O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Formacao da Diplomacia (PRA): nas Casas Bahia?! Nove vezes sem juros?

Incrível! Por essa eu não esperava.
Como muita gente bem informada, eu tenho Google Alerts para um número grande de conceitos e expressões que possam interessar minhas leituras e reflexões em todos os campos de meu interesse: política externa brasileira, relações econômicas internacionais, China, Brasil (obviamente), diplomacia e várias outras palavras ou expressões mais, em Português e em Inglês, para me assegurar que nada do que se publica de importante ao abrigo dessas palavras me escape.
Obviamente, vem muita coisa sem qualquer interesse, e a cada remessa eu descarto 90% dos resultados, retendo um ou outro para leitura, eventual postagem. No meio de tudo isso, tem também meu nome, como seria natural, inclusive para saber o que andam falando de mim, por aí. Bem, confesso que o que mais aparece é um homônimo esportista, que faz muito sucesso e que preciso conhecer.
Mas, não é que acabo de constatar que um dos meus livros está sendo vendido nas Casas Bahia e no nefando sistema -- que eu sempre condenei, no Brasil -- das dez vezes sem juros?
Vejam abaixo: 

Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: As Relações Econômicas Internacionais no Império - Paulo Roberto de Almeida(Cód. Item 142502)

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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Bailando com lobos... americanos - Matias Spektor


O Pentagono no Brasil Emergente
Matias Spektor
Folha de S.Paulo, 2.05.2012

A ascensão do Brasil muda a relação com os EUA, e crescem os interesses em prol de maior aproximação 

Leon Panetta, chefe do Pentágono, esteve aqui na semana passada para encerrar três décadas de distanciamento entre o Brasil e os EUA na área de defesa. A tarefa será longa porque os dois países têm visões fundamentalmente distintas da segurança internacional.
As ameaças que mais preocupam o governo americano -terrorismo, radicalismo islâmico e proliferação nuclear- são secundárias para o governo brasileiro. Enquanto isso, em Washington, quase ninguém entende por que Brasília prioriza ameaças como a fragilidade das fronteiras e as riquezas naturais da Amazônia e da plataforma continental no Atlântico.
Também há boa dose de choque de interesses. Os dois países têm leituras opostas sobre o que fazer sobre Cuba, Venezuela, Colômbia e Honduras. Não concordam a respeito de Irã, Palestina, Líbia ou Síria.
Na concepção brasileira, os americanos usam e abusam das regras do jogo para impor suas preferências sobre os mais fracos. Na concepção americana, o comportamento brasileiro tem um quê de ingenuidade típica de um país que pretende jogar na liga dos pesos-pesados sem ter os meios para fazê-lo.
Isso não fez dos dois países rivais ou adversários, mas criou entre ambos um enorme distanciamento.
O processo brasileiro de ascensão ora em curso está transformando essa realidade. No novo contexto, crescem poderosos interesses em prol da aproximação. O destaque vai para duas forças complementares.
A primeira é o dinheiro. Nos últimos dez anos, o orçamento brasileiro de defesa passou de R$ 45 bilhões para R$ 65 bilhões. Representando apenas 1,5% do PIB, ainda tem muito espaço para crescer. Assim, a indústria militar americana vê no Brasil um grande comprador potencial, ao passo que o emergente complexo industrial de defesa brasileiro enxerga uma oportunidade para assinar contratos nos EUA.
Os grupos interessados em ambos os países não se limitam aos gigantes Boeing e Embraer, mas incluem centenas de empresas nas áreas de energia renovável, nanotecnologia, ciberespaço, atividades espaciais e usos civis da tecnologia nuclear.
A segunda força de aproximação é a nova projeção global da política externa brasileira. A crescente flexibilidade para participar de operações de paz e os novos recursos disponíveis para oferecer cooperação técnica internacional fazem do Brasil um ator cada vez mais útil na promoção da paz e da estabilidade no mundo. No Haiti, essa atitude levou à mais intensa cooperação militar com os Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial.
O próximo teatro de cooperação será a África, onde os países têm crescentes interesses de segurança.
O Brasil emergente não buscará uma aliança militar com os Estados Unidos nem aceitará limitar sua própria autonomia. Contudo, poderá instrumentalizar sua relação com a maior potência do mundo para facilitar suas ambições globais.
Se essa aproximação der certo, será, em grande medida, devido ao trabalho silencioso dos militares dos dois países. Existe entre eles uma reserva gigantesca de boa vontade. Esse contato representa uma incipiente rede transnacional de profissionais que já está muito à frente do vagaroso ritmo dos acordos oficiais entre os dois governos. 
 

Argentina: revisar para baixo todos os PIBs desde 2008...

As estatísticas argentinas de inflação eram manipuladas, isto já se sabia. O que não se sabia, exatamente, era a influência disso sobre as taxas de crescimento, sempre apresentadas como a maior maravilha daquele governo populista e manipulador.
Agora, graças à Ecolatina, se pode ter uma ideia mais precisa do tamanho da manipulação, e ajustar em consequência,  para baixo, as taxas de crescimento.
Paulo Roberto de Almeida
PS: Acrescento uma curta nota do Citibank, no final
Em post anterior deste blog (o que é isso companheiro) levantei a hipótese que um país (Argentina) que “brincava” com os índices de inflação, possivelmente, utilizava também dados subestimados para deflacionar o PIB e calcular o crescimento do PIB real.
Em post seguinte falei pelo que li do The Drunkeneysian que talvez isso não fosse verdade. Não haviam dados de que a Argentina fizesse com o deflator do PIB o que faz com os índices de inflação.
Pois bem, a evidência chegou. O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, gentilmente pesquisou o assunto e conseguiu com uma consultoria da Argentina, a Ecolatina, resolver esse dúvida.
A Ecolatina acompanha de perto as estatística na Argentina e calculou o crescimento real do PIB, a preços de 1993, e, dessa forma, conseguiu identificar que, de fato, o governo da Argentina falsifica ou subestima (para ser mais educado) o deflator do PIB desde 2007. O que significa que o crescimento do PIB real por lá, o verdadeiro, é muito menor do que o número oficial.
A tabela abaixo foi preparada pela Ecolatina.  Pelos dados oficiais, o crescimento real do PIB da Argentina de 2007 a 2011 foi de 39% (PIB precios Cte, 1993 INDEC). Pelo dado correto estimado pela Ecolatina (PIB precios Cte.1993 Ecolatina), o crescimento do PIB real neste período foi de 25,35%; bem menos que o crescimento real do PIB oficial.
Obrigado ao Sérgio Vale da MB Associados e a Ecolatina. E quanto ao governo Argentino “Lo siento por el populismo”.
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Argentina: Official Annual Inflation to Remain Unchanged
√√  Consumer Price Index (Friday, 3:00 p.m., April Fcst: 0.8% Month
Over Month)
We expect the National Statistics Institute (INDEC)'s monthly CPI inflation to stand
at 0.8% in April, down from 0.9% in March. If our forecast proves correct, the official
annual inflation rate would remain unchanged at 9.8%. It is worth noting that most, if
not all, non-official annual inflation estimations stand above 20% (i.e. more than
double the official print).


Supremo, ja nao tao supremo...: acusacao EXTREMAMENTE GRAVE...

A crer, não na matéria abaixo, mas nas suas fontes, pelo menos dois ministros do supremo estão sob suspeita, talvez até mais de dois.
O caso é suficientemente grave para merecer uma despromoção do supremo (sim com "s" minúsculo) a Inferior Tribunal Federal, ou não tão supremo tribunal de sentenças arranjadas.
Nada mais me surpreende neste país, nem a última barreira contra golpes de Estado (que não precisam ser violentos, nem precisam tomar o poder, basta abastardarem os poderes, justamente), converte-se agora, a confirmarem-se as suspeitas e talvez acusações, em corte de soluções ad hoc.
Que vergonha para o Brasil, para a nação, para as simples consciências... 
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 3/05/2012

Está mais do que evidente que a conversa de Carlinhos Cachoeira com seus operadores era marcada por megalomania, “bravatas” e “conversa fiada”, para usar duas expressões do ministro Luiz Fux, do Supremo. Parecia haver ali certa competição para demonstrar influência. Mais um pouco, e o contraventor diria exercer influência na Casa Branca e no Pentágono: “Esse trem aí a gente vê lá com o Obama, com aquela moça lá que nasceu em Anápolis. O Dadá vai ligar pra CIA…” Também o senador Demóstenes Torres gosta de provar a sua desenvoltura e capacidade de mexer os pauzinhos, de marcar reuniões com este e com aquele, pouco importa se do governo ou da oposição… Já expus aqui como, em maio do ano passado, depois que VEJA publicou a reportagem sobre a Delta, ele entrou em ação: na aparência, para investigar tudo; na prática, para não investigar nada. Em conversa com o bicheiro, chega a se orgulhar de sua ação bem-sucedida. Para todos os efeitos, cobrou que o Senado apurasse a denúncia feita pela revista; de fato, comemora a pouca repercussão. Todos ali alimentavam certa fantasia de “donos do mundo”, jactando-se do  talento para enganar todo mundo o tempo todo.
É nesse cotexto, pois, que Demóstenes diz a Carlinhos Cachoeira, como revelam Fernando Mello, Breno Costa e Leandro Colon, na Folha de hoje, que Demóstenes diz a Cachoeira que um amigo seu fora convidado para integrar o Supremo. Teria rejeitado a oferta porque o governo Dilma impunha duas condições: que votasse a favor do Ficha Limpa e que absolvesse os mensaleiros. O convidado teria recusado, então, a proposta, aceita, sustenta Demóstenes, por Luiz Fux, que já teria cumprido a primeira parte do acordo. Restaria entregar a segunda: livrar a cara do “chefe da quadrilha” e dos quadrilheiros. Já entro no mérito. Mais alguns detalhes dessa hipótese, que não está só na boca de Demóstenes, como sabem Brasília e todo o mundo político.
Sendo verdadeira a pressão, Rosa Weber teria sido escolhida sob as mesmas condições. E não é segredo pra ninguém que Lula e José Dirceu se articularam para adiar para 2013 o julgamento do mensalão. Caso alcancem seu objetivo, mais dois ministros deixam o Supremo: Cezar Peluso, em setembro, e Ayres Britto, em novembro. O PT, de modo fundado ou não, dá como certo que Peluso votará contra os interesses da “quadrilha”. E tem dúvidas sobre o voto de Ayres Britto. Embora, em linhas gerais, o ministro seja afinado com valores mais à esquerda, também se mostra sensível ao chamado “sentimento da sociedade”… E boa parte da sociedade quer mensaleiros na cadeia porque já se cansou desses vigaristas.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Não creio que una notícia como esta seja publicada nos grandes jornais de Rio e SP.


Bolivia: Diputados del Brasil culpan a las políticas de Evo Morales por incremento del narcotráfico – EJU.TV

Diputados del Acre reclaman. Afirman que el crecimiento del narcotráfico en Brasil es consecuencia de la política de Evo Morales. Moción: Asterio Moreira y Major Rocha exigen una nota de repudio contra el Gobierno boliviano.
Dos diputados del Estado de Acre, en Brasil, culparon al gobierno de Evo Morales por el incremento del narcotráfico en su región. Las declaraciones las hicieron a raíz de la primera marcha contra el crack y otras drogas realizada el pasado 16 de abril, en las puertas del Palacio Legislativo de la ciudad capital, Río Branco.
Las declaraciones de los parlamentarios Asterio Moreira y Major Rocha fueron difundidas a través de boletines emitidos por la Asamblea Legislativa del Estado de Acre el 17 y 18 de este mes.
Incentivo de Evo Morales al cultivo de coca. El diputado Moreira declaró que nunca, en su historia, Brasil estuvo tan vulnerable a la entrada de drogas gracias al incentivo del presidente Evo Morales, al cultivo de coca en su país y a la omisión de su colega peruano Ollanta Humala.
Rocha coincidió en que el crecimiento del narcotráfico en Acre y Brasil es una consecuencia de la política de Morales. Dijo que Bolivia es responsable por casi toda la droga que entra en Acre y destruye familias. “Más; asimismo, el gobierno (de Brasil) y las autoridades tratan al país vecino con benevolencia, como a compañero y camarada. Este trato diferenciado tiende a agravar el problema, pues es así que el cocalero es tratado. Aquel ciudadano es uno de los principales responsables por el avance de la violencia en nuestro territorio”.
Tráfico de cocaína a Brasil se elevó en 200%. Moreira, por su parte, declaró que “el narcotráfico tiene tentáculos dentro del gobierno de Evo Morales y los números muestran que la producción y el comercio de cocaína se expandieron durante su gestión”. Añadió que la producción es hecha sobre el argumento de que la coca es una planta cultural del país, pero es usada para atraer dólares.
El parlamentario citó un artículo del Instituto Plinio Correa de Oliveira, líder del movimiento Tradición, Familia y Propiedad, que indica que la producción de cocaína aumentó un 41% en el gobierno de Evo Morales y el tráfico para Brasil se elevó en un 200%.
Exige una moción de repudio a Bolivia. El diputado pidió que la Asamblea Legislativa encamine una nota de repudio contra los gobiernos peruano y boliviano. “Repudió a los gobiernos peruano y boliviano porque ellos colaboran con el aumento del uso de drogas y dependientes de estupefacientes, ellos producen y el Estado del Acre compra y consume droga”. “La producción de drogas en esos países alcanza para abastecer al mundo”, aseguró.
Fuente: EJU.TV (Bolivia)

Macunaima em Genebra - Marcelo de Paiva Abreu

Macunaíma é mau conselheiro
Marcelo de Paiva Abreu*                                                                                                                                                      
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 30/04/2012

Em artigo recente, fiz críticas à hiperatividade obtusa que vem caracterizando a política comercial brasileira. Além de mencionar que existem sólidos argumentos econômicos que desaconselham a adoção de medidas tais como o aumento discricionário do IPI e do PIS/Cofins e novos subsídios às exportações, enfatizei o conflito entre tais medidas e as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) que regem - ou deveriam reger - o comércio mundial. A melhor resposta de que foram capazes os contumazes defensores do protecionismo e da política econômica baseada na criação de dificuldades, seguida de distribuição de facilidades, foi, pasmem, a de que a OMC não deve ser levada a sério.
Na verdade, há muitas razões para levá-la a sério. Algumas são de natureza jurídica: as regras da OMC são objeto de ratificação pelo Congresso Nacional e integradas à legislação brasileira. Levar a sério a OMC é levar a sério as leis brasileiras. A propensão a levar a sério limitações jurídicas ou estatutárias sempre variará consideravelmente de acordo com o ponto de vista do indivíduo, ou do país.
Mas, se um indivíduo, ou país, escolhe não levar a lei a sério, isso não diz nada sobre a lei e bastante sobre o indivíduo, ou sobre o país. É preciso não esquecer de que decisões foram tomadas com base na crença de que o marco jurídico estaria claramente definido e que mudanças de regras têm efeitos assimétricos sobre distintos agentes econômicos.
No passado, muitos chegaram a justificar a violação da legalidade constitucional com base em argumentos de necessidade política. Na área econômica, há registro de interferência política na geração de informações econômicas que desagradavam ao governo. Será ingênua a ideia de que Constituição, metodologias do IBGE e compromissos com instituições multilaterais devam ser levados a sério?
Talvez não seja excesso de otimismo julgar que o Brasil aprendeu nas últimas décadas que as "flexibilidades" do passado, além de censuráveis, acabaram custando caro. Mas mesmo os adeptos da Realpolitik em versão tropical - à Macunaíma, o herói sem nenhum caráter de Mário Andrade - deveriam levar em conta argumentos que vão além da maximização de benefícios no curto prazo. E chegar à conclusão de que, apesar das tentações, vale a pena levar a OMC a sério.
Até recentemente, o Brasil vinha acumulando excelente reputação na OMC. Parte do prestígio remonta aos tempos do Gatt, com destaque para a participação positiva nas negociações sobre a cláusula de autorização de preferências tarifárias para países em desenvolvimento, resistência ao unilateralismo dos EUA e negociações da Rodada Uruguai. A partir do final da década de 1990, o Brasil tornou-se protagonista em diversos episódios relacionados à solução de controvérsias. Inicialmente, o tema dominante foi a disputa entre a Embraer e a Bombardier, sua concorrente canadense.
Os resultados, após marchas e contramarchas, tenderam a beneficiar os canadenses, embora com algumas decisões favoráveis à Embraer. Bem mais significativas foram decisões mais recentes, favoráveis ao Brasil, quanto aos subsídios do governo dos EUA aos seus produtores de algodão, e da União Europeia às suas exportações de açúcar. As decisões, embora complicadas pela relutância das partes derrotadas em implementar soluções aceitáveis, estabeleceram marcos importantes no processo de enquadramento dos grandes protagonistas comerciais às disciplinas multilaterais.
Nas negociações da Rodada Doha, o Brasil jogou papel crucial a partir da reunião de Cancún, em 2003, quando foi neutralizada a tentativa de EUA e União Europeia de bloquear a liberalização agrícola multilateral e viabilizada a criação do G-20 na OMC, que - a despeito de discordâncias entre seus principais integrantes, Brasil, China e Índia - contribuiu de forma significativa para o avanço das negociações até o impasse de meados de 2008. O Brasil consolidou sua posição como interlocutor privilegiado, ao compor, juntamente com os EUA, a União Europeia, a China e a Índia, o grupo de países que concentraram as negociações decisivas. Embora haja fracassado o acordo, ficou clara a postura construtiva do Brasil.
Essa posição foi alcançada a despeito da baixa participação brasileira no comércio mundial - atualmente da ordem de 1,3%. É - ou era - o único foro internacional em que a diplomacia brasileira havia conquistado posição tão destacada.
Mas, nos últimos meses, esse cabedal tem sido rapidamente erodido pela adoção de medidas protecionistas, que violam escancaradamente as regras multilaterais, e por tentativas algo teatrais de ampliação da agenda da OMC, para levar em conta desalinhamentos cambiais, iniciativa com baixíssima probabilidade de prosperar em Genebra.
É irônico que o Brasil que anseia por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU seja o mesmo que queima seu filme em Genebra. Nunca é demais lembrar que disciplinas comerciais multilaterais críveis são de especial interesse das economias de menor porte, como a brasileira, em oposição aos grandes protagonistas. Regras e políticas decentes interessam mais aos pequenos do que aos grandes.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular do Departamento de Economia da PUC-Rio.