Assisti agora a este debate, no qual compareço (sem ter sido informado, previamente, do formato).
Globalismo e globalização:
os bastidores do mundo
YouTube:
https://youtu.be/6Q_Amtnq34g
Eu não diria, como está abaixo, que se tratou de Olavo versus Paulo,
pois em nenhum momento, após ter recebido um convite dos organizadores
desta série "Brasil Paralelo", fui avisado que eu seria "entrevistado"
junto com o professor Olavo de Carvalho. Recebi um convite, solicitei um
roteiro, para preparação adequada – o que sempre faço para evitar
aquele horrível sensação de improvisação, com o entrevistado gaguejando
para encontrar a resposta a determinadas questões, que nem
sempre são bem formuladas – e preparei, sim, minhas respostas, e
aguardei o chamado. Apenas na hora soube que seria com o Professor Olavo
de Carvalho, de quem conheço várias obras e muitos escritos "sueltos"
nos jornais e em seu blog e FB, com quem concordo em muitas coisas –
entre elas o caráter nefasto e criminoso do Foro de São Paulo –– e de
quem discordo em várias outras, como esse fantasma do governo mundial.
Tratou-se, contudo, não de um confronto, mas de uma exposição paralela
de ideias coincidentes, convergentes e várias divergentes, opostos, o
que é absolutamente normal no mundo dos debates democráticos. Eu
chamaria essa experiência de "Olavo de Carvalho e Paulo Roberto de
Almeida: duas concepcões sobre gobalização e globalismo, um mesmo
propósito em fazer do Brasil um país livre, democrático, desenvolvido".
Assistam, a despeito de ser longo e bastante cansativo.
Permito-me, igualmente, remeter à entrevista que dei em outubro de 2016 ao mesmo pessoal do Brasil Paralelo:
https://membros.brasilparalelo.com.br/assistir/temporada-anterior/paulo-roberto-de-almeida
Abaixo, para os que desejarem não ficar 1:30hs no YouTube, e preferirem conhecer minhas posições, aqui os argumentos preparados previamente ao que eu pensava seria uma entrevista "solo":
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: notas para entrevista em
vídeo; finalidade: programa Brasil
Paralelo]
Globalismo e globalização: qual a diferença?
A globalização
é fenômeno bem conhecido, e praticamente secular, ou mesmo milenar, tendo se
acelerado em diversas ondas desde os grandes descobrimentos e aventuras
marítimas do século XVI, que realmente unificaram o mundo pela primeira vez;
trata-se de um processo impessoal, objetivo, independente de quaisquer outras
forças políticas e sociais, pois ela é conduzida essencialmente ao nível micro,
ou seja, por iniciativa de indivíduos e empresas, inventores, inovadores,
empresários, aventureiros, missionários, intelectuais ou quaisquer outros
atores, de quaisquer países e origens sociais, que transcendem suas
circunstâncias locais ou nacionais, para projetar-se além fronteiras,
mundialmente e até universalmente, graças aos instrumentos, processos e
mecanismos criados, deliberadamente ou não, para justamente ultrapassar
barreiras nacionais, limites fronteiriços graças às ferramentas de informação e
de comunicação desenvolvidos por esses mesmos agentes privados ou
institucionais, com tais objetivos universalistas, transmitindo, transferindo,
vendendo, oferecendo os mais diferentes tipos de bens e serviços, mas sobretudo
ideias, conceitos, propostas para uma maior integração entre pessoas, empresas,
instituições públicas e privadas.
Já o globalismo
é um conceito novo, criado com motivações deliberadamente políticas, para
caracterizar um movimento, ou processo, equivalente a outros ismos existentes
no cenário intelectual ou conceitual do mundo moderno: por exemplo, o
socialismo, o feminismo, o altermundialismo, o nacionalismo, quem sabe até o
próprio capitalismo, ainda que este seja também um fenômeno econômico e social
totalmente objetivo, impessoal, incontrolável, correspondendo apenas a uma
determinada forma de organização das forças produtivas (baseada em empresas
privadas produzindo bens e serviços para mercados de massa) e das relações de
produção (baseadas no trabalho assalariado e no contratualismo direto entre
trabalhadores e empresários).
Como eu vejo o globalismo? Como uma tentativa de forças conservadoras ou de
direita, para rejeitar a sensação de perda de soberania nacional em prol da
globalização, justamente, como se estivesse ocorrendo uma conspiração de forças
globalistas para reduzir a soberania dos Estados em favor de um fantasmagórico
“governo mundial”. Não hesito em classificar tal concepção estreita de alguns
dos efeitos da globalização na categoria das manifestações paranoicas,
derivadas de certo nacionalismo estreito, de um soberanismo introvertido, e de
uma atitude defensiva em relação aos avanços diretos e indiretos da
globalização, para mim inevitáveis e positivos, como aliás a própria perda de
soberania dos Estados nacionais sobre partes importantes das políticas
públicas, o que considero ser uma tendência favorável à racionalidade econômica
e ao bem-estar das sociedades nacionais.
A esquerda política, num certo sentido, também
atua contra a globalização, como visto pelo exemplo de diversos partidos
europeus na rejeição dos projetos comunitários ou dos acordos regionais e
plurilaterais de abertura econômica e de liberalização comercial, como também
em outros continentes. Na América Latina, diferentes componentes da esquerda
tendem a rejeitar os acordos de livre comércio, em favor de projetos
mercantilistas, estatistas, intervencionistas, colocados sob estrito controle
das burocracias nacionais.
Em resumo, eu vejo muitas diferenças, e total
dissociação de objetivos entre um processo objetivo como a globalização e uma construção política, de caráter restritivo, como
esse conceito de globalismo, que de
fato se opõe à globalização, por considerá-la negativa ou restritiva das
soberanias nacionais, o que eu reputo como positivo.
De onde vem essa ideia de globalismo e qual a origem dessa pauta?
Por que estamos falando disso?
O globalismo,
essa construção artificial, de certo modo reacionária, tende, pelo que entendo,
a restringir, a constranger, fazer retroceder a globalização, por considerar
que esse processo atua contra os interesses dos Estados nacionais, em favor de
uma entidade que eu considero totalmente fantasmagórica que seria o “governo
mundial”, algo totalmente impossível de ser instituído, uma vez que vivemos,
desde Westfália pelo menos, e pelos próximos séculos até onde a vista alcança,
sob o domínio dos Estados nacionais independentes e soberanos.
Visto pelo outro lado, registramos que é o
nacionalismo estreito, a afirmação mesquinha dos interesses nacionais, a defesa
exacerbada de uma concepção estreita desses interesses e sua projeção exterior
que foram, e ainda são, responsáveis pela maior parte das guerras e conflitos
militares, assim como, internamente, pelas violações mais grosseiras dos
direitos nacionais e até pela repressão das liberdades democráticas. As ideias
de liberdade, de defesa dos direitos humanos, de afirmação irrestrita de
valores e princípios democráticos são ideias universais, concebidas e
implementadas para a defesa dos direitos dos indivíduos, das liberdades
pessoais (de religião, de expressão, de associação, de iniciativas
individuais), contra os Estados, contra as tiranias, contra os governos
arbitrários, prepotentes, concentradores do poder.
Vejo a globalização, justamente, como um
processo criado e desenvolvido ao nível micro, ou seja, por indivíduos e
empresas, ao passo que as forças antiglobalização são geralmente de nível macro,
estatal, ou até de caráter intergovernamental. São essas forças, muitas delas
implementadas por indivíduos ou por organizações de caráter estreitamente
nacionalista, que se opõem a um fantasma, o globalismo, ou um pretenso governo
mundial.
Quem são essas entidades? ONU, UE, fundações etc. qual o
propósito, o que elas defendem, por que elas nasceram e com que dinheiro
atuam.
O mundo atual, o sistema contemporâneo de
organizações internacionais, ou de âmbito regional – como a UE, por exemplo, um
projeto comunitário – surgiram ao cabo e como consequência de grandes conflitos
interestatais, ou de guerras globais, que trouxeram enormes destruições
materiais ou e gigantescas hecatombes humanas, crises terríveis surgidas
geralmente, quando não totalmente, da afirmação exacerbada dos interesses
nacionais, dos nacionalismos exclusivistas, ou de ambições desmedidas de
líderes nacionais irresponsáveis, animados pelo desejo de dominar povos e
nações, pela via da expansão territorial e das aventuras militaristas. Essas
organizações constituem uma tentativa, por parte de líderes responsáveis,
democráticos, respeitadores dos direitos humanos, de valores e princípios
humanitários, de encontrar um terreno comum de diálogo e entendimento entre os
diferentes Estados nacionais soberanos, de maneira a evitar novas guerras e
destruições.
Essas organizações podem ser invasivas,
intrusivas, destruidoras das soberanias nacionais, mas num certo sentido elas
também são soberanistas, defensivas, restritivas, mercantilistas, pela simples
razão de que elas são intergovernamentais, na maior parte dos casos, e tendem a
defender mais os interesses dos Estados do que dos povos. Creio, assim, de que
a acusação de globalistas, ou de defensoras desse fantasma do globalismo,
feitas contra elas é exagerada, e equivocada, pois elas nada podem fazer contra
a vontade dos Estados nacionais, de que é prova maior a ação (ou falta de) do
Conselho de Segurança das Nações Unidas em relação aos piores conflitos
ocorridos nos teatros regionais desde o surgimento da ONU, notadamente o
conflito no Oriente Médio, como no passado a guerra do Vietnã e, desde sempre e
atualmente, as muitas guerras civis, conflitos intra-estatais e diferentes
situações de violações de direitos humanos e dos princípios democráticos em
quase todos os continentes.
Essas organizações nasceram justamente desses
conflitos e das guerras globais, elas defendem o convívio democráticos entre
povos e nações, entre Estados nacionais, a cooperação internacional para a paz
e a segurança mundiais, o desenvolvimento e o bem-estar desses povos. O
dinheiro de que dispõem vem diretamente dos Estados nacionais e de algumas
outras fontes secundárias, e elas são, portanto, dependentes dessas dotações. O
governo Trump, por exemplo, retirou os EUA da Unesco, o que geralmente
significa uma redução do orçamento operacional entre um quinto e um quarto do
total dos recursos devotados a alimentar a sua burocracia ou suas ações.
Como diferentes agentes se comportam nesse jogo de interesses?
Estados Unidos, Rússia, China, economias emergentes, Islã...
Esses “agentes”, são muito diversos entre si.
Estamos falando aqui, de um lado, de três Estados soberanos, Estados Unidos,
Rússia e China, totalmente diferentes entre si, sob qualquer critério que se
examine; de outro lado, de uma categoria difusa de “atores” que são
arbitrariamente agrupados nessa categoria de “economias emergentes”, à qual o
Brasil supostamente pertenceria, há muitos anos aliás. Cada um deles possui
certamente interesses nacionais, não necessariamente convergentes entre si, e
na maior parte do tempo bastante opostos entre si, como parecem ser, por
exemplo, os objetivos nacionais de EUA, Rússia ou China. Quanto aos emergentes,
essa categoria difusa não permite sequer falar de “jogo de interesses”, pois
não jogam num tabuleiro comum.
Já o “Islã”, totalmente ou praticamente
desconhecido no Brasil, designa uma imensa comunidade de praticantes dessa
religião, divididos em diferentes seitas e vertentes da própria religião, nem
sempre harmônicas entre si, que por sua vez se estende a um número muito grande
de países e de regiões, diversificados em línguas, geografias, modos de
organização política e formas diversas de integração econômica mundial, sem que
se possa identificar claramente que tipo de unidade política, ou de governança,
haveria de unir todos eles ao abrigo de um conceito vago como “Islã”. Existe
uma “Organização Islâmica” que não tem sequer unidade de visão, ou coordenação
de comportamentos dos governos dos países membros, para tratar, por exemplo, do
problema mais intratável da atualidade, que é o terrorismo de base islâmica, na
verdade fundamentalista, ou sectária, e que vitima primeiramente e
principalmente os próprios muçulmanos, e marginalmente os ocidentais, que
seriam, supostamente, os “inimigos” principais desses terroristas
fundamentalistas.
Quais as possíveis consequências de um governo global? Tanto
positivas quanto negativas. O que ambas correntes argumentam a respeito.
Falar sobre as “possíveis consequências” de um
fantasmagórico “governo global” significa, em primeiro lugar, considerar que uma
tal construção seja possível, que ela esteja em curso de ocorrer, que possa
emergir futuramente, ou que esteja sendo seriamente considerada por essas
entidades, ou por estadistas ou dirigentes nacionais interessados nesse tipo de
agência ou organismo supranacional, que serviria para se substituir, ou até se
opor, aos Estados nacionais. Ora, eu considero, não apenas, que tal tipo de
governo global é indesejável, mas simplesmente que ele é impossível, nas atuais
condições das relações internacionais e dos sistemas existentes de cooperação e
de coordenação entre Estados soberanos, membros da ONU. A ONU, ou suas agências
especializadas, inclusive as relativamente “independentes” no plano
orçamentário, como o FMI ou o Banco Mundial, são totalmente submetidas à
vontade, aos desejos, aos projetos dos governos nacionais, sobretudo dos mais
poderosos entre eles, como são as cinco potências com cadeiras permanentes no
CSNU e alguns outros atores dotados de certas capacidades políticas,
financeiras ou militares, como alguns membros do G-20 (estes fazem mais de 90%
do PIB mundial, e provavelmente quase a totalidade do “poder de fogo” no mundo,
sem que eles sejam capazes de evitar conflitos na periferia).
Não se pode tampouco considerar que existam, efetivamente,
duas “correntes” identificadas de opinião, uma “globalista”, a outra
anti-globalista, que seriam, hipoteticamente, constituídas, a primeira por partidários
da globalização, a segunda por seus opositores, ou vice versa (qualquer que
seja o sentido que se atribua a esses conceitos). Tal maniqueísmo conceitual,
totalmente artificial, não corresponde a qualquer movimento, processo ou
projeto concreto, num ou noutro sentido, ainda que pessoas, ou grupos de
pessoas venham agitando tais ideias. Na verdade, apenas os opositores de
direita da globalização falam de um “governo global”, ao passo que seus
opositores de esquerda preferem ser chamados de “altermundialistas”, e
pretendem, utopicamente, a construção de “um outro mundo possível”, que seria
não capitalista, não pró-mercados, mas sim partidários de uma coisa chamada
“economia solidária”, defesa do meio ambiente contra supostas maldades das
multinacionais, defesa de “minorias” – indígenas, mulheres, povos periféricos –
que estariam sendo ameaçados por “capitalistas globais”.
Não acreditando, portanto, nessa possibilidade
de um governo global, não tenho considerações outras a fazer, que não descartar
tal hipótese. O mais próximo que talvez se esteja dessa “ameaça” pode ser
representado, muito precariamente, pelas instituições comunitárias da União
Europeia, hoje simbolizadas no euro, que não é senão uma etapa mais avançada
das quatro liberdades criadas pelos tratados de Roma 60 anos atrás, ou seja: a
liberdade de circulação de bens, de serviços, de capitais e de pessoas. A moeda
comum, que ainda não é a moeda única da União Europeia, representa, de fato,
uma perda, ou abandono, de soberania política e econômica por parte dos Estados
membros, mas isso já estava implícito desde a origem, ao se aprovar a
constituição de um mercado comum, que apela naturalmente a uma moeda comum. Mesmo
esse tipo de arranjo é parcial e limitado, e não deixa de sofrer contestações
dos próprios países membros quando determinadas medidas, convertidas em
resoluções comunitárias, ameaçam infringir direitos nacionais desses membros,
ou quando a Comissão de Bruxelas parece extravasar seu mandato dado pelo
Conselho Europeu e busca “harmonizar” disposições diversas com impacto na vida
econômica e social das comunidades nacionais.
A outra instância política supostamente
destinada a “instaurar” uma alegada “governança global” seria o G-20, um foro
de consulta e coordenação entre as maiores economias planetárias, mais a
própria UE e algumas outras organizações internacionais que podem trazer alguma
expertise ou competência institucional nos temas tratados pelo grupo, que estão
situados primariamente no terreno da coordenação econômica global – uma vez que
ele foi convocado, ou ressuscitado, quando da crise de 2008 que redundou na
Grande Recessão, segundo a terminologia dos economistas –, mas que podem se
estender igualmente a outros terrenos (meio ambiente, segurança internacional,
etc.). Mas essas duas dezenas de países são muito diversos entre si, possuem
alguns objetivos comuns, mas vários outros bastante divergentes, interesses nem
sempre coincidentes ou convergentes, o que deve deixar esse grupo muito longe, talvez
a anos-luz de distância, de qualquer perspectiva de “governo global”.
O que devemos esperar como próximos passos?
Não existe, a rigor, uma base conceitual
adequada para se definir próximos passos, quando não existe uma base comum de
entendimento sobre o que seja “globalismo”, “globalização”, “governança
global”, ou “governo mundial”, e quando não tem uma definição clara do que
sejam “interesses nacionais” desses vários “agentes” ou atores do sistema
internacional contemporâneo. Minha compreensão do mundo atual é baseada em
estudos de cunho econômico, de natureza política, sobre o desenvolvimento
diferenciado e desigual dos países e regiões existentes, a partir de
metodologias típicas da ciência política, das relações internacionais, da
história e da economia, o que me revela um mundo em transição para algum tipo
de configuração ainda não claramente definida.
No pós-guerra, as relações internacionais
estiveram dominadas pela bipolaridade organizada em torno dos dois grandes
atores da era atômica, logo adiante perturbado pelo desgarramento da China do
mundo socialista soviético, e pelo neutralismo de uma parte de países periféricos
que evitavam colocar-se claramente de um ou outro lado da bipolaridade. O
Brasil, na maior parte do tempo, por força do anticomunismo oficial, colocou-se
no lado “ocidental” da bipolaridade, mas crescentemente afirmativo na defesa
dos seus interesses nacionais, em busca de uma trajetória própria de políticas
nacionais de desenvolvimento, o que o levou a distanciar-se, em algumas
instâncias das posturas defendidas pelos países líderes de sua suposta
“coalizão de interesses”, no terreno da não proliferação, por exemplo, na
capacitação tecnológica ou nas políticas comerciais e de investimentos
estrangeiros (num plano relativamente distante do que existia no plano da OCDE,
para mencionar um clube anteriormente chamado de “países ricos”, e que ao incorporar,
a partir de certo momento, países em transição do socialismo ao capitalismo ou
economias em desenvolvimento, passou ao se considerar um “clube de boas
práticas”).
O Brasil é claramente um país em
desenvolvimento, bastante conhecido pelo seu protecionismo renitente, pelo seu
intervencionismo estatal exacerbado, por seu nacionalismo histórico, por uma
introversão persistente das políticas econômicas e setoriais, pela burocracia
intrusiva na vida dos cidadãos, e portanto por diversas restrições ao empreendedorismo
de livre mercado. Até pelos exageros perpetrados desde o início do século por
governos notoriamente ineptos e reconhecidamente corruptos, e pelo fracasso de
políticas econômicas intervencionistas que nos levaram ao que pode ser chamado
de “Grande Destruição”, o Brasil teria interesse, no presente momento de
transição, de aproximar-se mais do modelo OCDE de governança econômica, assim
como aperfeiçoar sua governança nacional em direção de padrões e práticas mais
conformes ao que se chama de accountability – ou seja, responsabilidade
governativa, com transparência – e de maior qualidade democrática, o que não é
claramente o caso atualmente.
Por isso mesmo, depois de mais de uma década e
meia de retrocessos institucionais e de deficiências de governança,
estendendo-se por quase todas as áreas das políticas públicas, com uma expansão
significativa dos níveis de corrupção política e empresarial, o interesse
nacional brasileiro deveria voltar-se para uma recomposição de seu sistema
político, com reformas importantes na legislação partidária e eleitoral, e para
uma revisão fundamental de suas políticas econômicas, no sentido da abertura
econômica e da liberalização comercial, com maior disposição para uma ampla
integração econômica mundial.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de dezembro de 2017
Addendum 8/12/2017:
Tenho por hábito escrever sobre todos os assuntos sobre
os quais eu possa deter alguma capacidade analítica, como fruto de minha
experiência de vida e conhecimento adquirido pelo estudo, pela pesquisa e através
dos livros, em temas importantes da atualidade política e econômica brasileira
e mundial. Tenho por hábito refletir sobre toda e qualquer demanda que me é
feita, e preparar meus argumentos antecipadamente a meus pronunciamentos
públicos.
Por isso mesmo, nunca embarquei nessa canoa furada do “globalismo”.
Esse conceito de globalismo assumiu, para a direita, o mesmo status que já tem,
desde longos anos, o conceito de “neoliberalismo” para a esquerda: um slogan
vazio, que não se traduz em nenhuma realidade palpável, a não ser uma
fantasmagoria construída pela paranoia de alguns contra as evidências concretas
da globalização, esta sim um processo real, como eu argumento no texto acima.
Não pretendo mudar a concepção de ninguém, mas não posso
deixar de expressar meus argumentos, que são o fruto de uma experiência
diversificada de décadas vivendo no exterior, no Brasil, em contato e na
vivência com todos os tipos de socialismos e de capitalismos, em todas as
partes do mundo, assim como como resultado de leituras, pesquisas, estudos e
debates feitos ao longo dessas últimas cinco décadas, mais a experiência
prática como negociador diplomático em diversos foros desse tal de “globalismo”,
e confesso nunca ter encontrado essa conspiração de megabilionários e de
organizações internacionais para instalar o tal de “governo mundial”. Isso é
paranoia pura.
Outro simplismo extremamente redutor, e totalmente
equivocado, é falar de um Islã, como se ele expressasse uma realidade uniforme,
e como se todo o Islã quisesse esmagar o Ocidente para instalar o seu modo de
governança sobre nós.
Assim como a esquerda perdeu qualquer credibilidade e
respeito intelectual ao persistir nas versões simplistas, e equivocadas, da
história, a direita – se ele existe como “entidade”, o que eu duvido – pode
perder credibilidade, e alimentar a paranoia, se continuarem agitando essa
fantasmagoria do “globalismo”.
Digo isto com base no que observo, leio, reflito sobre a
realidade da vida empresarial, dos organismos internacionais, da vivência em
diferentes sistemas socioculturais em que se divide o mundo, pois não me
considero ser apenas, ou basicamente, um homem de livros, um acadêmico, ou
mesmo apenas diplomata.
A direita, no Brasil, não poder ser aprisionada pelos
conservadores, ou ser um reduto dos reacionários, apenas para se demarcar da
esquerda, e acabar adotando uma visão do mundo que é também ideológica, para
não dizer sectária. Essa noção de que existe um complô de mega-bilionários com
outras entidades poderosas para retirar a nossa soberania é simplesmente
ridícula, como sempre foram ridículas as teorias conspiratórias da esquerda em
relação ao imperialismo americano atuando para impedir o nosso desenvolvimento.
Como sempre, escrevo o que penso, o que quero, e expresso
minhas ideias através de artigos e livros publicados, ou deixo as ideias
disponibilizadas no meu blog e site. Não peço licença a ninguém para expressar
minhas ideias...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de dezembro
de 2017
Ficha completa do trabalho: