O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 3 de março de 2012

A guerra de classe do socialista presidenciavel frances -- Wall Street Journal

O Wall Street Journal não deixa de dar uma gozada em regra nas propostas tributárias do candidato socialista francês. Lembremos que quando François Mitterrand veio com as mesmas intenções em 1981, uma massa de novos "emigrados aristocratas" começou a fugir com malas de dinheiro para a Bélgica e para a Suíca, e não tinha semana em que um guarda aduaneiro francês, convertido em neo-jacobino, talvez até termidoriano, não pegasse um desses transfugas, no trem ou no carro, tentando atravessar a fronteira com malas e malas de francos (que, aliás, desceu rapidamente de 5 para quase 10 por dólar).
Não teve outra: em um ano e meio, Mitterrand corrigiu suas bobagens econômicas.
O candidato socialista, que provavelmente vai ganhar as eleições, vai fazer o mesmo: vai começar "socialista", vai terminar tecnocrático, como Jospin, aliás...
Paulo Roberto de Almeida 

France's Class Warrior

The Wall Street Journal, March 3, 2012

François Hollande says his proposed 75% tax rate is 'patriotic.'




François Hollande, France's Socialist Party candidate for President, made a campaign stop this week in London, hoping to win over the 300,000 or so of his fellow citizens who now make their home on the other side of the Chunnel. If Mr. Hollande's proposal to impose a 75% tax rate on incomes over €1 million ($1.3 million) ever becomes law, he'll have to get used to many more such visits to Perfidious Albion.
Mr. Hollande calls his 75% rate a matter of "patriotism," and in one sense he's right—it would take a very patriotic Frenchman to stay put and pay the levy. French footballers are said to be especially distressed by Mr. Hollande's proposal, which could be good news—for the English Premier League.
When he emerged at St. Pancras station in London, Mr. Hollande was asked whether he had a message for London's financial district. His reply: "I am not dangerous, but we need more regulation everywhere."
Associated Press
France's Socialist Party candidate Francois Hollande
To be specific, Mr. Hollande has consistently hit out against the "obscenely rich" and declared himself the "enemy" of the "world of finance." In December he announced he would renegotiate the pending treaty on fiscal discipline to give France more flexibility in funding its welfare state. He has also suggested he wouldn't be averse to seeing the European Central Bank print more money if that's what it takes to keep France's welfare state gasping along.
We've often admired France's willingness to go its own way on all kinds of political, economic and social questions: It shows an enduring independence of spirit. But French voters, whether in Paris or London, can also see that neighbors like Spain and Italy are desperate to make their labor markets more flexible and their welfare systems less burdensome.
Give Mr. Hollande points for forthrightness. But his agenda identifies him as a socialist of the very old school: a high-taxing, rich-bashing, inflation-tolerating class warrior. The polls currently give Mr. Hollande a hefty lead over incumbent Nicolas Sarkozy, but Mr. Hollande's socialist opus may be the one thing that could give the French President another term.
A version of this article appeared Mar. 3, 2012, on page A14 in some U.S. editions of The Wall Street Journal, with the headline: France's Class Warrior.

O mundo as avessas, por quem o inverte - Samuel Pinheiro Guimaraes

Uma espécie de "homenagem", se ouso dizer, à principal fonte de inspiração para o pensamento -- se pensamento existe -- anacrônico-acadêmico sobre nossa diplomacia, que já teve melhores momentos (e figuras) de inspiração, personagens que, pelo menos, guardavam coerência entre o que pensavam e o que faziam.
Buscar lógica, adequação histórica e sobretudo coerência moral dos atuais detentores do poder seria exigir demais para quem tem apenas um projeto de poder, e de comando, segundo suas velhas concepções anti-imperialistas e soberanistas (à outrance, mas falsas, no fundo).
Por esta palestra, os aluninhos -- se não exibem algum sentido crítico sobre a realidade, ficam sabendo que:


1) Países que maquiaram suas contas públicas, e que se endividaram além da conta, apoiados nas taxas de juros dos países fiscalmente mais disciplinados, não precisam fazer ajustes, e podem continuar gastando, pois alguém (quem, exatamente?) vai continuar pagando suas contas, para que eles não precisem (oh, que horror!) realizar cortes nos gastos públicos, deixar de pagar salários generosos as seus funcionários, enfim, continuar a viver com o dinheiro dos outros;
2) Que Israel representa um verdadeiro perigo para o futuro da humanidade, capaz de desestabilizar a região e comprometer a paz e a segurança mundiais (merecendo, quem sabe?, ser eliminado do mapa do Oriente Médio, quem sabe até, obliterado do mundo...);
3) Que não é necessário que o Mercosul cumpra seus objetivos primordiais de liberalização comercial e integração aduaneira, pois isso não é possível, em função dessas malditas assimetrias estruturais -- surgiram em 2003? -- e que é melhor fazer política e incentivos culturais, em lugar de ajustes econômicos;
4) O Itamaraty pode continuar apoiando ditadores e violadores dos direitos humanos, porque as grandes potências são hipócritas, pois fazem exatamente isso, seletivamente, o que nos autoriza, automaticamente, a segui-las em seus péssimos hábitos;
5) Que o Mercosul (1991) só feito -- de forma insidiosamente subreptícia, e conspiratória -- para facilitar, depois, o caminho da Alca (propostas em 1994), e que os presidentes que diziam estarem realizando um casamento a quatro, na verdade se prepararam para uma esbórnia geral, um free sex for all, como diriam os britânicos...
6) Que os europeus são muito exigentes com os membros do Mercosul, e que por isso não vai baver acordo comercial, já que estes, coitadinhos, não devem, não podem, não querem fazer concessões, apenas ser tratados com generosidade por quem é mais rico e poderoso.


Enfim, existem muito mais coisas edificantes a aprender com esse pensamento rico e variado, que certamente eu saberia se estivesse presente na palestra, sem ter de depender de um resumo de um jornalista ou acadêmico.
Mas acho que a amostra acima, e abaixo, bem abaixo, já permite saber como foi, como é, e como talvez continue sendo, a diplomacia brasileira dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida

Crise do euro gerou golpes de Estado comunitários, diz ex-membro da política externa de Lula

João Novaes | São Paulo
Opera Mundi, 2/03/2012

Para Samuel Pinheiro Guimarães, Mercosul deve ser instrumento de desenvolvimento para países-membros



Imagine um cenário em que países vitimados pelo desemprego são obrigados a realizar drásticos cortes de quadros públicos; aceitarem normas draconianas para pagarem juros de uma dívida pública que, na verdade, só virá a aumentar e se eternizar; também estão impedidos de investir, fornecer crédito e adotarem políticas de crescimentos; no comando do país, políticos experientes são substituídos por economistas burocratas e sem qualquer visão de estadista. Tudo isso por determinação externa, vinda de um órgão supranacional que é comandado de fato, pela nação mais poderosa.

Samuel Pinheiro Guimarães, durante palestra da FGV, em São Paulo

Seria lugar comum cogitar alguma região subdesenvolvida, sem estabilidade política nem histórico democrático. Jamais na poderosa Europa Ocidental. Mas, na opinião do ex-embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, um dos principais artífices da política externa brasileira durante o governo Lula, países como Grécia ou Itália em maior grau, foram vítimas recentes de um “golpe de Estado comunitário”.

Atual alto-representante geral do Mercosul e ex-secretário geral do Itamaraty entre 2003 e 2009, Guimarães esteve nesta segunda-feira (27/02) em São Paulo para participar de uma palestra da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) sobre a atuação diplomática brasileira frente às transformações mundiais. Foi quando fez duras críticas à condução da Alemanha e da União Europeia na condução da crise do euro e da dívida soberana de seus países.

“Há novos primeiros-ministros na União Europeia que foram impostos aos seus povos. (O grego Lucas) Papademos, (o italiano Mario) Monti... Imaginem se isso ocorresse na América do Sul, como chamariam. De Golpe de Estado é isso, um golpe de Estado comunitário. Como são as contrariedades da mídia!”, ironizou o diplomata.

Ex-secretário-geral de Relações Exteriores do Itamaraty durante boa parte do governo Lula (2003-2009), Guimarães afirmou que o Mercosul deve deixar de ser apenas um órgão facilitador do livre comércio para se tornar um instrumento de desenvolvimento regional. O atual estágio de união aduaneira imperfeita do bloco, por sua vez, deve ser mantido em razão das fortes assimetrias entre os quatro integrantes.

Para ele, dificilmente haverá progresso para um acordo comercial com a União Europeia, que já se arrasta há uma década – por falta de interesse dos próprios europeus, que seriam muito exigentes em seus pedidos.

Durante seu discurso, também lembrou que o grupo sul-americano é marcado por grandes assimetrias econômicas e sociais, portanto, defende que os países mais ricos tenham um grau maior de generosidade em relação aos menos favorecidos. “Um bloco só sobrevive se os integrantes estão razoavelmente satisfeitos. E é de nosso interesse que todos se desenvolvam”, lembrando que deve se evitar qualquer tentativa de hegemonia brasileira em um bloco que se entende como cooperativo.

Em contrapartida, o voto em conjunto dos países do Mercosul possibilita grande retorno político. “Cada vez mais se aumenta o número de temas decidido internacionalmente: meio-ambiente, finanças, comércio. O desafio (do Itamaraty) é garantir que as regras internacionais tornem mais fácil o desenvolvimento da sociedade brasileira e lembrar que o que é bom para um país nem sempre é bom para outro. Portanto, nessas negociações, cada país tem um voto.Portanto, fazer parte de um bloco é extremamente importante”.

Guimarães lembrou que historicamente, o Mercosul foi concebido apenas como uma etapa preparatória de um projeto maior, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). “Lembrem-se quem eram os quatro presidentes na época do Tratado de Assunção: (do Brasil, Fernando) Collor, (da Argentina, Carlos) Menem, (do Uruguai, Luis Alberto) Lacalle e (do Paraguai, Andrés) Rodríguez. Tinham perspectivas diferentes. È como se estivessem preparando um casamento para depois pular para um relacionamento aberto”, brincou.

Democracia
Um dos pontos mais polêmicos do encontro foi quando Guimarães foi questionado pelo professor da FGV, Guilherme Casarões, se há coerência na diplomacia brasileira em manter relações com países que fogem à definição ocidental de liberdade e democracia. Guimarães defendeu a atuação do Itamaraty e lembrou que o país é contra a seletividade na defesa dos direitos humanos. “O Brasil obedece a dois princípios constitucionais: a autodeterminação e a não-intervenção, que constam também na Carta da ONU (Organização das Nações Unidas). Só que alguns países se esquecem disso. A interferência tende a fracassar, como no caso da Líbia (...) Não podemos interferir nos assuntos dos outros assim como não gostaríamos que interferissem nos nossos”, afirmou o embaixador.

O diplomata lembrou que ações de intervenção são muito seletivas para as grandes potências, que defendem muitas não-democracias. “Israel tem mais de cem ogivas nucleares. Enquanto a própria CIA, nesta semana, admitiu não ter certeza se o programa nuclear iraniano tem capacidade de produzir uma bomba nuclear. Quem representa mais perigo?”, indagou. “A pena de morte é o maior atentado aos direitos humanos. E nos EUA usam isso com extrema facilidade. Em geral, há uma pequena coincidência étnica entre os condenados”, ironizou.

Trajes "tipicos" do Brasil: a baiana e a Selecao canarinho...

Bem, tudo vale a pena se a alma não é pequena...
Acho que minha alma é muito pequena para caber dentro de uma camiseta da Seleção...
Ainda bem que não sou Terceiro Secretário e não estou servindo em Genebra...
Paulo Roberto de Almeida

Diplomatas se vestem com trajes típicos em reunião da ONU


Terra Notícias, 2/03/2012


    Os diplomatas presentes no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas trocaram nesta sexta-feira os frequentes trajes e gravatas por ponchos peruanos, quimonos, roupas de cossacos russos e coloridos vestidos de países asiáticos e africanos por ocasião do "Dia do Traje Nacional". A presidente do Conselho dos Direitos Humanos, Laura Dupuy Lasserre (vestida com um traje típico uruguaio), explicou que o objetivo deste dia é "mostrar a diversidade de todos os povos do mundo em um fórum das Nações Unidas que defende o respeito da diversidade cultural".

Os representantes de países asiáticos, latino-americanos e africanos foram os que se empenharam mais em mostrar ao resto de nações a variedade e o colorido da indumentária típica de seus países de origem, enquanto os europeus se caracterizaram por seu quase nulo envolvimento, já que a maioria vestia o habitual terno. A embaixadora do Brasil na ONU em Genebra, Maria Nazareth Farani, usou um chamativo vestido de baiana. "É um traje típico da Bahia, no nordeste do Brasil, de certo modo é uma homenagem às nossas raízes africanas", acrescentou, elogiando esta iniciativa - incentivada pela Suíça e pelo Paquistão - "é uma festa na qual todos se tornam mais abertos à tolerância e ao diálogo".
Junto a ela, outros dois diplomatas brasileiros passeavam orgulhosos pela Sala da Aliança das Civilizações do Palácio das Nações Unidas com a camisa da seleção brasileira de futebol, que segundo Maria Nazareth é "a verdadeira vestimenta nacional". A diplomata mexicana Gisele Fernández explicou que seu vestido, na cor negra por ser inspirado "na fauna da noite", é procedente da região de Chiapas. "Esta é uma iniciativa muito boa, já que ajuda a identificar as pessoas e saber de que regiões vêm, e contribui com a harmonia que deve permanecer nas Nações Unidas", acrescentou.
Um grupo de quatro costarriquenhos exibiu a tradicional roupa de camponês deste país centro-americano, composto por um chapéu de aba redonda e um lenço amarrado ao pescoço. "Parece que sempre é valioso ter essa face humana e lembrar que somos de verdade as Nações Unidas, não apenas uma organização, mas todas as nações do mundo reunidas aqui", celebrou o conselheiro da missão permanente da Costa Rica, Mario Vega.
Patrício Silva, delegado da missão permanente do Uruguai em Genebra, e que trocou a gravata pelo traje típico do candombe - um ritmo que os escravos africanos introduziram no país - opinou que a ideia de comparecer a esta reunião do Conselho de Direitos Humanos "gera um clima mais relaxado que o habitual, de mais diálogo, amizade e interação". Também o representante da missão permanente da Turquia, Hunor Katmadji, compareceu ao encontro vestido com calças curtas, um colorido chapéu e "tudo o necessário para sobreviver na montanha: uma faca, uma pistola, uma bolsa para guardar água e comida e uma pequena manta para tirar uma sesta".

Peronismo de botequim (2) - os neofitos da politica

Reflexos de uma crise política inútil, desnecessária, criada por aprendizes de feiticeiro da política nacional, que nunca chegarão a feiticeiros...
Patéticos...
Paulo Roberto de Almeida 

Reinaldo Azevedo, 3/03/2012
Então… Da próxima, em vez de a presidente Dilma Rousseff dar ouvidos a Celso Amorim, o Megalonanico, escuta o Tio Rei, que não é nanico… Eu bem que chamei a atenção da Soberana para o direito que têm os militares da reserva de se manifestar. Há uma lei a respeito, conforme deixei claro aqui. Mais: reservistas não têm armas, não podem ameaçar ninguém. No caso em questão, os dois textos que deixaram a presidente brava não traziam e não trazem incitamento à indisciplina ou algo parecido. Expliquei tudo direitinho aqui e aqui.
Quando Amorim e Dilma decidiram dar um chilique, contrariando o conteúdo da lei 7524/86, o segundo manifesto contava com 98 assinaturas — 13 generais. No começo da manhã deste sábado, havia 361 adesões confirmadas, 44 oficiais-generais, dois deles ex-ministros do Superior Tribunal Militar. Quem está incitando o confronto é Amorim, que é dado a demonstrações ociosas de autoridade. Há ainda o apoio de 124 civis.
Que se reitere: ninguém aqui ou fora daqui está incitando indisciplina militar. Ao contrário: entendo que os militares da ativa, os da reserva, o ministro da Defesa e a presidente da República estão obrigados a cumprir a lei. Ponto final. Caso Dilma e Amorim insistam, as advertências serão aplicadas, e os punidos podem recorrer à Justiça. Havendo o triunfo da lei — que é explícita a mais não poder —, terão todos a devida reparação. No Estado de direito é assim.
Eis, em suma, uma crise inútil. Lula é quem é, mas se diga uma coisa em seu benefício. Jamais teria caído nessa roubada. Quando menos, Nelson Jobim lhe teria dito que o confronto era uma desnecessidade e que os efeitos do primeiro documento seriam mínimos. Tudo teria sido resolvido na conversa. Amorim, o megalonanico belicoso, resolveu agir de modo diferente: “Pega eles, Soberana; pega eles! Estamos sendo desrespeitados!” Eis aí o resultado.
Leiam texto de Tania Monteiro no Estadão online. Volto para encerrar.
Não será fácil para os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica resolverem o imbróglio criado pela presidente Dilma Rousseff por ter decidido punir com advertência todos os militares que assinaram o manifesto “Alerta à nação - Eles que venham, por aqui não passarão”, que endossa as críticas a ela por não ter censurado suas ministras que pediram a revogação da lei de anistia.
A presidente já havia se irritado com o manifesto dos Clubes Militares, lançado às vésperas do Carnaval, e depois retirado do site, e ficou mais irritada ainda com o novo documento, no qual eles reiteram as críticas e ainda dizem não reconhecer a autoridade do ministro da Defesa, Celso Amorim, para intervir no Clube Militar.
Inicialmente, o manifesto tinha 98 assinaturas. Na manhã da quinta-feira, após terem tomado conhecimento da decisão de puni-los, o número de seguidores subiu para 235 e no fim de sexta-feira chegou a 361 adesões, entre eles 44 oficiais-generais, sendo dois deles ex-ministros do Superior Tribunal Militar. A presença de ex-ministros do STM adiciona um ingrediente político à lista, não só pelo posto que ocuparam, mas também porque, como ex-integrantes da Corte Militar, eles têm pleno conhecimento de como seus pares julgam neste caso.
O Ministério da Defesa e os comandos militares ainda estão discutindo internamente com que base legal os militares podem ser punidos. Várias reuniões foram convocadas pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, e os comandantes militares nos últimos dias para discutir o assunto. Mas há divergências de como aplicar as punições. A Defesa entende que houve “ofensa à autoridade da cadeia de comando”, incluindo aí a presidente Dilma e o ministro da Defesa. Amorim tem endossado esta tese e alimentado a presidente com estas informações. O ministro entende que os militares não estão emitindo opiniões na nota, mas sim atacando e criticando seus superiores hierárquicos, em um claro desrespeito ao Estatuto do Militar.
Só que, nos comandos, há diferentes pontos de vista sobre a lei 7.524, de 17 de julho de 1986, assinada pelo ex-presidente José Sarney, que diz que os militares da reserva podem se manifestar politicamente e não estão sujeitos a reprimendas. No artigo primeiro da lei está escrito que “respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público”. Esta legislação acabou dando origem a Súmula 56 do Supremo Tribunal Federal.
Esta zona cinzenta entre as legislações, de acordo com informações obtidas junto a militares, poderá levar os comandantes a serem processados por danos morais e abuso de autoridade, quando aplicarem a punição de repreensão, determinada por Dilma. Nos comandos, há a preocupação, ainda, com o fato de que a lista de adeptos do manifesto só cresce, o que faria com que este tema virasse uma bola da neve, já que as adesões são cada vez mais consistentes.
Há quem ache que o assunto precisasse ser resolvido de uma outra forma, a partir de uma conversa da presidente com os comandante militares, diretamente, para que fosse costurada uma saída política para este imbróglio que parece não ter fim já que a determinação do Planalto é de que todos que já assinaram e que venham ainda a aderir ao manifesto sejam punidos. O Planalto, no entanto, descarta esta possibilidade.
Até agora nenhum militar da ativa assinou o documento. Se isso ocorrer, a punição será imediata e não será com advertência, mas poderá chegar a detenção do “insubordinado”. Quanto ao general Rocha Paiva, que deu entrevista para o programa da Miriam Leitão, lançando suspeita sobre participação de Dilma em atentado e duvidando que ela tenha sido torturada, a princípio, nada será feito contra ele porque a entrevista já teria sido concedida muito antes da atual crise e o contexto é considerado outro.
Encerro
E pensar que tudo isso nasceu porque uma ministra do Estado, Maria do Rosário, resolveu fazer uma exortação contra a letra da lei e contra decisão do Supremo e porque outra, Eleonora Menicucci, resolveu contar, no discurso de posse, uma história falsa como nota de R$ 3. Proibidos de se manifestar, os militares da ativa se calaram. E fizeram bem. Autorizados por lei a falar, os reservistas falaram.
Dilma tem de se conformar com as regras do estado democrático e de direito. Os militares, da ativa e da reserva, felizmente, já se convenceram de que este é o melhor caminho para o Brasil: o triunfo da lei. Que os civis agora façam o mesmo.

Reflexoes sobre o peronismo de botequim - a politica no Brasil atual

Ainda vou escrever um texto mais analitico, ponderado e tentativamente objetivo -- o que nem sempre é fácil -- sobre nossa atualidade e nosso futuro político.
Por enquanto, registro apenas um comentário sobre a atualidade, que transmite imagens irônicas sobre o que são nossos homens políticos da atualidade...
Paulo Roberto de Almeida 

Reinaldo Azevedo, 3/03/2012
Se querem saber o que é o petismo, basta lembrar que Eleonora Menicucci, em seu discurso de posse, citou, ainda que não tenha falado na sigla, os seus colegas da organização terrorista POC (Partido Operário Comunista). Já Marcelo Crivella preferiu lembrar outro revolucionário, o próprio tio, Edir Macedo. Há aqueles que poderiam ser, e são, gratos a Sarney… E tudo isso está subordinado ao PT. Nessa toada, o partido ainda se converte num peronismo verde-amarelo. Os peronistas abrigavam de tudo: de paramilitares de extrema direita a terroristas de extrema esquerda.
Se não ainda sobre o PT, é possível afirmar sobre o lulo-petismo, sem medo de errar, que já tem apoiadores em todo o espectro ideológico. É bem verdade que muitos governistas de agora só estão nessa condição porque é o lado que paga mais. De todo modo, no dia em que não houver mais Lula, veremos as mais diversas correntes se engalfinhando para disputar a sua herança e o posto de continuadora de sua obra. De um extremo ao outro.

Republica Zoologica do Brasil: desenterrando minhocas (e colocando nos miolos...)

Uma alcatéia de antas? (desculpem a violência com o coletivo, mas achei que combinava, um e outro termo da equação, sobretudo em face de certos personagens animalescos, digamos assim...).
O Brasil sempre foi do jogo do bicho, mas ele sempre ficou meio clandestino. Agora os bichos de instalam nos mais altos escalões da República, o que nos garante diversão garantida.
Eu fico cada vez mais surpreendido, e admirado, ao constatar como a qualidade do discurso, as imagens poéticas, o tino e a inteligência dos nossos líderes políticos vão melhorando, cada vez mais, até chegarem ao ponto de serem imelhoráveis, dignas de alguma academia perdida por aí (e que talvez se tenha mudado para o Zoológico).
Enfim, um pouco de diversão que ninguém é de ferro...
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 2/03/2012

Ressuscitem Aristófanes. Depois de “As Vespas” e de “As Rãs”, ele precisa escrever “As Minhocas”, em homenagem ao que viu nesta sexta no Palácio do Planalto. Chamem Esopo. Há uma nova fábula em curso, de sentido moral ainda impreciso: “As Minhocas e a Soberana”. Que coisa!
Leiam o que informam Nathalia Passarinho e Priscilla Mendes, no Portal G1. Volto em seguida:
Alvo de críticas por não conhecer o setor que vai comandar, o novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB-RJ), afirmou nesta sexta-feira (2) que pretende aprender mais sobre a área. “Não quero que a presidente fique triste em ter um ministro da pesca que não é um especialista e que não sabe colocar minhoca num anzol. Mas colocar minhoca no anzol a gente aprende rápido. Pensar nos outros é que é difícil”, afirmou Crivella do discurso de posse nesta sexta-feira (2) no Palácio do Planalto.
Ao discursar depois, a presidente Dilma Rousseff disse que Crivella “é um grande especialista em colocar minhoca no anzol”. “Um grande especialista. Ele é um bom engenheiro, ele é um bom gestor. Tenho certeza que o Crivella vai acrescentar muito às nossas minhocas colocadas no anzol”, afirmou a presidente. Dilma chorou ao lamentar a saída de Luiz Sérgio de sua equipe de ministros. Ela defendeu, porém, a existência de alianças e coalizões políticas como “essência para que o Brasil seja administrado” e disse que, “infelizmente”, às vezes é preciso “prescindir” de algumas pessoas no governo.
Evangélicos
Apontado como uma indicação estratégica para aproximar o governo do setor evangélico, Crivella, que integrava a bancada evangélica no Congresso, citou a religiosidade em seu discurso. O novo ministro também citou o tio, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal.
“Quero citar uma lição que sintetiza com simplicidade um bom conceito. Quem pensa nos outros pensa como Deus”, disse. “Peço a Deus que dê sabedoria e discernimento [...] para que continue não ocorrendo no nosso ministério qualquer deslize que desanime o povo e faça um cidadão de bem não sentir orgulho de ser brasileiro”, disse o novo ministro ao concluir o discurso. Sobre as ações necessárias ao setor da pesca e aquicultura, Crivella afirmou que é preciso formar engenheiros ligados ao setor e aumentar o volume de financiamentos.
(…)
Voltei [Reinaldo Azevedo]
E aí? Dá para levar isso a sério? Marcelo Crivella foi nomeado para a Pesca. Como não há o que fazer por lá — ou seus antecessores não seriam Ideli Salvatti e  Luiz Sérgio —, vai cuidar, então, da linguagem de duplo sentido.
Sabem como é… Um governo começa metaforizando com a minhoca no anzol e depois vai percorrendo toda a variedade da alegoria zoológica: afoga o ganso; dá tapa na pantera; engole sapo; põe bode na sala; manda a vaca pro brejo; dá uma de macaco e mete a mão em cumbuca; nada de costas em rio que tem piranha…
Nada disso pode ser muito sério. Quando Crivella foi nomeado, escrevi aqui um longo texto, lembrando quem ele era e enfatizando a sua ligação com Edir Macedo, seu tio, dono do PRB, da Igreja Universal e da Rede Record. Um ou outro indagaram: o que tem uma coisa a ver com outra? Ora, perguntem a ele, que citou o tio no discurso de posse. Crivella foi escolhido porque, dizem, é um interlocutor da bancada evangélica, e há contenciosos nessa área — o aborto entre eles. Macedo é, no Brasil, o mais entusiasmado defensor do aborto de que se tem notícia.
Pensemos
Jamais aconteceria, eu sei, e eu não estou igualando as personalidades. Imaginem o que estaria fazendo agora o JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista) se Dilma tivesse nomeado um parente dos Marinho, da Globo, para ao Ministério e se, na posse, ele citasse Roberto, o patriarca, ou alguém da família. Edir Macedo, a gente vê, virou referência dos “blogueiros progressistas”.
Ressuscitem Aristófanes! Chegou a hora de escrever também “Os Jegues”.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Peter Diamandis: Abundance is our future - TED Talks

Os ecologistas, e outros catastrofistas, não vão gostar, mas vivemos e vamos continuar vivendo num mundo de abundância.
Vejam em: http://www.ted.com/talks/peter_diamandis_abundance_is_our_future.html?utm_source=newsletter_weekly_2012-03-02&utm_campaign=newsletter_weekly&utm_medium=email


Onstage at TED2012, Peter Diamandis makes a case for optimism -- that we'll invent, innovate and create ways to solve the challenges that loom over us. "I’m not saying we don’t have our set of problems; we surely do. But ultimately, we knock them down.”
Peter Diamandis runs the X Prize Foundation, which gives rich cash awards to the inventors and engineers who'll get us back to the moon, build a better car and explore the genome. And watch for more prizes to come. Full bio »

O mundo conspira contra o Brasil (ou pelo menos os paises ricos contra o ministro Mantega)

Alguns não se pejam de cair no ridiculo, por coisas que, a rigor nem deveriam entrar neste blog, pois não passam no teste da inteligência...
Paulo Roberto de Almeida

Financial Times, March 1, 2012 9:53 pm

Brazil declares new ‘currency war’

rousseff
Brazil has declared a fresh “currency war” on the US and Europe, extending a tax on foreign borrowings and threatening further capital controls in an effort to protect the country’s struggling manufacturers.
Guido Mantega, the finance minister who was the first to use the controversial term in 2010, said the government would not “sit by passively” as developed nations continue to pursue expansionary monetary policies at the expense of Brazil.

More

ON THIS STORY

ON THIS TOPIC

IN LATIN AMERICA & CARIBBEAN

“When the real appreciates, it reduces our competitiveness. Exports are more expensive, imports are cheaper and it creates unfair competition for businesses in Brazil,” he said on Thursday after announcing changes to the so-called IOF tax.
In a presidential decree, the government extended the existing 6 per cent financial transactions tax on overseas loans maturing in up to three years. Previously, the levy was applied only to loans with maturities of under two years.
President Dilma Rousseff later weighed in on the debate, vowing to defend Brazilian industry and stop developed countries’ policies from causing the “cannibalisation” of emerging markets.
The move comes as Brazil’s central bank also steps up direct intervention in the market, selling dollars and offering derivatives called reverse currency swaps to curb the real’s near 9 per cent surge against the US dollar this year.
Brazil was one of the first emerging markets to speak out against the loose monetary policy of richer nations in the wake of the financial crisis, which it blamed for directing a flood of hot money to the country and overvaluing the real.
Although the crisis in the eurozone eased pressure on Brazil’s currency late last year, a flurry of debt issuance this year has made the real one of the biggest gainers of 2012.
Countries from Colombia to Thailand have also followed suit with their own currency measures, and even the International Monetary Fund was seen to tacitly endorse the use of capital controls last April, giving Brazil’s government further ammunition.
“These (currency intervention) practices were always just in reserve but today they are even recommended by the IMF,” Mr Mantega said on Thursday. “The IMF didn’t think this way and then they started to think this way mainly after Brazil introduced intervention measures which have been successful.”
However, analysts doubt that such short-term measures will be enough to significantly change the direction of Brazil’s currency.
“There is nothing they can do to really prevent the real from appreciating; they can just delay it from appreciating,” said Italo Lombardi, Latin America economist at Standard Chartered.
He added that Thursday’s measure would also have little effect because the average maturity of Brazilian bond placements abroad is much longer than three years.
After the announcement on Thursday, the real actually strengthened in midday trade to around 1.71 per dollar.
Copyright The Financial Times Limited 2012. You may share using our article tools.
Please don't cut articles from FT.com and redistribute by email or post to the web.

"Brasil declara guerra cambial" - Contra si mesmo???

Curiosas essas matérias de imprensa, e curiosos esses jornalistas, que acham que o Brasil vai começar, e ganhar, uma "guerra cambial", ou seja lá o que isso queira significar...
Quem fala em "guerra cambial" -- um termo absolutamente inapropriado e totalmente equivocado -- é o próprio governo, que distraído, parte em guerra contra ele mesmo...
Pois é, o governo provoca a valorização do real, ao manter juros estratosféricos (que mesmo a 10% são o triplo, ou o quádruplo da média mundial), e depois diz que vai lutar contra a "guerra cambial", como se esta nos fosse imposta por americanos -- que despejam, isso é certo, dólares no mundo -- e por chineses -- que espertamente colam sua moeda à divisa americana para não perder partes de mercado.
Mas vocês já se deram conta da imensa bobagem proclamada por Mantega e outros neófitos da "guerra cambial"?
Os EUA estão ficando mais pobres, ao desvalorizar sua moeda, e eles o fazem por absoluta necessidade, já que de outro modo o ajuste seria ainda mais brutal. Os chineses apenas defendem seu modelo exportador, fazendo ajustes cambiais dirigidos, algo que o Brasil praticou durante 40 anos seguidos (e o mundo não nos acusou de fazer "guerra cambial", ainda que manipulássemos o câmbio).
O governo é absolutamente risível, ou patético, ao falar de guerra cambial.
Deveria cuidar das suas contas, o que ele não faz...
Paulo Roberto de Almeida

Jornais estrangeiros veem nova ‘guerra cambial’

Blog Estadão, 2 de março de 2012 | 7h00
Sílvio Guedes Crespo
Os dois principais jornais de economia e finanças do mundo, o americano “Wall Street Journal” e o britânico “Financial Times”, publicaram reportagens nesta sexta-feira, 2, a respeito das medidas tomadas pelo governo brasileiro para tentar conter e valorização do real.
O primeiro diz no título da reportagem que o “Brasil intensifica a batalha para frear a alta do real”, enquanto o segundo afirma que
o País “declara uma nova guerra cambial”.
Ambos reforçaram a informação, já comentada em sites na quinta-feira, de que a mudança no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) tem pouco efeito no mercado, mas vale como um sinal de que o governo está disposto a usar suas munições para conter a apreciação do real.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que a taxa de 6% de IOF sobre empréstimos no exterior, que incidia apenas as operações com vencimento de até dois anos, passaria a valer também para aquelas com prazo de até três anos.
Paralelamente, o Banco Central vem atuando no mercado de câmbio, por meio da compra de dólares à vista e no mercado futuro.
O governo argumenta que a política de afrouxamento monetário dos países ricos (o que inclui emissão de moeda) faz aumentar a quantidade de recursos nas mãos dos investidores, que, por sua vez, levam parte desse capital para países emergentes, como o Brasil, de forma especulativa.
“O ministro da Fazenda do Brasil e a presidente estão defendendo a moeda deles”, afirma o “Journal”.
No “FT”, o texto da versão impressa limita-se a descrever e explicar as medidas do governo brasileiro. Mas um artigo no blogBeyondBrics, do mesmo jornal, traz uma opinião sobre o caso. Recomenda que os investidores não ignorem “retórica belicista” de Mantega porque “desta vez a presidente se envolveu com a questão”.
Além disso, “Mantega sabe que tem grande parte do mundo emergente do seu lado”. O Peru e a Coreia do Sul também adotaram medidas de controle de capital.
China
Em outra reportagem, o “Journal” diz que a China está diversificando seus ativos, de modo a reduzir a participação do dólar em suas reservas, “uma tendência que pode significar menor fluxo de capital oriundo de Pequim e um possível aumento dos custos de empréstimos na economia americana”.

Mario Machado, again, again, imperdivel -- 13 de maio(s)

Voilà, transcrito uma vez, transcrito duas vezes, não pela quantidade, mas pela qualidade.
Meu amigo Mario Machado engrandece estas páginas.
Paulo Roberto de Almeida 

Liberdade, escravidão. Viva a liberdade!

Coisas Internacionais, 13 de maio de 2010
Hoje é 13 de maio aniversário da assinatura da Lei Áurea, lei que tardiamente, diga-se de passagem, extinguiu a escravidão no Brasil. Essa prática nefasta, absurda que viola a dignidade de todos, que foi até o século XVIII e XIX algo comum na humanidade, em todas as civilizações. Até mesmo entre os povos nativos das Américas havia escravidão.

Não vou discorrer sobre a escravidão ao longo da história humana, deixo essa tarefa aos historiadores, que conduzem com rigor esse debate. Nem vou elencar aqui beneficiários e participantes do comércio negreiro que abasteceu o Brasil colônia e império. Espero, de coração, que todos os escravagistas, escravocratas, caçadores de escravos, feitores e capitães do mato, que não tenham se arrependido de sua maldade, ardam no inferno, onde pertencem. (Sou Católico, portanto acredito em inferno).

Prefiro, como sempre, nessa data celebrar a liberdade. Disse ano passado nesse blog, que viver livre é meu dever, dever de consciência, devo a meus ancestrais que toleraram trabalhos forçados, injúrias racistas, tortura física e psicológica, além da indignidade de serem tratados como objeto (comprados e vendidos), e que resistiram a isso na esperança de serem livres.

A liberdade veio, e ser livre não é fácil, as condições do fim da escravidão resultaram em que há uma participação desproporcional de descendentes de escravos, nas camadas mais pobres da sociedade, algo que tem que ser resolvido. A meu ver humilde, o caminho para resolver isso é termos no Brasil escolas públicas de qualidade, que formem bem seus alunos, além disso, mais liberdade econômica para que pequenos negócios de periferia prosperem, assim teremos mão-de-obra produtiva e capaz, cidadãos cientes e ciosos de seus deveres e um ambiente de crescimento econômico, que diminua a distância e que permita que pessoas independentemente de sua origem social, e racial avançar economicamente e dar a seus filhos boas condições de vida que é um desejo comum a todos.

O racismo, o verdadeiro racismo, é um adversário perigoso, por que gera estigmas que perseguem grupos inteiros, como o estigma de que um negro seria preguiçoso, uma imagem que de certo vem dos escravocratas. É preciso combater o racismo e não estimulá-lo.

Sou descendente de escravos, não me envergonho de maneira alguma da minha tez escura, mas não sou raça pura, sou mestiço, como a maior parte do Brasil. Por sinal tenho horror a idéias de raça pura, que ouço muito, coisas tipo negro deve casar com negra, quem diz isso, diz por que deseja valorizar sua herança cultural, honrar seus ancestrais, mas não posso coadunar com uma idéia, que é em essência racista. Não posso aceitar que a cor da pele me limite, que seja ela que decida, a profissão que posso ter, onde posso morar, que elevador tomar, que pessoa namorar, que música ouvir. Ceder a essa patrulha é abrir da liberdade.

E não posso ceder a minha liberdade, não posso deixar de pensar por minha própria cabeça, devo isso, aos que foram escravos e não podiam assim proceder. Ser livre é algo sagrado para mim, até a minha própria religião é construída sobre várias noções, inclusive a do livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher, que é na essência ser livre.
Não sou inocente a ponto de dizer que não há racismo por ai, já fui infelizmente vitima de práticas discriminatórias, como já ouvi piadinhas, inclusive de professores e autores de relações internacionais, muito conceituados, que acusam em seus livros os EUA de serem um país essencialmente racista, mas que no trato pessoal, me tomaram como segurança do evento, por causa certamente da minha altura e físico, e também, por que um homem negro de terno dentro de certos ambientes deve ser o segurança. Mas, isso não me abate. Fui criado para ter confiança em mim mesmo, para não deixar que me definam, sei que tenho que provar sempre minhas capacidades, mas isso vale para as mulheres e meus colegas brancos. Se eu tenho que fazer um esforço extra, bem, é algo que chateia, que é injusto, mas é o mundo em que vivemos, e quem sabe meu bom trabalho e esforço meus filhos não tenham que fazer um esforço extra.

Mesmo já tendo sentido a discriminação, sei também, por experiência própria, que a maior parte da população brasileira não é racista, ainda que tenha aqui e lá algum ranço racista, alguma piadinha fora de hora, de pessoas que são, também, negras, ou pelo menos afrodescendentes que é a palavra da moda. Mas, nesse particular outros grupos sofrem, seja por religião, ou pro opção sexual (se o termo opção for cabível, o que suspeito que não é).

Há ainda o tal racismo velado que tanto se fala, ele é um sintoma de um racismo covarde, cínico e cheio de desfaçatez, mas também diz algo sobre o Brasil, e no meu entender, diz que no Brasil o racismo é considerado algo feio, (se não errado na mente doentia do racista, é deselegante, mau educado) que não é bom que seja feito a plenos pulmões, o que é positivo em certo sentido, por que permite a convivência de migrantes europeus, asiáticos, africanos, com as populações que aqui já estavam, como os negros da migração involuntária, europeus colonizadores e os índios sobreviventes.  

O Brasil não é uma democracia racial, que queremos, mas está longe de ser um país essencialmente racista. Temos muito que avançar, mas temos que avançar muito em todas as áreas do desenvolvimento humano. Isso é fato. Mas, me recuso a crer que alguém é racista ou me odeia só por que é branca, asiática, ameríndia, ou mais escura que eu.

Preconceituosos e intolerantes sempre existirão e para eles temos que aplicar a lei quando é o caso. É preciso resistir a tentação de dar uma resposta violenta, que é grande, grande mesmo, ser injuriado racialmente, gera uma raiva gigantesca, que pode cegar. Mas, via de regra a violência não é uma boa saída, eu como artista marcial (praticante de judô e jiu-jitsu), recomendo que não se parta para a violência, mas consigo entender quem perde a linha.

Muito falta para que chegue o dia sonhado, aquele dia em que todos serão julgados pelo conteúdo de seu caráter e não pela cor de sua pele, contudo em honra a todo o sofrimento de meus ancestrais, em honra a luta de negros e brancos que lutaram pela causa abolicionista, por todos aqueles que se arriscaram, muito, pela liberdade, que eu não vou nunca me permitir ser cerceado em minha liberdade de expressão, não me deixarei ser patrulhado, devo a eles viver livremente.