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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Politicas de governo e politicas de Estado - Paulo Roberto de Almeida

Fui alertado, por um aluno de curso à distância -- um desses tantos cursos patrocinados pelo governo sobre gênero e raça, que cabe olhar com cuidado -- de que um texto meu estava sendo usado (sem que minha autorização tivesse sido sequer solicitada), obviamente de forma truncada e seletiva.
Para que não se perca o contexto mais amplo em que foram elaborados meus argumentos, transcrevo aqui o trabalho em sua integralidade, que pretendo retrabalhar assim que possível.

Sobre políticas de governo e políticas de Estado: distinções necessárias
Autor: Paulo Roberto De Almeida
Site do Instituto Millenium, Agosto 13, 2009

O que são políticas de Estado e o que são políticas de governo? Seriam os dois termos intercambiáveis, como preferem alguns? Ou são elas necessariamente distintas e próprias de cada situação, de cada arranjo de poder, correspondendo cada uma a uma forma específica de elaboração e de aprovação? Esta não é uma questão trivial, pois dependendo da resposta que se dá a estas questões pode-se estar sancionando meras políticas do governo como se fossem políticas de Estado ou travestindo as primeiras com a aura indevida do processo decisório articulado e responsável, como devem ser todas as políticas que aspiram à chancela “de Estado”.
Com efeito, determinadas políticas, seguidas por um governo específico, num dado momento da trajetória política de um país, podem corresponder à expressão da chamada “vontade nacional”, dado que contêm certo número de elementos objetivos que podem entrar na categoria dos sistêmicos ou estruturais, respondendo, portanto, ao que normalmente se designa como política de Estado. Alternativamente, porém, ela pode expressar tão somente a vontade passageira de um governo ocasional, numa conjuntura precisa, geralmente limitada no tempo, da vida política desse mesmo país, o que a coloca na classe das orientações passageiras ou circunstanciais.
Muitos pretendem que toda e qualquer política de governo é uma política de Estado, posto que um governo, que ocupa o poder num Estado democrático – isto é, emergindo de eleições competitivas num ambiente aberto aos talentos políticos – é sempre a expressão da vontade nacional, expressa na escolha regular daqueles que serão os encarregados de formular essas políticas setoriais. Os que assim pensam consideram bizantina a distinção, mas estes são geralmente pessoalmente do próprio governo, eventualmente até funcionários do Estado que pretendem se identificar com o governo de passagem. O que se argumenta é que, na medida em que suas propostas políticas já foram “aprovadas” previamente no escrutínio eleitoral, elas correspondem, portanto, aos desejos da maioria da população, sendo em conseqüência “nacionais”, ou “de Estado”.
Não é bem assim, pois raramente, numa competição eleitoral, o debate pré-votação desce aos detalhes e minudências das políticas setoriais e a todos os contornos e implicações dos problemas que podem surgir na administração corrente do Estado após a posse do grupo vencedor. Campanhas eleitorais são sempre superficiais, por mais debates que se possam fazer, e os candidatos procuram simplificar ainda mais os problemas em confronto, adotando slogans redutores, e fazendo outras tantas simplificações em relação às posições dos seus adversários. Por outro lado, as promessas são sempre genéricas, sem muita quantificação – diretamente quanto às metas ou sua expressão orçamentária – e sobretudo sem precisão quanto aos meios e seus efeitos no cenário econômico ou social. Todos prometem empregos, distribuição de renda, crescimento e desenvolvimento, defesa dos interesses nacionais, resgate da dignidade e da cidadania e outras maravilhas do gênero. Em outros termos, raramente a eleição de um movimento ou partido político ao poder executivo lhe dá plena legitimidade para implementar políticas de governo como se fossem políticas de Estado, que por sua própria definição possuem um caráter mais permanente, ou sistêmico, do que escolhas de ocasião ou medidas conjunturais para responder a desafios do momento.
Políticas de governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elementar de formulação e implementação de determinadas medidas para responder às demandas colocadas na própria agenda política interna – pela dinâmica econômica ou política-parlamentar, por exemplo – ou vindos de fora, como resultado de eventos internacionais com impacto doméstico. Elas podem até envolver escolhas complexas, mas pode-se dizer que o caminho entre a apresentação do problema e a definição de uma política determinada (de governo) é bem mais curto e simples, ficando geralmente no plano administrativo, ou na competência dos próprios ministérios setoriais.
Políticas de Estado, por sua vez, são aquelas que envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado, justamente, e acabam passando pelo Parlamento ou por instâncias diversas de discussão, depois que sua tramitação dentro de uma esfera (ou mais de uma) da máquina do Estado envolveu estudos técnicos, simulações, análises de impacto horizontal e vertical, efeitos econômicos ou orçamentários, quando não um cálculo de custo-benefício levando em conta a trajetória completa da política que se pretende implementar. O trabalho da burocracia pode levar meses, bem como o eventual exame e discussão no Parlamento, pois políticas de Estado, que respondem efetivamente a essa designação, geralmente envolvem mudanças de outras normas ou disposições pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade.
Se quisermos ficar apenas com um exemplo, no âmbito da diplomacia, pode-se utilizar esta distinção. Política de Estado é a decisão de engajar um processo de integração regional, a assinatura de um tratado de livre comércio, a conclusão de um acordo de cooperação científica e tecnológica numa determinada área e coisas do gênero. Política de governo seria a definição de alíquotas tarifárias para um setor determinado, a exclusão de produtos ou ramos econômicos do alcance do tratado de livre comércio, ou a assinatura de um protocolo complementar definindo modalidades para a cooperação científica e tecnológica na área já contemplada no acordo. Creio que tanto o escopo das políticas, como os procedimentos observados em cada caso podem ser facilmente distinguidos quando se considera cada um dos conjuntos de medidas em função das características definidas nos dois parágrafos precedentes.
Por isso, não se pode pretender que as políticas de Estado possam ser adotadas apenas pelo ministro da área, ou mesmo pelo presidente, ao sabor de uma sugestão de um assessor, pois raramente o trabalho técnico terá sido exaustivo ou aprofundado o suficiente para justificar legitimamente essa designação. Isso se reflete, aliás, na própria estrutura do Estado, quando se pensa em como são formuladas e implementadas essas políticas de Estado.
Pense-se, por exemplo, em políticas de defesa, de relações exteriores, de economia e finanças – em seus aspectos mais conceituais do que operacionais – de meio ambiente ou de educação e tecnologia: elas geralmente envolvem um corpo de funcionários especializados, dedicados profissionalmente ao estudo, acompanhamento e formulação das grandes orientações das políticas vinculadas às suas respectivas áreas. Ou considere-se, então, medidas de natureza conjuntural, ou voltadas para uma clientela mais restrita, quando não ações de caráter mais reativo ou operacional do que propriamente sistêmicas ou estruturais: estas podem ser ditas de governo, aquelas não.
Portanto, quando alguém disser que está seguindo políticas de Estado, pare um pouco e examine os procedimentos, a cadeia decisória, as implicações para o país e constate se isso é verdade, ou se a tal política corresponde apenas e tão somente a uma iniciativa individual do chefe de Estado ou do ministro que assim se expressou. Nem todo presidente se dedica apenas a políticas de Estado, e nem toda política de Estado é necessariamente formulada pelo presidente ou decidida apenas no âmbito do Executivo.
Como dizem os americanos: think again, ou seja, espere um pouco e reconsidere o problema…

Oposicao sem posicao - Entrevista Leoncio Martins Rodrigues

Foi mais ou menos o que eu disse em meu artigo da revista Interesse Nacional, já postada aqui, sem no entanto mencionar uma única vez o PSDB.
Paulo Roberto de Almeida

ENTREVISTA da 2ª LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES
PSDB corre o risco de se tornar uma legenda maldita
ELEONORA DE LUCENA
Folha de São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

CIENTISTA POLÍTICO DIZ QUE O PARTIDO VIVE CRISE PROFUNDA E PRECISA DE UM CHEFE PARA SUPERÁ-LA
A intelectualidade erra.

DE SÃO PAULO - Depois de abocanhar quase 44 milhões de votos na última eleição presidencial, o PSDB vive a sua pior crise.
Para enfrentá-la precisa ter um único chefe. A opinião é de Leôncio Martins Rodrigues, 76. Cientista político próximo do PSDB e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele teme pelo futuro dos tucanos. "O PSDB corre esse risco de virar uma legenda maldita", afirma.
Na entrevista, Leôncio diz estranhar o silêncio do ex-governador José Serra e comenta o desmanche na oposição. Para ele, a falta de perspectiva de poder e a disputa entre as lideranças tucanas explicam o momento conturbado.

Folha - Essa é a maior crise que o PSDB já viveu?
Leôncio Martins Rodrigues - Sim. Nunca houve uma crise assim tão forte.

Como o sr. explica essa crise?
Minha impressão é que o PSDB está sem uma mensagem e não tem liderança. Ou melhor, tem liderança demais. Duas grandes lideranças, Aécio e Serra, e esse é o problema. Partido só tem um chefe. Partido com dois chefes briga. Isso faz parte da essência da política. Os bolcheviques tinham um chefe: Lênin. Quando o pobre Lênin morreu, Stálin e Trótski brigaram de morte. O partido tem de ter uma só liderança.

E o governador Alckmin?
Você pode pôr também o Alckmin [como liderança].

Onde foi parar o capital político exibido pelo PSDB na eleição? Ele se evaporou?
Grande parte da votação de Serra não era de votos tucanos ideologicamente. Foi um voto anti-Lula, anti-Dilma, por ela representar a continuidade do Lula e do PT. Dilma muito habilmente entrou no eleitorado de classe média, que se encanta com o fato de ela ser mais taciturna, de ser mais comedida no falar, de falar melhor.
Pode ter havido uma divisão do trabalho: o Lula fica com a parte popular, enquanto ela se orienta para um eleitorado um pouco mais culto e de renda mais elevada. Eu já vi vários amigos que tinham votado no Serra fazendo muitos elogios à Dilma. A mídia também está fazendo. Isso vai fortalecer brutalmente, não sei se o PT, mas a Dilma.

O crescimento do governismo, que o PSDB não consegue deter, explica a crise?
É o terceiro mandato que eles não têm a Presidência. Isso provoca crise. Perderam muitos Estados, tiveram a bancada diminuída. O político se comporta para ganhar as eleições: se a mensagem não dá votos, ele muda.

Há uma debandada do PSDB. É a falta de perspectiva de poder que explica?
Os partidos fazem programas para chegar ao poder, e não vão ao poder para realizar programas. Então, mudam. Eles não vão ficar perdendo tempo, perdendo eleições, gastando dinheiro. Não conseguem arrecadar, não conseguem bons contribuintes sem a perspectiva de ganhar o poder. Têm que mudar, não tem conversa. Tem legendas no Brasil que, com certa frequência, se tornam malditas. Arena, depois o PFL. E eles vão mudando.

O DEM é a maldita da vez?
O DEM não é ainda. O DEM foi criado para evitar uma legenda maldita, mas se arrisca a ficar também.

E o PSDB?
O PSDB corre esse risco de virar uma legenda maldita.

O PSDB é o partido da direita?
De jeito nenhum. O PSDB foi um partido moderno. Fernando Henrique teve muita coragem de tomar medidas, de inventar uma cultura política brasileira, com as privatizações, as agências, o Proer. Foi um partido modernizador do capitalismo no Brasil.

Qual vai ser a característica do PSDB daqui para frente?
Eu não sei. O político sempre quer ascender, mas depende das possibilidades. Aécio vem de um Estado importante, tem ambições, mas tem de enfrentar outros. Não sei o que vai acontecer, mas acho que pode ser muito mal para o país.

O quê?
A liquidação do PSDB.

O sr. acredita nessa hipótese?
Liquidar eu não diria, porque criar um novo partido é uma coisa um pouco complicada. Mas a perspectiva de juntar com outro partido pode ser boa, porque os partidos recebem muito dinheiro do Estado, não é?

A fusão com o DEM seria boa para o PSDB e para o DEM?
Não sei.

Se essa fusão se confirmar, o PSDB não será um partido mais à direita do que é hoje?
O que é ser de esquerda? Stálin era de esquerda? Os termos direita e esquerda são usados na luta política para desmoralizar o adversário.

O sr. concorda com a tese de que a linha seguida por Alckmin é mais conservadora do que a de Serra ou Aécio?
O PSDB sempre foi um partido paulista. Você se lembra dos líderes. Do outro lado tinha o Aécio, que não era tão importante. Mas os partidos sempre têm uma característica regional muito marcada. O PSDB não conseguiu entrar no Rio. Tem outro problema.
As lideranças do PSDB estão envelhecendo. Não houve o surgimento de uma nova liderança, mais jovem, que encontrasse uma nova mensagem capaz de galvanizar parte da população. O PT teve mais gana para chegar ao poder, de gente que vinha mais de baixo, de classe média. Gente que queria ascender mais, com mais garra. E teve um líder muito bom desse ponto de vista, o Lula, que soube galvanizar mais as massas, levar um pouco de emoção também ao campo da política. O PSDB não está conseguindo levar. Seria preciso que ele tivesse formado novas lideranças. Não apareceram novas lideranças.
Não sei para onde vai o Serra. Vai disputar a prefeitura? Seria esmagado pelos adversários imediatamente. A primeira coisa que iriam fazer é lembrar que ele assinou em cartório que não iria abandonar a prefeitura, e largou. Isso dificulta muito que ele possa concorrer à Prefeitura de São Paulo. Vai ficar esperando a nova eleição? É muito tempo sem cargo.

E a fusão PSDB-DEM?
Você tem mais dinheiro, mais tempo de TV, mais poder de chantagem, mais votos no Legislativo. Você pode chantagear melhor o Executivo. Mas, em compensação, você tende a aumentar a confusão interna. É mais gente disputando o poder e mais alas. Se o partido não surge de um impulso da própria sociedade, a confusão aumenta. Eu não sei como vão dividir, quem é que vai mandar.

E o papel do Aécio? Ficou mais complicado com o evento no Rio, a recusa ao bafômetro, a carteira vencida?
Seguramente o cacife dele baixa bastante. Para um candidato que tem um comportamento de playboy conta muito mal. Porque o presidente da República tem que aparentar responsabilidade, seriedade. Não dá para ficar passeando em alta velocidade e se recusar a cumprir certos rituais, como o bafômetro, ter carteira de motorista em dia. Proceder dessa maneira é dizer: estou acima da lei. Isso em campanha vai ser jogado contra ele. Pioraram muito as chances dele: depois desse episódio terá mais dificuldade para agrupar o PSDB. O Aécio teria de fincar um pé em São Paulo. Ele não consegue. Você não pode ser uma liderança nacional se não conquista São Paulo.

Isso não beneficia Serra? Por que ele está tão calado? Não seria hora de ele, que galvanizou tantos votos há poucos meses, tomar a frente do partido e botar ordem na casa?
Teoricamente, concordo com você. Mas não tenho a menor ideia de por que ele está tão calado. É possível que tenha ficado um pouco abatido com a derrota.

Quem botará ordem na casa?
Em princípio seria o Serra. Mas ele vai encontrar um obstáculo, que não é nada bobo: o Alckmin. Alckmin é muito esperto. Sabe se conter, não é tão açodado assim.
O que deveria ter acontecido seria o surgimento de uma liderança forte, nacional, com mais ou menos 50 anos, com experiência, que se dispusesse a viajar pelo Brasil, ficar conhecido, ganhar apoios locais dos caciques, dos pequenos caciques locais. Mas isso não apareceu.

Frases

"O PSDB está Sem uma mensagem e não tem liderança. ou melhor, tem liderança demais... Partido só tem um chefe. Partido com dois chefes briga

As lideranças do PSDB estão envelhecendo... Seria preciso que ele tivesse formado novas lideranças. Não apareceram"

"Dilma muito habilmente entrou no eleitorado de classe média, que se encanta com o fato de ela ser mais taciturna, de ser mais comedida no falar, de falar melhor

Não sei para onde vai o Serra. Vai disputar a prefeitura? Seria esmagado... Vai ficar esperando a nova eleição? É muito tempo sem cargo

O que deveria ter acontecido seria o surgimento de uma liderança forte, nacional, com mais ou menos 50 anos, com experiência... Mas isso não apareceu "
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES, cientista político

RAIO-X
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES

FORMAÇÃO
Bacharel em Ciências Sociais pela USP (1962), é professor titular aposentado dos departamentos de Ciência Política da USP e da Unicamp

LIVROS
Publicou "Mudanças na Classe Política Brasileira" (2006), "Partidos, Ideologia e Composição Social" (2002) e "Força Sindical"(1993)

A "tortura" do marco teorico - alguns textos PRAlmeida

Teor de mensagem que encaminhei a alguns alunos meus. Acredito que possa interessar a vários outros alunos, que não são "meus", mas podem passar por...

Muitos de vocês estão se preparando neste momento, ou terão de se preparar em algum momento futuro, com o famoso trabalho de final de curso, monografia, ou dissertação de Mestrado, ou mesmo simples artigo de pesquisa.
Tenho feito e avaliado muitos desses trabalhos e artigos acadêmicos ao longo dos anos, e creio poder colaborar em algo, com base em alguns trabalhos escritos de minha parte.
Tenho dois textos a propósito das monografias e dissertações, guias bem humorados para a confecção desses trabalhos acadêmicos pelos alunos; eles estão em minha página, na seção Academia, respectivamente estes aqui:

Pequeno Guia para se fazer uma monografia academica:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1892GuiaMonografia.pdf

O que se espera de uma dissertacao de Mestrado?:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1606DissertacaoMestrado.pdf

Com base em consultas passadas de estudantes -- muitos angustiados -- resolvi escrever um artigo despretensioso, tentando libertar os pobres dos alunos da obsessao do "marco teórico", uma imposição de grande parte dos professores e à qual en pessoalmente não atribuo muita importância:

Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico
(Buenos Aires-Brasília, 30 setembro 2008, 6 p. Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos)
Espaço Acadêmico (n. 89, outubro 2008; arquivo em pdf:
http://www.espacoacademico.com.br/088/88pra.pdf

Muitos outros trabalhos meus, animados desse mesmo espírito crítico, figuram numa série a que dei o nome geral de "Falácias Acadêmicas", todos publicados na revista Espaço Acadêmico, mas que podem ser consultados neste link do meu site:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/FalaciasSerie.html

O primeiro foi sobre o mito do neoliberalismo, o segundo sobre o mito do Consenso de Washington), e terceiro, justamente, sobre o Mito do Marco Teorico.
Tem muito mais, mas isso vocês podem explorar por si mesmos...

Transcrevo aqui meu argumento quanto à ética que estimo deva presidir à elaboração de todo e qualquer trabalho acadêmico:

Acredito que uma das maiores, senão a maior responsabilidade do cientista social é a honestidade intelectual, o que implica na consideração de todos os elementos em jogo, não apenas aqueles que respondem às suas preferências políticas ou filosóficas. Considero este critério o mais relevante no trabalho científico, aliás o único relevante no campo das ciências humanas ou sociais, e é em torno dele que eu gostaria de desenvolver minha obra de leitor, de pensador, de sistematizador de argumentos e de expositor de fatos históricos. Não me preocupo tanto, ou talvez nada, com a teoria, pois não creio que ela seja indispensável no desenvolvimento desse tipo de trabalho. Claro, todos nós “partimos” de algum teoria, mesmo de forma inconsciente, mas isso não tem nada a ver com a “necessidade” de expor sua teoria previamente ao trabalho com os fatos. Prefiro deixar que os fatos falem por si, e se alguém quiser depois aplicar alguma teoria a eles, que o faça por sua própria conta e risco, mas eu não vou me preocupar em desenvolver nenhuma nova teoria para tentar encaixar, ou amoldar, os fatos dentro dessa nova camisa de força conceitual.
Essa é uma das razões pelas quais eu praticamente passo por cima dos capítulos teóricos nas muitas dissertações e teses para cuja avaliação eu sou convidado. Acho que os professores “torturam” os seus alunos, obrigando-os a encontrar o famoso “quadro teórico” da sua pesquisa, quando os pobres alunos mal dão conta do emaranhado de fatos brutos que devem processar. Mas isso é uma outra discussão que farei em outra oportunidade.


Voilà...
Paulo Roberto de Almeida

MECdoPT: a deformacao da Historia em construcao...

Certas pessoas não se contentam em apresentar a sua versão da história; elas também querem transformá-la em versão oficial, com todas as deformações e simplismos que suas mentes deformadas concebem conceber.
Paulo Roberto de Almeida

Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula
Obras atacam privatizações feitas pelo tucano e minimizam o mensalão

LUIZA BANDEIRA - RODRIGO VIZEU
Folha de S.Paulo, Domingo 1 de maio de 2011

Comissão formada por professores avalia os livros, que são usados por 97% das escolas da rede pública de ensino

DE SÃO PAULO - Livros didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
O livro "História e Vida Integrada", por exemplo, enumera problemas do governo FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações.
Já o item "Tudo pela reeleição" cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência.
O fim da gestão FHC aparece no tópico "Um projeto não concluído", que lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que "um aspecto pode ser levantado como positivo", citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já em relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a "festa popular" da posse e diz que o petista "inovou no estilo de governar" ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
Ao explicar a eleição de FHC, o livro "História em Documentos" afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: "Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites". Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar.
Quando o assunto é o governo Lula, a autora -que à Folha disse ter sido imparcial- inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez "concessões" ao fazer "alianças com partidos adversários".
Em dois livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do governo.

MENSALÃO
Já na apresentação da gestão Lula, há dois livros que não citam o mensalão.
Em "História", uma frase resume o caso, sem nomeá-lo: "Em 2005, há que se destacar, por outro lado, a onda de denúncias de corrupção que atingiu altos dirigentes do PT, inúmeros parlamentares da base do governo no Congresso e alguns ministros do governo federal".
A Folha não conseguiu falar com os autores da obra.
Uma das críticas feitas a Lula é o fato de ter continuado a política econômica do antecessor.
Os livros aprovados pelo MEC no Programa Nacional do Livro Didático são inscritos pelas editoras e avaliados por uma comissão de professores. Hoje, 97% da rede pública usa livros do programa.
São analisados critérios como correção das informações e qualidade pedagógica. As obras aprovadas são resenhadas e reunidas em um guia, que é enviado às escolas públicas para escolha dos professores

domingo, 1 de maio de 2011

O Brasil seria uma bolha? - Moises Naim

Atenção: ele não chamou o Brasil de bolha. Ele apenas se pergunta se, com toda essa euforia em torno do crescimento e da pujança (um pouco real, outro tanto propaganda) da economia e da incorporação de novas camadas sociais à famosa classe média -- que estaria desaparecendo, segundo alguns catastrofistas --, o Brasil não seria, na verdade, mais uma dessas tantas bolhas que encantam enquanto estão crescendo, coloridas e reluzentes, e que de repente, tilt, explodem e desaparecem de surpresa...
Paulo Roberto de Almeida

¿Es Brasil una burbuja?
MOISÉS NAÍM
El País, 01/05/2011

Este es el segundo tema que domina las conversaciones en Brasil. El primero, y mucho más popular, es la celebración de sus enormes éxitos: los millones de pobres que han dejado de serlo, la impresionante pujanza de sus empresas, las enormes oportunidades y la mayor prosperidad. Si bien los problemas aún son grandes (miseria, crimen, corrupción, desigualdad), el optimismo también lo es. Los brasileños, siempre alegres, están ahora más contentos que nunca. Y con mucha razón. Las cosas van muy bien. Y eso lleva a la segunda conversación obligada: ¿cuánto durará la fiesta? ¿Cómo -quién- nos puede descarrilar este raudo tren hacia la prosperidad?, se preguntan. Paradójicamente, los motivos del éxito también son la fuente de las ansiedades. En los últimos cinco años, el crédito ha crecido hasta alcanzar el 45% del tamaño de la economía. Así, los brasileños han encontrado quien les preste para comprar casas, motocicletas, refrigeradores y todo lo demás -muchos por primera vez-. Y no les ha importado que las tasas de interés de esos préstamos sean las segundas más altas del mundo o que las familias brasileñas deban hoy dedicar un 20% de sus ingresos a pagar sus deudas.

Este auge del crédito y el consumo obedece, en parte, a los millones de nuevos empleos y los mejores salarios generados por la expansión económica. Mientras las economías más ricas cayeron un 2,7% durante la crisis de 2008-2009, Brasil creció al 5%, y el año pasado lo hizo al 7,5%. El paro se ha reducido a los niveles más bajos en décadas y en muchos sectores las empresas no consiguen los trabajadores que necesitan. Los altos precios internacionales de los minerales y productos agrícolas, que Brasil exporta en grandes cantidades, contribuyen a esta expansión.

Los inversionistas internacionales también están eufóricos con Brasil. La inversión extranjera directa creció un 90% el año pasado. La avalancha de fondos foráneos que está cayendo sobre Brasil, atraídos por sus altas tasas de interés, está obligando al Gobierno a considerar la posibilidad de imponer límites más estrictos al capital especulativo. Los flujos de capital extranjero y los ingresos por exportaciones han llenado las arcas brasileñas con divisas de otros países, lo cual ha encarecido el valor de su moneda. El tipo de cambio ajustado a la inflación es hoy un 47% más caro de lo que fue su promedio en la última década. El real es la moneda más sobrevalorada del mundo.

Inevitablemente, la combinación de una moneda cara, la euforia de los inversionistas extranjeros, el aumento del consumo y los cuellos de botella que existen para satisfacer una demanda que crece aceleradamente hace que todo sea más caro. Brasil, que sigue siendo una nación muy pobre, es actualmente uno de los países más caros del planeta. El precio de la vivienda en Río de Janeiro y São Paulo casi se ha duplicado desde 2008. Alquilar oficinas en Río es hoy más costoso que hacerlo en Nueva York, y los salarios de los ejecutivos en São Paulo son mayores que en Londres o Manhattan. Y la inflación para todos está subiendo hasta el punto de que la presidenta, Dilma Rousseff, ha declarado que es su principal preocupación. No hay duda de que la economía esta sobrecalentada.

Pero ¿es Brasil una burbuja financiera? No. El progreso de Brasil y su potencial no son una ilusión. Se basan en logros concretos y fortalezas reales. Pero la economía brasileña sí tiene aspectos insostenibles. La expansión del crédito y el crecimiento del gasto público no pueden seguir al ritmo actual. Hay muchas reformas estructurales importantes que el expresidente Lula da Silva pospuso -Brasil tiene algunos de los jubilados más jóvenes del mundo, por ejemplo-. El Gobierno chino invierte anualmente en infraestructura (vías, aeropuertos, hospitales, etcétera) un monto equivalente al 12% de su economía. Brasil, tan solo el 1,5%. Esto explica, en parte, por qué la economía brasileña se "recalienta" a pesar de que este año solo crece al 4,5%. ¿Qué pasaría si creciera al 10% varios años seguidos? Su decrépita infraestructura no lo permitiría.

En estos momentos la prioridad es estabilizar la economía. Esto implica tomar medidas políticamente impopulares: desacelerar el consumo, por ejemplo. Y otras. O la presidenta Dilma Rousseff le baja el volumen a la fiesta y lo hace ahora de una manera controlada, o los mercados "se lo harán" de una manera descontrolada y socialmente más dolorosa. La euforia y la complacencia son las enemigas más amenazantes para el exitoso Brasil de hoy.

sábado, 30 de abril de 2011

Assim nao jogo mais, e levo embora a bola comigo...

Pois é, parece comportamento de menino rico enfastiado com as travessuras dos demais, que resolve parar de jogar e tira a bola do campo...
A gente pensava que já tinha ficado grande, tinha comportamento responsável e, de repente, zás, tem uma recaída na meninice...

Dilma retalia OEA por Belo Monte e suspende recursos
Folha Online, 30/04/2011

O governo brasileiro decidiu jogar duro com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos): deixará o órgão a partir de 2012 e suspendeu, por ordem presidente Dilma Rousseff, o repasse de verba à entidade previsto para este ano, de US$ 800 mil. A reação do Brasil veio após a comissão pedir, em abril, a interrupção das obras de Belo Monte. O órgão alegou irregularidades no processo de licenciamento ambiental da hidrelétrica de Belo Monte, atendendo a uma medida cautelar de entidades indígenas que questionaram o empreendimento. Como reação à época, a diplomacia brasileira usou termos fortes e pouco usuais. Chamou a decisão de “precipitada e injustificável” e alegou não ter tido tempo suficiente para se defender.

Irritada com o que considerou interferência indevida, Dilma quis mostrar um posicionamento ainda mais duro: convocou de volta ao país o representante do Brasil na OEA, embaixador Ruy Casaes. Ele, até agora, ainda não recebeu autorização para retomar seu posto em Washington, tampouco sabe quando o terá. A comissão integra o sistema interamericano de direitos humanos nas Américas. Embora ligada à OEA, é um órgão formalmente independente; não representa países, embora a indicação venha deles. Seus sete membros, entre eles o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, são eleitos por assembleia-geral. O Brasil havia apresentado o nome de Paulo Vanucchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos no governo Lula, para substituir Pinheiro a partir de janeiro de 2012. A indicação, porém, acabou suspensa em caráter irrevogável.

A relação pode piorar ainda mais. Isso porque a comissão passou a analisar uma nova reclamação de ONGs, que contestam obras no Rio para a Copa-2014 e Olimpíada-2016, eventos caros a Dilma. Quando soube do novo processo, Dilma mandou um recado às lideranças do órgão: se isso for levado adiante, levará o caso à própria OEA, dando contornos de crise real ao caso.

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"E não adianta me convidarem outra vez, que eu não volto mais!
E tem mais: não vou mandar aquele menino maluquinho brincar com vocês..."

Brancos e pretos no Brasil, estes em aumento: detesto hipocrisias

Vou falar muito claramente, depois que vocês lerem a matéria que está em todos os jornais, que reproduzo aqui em versão reduzida:

Brancos são menos da metade da população pela primeira vez no Brasil
Thiago Varella
UOL Notícias, 29/04/2011

No total, 91.051.646 habitantes se declararam brancos no Censo, enquanto outros 99.697.545 disseram ser pretos, pardos, amarelos ou indígenas.

Os brancos ainda são a maioria (47,33%) da população, mas a quantidade de pessoas que se declaram assim caiu em relação ao Censo 2000, quando foi de 53,74%. Em números absolutos, foi também a única raça que diminuiu de tamanho. No Censo 2000, 91.298.042 habitantes se consideravam brancos.

O número de pessoas que se declaram pretas, pardas, amarelas ou indígenas superou o de brancos no Brasil, de acordo com os resultados preliminares do Censo 2010, divulgados nesta sexta-feira (29), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É a primeira vez que isso acontece desde que o Censo passou a ser organizado pelo IBGE, em 1940.

O BRASIL EM NÚMEROS
Brasileiro ficou mais velho e menos branco; população teve menor crescimento da série histórica
População brasileira cresce 21 milhões em uma década com menor ritmo da história

Por outro lado, em dez anos, a porcentagem de habitantes que se classificam como pardos cresceu de 38,45% (65,3 milhões) para 43,13% (82,2 milhões). Já os pretos subiram de 6,21 % (10,5 milhões) para 7,61% (14,5 milhões) da população brasileira.

O Brasil também tem mais moradores que se consideram amarelos (1,09% ou 2,1 milhões). No Censo 2000, apenas 0,45% (761,5 mil) se classificavam assim. Em dez anos, o número de amarelos superou o de indígenas, que subiu de 734,1 mil para 817,9 mil.

A região Norte é a que tem, proporcionalmente, o maior número de pardos no país, com 66,88% de habitantes que se consideram assim. Nas regiões Nordeste e Centro- Oeste o número de pardos supera o de brancos.

Já a região Sul é a com a maior porcentagem de brancos do Brasil, com 78,47% que se classificam como sendo desta raça. No Sudeste, o número de brancos também supera o de pardos.

A Bahia é o Estado que tem a maior população que se declara como preta no Brasil, com 3,11 milhões de pessoas. Já o Amazonas tem o maior número de habitantes que se classificam como indígena (168,6 mil). Proporcionalmente, Roraima tem a maior população indígena do Brasil (11%).

São Paulo, que tem a maior população do Brasil, tem o maior número de brancos (26,3 milhões) e de pardos (12 milhões). No entanto, proporcionalmente Santa Catarina (83,97% da população) tem mais brancos e o Pará (69,51%) tem mais pardos dos que os outros Estados do país.

No Censo 2000, 1,2 milhão de pessoas não declararam raça. Já no Censo do ano passado, o número foi de 315,1 mil. Pela primeira vez, perguntas sobre cor e raça fizeram parte do questionário básico, respondido por todos os habitantes do país.

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Comento (PRA):

Alguém, em sã consciência, acredita mesmo que o Brasil mudou com a mudança dos números?
Não, absolutamente nada. As pessoas continuam a ser o que sempre foram: algumas mais, outras menos tolerantes em matéria de preconceitos raciais. Ele está diminuindo, provavelmente, mas mais pelo efeito da ascensão social de pretos e pardos, no conjunto da população, do que por efeito de qualquer grande mudança "mental" dos brasileiros.
E como se explica, então, que os brancos atualmente sejam minoria, quando seus números tendiam a crescer no passado, com a concomitante redução da população totalmente "preta" e uma evolução errática no número de pardos, mestiços, mulatos, seja lá como vocês queiram chamar aqueles que são provenientes da mistura de raças (que é um fato biológico, cultural e social no Brasil).

Por que agora os "pretos", ou os "pardos" são a maioria da população?
Eu diria, sem qualquer concessão à hipocrisia, que é porque todos esses assim classificados esperam um dia poder se beneficiar de algum política de favor que o Estado faça por elas: como são afrodescendentes, pretos pobres ou seja lá o que for, nós, brasileiros em seu conjunto (todos, aqui incluídos pretos, pardos, brancos, amarelos, etc.), teríamos uma dívida moral a reparar, por causa do tráfico, da escravidão, dos séculos de opressão, das décadas de indiferença educacional e de todas as mazelas que provocamos ou toleramos contra esses brasileiros mais pobres.
Então resulta que precisamos de cotas, de reservas, de apoios e auxílios, que serão RACIALMENTE determinados. Apenas os pretos, pardos e assemelhados, ou seja, os afrodescendentes, irão se beneficiar das políticas de favor.
Se isso não é hipocrisia, eu não sei o que é.
Apenas isso explica o crescimento dos não brancos neste país.

Acho que estamos a caminho da decadência ética, moral, intelectual.
Esse é o estado a que chegamos...
Paulo Roberto de Almeida

Debate economico nem sempre muito claro: commodities vs manufaturados

Um debate complicado, pois não é preciso ficar com uma posição ou outra, ou seja, defender o laissez-faire total, ou as induções estatais sobre o setor privado.
Pode-se simplesmente dizer que os empresários é que devem decidir o que melhor fazer, e criar as condições para que eles possam fazê-lo.
Isso significa regras estáveis, um bom ambiente de negócios, insumos com preços de mercado (não gravados por impostos excessivos) e outras condições que são justamente deformadas pela existência de um Estado predador e extorsivo...

Mas vocês vejam como mesmo as pessoas aparentemente mais "inteligentes" conseguem escorregar feito no raciocínio econômico quando pensam em termos de monopólios capitalistas, teorias conspiratórias sobre a dominação dos mercados e bobagens do gênero.
O professor Fernando Sarti, da Unicamp, ilustra como uma commodity como soja "têm mais conteúdo tecnológico que as de telefones celulares, um produto manufaturado. Enquanto a produção de soja envolve um investimento grande em sementes, química fina e biotecnologia, a de celulares muitas vezes se limita a montagem de componentes importados."
Muito bem, mas o que ele diz logo em seguida? Isto aqui:
"No caso da soja, diz Sarti, o Brasil é extremamente competitivo na produção, mas não na comercialização internacional do produto, nas mãos de três grandes empresas multinacionais."
Inacreditável!
O Brasil tem a soja mais barata do mundo até a porteira da fazenda. Depois ela fica muito mais cara do que a soja americana porque somos gravados pelo custo dos transportes, pela péssima situação das estradas, por portos ineficientes, etc...
E o professor invoca o fato de que três multinacionais comercializam o produto!!!???
Se fossem três grandes tradings brasileiras por acaso isso teria qualquer influência sobre a cotação internacional da soja??? Isso teria qualquer influência benéfica sobre a logística pavorosa que faz com que a soja chegue ao porto mais cara do que a soja americana, apesar de ser mais barata na fazenda???
Realmente, custo a acreditar que profesores universitários possam ser tão simplistas assim!
Paulo Roberto de Almeida

Nem todos querem exportar valor agregado
Sergio Lamucci, de São Paulo,
Valor Economico, 28/04/2011

Com os preços de commodities nas alturas e a perspectiva de que a China deverá manter por muitos anos o apetite por matérias-primas, a discussão sobre se é melhor exportar produtos básicos ou investir em agregar mais valor se torna mais complexa. Alguns analistas perguntam, por exemplo, por que a Vale deve investir em siderurgia num momento em que há excesso de produção de aço e as cotações do minério de ferro aumentam com força ano após ano.

Vários economistas, contudo, ainda defendem ferrenhamente a estratégia de agregar valor às vendas externas, para que o país não fique dependente dos preços de commodities, historicamente muito voláteis, e aposte em setores com maior desenvolvimento tecnológico e empregos de melhor qualidade.

Ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros diz que, em princípio, é "melhor exportar produtos com maior valor agregado". Como regra geral, o processo traz benefícios à economia do país, afirma ele. "A questão é que cada caso precisa ser analisado detalhadamente. Não há respostas prontas, pré-concebidas", pondera Mendonça de Barros, tomando como exemplo a questão se a Vale deve ou não investir com mais força em siderurgia.

Além da escalada de preços do minério e da sobra de aço no mundo, ele levanta duas questões que podem colocar em xeque a conveniência de a empresa apostar na siderurgia. A primeira é que, se entrar agressivamente nesse mercado, a Vale passará a concorrer com seus principais clientes. "É preciso um estudo para ver o impacto de a empresa competir com os principais compradores de seus produtos", afirma ele, hoje sócio da Quest Investimentos.

O segundo ponto é que produzir aço consome muita energia elétrica, o que não ocorre com a extração de minério de ferro. "Será que o Brasil tem oferta de energia suficiente para isso, a preços competitivos?" São perguntas, segundo ele, que precisam de um estudo detalhado para serem respondidas.

O professor Fernando Cardim de Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vê com maus olhos a ideia de produtos como o minério de ferro ganharem tanto espaço na pauta de exportação brasileira. "Há nesse caso um conflito entre os ganhos de curto e os de longo prazo. Neste momento, certamente exportar minérios para a China é um dos melhores negócios que existem, mas como fica a situação num período maior?", diz Cardim, observando que os preços de matérias-primas são muito voláteis.

"Estamos surfando na fase boa da volatilidade, mas nós conhecemos o que ocorre quando vem a fase ruim." Para ele, apostar que o apetite chinês por matérias-primas não vai arrefecer é ignorar a história econômica "dos últimos 250 anos". Cardim também defende a estratégia de buscar mais valor agregado por causa do seu impacto sobre o emprego. A produção de commodities costuma gerar poucos postos de trabalho, em geral de baixa qualificação, diz ele. Na fabricação de manufaturados, há maior desenvolvimento tecnológico e a geração de melhores empregos.

Mendonça de Barros vê um período bastante longo de commodities em níveis elevados, dada a perspectiva de que a China continue a crescer a taxas robustas por vários anos. "Já a tendência dos produtos industriais é continuarem muito baratos", observa ele. Cardim, por sua vez, diz que a queda das cotações dos bens manufaturados, num cenário de ganhos de escala, não impede que a fabricação siga bastante rentável. "A manufatura sempre foi assim, basta ver a estratégia da própria China."

O ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman tem uma visão oposta à de Cardim. Para ele, há maniqueísmo de muitos economistas brasileiros, que consideram a produção de bens de maior valor agregado como algo intrinsecamente bom. "A questão é que não é algo absoluto. A rentabilidade hoje de produzir minério de ferro é muito maior do que a da siderurgia. O que é melhor para a empresa, ser a Vale ou a Usiminas?"

Schwartsman diz ainda que há grande capacidade ociosa no setor siderúrgico no mundo, além de não ver no radar um tombo dos preços de commodities. Mas essa não seria uma visão de curto prazo? "Pode haver incertezas em relação aos preços, mas não ignore o que mercado está dizendo. A diretoria da empresa tem que tomar decisões que afetam a vida da empresa vários anos à frente, com os acionistas fungando em seus cangotes." Para Schwartsman, quem está no dia a dia da empresa e conhece o mercado em que a companhia atua está muito mais capacitado para definir a estratégia do que um burocrata em Brasília. "E as empresas de commodities não operam num enclave. Elas estão integradas à economia, gerando demandas por produtos manufaturados e serviços nas suas cadeias", conclui ele.

Um ponto que torna a discussão mais complexa é que um produto primário muitas vezes tem um processo de produção que envolve muita agregação de valor. A extração de petróleo em águas profundas é um exemplo eloquente. A tecnologia e a mão de obra empregadas no processo deixam claro que se trata de algo complexo e avançado, como concordam - pelo menos nesse ponto - Schwartsman e Cardim.

O professor Fernando Sarti, da Unicamp, considera que a discussão sobre o assunto é feita muitas vezes de modo simplista - a polêmica minério de ferro X aço no caso da Vale seria uma dessas simplificações. Ele dá um exemplo interessante para ilustrar como a discussão é hoje mais complicada: as exportações brasileiras de soja, uma commodity, têm mais conteúdo tecnológico que as de telefones celulares, um produto manufaturado. Enquanto a produção de soja envolve um investimento grande em sementes, química fina e biotecnologia, a de celulares muitas vezes se limita a montagem de componentes importados.

O assunto, contudo, não se esgota aí, diz Sarti. No caso da soja, nota ele, o Brasil é extremamente competitivo na produção, mas não na comercialização internacional do produto, nas mãos de três grandes empresas multinacionais. No caso da Vale, focar na produção de minério de ferro pode talvez de fato ser mais indicado, dada a sobra de aço no mundo, mas seria importante que os investimentos da empresa em logística beneficiassem outros setores da economia -a construção de ferrovias pela companhia, por exemplo, tem aumentado a demanda pela produção de mais locomotivas e trilhos no país? "É importante haver um transbordamento para outros segmentos da economia."

A exploração do petróleo do pré-sal pode garantir esse tipo de benefício, com a montagem de uma cadeia de fornecedores dos equipamentos que serão necessários para a Petrobras. "Essa estratégia é uma boa opção, desde que seja equilibrada, e não faça a empresa ter fortes aumentos de custos", diz Mendonça de Barros.

Retrocede Brasil (8): cenas explicitas de protecionismo pornografico...

Sempre existe um industrial preocupado com a segurança dos seus trabalhadores e que pretende barrar alguma máquina chinesa porque ela não cumpre exigências que ele acha que todas as máquinas devem ter para serem importadas no Brasil.
Sempre tem um produtor de chave de fenda que acha que as chinesas são vendidas abaixo do custo de produção, perdendo dinheiro na exportação e provocando concorrência desleal no Brasil apenas para açambarcar o mercado brasileiro e depois ficar sozinho cobrando preços abusivos.
Sempre tem gente que acredita em histórias desse tipo.
Eles ainda não abandonaram os livros e as estórias do jardim de infância.
Aposto como o MDIC vai conceder.
Alguém quer apostar comigo?
Paulo Roberto de Almeida

Setor de máquinas e equipamentos entra com pedido de salvaguardas contra a China
Agencia Brasil, 27/04/2011

São Paulo – O setor de máquinas e equipamentos deu entrada no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior com três pedidos de adoção de salvaguardas contra a China. Os fabricantes de chaves de fenda, guindastes e válvulas borboleta questionam o preço cobrado pelos chineses no Brasil.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entidade que deu entrada com os pedidos na semana passada, aguarda agora um parecer do ministério sobre os pedidos. As solicitações estão em fase de análise prévia. Se aprovados, será a primeira vez que o Brasil adotará salvaguardas contra a China no setor. No curto prazo, a Abimaq promete ingressar com mais 17 pedidos de salvaguardas contra o país asiático.

“Não tem mais como esperar, a diferença de preço praticado pela China com o que a gente exporta, e com o resto do mundo é um absurdo. Está chegando máquina a US$ 5, US$ 6 o quilo. O que a gente quer é isonomia, é igualdade”, disse o presidente da Abimaq, Luiz Albert Neto.

Além dos pedidos de salvaguardas, o setor está aguardando o aval do Ministério do Trabalho e Emprego para que as importações de máquinas passem também a ter de respeitar as normas de segurança exigidas das fabricantes brasileiras. A intenção é tornar mais difícil as importações de máquinas da China.

“As fabricantes de prensa nacional, por exemplo, têm de seguir uma norma de segurança, com uso de laser [para evitar acidentes]. A máquina que vem da China, pergunta se tem? Estamos só esperando uma assinatura do Ministério do Trabalho para que todas as máquinas importadas tenham esse critério”, cobrou Albert.

O faturamento da indústria de bens de capital, no primeiro trimestre de 2011, atingiu R$ 18,3 bilhões, valor 4,6% superior ao registrado no mesmo período de 2010. No mês de março, o faturamento de R$ 7,2 bilhões foi 3,5% inferior ao atingido em março de 2010 e 25,2% acima do de fevereiro de 2011.

Em relação à balança comercial, no primeiro trimestre de 2011 o total de máquinas exportadas rendeu US$ 2,6 bilhões, um aumento de 35,5% em relação aos embarques dos três primeiros meses do ano passado. Porem, as importações do setor continuam superando as exportações. No primeiro trimestre do ano, as compras externas somaram US$ 6,7 bilhões, valor 32,6% maior que o registrados no mesmo período de 2010.

A China é o segundo país que mais exporta máquinas para o Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos. No primeiro trimestre, foram importados do país asiático US$ 965,9 milhões, 53,5% a mais do negociado no mesmo período do ano passado.

Mafias sindicais: nossa praga de gafanhotos...

Temos outros "pragas bíblicas, eu sei, mas esta é a que mais cresceu, se desenvolveu e prosperou nos oito anos (and counting...) da República Sindical a que fomos levados por escolha dos eleitores.
Na Argentina vizinha, eles também escolheram criar uma República Sindical, que nunca retrocedeu, a despeito de governos militares e de civis mais liberais.
A Argentina continua decaindo, décadas depois da instalação da sua República Sindical.
O Brasil, com suas peculiaridades, vai pelo mesmo caminho.
A escolha é só nossa...
Paulo Roberto de Almeida

A festança das centrais
Editorial - O Estado de S.Paulo
30 de abril de 2011

Houve tempo em que dirigentes sindicais responsáveis faziam do dia 1.º de maio um momento de reflexão sobre os problemas que atormentavam os trabalhadores. Em muitos países, a data foi transformada no Dia do Trabalhador para homenagear aqueles que dedicaram a vida à defesa dos direitos de seus parceiros de trabalho. Nos últimos anos, porém, as centrais sindicais brasileiras transformaram o Dia do Trabalhador num pretexto para festas e discursos demagógicos, desvirtuando seu significado original.

Dinheiro para festejar não lhes falta. Além da generosa fatia a que têm direito na partilha do dinheiro extraído anualmente do bolso dos trabalhadores na forma de imposto sindical, o que lhes garante mais de R$ 100 milhões por ano, as centrais obtiveram patrocínio de empresas estatais e de algumas companhias privadas para realizar sua festança deste domingo.

Estima-se que as duas grandes festas das centrais sindicais em São Paulo - uma liderada pela Força Sindical, com o apoio de outras quatro entidades, outra preparada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) - custarão R$ 5 milhões.

Alguns artistas renomados, outros nem tanto, políticos e sindicalistas se apresentarão para cerca de 2 milhões de pessoas, atraídas não para discutir as grandes questões que afetam o mercado de trabalho e angustiam os trabalhadores, mas para ver seus artistas prediletos e concorrer a prêmios valiosos, como 20 automóveis novos.

Seria muito bom se a realidade justificasse tanta festa. As condições de trabalho e de vida no Brasil e no mundo mudaram radicalmente em relação àquelas que prevaleciam no fim do século 19, quando a data foi escolhida para homenagear os trabalhadores. E continuam a mudar para melhor. Mas problemas novos surgiram.

Nos últimos anos, o avanço da tecnologia na indústria e no setor de serviços e a internacionalização das atividades econômicas e financeiras impuseram mudanças profundas nas relações do trabalho, num processo de desregulamentação que enfraqueceu os vínculos formais entre empregador e empregado.

Com muito raras exceções, os líderes sindicais não entenderam as transformações no mundo do trabalho, no exterior e no Brasil. Continuam presos a velhas palavras de ordem, que repetem como se quisessem ter a sensação do cumprimento de seu dever. Há dias, os dirigentes das centrais sindicais apresentaram ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), a lista do que consideram prioritário. Os pontos são velhos conhecidos: redução da jornada de trabalho, eliminação do fator previdenciário e regulamentação do trabalho terceirizado.

Nada disseram sobre problemas graves do mercado de trabalho, que não lhes parecem causar preocupação. Alguns são tão antigos como o Brasil e outros são bastante recentes. Mas as lideranças sindicais parecem alheias às mudanças que ocorreram diante de seus narizes.

Pretendendo representar os trabalhadores em nome dos quais dizem atuar, na realidade as centrais representam, no máximo, metade dos brasileiros que vivem de seu trabalho. Dados recentes mostram que a informalidade no mercado de trabalho vem diminuindo, mas, ainda hoje, 51,5% das pessoas que vivem de seu trabalho não têm registro em carteira. Não contam com nenhum direito trabalhista e, por omissão dos sindicatos, não têm direito nem mesmo à sindicalização.

Os que mais precisam de apoio dos sindicatos são por estes inteiramente ignorados, como mostra o fato de terem sido surpreendidos pela recente onda de revoltas nos canteiros de obras de usinas hidrelétricas. Não sabiam o que ocorria em algumas das maiores aglomerações de trabalhadores do País.

Além disso, eles nada têm feito para treinar os trabalhadores de suas bases para as novas demandas do mercado de trabalho. Há empregos, mas é cada vez maior a falta de trabalhadores qualificados para ocupá-los. É preciso preparar os trabalhadores, mas, para os sindicatos, esse não é problema deles, como não são muitos outros. Por isso, a festa de Primeiro de Maio deixou de ser a festa dos trabalhadores para virar a festa das lideranças sindicais.

Fight of the Century: Keynes vs. Hayek Round Two - Youtube

Para quem viu o primeiro, recomendo o segundo da série, "O Combate do Século":

http://www.youtube.com/watch?v=GTQnarzmTOc

Imperdível para os que gostam de levar a economia não muito seriamente...

De fato, este é o combate do século.
Para mim, considero que, depois das guerras mortíferas que tivemos no século XX, a peste negra do estatismo ainda contamina exageradamente as políticas públicas.
Impossível dispensar o Estado, eu sei, mas o culto que lhe rendem os keynesianos tem tornado a humanidade muito mais pobre do que ela poderia ser numa eventual liberação completa das forças econômicas.
Sei que pouca gente acredita nisto, pois liberdade total conduz a um pouco de anarquia, crises, concentração de renda, desigualdades e tudo o mais.
Mas a riqueza, para todos, seria muito maior.
Infelizmente, as pessoas preferem continuar sendo "baby-sittadas" por uma mãe aparentemente generosa que é o Estado.
Eu sei que as pessoas são preguiçosas: preferem passar a noite comendo alguma coisa na frente da TV do que estudar e progredir na vida.
A lei inercial da preguiça humana é o o que nos torna mais pobres.
Isso é o keynesianismo. Ele é a TV aberta da humanidade: todos esperam que algo aconteça, de graça.
O Estado faz, mas não de graça...
Paulo Roberto de Almeida

Paranoia dos celulares: uma enfermidade infantil da era movel...

Ja tem gente fazendo campanha contra a Apple e os iPhones por causa do sistema de tracking embutido no sistema desse celular.
Já imaginam um Big Brother, lá na California, vigiando os passos de cada um dos zilhões de usuários dos iPhones para tramar sabe-se lá qual complô consumista contra seus interesses individuais.
Acho que não sou paranóico a este ponto. Sei que muitos seguem os meus passos, amigos e inimigos, sobretudo neste blog, onde atuo sobretudo por divertimento, mas não acredito que eu venha a fazer loucuras por indução capitalista de quem segue meus passos pelo meu iPhone (aliás, muito útil).
Paulo Roberto de Almeida

Mobile tracking
The Difference Engine: The spy in your pocket

The Economist, April 29th 2011, 9:00 by N.V.

LOS ANGELES - FOR those who managed to miss the “Locationgate” brouhaha last week, a brief recap. The story broke in the Wall Street Journal, which reported on how two British researchers had discovered a database file called “consolidated.db” that contained unencrypted details of the owners’ travels over the past year. The file, found in computers that had synched with Apple’s iPhones and iPads, contained a date-stamped log of the longitude and latitude coordinates of the various locations visited. Right or wrong, the conclusion was that Apple was tracking every move its customers made. An uproar erupted as a result, with demands by lawmakers that the company explain its actions forthwith.

On April 27th, Apple broke its week-long silence with a denial that its mobile devices were tracking customers, but then promised to fix the privacy issue that did not exist anyway. Coming out of medical leave to help squelch the imbroglio, Steve Jobs, Apple’s charismatic chief executive, admitted that the company had made a mistake in how it handled the location data on its iPhones and iPads. But in no way did the devices log users’ locations multiple times a day. The data found in the phones referred to the location of various cell towers, not the users, which could be as far as 100 miles away, said Apple. Even so, independent researchers were quick to point out that the data could still allow phones to be tracked to within 100 feet.

According to Apple, it was all a misunderstanding on the part of the two British researchers. The file they had stumbled upon, the company claimed, contained simply the locations of known WiFi hotspots and cell towers that had been downloaded from Apple. The location database on the company’s servers has been built up over the past year using “anonymous, crowd-sourced information” as millions of iPhone and iPad users unknowingly synched (via iTunes) the location details of cell towers and WiFi hotspots they had come in contact with. The local data were updated and cached on the mobile devices simply to help them figure out their own location.

Mobile devices need to know where they are to make calls and receive them—as well as to do clever tricks like display maps of the immediate surroundings, pinpointing stores, restaurants and entertainment of potential interest. The phone finds where it is by listening for the whispers from cell towers and WiFi hotspots in the neighbourhood, as well as from GPS satellites in orbit.

Like a web browser that caches data on a personal computer about websites visited so the pages can be pulled up promptly the next time the user returns to them, having the coordinates of local towers or hotspots already in the cache makes it easier for the phone to triangulate its own location. That way, the device responds quicker than it would if it had to download the data for triangulation each time from Apple, or wait a minute or so for the faint signal from a passing GPS satellite. By reducing the amount of computation done on board the device, caching speeds things up and saves battery life in the process.

Once explained, most users accept that as reasonable. What upsets them, though, is the way Apple has been secretly caching up to a year’s worth of comings and goings on owners' devices—and reporting the information back to its location database at head office whenever users synch with iTunes. More damning still is the way the company keeps collecting such data when users deliberately turn the location services off.

That is not what Apple informed members of Congress last July when first quizzed on the matter. Representative Joe Barton of Texas told the Wall Street Journal this week that Apple “lied” to him and another lawmaker when it said its phones do not collect and transmit location-based data such as mapping when location services are switched off.

Mr Jobs blames “bugs” in the software for the misunderstanding. Apple has now promised to upgrade the software in coming weeks to reduce the amount of location data cached in the devices from a year’s worth to no more than a week’s supply. The new software will also delete the location data stored in the phone’s cache when the user turns its location services off. In addition, the next version of iOS, Apple’s operating system for mobile devices, will ensure that all location data cached and reported back to Apple are fully encrypted.

So much for Apple's damage control. But why collect such voluminous amounts of location data anyway? Clearly, Apple is racing to catch up with Google and others who have already carved out large chunks of the fast-growing market for location-based services. According to Gartner, a research firm based in Stamford, Connecticut, sales of location-based services are currently running at $2.9 billion a year. But the market is expected to grow to $8.3 billion by 2014. In particular, Apple wants to offer iPhone users information on traffic-congestion, as Google already does using data fed back from the millions of Android phones travelling the roads of the world. A great deal of revenue from location-based advertising is at stake here.

All of which begs the question: How is Google acquiring all this information on its customers’ whereabouts? The short answer is that its Android phones and tablets are doing much the same as Apple’s iPhones and iPads—only more so. They survey the user’s location every few seconds and report the information back to the company several times an hour. According to Samy Kamkar, a security analyst interviewed by the Wall Street Journal, an Android phone can also transmit a unique identifier tied to the individual device—and thus the customer’s home address. As far as we are aware, Apple does not do that.

Readers may recall that Google got into hot water last year when its fleet of StreetView cars, which map and photograph streets around the world, inadvertently collected e-mail addresses, passwords and other personal details while scanning for WiFi hotspots. Several European governments were up in arms, and ordered the company to cease such wholesale invasion of their citizens’ privacy. Google says it has now stopped collecting personal information this way.

No question that Apple and Google—as well as the wireless carriers themselves—still have much to explain. Lawmakers will have a chance to question both Google and Apple when they testify before Congress on May 10th. What is clear, though, is that rather than abate, the wholesale tracking and collection of information about people’s behaviour while on the move is set to increase dramatically. As mobile phones and tablets take over from desk-bound computers, marketers are no longer content to classify consumers merely by their postal codes or telephone area codes. They want to know where precisely they are at every moment while out and about—so they can send text messages with instant inducements (coupons, discounts, special offers, you name it) to enter one particular store or restaurant they are passing rather than another.

We should be both cheered and cautious about such developments. Above all, let us hope that lawmakers at least insist that sufficient transparency be provided so people can choose how much or little of their personal details to make available. For that and more, Locationgate has been a useful wake-up call.

Diploma de Harvard? Esqueca! Melhor ser guarda penitenciario na California...

A California, ou melhor, o tipo especial de organização social e estatal em vigor naquele estado ensolarado -- cujo PIB é muito superior ao do Brasil inteiro, é bom que se diga -- foi objeto de uma matéria de capa e de special survey na Economist de duas semanas atrás.
Recomendo vocês lerem -- deve estar livremente disponível no site da revista -- se quiserem saber como fazer, uma receita muito simples, para afundar um país, uma sociedade, para jogar na decadência tudo de bom que foi construído pelas gerações precedentes, aquelas que trabalharam duro para fazer dos EUA e da Califórnia o lugar mais afluente -- não o mais rico, mas o mais inovador e criativo -- do mundo, sem questionamentos.
Pois bem, os californianos, ou pelo menos alguns californianos, estão destruindo tudo isto, por políticas como a expressa nesta matéria de opinião do Wall Street Journal deste sábado.
Claro, sempre existem caminhos mais rápidos para a decadência, e o Brasil é pródigo nelas, mas a California já tinha ficado rica, quando decidiu voltar a ser pobre outra vez.
O Brasil, para nossa tristeza, nem conseguiu ficar rico, e decidiu continuar pobre para sempre..
Paulo Roberto de Almeida

OPINION
California Prison Academy: Better Than a Harvard Degree
By ALLYSIA FINLEY
The Wall Street Journal, April 30, 2011

Prison guards can retire at the age of 55 and earn 85% of their final year's salary for the rest of their lives. They also continue to receive medical benefits

Roughly 2,000 students have to decide by Sunday whether to accept a spot at Harvard. Here's some advice: Forget Harvard. If you want to earn big bucks and retire young, you're better off becoming a California prison guard.

The job might not sound glamorous, but a brochure from the California Department of Corrections and Rehabilitations boasts that it "has been called 'the greatest entry-level job in California'—and for good reason. Our officers earn a great salary, and a retirement package you just can't find in private industry. We even pay you to attend our academy." That's right—instead of paying more than $200,000 to attend Harvard, you could earn $3,050 a month at cadet academy.

It gets better.
Training only takes four months, and upon graduating you can look forward to a job with great health, dental and vision benefits and a starting base salary between $45,288 and $65,364. By comparison, Harvard grads can expect to earn $49,897 fresh out of college and $124,759 after 20 years.

As a California prison guard, you can make six figures in overtime and bonuses alone. While Harvard-educated lawyers and consultants often have to work long hours with little recompense besides Chinese take-out, prison guards receive time-and-a-half whenever they work more than 40 hours a week. One sergeant with a base salary of $81,683 collected $114,334 in overtime and $8,648 in bonuses last year, and he's not even the highest paid.

Sure, Harvard grads working in the private sector get bonuses, too, but only if they're good at what they do. Prison guards receive a $1,560 "fitness" bonus just for getting an annual check-up.

Most Harvard grads only get three weeks of vacation each year, even after working for 20 years—and they're often too busy to take a long trip. Prison guards, on the other hand, get seven weeks of vacation, five of them paid. If they're too busy racking up overtime to use their vacation days, they can cash the days in when they retire. There's no cap on how many vacation days they can cash in! Eighty officers last year cashed in over $100,000 at retirement.

The cherry on top is the defined-benefit pension. Unlike most Harvard grads working in the private sector, prison guards don't have to delay retirement if their 401(k)s take a hit. Prison guards can retire at the age of 55 and earn 85% of their final year's salary for the rest of their lives. They also continue to receive medical benefits.

So you may be wondering what it takes to become a prison guard. For one, you have to be a U.S. citizen with a high-school diploma or equivalent. Unfortunately, you can't have any felony convictions, but don't worry, possession of marijuana is only an infraction in California.

There's also a vision test, background investigation, psychological evaluation, physical exam, tuberculosis screening, and a fitness test that measures your grip strength. The hardest part, however, is the written test, which includes word problems like this sample test question: "Building D currently has 189 inmates, with 92 beds unfilled. Building D is currently at what capacity?" If you've somehow forgotten how to add and divide, you can bone up on your basic math with Barron's "Correction Officer Exam" prep book.

The application process may seem like a piece of cake compared to Harvard's, but the correctional officer academy is actually more selective than Harvard. Over 120,000 people apply every year, according to the state Legislative Analyst's Office, but the academy only enrolls about 900. That's an acceptance rate of less than 1%. Harvard's is 6.2%. The job also has a better retention rate than Harvard. Only 1.7% dropped out of the service last year, compared to 2% who left Harvard.

If your parents aren't thrilled about you turning down Harvard to become a prison guard in California, just show them the job brochure. Then explain that in another few years instead of paying off thousands of dollars in college loans you'll be taking cruises together. They'll be speechless.

Ms. Finley is assistant editor of OpinionJournal.com.

Inflacao e descontrole economico: ja sabemos de quem é a culpa..

...da imprensa!
De quem mais poderia ser?

Estarei sempre à disposição do partido para vir aqui dar esclarecimentos e explicar melhor o que estamos fazendo no governo para estarmos mais sintonizados. Para explicar a política econômica porque, às vezes, ela acaba sendo distorcida pela imprensa”.

Ministro da Fazenda, Guido Mantega, em reunião do Diretório Nacional do PT.

A diva blogueira e a corrupcao do sistema: desmoralizando Betania...

Apenas transcrevendo...

[Acréscimo em 30 de abril: um comentário de um leitor, na sequência desta postagem, e meus próprios comentários in fine...PRA]

O escandaloso blog de poesia de Maria Bethânia
Digestivo Cultural n. 478, 27/04/2011

Na música, todo mundo louvava Maria Bethânia, por ela não haver se rendido à acomodação dos outros Doces Bárbaros. Não havia se perdido em rock como Caetano, não havia se desencaminhado na política como Gil e não havia se aposentado precocemente como Gal Costa. Maria Bethânia parecia incansável: gravando compositores novos, fazendo pesquisa de ritmos, lançando selo próprio e, claro, fazendo shows - admiráveis desde a concepção até a performance (de tirar o fôlego das cantoras mais jovens). Acontece que a mesma Bethânia - que musicalmente admirávamos tanto - protagonizou um (ou se deixou envolver num) dos maiores escândalos de captação de recursos, via Lei Rouanet, via Ministério da Cultura, via Governo Dilma, via Era Lula...
O projeto "O Mundo Precisa de Poesia" se apresentou ao MinC como um "blog", onde Maria Bethânia recitaria um poema por dia, e, para isso, solicitava quase 1,8 milhão de reais, sendo que 600 mil apenas para a sua remuneração. Tudo bem que o MinC aprovou "apenas" 1,35 milhão de reais para captação, mas conhecendo os blogs - como a blogosfera conhece - a grita foi geral. Primeiro porque qualquer pessoa que já tenha aberto uma conta de e-mail na Web, sabe qual é o custo de montar um blog: 5 minutos. Evidente que o custo de manter um blog é outro. Mas para fazer vídeos, e distribui-los via YouTube, não demora muito mais, não. Depois, porque o projeto literalmente caiu na rede e seu conteúdo era uma piada de mal gosto. A "síntese", os "objetivos" e a "justificativa" eram de uma redação quase infantil. E a equipe era a dos usual suspects: Conspiração Filmes, Andrucha Waddington e Hermano Vianna.
Para completar: dos quase 2 milhões solicitados, o webdesigner receberia 6 mil, no total, e a manutenção/atualização do site custaria, simples e apenasmente, 8,4 mil reais (durante um ano). Em defesa de Bethânia - ou do projeto em que ela foi usada de "laranja" - vieram dizer que estava tudo dentro da lei. Podia até estar, mas, como d izia Boris Casoy nos bons tempos, não deixava de ser "uma vergonha". Outros projetos, de outros Doces Bárbaros, vieram à tona, para engrossar o caldo, mas a nova Ministra da Cultura nem ficou vermelha. Desta vez, o governo não poderia jogar na conta da "herança maldita" de FHC (e do PSDB), porque o projeto remontava ao ano passado (2010)...
Ao fim e ao cabo, esse projeto é, na realidade, uma das contas que a sociedade está pagando pela terceira eleição, na sequência, do mesmo governo. Porque no Ministério da Cultura também existe malversação de recursos, e quem se aprochegou dos cofres públicos nos últimos 8 anos, quer continuar se beneficiando nestes próximos 4 anos...

>>> Blog da Bethânia, o projeto

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Um leitor, conhecedor dos meandros das políticas culturais neste país que é nosso (embora seja mais de alguns do que de todos), me escreve o que segue:

Professor, este texto é de uma sequência de equívocos:

1. O mecanismo de incentivo fiscal não é uma marca da Era Lula. É Lei (de 91), que está tentando ser modificada já que deixa o incentivo à cultura via renúncia fiscal (ou seja, $ público) nas mãos da capacidade de captação dos proponentes - ou seja, muito mais no depto marketing do que no de cultura. Os mal informados acusam, inclusive, a tentativa de reforma da lei de "dirigismo estatal" dos investimentos culturais. Muitos projetos INCRIVEIS foram realizados via Lei Rouanet, mas muitos piores do que o da Betânia também. Esse "escândalo" poderia ter se dado em qualquer momento já há muito tempo. Não posso compreender porque acham o caso da Betânia mais escandaloso do que o do famoso banco que trouxe o famoso circo via lei de incentivo, fez um monte de propaganda e ainda cobrou ingresso caríssimo. (veja em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u59903.shtml). Ou seja, vamos perceber que a situação é MUITO MAIS complexa do que a narrada nesse texto...

2. Gil não se "desencaminhou" na política. Foi de importância decisiva no Ministério da Cultura, deixou um incrível legado. Inclusive foi o responsável por criar outras abordagens para a política pública cultural brasileira que não a do incentivo fiscal, formulando Programas que hoje são referência para diversos países. Ou seja, o texto mistura alhos com bugalhos da forma que é conveniente ao argumento. Diz que o personagem é "desencaminhado", justamente ele que foi quem mais fez contra o que o autor diz achar um absurdo...

3. Quem pode julgar o processo artístico de Caetano ou Gal??!!! "Aposentadoria precoce de Gal" é uma das expressões mais preconceituosas que já vi. Só porque ela não se esforça para estar toda hora na mídia com uma novidade? Mas não é essa a acusação que o autor do texto faz a Caetano Rock'n'roll? Perceba a contradição e a petulância desses comentários...

Entenda, não é o caso de defender um governo ou outro, mas de ver a Cultura como um campo complexo de ação pública, tão imbricado nos processos de transformação do Estado como qualquer outro. Um governo não pode, por voluntarismo, modificar a aplicação da Lei. Ela tem que ser reformada pelos complexos mecanismos da nossa democracia, e é justamente isso que está sendo feito, de forma não imune a acusações de pessoas como o autor desse texto.

Se for publicar a resposta, por favor preserve meu nome, porque gente como o autor desse texto contra a Betânia não hesita em pegar o que vc escreve, tirar de contexto e circular por aí.

[Leitor anônimo]

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Permito-me agregar o que segue (PRA):

Não vou comentar o post principal, que coloquei apenas por instinto de provocação, que sempre é o meu, independentemente da correção e objetividade dos argumentos, mas que NÃO subscrevo, esclareço. Apenas era o tema do momento, suficientemente escandoloso para chamar a atenção da "mídia", como chamou, e despertar sentimentos de animosidade ou de defesa, entre os interessados por esta área da vida nacional. Apenas por isto postei aqui, mas concedo que o tom é rancoroso e não traduz a racionalidade que se espera de um blog como este, que se pauta, como indicado, por respeito a ideias inteligentes. Não era o caso do post e do tema, e eu deveria ter abandonado a intenção. Agora já está postado e despertou reações do distinto público que aqui comparece.
Tampouco vou comentar o que está transcrito acima, de um leitor inteligente e cognoscenti.
Vou apenas dizer o que penso do sistema e do caso.

É evidente que num país invadido, dominado, subjugado por políticas públicas, especialmente as setoriais, que interessam a grupos de interesse, como o Brasil, não poderiam faltar políticas de "favorecimento" disto e daquilo, para todos e cada um.
Um Estado esquartejado por grupos de interesse, geralmente poderosos, como o Brasil, no qual o dinheiro do contribuinte, do empresário, do cidadão comum, e especialmente dos pobres -- que jamais pagam imposto de renda, mas que deixam 50% do que ganham para o Estado sob a forma de impostos -- é evidente que num país assim sempre haverá espertos, e mais espertos que os espertos, que conceberão, aplicarão e se beneficiarão de políticas ditas "incentivadoras" para estimular esta ou aquele setor que não recebe os "sinais corretos" do mercado.
Cultura é obviamente um deles. Muitos, talvez a maioria concordam com a afirmação de que iniciativas e empreendimentos culturais não podem e não conseguem se pautar pelas "regras de mercado" -- vocês sabem, aquelas coisas perversas geralmente ligadas ao lucro e à acumulação de capital -- e que por isso mesmo devem se beneficiar de incentivos públicos (ou seja, o dinheiro de todo mundo -- para que as magníficas produções culturais de artistas "fora do mercado" possam alcançar o público, geralmente o público mais vasto de cidadãos comuns que não podem pagar uma ópera na Metropolitan House, e que depende mesmo de TV aberta e de "espetáculos populares".
O caso da Bethânia talvez nem seja o mais escandaloso no caudal de "projetos culturais" que recolhem -- é bom que se diga -- não o dinheiro do MinC, mas o imposto devido por capitalistas, que assim podem posar de amigo das artes e de mecenas culturais. Provavelmente, assessores mais espertos, inclusive com a ignorância da cantora, aproveitaram esse mecanismo perverso de redistribuição de renda -- no Brasil é sempre dos pobres em favor dos ricos -- para carrear alguns milhões para seus apartamentos da Vieira Souto.
Seja lá o que for, minha posição é muito clara e a expresso aqui.

Sou contra todas essas políticas setoriais do Estado em favor de quaisquer grupos de interesses que existam, QUAISQUER: usineiros, industriais da FIESP, cantores populares, garimpeiros, pescadores, enfim, vocês escolhem o que quiserem.
Para mim só existe um grupo de interesse que não é especial, mas que é básico: as crianças, de qualquer cor, de qualquer renda, de qualquer origem geográfica e de qualquer formação cultural ou background social.
A única política que o Estado deveria ter seria esta: escolas de qualidade, em tempo integral, para todas as crianças, apenas isto. Dos 4 ou 5 anos, até os 17 anos, a sociedade nacional "suportaria" -- no sentido de apoiar -- escolas de qualidade.
Depois, bye, bye, até logo. Cada um que se vire no mercado.
Apenas isto, e nada mais do que isto.
Acredito que o Brasil e os brasileiros sejam suficientemente inteligentes para julgar o que penso do resto das políticas públicas.
Ponto.
Assunto encerrado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30 de abril de 2011

Armas de procriacao em massa: qual seria a dissuasao contra o Viagra?

Bem, seria preciso ver se a Libia está pagando os royalties direitinho, pois creio que o Viagra ainda está protegido por patentes.
Aqui no Brasil tivemos um caso, alguns anos atrás: juízes certamente malucos, do Rio de Janeiro, obrigaram o SUS a fornecer Viagra gratuitamente para alguns velhinhos depravados. Nao tenho noticias de que, em consequência, tenha aumentado a incidência de estupros por aquelas bandas, mas seria preciso investigar melhor, inclusive sobre eram remédios protegidos ou genéricos...
Paulo Roberto de Almeida

EUA acusam Líbia de dar Viagra a tropas e estimular estupros
Terra Notícias, 29/04/2011

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU disse na quinta-feira ao Conselho de Segurança que as tropas leais ao líder líbio Muammar Kadafi estão cada vez mais recorrendo à violência sexual, e que alguns soldados têm recebido doses de Viagra, medicamento contra a impotência, segundo diplomatas.
Vários diplomatas da ONU que participaram de uma sessão a portas fechadas do Conselho relataram que a embaixadora Susan Rice citou a questão do Viagra no contexto do agravamento dos casos de violência sexual por parte dos soldados do regime líbio. "Rice abordou isso na reunião, mas ninguém respondeu", disse um diplomata, sob anonimato. A acusação havia surgido inicialmente em um jornal britânico.
O medicamento Viagra, do laboratório Pfizer, é usado contra a impotência sexual masculina. Se for verdade que os soldados de Kadafi estão recebendo Viagra, disseram diplomatas, isso indicaria que eles estão sendo estimulados por seus comandantes a estuprar mulheres para aterrorizar a população em áreas que apoiam os rebeldes.
O uso do estupro como arma de guerra tem recebido crescente atenção da ONU. No ano passado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou uma relatora especial para questões de violência sexual durante conflitos armados, Margot Wallstrom. Neste mês, Wallstrom criticou o Conselho de Segurança por não ter mencionado a violência sexual durante duas recentes resoluções relacionadas à Líbia, apesar de o Conselho ter prometido priorizar esse assunto.
Wallstrom disse na ocasião que relatos sobre estudos na Líbia não haviam sido confirmados, mas citou o caso amplamente divulgado de Eman al Obaidi, uma mulher que no mês passado foi a um hotel frequentado por jornalistas em Trípoli e disse que havia sido estuprada por milicianos leais ao governo.
O Tribunal Penal Internacional já está investigando se o regime de Kadafi cometeu crimes de guerra na sua violenta repressão a manifestantes que exigiam mais liberdade. A delegação dos EUA junto à ONU não quis comentar o assunto.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Livre-mercadistas: nao mantenham ilusoes... - livro sobre os grandes mitos

Bem, no plano racional, livres mercados, livre comércio, competição total, regulação mínima, e Estados eficientes são sempre melhores que o contrário de tudo isso, claro...
O problema é que, na prática, não conseguimos ter tudo isso e temos de aguentar um Estado ineficiente, intervencionista (ladrão seria o termo exato) e todas as outras deformações que os economistas chamam de "falhas de mercado". (Poucos falam das "falhas do governo".)
Abaixo um livro que seria o equivalente do realismo em RI.
Eu confesso ser um idealista, ou partidário da ideal-Economik, mas confesso que não teremos isto antes de muito tempo (if ever...).


------ EH.NET BOOK REVIEW ------
Title: The Illusion of Free Markets: Punishment and the Myth of Natural Order

Published by EH.NET (April 2011)

Bernard E. Harcourt, /The Illusion of Free Markets: Punishment and the Myth of Natural Order/. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2011. 328 pp. $30 (hardcover), ISBN: 978-0-674-05726-5.

Reviewed for EH.Net by Daniel J. D'Amico, Department of Economics, Loyola University (New Orleans).

/The Illusion of Free Markets/ is a fascinating attempt to understand public policy. There are both effective and ineffective responses to social problems. Human welfare requires interpreting complex social phenomena and affecting social change. To be fooled by an illusion is to be guided by a bad map.

Neoclassical models of political economy distinguish between markets and governments. Markets are presumed efficient when producing and allocating resources, but in some institutional environments, where property rights are poorly defined and information asymmetric, said to fail. Governments are presumed necessary and sufficient to solve market failures. Society suffers when either problem is misdiagnosed and/or either solution incorrectly prescribed. Bernard Harcourt thinks markets have been overrated. Histories of penology and economic thought help correct this.

The market versus government dichotomy dates to the classical school, when economists thought in terms of natural law. Markets were called natural because the price system is self-adjusting and socially coordinative. Neither shortages nor surpluses persist because prices change on the margin. Self-interest guides social welfare "as if by an invisible hand." While economists favor markets because they produce and distribute tangible wealth, Harcourt is concerned that they under account social costs. In particular, natural law has supposedly borne complex consequences upon American criminal justice.

Markets were heavily regulated during the time of the classical school. Detailed codes of conduct governed all manner of commercial trade. Harcourt observes that Adam Smith and other classicals used the term “policing” to refer to both commercial and criminal regulations. Harcourt prefers Foucault's focus upon discipline over economists' hard dichotomy. Historically, both markets and governments regulated behavior. Both were backed by physical punishments. The market was as disciplinarian as the state.

Harcourt is concerned, and rightly so, with features of American criminal justice. It appears racially biased, excessively severe and uniquely modern. He argues that these are the theoretical consequences of applied natural law. His historical narrative suggests that as the commercial realm was deregulated, disciplinary resources were directed into the penal sphere.
Markets were presumed to be self-regulating, which drove a conceptual schism between lawful market behaviors and unnatural criminal actions. Theorists underrecognize the costs of social change invoked by deregulation because they presume the market natural. Today's penal excesses are the presumed result of a growing network of anonymous contracts. Harcourt's message: the notion that markets are free from coercion is an illusion, both yesterday and today. Privatization and deregulation are insufficient policy solutions to mass incarceration.

Harcourt's comments are a welcome update to neoclassical orthodoxy, which has failed to give an explanation or policy reaction to mass incarceration. If one looks -- as Foucault would suggest -- at different enforcement techniques (physical punishment versus torts and fines) used within the different legal spheres (criminal versus civil); or if one looks at the historical specialization of those techniques across those legal spheres, one notices the world is a very different place than it used to be.

Today the market versus government distinction parallels the civil and criminal law. Contract enforcements are maintained by the civil law. Criminal laws are enforced by incarceration. These separate legal spheres were not always distinct, nor were their enforcement resources specialized. Originally there was no criminal law. Physical punishments, such as arrest and jailing, facilitated market exchanges and resolved civil disputes; afterwards a separate criminal law developed. Then physical punishments became more reserved to enforce against crime.

Harcourt argues the doctrine of natural law ushered this process, and led to problematic criminal justice outcomes. Alternatively, Foucault's historical perspective compliments an Austrian and Public Choice framework of political economy. Neither markets nor governments should be presumed to resolve each other's failures. The efficient-market hypothesis and traditional public goods theory both risk misguidance by illusion. Enforcement technology is an
important focus in so far as it affects the production and distribution of knowledge and incentives.

Austrian political economy emphasizes the distribution of economic knowledge throughout society. Governments differ from markets in how they produce and distribute economic knowledge -- who, what, how, when and where to make and distribute goods. Public Choice political economy emphasizes the incentives that affect rational choice. Bureaucracies produce systematically different incentives than do for-profit markets.

An Austro-Public Choice political economy insists upon the behavioral assumptions applied to governments and markets being symmetrical. Neither market nor government decision-makers are perfectly informed nor perfectly incentivized to accomplish goals. The subsidy and administration of criminal punishments yesterday and today appear not to be an exception.

Harcourt interprets history as a slight against the characterization of commerce as non-coercive. Foucault says markets are disciplinary. Though not emphasized by Harcourt, the inverse also seems true. The history of physical punishments within the market sphere weakens the characterization of governments as particularly necessary for optimal criminal punishment.
Presuming criminal punishment a public good may be just as illusionary.
When markets wielded physical punishments they appeared constrained from excess by the self-interests of disputants. Conflicts among traders were self-sorted for profit seekers. Punitive threats made compliance with financial and service court rulings more appealing. Contract violators were inclined to settle and civil plaintiffs sought tangible compensation for loss.

Contemporary criminal justice problems coincide with expanded market economies and decentralized government in the market sphere. An Austro-Public Choice perspective must reference how changes in knowledge and incentives yield such outcomes. On net federal government has grown, as has its role within the criminal justice system in conjunction with mass incarceration's disconcerting results.

Physical punishment has become relegated to the enforcement of criminal law. Though contrary to Harcourt's narrative, driven by the segregationist logic of natural law, this can be seen as driven by the self-interests of market and government actors. While market traders sought low cost and quantitatively predictable methods to resolve conflict, government capitalized as the monopoly provider of physical enforcements.

Today's greater quantities of physical enforcement are not deployed to enforce civil contracts or tort compliance. Drug and immigration violators occupy most new prison space, unlikely prohibited by contract law. Rather than necessary and sufficient, democracy has proven ineffective to correct the racial, generational, gender, and substance-abuse disproportionality of criminal sentencing. Policy makers have little incentive to change such policies and ordinary citizens lack the necessary knowledge to implement institutional reform.

Daniel J. D'Amico is the author of "The Prison in Economics: Private and Public Incarceration in Ancient Greece," in /Public Choice/. He is currently engaged in a long-term research project focused upon the political economy of mass incarceration.

Copyright (c) 2011 by EH.Net.
Published by EH.Net (April 2011). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview.

Geographic Location: General, International, or Comparative Subject: Government, Law and Regulation, Public Finance, History of Economic Thought; Methodology, Markets and Institutions
Time: General or Comparative

David Ricardo redivivo: uma aula sobre o livre comercio

Um livro fascinante (do site da Amazon):
The Choice: A Fable of Free Trade and Protection
Russell Roberts
Paperback: 144 pages
Publisher: Prentice Hall; 3 edition (October 8, 2006)
Language: English
ISBN-10: 0131433547
ISBN-13: 978-0131433540

Editorial Reviews
Written as a novel, the book makes the complex concepts, issues and terminology of international trade understandable for students. Professors complain that their students cannot grasp the nature of how some economic tools are used or how they work in life. This novel bridges the gap of concepts with applications by use of a fictional story.

David Ricardo comes to life to discuss international trade theory and policy with Ed Johnson, a fictional American television manufacturer seeking trade protection from television manufacturers. Their dialogue is a sophisticated, rigorous discussion of virtually every major issue in trade theory and policy. To illustrate the positive and normative effects of international trade and trade policy, Ricardo takes the reader and Ed Johnson into the future to see an America of free trade and an America of complete self-sufficiency. The fictional element brings these topics to life so that students gain the intuition and understanding of how trade changes the lives of people and the industries they work in. The fundamental intuition of how international markets function including general equilibrium effects and policy analysis is provided.

Wish "It's a Wonderful Life" were more like this
By Ryan Alger (U.S.A)
August 24, 2007

This review is from: The Choice: A Fable of Free Trade and Protection (3rd Edition) (Paperback)
I don't really consider this a work of fiction, and neither does the author. It is in a fiction format, but its primary purpose is to make the case against protectionism, and for free markets. Roberts does this beautifully, raising and dismissing almost every argument for protectionism, and doing this with charm, wit, and almost a complete lack of venom.

The story follows the time-traveling journey and conversation of Ed Johnson (a businessman looking for protection form Japanese competition) and his guardian angle David Ricardo (modeled after the little-known economist.) Together they travel to the future, back to the past, and through alternate timelines to demonstrate Robert's point.

Through this journey, Ricardo corrects some critical mistakes in economic theory; such as the `zero-sum theory', misconceptions on the nature of supply and demand, the role and meaning of wages and `real' wages, the mythical "dangers" of a trade deficit, what imports and exports really are, and most of all, dismisses the myth that trade with other countries hurts the American worker overall (which he admits, in a smaller sense, it sometimes does.)

The book takes some leaps of logic, which the author fully admits in the back of the book; such as the town of Star (Ed's hometown) being unchanged in the `protectionist' universe. These little plot devices are not meant to represent reality, but demonstrate more abstract points, in that sense, it is more like a metaphor.

Overall, the book makes one of the strongest cases ageists the practicality of protectionism that I have ever heard. He also fits some talk as to the moral case against it, that it is really an issue of freedom, and no one person has the right to force another in to a certain kind of behavior (A.K.A., buying American products) and that "America" is all about dreams and growth, something not very possible in the protectionist world

My only complaint would be that I wanted more elaboration on some sections of the `conversation'; such as the `dumping' segment. Robert's makes a good case that dumping is not really practical for anybody, that the `dumper' would have to make up for lost profits from lowering their prices. What I don't understand is....what if a company could cover their lost profits in profits from another product, or section of their company (Such as a department store lowering prices on televisions and allowing the produce-department to cover the loss.) I wish Robert's would have gone in to slightly more detail.

There are several section of the book like this; but I want to make clear is that Robert's never claims that this is the ultimate source for `anti-protectionist' arguments, he even suggests further reading in the back of the book, something all reasonable people should do if they are truly interested in understanding the complexities of economics.

I love Robert's style of writing, his books are not just informative, but entertaining, something very hard to achieve for this subject matter. The book was good enough that I ordered His other book, The Invisible Heart, form Amazon. After seeing what he did to It's a Wonderful life, I can't wait to see what he does for a romance novel.

How free trade benefits us all
By Janet K. Marta (Platte City, MO USA)
November 28, 2006

This review is from: The Choice: A Fable of Free Trade and Protection (3rd Edition) (Paperback)
This is the third edition of Roberts' novel about the benefits of free trade, using "It's a Wonderful Life" as his template. David Ricardo "touches down" from heaven to earth (like Clarence), to help convince Ed (George Bailey) that he should not support protectionism. The previous versions focused more on threats that were perceived from Japan and Nafta. Here, Roberts uses India and China as his examples.

To me, one of the most appealing things about Roberts' work is his honesty. He doesn't pretend that economic change doesn't hurt, but he also focuses on the benefits in the longer term. He writes in such a pleasant style that economics becomes accessible to people who are "math phobic."
His other book, The Invisible Heart, is at least as good as this one.

Free Trade made easy
By Zachary Palen (Minneapolis, MN, USA)
February 26, 2009

This review is from: The Choice: A Fable of Free Trade and Protection (3rd Edition) (Paperback)
A great narrative of Free Trade. Lays the argument in support for free trade out in one of the simplest ways it's hard not to understand this topic that so many have trouble understanding. The examples and story surrounding the benefits of free trade and the detriments of protectionism are kept simple, so one can understand the logic behind Free Trade. Sticks to the basics and stays away from the advanced theories behind International Trade and Economics, but still provides significant empirical evidence. Easy read and a great book.

Ainda Hayek, desta vez contra Keynes (second round)

Todo mundo (ou quase) já teve oportunidade de assistir ao primeiro embate entre Keynes e Hayek, um rap genial, já postado aqui, inclusive com excelente introdução do Instituto Mises do Brasil.
Neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/04/2105-keynes-vs-hayek-ou-vice-versa-um.html

Agora aparece o segundo round (ao qual ainda não assisti, mas vou fazê-lo agora).
Está anunciado no New York Times:

Keynes vs. Hayek: The Fight of the Century
By THE NEW YORK TIMES, April 28, 2011, 6:29 PM

Round 2 of the great economics smackdown is now available on video. In the impressively produced rap video “Fight of the Century” by the economist Russ Roberts and the producer and director John Papola, Friedrich Hayek and John Maynard Keynes square off to argue over such questions as whether the government should spent less or more, the source of prosperity, and whether war or natural disasters be a blessing in disguise. (Part 1 came out last year.)

In the latest installment, Keynes raps:

It’s just like an engine that’s stalled and gone dark
To bring it to life, we need a quick spark
Spending’s the life blood that gets the flow going
Where it goes doesn’t matter, just get spending flowing

And Hayek responds:

You see slack in some sectors as a “general glut”
But some sectors are healthy, and some in a rut
So spending’s not free – that’s the heart of the matter
Too much is wasted as cronies get fatter.


Will there be a Round 3? In a conversation about the project, Mr. Roberts, an economist at George Mason University, didn’t rule it out.

Q. Where did the idea for the video come?
Mr. Roberts: John Papola, the filmmaker who works with me on these, approached me about two and a half years ago and said ‘Let’s do a video together.” He heard my podcasts and is an economics geek. I said “What for?” But then we talked about it.

Read more here: http://economix.blogs.nytimes.com/2011/04/28/keynes-vs-hayek-a-rap-battle-renewed/#more-110279

Tem também a presença dos dois num encontro da Economist, nos EUA, no ano passado.
Vejam este link no meu blog:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/11/hayek-e-keynes-de-volta-ao-palco-o.html