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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Lei de Say e sua "inversao" por Keynes - Ludwig von Mises

Lord Keynes e a Lei de Say

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I
A principal contribuição de Lord Keynes não esteve no desenvolvimento de novas ideias, mas, sim, “em fugir das antigas”, como ele mesmo declarou no fim do prefácio de sua Teoria geral. Os keynesianos dizem-nos que seu feito imortal consiste na refutação cabal do que veio a ser conhecido como Lei dos Mercados ou Lei de Say. A negação dessa lei, afirmam, é a essência de todas as lições de Keynes; todas as outras proposições de sua doutrina derivam, por necessidade lógica, desse insight fundamental e têm de ruir se o fracasso desse ataque na Lei de Say puder ser demonstrado. [1]
É importante compreender agora que aquilo que é chamado de Lei de Say foi, num primeiro momento, proposto como refutação de doutrinas popularmente aceitas nos tempos anteriores ao desenvolvimento da economia como um ramo do conhecimento humano. Ela não era uma parte integrante da nova ciência econômica conforme ensinada pelos economistas clássicos; era, antes, um preâmbulo — a revelação e a eliminação de ideias deturpadas e insustentáveis que turvavam a mente das pessoas e eram um sério obstáculo à analise racional das circunstâncias.
Sempre que os negócios iam mal, os comerciantes comuns tinham duas explicações à mão: o mal era causado por uma escassez de moeda e por uma superprodução geral. Adam Smith, em uma famosa passagem de A riqueza das nações, implodiu o primeiro desses mitos. Say dedicou-se predominantemente a uma refutação meticulosa do segundo mito.
Contanto que algo determinado seja um bem econômico e não um “bem gratuito”, sua demanda obviamente não é absolutamente abundante. Ainda há necessidades não satisfeitas que uma oferta maior do bem considerado poderia satisfazer. Ainda há pessoas que gostariam de obter mais desse bem que estão de fato obtendo. Em relação aos bens econômicos, nunca pode haver superprodução absoluta. (E a economia lida apenas com bens econômicos, não com bens gratuitos como o ar, que não são objeto de ações humanas que obedeçam a finalidades, e, portanto, não são produzidos, e em relação aos quais o emprego de termos como subprodução e superprodução simplesmente não faz sentido.)
Em relação aos bens econômicos, pode haver apenas superprodução relativa. Enquanto os consumidores estão demandando quantidades determinadas de camisas e de sapatos, os produtores fabricam, digamos, uma quantidade maior de sapatos e uma quantidade menor de camisas. Isso não é uma superprodução geral de todos os bens. À superprodução de sapatos corresponde uma subprodução de camisas. Consequentemente, o resultado não será uma depressão geral de todos os ramos produtivos, mas, sim, uma mudança nos termos de troca entre sapatos e camisas. Se, por exemplo, anteriormente um par de sapatos poderia comprar quatro camisas, agora ele compra apenas três camisas. Enquanto os negócios vão mal para os fabricantes de sapatos, eles vão bem para os fabricantes de camisas. As tentativas de explicar a depressão geral do comércio referindo-se a uma suposta superprodução geral são, portanto, falaciosas.
Bens, diz Say, são pagos, em última análise, não com dinheiro, mas com outros bens. O dinheiro é simplesmente o meio de troca mais comumente utilizado; ele desempenha apenas um papel intermediário. O que o vendedor quer receber em troca pelos bens vendidos são, em última análise, outros bens. Cada bem produzido é, por conseguinte, um preço, digamos assim, por outro bem produzido. Qualquer aumento na produção de um bem melhora a situação do produtor de qualquer outro bem. O que pode prejudicar os interesses do produtor de um bem determinado é não antecipar corretamente o estado do mercado. Ele superestimou a demanda dos consumidores por seu bem e subestimou sua demanda por outros bens. Os consumidores não veem utilidade nesse empreendedor atrapalhado; eles compram seus produtos apenas a preços que o fazem acumular prejuízos, e eles o forçam, caso ele não corrija seus erros a tempo, a deixar o mercado. Por outro lado, aqueles empreendedores que foram bem-sucedidos na antecipação da demanda do público colhem lucros e têm condições de expandir suas atividades produtivas. Essa, diz Say, é a verdade por trás das afirmações confusas dos homens de negócios de que a principal dificuldade não está na produção, mas na venda. Seria mais apropriado declarar que o primeiro e principal problema dos negócios é produzir da melhor e mais barata maneira aqueles bens que satisfarão as mais urgentes necessidades ainda insatisfeitas do público.
Assim, Smith e Say demoliram a explicação mais antiga e ingênua do ciclo de negócios, estabelecida pelas expansões populares de negociantes ineficientes. É verdade que seu feito foi meramente negativo. Eles implodiram a crença em que a recorrência de períodos de maus negócios era provocada por uma escassez de moeda e por uma superprodução geral. Mas eles não nos deram uma teoria elaborada do ciclo de negócios. A primeira explicação desse fenômeno foi proporcionada muito mais tarde, pela British Currency School.
As importantes contribuições de Smith e de Say não foram inteiramente novas e originais. A história do pensamento econômico pode registrar alguns pontos essenciais de seu pensamento em autores mais antigos. Isso de maneira alguma deprecia os méritos de Smith e de Say. Eles foram os primeiros a lidar com o assunto de modo sistemático e a aplicar suas conclusões ao problema das depressões econômicas. Eles foram também, portanto, os primeiros contra os quais os defensores de doutrinas populares espúrias dirigiram seus violentos ataques. Sismondi e Malthus escolheram Say como o alvo de uma saraivada de críticas quando tentaram — em vão — salvar os preconceitos populares desacreditados.
II
Say emergiu vitoriosamente de suas discussões com Malthus e Sismondi. Ele provou sua tese, ao passo que seus adversários não conseguiam provar a deles. Assim sendo, durante todo o resto do século XIX, o reconhecimento da verdade contida na Lei de Say era a marca distintiva de um economista. Aqueles autores e políticos que tornavam a suposta escassez de moeda responsável por todos os males e advogavam a inflação como uma panacéia não eram mais considerados economistas, mas “monetaristas ranzinzas”.
Os embates entre os defensores da moeda estável e os inflacionistas perpetuaram-se por muitas décadas. Mas não eram mais considerados uma controvérsia entre várias escolas econômicas. Eram vistos como um conflito entre economistas e anti-economistas, entre homens racionais e fanáticos ignorantes. Quando todos os países civilizados haviam adotado o padrão ouro ou o padrão de trocas em ouro, a causa da inflação parecia ter perdido para sempre.
A economia não se contentou com o que Smith e Say haviam ensinado sobre os problemas envolvidos. Ela desenvolveu um sistema integrado de teoremas que demonstrava convincentemente o absurdo dos sofismas inflacionistas. Ela retratou em detalhe as consequências inevitáveis de um aumento na quantidade de moeda em circulação e de uma expansão de crédito. Ela elaborou a teoria monetária ou de circulação do crédito do ciclo de negócios que demonstrava claramente como a recorrência de depressões comerciais é provocada pelas tentativas repetidas de “estimular” os negócios por meio de expansão de crédito. Assim, ela provou conclusivamente que a depressão, cujo surgimento os inflacionistas atribuíam a uma insuficiência da oferta de moeda, é, pelo contrário, a consequência necessária de tentativas de remover essa suposta escassez de moeda por meio de expansão do crédito.
Os economistas não contestaram o fato de que uma expansão de crédito em seu estágio inicial promove o crescimento dos negócios. Mas eles salientaram que esse crescimento artificial necessariamente ruirá após um tempo e produzirá uma depressão geral. Essa demonstração
poderia seduzir estadistas preocupados com a promoção do bem-estar duradouro de seu país. Ela não poderia influenciar demagogos que não se importam com nada exceto com o sucesso nas próximas eleições e que não se preocupam minimamente com o que acontecerá depois de amanhã. Mas são exatamente essas pessoas que se tornaram soberanas nesse tempo de guerras e de revoluções. A despeito de todos os ensinamentos dos economistas, a inflação e a expansão de crédito foram erguidas ao posto de primeiro princípio de política econômica. Quase todos os governos estão agora comprometidos com gastos irresponsáveis e financiam seus déficits emitindo quantidades adicionais de papel-moeda não-resgatáveis e com expansões creditícias ilimitadas.
Os grandes economistas foram arautos de novas ideias. As políticas econômicas que eles recomendavam discrepavam das políticas praticadas por governos contemporâneos e por partidos políticos. Por via de regra, muitos anos, até mesmo décadas, passavam antes que a opinião pública aceitasse as novas ideias transmitidas pelos economistas e antes que as necessárias mudanças correspondentes nas políticas fossem efetuadas.
Tudo foi diferente com a “nova economia” de Lord Keynes. As políticas que ele defendia eram exatamente aquelas que quase todos os governos, inclusive o inglês, já haviam adotado muitos anos antes de sua Teoria geral ser publicada. Keynes não foi um inovador e defensor de novos métodos de gerir assuntos econômicos. Sua contribuição consistiu, na verdade, em oferecer uma justificação visível às políticas que eram populares entre aqueles no poder apesar do fato de todos os economistas verem-nas como desastrosas. Seu feito foi racionalizar as políticas já praticadas. Ele não foi um “revolucionário”, como alguns de seus adeptos chamavam-no. A “revolução keynesiana” ocorreu antes de Keynes aprová-la e fabricar uma justificação pseudo-científica para ela. O que ele de fato fez foi escrever uma defesa das políticas prevalentes dos governos.
Isso explica o rápido sucesso do seu livro. Ele foi recebido entusiasticamente pelos governos e pelos partidos políticos dominantes. Um novo tipo de intelectuais foi particularmente arrebatado: os “economistas do governo”. Eles haviam sentido um peso na consciência. Eles estavam cientes do fato de que estavam executando políticas que todos os economistas condenavam como indesejáveis e desastrosas. Agora eles se sentiam aliviados. A “nova economia” restabeleceu seu equilíbrio moral. Hoje eles não se envergonham mais de ser o faz-tudo de políticas ruins. Eles se glorificam. Eles são os profetas do novo credo.
III
Os epítetos exuberantes que esses admiradores conferiram à sua obra não obscurecem o fato de que Keynes não refutou a Lei de Say. Ele a rejeitou emocionalmente, mas não apresentou um único argumento sustentável para invalidar seu fundamento lógico.
Keynes tampouco tentou refutar por meio de raciocínios discursivos as lições da economia moderna. Ele optou por ignorá-las, e isso foi tudo. Ele nunca enunciou qualquer palavra de crítica séria contra o teorema de que aumentar a quantidade de moeda não pode produzir nada exceto, por um lado, favorecer alguns grupos em detrimento de outros grupos, e, por outro lado, promover investimentos ruins e dissipação de capital. Ele se perdia completamente quando se tratava de apresentar qualquer argumento sólido para demolir a teoria monetária do ciclo de negócios. Tudo que ele fez foi reviver os dogmas auto-contraditórios das várias seitas do inflacionismo. Ele não acrescentou nada às suposições de seus predecessores, da antiga Birmingham School of Little Shilling Men à Silvio Gesell. Ele simplesmente traduziu seus sofismas — refutados uma centena de vezes — para a linguagem questionável da economia matemática. Ele ignorou todas as objeções que homens como Jevons, Walras e Wicksell — para citar apenas alguns — opunham às expansões dos inflacionistas.
O mesmo ocorre com seus discípulos. Eles pensam que chamar “aqueles que não conseguem comover-se admirados com o gênio de Keynes” de coisas como “idiotas” ou “fanáticos bitolados” [2] substitui o raciocínio econômico sólido. Eles acreditam que provaram sua tese repudiando seus adversários como “ortodoxos” ou “neoclássicos”. Eles revelam a mais extrema ignorância ao pensar que sua doutrina está correta porque é nova.
Na verdade, o inflacionismo á a mais antiga de todas as falácias. Era muito popular muito antes dos dias de Smith, Say e Ricardo, contra cujos ensinamentos os keynesianos não apresentam qualquer objeção exceto a de que são antigos.
IV
O sucesso sem precedentes do keynesianismo deve-se ao fato de que ele oferece uma justificação visível às políticas de “gastos deficitários” dos governos contemporâneos. É a pseudo-filosofia daqueles que não conseguem pensar em nada mais do que dissipar o capital acumulado pelas gerações anteriores.
Contudo, nenhuma expansão de autores, não importa quão brilhante e sofisticada, pode alterar as perenes leis econômicas. Elas são e funcionam e cuidam-se sozinhas. Não obstante todas as fulminações apaixonadas dos porta-vozes dos governos, as consequências inevitáveis do inflacionismo e do expansionismo, como retratadas pelos economistas “ortodoxos”, estão passando a ocorrer. E então, muitíssimo tarde, mesmo as pessoas simples descobrirão que Keynes não nos ensinou como operar o “milagre (…) de transformar a pedra em pão” [3], mas, sim, o procedimento nada milagroso de comer o milho para semear. [4]
Originalmente publicado na The Freeman, no dia 30 de outubro de 1950. Republicado com a permissão da Foundation for Economic Education.
Notas
[1] P. M. Sweezy em The New Economics, ed. por S. E. Harris, New York, 1947, p. 105.
[2] Professor G. Haberle, “The General Theory” em The New Economics, ibid., p. 161.
[3] Keynes, “Proposals for an International Clearing Union, em The New Economics, ibid, p. 332.
[4] Cf. Henry Hazlitt, The Failure of the New Economics, cap. 3 sobre “Keynes vs. Say’s Law”, pp. 32-43. Arlinton House, New Rochelle, New York, 1959.

SOBRE O AUTOR

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Ludwig von Mises foi o principal pensador da escola austríaca de economia.

Venezuela aprofunda o caos economico: penuria de dolares

Não existe país na América Latina mais repleto de dólares do que a Venezuela. E, no entanto, acumula atrasados de mais de 9 bilhões da moeda do Império estadounudense, como dizem com desprezo os companheiros, inclusive seus amigos bolivarianos.
Com a Argentina, é o pais candidato mais próximo a uma crise cambial, ou seja, desvalorização e empobrecimento geral de suas respectivas populações. Aqui no Brasil tambėm, os companheiros adoram uma desvalorização, são grandes amigos da burguesia dita exportadora.
Paulo Roberto de Almeida

Falta de dólar faz Venezuela atrasar pagamento a exportador brasileiro

A escassez de divisas na Venezuela está provocando um atraso no pagamentos dos importadores do país aos seus fornecedores e já afeta o comércio com outros países, entre eles o Brasil. Consultorias privadas e entidades empresariais venezuelanas estimam que o Cadivi, órgão governamental de administração de divisas, acumula um atraso na entrega de US$ 8 bilhões a US$ 9 bilhões a importadores locais. Desse total, cerca de US$ 1,5 bilhão seriam para pagar exportações brasileiras para o país vizinho, segundo cálculos da Câmara de Comércio e Indústria Venezuelano-Brasileira (Cavenbra).

Leia mais em:

EUA: governo Obama viola a Constituicao

Group wants special court to release ruling on unlawful U.S. surveillance

Ellen Nakashima 

May 22, 4:02 PM

A civil liberties group is set to file a motion Thursday asking a special federal court to allow the release of a classified opinion that found the government engaged in unlawful surveillance on Americans.
The Electronic Frontier Foundation is turning to the Foreign Intelligence Surveillance Court after the Justice Department refused to release the court’s opinion under a Freedom of Information Act request.
The opinion’s existence wasrevealed in July by Sen. Ron Wyden(D-Ore.), who disclosed, with federal officials’ permission, that on “at least one occasion” the court had ruled that the government’s surveillance violated the Fourth Amendment’s protection against unreasonable searches and seizures.
The opinion involved the government’s collection of communications under a 2008 amendment to the Foreign Intelligence Surveillance Act, which broadened the government’s authority to collect e-mails and phone calls of foreign targets in the United States.
The court, which handles applications for surveillance under that law, conducts its proceedings in secret. Its opinions are generally classified.
The Justice Department argued in a separate U.S. District Court proceeding that disclosure of the opinion should be barred because it “implicates classified intelligence sources and methods.”
But it also said that the proper place to seek access to the opinion was the surveillance court itself.
David Sobel, an attorney for the Electronic Frontier Foundation, said the government is playing “a shell game.” He noted that in 2007, when the American Civil Liberties Union asked the surveillance court to release a different opinion, the Justice Department argued that the group should file an FOIA request to the department.
This “DOJ-imposed Catch-22 blocks the public from knowing more about the government’s illegal surveillance,” the group said in a statement.
In a letter to Wyden last year, Kathleen Turner, director of legislative affairs for the Office of the Director of National Intelligence, said the government had “remedied” the surveillance court’s concerns.

O racismo em construcao no Brasil: oficial, promovido pelo Estado, e nao menos vergonhoso

Racistas são racistas, independentes da cor da pele. Existem racistas brancos (hoje acuados) e existem racistas negros (ou que se pretendem tal), hoje triunfantes, gloriosos, babando de vontade de acuar os brancos, racistas ou não, ou seja, todo mundo que não for preto, retinto ou aproximado (eles aceitam afrodescendentes moreninhos, menos os de pele clara, que talvez sejam os traidores da raça...).
Ainda vamos ultrapassar a África do Sul numa modalidade bem mais ampla de Apartheid...
Paulo Roberto de Almeida


Reinaldo Azevedo, 22/05/2013

Está de parabéns o juiz José Carlos do Vale Madeira, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Maranhão, que teve a coragem de defender a Constituição da República Federativa do Brasil. Vejam a que ponto chegamos: ter de parabenizar um juiz por… seguir a lei! O que Vale Madeira fez? Suspendeu editais do Prêmio Funarte de Arte Negra, do Ministério da Cultura, destinados apenas a projetos de “criadores negros”. Segundo o juiz, eles “abrem um acintoso e perigoso espectro de desigualdade racial”. Na mosca! O jornal O Globo não retrata a realidade ao afirmar que ele suspendeu os “editais de incentivo à cultura negra”. Errado! O problema não está em incentivar a cultura negra (na suposição de que ela exista, claro!, o que é falso). A odiosa discriminação — contra negros e não negros — está em restringir os projetos a pessoas que tenham uma determinada cor de pele.
A coisa é de tal sorte estúpida que a Funarte se recusou a receber o projeto de dez negros que, sob direção do dançarino Irineu Nogueira, também negro, tentaram inscrever o espetáculo “Afro Xplosion Brasil”. Ana Claudia Souza, diretora do Centro de Programas Integrados (CEPIN) da Funarte, informou que o grupo foi vetado porque está sendo representado pela Cooperativa Paulista de Dança, cujo presidente, o bailarino Sandro Borelli, é branco!!! Tratava-se de mera questão burocrática. O grupo apresentou a proposta por intermédio de uma pessoa jurídica para evitar o desconto de 27,5% do Imposto de Renda na verba pedida, de R$ 150 mil.
Marta Suplicy, a artífice genial da ideia, não teve dúvida: no programa “Bom Dia, Ministro”, desta quarta, classificou a decisão do juiz de “racista” e anunciou que o governo já recorreu. Essa grande pensadora institui um projeto que discrimina as pessoas pela cor da pele, em flagrante desrespeito à Constituição, mas chama de “racista” o ato que restabelece o império da lei.
O primeiro edital foi lançado no dia 20 de novembro do ano passado. O prazo teve de ser dilatado duas vezes porque os projetos não apareciam. No rádio, afirmou a preclara:
“No começo tivemos poucas pessoas apresentando projetos. Então nos demos conta de que os criadores negros não tinham acesso a esse edital. Quando pedimos para as regionais do Ministério da Cultura fazerem seminários, irem atrás das comunidades, das instituições negras, de 18 projetos chegamos a mais de dois mil (foram, no total, 2.827). Hoje temos o problema inverso, de selecionar para as poucas vagas que temos.”
É parolagem das grossas. Até os beneficiários do Bolsa Família (com suposta renda entre R$ 70 e R$ 140) têm acesso, como reconhece o governo, a telefone celular e redes sociais! São os excluídos sociais digitalmente incluídos, uma nova categoria criada pelo petismo, entendem?… Por que os “criadores negros” não teriam acesso aos editais? O que o governo fez foi buscar uma solução para o problema que ele próprio criou. Como os projetos não apareciam — e não porque negros sejam incapazes disso, é óbvio —, o ministério teve de dar um jeito de pari-los. E por que não apareciam? Porque o Brasil é menos racista do que o governo. País afora, apenas uma minoria extrema de criadores negros rejeita a presença de brancos.
De resto, “cultura negra”, assim como “cultura indígena” ou “cultura branca” são mistificações criadas pelo pensamento politicamente correto.  Não existem! Mas deixo para outro post.

A Argentina afunda no populismo demagogico

Sem comentários (ou já feitos...).
Aliás, só um: depois de tudo o que se passou, e não só ali, mas também em outros lugares próximos, como é que líderes políticos conseguem ser tão néscios?
Eles não conhecem a história passada, não leram sobre ela?
E vejam que alguns são viejitos para ter vivido os tempos sombrios da decadência econômica, da fuga de capitais, da hiperinflação.
São caolhos, ou estúpidos mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
May 22, 2013

Argentina: Increases of Cash Handouts to Poor

By THE ASSOCIATED PRESS

Argentina’s president has announced increases of as much as 35 percent in cash handouts to the poor, students, pregnant women and retirees. President Cristina Fernández de Kirchner said the programs also will reach nearly 700,000 more children, expanding the social safety net and encouraging consumer spending this election year. She said the total cost of the subsidies would grow $7.8 billion a year.
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Cristina anunció que "movimientos sociales y juveniles" controlarán los precios

Dijo que serán desplegados en todo el país, en el marco de una campaña llamada "Mirar para cuidar". Habló de "operativo permanente". Y aseguró que el Gobierno "no va a dejar librados" los precios "a la buena voluntad de los empresarios".
22/05/13 - 19:08
En medio de la escasez de productos en las góndolas de los supermercados y con un congelamiento parcial de precios vigente, la Presidenta anunció que "movimientos sociales y juveniles" controlarán esos precios, para así intentar contrarrestar la inflación en la canasta básica.
En un discurso ofrecido por cadena nacional, Cristina afirmó que "no vamos a dejar el acuerdo de precios a la buena voluntad y vamos a utilizar la fuerza de los movimientos políticos y juveniles para desplegarlos en todo el territorio". La campaña será llamada "Mirar para cuidar" y será un "operativo permanente".
Además, reclamó a los empresarios "generar empleo" ya que el Estado ya "tiene políticas activas", al tiempo que resaltó la necesidad de mantener "el nivel de consumo y de gente ocupada".
"El tema no es el aumento de precios sino producir mas", afirmó la mandataria. En ese sentido, pidió a los empresarios "si hay que tomar a alguien", hacerlo.
Pero la situación en los supermercados es más compleja. De hecho, mucho de los productos que integran la nueva canasta congeleada que elaboró el secretario de Comercio, Guillermo Moreno, no están en las góndolas. Según una recorrida de Clarín por supermercados de la Ciudad, faltan los productos más populares y económicos. De la lista representativa de 500 productos, entre el 50 y el 70 por ciento no pudo ser encontrado.
Por eso, varias asociaciones planean exigir la creación de una cláusula de garantía de stock. Fernando Blanco Muiño, presidente de la Unión de Consumidores de Argentina, sostuvo que la medida implica "que los supermercados se comprometan y obligen a ofrecer en góndola los productos del listado a toda hora, sin limitación alguna de cantidad y permanente en el tiempo que dure el congelamiento". 
Para Muiño, el no incluir esa cláusula, significa lanzar "una política pública incompleta y que, tal como sucedió con el congelamiento que venció el pasado 30 de abril, direccionada al fracaso".
En tanto, Héctor Polino, de Consumidores Libres, dijo que la lista "tiene muy poca verdura y fruta, nada de pescado, poca variedad de carne vacuna. En contraposición, mucha variedad de galletitas (21 presentaciones) y de sal fina y sal gruesa. También muchas presentaciones de vinagre y yerba mate, cincro presentaciones de palitos salados y helado bombón, que no es indispensable en la mesa familiar".

O Mercosul afunda na sua irrelevancia - Editorial O Globo

Um pequeno problema com esse editorial: o retrocesso a uma ZLC, em lugar de uma UA esfarrapada e ridícula como é hoje, não vai tirar o Mercosul de sua irrelevância, e tampouco ajudar o Brasil, cujos instintos protecionistas são quase tão fortes quanto os da Argentina.
Paulo Roberto de Almeida
Economia

Brasil imobilizado pela crise do Mercosul (Editorial)

O Globo, 22/05/2013
Não se pode menosprezar o papel do Mercosul na distensão geopolítica no extremo do continente, e como alavanca no comércio entre os países do bloco.
Foi graças à perspicácia dos presidentes José Sarney e Raúl Alfonsin que Brasil e Argentina, no início dos respectivos processos de redemocratização, em meados da década de 80, estabeleceram as bases diplomáticas para a criação do bloco comercial, com a adesão de Uruguai e Paraguai.
Assim como é preciso reconhecer os avanços, tem-se de admitir os problemas. Faz tempo que o Mercosul, como união aduaneira, não atende mais aos interesses brasileiros e passou a servir de camisa de força para o país.
O bloco trincou, por força da crise econômica e institucional argentina, e entrou em crise pelo crescente protecionismo do vizinho. Uma contradição em termos com o conceito de união aduaneira, cujo mecanismo básico da tarifa externa comum foi jogado no lixo pela Casa Rosada.
Tanto quanto isso, o Brasil atola na anemia do Mercosul numa fase em que no mundo se multiplicam acordos comerciais, com novos blocos e/ou acertos bilaterais, e o país, por força do tratado do qual passou a fazer parte a Venezuela, fica de mãos atadas por necessitar da aprovação de todos os parceiros para assinar algum desses tratados.
O Uruguai, por exemplo, só faltou sentar-se à mesa para selar um acordo comercial com os Estados Unidos. Foi impedido pelo Mercosul.
No fim de semana, O GLOBO trouxe uma radiografia dos danos já sofridos pelo comércio exterior brasileiro no próprio mercado latino-americano, amplificados pela perda de competitividade da indústria nacional, causada por erros internos de política econômica.
O peso brasileiro nas importações no continente, entre 2008 e 2011, caiu de 11% para 9,7%, espaço ocupado por China, Estados Unidos, Índia e União Europeia. O Brasil perdeu vendas no valor de US$ 7,4 bilhões, basicamente manufaturados.
Entre as causas, destaca-se o protecionismo argentino, diante do qual Brasília é muito condescendente, a perda de competitividade em si brasileira e a agressividade chinesa. Com a consolidação da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru), mais aberta a acordos, e próxima aos EUA, o peso brasileiro ficará ainda menor.
O Itamaraty precisa analisar com seriedade a conversão do Mercosul de união aduaneira numa área de livre comércio, como já foi.
A integração econômica continua, mas, com o fim da tarifa externa única — como se o Mercosul fosse um único país, o que já não é —, cada membro tem liberdade para negociar acordos bilaterais com quem quiser. Sem vetos.
Argentina e Venezuela, refratários ao livre comércio, podem praticar o retrocesso que desejarem. Mantém-se a relativa coesão geopolítica no Cone Sul, e o Brasil fica em condições de rever sua política de inserção nas cadeias produtivas globais, algo urgente para o setor industrial.

A (des)universidade brasileira afunda no anacronismo e na mediocridade

Se eu fosse o Nelson Rodrigues -- um escritor que não tinha medo de chocar e de ser politicamente incorreto -- eu diria que essa questão foi feita por uma militante feminista, mal amada e com desejos de vingança sobre os homens, sobre todos os homens.
Como eu não sou, apenas direi que os formuladores dessa questão não são historiadores, e sim seres patéticos, anacrônicos, absolutamente ridículos nessa transposição de conceitos e temáticas contemporâneas para a Idade Média.
Depois da raiva, ou da estupefação, segundo os casos, vem a confurmação de que, realmente, a universidade brasileira vai afundar no pântano da vastíssima ignorância e da estupidez deliberada, desejada, buscada (e conseguida) de grande parte de seus "profeççoris" de desumanidades.
É para rir ou para chorar?
Paulo Roberto de Almeida

Comentário recebido:

"Olá, Paulo.
O comentário (meio longo) que farei abaixo está fora do tópico. Caso queira, descarte.

Depois de me aposentar no TRE-Xxxxxx e vir morar em [bonita capital do Sul maravilha], decidi prestar concurso para professor de História/História Antiga e Medieval, na UFXX.

Minha formação correspondia aos pre-requisitos exigidos para o certame, é claro. Mas o surpreendente - no sentido negativo do termo - foi o tema de um dos dois tópicos sorteados para a prova escrita. Era ele: "Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade no mundo antigo".

É claro que quando vi esse tópico na lista dos 17 listados, eu achei ridículo. Mas quando ele foi sorteado, eu não me contive e abri a minha prova escrita com o seguinte comentário: já imaginaram Sócrates, ou um alto funcionário do Egito Antigo ou mesmo um centurião romano discutindo a relação com sua querida companheira helênica, egípcia ou romana?

É inacreditável: aplicam-se conceitos do séc. XIX (sexualidade é um conceito freudiano, como todo mundo civilizado sabe) ou do ideológico e literário século XX (relações de gênero) numa prova para professores de História Antiga e Medieval.

E, aliás, apesar de se tratar de professor de História Antiga e Medieval, todos os 17 tópicos versaram sobre História Antiga (ou, como você pode comprovar, sobre um arremedo medonho e pós-moderno de História Antiga).

Esta é a universidade federal brasileira, na modalidade "Ciências Humanas" que se vê hoje.

O resultado da prova escrita sai amanhã. Seja ele qual for, eu me considero uma lamentável perdedora.

O Brasil é um país de miercoles."

Minha solidariedade, e o registro aqui, que serve como protesto e denúncia. Os, ou as, energúmen@s que prepararam a prova saberão que é deles, ou delas mesmo que estou falando.
Posso até apostar que, sob o anacronismo gritante da questão, se esconde uma combinação das mais fraudulentas para atribuir a vaga para alguém previamente escolhid@.
Essa patifaria é hoje a universidade brasileira no que antes se chamava Humanidades, e que se converteu hoje numa ação entre boçais da mesma tribo ideológica.
Paulo Roberto de Almeida

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COMPLEMENTO: 


Paulo,

fiquei muito feliz com suas palavras. Sem querer ser piegas - mas já sendo - creio que um diplomata de verdade tem, entre outras funções de muita dignidade - defender os cidadãos brasileiros que estejam em situação de ameaça e risco. Talvez eu esteja atribuindo valores muito românticos e glamourosos à vocação a que você ouviu o chamado.

De qualquer maneira, Paulo, eu me senti defendida e acolhida com a sua corajosa solidariedade.

Quem tem o reconhecimento e o apreço de uma pessoa especial como você, é claro que não precisa ser aprovada em nenhum certame, principalmente do tipo destes incertos no quesito lisura.

Só mais um detalhe: é claro que não consegui os 70 pontos necessários na prova escrita. Sabe que no atual contexto universitário brasileiro eu estou me sentindo honrada com a reprovação?

Copiei do edital da UFXX para todas as áreas do "conhecimento" o trecho do edital para professor de História Antiga e Medieval. Veja os tópicos 5 e 7, por favor. Observe que o de número 5 (o outro tópico que foi sorteado) eles escreveram "circulação" e tascaram um ponto final. Circulação de quê, caras pálidas? Circulação de ar? Se for, isto prova que eles são, na melhor das hipóteses, uns cabeças de vento. Isto se não forem cabeças de camarão.

14.1.9.4 – Departamento de História

14.1.9.4.1 – Área/Subárea de Conhecimento: História/História Antiga e Medieval: 1) História Antiga: conceito e periodização; 2) Mito e ritual no mundo Antigo; 3) Artes e pensamento no mundo Antigo; 4) Trocas culturais no mundo Antigo; 5) Trocas econômicas e circulação na Antiguidade; 6) Crenças e vida religiosa no mundo antigo; 7) Vida doméstica, relações de gênero e sexualidade na Antiguidade; 8) Trabalho e produção no mundo antigo; 9) Poder e Lei na Antiguidade; 10) Formas de Organização Política no mundo antigo; 11) Metodologias de pesquisa e produção do conhecimento na Antiguidade; 12) Historiografia e modelos interpretativos sobre a Antiguidade; 13) Fontes e documentos para o estudo da História Antiga; 14) "Ocidente" e "Oriente" nos estudos sobre o mundo antigo; 15) O mundo antigo no ensino de história; 16) Conceitos de tempo e história no mundo antigo; 17) Cultura material: pesquisa e interpretação.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A Constituicao antieconomica do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho antigo, que agora reapareceu no meu radar, por ter sido colocado à disposição pelos serviços da Secretaria de Edições Técnicas do Senado Federal, que edita a Revista de Informação Legislativa, onde ele foi publicado originalmente.
Neste link: http://www2.senado.gov.br/bdsf/handle/id/176537


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National Intelligence Council 2030 - prospectiva do mundo (segundo os EUA)

National Intelligence Council

Global Trends

The National Intelligence Council's (NIC) Global Trends Report engages expertise from outside government on factors of such as globalization, demography and the environment, producing a forward-looking document to aid policymakers in their long term planning on key issues of worldwide importance.
Since the first report was released in 1997, the audience for each Global Trends report has expanded, generating more interest and reaching a broader audience that the one that preceded it. A new Global Trends report is published every four years following the U.S. presidential election.

Global Trends 2030: Alternative Worlds

Global Trends 2030 is intended to stimulate thinking about the rapid and vast geopolitical changes characterizing the world today and possible global trajectories over the next 15 years. As with the NIC’s previous Global Trends reports, we do not seek to predict the future—which would be an impossible feat—but instead provide a framework for thinking about possible futures and their implications.
In-depth research, detailed modeling and a variety of analytical tools drawn from public, private and academic sources were employed in the production of Global Trends 2030. NIC leadership engaged with experts in nearly 20 countries—from think tanks, banks, government offices and business groups—to solicit reviews of the report.

Global Trends 2030 Cover
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This edition of Global Trends is most widely disseminated in its history. The report is available for the most popular content platforms and e-readers as well as via PDF.  Brief talking points are available here.

Visit the NIC's Global Trends 2030: Alternative Worlds Hub Page for additional information on live events, multimedia content and more.

O Itamaraty e a opiniao publica - Oliver Stuenkel

O Itamaraty pode engajar a sociedade civil?

2013 MAY 9
by Oliver Stuenkel
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ITAMARATY
No final de 2011, durante uma reunião em Nova Déli na qual participaram Shashi Tharoor, ex-Ministro de Estado das Relações Exteriores da Índia, e vários outros diplomatas indianos, um dos palestrantes agradeceu a Tharoor por ter ajudado o Ministério das Relações Exteriores da Índia a “começar a entender como se pode usar as mídias sociais para engajar a sociedade civil”. Ele admitiu que o número de seguidores da conta do Ministério no Twitterainda era baixo; atualmente está em 79.800. A conta pessoal da Shashi Tharoor, por sua vez, tinha 22 vezes mais seguidores, e está, no momento, em 1.75 milhões, o que faz dele um dos políticos mais populares de nossos tempos. O que parecia certo para os diplomatas ali presentes é que o establishment da política externa indiana precisava fazer mais para engajar a sociedade civil, através de uma estratégia astuta dirigida às mídias sociais, de uma estrutura organizacional transparente, e de uma equipe profissional de funcionários de relações públicas. Se não fosse assim, como poderia o governo indiano angariar apoio público para suas estratégias complexas de política externa, como, por exemplo, para a construção de sua presença militar no Oceano Índico, para o fortalecimento dos laços com a ex-inimiga China, e para criar apoio global para a reforma do Conselho de Segurança da ONU?

Um debate semelhante acontece no Brasil, outra potência emergente que busca desempenhar um papel maior no cenário internacional. Da mesma forma de que na Índia, os formuladores de política externa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, lutam para convencer a sociedade civil de que o Brasil deve se tornar um ator global com uma forte atuação em diversas áreas ao redor do mundo. Porém, a política externa desempenha apenas um papel marginal no acalorado debate público brasileiro. Os maiores projetos do Itamaraty são frequentemente recebidos com uma mistura de desinteresse e de rejeição, tanto por parte da mídia quanto pela opinião pública. 

Em 2010, quando o Presidente Lula viajou para o Irã para negociar um acordo nuclear com o Presidente Ahmadinejad, a maioria dos formuladores de opinião pública fez duras críticas à decisão, e vários amigos e colegas desaprovaram meu artigo em defesa da viagem. A estratégia brasileira de fortalecer os laços com a África e com o Sul Global é equivocadamente caracterizada, muitas vezes, como uma empreitada puramente ideológica, embora seja lentamente aceita pelo mainstream político. Como escrevi recentemente, a maior parte da sociedade civil, da mídia e da área acadêmica do Brasil permanece cética quanto ao conceito dos BRICS, que é uma das estratégias mais inovadoras do governo para diversificar suas parceiras e pressionar pela reforma da governança global. Por fim, um dos projetos mais ambiciosos do Brasil para o longo prazo, a reforma do Conselho de Segurança da ONU (e a inclusão do país como membro permanente), costuma ser visto pelos cidadãos brasileiros como um projeto de elite quixotesco e amorfo. 

Até certo ponto, isso é natural. O Brasil não tem tradição de desempenhar um grande papel na arena internacional. Há apenas algumas décadas, o número de embaixadas brasileiras ao redor do mundo era relativamente pequeno comparado com as 139 embaixadas atualmente mantidas pelo país. A ideia de que o Brasil pudesse ter um papel importante a desempenhar no Oriente Médio teria soado esquisita na década de 90, quando o Brasil apenas começava a se consolidar econômica e politicamente. Estudantes universitários brasileiros e jovens profissionais são a primeira geração que se sente à vontade com um Brasil internacionalmente ativo, profundamente envolvido em regiões distantes que não parecem ter virtualmente nenhum impacto discernível sobre a vida do dia a dia no país.

Portanto, parece ser apenas uma questão de tempo até que a opinião pública no Brasil se acostume a estratégias de política externa cada vez mais ambiciosas. Nas universidades, isso já está acontecendo. Existem mais de 100 cursos de graduação em relações internacionais. Mas o Ministério das Relações Exteriores do Brasil pode, certamente, fazer mais de que ficar parado e esperar que a nova geração tome o controle. Isso é o que argumenta Matias Spektor em um editorialperspicaz publicado pela Folha de São Paulo. Ele coloca parte da culpa pela superficialidade e pela relativa ausência da política externa no debate público brasileiro sobre a falta de vontade do Itamaraty de engajar e tentar ativamente moldar a opinião pública. Segundo Spektor, ao invés de interagir com a imprensa, os embaixadores brasileiros são instruídos a manter um perfil discreto, o que facilita a circulação de falsos rumores e más interpretações por parte de jornalistas frequentemente desinformados. Ele nota, com razão, que escritores muitas vezes se referem à mídia internacional ao invés de contatar o Ministério das Relações Exteriores. No passado, isso causou problemas. Quando o Brasil negociou com o Irã, o Itamaraty não forneceu informações suficientes à mídia nacional, o que permitiu que uma narrativa com influência americana se estabelecesse, segundo a qual o Brasil estava se comportando de maneira perigosa. 

Sob o Ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, o Itamaraty tem feito tentativas sem precedentes para engajar a sociedade civil, com diversos convites estendidos a representantes de ONGs e acadêmicos para que participem em seminários. Patriota, que passa 40% de seu tempo viajando pelo exterior, frequentemente dá palestras em universidades e participa em discussões sobre política em think tanks, tais como aquela realizada na FGV do Rio de Janeiro no ano passado sobre a “Responsabilidade ao Proteger”. 

Contudo, Spektor também enfatiza que o Itamaraty precisa empregar o Twitter e o YouTube de maneira mais engajadora. É interessante notar que a conta no Twitter do Itamaraty tem quase o mesmo número de seguidores de que a do Ministério das Relações Exteriores da Índia, uma realização bastante impressionante quando se considera que a população do Brasil é cinco vezes menor do que a da Índia. 

Mesmo assim, a sociedade civil indiana parece dar maior apoio às aspirações globais da Índia do que a sociedade brasileira dá a seu próprio governo. Há fatores estruturais que podem explicar isso, como a complexidade da vizinhança, as guerras relativamente recentes com o Paquistão e a China, e uma elite anglófona que estabelece laços e redes ao redor do mundo com maior facilidade. A Índia também se beneficia de uma cultura de think tanks que produz uma avalanche anual de artigos e livros contendo pareceres sobre política externa, o que fortalece o debate público. E os formuladores de política externa da Índia também fazem sua parte. O próprio Shashi Tharoor simboliza o crescente engajamento global indiano. Com seu mais recente livro, “Pax Indica”, ele conseguiu engajar leitores que pouco se importavam, antes, com política externa. A palestra do TED de Tharoor sobre a ascensão de seu país foi vista mais de 600.000 vezes no mundo todo e fortaleceu o debate doméstico sobre o papel da Índia em assuntos globais; acredita-se, inclusive, que tenha inspirado muitos jovens indianos a tentarem entrar para o serviço diplomático do país. O Itamaraty certamente tem um número suficiente de diplomatas talentosos para seguir o exemplo de Tharoor.

Leia também: 

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Sindrome de transtorno bipolar (o Governo, claro) - Mansueto Almeida


Piorou o humor do mercado com o Brasil

Mansueto Almeida, 21/05/2013

Em recente almoço no início deste mês, em Brasília, com representantes de um dos maiores fundos de investimento do mundo, um deles resumiu bem a impressão que ficou da última visita ao Brasil: “Nessa nossa última visita ao Brasil fiquei com a impressão que o setor privado e governo estão em mundos diferentes. O setor privado continua com elevada incerteza e preocupado com o rumo da política econômica e o governo tem convicção que tem adotado as medidas corretas“.
Em outro almoço com um grupo de investidores de um fundo soberano escutei que: “todos os países do mundo têm problemas. Mas, no caso do Brasil, estamos com a sensação que as pessoas no governo se negam a ver os problemas e isso nos deixa decepcionados. Quando as coisas iam bem, éramos recebidos aqui em Brasília pelo primeiro escalão. Depois passamos a ser recebidos pelo segundo escalão. Agora, temos dificuldades de nos reunir com o terceiro escalão.”
Essa turma faz o circuito tradicional dos investidores: Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília e sempre conversam com o mesmo grupo de economistas. O que tem me assustado é a velocidade da piora do humor desses investidores em relação ao Brasil. Isso significa relatórios mais pessimistas, diminuição da exposição das aplicações dos fundos que eles representam no Brasil e maior incerteza.
Infelizmente, além de eu não ter mandato para defender o governo, o máximo que consigo argumentar é que apesar de o cenário econômico ter piorado e não esperar nenhuma reforma substancial até as eleições, espero que o próximo governo retome a agenda de reformas. Sim, mesmo na hipótese de a presidente Dilma ser reeleita acho que haverá mudanças na equipe econômica e sempre recorro ao “pragmatismo da presidente” – “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. É claro que isso é uma aposta (e esperança), mas vale lembrar que o governo demonizava as privatizações e hoje jogou a toalha – começou a privatizar rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, etc., apesar das incertezas regulatórias.
Independentemente de o governo valorizar ou não a opinião de investidores externos sobre o Brasil, há hoje um déficit de confiança crescente em relação ao rumo da política econômica e os investidores começaram a apostar em um cenário muito pior para o Brasil; um cenário que estava completamente fora do radar há três anos.
Além do editorial desta semana do Financial Times (go-go to go-slow) que falou da falsa sensação de bem estar no Brasil, o relatório de hoje da consultoria de análise macroeconômica Capital Economics sobre o Brasil traz um cenário bastante morno e aponta corretamente o problema de nossa baixa taxa de poupança:
“Accordingly, without measures to raise domestic savings, it will be difficult to achieve a significant rise in investment. Among other things, this will require bold (and unpopular) welfare reforms, including to Brazil’s generous public pension system. And we doubt the government has the apetite for such measures, particularly with elections looming in 2014.
The upshot of all this is that Brazil’s savings – and investment – rate looks set to stay low by Emerging Markets standards. In macro-economic terms, this means that growth is likely to remain lacklustre and accompanied by relatively high rates of inflation. (from Why Brazil Must Save to Invest – Capital Economics May, 21st 2103).
Não há mais o que questionar, o humor do mercado em relação ao Brasil mudou e ainda não há sinais que o governo esteja conseguindo reverter as expetativas. Ao contrário, a cada visita desses investidores estrangeiros em Brasília eles saem mais pessimistas. Chegamos a um ponto, na minha modesta opinião, que o desafio agora não é apenas melhorar a comunicação com o mercado, mas sinalizar também mudanças concretas na política econômica, o que parece, por enquanto difícil.