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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

"Inflação no centro da meta, só em 2015", diz Almeida (sim, mas nao sou eu; e' o Mansueto)

Entrevista


"Inflação no centro da meta, só em 2015", diz Almeida


Eliane Velloso, Edla Lula e Paulo Henrique de Noronha
Brasil Econômico12/08/2013
"Tanto este ano quanto no próximo as expectativas para a inflação estão girando em torno de 5,8% ou 6%", diz Mansueto Almeida.

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O pesquisador e economista do IPEA, Mansueto Almeida, traça um cenário sombrio para a economia brasileira.

Semana passada, quando a presidente Dilma Rousseff comemorou o resultado do IPCA de julho dizendo que "a inflação está sob controle", Mansueto Almeida, economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), postou em seu blog: "Quem fala isso, é porque não entende de economia e/ou não olhou os dados".
Duro crítico da política econômica oficial, que usa regularmente a internet para expor suas conclusões, Mansueto, que é PhD em Políticas Públicas pelo prestigiado Massachussets Institute of Technology (MIT), enumera, nesta entrevista ao Brasil Econômico, uma série de erros que o governo vem cometendo na economia - a começar por sua comunicação.
Ele lembra que no final do ano passado, na hora de explicar as medidas para reverter o superávit fiscal e o PIB abaixo da meta, "todo mundo do governo desapareceu, a sociedade ficou sem saber o que eram aquelas medidas". Mansueto traça um cenário sombrio para a economia brasileira, dizendo que o governo fez apostas erradas.
Está preocupado, por exemplo, com o excesso de subsídios e desonerações, que um dia terão que ser pagos - "não tem almoço grátis". E diz que, se em 2014 o dólar chegar a R$ 2,40, a Petrobras terá que reajustar o preço dos combustíveis.
"Quem ganhar a eleição no próximo ano, logo após assumir, terá uma agenda muito difícil. O ano de 2015 será de ajustes, não será possível ficar fazendo mais do mesmo", prevê, acrescentando que trazer a inflação para a meta será tarefa para o novo governo, em 2015.
O senhor é um crítico ácido e frequente da política econômica oficial. Afinal, o que está errado?
Há um conjunto de coisas erradas. O governo fez algumas apostas, de que o crescimento no país iria retornar e a taxa de investimento aumentar, baseado em políticas como o direcionamento de créditos para alguns segmentos, mais subsídios para determinados tipos de investimentos, e algumas desonerações tributárias mais específicas para setores diferentes. Uma série de coisas que poderiam ter dado certo, mas que de fato não entregaram o resultado esperado.
Com o tempo, os investidores externos e domésticos foram ficando apreensivos e perdendo a confiança no potencial de crescimento da economia brasileira. Além disso, alguns indicadores pioraram muito. Nossa taxa de investimento hoje é de 18% do Produto Interno Bruto (PIB) e há um déficit em conta corrente que caminha para 4% do PIB.
Nossa economia fiscal, no início deste governo, era de 3,1% do PIB e agora o superávit caminha para metade disso. Então, há uma série de indicadores que, na margem, pioraram. Há uma incerteza muito grande em relação ao futuro da economia brasileira e as medidas do governo para tentar solucionar não estão sendo muito efetivas, não trazem o benefício esperado. O mais grave é o problema de comunicação do governo com a sociedade e o mercado. Essa falta de transparência não era necessária.
Em que medida esta falta de transparência em relação às contas públicas interfere na performance da economia brasileira?
Isso cria uma série de incertezas desnecessárias. Um exemplo bom é o resultado fiscal do ano passado. Em agosto ou setembro já se sabia que o crescimento seria ruim, que o governo não teria condições de cumprir a meta de superávit primário. Mas em vez de fazer aquilo que fez em 2009, quando claramente mostrou que não seria possível cumprir a meta e reduzi-la, o governo optou, na última semana do ano, na véspera de um feriado, por adotar uma série de medidas.
Todo mundo do governo desapareceu para dar explicações sobre o que estava acontecendo. A sociedade ficou sem saber o que eram aquelas medidas, tomadas apenas para cumprir a meta do superávit primário. Esse tipo de ação sem transparência e sem uma comunicação efetiva com a sociedade é muito ruim para a credibilidade da política econômica.
Quando começou a se deteriorar essa comunicação?
Em meados do ano passado. Tivemos dois movimentos simultâneos. Piorou a interlocução do Ministério da Fazenda com o Banco Central e piorou a comunicação da equipe econômica com a sociedade e com o mercado. No momento em que a gente teve frustração na expectativa de crescimento econômico, o Ministério da Fazenda começou a adotar um tom mais otimista na tentativa de reverter as expectativas pessimistas.
Mas esse tom otimista fez com que o diagnóstico da equipe econômica se distanciasse cada vez mais do diagnóstico do mercado financeiro e dos analistas independentes. Aí começou um diálogo entre cegos e mudos. Analistas qui e lá fora estavam muito preocupados e apreensivos com os rumos da economia brasileira e, de outro lado, havia a convicção externada por membros da equipe econômica de que as coisas estavam caminhando na direção correta e que o crescimento iria voltar. Parecia até que analistas e governo estavam vivendo em mundos paralelos...
Será que o governo foi pego de surpresa por essa mudança de cenário e, sem saber o que responder, se retraiu?
Talvez seja um pouco disso. Falar pelo governo é sempre muito delicado, mas faz parte do jogo. Mesmo quando a situação está ruim, os policy makers (elaboradores de políticas) têm que tentar mostrar que conhecem a situação, que estão a par dos problemas e que estão adotando as medidas adequadas.
Na realidade, isso nunca foi feito de forma muito clara no ano passado. E foi piorando com o passar do tempo. Talvez porque parte da equipe econômica tivesse incertezas e não queria externar, e acabou se retraindo. Isso dificultou até o anúncio da agenda positiva do governo. As concessões são um bom exemplo. Quando se tem incertezas, a posição do mercado e dos investidores é sempre se retrair e esperar a poeira baixar.
O senhor comunga da ideia de que o governo abandonou o tripé macroeconômico de câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário?
Não diria que abandonou, mas tenho convicção de que a gestão do tripé macroeconômico piorou bastante, especialmente na questão fiscal e nas metas de inflação. Nos últimos cinco anos, com exceção de 2009, a inflação vem ficando próxima a 6% ao ano. Antes, quando a inflação esperada para o ano seguinte se distanciava da meta, o Banco Central (BC) tomava medidas para aproximar a taxa para o centro.
Nos últimos anos, isso não ocorreu. Ninguém acreditava que o BC iria tomar as medidas necessárias para trazer a inflação para o centro da meta. E quando isso ocorre num mercado de trabalho aquecido, você causa um problema, porque as pessoas vão demandar reajustes salariais baseados não no centro da meta, mas numa taxa de 6%. O custo disso é muito alto.
O último dado de inflação (variação do IPCA em apenas 0,03% em julho), que é muito bom, eu diria que é um ponto fora da curva. Os preços livres nos últimos meses estão rodando a 8% ao ano. O que trouxe a inflação para baixo foi o preço administrado. Combustível, tarifa de transporte urbano. São coisas que conseguem segurar por algum tempo, mas não por muito tempo.
A última vez que teve aumento de tarifa de transportes em São Paulo foi em 2011. Ano passado não teve, este ano não teve, próximo ano é eleitoral, provavelmente não terá. Mas em algum momento vai ter que reajustar, ou vai causar um prejuízo brutal para o setor privado. Você tem hoje um fato novo que é a desvalorização do real. E isso também contribui para aumentar um pouco a inflação.
E qual é a sua expectativa de inflação?
Tanto este ano quanto no próximo as expectativas estão girando em torno de 5,8% ou 6%. Ninguém espera que a inflação vá voltar para o centro da meta nem este ano, nem no próximo. Essa é uma agenda que ficou para o próximo governo.
O governo tem demonstrado uma tendência de recorrer a subsídios para segurar as tarifas controladas. Essa política é sustentável?
Tudo isso tem um custo. E nada é sustentável. Uma das primeiras coisas que a gente aprende no curso de Economia é que não existe almoço de graça. O governo vai ter que pagar de alguma forma o empresário que tem a concessão pública e a única forma de pagar é com recursos públicos. Ele vai ter que pegar esse dinheiro que estava planejando gastar em outro serviço público e vai jogar no transporte para cobrir o prejuízo que os empresários estão tendo, porque não puderam aumentar tarifas.
Ano passado o governo fez o descasamento entre o preço internacional do petróleo e o preço vendido aqui no mercado doméstico. A fórmula era permitir que parte da Cide fosse direcionada para a Petrobras. A gente não tem mais essa opção. Se o câmbio continuar em R$ 2,30 e eventualmente for para R$ 2,40 em 2014, a Petrobras vai ter que reajustar o combustível, em um ano de eleições.
O que acha de alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal para se investir em mobilidade urbana?
Não se deve mudar a lei. Devese analisar cada caso e discutir no Senado no âmbito da Comissão de Assuntos Econômicos. Aumentar o endividamento faria sentido se fizesse parte de uma rediscussão do pacto federativo. O que as pessoas esquecem é que a carga tributária no Brasil é muito elevada, é 36% do PIB para um país de renda média em torno de US$ 10.500 - é a maior carga tributária do mundo para países com nosso nível de desenvolvimento.
Não vamos resolver nossos problemas aumentando a carga para 45% do PIB. Mas quando a gente olha todas as propostas em discussão - aumentar recursos para a saúde, para a educação, investir em mobilidade - se somar tudo, a gente vai caminhar para uma carga de 45% do PIB. Será necessário definir o que é prioritário, o que deve ser subsidiado, o que deve ser cobrado e fazer o investimento correspondente.
Relatórios de bancos estrangeiros estão considerando o mau humor do mercado com relação ao Brasil... isso afeta os investimentos externos?
O investimento estrangeiro direto continua em um nível muito elevado, o dinheiro continua entrando até porque, com o dólar elevado, ficou mais barato investir aqui. Por outro lado, como aumentou a incerteza do investidor, ele cada vez mais vai exigir uma taxa de retorno maior. O aumento de incertezas é que torna os investimentos mais caros.
Outro problema é que como estamos entre os cinco maiores destinos de investimento externo nos últimos três anos, esse movimento se direciona para o setor extrativo (mineração ou petróleo e gás) ou de serviços, não torna o Brasil uma economia mais exportadora. O segundo ponto é que a captação de dinheiro lá fora é importante para empresas e para bancos domésticos e isso vai ficar cada vez mais difícil nesse cenário de incertezas.
O governo errou ao adotar medidas como as desonerações?
O governo falhou em várias coisas. O Brasil era um país que, depois da redemocratização, adotou várias reformas, que continuaram até o primeiro mandato de Lula. Mas a partir de 2006 essa agenda ficou esquecida, parou, e não houve mais mudanças institucionais. Houve apenas a criação do fundo de previdência dos servidores públicos. As outras reformas foram muito tímidas.
Há uma agenda longa de redução do custo Brasil: cortar impostos, aumentar investimento público, facilitar a abertura e encerramento de empresas. Todo investimento na área de portos, rodovias e ferrovias demorou muito. Quando se pega qualquer comparação internacional, a qualidade de nossa infraestrutura é sempremal avaliada.
Isso tem relação também com a regulação: o número de impostos e o tempo que o empresário gasta para cumprir a legislação tributária fiscal. Há estudos antigos mostrando que esse é um problema grave e que a gente não avançou em praticamente nada nos últimos seis anos.
E a indústria? Está realmente patinando?
Até 2008 havia um crescimento de vendas e a indústria acompanhava esse movimento. A partir dali, surgiu um mundo diferente, com excesso de produtos manufaturados no restante do mundo. E descobriu-se que o custo de produção no Brasil é muito caro. Seja para produzir algo intensivo em trabalho, como sapato, seja para produzir máquinas e equipamentos.
Quando é para produzir algo intensivo em trabalho, como nas indústrias de confecção, calçados e brinquedos, a gente não consegue concorrer com os asiáticos, que têm o custo da mão de obra muito mais barato que o Brasil. Por exemplo, em Bangladesh, o salário mínimo é de US$ 37 e o país exporta US$ 20 bilhões em confecções.
Já na indústria de máquinas e equipamentos, o problema é que não temos a produtividade e nem a tecnologia para concorrer com Japão, Alemanha ou Estados Unidos. A indústria está atrás de descobrir qual é o nicho em que ela vai ser competitiva. O que vemos é que a indústria vai perder participação no PIB. O Brasil falhou na agenda de produtividade, não vem crescendo como deveria.
Ou seja, a indústria terá que se segurar com o mercado interno...
Nem isso. Antigamente o que salvava a indústria era o mercado doméstico. Mas num país em que você tem excesso de produtos manufaturados mais baratos, o varejo importa. A indústria hoje está bastante preocupada, tomando várias medidas para aumentar a produtividade e ter uma estrutura de custo enxuta para ser competitiva. Mas esse é um cenário que a gente não sabe bem como vai evoluir.
Aumentar imposto de importação é uma saída?
Do ponto de vista de proteger a indústria faz sentido,mas é preciso perguntar se o consumidor e o eleitor querem isso. Por que o eleitor votou no governo atual e no governo passado? Porque ele teve um ganho de renda brutal. Todas as análises dos últimos dez anos mostram isso e ninguém pode ir contra os dados. A desigualdade de renda diminuiu. As pessoas premiaram o governo nas eleições porque tiveram acesso maior a crédito, ganho de renda real, puderam comprar eletrodomésticos.
Mas qual seria o caminho?
Há duas agendas. A da indústria é ter que investir mais em inovação e melhorar a gestão da empresa. No Brasil, há uma diferença muito grande na gestão de empresas do mesmo setor. E tem a agenda governamental, que não depende muito dos empresários.
Um ponto é diminuir o número de impostos. Uma empresa pequena, tanto faz ter dois, quatro ou dez funcionários, se ela não estiver no Simples, terá que contratar um contador, pois o empresário não conhece a legislação. O custo que vai pagar para levar o produto ao porto e quanto tempo vai levar para exportar é um problema que não depende do empresário, depende de haver boas estradas e portos eficientes.
E o BNDES?
O BNDES é um banco que, sem ajuda nenhuma do Tesouro, tem capacidade de empréstimo anual perto de R$ 100 bilhões. É um valor muito alto em qualquer lugar do mundo. Mas nos últimos cinco anos o governo começou a aumentar seu endividamento para dar recursos ao BNDES. Isso talvez fosse necessário em 2009, quando houve a crise.
Mas muito do que se fez foi desnecessário. O aumento do endividamento foi muito rápido e numa magnitude grande. O total de empréstimos do Tesouro para bancos públicos no final de 2007 era de R$ 14 bilhões, o equivalente a 0,4% do PIB. O último dado, de junho, mostra o total de empréstimos para bancos públicos em R$ 438 bilhões, equivalente a 9,6% do PIB. Saímos de 0,4% para 9,6%.
Parte era necessário, mas parte não. Como empréstimos ou parcerias com empresas privadas muito boas, que poderiam pegar recursos com bancos privados. Comparando, um dos programas sociais que todos reconhecem que funciona no Brasil, o Bolsa Família, favorece 40 milhões de pessoas e custa 0,5% do PIB.
E a participação dos bancos comerciais na oferta de crédito?
Os bancos públicos tiveram uma ampliação muito grande da oferta de crédito em 2009 e isso fez sentido porque havia uma retração enorme por parte dos bancos privados. Depois é que não fez muito sentido. Em 2011 e 2012 houve a redução forçada dos juros nos bancos públicos, o governo teve sucesso nisso, porque havia excesso de liquidez no mercado internacional. Os bancos públicos expandiram muito os empréstimos porque usam recursos subsidiados. Eu receio que tenha havido exagero na expansão desse tipo de empréstimo dos bancos públicos.
O Brasil pode reduzir os juros e também os bancos puderam reduzir os juros de forma relativamente rápida, mas era visível que aquilo não seria sustentável. Se você olhar os balanços que estão saindo dos bancos privados, apesar de eles terem reduzido a concessão dos empréstimos, a oferta de créditos continua aumentando, só que numa velocidade menor que a dos bancos públicos. O lucro dos bancos privados cresce - então eles estão fazendo corretamente.
É bom ter banco público, é bom ter competição. Mas tem que ter cuidado para não quebrar o banco público. Não se pode forçar os bancos a determinados tipos de políticas que eles não vão ter condições de cumprir. A gente fez isso nos anos 70 e 80 e deu no que deu.
A política de estímulo ao consumo se esgotou?
Claramente, sim. A economia está crescendo muito menos e, embora o nível de desemprego esteja baixo, o risco de desemprego aumentou e a renda real não está crescendo tão forte quanto antes. E o consumidor está mais endividado. Ninguém sabe como tudo isso vai evoluir, mas o consumidor está apreensivo.
Só com a expectativa de mudanças na política monetária dos EUA, o dólar chegou a R$ 2,30. Quando os EUA de fato iniciarem essa política, o que vai impactar efetivamente no Brasil?
Se eles aumentarem um pouquinho a taxa de juros, que o mercado esperava mais para 2015, isso claramente afeta o fluxo de capital para países emergentes. Significa que a gente terá um câmbio muito mais desvalorizado e taxas de juros maiores. Câmbio desvalorizado ajuda a indústria, mas também deixa mais caro vários insumos. E taxas de juros maiores afetam o crédito para consumo e capital de giro.
O que vai acontecer nos próximos anos ainda é uma incerteza muito grande, mas eu diria até que os EUA não se recuperando de forma muito rápida é melhor para o Brasil no curto prazo. E no longo prazo é muito bom ter uma economia norte-americana mais forte. Só que isso vai exigir um dever de casa do brasileiro. Se a recuperação for mais rápida do que todo mundo espera, no curto prazo o Brasil vai sentir isso em juros, em câmbio e em fuga de capitais. O problema é que todos os analistas mostram que o cenário de crescimento que havia até 2008 não vai se repetir nas próximas duas décadas.
E a gente tem um problema adicional. Com a taxa de desemprego muito baixa, é mais difícil conseguir mão de obra qualificada. Hoje, a agenda de crescimento da produtividade para o Brasil é ainda mais importante do que era dez anos atrás. Naquela época, quando começou o ciclo recente de crescimento, que foi até 2010, se partiu de uma economia com desemprego em 12%. Agora, a taxa é de 6% e passamos por mudanças demográficas rápidas. Para crescer, será preciso fazer uma série de reformas e aumentar a produtividade. Não dá para apenas comprar mais máquinas e dar emprego, porque não vai ter mão de obra.
E o orçamento federal?
Ninguém dá muita bola para o orçamento no Brasil, quando na verdade deveria ser a votação mais importante do ano. Há alguns problemas. Primeiro, grande parte dos subsídios no Brasil não passa pelo orçamento, a sociedade não tem dimensão do volume de subsídio concedido e nem se discute quem está recebendo esse subsídio.
Outro grande problema é que o governo não faz o debate do que é prioritário, deixa os deputados e senadores fazerem várias emendas. O orçamento sai do Congresso com um volume de investimento muito acima do que você sabe que terá capacidade de executar. E, logo no início do ano, se faz o contingenciamento. Aí, antes e depois de votações importantes ao longo do ano, o governo negocia com sua base quais emendas vai executar, ou não.
E se mudar para o orçamento impositivo?
Do ponto de vista da economia, não vai acontecer nada. Porque um governo que quer gastar muito e é premiado pela sociedade para gastar muito, vai continuar gastando muito. Mas muda a relação entre o Congresso e o Executivo. Se o orçamento impositivo passar, o governo vai ter que executar o que for aprovado. Então a base de negociação entre governo e Congresso passa a se dar na discussão orçamentária. E aí o poder de barganha passa das mãos do Executivo para o Legislativo. O problema é mais político do que econômico.
Qual sua expectativa para a economia brasileira em 2014?
A gente vai ficar em banho-maria, com alguma agenda positiva na área de concessões, como o leilão dos campos do pré-sal. Quem quer que ganhe a eleição no próximo ano, logo depois da eleição vai ter uma agenda muito difícil. O ano de 2015 vai ser um ano de ajustes, não será possível ficar fazendo mais do mesmo. Nos últimos dez anos, a economia cresceu, a pobreza caiu, as desigualdades diminuíram. Mas há muitas outras coisas que não podem mais ser feitas. Por exemplo, o próximo governo deve colocar para a sociedade a rediscussão do cálculo do reajuste do salário mínimo.
Há uma discussão no mercado sobre o fim do "prazo de validade" do ministro Guido Mantega e da equipe econômica. Qual a sua avaliação?
Eu até entendo essa apreensão do mercado. Mas o ministro da Fazenda, apesar das críticas que se possa ter à atuação dele, é uma pessoa simpática e que cumpre ordens. Quando o Mantega foi presidente do BNDES, não havia esses megaempréstimos do Tesouro para o banco. Mas isso não é o ministro da Fazenda, é uma equipe de Fazenda, com o consentimento do presidente da República.
Agora, depois da eleição de 2014, a agenda para qualquer que seja o governo vai exigir uma atuação diferente do que fez a equipe econômica que está aí. Essa é uma equipe muito boa para expandir crédito público, conceder crédito subsidiado num momento em que o problema do Brasil era de falta de demanda. Mas esse não é mais o problema do Brasil. Hoje o problema do Brasil está ligado a questões de oferta.

O Brasil e a outra bomba: balanço de pagamentos - Fabio Giambiagi

Olhem o balanço de pagamentos
Fabio Giambiagi
O Globo, 12/08/2013

Lester Thurow, antigo professor do MIT, dizia que "as sociedades têm uma tendência a cometer erros fundamentais a intervalos de 60 anos, uma vez que todo mundo com idade bastante para se lembrar do engano anterior a essa altura já está morto ou senil". Já nosso Ivan Lessa disse a mesma coisa, mas com outra métrica, quando escreveu que "de 15 em 15 anos, o Brasil se esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos".
Independentemente do intervalo de tempo em que as sociedades esquecem o passado, é natural que aqueles que vivenciamos as agruras dele observemos o presente com olhos diferentes daqueles que só conhecem o passado pelos livros de História. E, nesse sentido, para os mais velhos, a trajetória recente do nosso balanço de pagamentos é bastante preocupante.
É verdade que o funcionamento da economia em um regime de câmbio flutuante é muito diferente da forma em que uma economia opera com câmbio fixo ou rígido. Basicamente, com câmbio flutuante, na presença de uma desvalorização entram em jogo estabilizadores automáticos que não estão presentes quando a política cambial é rígida. Primeiro, pela mudança da paridade cambial em si, que altera os preços relativos de exportações e importações e modifica com o passar do tempo o resultado da balança comercial. E, segundo, porque enquanto que numa economia com câmbio fixo ou semifixo, há um certo valor em US$ de diversos itens da despesa, com câmbio flutuante tal valor é uma função da própria cotação cambial. Um exemplo simples ajuda a entender isso: se há R$ 30 bilhões a serem remetidos por conta de lucros e dividendos a uma cotação de R$ 2 por dólar, a remessa dessa rubrica será de US$ 15 bilhões, mas, se a cotação pular, só como hipótese de raciocínio, para R$ 3, o mesmo valor na moeda local, se medido em dólares, passa a ser de US$ 10 bilhões.
De qualquer forma, qualquer que seja a política cambial, desequilíbrios elevados na conta corrente de um país submetem este a um risco importante: o de o financiamento externo "secar". Nesse caso, o país terá que se ajustar, tão rapidamente quanto for a intensidade do movimento da conta de capitais.
O que nos mostram os números? Vejamos a trajetória do déficit em conta corrente do país. Até 2007, tinhamos um pequeno superávit. Em 2008, tivemos um déficit de US$ 28 bilhões, contido no ano seguinte para US$ 24 bilhões por conta da crise. Depois, ele só fez aumentar, chegando a US$ 54 bilhões em 2012, com perspectiva de chegar perto de US$ 80 bilhões em 2013.
Esses números, que em épocas anteriores teriam ligado o sinal vermelho da política econômica, são vistos com tranqüilidade tanto pelos gabinetes oficiais como por analistas privados, com dois argumentos. Um, de que haveria financiamento externo disponível. E o segundo, de que em termos relativos seria da ordem de 3% do PIB - percentual considerado aceitável. O problema é que ambos argumentos têm sua dose de vulnerabilidade. O financiamento externo existe até que deixa de existir - e, muitas vezes, isso ocorre subitamente. E o percentual do déficit é ele mesmo função da taxa de câmbio: se a fonte externa de recursos secar e o câmbio se desvalorizar, o valor do PIB em US$ cai e 3% do PIB podem virar 4% do PIB em pouco tempo - entrando em terreno mais delicado. Além disso, o déficit em dólares continua aumentando.

O país, que fez um ótimo ajuste externo na década passada, a ponto de ter eliminado a dívida externa líquida, parece ter se deixado seduzir pelo "canto de sereia" do financiamento externo. Tomás Eloy Martinez, autor de "La novela de Perón", coloca em boca deste a frase que ele teria dito ao afirmar que "a História é uma piranha", pois "sempre fica com quem paga mais". E quem paga mais é sempre o último, porque o relato que conta na História é sempre o derradeiro. Desde 2004, a demanda doméstica avançou na frente da produção, "festa" essa financiada pelo resto do mundo. Se essa relação não for revertida, cedo ou tarde teremos uma crise. O Governo precisa tomar cuidado: se o financiamento externo "secar", a história das gestões Lula-Dilma acabará sendo reescrita - e, se tanta gente foi para a rua mesmo com desemprego baixo, dá para imaginar o tamanho da confusão se tivermos uma crise para valer.

O Brasil e a bomba: Geisel deixou as opcoes abertas, de fato apoiou um programa paralelo...

Geisel admitiu possibilidade de construir a bomba atômica brasileira

Em reunião em 1974, presidente manifestou o temor de que a Argentina testasse uma arma nuclear

11 de agosto de 2013 | 21h 13
Marcelo de Moraes - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Arquivos secretos do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) mostram que o ex-presidente Ernesto Geisel admitiu a possibilidade de o Brasil construir sua arma atômica dentro de sua política nuclear. Em exposição feita ao Alto Comando das Forças Armadas, em 10 de junho de 1974, Geisel reconhece a preocupação do governo e dos militares em relação ao fato de a Índia ter detonado uma bomba atômica e à possibilidade de os vizinhos argentinos também o fazerem.
Por conta disso, afirmou que considerava como um dos pontos básicos a serem adotados "desenvolver uma tecnologia para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos, o que nos permitirá, inclusive, se necessário, dispor de nossa própria arma", disse o general.
A fala de Geisel aos militares é um momento marcante de seu mandato, quando decidiu se encontrar com o Alto Comando em Brasília, numa reunião secreta no início de seu mandato presidencial e apresentar o que considerava como aspectos mais importantes. A reprodução da fala do presidente faz parte do acervo do EMFA, que acaba de ser liberado pelo Arquivo Nacional, em Brasília, e ao qual o Estado teve acesso.
Geisel fez questão de abordar a questão nuclear com o Alto Comando. "Por seus importantes reflexos sobre a segurança nacional, não desejo encerrar esta exposição sem uma referência especial à política nacional para o uso da energia nuclear", avisou.
E demonstra sua preocupação em evitar que o Brasil fique para trás em questão de desenvolvimento no setor, tanto para fins econômicos, através da produção de energia, quanto no campo militar. Nesse momento, ele trata abertamente da preocupação com eventuais avanços da Argentina nesse setor.
"A explosão recente de uma bomba nuclear pela Índia provocou comoção mundial e temos que considerar a hipótese de, em futuro não longínquo, a Argentina também pode explodir a sua. Evidentemente, isto gera inquietação entre nós e todos indagam qual será a posição do Brasil face à situação", diz.
Geisel lembra aos presentes que, em anos anteriores, o Brasil teve "a preocupação de preservar relativa liberdade de ação nesse campo". E que, "por isso, o governo Castello Branco decidiu que o Brasil não deveria abrir mão do direito de realizar explosão nuclear para fins pacíficos, bem como não assinou, mais tarde, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, a despeito das fortes pressões exercidas pelas potências atômicas".
O  general compara o quadro nuclear brasileiro com o da Argentina, lembrando que os vizinhos tiveram "relativa facilidade de encontrar urânio", sendo "mais favorecida pela natureza que o Brasil". E avaliou que ficaram em situação favorável para produzir armas nucleares.
"Ora, dispondo de urânio, orientaram-se para a geração de energia partindo do urânio natural, ficando na dependência, apenas, da importação de água pesada. Certamente consideraram, também, que a solução adotada, embora muito menos econômica, permite obter consideráveis quantidades de plutônio, que pode servir para construir a arma nuclear", explica.
"O governo brasileiro, com vistas à obtenção de energia elétrica, preferiu o processo atualmente mais econômico, que é o da utilização do urânio enriquecido. Por essa razão, contratou-se com firmas americanas a construção da Usina de Angra dos Reis, à base de urânio enriquecido. Pelas condições do contrato, o urânio que será usado em Angra dos Reis está sujeito a salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica e por isso teremos que restituir o plutônio produzido", diz.
"Nesse quadro, devemos evitar a abordagem passional do problema, capaz de nos conduzir a decisões precipitadas, por influência das supostas possibilidades ou intenções da Argentina", acrescenta.
Apesar disso, Geisel avisa aos militares presentes que estava em fase de revisão o conceito estratégico nacional "formulado anos atrás". E foi direto: "Dentro da necessidade de atualização, ressaltada pelo EMFA, o conceito deverá abranger a hipótese de guerra continental envolvendo a Argentina".
No discurso, Geisel trata de tudo, de política interna a economia. Feito dez anos depois da tomada do poder pelos militares é quase uma carta de intenções do presidente, que avisa considerar uma anormalidade os militares exercerem o poder no País, além do uso de atos de exceção. Afirmou também que fazia parte de sua missão preparar o Brasil para retomar o governo democrático. E que se não o fizesse a missão caberia ao seu sucessor – como acabou acontecendo com o general João Batista de Figueiredo, último presidente militar. Geisel, porém, avisou que não abriria mão de utilizar os instrumentos de que dispunha para manter a ordem no País.
O documento com a íntegra da fala de Geisel foi registrado nos arquivos do EMFA pelo general Hugo Abreu, então ministro do gabinete militar do presidente. O jornalista Elio Gaspari faz referência a trechos desse discurso na sua monumental série de livros sobre a ditadura. Seu acesso a essa fala presidencial, segundo registra sua obra, foi feita através de um calhamaço de 40 folhas anotadas por Heitor Ferreira, então secretário de Geisel.

Pequeno erro de diagnostico na economia brasileira - Vinicius Torres Freire (FSP)

Um pequeno destaque para a segunda matéria:


  • A Secom, que formula a estratégia de comunicação da Presidência, é o órgão mais gastador da administração direta, tendo sido responsável pelo desembolso de R$ 1,68 bilhão no período de dez anos. Ela é seguida pelos ministérios da Saúde, das Cidades e da Educação.

As apostas não realizadas na economia
Vinicius Torres Freire
Folha de S.Paulo, 09/08/2013

Na primeira vez em que reuniu seus ministros, 13 dias depois de tomar posse, Dilma Rousseff acreditava que o Brasil cresceria em média 5,9% ao ano, um ritmo 50% mais rápido que o dos anos Lula. Os economistas do governo diziam, com a anuência da presidente, que o crescimento seria de 5% em 2011, 5,5% em 2012 e 6,5% em cada ano do biênio final do mandato.
A inflação cairia até chegar a 4,5% em 2012. Não haveria mais "ajuste fiscal" (redução do déficit das contas do governo), mas "consolidação fiscal", pois o "ajuste clássico" provocaria desemprego e baixa dos investimentos. Haveria "racionalização das despesas e aumento da eficiência do gasto público".
Em setembro, com o caldo daquele ano de 2011 entornado, a presidente e seus economistas não mais previam, mas se davam a meta de fazer o país crescer 4% ao ano. O governo pouparia o equivalente a 3,1% do PIB das suas receitas. O país cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012 e deve crescer algo entre 1,8% e 2,7% neste 2013. O déficit aumentou, a inflação foi maior.
O governo assumiu com a ideia de que o Brasil estava pronto para crescer no ritmo mais rápido de sua história. Eram desnecessárias mudanças institucionais (leis, rearranjos do Estado, da intervenção na economia etc.), entre outras. Ansioso, depois desesperado, o governo atacou com estímulos desordenados ao consumo, como um time de futebol fraco e pueril que parte em massa para o ataque a fim de virar o jogo, levando goleada infame.

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Dilma supera Lula nas despesas com propaganda; juntos, gastaram R$ 16 bi

Fernando Gallo
O Estado de S.Paulo, 11 de agosto de 2013 | 23h 09

Média anual é 23% maior com atual presidente, que vai tentar reeleição em 2014; montante desembolsado daria para pagar quase duas obras de transposição do São Francisco

Os gastos com propaganda do governo federal nos dois primeiros anos da gestão de Dilma Rousseff, incluindo estatais, é 23% maior, na média, do que nos oito anos de mandato de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente também vem gastando mais - cerca de 15% -, na média, na comparação com o segundo mandato de Lula.
Ao todo, em dez anos de governo petista foram desembolsados, incluindo todos os órgãos da administração, cerca de R$ 16 bilhões, em valores corrigidos pela inflação, segundo levantamento inédito do Estado.
A quantia é quase igual aos R$ 15,8 bilhões que o governo pretende investir no programa Mais Médicos até 2014. Com o valor também seria possível fazer quase duas obras de transposição do Rio São Francisco, atualmente orçada em R$ 8,2 bilhões.
Em mobilidade urbana, seria possível construir entre 25 km e 30 km de metrô em São Paulo - um terço da atual malha - ou então colocar de pé, na capital paulista, cinco monotrilhos iguais ao que ligará o Jabaquara ao Morumbi, na zona sul, passando pelo aeroporto de Congonhas.
O dinheiro gasto pelo governo com publicidade poderia também manter congelada em R$ 3 a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo durante 50 anos.
Ainda para efeito de comparação, o valor é duas vezes superior aos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que Dilma anunciou para a capital paulista há dez dias, e que servirá para construir 127 km de corredores de ônibus, recuperar os mananciais das represas Billings e Guarapiranga, drenar vários córregos da capital e construir moradias para 20 mil famílias.
Os dados sobre os gastos com publicidade foram solicitados, via Lei de Acesso à Informação, a cada um dos órgãos que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) informou ter assinado algum contrato publicitário desde 2003. Os dados foram computados com base na resposta fornecida por eles - o governo federal afirmou que não dispõe dessas informações de maneira centralizada.
Ao comentar os resultados do levantamento, o governo ressaltou que as despesas da administração direta - ministérios e Presidência - têm o objetivo de "levar à população, em todo o território nacional, informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a que tem direito e prestar contas sobre a utilização dos recursos orçamentários".
No caso dos gastos da administração indireta, como as estatais, o governo argumentou que se trata de empresas que, apesar de públicas, concorrem no mercado, portanto precisam ter a imagem bem trabalhada.
Atualmente Dilma enfrenta problemas de popularidade, que já bateu recordes, mas, depois das manifestações de junho, enfrentou uma forte queda. No fim de semana, o Datafolha divulgou nova pesquisa que mostra uma pequena recuperação da aprovação do governo.
Médias comparadas. Nos dois primeiros anos de mandato da presidente Dilma, o governo federal gastou R$ 3,56 bilhões, média de R$ 1,78 bilhão por ano.
Nos oito anos de Lula, o governo desembolsou R$ 11,52 bilhões, média de R$ 1,44 bilhão. No primeiro mandato, a média foi de R$ 1,32 bilhão. No segundo, de R$ 1,55 bilhão - sempre lembrando que se trata de valores atualizados pela inflação.
O dado global de gastos com propaganda, de R$ 16 bilhões, pode ser, na verdade, ainda bem maior. Isso porque o Banco do Brasil se recusou a informar os seus gastos com publicidade entre 2003 e 2009.
Só há dados disponíveis de 2010 a 2012. Por essa razão, a fim de evitar distorções, os dados referentes ao banco só foram incluídos no valor global, ou seja, nos R$ 16 bilhões, mas descartados na comparação entre os anos.
Apenas para se ter uma ideia, entre 2010 e 2012, o Banco do Brasil gastou, também em valores corrigidos pela inflação, R$ 962,3 milhões com publicidade, média anual de R$ 320,7 milhões. É, no período, o segundo órgão que mais gastou, atrás da Caixa Econômica Federal.
Banco do Brasil à parte, a Caixa Econômica, a Petrobrás e os Correios, somados, representam 51,12% de tudo o que o governo destinou a ações publicitárias nos dez anos de gestão petista.
Por causa do peso dessas três gigantes, a administração indireta - que engloba autarquias, fundações, sociedades de economia mista, empresas públicas e agências reguladoras - concentrou 69,4% dos gastos do governo com publicidade.
Três companhias energéticas que integram a administração indireta - Alagoas, Piauí e Rondônia - não responderam ao questionamento do Estado.
Na administração direta, apenas o Ministério do Trabalho e Emprego não enviou seus dados de despesas com publicidade.
A Secom, que formula a estratégia de comunicação da Presidência, é o órgão mais gastador da administração direta, tendo sido responsável pelo desembolso de R$ 1,68 bilhão no período de dez anos. Ela é seguida pelos ministérios da Saúde, das Cidades e da Educação.
Tanto no caso da administração direta quanto da indireta, houve aumento dos gastos publicitários de 2003 para 2012. No primeiro caso, saltou de R$ 255 milhões para R$ 626 milhões, aumento de 146%. No segundo, de R$ 775 milhões para R$ 1,15 bilhão, crescimento de 48%.
Também nos dois casos, o pico de gastos ocorreu em 2009. A Secom e os ministérios gastaram R$ 752 milhões, e a administração indireta, R$ 1,22 bilhão. Era o terceiro ano do segundo ano de mandato de Lula.

A politica (?) fiscal desmantela a politica monetaria - Editorial Estadao


O esquecimento de Tombini
Editorial O Estado de S.Paulo, 12/08/2013

Faltou o capítulo mais picante - sobre o Tesouro Nacional, os bancos públicos e a política federal de crédito - na exposição sobre o sistema bancário brasileiro apresentada sexta-feira passada pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, na abertura do seminário internacional sobre Riscos, Estabilidade Financeira e Economia Bancária, em São Paulo. Ele teve bons argumentos para descrever o sistema nacional como um dos mais regulados e mais controlados do mundo. A palestra principal seria a do presidente do Banco Central da Suécia, Stefan Ingves, também presidente do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária. Mas o anfitrião poderia, desde logo, e sem a arrogância de alguns colegas de Brasília, exibir um bom exemplo de regulação e supervisão, testado com sucesso em 2007-2008, no estouro da última grande bolha de crédito.
O Brasil, disse Tombini, tem hoje uma capacidade diferenciada de monitoramento do sistema financeiro, graças ao registro obrigatório de todas as operações de crédito e de derivativos. Nenhum outro mecanismo de supervisão é mais amplo. De fato, instituições brasileiras dificilmente poderiam ter ido tão longe quanto as americanas e europeias nas operações originadas do financiamento imobiliário. Não havia, no caso brasileiro, áreas tão escuras e tão fora de controle quanto nos mercados financeiros do mundo rico. Os mecanismos de controle se estendiam, e assim continuam, muito além das transações dos bancos comerciais.
Além disso, regras até mais severas que as desenhadas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), de Basileia, têm sido adotadas há muitos anos no Brasil. Graças aos mecanismos de controle e às ações de prevenção de risco, o sistema tem-se mantido saudável e o País poderá adotar sem dificuldade, como disse Tombini, as normas de Basileia III.
A exposição de Tombini foi irretocável pelo menos sob um aspecto: descreveu com fidelidade o trabalho das autoridades monetárias e financeiras para tornar o sistema confiável e seguro. Mas o cenário seria um tanto diferente se ele se aventurasse, em sua palestra, pelo terreno bem menos seguro das relações entre o governo e as instituições sob seu controle.
Nesse caso, um de seus problemas seria mostrar onde fica a fronteira entre a área fiscal e a do crédito. Teria dificuldade para traçar uma linha precisa, por causa da crescente promiscuidade entre o Tesouro e as instituições financeiras da União.
Desde os primeiros impactos da crise internacional, o governo reconstruiu, sem usar esse nome, os processos da velha conta movimento, uma aberração fiscal e monetária mantida por muitos anos e extinta no final dos anos 80. Na primeira etapa, recursos fiscais foram usados em escala crescente para reforçar o caixa dos bancos federais e facilitar o crédito para investimentos. Na segunda, o Tesouro passou a recorrer, também de forma crescente, a dividendos dessas instituições para arrumar suas contas e garantir, na aparência, a realização do superávit primário programado para o ano.
Só no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Tesouro injetou R$ 285 bilhões entre 2009 e 2012. Essas e outras operações com os bancos federais foram realizadas por meio de aumento da dívida bruta da União.
Ainda em junho, o governo aumentou sua dívida para passar R$ 15 bilhões ao BNDES e R$ 8 bilhões à Caixa. Parte das transferências ao BNDES foi para mantê-lo enquadrado nos padrões de Basileia. Mas esse cuidado tem sido insuficiente para preservar a imagem do banco.
Essa imagem tem sido severamente prejudicada por várias operações mal concebidas, malsucedidas e destinadas, em geral, a favorecer grupos selecionados para tornarem-se campeões nacionais. Os mais de R$ 10 bilhões aplicados no Grupo X, do empresário Eike Batista, apenas alongaram uma enorme lista de ações muito discutíveis.
Regras de Basileia, como disse o presidente Tombini, são apenas manifestações de bom senso. Pouco valem, quando os desmandos partem do governo e envolvem o uso voluntarista do Tesouro e dos bancos estatais.

Paises emergentes NAO sao as locomotivas da economia mundial - WSJ

The Wall Street Journal, August 12, 2013

A força da economia mundial está se deslocando para o mundo desenvolvido, afastando-se das economias emergentes que deram impulso ao crescimento desde a crise financeira.
Pela primeira vez desde meados de 2007, as economias avançadas, incluindo o Japão, os Estados Unidos e a Europa, estão contribuindo coletivamente mais para o crescimento da economia global — que movimenta US$ 74 trilhões — do que países emergentes como a China, a Índia e o Brasil, segundo dados compilados pela firma de investimentos Bridgewater Associates LP.
Getty Images
Sao Paulo
A reviravolta pode redistribuir os fluxos de capital mundiais e derrubar as previsões que grandes empresas acalentaram baseadas numa visão otimista dos mercados emergentes.
Entre as forças motrizes da mudança está um ressurgimento do Japão, que durante anos esteve entre os países de mais fraco desempenho da economia mundial. Economistas projetam que o PIB do Japão cresceu a uma taxa anualizada de 3,6% no último trimestre, um pouco mais lento do que o ritmo de 4,1% do primeiro, mas ainda assim uma mudança drástica depois de anos de estagnação.
A recuperação da economia americana tem produzido um crescimento constante, embora lento. E espera-se que relatórios a serem divulgados esta semana mostrem que a Europa teve ligeira expansão no último trimestre, após uma longa recessão.
Ao mesmo tempo, os países mais fortes do mundo emergente — como Brasil, Rússia, Índia e China — enfrentam dificuldades ou recuam depois de um desempenho estelar nos últimos anos.
A virada poderia criar novos desafios para as empresas ao redor do mundo que mantêm grandes operações globais.
Empresas que vendem para os mercados emergentes já estão sentindo o aperto. As condições em todo o mundo "abrandaram em um grau muito mais elevado do que tínhamos previsto", diz Richard White, diretor-presidente da Flexible Steel Lacing Co., fabricante americana de peças para correias transportadoras usadas no setor manufatureiro e de mineração. A empresa, de capital fechado, tinha feito planos com base em uma desaceleração no crescimento das vendas anuais dos 20% registrados nos últimos anos para 12%. Em vez disso, as vendas se estagnaram, diz White. Como resultado, o executivo diz que paralisou as contratações nos EUA, onde estão 600 dos seus 900 trabalhadores em todo o mundo.
"A causa parece ser a China", diz White, cuja empresa opera em 10 países e vende produtos em mais de 150. "A demanda que eles tinham — a necessidade de minério de ferro, cobre e carvão — estava alimentando a atividade de mineração na Austrália, África do Sul e América do Sul."
A reorganização do mapa do crescimento mundial é incipiente e poderia ser revertida caso as economias emergentes voltem a se recuperar, mesmo que só um pouco.
Muitas economias de mercados emergentes continuam sendo as de crescimento mais rápido do mundo, mesmo que não estejam se expandindo na mesma velocidade de antes. Os economistas esperam que o PIB da China, a segunda maior economia do mundo, cresça a um ritmo de 7,5% este ano, o mais lento desde 1990, mas que supera de longe o crescimento de cerca de 2% previsto para os EUA. Alguns economistas calculam que a China vai crescer de forma ainda mais lenta do que a meta do governo. Os economistas esperam que economias emergentes menores, desde o Sudeste Asiático até a América do Sul, mantenham taxas de crescimento relativamente robustas.
Um sinal de que as economias emergentes não estão se beneficiando diretamente do ressurgimento em países desenvolvidos é o índice de gerentes de compra nesses países, um indicador do crescimento do PIB. Para os países em desenvolvimento, o índice atingiu seu nível mais baixo desde o início de 2009, segundo um indicador agregado compilado pela consultoria econômica Capital Economics. As mesmas medidas para os EUA, Europa e Japão mostram expansão.
A titubeante recuperação da Europa ainda não se traduziu num aumento da atividade comercial que poderia ajudar as economias emergentes. O renascimento do Japão — ele é hoje o país que cresce mais rápido entre as grandes economias desenvolvidas — também não tem beneficiado seus vizinhos. A recuperação do Japão é acompanhada de um iene acentuadamente mais fraco, o que torna as importações mais caras e faz com que os japoneses estejam mais propensos a comprar produtos feitos localmente.
Os dados compilados pela Bridgewater, baseados em parte numa estimativa das taxas atuais de crescimento, em vez de dados oficiais, mostram os EUA, Japão e outros mercados desenvolvidos contribuindo com cerca de 60% dos cerca de US$ 2,4 trilhões na atividade econômica adicional que o mundo registrará este ano, segundo a previsão de economistas. Os mercados emergentes contribuirão com o restante.
Algumas grandes multinacionais afirmam que a desaceleração não é problema. Os emergentes "continuam a ser uma fonte fantástica de oportunidade", disse Herbert Hainer, diretor-presidente da gigante alemã de produtos esportivos Adidas AG,ADS.XE -0.04% a analistas na semana passada.
Mas os resultados da Adidas mostram um impacto de curto prazo. A desaceleração da Rússia pesou sobre seus resultados, disse Hainer, e sua receita na China cresceu 6% no primeiro semestre, em comparação com um crescimento de 19% em igual período do ano passado e de 38% no primeiro semestre de 2011.
Não há uma razão única que explique por que as economias emergentes do mundo estão sofrendo. O aumento das taxas de juros dos EUA, com base em expectativas de que o Federal Reserve vai pisar no freio em seu programa de compra de títulos de dívida, apertou o crédito em algumas partes do mundo emergente que estão expostas aos mercados financeiros globais.
O formato da atual recuperação americana também desempenha um papel. As últimas duas expansões registradas pelos EUA — o boom tecnológico da década de 90 e o boom imobiliário da década de 2000 — foram impulsionadas pela demanda do consumidor, que tem sido relativamente modesta nos últimos anos. Isso significa um crescimento mais lento da demanda por bens estrangeiros.
A atual expansão americana foi impulsionada em parte pela produção doméstica de combustíveis, o que cria demanda para equipamentos feitos nos EUA. E os salários estagnados nos EUA significam que os custos trabalhistas caíram em relação aos de rivais como a China.
A natureza da recuperação americana é um dos indicadores de que o padrão tradicional, em que o crescimento do mundo desenvolvido é apoiado pelos grandes exportadores do mundo emergente, pode estar se rompendo em lugares como a Ásia.
"Nós não podemos andar na carona do Ocidente. A Ásia se tornou muito grande", diz Frederic Neumann, um dos diretores de economia do HSBC HSBA.LN +1.75%para a Ásia.
Indicadores recentes mostram que a desaceleração da China pode estar chegando ao fim, com a produção comercial e industrial dando sinais de recuperação. Mas poucos preveem um retorno às taxas de crescimento de dois dígitos do passado.
E a desaceleração da China tem amortecido a demanda por commodities e outros bens importados, com efeitos de longo alcance na América Latina e no Sudeste Asiático.
O Brasil, a maior economia da América Latina, estagnou em parte devido ao declínio do apetite chinês por produtos como minério de ferro e carvão. O PIB brasileiro cresceu cerca de 1% no ano passado, depois de ter subido notáveis 7,5% em 2010. O real caiu ao longo dos últimos dois anos, somando-se às preocupações com o aumento da inflação. Pelo menos um milhão de manifestantes foram às ruas para protestar em junho deste ano, num reflexo da ansiedade causada pela desaceleração.
Indonésia, a maior economia do Sudeste Asiático, também tem sido golpeada pela desaceleração da China, com uma queda drástica nas exportações de carvão e óleo de palma. O PIB cresceu a um ritmo anualizado de 5,9% no segundo trimestre, o pior resultado desde 2010.
Problemas domésticos também afetam países como a Índia, onde a má administração da economia levou a um declínio da moeda local, a rupia, e a um aumento dos déficits em conta corrente.
Certamente, a desaceleração do crescimento em muitas economias emergentes tem sido suave, aquém de níveis considerados de crise, o que leva algumas multinacionais a manter uma perspectiva positiva.
O lucro da Vale SA, VALE5.BR +3.24% maior produtora de minério de ferro do mundo, caiu por oito trimestres consecutivos. A China é de longe o maior cliente da Vale, mas os chineses vão continuar precisando de minério brasileiro, diz José Carlos Martins, o diretor de estratégia da empresa.
"Há um monte de gente perdendo o sono por causa China", diz ele, "mas eu não".

A destruicao da Petrobras pelos politicos do poder - Diego Escosteguy (revista Epoca)

"Depois que você conhece os bastidores, não dorme mais tranquilo"  (João Augusto Henriques)
Diego Escosteguy
Revista ÉPOCA, 10/08/2013

João Augusto estava em silêncio. Permanecia inclinado à frente, apoiava-­se na mesa com os antebraços. Batia, sem parar, a colherzinha de café na borda do pires – e mantinha o olhar fixo no interlocutor. Parecia alheio à balbúrdia das outras mesas no Café Severino, nos fundos da Livraria Argumento do Leblon, no Rio de Janeiro, naquela noite de sexta‐feira, dia 2 de agosto.
A xícara dele já estava vazia. O segundo copo de água mineral, também. João Augusto falava havia pouco mais de uma hora. Até então, pouco dissera de relevante sobre o assunto que o obrigara a estar ali: as denúncias de corrupção contra diretores ligados ao PMDB, dentro da Petrobras.
Diante dos documentos e das informações obtidos por ÉPOCA sobre sua participação no esquema, João Augusto respondia evasivamente. Por alguma razão incerta, algo mudara nos últimos minutos. O semblante contraído sumira. Esperei que o silêncio dele terminasse.
– O que você quer saber?, disse ele.
– Sobre os negócios, respondi.

Foi então que João Augusto Rezende Henriques disse, sem abaixar a voz ou olhar para os lados: “Do que eu ganhasse (no contratos intermediados com a Petrobras), eu tinha que dar para o partido (PMDB). Era o combinado, um percentual que depende do negócio”. A colherzinha não tilintava mais.

Iniciava-se, ali, um desabafo motivado pelas denúncias que ÉPOCA investigava havia cerca de um mês. O caso envolvia a Petrobras – maior empresa do país, 25a do mundo, com faturamento anual de R$ 281 bilhões. Começara com apenas uma pista: um contrato assinado em 2009, em Buenos Aires, entre o advogado e ex-­deputado Sérgio Tourinho e o argentino Jorge Rottemberg.
No documento, previa-se que Tourinho receberia US$ 10 milhões de uma empresa no Uruguai, um conhecido paraíso fiscal, caso a Petrobras vendesse a refinaria de San Lorenzo, avaliada em US$ 110 milhões, ao empresário Cristóbal Lopez, conhecido como czar do jogo na Argentina e amigo da presidente Cristina Kirchner.
À primeira vista, o contrato não fazia sentido. Por que um lobista de Buenos Aires se comprometeria a pagar US$ 10 milhões a um advogado brasileiro, de Brasília, caso esse advogado, sem experiência na área de energia, conseguisse fechar a venda de uma refinaria da Petrobras na Argentina?
ÉPOCA foi buscar a resposta em entrevistas com partícipes do negócio, parlamentares e funcionários ligados ao PMDB. O advogado Tourinho era sócio dos lobistas do PMDB, que trabalhavam em parceria com Jorge Zelada, diretor internacional da Petrobras desde 2008 e, segundo João Augusto, apadrinhado do PMDB. A operação San Lorenzo, diz ele, não era um caso isolado.

Era mais um dos muitos negócios fechados pelos operadores do PMDB na área internacional da Petrobras. De acordo com João Augusto, todos os contratos na área internacional da Petrobras tinham que passar por ele, João Augusto, que cobrava um pedágio dos empresários interessados.

De acordo com ele, de 60% a 70% do dinheiro arrecadado dos empresários era repassado ao PMDB, sobretudo à bancada mineira do partido na Câmara, principalresponsável pela indicação de Zelada à Petrobras. De acordo com João Augusto, o dinheiro servia para pagar campanhas ou para encher os bolsos dos deputados. O restante, diz ele, era repartido entre ele próprio e seus operadores na Petrobras – os responsáveis pelo encaminhamento dos contratos.
Segundo João Augusto e outros quatro lobistas do PMDB, o dinheiro era distribuído a muita gente em Brasília. A maior parte seguia para os dez deputados do partido em Minas, entre eles o atual ministro da Agricultura, Antonio Andrade, e o presidente da Comissão de Finanças da Câmara, João Magalhães.
O dinheiro, de acordo com João Augusto, não ficava apenas com essa turma. Segundo o relato dele e dos outros lobistas, o secretário das Finanças do PT, João Vaccari, recebeu o equivalente a US$ 8 milhões durante a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010. João Augusto diz que organizou, pessoalmente e por meio de Vaccari, o repasse para a campanha de Dilma.
O dinheiro, segundo ele, foi pago pela Odebrecht, em razão de um contrato bilionário fechado na área internacional da Petrobras, que dependia de aprovação do então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, do PT. À Justiça Eleitoral, a campanha de Dilma declarou ter recebido R$ 2,4 milhões da Odebrecht.
As denúncias de João Augusto são contestadas pelos acusados. Vaccari, secretário de finanças do PT, diz que não era responsável pela tesouraria da campanha de Dilma. Afirma ainda que “todas as doações ao PT são feitas dentro do que determina a legislação em vigor e de uma política de transparência do PT”.
Gabrielli diz, por meio de nota, não ter conversado sobre o contrato da Odebrecht com Vaccari. Zelada afirma desconhecer a atuação de João Augusto na intermediação de contratos na Petrobras e nega ter sido indicado pelo PMDB. A Petrobras informou em nota que não comentaria o assunto.
Apesar de todas as contestações, a reportagem de ÉPOCA confirmou, por meio de entrevistas em três cidades, vários pontos do depoimento de João Augusto. Investigações oficiais ainda são necessárias para apurar todas as suas denúncias.
UMA DIRETORIA PARA O PMDB
Em janeiro de 2008, o presidente Lula aceitou entregar a Diretoria Internacional da Petrobras ao PMDB. Mais especificamente, ao grupo que [hoje] comanda o PMDB da Câmara dos Deputados. Engenheiro de carreira da Petrobras, João Augusto fora apresentado à política em meados dos anos 90, quando era diretor da BR Distribuidora, a empresa de combustíveis da Petrobras. Para fazer qualquer operação de relevo na BR, João Augusto precisava do apoio dos demais diretores. No começo, nunca conseguia.
“Não tinha a menor ideia de como as coisas funcionavam”, diz. “Mas aí conheci o Benjamin Steinbruch (dono da CSN), que me explicou como era preciso ter apoio político para fazer as coisas. O Steinbruch ligou para o Tasso Jereissati (do PSDB), que ligou para o Marcelo Alencar (governador do Rio, também do PSDB).
O Alencar avisou o Joel Rennó (então presidente da Petrobras): ‘Ó, o João Augusto está com a gente’”, diz João Augusto. E ri das lembranças. “Eu não tinha ideia do que ‘estar com a gente’ significava... A partir dali, mudou muito. Da água para o vinho. Tudo passava. Você vai mudando. O mundo real é outro, e eu tinha de me adequar a ele.”
Em pouco tempo, João Augusto migrou dos tucanos para o PMDB – segundo ele, por obra do então deputado Michel Temer. Em 1999, João Augusto prosperava na política e nos negócios. Tinha, segundo ele, apoio do PMDB para virar diretor da Petrobras. Mas uma grave hepatite C o impedira. Para sobreviver, foram precisos dois transplantes de fígado e quatro meses num hospital em Londres.
Na volta ao Brasil, João Augusto deixou a Petrobras. “Fui fazer negócios”, diz. Usava, segundo ele, o conhecimento e a rede de contatos acumulado nos anos de Petrobras para ajudar empresários com interesses na empresa. Sabia que técnicos e diretores a procurar, dependendo do assunto – e, sobretudo, que métodos de persuasão aplicar a cada um.
“A Petrobras tem três tipos de caras: o técnico, o político e o carreirista”, diz. “O técnico não vai mudar o que ele pensa porque você diz. O que ele gosta é de visitar obra, viajar em helicóptero, se sentir importante de vez em quando. Ele acha que merece. O carreirista faz o que chefe mandar. Não quer saber o que é. Nem pensa duas vezes. Hoje é cheio de carreirista. E o político é o que observa as coisas dentro da empresa, atende aos amigos, ao pessoal da área dele, aos políticos. Se você errar a abordagem, confundir um com o outro, você quebra a cara. Eu sei fazer essa abordagem.”
Com todas essas credenciais, João Augusto era o nome favorito do PMDB para assumir a diretoria na Petrobras que Lula prometera aos deputados do partido, em janeiro de 2008. Seu nome, porém, foi barrado na Casa Civil: João Augusto fora condenado pelo Tribunal de Contas da União a pagar uma multa de R$ 500 mil, em virtude de irregularidades cometidas quando ele era diretor da BR Distribuidora.
O deputado Fernando Diniz, que comandava a bancada do PMDB de Minas, comunicou-­lhe o óbice. E pediu um nome alternativo. João Augusto indicou um de seus melhores amigos na empresa, o engenheiro Zelada, que trabalhava com um dos diretores petistas da estatal. Ao nomear Zelada, João Augusto se tornou, segundo deputados e lobistas, o diretor “de fato” da área internacional.
“A função do Zelada era obedecer às ordens de João Augusto”, diz um lobista do PMDB. Para garantir que as operações do partido correriam como esperado, João Augusto recrutou técnicos de sua confiança na Petrobras. Distribuiu, pela área internacional, seus colegas de turma na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sócrates José virou chefe de gabinete de Zelada. Era o cicerone dos parceiros do grupo que visitavam a sede da Petrobras para fazer reuniões. “Se o projeto fosse bom para a Petrobras, eu levava adiante. Fazia isso por amizade”, diz Sócrates.
Ele também tinha como missão reportar o que via e ouvia a João Augusto. José Carlos Amigo assumiu a gerência para América Latina. Essa gerência, segundo João Augusto, esteve envolvida na contratação de um navio-­sonda da empresa Vantage, por US$ 1,6 bilhão – uma operação que, diz ele, rendeu uma comissão de US$ 14,5 milhões, US$ 10 milhões dos quais repassados ao PMDB.
Clóvis Correa virou diretor da Petrobras Argentina, onde a empresa mantinha a refinaria de San Lorenzo. De acordo com João Augusto e os demais envolvidos no negócio, Clóvis participava das reuniões em hotéis e receberia uma parte do “sucesso” de US$ 10 milhões. Fernando Cunha, o único que não estudara com os demais, tornou-‐se gerente para negócios na África.
João Augusto diz que ele participou da compra de um campo na Namíbia, operação encaminhada após ele ter fechado comissão com a empresa que detinha o controle desse campo.
A INCOMPREENSÃO DOS DEPUTADOS

De acordo com os envolvidos, havia uma incompreensão entre os deputados sobre como funcionava a Petrobras e quanto era possível arrecadar por mês. Dois lobistas do PMDB afirmam que fora estipulada uma meta de R$ 150 mil por mês para a bancada. Num almoço na churrascaria Porcão, num domingo de sol no começo de 2009, o deputado Fernando Diniz, ao lado de assessores e de lobistas, reclamou da “performance” de Zelada.
“O‘ Gelada’ não está entregando”, disse aos amigos. Essa percepção é confirmada por João Augusto. “Num primeiro momento, eles (os deputados do PMDB) achavam que tinha um monte de coisa (na Petrobras). Não tinha. Os caras não entendiam. Achavam que estávamos (a dupla João Augusto e Zelada) de má vontade. Não entendiam que a Petrobras tem uma diretoria, um conselho, que não dá para fazer o que quiser”,diz.
A cobrança dos deputados exasperava João Augusto. “Se você não tiver os valores muito enraizados, o cara (político) vem e pega o dinheiro que está na sua carteira”, diz. “Tem que saber lidar. A pior coisa no pedido político é você engavetar. Ou você diz: ‘desse jeito aqui não dá’. Ou diz: ‘posso fazer assim’ (de acordo com os interesses da empresa). Não sou vestal. Gosto de ganhar dinheiro”, diz João Augusto.
“Mas não faço coisa que vai dar prejuízo à Petrobras, como Pasadena (a refinaria nos Estados Unidos na qual a empresa perdeu dinheiro). De zero a dez, numa escala de ética, não sou zero, mas também não sou dez. Bandido eu não sou, não. Sou três ou dois. Tenho que ser reconhecido como um cara técnico, de negócio, mas que não faço m...”
João Augusto faz uma pequena pausa, pede mais uma água mineral e continua: “Quando estava na BR, eu não podia parar o trem. Se tentasse, seria atropelado. Tinha que entrar no trem para levar na direção que eu quisesse. Eu vendia álcool quando era diretor da BR. Você não tem ideia. O Brasil inteiro me procurava. Todo político conhece um usineiro que quer comprar (em melhores condições). O que eu fazia? Fazia uma planilha menor, de coisas que a BR precisava vender mesmo, e deixava separado. Sempre que eu tinha que atender a um pedido político, pegava essa planilha e tentava conciliar o que havia nela, que era interesse da empresa, com o pedido do político.”
O que parece incomodar João Augusto, e talvez tenha contribuído para seu desabafo, seja o desequilíbrio entre os interesses dos políticos, que cobram cada vez mais de operadores como ele, e os interesses da Petrobras. “A Petrobras sempre teve influência política. Mas a decisão era técnica. A política se adequava à técnica. Se, por exemplo, os técnicos decidissem que era preciso ter uma refinaria no Nordeste, os políticos poderiam brigar para escolher em que estado. Mas a refinaria era necessária”, diz.
“De uns tempos para cá, isso se inverteu. Os políticos decidem que haverá uma refinaria no Maranhão ou no Ceará, e os técnicos têm que correr atrás.” Ele credita essa inflexão, como os demais ouvidos nesta reportagem, ao ex­‐presidente Lula. “O PT aparelhou demais. Gente que não tinha capacidade subiu rápido.”
O PROJETO ATREU
A venda da refinaria de San Lorenzo era, para o grupo, o começo da venda de todos os bens da Petrobras na Argentina – algo que, conforme revelou ÉPOCA em abril, quase aconteceu. “Quem descobriu a Argentina fui eu”, diz João Augusto. Foi sugerido a ele que contratasse advogados brasileiros.
“‘A gente que vai fazer negócio fora, seria bom receber por advogado aqui. Tudo bonitinho. Topei. Fizemos o contrato para receber tudo por eles (advogados) e cada um ia receber sua parte depois.” (Por meio de nota, o advogado Sérgio Tourinho afirma que foi contratado “para fazer o acompanhamento jurídico” na venda da refinaria San Lorezo. “Em um determinado momento, me passaram que parte dos meus honorários deveria ser repassado a terceiros. Claro que não concordei. E. por isso. tive o contrato rescindido.”)
Se a refinaria fosse vendida a Cristóbal, o amigo de Cristina Kirchner, os lobistas receberiam, segundo João Augusto, US$ 10 milhões. A divisão do “sucesso” demonstra a força do PMDB nos negócios da Petrobras lá fora. Pela conta dele, dos US$ 10 milhões, US$ 6,8 milhões estavam destinados a João Augusto.
“Eu tinha de repassar US$ 5 milhões ao PMDB. A maior parte disso era PMDB de Minas, porque era o Fernando (Diniz). A partir daí, não sei quem eles pagavam, nem quanto. Deputado é f... Você dá para um e, a partir dali, não dá para saber se ele deu para um, se ele deu para meia dúzia, se ele ficou (com o dinheiro)...”
Entre eles, a operação, não se sabe por que motivo, era conhecida como “projeto Atreu”. Em setembro e outubro de 2009, os lobistas reuniram-­se muitas vezes na sala de reuniões do Hotel Hilton, em Buenos Aires, para avançar nas tratativas. Uma das presenças certas, segundo João Augusto, era o diretor Clóvis Correa. (Hoje, Clóvis é assessor da Transpetro, empresa da Petrobras comandada pelo PMDB, e nega ter participado das negociações para a venda da refinaria de San Lorenzo.)
“O Clóvis estava conosco em todas as reuniões. Como ele havia sido meu colega de faculdade, e eu tinha boas relações com ele, fiquei mais tranquilo”, diz João Augusto. Ele conta que, nas reuniões, combinava com outros lobistas pagamentos em contas no exterior. Uma das contas citadas, segundo um dos lobistas, era identificada como Tiger, na China – uma conta usada por doleiros para fazer pagamentos a partidos como PT e PMDB, conforme afirmou a Polícia Federal, em 2009, na operação Castelo de Areia, que investigou denúncias de pagamento de propina a políticos.
Enquanto a venda da refinaria avançava, o grupo oficializava a união para organizar os futuros negócios na Petrobras. Chegaram a assinar um instrumento particular de parceria, em que se comprometiam a dividir os contratos que cada um obtivesse. A união durou pouco. Era muito dinheiro e pouca confiança entre eles.
João Augusto diz que exigiu aos demais subir sua participação de US$ 6,8 milhões para US$ 8,8 milhões, por causa da pressão do PMDB. “Ele disse que o PMDB precisava fazer caixa para a campanha de 2010”, diz um dos lobistas. Houve briga entre eles, mas o advogado Tourinho aceitou assinar um aditivo ao contrato principal de sucesso, reduzindo a participação dele e dos demais a US$ 1,2 milhão.
João Augusto quis fazer um contrato em separado com os argentinos. Conta que foi até Buenos Aires tentar persuadir Rottemberg, o operador do negócio pelo lado argentino, encarregado pelo amigo de Cristina Kirchner de pagar os brasileiros. Temendo que seus parceiros no PMDB não confiassem em sua palavra, João Augusto levou uma testemunha: Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz, que morrera recentemente.
Àquela altura, a pressão do PMDB por resultados era imensa. “Usei o nome do PMDB, até para todo mundo saber que não estava dando calote em mim, estava dando calote no partido”, diz João Augusto. O novo contrato, ele afirma, não deu certo. Em maio de 2010, a Petrobras anunciou a venda da refinaria, por US$ 110 milhões, ao empresário Cristóbal Lopez.
“O negócio saiu, mas não recebi nada. Eles (os outros lobistas) receberam. E o cara em quem eu achava que eu podia confiar, o Clovis, foi o que recebeu mais. Eu tinha compromissos e fiz papel de idiota. A única atitude que pude tomar foi mandar o Zelada tirar o Clovis da Pesa (Petrobras Argentina).”
“RAPAZ, ELES ESTÃO SEMPRE EM CAMPANHA, NÉ?”
Nem todas as operações eram tão difíceis quanto a venda da refinaria de San Lorenzo. No mesmo período, João Augusto conta que fechou um contrato de US$ 1,6 bilhão para que a Petrobras explorasse o navio-sonda Titanium Explorer, da empresa Vantage. O contrato rendeu uma comissão de US$ 14,5 milhões, que deveria ser paga em três parcelas.
Segundo João Augusto, a primeira foi paga ainda no começo de 2009; a segunda, em seguida. A terceira, diz ele, não foi paga, em razão de uma briga societária na Vantage. O sócio que o contratara é hoje processado pelos demais sob a acusação de ter desviado dinheiro da empresa. “Repassei US$ 10 milhões ao PMDB”, diz. Nesse caso, não especificou nomes. “A quem de direito no partido. É a regra.” Era dinheiro para campanha? “Rapaz, eles estão sempre em campanha,né?”, diz.
“(O repasse) era maior do que 50%. Podia ser 60% ou 70%. Dependia do negócio. (...) Na área internacional (da Petrobras), se eu fizer alguma coisa, tem de ajudar o partido. Porque foi o partido quem indicou o Zelada. O mundo é assim. E é assim em qualquer lugar.” Em seguida, afirma: “Se eu fizesse negócio em outra diretoria, não tinha fee (comissão) para o partido. E eu falava para eles: aqui não devo nada”.
João Augusto parecia genuinamente magoado com os parceiros no PMDB. “Depois que você conhece os bastidores, não dorme mais tranquilo. Pensa que é fácil nego te ligando? ‘A campanha tá aí...’ Nego xingando o Zelada porque não vinha dinheiro.” Ao mesmo tempo, ele parecia sentir-­se culpado por não corresponder às altas expectativas dos deputados: “Os caras me acolheram tão bem... Você sente que tem que ajudar o grupo”.
E quem coordenava o “grupo”, após a morte de Fernando Diniz? “Uma hora foi o (deputado) Mauro Lopes, outra foi o (deputado) João Magalhães.” (Mauro Lopes afirma conhecer João Augusto há mais de vinte anos e diz que sugeriu seu nome para ocupar a diretoria internacional da Petrobras ao então líder da bancada peemedebista de Minas Gerais, Fernando Diniz. E nega ter sido beneficiado com repasses de dinheiro.)
“Não sei como era a divisão: para quem eles davam, se davam certo... Só mandava.” João Augusto desce aos detalhes das transações: “Normalmente, (os deputados) me davam (a conta no exterior) e eu mandava via doleiro.” Ele conta que que sempre recebia reclamações. “Era muita gente (para receber). Uma operação de US$ 5 milhões parece boa, mas (...) eram dez, doze pessoas. No fim, (os deputados) achavam uma m...”.
UMA CPI PARA CÁ, UM CONTRATO PARA LÁ
Ao cabo de duas horas de revelações, João Augusto parece pronto para contar sua maior proeza, de acordo com os outros lobistas do PMDB: o contrato de quase US$ 1 bilhão entre a área internacional da Petrobras e a empreiteira Odebrecht, fechado às vésperas do segundo turno da eleição de 2010. Pelo contrato, a Odebrecht cuidaria da segurança ambiental da Petrobras em dez países.
– E a Odebrecht?
– Odebrecht? Eu montei tudo.
João Augusto diz que, no auge da CPI da Petrobras no Senado, no segundo semestre de 2009, o relator da comissão, senador Romero Jucá, do PMDB, que também era líder do governo, convocou‐o para uma reunião em Brasília. Disse que fizera um acordo com o então presidente da Petrobras, Gabrielli: o PMDB ajudaria a enterrar a CPI, que já estava morna, e, em troca, Gabrielli não criaria dificuldades à aprovação, pela diretoria executiva da Petrobras, do “projeto” Odebrecht.
“Manda o João apresentar”, disse Gabrielli a Jucá, segundo o relato de João Augusto. Logo depois, em dezembro de 2009, Jucá apresentou seu relatório final que isentava a Petrobras de irregularidades. A CPI morria conforme o previsto. (Jucá nega ter chamado João Augusto a Brasília para tratar do contrato entre Petrobras e Odebrecht. “Não houve nenhum tipo de conversa com o Gabrielli sobre qualquer contrato em troca de CPI. Até porque eu era líder do governo, eu estava tratando com seriedade.”)
Para fazer o contrato, João Augusto conta que fez “um grupo de trabalho, técnico, sério”. “Trabalhamos um ano nisso. A Petrobras precisava mesmo consolidar essas operações de meio ambiente lá fora. A empresa não sabia o tamanho do passivo, quem cuidava do quê. Era preciso centralizar”, diz João Augusto. Por que não fazer uma licitação?
“A Odebrecht tinha que ganhar. Foi até ideia minha. Pelo tamanho dela. Pelo padrão”, diz. Segundo João Augusto, a Petrobras convidou formalmente outras empreiteiras. Todas declinaram. Deu Odebrecht. Ouvida a respeito do caso, a Odebrecht nega ter feito contrato com João Augusto Henriques. E afirma, em nota: “A afirmação que a Odebrecht pagou o equivalente a US$ 8 milhões para a campanha de 2010 da presidente Dilma Rousseff, por intermédio do secretário de Finanças do PT, João Vaccari, não procede. A Odebrecht faz suas doações dentro de uma visão republicana e em prol da democracia e do desenvolvimento econômico e social do País, respeitando rigorosamente os limites e condições impostas pela legislação eleitoral”.
No momento em que Gabrielli deveria cumprir sua parte do acordo com Jucá, o PMDB foi traído, diz João Augusto. “Quando ela (a Odebrecht) ganhou, Gabrielli fez de tudo para derrubar na diretoria. A CPI, claro, já tinha passado. Quis f... o negócio. O contrato entrava na pauta da diretoria, mas eles enrolavam.” Com sua experiência política, João Augusto sabia o que fazer. Conta que conversou primeiro com seus parceiros na Odebrecht. Em seguida, procurou Vaccari, também tido como homem do PT na Petrobras. “Avisei a ele: a Odebrecht vai ajudar vocês na campanha. Vai lá e acerta com eles”, diz João Augusto. Qual o valor acertado? “Deram, mais ou menos, o equivalente a US$ 8 milhões para o Vaccari”, afirma.
As dificuldades na diretoria prosseguiram por mais algumas semanas. Em 26 de outubro de 2010, a cinco dias do segundo turno entre Dilma e José Serra, do PSDB, a diretoria da Petrobras aprovou o contrato. “Todo mundo recebeu. O partido, eu e as pessoas que ajudam. Quem ajuda, ganha”, diz João Augusto.
E quem recebeu? EleC não responde. “Pessoas de dentro (da Petrobras) que eu pago.” Quanto o PMDB recebeu? “Foram US$ 10 milhões, ou US$ 11 milhões. Não mexo com dinheiro dos outros. A Odebrecht tem os canais dela com os partidos”, diz ele. E como se dava o pagamento? “A parte deles (PT e PMDB) eu não sei. A minha foi lá fora”, disse. “Todos os contratos são assim.”
O contrato da Odebrecht parece ter sido a última grande operação da turma de João Augusto. Logo depois, no governo Dilma, o aparelhamento diminuiu. Saíram muitos dos diretores ligados ao PT. Zelada foi perdendo poder e pediu demissão em julho do ano passado. João Augusto, porém, continua à cata de negócios na Petrobras. Recentemente, participou da venda da sociedade que a Petrobras tem numa distribua idora de energia na Argentina. “Você não vai acreditar, mas não preciso de políticos para ganhar dinheiro. Ganho mais sem eles”, diz João Augusto, antes de se levantar e ir embora. Paguei a conta.
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Com Flávia Tavares, Marcelo Rocha, Murilo Ramos e Leandro Loyola

domingo, 11 de agosto de 2013

Economic Freedom of the World, 2012 - sumario executivo

Eu já havia colocado aqui o mapa principal e o link para o estudo, que repito aqui, ambos. Mas faço-os imediatamente seguir do sumário executivo preparado pelos editores, com alguns destaques importantes.
Os EUA, que durante muito tempo estavam em segundo ou terceiro lugar, logo depois de Hong-Kong, recuaram muito, quase atravessando a segunda dezena de países mais livres.
O Chile é o décimo, agora, muito à frente da Alemanha e da França.
Nem preciso mencionar que o Brasil se situa bem atras, no lugar 105, ou seja, 95 países atrás do Chile.
Parece que vamos ter de fazer algum esforço para avançar, certamente não sob os companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Economic Freedom of the World 
http://www.freetheworld.com/2012/EFW2012-complete.pdf

The index published in Economic Freedom of the World measures the degree to which the policies and institutions of countries are supportive of economic freedom. The cornerstones of economic freedom are personal choice, voluntary exchange, freedom to compete, and security of privately owned property. Forty-two variables are used to construct a summary index and to measure the degree of economic freedom in five broad areas:

1 Size of Government;
2 Legal System and Property Rights;
3 Sound Money;
4 Freedom to Trade Internationally;
5 Regulation.

Since our first publication in 1996, numerous studies have used data from Economic Freedom of the World to examine the impact of economic freedom on investment, economic growth, income levels, and poverty rates. Virtually without exception, these studies have found that countries with institutions and policies more consistent with economic freedom have higher investment rates, more rapid economic growth, higher income levels, and more rapid reductions in poverty rates.

In this year’s index, Hong Kong retains the highest rating for economic freedom, 8.90 out of 10. The other top 10 nations are: Singapore, 8.69; New Zealand, 8.36; Switzerland, 8.24; Australia, 7.97; Canada, 7.97; Bahrain, 7.94; Mauritius, 7.90;  Finland, 7.88; and Chile, 7.84.

The rankings (and scores) of other large economies in this year’s index are the United Kingdom, 12th (7.75); the United States, 18th (7.69); Japan, 20th (7.64); Germany, 31st (7.52); France, 47th (7.32); Italy, 83rd (6.77); Mexico, 91st, (6.66); Russia, 95th (6.56); Brazil, 105th (6.37); China, 107th (6.35); and India, 111th (6.26).

The scores of the bottom ten nations in this year’s index are: Venezuela, 4.07; Myanmar, 4.29; Zimbabwe, 4.35; Republic of the Congo, 4.86; Angola, 5.12; Democratic Republic of the Congo, 5.18; Guinea-Bissau, 5.23; Algeria, 5.34; Chad, 5.41; and, tied for 10th worst, Mozambique and Burundi, 5.45.

Nations that are economically free out-perform non-free nations in indicators of well-being

Nations in the top quartile of economic freedom had an average per-capita GDP of $37,691 in 2010, compared to $5,188 for bottom quartile nations in 2010 current international dollars.

In the top quartile, the average income of the poorest 10% was $11,382, compared to $1,209 in the bottom in 2010 current international dollars.

Interestingly, the average income of the poorest 10% in the most economically free nations is more than twice the overall average income in the least free nations.

Life expectancy is 79.5 years in the top quartile compared to 61.6 years in the bottom quartile.

Political and civil liberties are considerably higher in economically free nations than in unfree nations.

Questão final: se mais liberdade é tão melhor para todo mundo, por que mais nações não são livres, ou por que existem tão poucas nações livres no mundo?
Minha explicação seria esta: interesses constituídos de elites dominantes, e estupidez econômica...
As simple as that...
Paulo Roberto de Almeida 

A frase do fim de semana: o peso dos economistas mortos - Hans-Hermann Hoppe

"Não sou fã de John Maynard Keynes. Mas creio que ele estava certo quando disse que
"as ideias dos economistas e filósofos políticos, estejam elas certas ou erradas, são mais poderosas do que comumente se percebe. Com efeito, elas governam o mundo quase sozinhas. Homens práticos, que se acreditam isentos de qualquer influência intelectual, costumam ser escravos de algum economista defunto". 
Ironicamente, ele mesmo, Keynes, é o economista defunto por excelência — emitindo, por sinal, ideias falsas —; aquele por quem os homens práticos de hoje são escravizados intelectualmente."

Hans-Hermann Hoppe
entrevista completa neste link: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1646