O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Estatisticas do Blog Diplomatizzando (19/04/2012)

Por acaso cai na página de estatísticas do blog, o que não fazia há muito tempo. Sem tempo para interpretar os resultados, limito-me a postar aqui as informações disponíveis.
Paulo Roberto de Almeida 

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Como retornar meio seculo atras - Republica Desindustrial do Brasil


Política industrial segue um rumo equivocado


Editorial O Estado de S.Paulo, 19/04/2012

A industrialização brasileira teve início num quadro de protecionismo, de economia fechada e de taxa cambial favorável a essas duas características. Para ajudar a indústria hoje, o governo tenta recriar o ambiente dos anos 60. É o caso de indagar se não se vai consolidar de novo uma indústria muito frágil sob as asas protetoras do Estado.
A situação atual é mais complexa, pois a intervenção estatal sob a forma de alívios fiscais está sendo dirigida a produtos, e não à indústria em geral, gerando distorções e muitas vezes complicando a vida das empresas que têm, num mesmo produto final, componentes com e sem essa desoneração fiscal, por meio da qual se supõe que a indústria se tornará competitiva. É um tipo de política que corre o risco de repetir os erros do passado, quando nossa indústria se habituou a importar componentes do exterior, sem procurar desenvolver uma tecnologia própria e inovadora.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) acaba de constatar que, provavelmente, neste 1.º trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que é o total dos investimentos, mais uma vez recuou. Isso enquanto o consumo continua crescendo.
A FBCF depende tanto dos investimentos públicos na infraestrutura quanto dos do setor privado. Estes, em razão do atual marasmo, mesmo com estímulos, se mostram hesitantes na grande maioria dos setores. O problema está no setor público.
De fato, se o total de gastos indica aumento de investimentos do governo federal, logo se verifica que estes se concentram no Programa Minha Casa, Minha Vida, enquanto outros investimentos necessários à infraestrutura sofreram um recuo sensível em relação ao ano passado, quando já haviam sido insuficientes.
O governo precisa se convencer de que são os investimentos públicos que vão permitir um aumento do Produto Interno Bruto (PIB), ao mesmo tempo que oferecerão a todos os setores industriais os meios suscetíveis de reduzir seus custos de produção para enfrentar a concorrência estrangeira.
O crescimento do PIB exige um nível adequado de investimentos. E os investimentos promovem distribuição de renda, antes do aumento da capacidade de produção - o que certamente é um processo mais ortodoxo do que o aumento artificial do crédito para estimular a demanda doméstica. E a oferta de melhores estradas, portos, ferrovias, etc., reduzirá os custos da produção à medida que a demanda aumenta. Num quadro atraente como esse, a indústria poderá voltar a investir na produção.

Medidas de Barra Comercio - Republica Protecionista do Brasil

Precisa de comentários?
Acho que não.
Isso é tudo o que inteligência dos companheiros consegue fazer em matéria de política comercial.



Chile crê em boa solução com Brasil no caso de vinhos 
Agencia Estado, 18/04/2012

O ministro das Relações Exteriores do Chile, Alfredo Moreno, declarou não acreditar que a investigação brasileira sobre vinhos importados resultará na imposição de tributos adicionais sobre a bebida chilena. Em entrevista concedida na tarde desta quarta-feira, ao lado do chanceler brasileiro Antonio Patriota, Moreno afirmou que a indústria de seu país é aberta. "Confio que as investigações brasileiras mostrarão que a indústria chilena é livre e sem nenhum tipo de subsídio."
Patriota, por sua vez, disse que a investigação brasileira é técnica e "segue os compromissos do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio)". Segundo o chanceler brasileiro, não há "preocupação especial" do governo chileno com a investigação brasileira.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) abriu em março uma investigação para avaliar a possibilidade de aplicar salvaguardas, como impor tarifa ou restringir a entrada de vinhos produzidos fora do Mercosul. Por meio da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao MDIC, o governo justificou a medida por "indícios suficientes" de que o aumento das importações de vinho causaram um grave prejuízo à indústria brasileira. Nesse tipo de investigação para salvaguarda, não há necessariamente prática ilegal de comércio, mas a adoção da medida é considerada a mais dura no âmbito da OMC.

Acordos de Barra Comercio: Republica Solitaria do Brasil

Pois é, os companheiros se orgulhavam tanto, nos idos de 2003-2006, de terem implodido a Alca, e o presidente de então, uma sumidade em políticas comerciais, dizia que o Brasil não pretendia ficar "dependente" (sic três vezes) do comércio com os EUA, e que ele estava mesmo era afim de criar uma "nova geografia do comércio internacional" (uau!, que coisa hem?).
Seu ministro das relações exteriores também se rejubilava por ter implodido, conscientemente, a Alca, e quando veio a crise de 2008, que impactou fortemente o México afirmava com todo o contentamente dos muito inocentes que "ainda bem que o Brasil não tinha entrado na Alca" (sic, mais "n" vezes), pois imagina se  tivesse a "dependência que o México tinha do comércio bilateral americano" (sic, quantas vezes vocês quiserem), a crise nos impactaria muito mais fortemente.
Essa eu confesso que não entendi. Ou entendi: se trata mesmo de estupidez econômica ou de suprema desonestidade intelectual.
Bem, nunca achei que a Alca era uma maravilha, e certamente não seria: ela consolidaria o acesso brasileiro a alguns mercados dos EUA e dos DEMAIS 33 PAÍSES da região, para a maior parte dos nossos manufaturados, deixando de fora produtos agrícolas considerados sensíveis nos EUA. So what?
Ela seria, sobretudo para o Brasil, um acordo de atração de investimentos dos EUA em nosso parque produtivo industrial.
Mas os companheiros se apressaram em desmantelar essa possibilidade, para não ficarmos "dependentes" (vejam que coisa horrível) do comércio com os EUA. 
O presidente, e seu chanceler, e todos os demais conselheiros companheiros preferiam aumentar o comércio com a China, promovida a parceira estratégica, e a sumidade do presidente chegou até a propor acordo de livre comércio com a China (certamente era parte da "nova geografia"), e fazer comércio em "moedas locais" (por puro preconceito contra o dolar, claro...).
Pois, assim ficamos, e estamos muito bem com a não-dependência da China, como vocês sabem todos.
Fiquem pois com um artigo meio para o irônico...
Paulo Roberto de Almeida 



A falta que fazem os acordinhos
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 19/04/2012

Logo no início do governo Lula, quando as negociações em torno da Associação de Livre Comércio das Américas, Alca, estavam enterradas, diversos governos da região começaram a se mover para negociar acordos bilaterais com os EUA. O Brasil não quis nem saber desses "acordinhos", como os qualificou o então chanceler Celso Amorim. Só nos interessava o entendimento global na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Passados estes dez anos, o que temos? A rodada na OMC fracassou, como muitos desconfiavam. E proliferaram pelo mundo os acordos bilaterais. Aqui do nosso lado, dez países latino-americanos têm tratado de livre comércio com os EUA. O Brasil não tem nem o entendimento para evitar a bitributação - sendo um dos únicos países importantes que não fecharam esse arranjo com os Estados Unidos.
Será uma coincidência que o Brasil tenha perdido espaço nas vendas para o maior mercado consumidor do mundo?
Por ocasião do Fórum das Américas e da visita de Hillary Clinton ao Brasil, empresários brasileiros que participaram de reuniões paralelas queixaram-se justamente disso: o acesso mais fácil e pagando menos impostos obtidos pelas indústrias instaladas na América Central e do Sul. Fábricas brasileiras mudaram para o Caribe para de lá vender nos Estados Unidos.
Colômbia, Chile e Peru já têm acordos com os EUA. Integram também a Aliança do Pacífico, um bloco comercial diferente do Mercosul, este reunindo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, pendente a entrada da Venezuela.
O Mercosul deveria ser como a União Europeia, uma área inteiramente aberta, de livre circulação de mercadorias e pessoas. Por isso, seus membros, como na Europa, não podem assinar acordos separadamente. Só o bloco pode.
Mas se lá funcionou, aqui é uma sucessão de fracassos. O governo argentino vem há tempos impondo restrições às importações brasileiras. Do principal sócio! Como esperar que tope negociar abertura comercial com os EUA ou Europa?
Quer dizer, até negocia, mas para nunca chegar a qualquer resultado. Por exemplo, o Mercosul é o bloco que há mais tempo conversa com a União Europeia. Países que começaram depois, como o Chile, já fecharam o negócio.
Muita gente por aqui diz que Chile, Colômbia e Peru têm parques industriais limitados e, por isso, mais facilidade para acertar acordos com países avançados. Estes teriam interesse especial na exportação de produtos industrializados, o que seria uma ameaça para as fábricas brasileiras, mais amplas do que nos vizinhos.
Mas a Coreia do Sul, que é mais industrializada, tem acordo com os EUA e com a União Europeia.
Na verdade, o governo Lula fez uma opção ideológica: sem conversa com os EUA e ponto final. Claro que certos acordos podem ser desfavoráveis - por isso a negociação precisa ser cuidadosa -, mas o ponto é outro: o governo brasileiro simplesmente não quis nem começar a conversa. Alca é tentativa de dominação dos EUA, e ponto final. Acordo com os EUA é entregar nosso mercado.
Vai daí, Lula saiu por aí tentando organizar os países do Sul, os pobres, contra o Norte. Muitos desses países manifestaram apoio a essa estratégia, até entraram em organizações como a Unasul, da turma da América do Sul.
Mas continuaram tocando sua vida. Considerem a Colômbia: tem 44 tratados de livre comércio, inclusive com o Mercosul! Idem para o Chile. Eles não são bobos, gostam de muitos "acordinhos".
O Brasil está com um Mercosul desmantelado e seus produtores enfrentando problemas mundo afora. No último dia 17, Delfim Netto, em artigo no jornal "Valor Econômico", mostrou um resultado específico e grave dessa diplomacia: dos 20 maiores produtores de café, o Brasil é o que paga as taxas mais altas de exportação. Na União Europeia, por exemplo, o café brasileiro paga 9%; Colômbia, México e Equador estão isentos.
No Japão, um dos principais destinos do café nacional, a taxa "brasileira" para o solúvel é de 8,8%. Dos concorrentes, de zero a 1,1%.
Hillary Clinton mencionou acordos de livre comércio, mas, como o governo Dilma segue na mesma linha de Lula, a secretária americana tratou do tema que mais a interessa no momento: levar brasileiros para gastar dinheiro nos EUA.
Quando os EUA apertaram as exigências de visto, para quase todo mundo, tinham dois objetivos: prevenir o terrorismo e impedir a entrada de trabalhadores ilegais. O Brasil caía nos dois quesitos. Os americanos suspeitavam de grupos islâmicos em Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira, e milhares de brasileiros tentavam mesmo buscar emprego nos EUA.
O Brasil, mesmo não sofrendo qualquer ameaça desse tipo vinda dos EUA, apertou também a concessão de vistos para os americanos. Reciprocidade diplomática.
Agora, quando tem mais emprego aqui do que lá e quando a ameaça terrorista parece controlada, os EUA estão facilitando os vistos para brasileiros. E o governo brasileiro?

quarta-feira, 18 de abril de 2012

BRIC, BRICS, whatever: trabalhos PRAlmeida

Um amigo me pediu o que eu tinha escrito sobre o grupo cujo acrônimo foi sugerido por um economista de um banco de investimentos -- pensando nas oportunidades de ganhos financeiros -- e que acabou virando um grupo diplomático (certamente é a primeira vez que isso acontece, que países soberanos respondem a uma indução externa), e eu fui buscar nas minhas listas o que tinha produzido desde algum tempo.
Paulo Roberto de Almeida 


O resultado está aqui: 
Comecei por uma entrevista:



1686. “Os BRICs e a economia mundial: Algumas questões de atualidade”, Brasília, 13 novembro 2006, 3 p. Entrevista concedida ao jornalista Lourival Sant’Ana, do jornal O Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 2006. Publicado na edição d’O Estado de São Paulo em 04.12.06, caderno Economia, pág. B7, sob o título “O Bric é só um exercício intelectual”. Refeito em formato de artigo sob n. 1691. Entrevista foi objeto de editorial do jornal em 5.12.06, sob o título “Atraso made in Brazil” (disponível no link: http://si.knowtec.com:8080/scripts-si/MostraNoticia?&idnoticia=423633&idcontato=35949&origem=fiqueatento&nomeCliente=PROBRASIL&data=2006-12-05). Entrevista republicada no site do Instituto Millenium em 6.12.06 (link: http://institutomillenium.org/2006/12/06/o-bric-e-so-um-exercicio-intelectual/) e no site Defesa.NetDefesa, Estratégia e Inteligência (6.12.2006; link: http://www.defesanet.com.br/zz/pensa_bric.htm). Relação de Publicados n. 725.

1691. “O papel dos BRICs na economia mundial (corrigindo alguns equívocos de compreensão)”, Brasília, 26 novembro 2006, 5 p. Revisão, em formato de artigo, da entrevista concedida sob n. 1686, para fins de publicação de forma independente.  Publicado nos blogs: Via Política (Porto Alegre, 26.11.06; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=16); Mercado Global (18.06.07; link: http://mercado-global.blogspot.com/2007/06/papel-dos-brics-na-economia-mundial.html). Postado no blog Diplomatizzando (28/05/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/os-brics-antes-de-existirem-os-brics.html). Relação de Publicados n. 720.

Posteriormente, fiz apresentações ou dei entrevistas, mas apenas com base em dados objetivos (estatísticas) e alguns argumentos que desenvolvi oralmente:

1743. “O Brasil e os BRICs: economia política de uma sigla”, Brasília, 15 abril 2007, 10 p. Palestra nos cursos de relações internacionais da FMU, no dia 16 de abril de 2007, em formato de PowerPoint, em 74 slides.
1950. “Les Brics et l’économie brésilienne : Interview pour la Chaire des Amériques – Université Paris I”, Brasília, 11 novembro 2008, 6 p. Respostas a questionário colocado por Vincent Paes, assistente da Chaire Amériques-Université de Paris I, para divulgação online. Divulgado em 25.11.2008, nos seguintes links: (a) Brics: http://www.economie-et-societe.com/article-24982794.html; (b) Brésil: http://www.economie-et-societe.com/article-25122338.html; a ser integrado ao website da Chaire Amériques oportunamente. 

Depois, escrevi dois trabalhos mais ou menos grandes sobre o BRIC, criticando, sem ser explicito (apenas por disciplina), as escolhas da diplomacia brasileira. Um deles rendeu vários "subtrabalhos" e artigos, o que explica esta ficha enorme:

1920. “Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil”, Brasília, 26 agosto 2008, 29 p. Análise econômica dos países integrantes do novo grupo proposto e dos problemas políticos a isso vinculados. Preparada versão resumida, sob o título de “O Brasil e o Bric: o questionamento de um conceito”; Publicado na revista Nueva Sociedad (Buenos Aires: Friedrich Ebert Stiftung; especial “O Brasil no mundo”, outubro 2008; ISSN: 0251-3552, p. 133-152; link: http://www.nuso.org/especialportugues2008.php; Artigo PRA: http://www.nuso.org/upload/portugues/2008/DeAlmeida.pdf). Dividido em dez seções e publicado, sob o título “Bric: anatomia de um conceito”, no boletim Via Política (1: 31.08.2008; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=74; 2: 8.09.2008; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=75; 3: 15.09.2008; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=76; 4: 29.09.2008; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=77; 5: 06.10.2008, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=79; 6: 13.10.2008; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=80; 7: 20.10.2008, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=81; 8: 27.10.2008, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=82; 9: 03.11.2008, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=83; 10: 10.11.2008, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=84). Resumido em nova versão (10 p.), sob o título “O papel dos Bric na economia mundial”, para publicação em livro pela Editora Aduaneiras, resultado de curso dado a jornalistas em Brasília (10.10.2008); In: Cebri-Icone-Embaixada Britânica Brasília, Comércio e Negociações Internacionais para Jornalistas (Rio de Janeiro, 2009, p. 57-65); feita versão em inglês, com revisão em 29.01.2009, para publicação. Publicada sob o título “The Bric’s role in the Global Economy”. In: Cebri-Icone-British Embassy in Brasília, Trade and International Negotiations for Journalists (Rio de Janeiro, 2009, p. 146-154); Relação de Publicados n. 903 (Postado no website pessoal, links: http://www.pralmeida/05DocsPRA/1920BricsAduaneiras.pdf  e http://www.pralmeida/05DocsPRA/1920BricsRoleEnglish.pdf). Feita nova versão resumida, sob o título de “Anatomia do Bric: um exercício de clarificação”, para curso de jornalistas em Brasília (10.10.2009). Revisto, modificado e ampliado (34 p.), em 18.11.2008, para publicação, sob o título de “Bric: reflexões a partir do Brasil”, na revista Inteligência. Publicado sob o título de “To Be or Not the Bric”, Inteligência (Rio de Janeiro: Ano: XI - 4º trimestre, 12/2008, p. 22-46; link: http://www.insightnet.com.br/inteligencia/43/PDFs/01.pdf). Relação de Publicados n. 853.

  1884. “Questionário sobre BRIC”, Brasília, 5 maio 2008, 4 p. Respostas a questionário colocado por estudante de RI de Curitiba, sobre os BRICs no contexto internacional. Postado no blog Diplomatizzando (13.07.2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/07/questionario-sobre-o-bric-paulo-r.html).

  O último trabalho importante foi este aqui:

2077. “O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico (perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global)”, Brasília, 31 dezembro 2009, 31 p. Ensaio preparado para projeto do IPEA, sob a coordenação de Renato Baumann (Cepal-Escritório no Brasil). Publicado In: Renato Baumann (org.): O Brasil e os demais BRICs: Comércio e Política (Brasília: CEPAL-Escritório no Brasil/IPEA, 2010, 179 p.; ISBN: 85-781-1046-3), p. 131-154. Disponível no site pessoal (link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2077LivroBRICsPRAlmCap.pdf). Relação de Publicados n. 967.

Fascismo economico (2): experiencia con los hermanitos brasilenos

Pois é: só em países fascistas, as autoridades determinam o que podem ou não podem fazer empresários privados, num show privado e puramente comercial.

Empresa que vende ingressos para o show da Madonna é notificada pelo Procon
Gheisa Lessa, do estadão.com.br ­, 18 de abril de 2012


Segundo Fundação, empresa já havia sido alertada sobre práticas abusivas


SÃO PAULO ­ A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon­ SP) expediu uma notificação, nesta quarta­feira, 18, solicitando que a empresa Tickets For Fun (T4F), preste esclarecimentos sobre a pré­venda de ingressos para o show da cantora Madonna.

De acordo com nota divulgada pelo Procon, a empresa de venda de ingressos não está disponibilizando meia­ entrada, não informa quantos ingressos estão disponíveis para a pré­venda, não tem a opção da venda em dinheiro e cobra taxa de conveniência em percentual.

Fascismo economico (1): experiencia con los hermanos

Apenas uma demonstração de prepotência, desrespeito, arrogância, enfim, coisas típicas de país fascista; a expulsão dos diretores da Repsol, na Argentina: 



'Fomos gentilmente convidados a aceitar nosso despejo'
O Estado de S. Paulo, 18/04/2012

Executivos tiveram de deixar YPF enquanto expropriação era anunciada
Duas dezenas de executivos da Repsol, entre argentinos e espanhóis, foram removidos de forma taxativa, embora polida, no início da tarde de segunda-feira do edifício da Repsol-YPF. Na mesma hora em que os diretores eram obrigados a deixar as instalações da empresa, a presidente Cristina Kirchner anunciava em rede nacional de TV a expropriação da petrolífera.
Os funcionários da YPF tiveram 15 minutos para deixar tudo e abandonar o edifício. "Acho que até para sair de Pompeia houve mais tempo", ironizou um dos removidos do 32.º andar, onde concentravam-se os diretores da empresa e seus assessores. O andar ficou praticamente vazio depois da intervenção ordenada por Cristina Kirchner. "Fomos "gentilmente" convidados a aceitar nosso despejo".
O despejo foi comandado por Rodrigo Baratta, representante do governo argentino no Conselho de Administração da YPF, que conhecia todos os executivos expulsos. Baratta entrou na YPF acompanhado por 15 pessoas que olhavam para os executivos, segundo alguns descreveram, de forma intimidante.
"Não houve violência, pois todos acatamos as ordens. A retirada das pessoas foi formal, embora taxativa", disse uma fonte da empresa, que pediu para não ser identificada. "Conseguimos sair com alguns objetos pessoais. Mas não pudemos, por exemplo, fechar e-mails dos computadores nem levar nossos laptops."
Os funcionários - entre os quais executivos, gerentes e até secretárias - não puderam levar pastas ou agendas. Depois de sair, os funcionários expulsos não sabiam como proceder em relação aos celulares e automóveis que pertencem à YPF.
Na sequência, todos os integrantes da segurança privada da YPF foram substituídos por homens de confiança do governo. Além disso, os servidores de e-mail e internet foram bloqueados, de forma a impedir o acesso dos funcionários removidos a suas contas pessoais.
Após a saída dos executivos, os integrantes da diretoria interventora subiram ao 33.º andar e ali, sentados à mesa que havia pertencido até uma hora antes ao catalão Antonio Brufau, presidente da Repsol, pediram o almoço que originalmente estava preparado para os executivos que haviam sido despejados. Os garçons não titubearam em obedecer as ordens dos novos chefes, que fizeram sua primeira refeição no salão de luxo da empresa. / A.P.

Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica


Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica recebe projetos para sua 9ª edição

Iniciativa cultural da Organização Odebrecht, o Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares recebe inscrições até 29 de junho, pelo site www.odebrecht.com/pesquisahistorica. É conferido anualmente a projetos de pesquisa inéditos que tratem de assuntos ligados ao resgate cultural e à preservação da história do Brasil. Criado em 2003, o prêmio busca enriquecer o acervo documental do País sobre fatos, processos e pessoas cuja memória deva ser preservada e difundida.

Ao pesquisador vencedor é oferecida toda estrutura para o processo de investigação, como corpo técnico de pesquisadores, viagens nacionais e internacionais para apuração in loco e ainda pagamento antecipado dos direitos autorais. Não existe um valor pré-determinado para o apoio, que depende das necessidades de cada projeto selecionado.

A qualidade das publicações em que resultam essas pesquisas impressiona e já foi por três vezes distinguida com o Prêmio Jabuti na Categoria Projeto Gráfico - Igreja e Convento de São Francisco da Bahia, de  Maria Helena Ochi Flexor e frei Hugo Fragoso; Theodoro Sampaio - nos sertões e nas cidades (também premiado com o terceiro lugar na Categoria Arquitetura e Urbanismo), de Ademir Pereira dos Santos; e A História do Brasil de Frei Vicente do Salvador, registro da pesquisa mencionada acima.
(Assessoria de Imprensa do Prêmio)

Sobre a "pedagogia" de Paulo Freire (3): vai demorar mais um pouco...

Eu acreditava que o quadro lamentável, que vigora atualmente nas faculdades de educação no Brasil, nas quais a "subpedagogia" de Paulo Freire reina suprema, num país que acaba de proclamar que esse "intelequitual" é o patrono da (des)educação no país, demoraria para ser revertido, e situava isso em pelo menos três gerações, ou seja, algo como 75 anos.
Sinto muito ter sido otimista.
Por um comentário que acabo de receber, constatei que vai demorar um pouco mais.
Infelizmente, o número de true believers nesse supremo mistificador ainda é mais elevado do que pensei, já que eles frequentam também este espaço.
Não sei como pessoas que são absolutamente contrárias ao que escrevo, ainda praticam o masoquismo de frequentar estas páginas. Deve ser algum tipo de compulsão doentia.
Em todo caso, isso me confirma que idiotas estão por todas as partes, ou então eu tenho inimigos particularmente persistentes, que não se inibem de correr o risco de serem ridicularizados, ao ter eu de postar seus comentários absolutamente idiotas...
Paulo Roberto de Almeida

Sobre a "pedagogia" de Paulo Freire (2): versão em Portugues de artigo já transcrito aqui

Eu tinha transcrito o original deste artigo. Como alguns frequentadores podem não ter familiaridade com o inglês, coloco agora a versão em Português, que me foi indicada pelo amigo Kleber Pires, a quem agradeço.


Outra razão pela qual as escolas de educação dos Estados Unidos são tão ruins: a influência em curso do marxista brasileiro Paulo Freire
Assim como o mais famoso Teach for America, o programa New York Teaching Fellows fornece um caminho alternativo à certificação Estadual para aproximadamente 1.700 professores novos por ano. Quando me encontrei com um grupo de pessoas que assistiam a uma aula obrigatória em uma escola de instrução no verão passado, começamos a discutir a reforma da educação, mas a conversa tomou logo um novo rumo, com muitos descrevendo histórias de horror uma após a outra de seu difícil primeiro ano: salas de aula caóticas, administradores indiferentes, professores veteranos que raramente ofereciam ajuda. Pode-se esperar que as leituras exigidas para professores iniciantes contenham dicas práticas para a vivência na sala de aula, por exemplo, ou bons conselhos que ajudem a leitura de alunos desfavorecidos. Ao invés, o único livro que todos tinham que ler "de cabo a rabo" era Pedagogia dos Oprimidos, do educador brasileiro Paulo Freire.
Para qualquer um que conheça as escolas de instrução americanas, a escolha não parecia surpresa. Desde a publicação da edição em inglês em 1970, Pedagogia dos Oprimidos alcançou um status elevado em programas de formação de docentes na América. Em 2003, David Steiner e Susan Rozen publicaram um estudo que examinava os currículos de 16 escolas de instrução - 14 delas classificadas entre as melhores instituições no país, de acordo com a U.S. News and World Report - e concluíram que Pedagogia do Oprimido era um dos livros mais usados em seus cursos de filosofia da educação. Essa é sem dúvida parte da razão pela qual, de acordo com o editor, aproximadamente 1 milhão de cópias tenham sido vendidas, um número marcante em se tratando de um livro voltado para a Educação.
O estranho é que a obra de Paulo Freire não versa sobre educação - certamente não a educação de crianças. Pedagogia dos Oprimidos não menciona nenhum dos assuntos que ocuparam a cabeça dos reformistas da educação durante o século XX: provas, padrões de ensino, currículo escolar, o papel dos pais na educação, como organizar as escolas, que matérias devem ser estudadas em cada série, qual a melhor maneira de treinar professores, o modo mais efetivo de educar crianças desfavorecidas em todos os níveis. Esse best-seller sobre educação é, ao contrário, um tratado político utópico que clama pelo fim da hegemonia do capitalismo e a criação de uma sociedade sem classes. Professores que adotam essas idéias perniciosas arriscam prejudicar seus alunos - e ironicamente, seus alunos mais desfavorecidos sofrerão em maior escala.
Para se ter uma idéia das prioridades do livro, basta dar uma olhada em suas notas de rodapé. Freire não está interessado nos tradicionais pensadores e educadores do Ocidente - não em Rousseau, Piaget, John Dewey, Horace Mann, ou Maria Montessori. Ele cita um leque bem diferente de figuras: Marx, Lenin, Che Guevara, e Fidel Castro, assim como os intelectuais orgânicos radicais Frantz Fanon, Régis Debray, Herbert Marcuse, Jean-Paul Sartre, Louis Althusser, e George Lukács. E não há porque ser diferente, uma vez que sua idéia central é que a principal contradição em toda sociedade é entre "opressores" e "oprimidos" e que a revolução resolverá esse conflito. Os "oprimidos" estão destinados a desenvolver uma "pedagogia" que os leve à sua liberdade. Aqui, numa passagem chave, está como Freire vê seu projeto de emancipação:
A pedagogia do oprimido [é] uma pedagogia que deve ser feita com, e não para, o oprimido (tanto indivíduos ou grupos) numa incessante batalha para recuperar sua humanidade. Essa pedagogia faz da opressão e suas causas objetos de reflexão pelo oprimido, e dessa reflexão virá o engajamento necessário na luta pela sua liberdade. E na luta essa pedagogia se fará constante.
Como essa passagem deixa claro, Freire nunca teve a mais leve intenção de que pedagogia seja algo que se refira ao did-a-dia na sala de aula, como análise e pesquisa ou qualquer coisa que se leve a uma melhor produção acadêmica dos alunos. Ele almeja algo maior. Sua idiossincrática teoria sobre escolas remete apenas a uma auto consciência dos trabalhadores e camponeses explorados que estariam "percebendo a opressão no mundo". Uma vez que eles cheguem à noção de que estão sendo explorados, mirabile dictu, "essa pedagogia não mais pertence aos oprimidos e passa a ser uma pedagogia de todos no processo de liberação permanente".
Freire raramente fundamenta sua descrição de luta entre opressores e oprimidos em uma sociedade ou um período histórico em particular, então se torna difícil ao leitor julgar se o que ele está dizendo faz sentido ou não. Não sabemos se os opressores a que ele se refere são os banqueiros norte americanos, os barões latino americanos ou, ainda, autoritários burocratas da educação. Sua linguagem á tão metafísica e vaga que ele pode simplesmente estar se referindo a uma jogo de tabuleiro com dois lados oponentes, os opressores e os oprimidos. Ao fazer análises gerais sobre a luta entre esses dois lados, ele se apóia na formulação padrão de Marx segundo a qual "a luta de classes necessariamente leva a uma ditadura do proletariado [e] essa ditadura significa a transição para a abolição de todas as classes e a uma sociedade sem classes".
Em uma nota de rodapé, entretanto, Freire menciona uma sociedade que de fato atingiu a "permanente liberação" que ele propõe: esse "parece ser o fundamental aspecto da revolução Cultural de Mao". Os milhões de chineses de todas as classes que sofreram e morreram sob o tacão da revolução brutal provavelmente discordam. Freire também oferece conselhos a líderes revolucionários, que "precisam entender a revolução, por causa de sua natureza criativa e liberal, como um ato de amor." O exemplo usado por Freire de seu amor revolucionário é ninguém menos que o símbolo da revolução armada de 1960, Che Guevara, que afirmou que "o revolucionário é guiado por forte sentimento de amor". Freire deixa de mencionar, no entanto que Che foi um dos mais brutais personagens da revolução cubana, responsável pela execução de centenas de oponentes políticos.
Afinal, escuridão e tristeza parecem ser o menor dos problemas do livro, mas assim mesmo é válido citar um trecho da abertura do livro.
Enquanto o problema da humanização sempre foi, do ponto de vista axiológico, o problema central da espécie humana, ele agora toma um caráter de preocupação inevitável. Preocupação pela humanização remete ao reconhecimento da desumanização, não apenas como uma possibilidade ontológica, mas como uma realidade histórica. E à medida que um indivíduo percebe a extensão da desumanização, ele ou ela deve se perguntar se humanização é uma possibilidade viável. Na história, em contextos objetivos e concretos, tanto a humanização quanto a desumanização são possibilidades para uma pessoa enquanto um ser incompleto consciente de sê-lo.
Precariamente traduzindo: humanização é bom e desumanização é ruim. Ah, como nos dias em que os panfletos revolucionários acertaram, como em: "Um fantasma está assombrando a Europa".
Como esse livro sobre opressão, luta de classes, a destruição do capitalismo e a necessidade de uma revolução pode ter sido confundido com um tratado sobre educação que pode resolver os problemas das escolas do século XXI nas cidades de interior americanas? A resposta para essa questão começa em Pernambuco, um estado do nordeste brasileiro. Nas décadas de 50 e 60, Freire era um professor universitário e um radical ativista político na capital, Recife, onde ajudou a organizar campanhas em prol da alfabetização de camponeses. Freire percebeu que aulas de alfabetização e civilidade eram um bom caminho para fazer com que os camponeses pobres votassem em candidatos radicais. Sua "pedagogia" começou, então, com campanhas para mobilização de um grande número de eleitores, rendendo-lhe poder político.
Em 1964, o governo militar assumiu o poder no Brasil. Freire passou um tempo na cadeia e depois ficou exilado no Chile, onde - inspirado por seu trabalho com camponeses - trabalhou em Pedagogia dos Oprimidos. Daí a insistência do livro de que educação escolar não é um processo neutro, mas que sempre carrega um propósito político. Consequentemente também, um dos poucos pontos verdadeiramente pedagógicos do livro: sua oposição em submeter os estudantes a qualquer conteúdo acadêmico, que ele se refere como "conhecimento oficial" que serve para racionalizar a desigualdade inerente na sociedade capitalista. Uma das metáforas de Freire mais citadas repudia a educação em uma via professor-aluno e a compara com o "conceito bancário", onde "a atuação do aluno é apenas a de receber e guardar os créditos". Freire propõe, ao invés da dicotomia entre professores e alunos, uma nova relação entre estudantes e professores a partir do diálogo e da busca de soluções em conjunto, até que o papel de aluno e professor se fundisse em "professor-estudante" e "estudante-professor".
Após a publicação da edição em inglês do livro em 1970, Freire recebeu foi convidado para dar uma palestra na Harvard Graduate School of Education, e no decorrer da década seguinte encontrou audiências entusiasmadas em universidades Americanas. Pedagogia do Oprimido encontrou eco entre educadores progressistas, que já estavam comprometidos com uma visão da sala de aula baseada no aluno ao invés de guiada pelo professor. A rejeição de Freire a aulas a partir do conteúdo e do conhecimento do professor encontrou suporte no que já era a teoria mais popular de ensino, que argumenta que os alunos deveriam trabalhar colaborativamente na construção de seu próprio conhecimento e que o professor deveria ser uma espécie de "guia de ajuda", e não um "sábio no púlpito".
Em Pedagogia do Oprimido, Freire listou dez características chaves do que chamou de método "bancário" de ensino que mostravam como esse sistema era contrário a estudantes desfavorecidos. Por exemplo, "o professor fala e o aluno escuta - humildemente"; "o professor faz as escolhas e as impõe aos alunos que somente aceitam"; "o professor disciplina e o aluno é disciplinado"; "o professor escolhe o conteúdo do programa e o aluno (que não foi consultado) se adapta a ele". A crítica de Freire reforçava outros mitos da educação progressista nos Estados Unidos - de que as lições tradicionais baseadas no professor deixavam os alunos passivos e desinteressados, lavando a uma maior taxa de desistência escolar por parte de alunos pobres e minorias. Essa descrição era mais que uma mera caricatura, era puramente fabricada. Durante as duas últimas décadas, as E.D. Hirsch's Core Schools provou que um rico conteúdo baseado no professor aumentava o rendimento escolar de crianças pobres e que esses alunos permaneciam curiosos, intelectualmente estimulados e atentos - ainda que as escolas formadoras de professores continuassem a ignorar esses casos de sucesso.
Certamente, a popularidade da Pedagogia do Oprimido não se deveu somente a teoria educacional. Durante a década de setenta, veteranos das fileiras de protesto estudantis e contra a guerra no Vietnam colocaram de lado seus cartazes e começaram sua "longa marcha para dentro das instituições de ensino", adquirindo Ph.D.s e fazendo parte dos departamentos de ciências humanas. Uma vez dentro das universidades, os esquerdistas incorporaram suas agendas radicais (não importa se Marxistas, feministas ou racistas) em seus ensinamentos. Ao celebrar Freire como um grande pensador as portas se abriram para esses radicais. Sua declaração em Pedagogia do Oprimido de que "não existia uma educação neutra" se tornou um mantra para professores de esquerda que passaram a usá-lo como justificativa para incitar o ódio anti-americano nas salas de aula de universidades.
Por toda parte alguns professores de esquerda reconheceram os perigos para o discurso acadêmico da eliminação do ideal de neutralidade no ensino. Em Radical Teacher, o notável crítico literário,Gerald Graff - um ex-presidente do ultra politicamente correto Modern Language Assossiation - argumentou que "não importa o quanto Freire insista em 'solução de problemas' em oposição à educação 'bancária', o objetivo do ensino para Freire é mover o estudante na direção do que ele chama de 'uma percepção crítica do mundo', e não há dúvida de que para Freire apenas o Marxismo ou alguma versão do radicalismo esquerdista conta com uma genuína 'percepção crítica' ". Em outro escrito, Graff foi ainda mais longe em rejeitar o modelo Freireano de ensino:
Que direito temos de nos auto proclamar a consciência política de nossos alunos? Dada a desigualdade em poder e em experiência entre alunos e professores (até mesmo professores de comunidades humildes) os alunos têm sempre e com razão medo de desafiar nossas visões políticas mesmo se nós insistirmos para que o façam... Fazer com que os alunos "abram suas cabeças para o esquerdismo, feminismo, anti-racismo e idéias estranhas" seja o principal objetivo do ensino e estimula-los (belo eufemismo) "a trabalharem pela mudança igualitária" foi o erro fatal do movimento de pedagogia libertária de Freire nos anos 60 e ainda o é hoje.
Mas ninguém no meio acadêmico deu ouvidos ao aviso de Graff. E não apenas a doutrinação em nome da liberação infestou as faculdades americanas, onde os alunos poderiam pelo menos escolher seus cursos; de um quadro de professores radicais, a agenda Freiriana veio parar também nas salas de aula de escolas, na forma de um movimento de "ensino para a justiça social".
Como um caso de estudo, consideremos a carreira de Robert PetersonPeterson começou nos anos 80 como um professor primário em Milwaukee. Ele descreveu como se engajou no sistema de ensino de Freire através da Pedagogia do Oprimido, procurando uma maneira de usar as lições do radical educador com seus alunos bilíngües de quarta e quinta séries. Peterson chegou à conclusão de que teria que se separar do "método bancário" de educação, no qual "o professor e os gabaritos tinham as 'respostas certas' e os alunos são requisitados a regurgitar periodicamente." Ao invés, ele usou o método Freireano, que "se baseia na experiência do aluno... Isso significa desafiar os alunos a refletirem a natureza social do conhecimento e do currículo." Peterson quer nos fazer acreditar que seus alunos de quarta e quinta séries se tornaram críticos teóricos, questionando a "natureza do conhecimento" como calouros estudantes da Escola de Frankfurt.
O que de fato aconteceu foi que Peterson usou a racionalidade Freireana para se tornar "a consciência política" de seus alunos. Após uma intervenção do exército americano na América Latina, Peterson decidiu levar seus alunos para demonstrações de protesto contra a ajuda americana aos Contras em oposição aos Sandinistas Marxistas na Nicarágua. As crianças ficavam após as aulas fazendo cartazes:
Deixem-nos governar sua terra! Ajudem a América Central! Não os matem! Dê liberdade aos nicaragüenses!
Peterson era orgulhoso de um aluno da quarta série em particular que descreveu uma passeata na revista da turma. "Numa terça-feira chuvosa de abril alguns alunos da nossa turma foram fazer protesto contra os Contras," escreveu o aluno. "O povo da América Central é pobre e são bombardeados. Quando fomos protestar estava chovendo e parecia que os Contras estavam nos bombardeando."
Hoje em dia, Peterson é o editor da Rethinking Schoolswww.rethinkingschools.org/ a líder nacional em publicações para educadores com base na justiça-social. Ele também é o editor de um livro chamado Rethinking Mathematics: Teaching Social Justice by the Numbers, que oferece lições de matemática para a doutrinação de jovens crianças sobre o demônio racista e imperialista americano. Em parte graças aos esforços de Peterson, o movimento de justiça-social em matemática, assim como em outras matérias acadêmicas, chegou com força total (veja "The Ed Schools' Latest-and Worst-Humbug," Summer 2006). A justiça social tem um pé na maioria das escolas de instrução do país e goza do apoio de alguns dos maiores nomes em educação da matemática, incluindo muitos dos recém presidentes da American Education Research Association  www.aera.net/ e seus 25.000 membros, a organização de onde saem a maioria dos professores nos EUA. Seus vários livros pseudo-escolares, jornais e conferências exaltam os supostos benefícios para as crianças desfavorecidas do método de ensino que Peterson um dia infligiu em seus alunos de quarta série de Milwaukee.
Para rebater as críticas de que o objetivo do movimento é a doutrinação política, educadores adeptos da justiça social desenvolveram um aparato escolar para retratar a educação com fins de justiça social apenas como mais um sistema educacional válido, baseado em "pesquisa". Assim, um recente número da Teachers College Record www.tcrecord.org/ da Universidade de Columbia (que designa-se a si mesma o título de "a voz da pesquisa em educação") publicou um artigo escrito pelo professor de matemática da Universidade de Illinois, Eric Guttstein descrevendo o resultado de "uma pesquisa de dois anos sobre o ensino voltado para a justiça social". A "pesquisa" consiste numa observação de suas próprias aulas durante dois anos numa escola pública de Chicago e conclui que foi um grande sucesso. Parte da evidência foi a declaração de um de seus alunos: "Eu pensava que matemática era apenas uma matéria que eles nos ensinavam porque entendiam bem, mas agora eu percebi que você pode usar a matemática para defender seus direitos e também perceber as injustiças ao seu redor". Guttstein conclui que "os jovens nas salas de aula são mais do que apenas alunos - eles são, na verdade, atores na luta pela justiça social".
Não existem evidências de que a pedagogia Freireana tenha tido muito sucesso no Terceiro Mundo. Nem que os regimes revolucionários favoritos de Freire como China e Cuba, tenham reformado seus próprios sistemas "bancários" de ensino, no qual os alunos mais brilhantes são controlados, disciplinados, e têm seus conteúdos educacionais rígidos para atenderem as demandas nacionais - e a produção de mais administradores industriais, engenheiros e cientistas. O quão perverso é, então, que apenas nas cidades do interior americanas os educadores Freireanos são levados a "libertar" crianças pobres de uma "opressão" imaginária e os recrutem para uma revolução que nunca virá?
As idéias de Freire são perigosas não somente para os alunos, mas também para os professores comprometidos com esse tipo de educação. Um consenso mais amplo está emergindo entre reformadores da educação de que a melhor opção para enriquecer as conquista acadêmicas das crianças nas cidades de interior americanas é melhorar dramaticamente o nível dos professores que nelas ensinarão. Melhorar a qualidade dos professores numa tentativa de reduzir a diferença entre a educação de crianças pobres e as demais é o maior foco na agenda educacional de Obama. Mas se a qualidade dos professores é agora o principal foco, isso desafia a racionalidade de que aPedagogia do Oprimido ainda ocupe um lugar de destaque em cursos de treinamento para professores, que certamente nada aprenderão sobre tornarem-se melhores instrutores com seus desacreditados chavões Marxistas.
Na era Obama, finalmente, parece ser inaceitável encorajar professores a levar a agenda política de Freire a sério. Se existe alguma mensagem política que os professores tenham que trazer para seus alunos, é aquela do nosso maior escritor afro-americano, Ralph Ellison, que afirmou ter procurado em seus escritos "ver a América com a consciência de sua diversidade e sua quase mágica fluidez e liberdade... confrontando as desigualdades e brutalidades de nossa sociedade diretamente, ainda que impelindo suas imagens de esperança, fraternidade humana, e realização individual.".
* Sol Stern é editor e articulista do City Journal, integrante senior do Manhattan Institute,www.manhattan-institute.org/ e autor de Breaking Free: Public School Lessons and the Imperative of School Choice.

Sobre a "pedagogia" de Paulo Freire (1): uma fraude esperando ser revelada

Depois de ter postado minhas diatribes habituais contra o supremo idiota da educação brasileira, e de ter recebido uma demanda sobre minhas críticas ao Paulo Freire (e tendo respondido neste mesmo espaço), recebo outros subsídios sobre o tema, que coloco à disposição dos interessados.
Neste link: 
http://paraibarama.blogspot.com.br/2008/12/mtodo-paulo-freire-ou-mtodo-laubach.html
Paulo Roberto de Almeida 
Artigo publicado originalmente em Mídia Sem Máscara, em 9 março de 2004.

Método Paulo Freire ou Método Laubach?

Segundo historiador, Frank Laubach pode ser o Hegel de Paulo Freire — o "criador" da Pedagogia do Oprimido pode ter plagiado o educador norte-americano, virando-o de ponta-cabeça

DAVID GUEIROS VIEIRA

O Método Laubach de alfabetização de adultos foi criado pelo missionário protestante norte-americano Frank Charles Laubach (1884-1970). Desenvolvido por Laubach nas Filipinas, em 1915, subseqüentemente foi utilizado com grande sucesso em toda a Ásia e em várias partes da América Latina, durante quase todo o século XX.
Em 1915, Frank Laubach fora enviado por uma missão religiosa à ilha de Mindanao, nas Filipinas, então sob o domínio norte-americano, desde o final da guerra EUA/Espanha. A dominação espanhola deixara à população filipina uma herança de analfabetismo total, bem como de ódio aos estrangeiros.
A população moura filipina era analfabeta, exceto os sacerdotes islamitas, que sabiam ler árabe e podiam ler o Alcorão. A língua maranao (falada pelos mouros) nunca fora escrita. Laubach enfrentava, nessa sua missão, um problema duplo: como criar uma língua escrita, e como ensinar essa escrita aos filipinos, para que esses pudessem ler a Bíblia. A existência de 17 dialetos distintos, naquele arquipélago, dificultava ainda mais a tarefa em meta.
Com o auxílio de um educador filipino, Donato Gália, Laubach adaptou o alfabeto inglês ao dialeto mouro. Em seguida adaptou um antigo método de ensino norte-americano, de reconhecimento das palavras escritas por meio de retratos de objetos familiares do dia-a-dia da vida do aluno, para ensinar a leitura da nova língua escrita. A letra inicial do nome do objeto recebia uma ênfase especial, de modo que aluno passava a reconhecê-la em outras situações, passando então a juntar as letras e a formar palavras.
Utilizando essa metodologia, Laubach trabalhou por 30 anos nas Filipinas e em todo o sul da Ásia. Conseguiu alfabetizar 60% da população filipina, utilizando essa mesma metodologia. Nas Filipinas, e em toda a Ásia, um grupo de educadores, comandado pelo próprio Laubach, criou grafias para 225 línguas, até então não escritas. A leitura dessas línguas era lecionada pelo método de aprendizagem acima descrito. Nesse período de tempo, esse mesmo trabalho foi levado do sul da Ásia para a China, Egito, Síria, Turquia, África e até mesmo União Soviética. Maiores detalhes da vida e trabalho de Laubach podem ser lidos na Internet, no site Frank Laubach.
Na América Latina, o método Laubach foi primeiro introduzido no período da 2ª Guerra Mundial, quando o criador do mesmo se viu proibido de retornar à Ásia, por causa da guerra no Pacífico. No Brasil, este foi introduzido pelo próprio Laubach, em 1943, a pedido do governo brasileiro. Naquele ano, esse educador veio ao Brasil a fim de explicar sua metodologia, como já fizera em vários outros países latino-americanos.

"As cartilhas de Laubach foram copiadas pelos marxistas em Pernambuco, dando ênfase à luta de classes. O autor dessas outras cartilhas era Paulo Freire, que emprestou seu nome à "nova metodologia" como se a ela fosse de sua autoria"

Lembro-me bem dessa visita, pois, ainda que fosse muito jovem, cursando o terceiro ano Ginasial, todos nós estudantes sabíamos que o analfabetismo no Brasil ainda beirava a casa dos 76% - o que muito nos envergonhava - e que este era o maior empecilho ao desenvolvimento do país.
A visita de Laubach a Pernambuco causou grande repercussão nos meios estudantis. Ele ministrou inúmeras palestras nas escolas e faculdades — não havia ainda uma universidade em Pernambuco — e conduziu debates no Teatro Santa Isabel. Refiro-me apenas a Pernambuco e ao Recife, pois meus conhecimentos dos eventos naquela época não iam muito além do local onde residia.
Houve também farta distribuição de cartilhas do Método Laubach, em espanhol, pois a versão portuguesa ainda não estava pronta. Nessa época, a revista Seleções do Readers Digest publicou um artigo sobre Laubach e seu método — muito lido e comentado por todos os brasileiros de então, que, em virtude da guerra, tinham aquela revista como único contato literário com o mundo exterior.
Naquele ano, de 1943, o Sr. Paulo Freire já era diretor do Sesi, de Pernambuco — assim ele afirma em sua autobiografia — encarregado dos programas de educação daquela entidade. No entanto, nessa mesma autobiografia, ele jamais confessa ter tomado conhecimento da visita do educador Laubach a Pernambuco. Ora, ignorar tal visita seria uma impossibilidade, considerando-se o tratamento VIP que fora dado àquele educador norte-americano, pelas autoridades brasileiras, bem como pela imprensa e pelo rádio, não havendo ainda televisão. Concomitante e subitamente, começaram a aparecer em Pernambuco cartilhas semelhantes às de Laubach, porém com teor filosófico totalmente diferente. As de Laubach, de cunho cristão, davam ênfase à cidadania, à paz social, à ética pessoal, ao cristianismo e à existência de Deus. As novas cartilhas, utilizando idêntica metodologia, davam ênfase à luta de classes, à propaganda da teoria marxista, ao ateísmo e a conscientização das massas à sua "condição de oprimidas". O autor dessas outras cartilhas era o genial Sr. Paulo Freire, diretor do Sesi, que emprestou seu nome à essa "nova metodologia" — da utilização de retratos e palavras na alfabetização de adultos — como se a mesma fosse da sua autoria.
Tais cartilhas foram de imediato adotadas pelo movimento estudantil marxista, para a promulgação da revolução entre as massas analfabetas. A artimanha do Sr. Paulo Freire "pegou", e esse método é hoje chamado Método Paulo Freire, tendo o mesmo sido apadrinhado por toda a esquerda, nacional e internacional, inclusive pela ONU.
No entanto, o método Laubach — o autêntico — fora de início utilizado com grande sucesso em Pernambuco, na alfabetização de 30.000 pessoas da favela chamada "Brasília Teimosa", bem como em outras favelas do Recife, em um programa educacional conduzido pelo Colégio Presbiteriano Agnes Erskine, daquela cidade. Os professores eram todos voluntários. Essa foi a famosa Cruzada ABC, que empolgou muita gente, não apenas nas favelas, mas também na cidade do Recife, e em todo o Estado. Esse esforço educacional é descrito em seus menores detalhes por Jules Spach, no seu recente livro, intitulado, Todos os Caminhos Conduzem ao Lar (2000).

"A 'bolsa-escola' de Cristovam Buarque não é novidade. Foi adotada há décadas por discípulos de Laubach e criticada pela esquerda na época. A bolsa-escola já era defendida por Antônio Almeida, um educador do século XIX"

O Método Laubach foi também introduzido em Cuba, em 1960, em uma escola normal em Bágamos. Essa escola pretendia preparar professores para a alfabetização de adultos. No entanto, logo que Fidel Castro assumiu o controle total do poder em Cuba, naquele mesmo ano, todas as escolas foram nacionalizadas, inclusive a escola normal de Bágamos. Seus professores foram acusados de "subversão", e tiveram de fugir, indo refugiar-se em Costa Rica, onde continuaram seu trabalho, na propagação do Método Laubach, criando então um programa de alfabetização de adultos, chamado Alfalit.
A organização Alfalit foi introduzida no Brasil, e reconhecida pelo governo brasileiro como programa válido de alfabetização de adultos. Encontra-se hoje na maioria dos Estados: Santa Catarina (1994), Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Sergipe, São Paulo, Paraná, Paraíba e Rondônia (1997); Maranhão, Pará, Piauí e Roraima (1998); Pernambuco e Bahia (1999).
A oposição ao Método Laubach ocorreu desde a introdução do mesmo, em Pernambuco, no final da década de 1950. Houve tremenda oposição da esquerda ao mencionado programa da Cruzada ABC, em Pernambuco, especialmente porque o mesmo não conduzia à luta de classes, como ocorria nas cartilhas plagiadas do Sr. Paulo Freire. Mais ainda, dizia-se que o programa ABC estava "cooptando" o povo, comprando seu apoio com comida, e que era apenas mais um programa "imperialista", que tinha em meta unicamente "dominar o povo brasileiro".
Como a fome era muito grande na Brasília Teimosa, os dirigentes da Cruzada ABC, como maneira de atrair um maior número de alunos para o mesmo, se propuseram criar uma espécie de "bolsa-escola" de mantimentos. Era uma cesta básica, doada a todos aqueles que se mantivessem na escola, sem nenhuma falta durante todo o mês. Essa bolsa-escola tornou-se famosa no Recife, e muitos tentavam se candidatar a ela, sem serem analfabetos ou mesmo pertencentes à comunidade da Brasília Teimosa. Bolsa-escola fora algo proposto desde os dias do Império, conforme pode-se conferir no livro de um educador do século XIX, Antônio Almeida, intitulado O Ensino Público, reeditado em 2003 pelo Senado Federal, com uma introdução escrita por este Autor.
No entanto, a idéia da bolsa-escola foi ressuscitada pelo senhor Cristovam Buarque, quando governador de Brasília. Este senhor, que é pernambucano, fora estudante no Recife nos dias da Cruzada ABC, tão atacada pelos seus correligionários de esquerda. Para a esquerda recifense, doar bolsa-escola de mantimentos era equivalente a "cooptar" o povo. Em Brasília, como "idéia genial do Sr. Cristovam Buarque", esta é hoje abençoada pela Unesco, espalhada por todo o mundo e não deixa de ser o conceito por trás do programa Fome Zero, do ilustre Presidente Lula.
O sucesso da campanha ABC — que incluía o Método Laubach e a bolsa-escola — foi extraordinário, sendo mais tarde encampado pelo governo militar, sob o nome de Mobral. Sua filosofia, no entanto, foi modificada pelos militares: os professores eram pagos e não mais voluntários, e a bolsa-escola de alimentos não mais adotada. Este novo programa, por razões óbvias, não foi tão bem-sucedido quanto a antiga Cruzada ABC, que utilizava o Método Laubach.
A maior acusação à Cruzada ABC, que se ouvia da parte da esquerda pernambucana, era que o Método Laubach era "amigo da ignorância" — ou seja, não estava ligado à teoria marxista, falhavam em esclarecer seus detratores — e que conduzia a "um analfabetismo maior", ou seja, ignorava a promoção da luta de classes, e defendia a harmonia social. Recentemente, foi-me relatado que o auxílio doado pelo MEC a pelo menos um programa de alfabetização no Rio de Janeiro — que utiliza o Método Laubach, em vez do chamado "Método Paulo Freire" — foi cortado, sob a mesma alegação: que o Método Laubach estaria "produzindo o analfabetismo" no Rio de Janeiro. Em face da recusa dos diretores do programa carioca, de modificarem o método utilizado, o auxílio financeiro do MEC foi simplesmente cortado.
Não há dúvida que a luta contra o analfabetismo, em todo o mundo, encontrou seu instrumento mais efetivo no Método Laubach. Ainda que esse método hoje tenha sido encampado sob o nome do Sr. Paulo Freire. Os que assim procederam não apenas mudaram o seu nome, mas também o desvirtuaram, modificando inclusive sua orientação filosófica. Concluindo: o método de alfabetização de adultos, criado por Frank Laubach, em 1915, passou a ser chamado de "Método Paulo Freire", em terras tupiniquins. De tal maneira foi bem-sucedido esse embuste, que hoje será quase que impossível desfazê-lo.
David Gueiros Vieira é historiador. 

Artigo publicado originalmente em Mídia Sem Máscara, em 9 março de 2004.

BIBLIOGRAFIA
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CAMPOLO, Anthony. Você pode fazer a diferença. Ed. Mundo Cristão, SP, 1985.
GONZALES, Justo e COOK, Eulália. Hombres y Ángeles. Ed. Alfalit, Miami, 1999.
GONZALES, Justo. História de un milagro. Ed. Caribe, Miami (s.d.).
GONZALES, Luiza Garcia de. Manual para preparação de alfabetizadores voluntários. 3ª ed., Alfalit Brasil, Rio de Janeiro, 1994.
GREGORY, John Milton. As sete leis do ensino. 7ª ed., Rio de Janeiro, JUERP, 1994.
HENDRICKS, Howard. Ensinando para transformar vidas. Ed. Betânia, Belo Horizonte, 1999.
LAUBACH, Frank C.. Os milhões silenciosos falam. s. l., s.e., s.d.
MALDONADO, Maria Cereza. História da vida inteira. Ed. Vozes, 4ª ed., S.P., 1998.
SMITH, Josie de. Luiza. Ed. la Estrella, Alajuela, Costa Rica, s.d.
SPACH, Jules, Todos os Caminhos Conduzem ao Lar, Recife, PE, 2000.

Um retrato da universidade brasileira: a tragedia educacional sempre mais elevada

Transcrevo abaixo, sem qualquer comentário adicional, os trechos iniciais de um trabalho preparado por dois professores universitários para um congresso tipicamente acadêmico, sobre desigualdades e democracia.
Esse texto fornece um retrato preciso sobre como se apresentam, atualmente, as humanidades no Brasil.
As humanidades deveriam começar, supostamente, pela escrita da língua, e depois tratar com clareza do objeto escolhido.
Neste caso se trata de um trabalho sobre pobreza e desigualdades sociais no Brasil.
Por aí vocês podem ter uma ideia do que esperar, nos próximos anos, da universidade brasileira.
Paulo Roberto de Almeida 


[TITULO]
[Autores, dois, ambos professores universitários, um doutor e um doutorando]


[Primeiros parágrafos, transcritos fielmente]

A sociedade contemporânea brasileira com suas classes sociais, na perspectiva das desigualdades estruturais, atravessa mudanças significativas em seus indicadores socioeconômicos. Nesse contexto, o desenvolvimento se configura por meio de diagnósticos, propostas para modificar ou reforçar processos, instituições e organizações  para alcançar metas pré-fixadas. A partir de objetivos criados por organismos nacionais ou internacionais, com intencionalidade ideológica neoliberal fundamentada no capitalismo. 
Com os paradoxos existentes entre as teorias sobre pobreza e os indicadores que medem tal categoria, necessário discutir nesta comunicação os modernos conceitos de pobreza, bem como os vários indicadores de pobreza que mapeiam essa população. Em outros termos, esses indicadores apontam as intencionalidades dos organismos governamentais a respeito dos pobres. Uma vez que os conceitos de pobreza estão atrelados à esfera econômica, onde os aspectos monetários são determinantes na aquisição de bens de consumo e serviços para promoverem o bem-estar das pessoas, o que muitas vezes pode ser confundido como desenvolvimento humano. No entanto, os novos desafios que se colocam na concepção de instrumentos observacionais, analíticos e procedimentos de operacionalização, seja na construção de indicadores, seja na definição de tipologias de pobrezas ou utilização de sistemas classificações, os pobres são “objetos” de estudo comparativos para se explicar as desigualdades sociais.
A propósito disso, apresentamos os modernos conceitos de pobreza à luz das agendas governamentais, uma vez que estas tem  se preocupado em entender fenômeno da pobreza, da mesma forma erradicar os empecilhos que atrapalham o desenvolvimento humano.  Por desenvolvimento humano entendemos,  com base no Relatório do Desenvolvimento Humano, documento da Organização das Nações Unida (PNDU, 2011, p. 1), “no alargamento das liberdades e capacidades das pessoas para viverem vidas que valorizam e que têm motivos para valorizar. Trata-se de alargar as escolhas”. À medida que o próprio crescimento econômico, com base no capitalismo, está atrelado ao discurso de progresso, modernidade e desenvolvimento.

Sob esta visão, Alvarez Leguizamón (2007, p. 83) observa que “a ideia de desenvolvimento iniciou-se em fins da década de 1940, juntamente com a criação do sistema das Nações Unidas, do Bando Mundial e da hegemonia crescente dos Estados Unidos na geopolítica mundial” (Itálico da autora). Os desdobramentos com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a década de 1950, no Brasil, exigia a tomada de consciência do atraso  econômico ao evidenciar as desigualdades sociais. Emergiram neste contexto, a urgência de um processo de rápida transformação para equilibrar as distâncias e superação das desigualdades sociais.
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Explicando melhor, as desigualdades assumem características multidimensionais, sob o prisma econômico, político e sociocultural. Além do mais, assegurar as desigualdades no discurso capitalista hoje, torna-se indispensável para o bom funcionamento do sistema, “pois elas são criadas e recriadas permanentemente como forma de assegurar a vitalidade e o dinamismo da economia de mercado” (CATTANI, 2009, p. 547). Em nome da economia do mercado, a verticalização das pessoas é demonstrada pelas desigualdades socioeconômicas.
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Creio que basta isto para ver como será o resto do trabalho.
Eu me pergunto o que vamos fazer da universidade brasileira, daqui para a frente (ou daqui para baixo)?
Paulo Roberto de Almeida