: alguns de fome, muitos afogados ou comidos pelos tubarões, ao tentar escapar da ilha, outros de doença nas masmorras que herdamos da ditadura, vários outros, centenas deles, fuzilados nas primeiras horas da revolução. Talvez, proporcionalmente, tanto quanto os chineses. Chega!

Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Em sua versão oficial, eles dizem que construíram um socialismo com características chinesas, mas na verdade, como dizem os próprios chineses, se trata de um capitalismo com características chinesas, o que significa a preservação do monopólio do poder político do Partido Comunista.

Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba. Essa tentativa de meu irmão de introduzir o capitalismo, preservando o monopólio do Partido Comunista Cubano, simplesmente não vai dar certo. Só vamos prolongar os sofrimentos e as angústias de todos os nossos concidadãos, que esperam ver realizada a profecia de José Martí: homens livres, numa república democrática. O que temos hoje, vamos ser sinceros em reconhecer, são prisioneiros de uma ditadura, homens servos, numa ilha-prisão.

Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. O único lugar em que se come bem, nesta ilha, é naquela porção de terra ainda dominada pelo imperialismo: Guantánamo. Desculpem a ironia.

Não tenho mais para onde ir; nenhum país me estende convites; só me restam uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa, como vemos um pouco em todas as partes, sobretudo no Oriente Médio. De socialista, mesmo, só sobrou um canto recuado na Ásia, cujo povo vive uma situação de miséria e de opressão ainda pior do que a nossa, se isso é possível conceber.

Sei que nosso irmão socialista do Caribe, um coronel com jeito de Mussolini, que nos financia generosamente, agora que perdemos os subsídios da falecida União Soviética, esse líder político diz que o socialismo não acabou, que ele está apenas começando a se renovar. Isto não é verdade! Quem tem olhos para ver, sabe que o socialismo morreu, o dele tanto quanto o nosso, e estamos assistindo agora à lenta deterioração da situação econômica em seu país, que antecipamos inevitável.

Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma. A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. Esta é minha última vontade.

O Partido Comunista tem de anunciar, imediatamente, que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembleia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos 50 anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.

Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.

Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres.
Que a História os proteja!


Fidel Castro Ruz
(com uma pequena ajuda de um escriba intrometido: Paulo Roberto de Almeida).

24/4/2011
Fonte: ViaPolítica/O autor
Diplomata, professor de Economia Política Internacional no Uniceub, Doutor em Ciências Sociais.

Seminario Internacional de Historia do Tempo Presente - SC, novembro 2011

Chamada de trabalhos: I Seminário Internacional História do Tempo Presente

O evento ocorrerá entre 07 e 09 de Novembro de 2011, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Florianópolis (SC) e contará com a presença dos Professores François Dosse e Michèlle Lagny, além de vários convidados do Brasil e do Cone Sul.

Os trabalhos propostos serão apresentados nos Simpósios Temáticos previstos:

-Relações de gênero, família e infância
-Narrativas e registros audiovisuais
-Patrimônio Cultural e Tempo Presente
-Cidades: narrativas, fluxos e sentidos no Tempo Presente
-Diásporas, trânsitos e fluxos no contexto das migrações internacionais no tempo presente
-A voz e a canção na mídia: construção de memória e história
-Ensino de História no Tempo Presente
-História oral e memória
-Ditaduras e democracias na América Latina

Cronograma básico:
Envio de propostas de comunicações para os Simpósios Temáticos: até 15 de junho de 2011
Divulgação dos trabalhos aceitos: 01 de julho de 2011
Data-limite para envio dos textos completos: 01 de setembro de 2011

Inscrições:
O pagamento para inscrever trabalhos nos Simpósios Temáticos ocorrerá após a
aprovação dos mesmos pelos/as coordenadores/as.
R$ 50,00 sócios ANPUH
R$ 75,00 não sócios ANPUH
(isenção do pagamento para professores de educação básica da rede
pública de Santa Catarina)

Mais informações em www.seminariotempopresente.faed.udesc.br

segunda-feira, 25 de abril de 2011

BRICS: solucoes pacificas, por favor, somos pelo dialogo...

Primeiro o artigo:

Ser radical é tomar as coisas
Celso Amorim
Carta Capital, 25 de abril de 2011

A Velha Ordem está morrendo. Viva a Nova! Já não será possível que um grupo de potências ocidentais dite a vontade do mundo.

Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.
O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.
Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.
No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China
E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.
Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem. Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.
Article printed from CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br
URL to article: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/ser-radical-e-tomar-as-coisas.

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O que o ex-ministro está dizendo, em sintese, é que, na próxima vez que o CSNU se reunir para tomar alguma decisão, qualquer decisão, do tipo que se fez em relação ao massacre anunciado por Kadafy da população de Benghazi, os Brics vão propor que a situação seja resolvida por meios pacíficos, ou seja, pelo diálogo entre um ditador truculento e uma população sem armas.
Bela posição.
Funcionou em Ruanda.
Quando decidiram intervir, já se tinham ido 500 ou 600 mil pessoas.
Provavelmente os BRICS vão se opor a qualquer pressão sobre o governo da Síria, que vai continuar matando seu próprio povo, na indiferença geral. Se o CSNU quiser adotar qualquer solução a respeito, terá de ser por "uma solucao pacífica" e por meio do "diálogo entre as partes".
Bonito isto...
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Paulo Roberto de Almeida

Misterio dos blocos comerciais: a Alba existe

Desafio a me provarem que a Alba existe...

Bloco "liberal" deve ser contraponto a hegemonia do Brasil

Países latino-americanos da costa do oceano Pacífico pretendem assinar acordo comercial no dia 2 de maio
PATRÍCIA CAMPOS MELLO, DE SÃO PAULO
O Estado de S.Paulo, 25/04/2011

Chamado de AIP, deverá reunir Peru, Chile, México e Colômbia; analistas veem reação a grupo "bolivariano"

Em 2 de maio, os presidentes de Peru, Chile, México e Colômbia vão oficializar em Lima a criação de um novo bloco econômico que vem sendo chamado de Área de Integração Profunda (AIP), ou "bloco do Pacífico".
Um dos objetivos é ser um contraponto ao poder regional do Brasil e ao Mercosul.
O Brasil vê com ceticismo a iniciativa, capitaneada pelo peruano Alan García, presidente em fim de mandato.
O governo brasileiro aposta na guinada da política externa da Colômbia, que, sob a égide do presidente Juan Manuel Santos, reaproximou-se da Venezuela.
A Colômbia tem também se distanciado um pouco dos EUA, diante da resistência do Congresso americano em aprovar o acordo de livre comércio entre os dois países.
Mas Santos, em entrevista ao jornal "New York Times" em março, deixou claro o objetivo estratégico do novo bloco. "De certa maneira, o bloco vai contrabalançar o Brasil", disse.

ESTRIDÊNCIA
"Trata-se de uma reação instintiva dos vizinhos formar um contraponto ao Brasil, que é a grande potência regional; é um movimento de defesa natural", diz Amado Cervo, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. "Eles estão procurando outras vias para atração de investimentos, dando uma dimensão mais atraente a seus mercados."
A AIP reúne os países "liberais" da região, em oposição à Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), mais à esquerda, cria do venezuelano Hugo Chávez.
A AIP vai conectar 200 milhões de pessoas, 16 mil km de costa no Pacífico e mais de US$ 2,5 trilhão de PIB.

Ou seja, é um bloco que se aproxima das dimensões do Brasil, que tem aproximadamente 200 milhões de habitantes e US$ 2,2 trilhões de PIB. O AIP também é três vezes maior que a Alba.
Os países participantes já mantêm acordos de livre comércio entre si, com a exceção de Peru e México. Todos têm tratados com os EUA, exceto a Colômbia.
"A Alba é muito estridente, mas não traz muitos resultados práticos; já esse bloco pode ter resultados bem mais palpáveis", diz Shannon O"Neil, do Council on Foreign Relations.
"O acordo vai dar a esses países maior poder de barganha para negociar com o Brasil, por exemplo."
Para Cervo, esse novo bloco "só dá continuação a uma dispersão que existe hoje na América Latina".





País nega estar preocupado com aliança

DE SÃO PAULO

O governo brasileiro diz que não encara o novo bloco econômico como um concorrente para o Mercosul.
Para Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, "alguns países vão querer dar um caráter mais político a esse bloco, criar um polo de oposição" ao Mercosul. "Mas eu não vejo a Colômbia tentando criar uma alternativa à Unasul ou ao Mercosul", disse.
Ele aproveita para dar uma alfinetada no presidente do Peru, Alan García.
"Para sabermos qual a transcendência desse bloco, deveríamos esperar as eleições de 5 de junho no Peru; qualquer decisão lá tem dois meses de validade."
O Brasil também mantém convite à Colômbia para integrar o Mercosul. Marco Aurélio esteve em Bogotá em fevereiro e levou ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e à chanceler, María Ángela Holguín, uma proposta para ingresso no bloco.
Ele afirma que a Colômbia "terá de avaliar suas opções".
Segundo o assessor, "não existe necessidade de contrabalançar o Brasil na região".
"Sim, temos problemas comerciais na região, a exuberância econômica brasileira causa tensões, mas nós tentamos equilibrar nossos superavits com os países e aumentamos investimentos brasileiros nessas nações."
Ele também aponta que o novo bloco poderia criar conflitos com a Comunidade Andina, formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.
"Não sei o que acontecerá com a Comunidade Andina. O grupo irá liberar também os outros integrantes a fazer o que quiserem?", pergunta Marco Aurélio.
(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)

O besteirol da semana: protecionismo linguistico (um dos mais estupidos)

Politicos costumam gastar (mal) o nosso dinheiro, isso sabemos todos.
Eles também costumam aprovar projetos absolutamente inócuos, verdadeiras jabuticabas ambulantes, que ficam por aí, pendurados na legislação, sem pegar, mas provocando uma tremenda poluição legal.
De vez em quando, a estupidez baixa com toda violência e ocorre exemplos deste tipo.
Surpreende que um dos estados mais diversificados em sua origem étnica e cultural, dotado de um dos maiores IDHs do Brasil, senão o maior, com escolas supostamente de qualidade, tenha sido capaz de aprovar, por meio de sua Assembléia Legislativa, uma das leis mais estúpidas de que já se ouviu falar no Brasil desde Cabral.
Só podia ser emanada de deputados do PCdoB, esse monumento stalinista ao atraso e à boçalidade cultural.
Claro, não vai pegar, e só vai ser objeto de gozação, sem deixar de provocar novas "contaminações" de estrangeirismo no gauchês -- que diga-se de passagem já contem vários --, por pura vontade de contrariar de quem for um pouco mais gozador.
Eu inscreveria os deputados responsáveis por essa legislação estúpida no Guinnes da burrice nacional e internacional, com prêmio "data venia" (se é que pode o latim...).
Enfim, lamento pelos gaúchos, que contam com mulas de gravata na sua Assembléia...
Paulo Roberto de Almeida

No RS, estrangeirismo serão proibidos
GRACILIANO ROCHA, DE PORTO ALEGRE
Folha de São Paulo, 24/04/2011

Assembleia gaúcha aprova lei proibindo estrangeirismo na escrita

Os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram uma lei para banir o bullying, o spam, o pizzaiolo e qualquer outro vocábulo estrangeiro sem estar acompanhado tradução nas propagandas e documentos oficiais do Estado.

Aprovada por 26 votos a 24, a lei foi proposta pelo deputado Raul Carrion (PC do B) e institui a obrigatoriedade da do uso de expressões em português no lugar das estrangeiras "em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita" no Estado.

Ainda caberá ao governador Tarso Genro (PT) sancionar ou vetar a lei.

O principal alvo da regulamentação são estrangeirismos que poderiam ser facilmente substituídos por palavras em português, como os anúncios que trazem o termo "sale" no lugar de "liquidação", mas a lei vai além.

Quando não houver uma expressão equivalente em português, diz o texto aprovado, uma tradução deverá acompanhar com o mesmo tamanho e destaque o intruso linguístico.

Fosse aplicado tal qual o texto aprovado, o princípio obrigaria uma propaganda de restaurante japonês, por exemplo, a explicar que sashimi são fatias de peixe cru.

A reportagem não conseguiu falar com o deputado. No texto de justificativa do projeto, ele acusa a existência de uma "acelerada descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária".

Além de ser considerada inócua por linguistas, para quem idiomas são sistemas "vivos" em constante transformação, a iniciativa enfureceu o mercado publicitário gaúcho, potencialmente o maior prejudicado pela lei.

"É uma coisa insana querer engessar a língua. Mas, como não prevê punição, é mais uma lei que não vai pegar", diz Alfredo Fedrizzi, dono de uma agência de publicidade em Porto Alegre.

A ultima a sair, apague a luz... (empresas, quero dizer)

A frase, obviamente exagerada, era repetida pelos opositores do regime militar, durante a fase mais negra da repressão política, no início dos anos setenta. Never mind...
Primeiro, foram os brasileiros a sair, nos anos 80 e 90, por causa das crises econômicas, da estagnação, do desemprego.
Agora, são as empresas que saem, porque não têm condições de competir, aqui dentro ou lá fora, com os nossos custos.
Agradeçam ao governo...

Emigrar para competir
Editorial - O Estado de S.Paulo
25 de abril de 2011

Em busca de competitividade, indústrias brasileiras estão fechando unidades no País e transferindo suas atividades para o exterior, por meio de investimentos em novas fábricas ou aquisição de empresas já em operação. Em parte desses casos, as indústrias não procuram mercados próximos de seus novos centros de produção, pois continuam a atender preferencialmente o mercado brasileiro. Mas, para competir internamente com os produtos importados, preferem produzir no exterior.

Escassez e custo muito alto de mão de obra, tributação excessiva, juros elevados, concorrência desleal, infraestrutura precária e cara e valorização do real estão entre os principais fatores apontados pelos dirigentes dessas empresas para reduzir ou encerrar as atividades no País e desenvolvê-las no exterior.

O caso relatado pelo Estado (18/04), da maior fabricante de calçados do País, a Vulcabrás, que decidiu comprar uma fábrica na Índia para ali produzir a parte do tênis de sua marca que mais emprega mão de obra, é o mais recente numa lista de empresas brasileiras que decidiram produzir no exterior. A empresa adquirida emprega mil trabalhadores e o plano da Vulcabrás é expandir o quadro de pessoal para 5 mil pessoas em 18 meses. Como a indústria trabalha também com empresas terceirizadas, é possível que, nesse período, sejam gerados até 8 mil empregos. Na unidade indiana, a Vulcabrás produzirá a parte superior do tênis, feita de tecido, couro e material sintético. Na fabricação de um tênis, essa é a parte que mais emprega mão de obra, cujo custo, para a fabricante, será bem menor na Índia, compensando o custo adicional do transporte desse componente até o Brasil, onde o produto será completado.

O governo brasileiro já adotou uma tarifa antidumping, de US$ 13,85 por par, contra o calçado proveniente da China, o maior concorrente do produto nacional, mas a medida não limitou a entrada do similar chinês no mercado doméstico, pois os exportadores daquele país adotaram a prática conhecida como "triangulação", de embarcar seus artigos em outros países - como Malásia, Vietnã e até Paraguai -, como se nesses tivessem sido fabricados. Essa também é uma prática condenada pelas regras internacionais, mas o processo de punição é demorado, daí a opção de indústrias brasileiras pela produção no exterior.

A balança comercial brasileira continua a registrar um superávit expressivo no comércio de bens tradicionais da indústria. Nos primeiros três meses do ano, esse segmento da indústria registrou superávit de US$ 8,5 bilhões. Mas o resultado deveu-se basicamente a duas categorias de produtos - alimentos, por causa do alto preço no mercado internacional e da alta eficiência da agroindústria brasileira, e produtos de madeira, papel e celulose. Nas categorias em que a competitividade é fortemente afetada pela mão de obra, como têxteis e calçados, pela primeira vez em mais de duas décadas a balança comercial no primeiro trimestre do ano registrou déficit, que alcançou US$ 342 milhões. Esse dado também explica a decisão das empresas do setor de produzir no exterior.

Uma empresa brasileira do ramo de cosméticos decidiu fazer parcerias com empresas do México, Colômbia e Argentina, como primeiro passo para estabelecer-se nesses países. O objetivo inicial é abastecer o mercado local, mas a empresa pode transformar essas unidades no exterior em base para sua expansão para outros países da América Latina. Outra empresa do setor de calçados, que chegou a operar 21 unidades industriais no Rio Grande do Sul, para produzir 4,5 milhões de pares por ano, com o trabalho de 3 mil pessoas, decidiu mudar-se para a Nicarágua, de onde continuará a exportar para os Estados Unidos, seu principal mercado. A empresa brasileira líder da América Latina na fabricação de índigo e brim anunciou recentemente o acordo com um grupo da Argentina para lá iniciar a produção de denim.

O fenômeno pode ser duradouro. Dirigentes das empresas que decidiram transferir a produção para o exterior consideram remota a reconquista pelo Brasil da produtividade que vem perdendo nos setores intensivos em mão de obra.

Grande sucesso da politica estrategica energetica: apagao de combustiveis

Um comentário de um colega economista:

Eu não tenho nada contra as importações, muito pelo contrário. Mas o monopólio da Petrobrás não era vendido sob o argumento de que o petróleo e seus derivados são produtos estratégicos, que não poderiam ser deixados na mão do mercado, por causa do risco de desabastecimento? Ainda bem que a Petrobrás é a empresa "mais eficiente do mundo"!

Agora a matéria:

Falta de combustível causa rombo de US$ 18 bi na balança
Agência Estado, 24/04/2011

Com etanol em alta, motoristas migram em peso para a gasolina, provocando escassez do produto; produção local insuficiente obriga empresas a importar

Com a disparada do preço do etanol, que subiu mais de 30% nos postos de combustível desde o início do ano, os motoristas migraram em massa para a gasolina, provocando escassez do produto. Faltou combustível em alguns postos do interior de São Paulo. Petrobras e os usineiros chegaram a importar gasolina e álcool.

A situação é resultado da queda da produção de etanol provocada pela entressafra da cana e pela alta do preço do açúcar, que torna mais vantajosa a produção do alimento que do combustível. O quadro também reflete um problema estrutural do Brasil. Com o aumento da frota de veículos e o crescimento da economia, e sem investimentos compatíveis na produção de gasolina, diesel e etanol, o país começa a viver um "apagão" de combustíveis.

O consumo de derivados de petróleo (gasolina, diesel e nafta) ultrapassou a produção local, impulsionando as importações, que ficam cada vez mais caras com o aumento do preço do petróleo lá fora. Em geral, a Petrobras prioriza a produção de gasolina localmente e concentra as importações em diesel e nafta.

A situação vai provocar um déficit de 18 bilhões de dólares na balança de derivados de petróleo neste ano, conforme projeção da RC Consultores. Em 2010, as importações de derivados ultrapassaram as exportações em 13 bilhões de dólares, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Em 2000, o rombo era de 3,2 bilhões de dólares.

Diferente do "apagão" de energia elétrica, que interrompe a produção nas fábricas e deixa as cidades às escuras, a falta de combustível é sanada com importações desde que a situação não seja muito grave. "A população pode não perceber, mas vivemos um estrangulamento do setor de combustíveis, um apagão", disse Adriano Pires, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).