O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

IPRI: estatisticas de acesso ao Banco de Dados de Teses e Dissertacoes em RI

Válido até novembro de 2017:



Informações básicas


O Banco de teses e dissertações do IPRI (BTD-IPRI) possui atualmente 4.093 trabalhos cadastrados. São teses e dissertações de 51 instituições de ensino superior (IES) e 73 programas diferentes. As informações a seguir foram obtidas da base de dados do BTD em Excel (baixe o arquivo completo aqui).

Distribuição dos trabalhos por região:

Região CAE Doutorado Mestrado Total
Centro-Oeste 719 215 890 1 824
Sudeste 421 1 205 1 626
Sul 90 380 470
Nordeste 24 141 165
Norte  - 8 8
Total Geral 719 750 2 624 4 093
Participação
Centro-Oeste 100% 28,7% 33,9% 44,6%
Sudeste - 56,1% 45,9% 39,7%
Sul - 12,0% 14,5% 11,5%
Nordeste - 3,2% 5,4% 4,0%
Norte - - 0,3% 0,2%
Total Geral 100% 100% 100% 100%

 

Distribuição dos trabalhos por gênero:

Gênero CAE Doutorado Mestrado Total
Feminino 117 289 1 127 1 533
Masculino 602 461 1 497 2 560
Total Geral 719 750 2 624 4 093
Participação
Feminino 16% 39% 43% 37%
Masculino 84% 61% 57% 63%
Total Geral 100% 100% 100% 100%


Estatísticas de acesso

 

Este sítio foi lançado em maio de 2016, e desde então já tivemos 13.610 acessos. A seguir listamos algumas estatísticas relativas a estes acessos. 

 

Termos mais buscados pelo mecanismo de pesquisa:


Fonte: BTD-IPRI. Dados coletados em 5/12/2017.

Dissertações mais acessadas:

Autor(a) IES (ano) Título Nº de acessos
Juliana Soares Santos USP (1999)
Integração regional na África Austral: A SADC na ótica dos interesses sul-africanos
3.255
Ana Isabel Burke de Lara Alegre Unieuro (2007)
As brasileiras profissionais do sexo em Portugal: Prostitutas ou prostituídas? (Vítimas de tráfico de seres humanos ou imigrantes ilegais?)
2.648
Alice Rocha da Silva UniCEUB (2006)
A cláusula da nação mais favorecida da OMC e a proliferação dos acordos comerciais bilaterais
2.250
Marcelo Santos Unicamp (1999) Mercosul: Integração Regional e Globalização
1.960
Emerson Novais Lopes IRBr (2005) A política externa russa na Era Putin
1.835
José Jaime Macuane IUPERJ (1996) Reformas Econômicas de Moçambique: Atores, Estratégias e Coordenação
1.826
João Carlos Sanchez Abraços UniSantos (2004) Conceito de crime organizado transnacional nas convenções internacionais
1.289
Bruno Macedo Mendonça UnB (2012) O conceito de sociedade internacional na teoria de relações internacionais contemporânea 1.162
Eugênio Vargas Garcia UnB (1994) A participação do Brasil na Liga das Nações (1919-1926) 913
Grace Tanno PUC-Rio (2002) A Escola de Copenhague: Uma contribuição aos estudos de segurança internacional 899
Fonte: BTD-IPRI. Dados coletados em 5/12/2017. Inclui o mestrado em diplomacia do IRBr.

Teses mais acessadas:

Autor(a) IES (ano) Título Nº de acessos
Adriana Iop Bellintani UnB (2009) O Exército brasileiro e a missão militar francesa: instrução, doutrina, organização, modernidade e profissionalismo (1920-1940) 854
Simone de Castro Tavares Coelho  USP (1998) Terceiro poder: Um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos  690
Eduardo Antônio Klausner  UERJ (2010) Para uma teoria do direito internacional do consumidor: a proteção do consumidor no livre comércio internacional  678
Alexandre Hilário Monteiro Baia  USP (2009) Os conteúdos da urbanização em Moçambique: considerações a partir da expansão da cidade de Nampula  652
Leovegildo Pereira Leal  USP (1998) O marxismo e a Revolução Cubana: A Teoria e a prática 646
Rosa Helena Stein  UnB (2005) As políticas de transferências de renda na Europa e na América Latina: Recentes ou tardias estratégicas de proteção social? 611
Luis Enrique Rambalducci Estenssoro  USP (2003) Capitalismo, desigualdade e pobreza na América Latina 594
Denise Pasello Valente Novais  USP (2008) Tráfico de pessoas para fins de exploração do trabalho: Um estudo sobre o tráfico de bolivianos para exploração do trabalho em condição análoga à de escravo na cidade de São Paulo 571
Eugênio Vargas Garcia UnB (2001) Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 568
Wellington Pereira Carneiro  UnB (2012) Crimes contra a humanidade: Entre a história e o direito nas relações internacionais : do século XX aos nossos dias 560
 Fonte: BTD-IPRI. Dados coletados em 5/12/2017.

Teses CAE mais acessadas:

Autor(a) Ano Título Nº de acessos
Ivan Oliveira Cannabrava 1982 A questão da Antártida: aspectos políticos, jurídicos e econômicos do tratado de Washington. O Brasil e a Antártida 518
Silvio José Albuquerque e Silva 2007 Combate ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia e à intolerância correlata: a Conferência Mundial de Durban e a Política Externa Brasileira 438
Marcos Bezerra Abbott Galvão 1997 Globalização: arautos, céticos e críticos. O conceito, o debate atual e alguns elementos para a política externa brasileira 412
Roberto de Abreu Cruz 1984 A Doutrina Betancourt: sua aplicação nas relações Brasil-Venezuela 385
Sérgio França Danese 1997 Diplomacia presidencial e política externa brasileira. A ação pessoal do Presidente da República como instrumento da diplomacia brasileira 384
Nilo Barroso Neto 2007 Diplomacia pública: conceitos e sugestões para a promoção da imagem do Brasil no exterior 375
João Solano Carneiro da Cunha 1997 A questão do Timor Leste e suas implicações na Política Externa brasileira 364
Nedilson Ricardo Jorge 2005 Técnicas de negociação diplomática: estratégias e táticas 352
Roberto Carvalho de Azevedo 2001 Financiamentos à Exportação: O contencioso Embraer - Bombardier e as disciplinas da OMC 351
Norton De Andrade Mello Rapesta 2007 Exportação de produtos de defesa: importância estratégica e promoção comercial 320
Fonte: BTD-IPRI. Dados coletados em 5/12/2017.
Obs.: As teses CAE não estão disponíveis online. Indicamos o link apenas para aquelas que foram publicadas pela FUNAG. Para maiores informações ver "Perguntas frequentes".

Frente pela Renovacao (necessaria) - Rubens Barbosa (OESP)


Frente pela Renovação

Chegou o momento de passar o Brasil a limpo e enfrentar os problemas com visão estratégica


*Rubens Barbosa, 
O Estado de S.Paulo, 12 Dezembro 2017

O Brasil começa a se recuperar da grave crise econômica, política e ética, que deixou profundas marcas no conjunto da sociedade. Políticas econômicas erradas levaram o País para a mais grave crise das últimas décadas. O Congresso Nacional, contaminado pela Lava Jato e representando interesses corporativos, é um fator de resistência às mudanças que os novos ventos no Brasil e no mundo tornaram inadiáveis.
A ausência de liderança efetiva no Executivo, no Legislativo e no Judiciário agrava o quadro nacional e exige de todos os que se preocupam com o futuro do Brasil um esforço para promover um debate que chame a atenção para as mudanças que a sociedade brasileira terá de enfrentar nos próximos anos de modo a melhorar a vida das próximas gerações.
O preço do imobilismo será maior do que o custo das mudanças necessárias para restabelecer as condições de governabilidade do País. Não se pode deixar de contar com um Estado eficiente, efetivo e comprometido com o interesse público, em especial com os interesses dos segmentos mais pobres da população. Será inevitável o reexame do papel do Estado e o grau de sua interferência na vida de todos nós e das empresas.
O cidadão comum tem de aprender a defender seus direitos e participar de forma democrática na solução dos problemas que se acumulam e parecem sem solução. A população, anestesiada pela crise em todos os níveis, tem de despertar e exercer seus direitos de cidadania.
Diversas instituições e grupos organizados da sociedade civil estão discutindo essas questões e propondo soluções. Corretamente foi identificado que uma das ações a serem desenvolvidas será a renovação do Congresso com qualidade. Para essa finalidade movimentos políticos suprapartidários estão surgindo em todo o País, criados por jovens que resolveram ingressar na política, em vez de estigmatizar a classe política e os partidos existentes. São exemplos dessas organizações, que buscam a renovação do Congresso em 2018, a Renova, Brasil 21, Acredito, Agora!, Bancada Ativista, Nova Democracia, Raps, Movimento Transparência Partidária, Virada Política, Bancada Ativista.
A Aliança Brasil, o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), o Ranking dos Políticos e o movimento Vem Pra Rua decidiram formar a Frente pela Renovação, a fim de apoiar e divulgar candidatos comprometidos com uma agenda de propostas que busca uma sociedade mais justa, íntegra, sustentável e democrática.
Embora reconhecendo as dificuldades do atual sistema eleitoral e do regime partidário para alcançar esse objetivo, a Frente propõe-se a coordenar esforços suprapartidários da sociedade civil organizada em prol de um Estado mais eficiente, menos corrupto e que continuamente diminua a desigualdade de oportunidades no País.
Foi definida uma agenda básica de propostas que reúne as ideias de uma rede de parceiros que compõe a Frente pela Renovação. Dentre os princípios que compõem essa agenda estão a diminuição da desigualdade social e o aumento de oportunidades via melhoria da gestão de serviços públicos como saúde, educação e segurança; administração sustentável dos recursos econômicos e naturais e o estabelecimento de real representatividade por meio de uma reforma política que combata ativamente os privilégios e a corrupção. E que exige o fim do foro privilegiado, o impedimento de congressistas assumirem cargos públicos, além de ter como bandeira a eliminação de privilégios como altos salários e benefícios que difiram dos oferecidos a trabalhadores do setor privado.
A ideia é atrair candidatos comprometidos com essa agenda de princípios da Frente e, por meio de um processo seletivo que analisa o histórico de engajamento político e as propostas de campanha do candidato, treiná-los e divulgá-los, auxiliando o eleitor a escolher na hora do voto.
Com a abertura de inscrições para o processo seletivo de candidatos a deputado federal e senador, a Frente pela Renovação foi lançada ontem, a qual poderá oferecer-lhes, por meio de uma rede de parceiros com mais de 2,2 milhões de seguidores, apoio e divulgação em todos os seus canais de comunicação. O objetivo é apresentar ao eleitor pessoas íntegras e comprometidas em levar o Brasil para a frente.
O candidato que vier a ser eleito com o auxílio da Frente deve comprometer-se com essa agenda desde a inscrição até o final do seu mandato. O cadastro de entidades e a inscrição para seleção de candidatos estão abertos no site www.frenterenovacao.org.
A formação de uma bancada nova com políticos que já estão na vida pública e com pessoas que estarão dando os primeiros passos nessa direção poderá influir nos debates parlamentares e focar nos reais interesses do País, acima de interesses pessoais e de grupos.
A renovação do Congresso Nacional tem sido alta, sobretudo pela saída de parlamentares para ocupar outros cargos púbicos, abrindo espaço para representantes de interesses corporativos e de membros da mesma família, verdadeiros clãs políticos.
A discussão pública de nossos representantes sobre o futuro do Brasil não pode seguir ignorando o que está acontecendo no mundo e o atraso em que o País se encontra em quase todas áreas, quando comparado com outras nações.
Chegou o momento de passar o Brasil a limpo e enfrentar os reais problemas que afetam a sociedade brasileira com uma visão estratégica de médio e longo prazos. Governo, empresários e trabalhadores, como parceiros, juntamente com os agentes políticos, em momentos cruciais têm de poder superar suas diferenças e atuar em conjunto a favor do crescimento e do emprego.
Não resta alternativa à sociedade brasileira se quiser evitar o que aconteceu em alguns países europeus, como a Grécia, no passado recente. 

*Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior

Stefan Zweig homenageado postumamente com a Ordem do Cruzeiro do Sul

Lembram-se  deste anúncio?

Eu tinha preparado, com a gentil cortesia da família de David Levine, que cedeu os direitos para o uso desta famosa caricatura, um convite para uma sessão especial que fizemos em março último em torno da figura do grande escritor austríaco Stefan Zweig, por ocasião da publicação no Brasil, graças à cooperação entre a Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, e a  "Memória Brasil", do pesquisador e historiador Israel Beloch, do livro "A Unidade Espiritual do Mundo", uma edição universal em cinco línguas, com introdução de Celso Lafer, evento realizado no Auditório do Instituto Rio Branco, como informado abaixo.

Agora, Stefan Zweig será agraciado, em caráter póstumo, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Comendador, a ser entregue à embaixadora da Áustria no Brasil, e provavelmente será entregue para exposição permanente na Casa Stefan Zweig.

Graças ao empenho de meu amigo e colega Antonio de Moraes Mesplé, encerramos com essa atribuição a merecida homenagem a um grande escritor mundial, que se afeiçou ao Brasil, e aqui repousa na companhia de sua segunda esposa, Lotte Altmann.

  Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 13 de dezembro de 2017

 

Stefan Zweig e o Brasil: nota à imprensa




A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e o Instituto Rio-Branco (IRBr) promovem nesta data, 21 de março, no auditório Embaixador João Augusto de Araújo Castro, debate sobre a obra do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942) e sua estada no Brasil.

O debate começará às 15h. A entrada é franca. Terá a participação do ex-ministro Celso Lafer, professor emérito da Universidade de São Paulo; de Kristina Michahelles, jornalista, tradutora e diretora da Casa de Stefan Zweig em Petrópolis; e do historiador Israel Beloch, que coordenou a edição do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, editado pela Fundação Getúlio Vargas.

Jornalista na juventude, Stefan Zweig tornou-se, a partir da década de 1920, um dos escritores mais famosos e vendidos em todo o mundo. Em 1936, visitou o Brasil pela primeira vez, sendo homenageado pelo Governo brasileiro. Pronunciou, no Rio de Janeiro, a palestra “A Unidade Espiritual do Mundo”, em que repudiava a visão xenófoba e intolerante à época dominante na sua própria patria e na Alemanha. Com a ascensão do nazismo, exilou-se, a partir de 1934, na Inglaterra, visitando novamente o Brasil, ainda que rapidamente, em 1940, quando recolhe elementos para escrever, em 1941, “Brasil, País do Futuro”, obra em que enaltecia a diversidade presente na formação do povo brasileiro. Depois de breve estada em Nova York, mudou-se para o Brasil no segundo semestre de 1941, mas decidiu-se pelo suicídio em fevereiro de 1942, em Petrópolis, onde tinha instalado residência, profundamente deprimido com o avanço do nazismo na Europa. Ali terminou suas memórias, “O Mundo de Ontem”, na qual descreve o ambiente de liberdade e segurança desfrutado na Europa antes da Grande Guerra. Em sua carta de despedida, reafirmou seu amor pelo Brasil, cuja diversidade e tolerância eram, para ele, motivo de admiração diante de uma Europa que se autodestruía com a Segunda Guerra Mundial.

Depois do debate, o Professor Celso Lafer e o Doutor Israel Beloch autografarão o livro universal (em cinco línguas) editado por este último a partir da conferência de Stefan Zweig no Brasil, sobre “A Unidade Espiritual do Mundo”, que será lançado na ocasião, e que conta com estudo de Lafer sobre o pacificismo de Zweig.

O auditório do Instituto Rio-Branco fica no SAFS Quadra 05, lotes 2 e 3. Tem capacidade para 117 pessoas.

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Addendum:

Oportunamente, transcreverei aqui os discursos e uma descrição da cerimônia de concessão da Ordem  do Cruzeiro do Sul, a ser feita no dia 18/12/2017, no Palácio Itamaraty.

Globalismo e globalização (ou vice-versa): Olavo de Carvalho e Paulo Roberto de Almeida - Youtube

Assisti agora a este debate, no qual compareço (sem ter sido informado, previamente, do formato).
Globalismo e globalização: os bastidores do mundo 
 YouTube:  https://youtu.be/6Q_Amtnq34g

Eu não diria, como está abaixo, que se tratou de Olavo versus Paulo, pois em nenhum momento, após ter recebido um convite dos organizadores desta série "Brasil Paralelo", fui avisado que eu seria "entrevistado" junto com o professor Olavo de Carvalho. Recebi um convite, solicitei um roteiro, para preparação adequada – o que sempre faço para evitar aquele horrível sensação de improvisação, com o entrevistado gaguejando para encontrar a resposta a determinadas questões, que nem sempre são bem formuladas – e preparei, sim, minhas respostas, e aguardei o chamado. Apenas na hora soube que seria com o Professor Olavo de Carvalho, de quem conheço várias obras e muitos escritos "sueltos" nos jornais e em seu blog e FB, com quem concordo em muitas coisas – entre elas o caráter nefasto e criminoso do Foro de São Paulo –– e de quem discordo em várias outras, como esse fantasma do governo mundial. Tratou-se, contudo, não de um confronto, mas de uma exposição paralela de ideias coincidentes, convergentes e várias divergentes, opostos, o que é absolutamente normal no mundo dos debates democráticos. Eu chamaria essa experiência de "Olavo de Carvalho e Paulo Roberto de Almeida: duas concepcões sobre gobalização e globalismo, um mesmo propósito em fazer do Brasil um país livre, democrático, desenvolvido". Assistam, a despeito de ser longo e bastante cansativo.
Permito-me, igualmente, remeter à entrevista que dei em outubro de 2016 ao mesmo pessoal do Brasil Paralelo: 
https://membros.brasilparalelo.com.br/assistir/temporada-anterior/paulo-roberto-de-almeida

Abaixo, para os que desejarem não ficar 1:30hs no YouTube, e preferirem conhecer minhas posições, aqui os argumentos preparados previamente ao que eu pensava seria uma entrevista "solo":



Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: notas para entrevista em vídeo; finalidade: programa Brasil Paralelo]


Globalismo e globalização: qual a diferença?
A globalização é fenômeno bem conhecido, e praticamente secular, ou mesmo milenar, tendo se acelerado em diversas ondas desde os grandes descobrimentos e aventuras marítimas do século XVI, que realmente unificaram o mundo pela primeira vez; trata-se de um processo impessoal, objetivo, independente de quaisquer outras forças políticas e sociais, pois ela é conduzida essencialmente ao nível micro, ou seja, por iniciativa de indivíduos e empresas, inventores, inovadores, empresários, aventureiros, missionários, intelectuais ou quaisquer outros atores, de quaisquer países e origens sociais, que transcendem suas circunstâncias locais ou nacionais, para projetar-se além fronteiras, mundialmente e até universalmente, graças aos instrumentos, processos e mecanismos criados, deliberadamente ou não, para justamente ultrapassar barreiras nacionais, limites fronteiriços graças às ferramentas de informação e de comunicação desenvolvidos por esses mesmos agentes privados ou institucionais, com tais objetivos universalistas, transmitindo, transferindo, vendendo, oferecendo os mais diferentes tipos de bens e serviços, mas sobretudo ideias, conceitos, propostas para uma maior integração entre pessoas, empresas, instituições públicas e privadas.
Já o globalismo é um conceito novo, criado com motivações deliberadamente políticas, para caracterizar um movimento, ou processo, equivalente a outros ismos existentes no cenário intelectual ou conceitual do mundo moderno: por exemplo, o socialismo, o feminismo, o altermundialismo, o nacionalismo, quem sabe até o próprio capitalismo, ainda que este seja também um fenômeno econômico e social totalmente objetivo, impessoal, incontrolável, correspondendo apenas a uma determinada forma de organização das forças produtivas (baseada em empresas privadas produzindo bens e serviços para mercados de massa) e das relações de produção (baseadas no trabalho assalariado e no contratualismo direto entre trabalhadores e empresários).
Como eu vejo o globalismo? Como uma tentativa de forças conservadoras ou de direita, para rejeitar a sensação de perda de soberania nacional em prol da globalização, justamente, como se estivesse ocorrendo uma conspiração de forças globalistas para reduzir a soberania dos Estados em favor de um fantasmagórico “governo mundial”. Não hesito em classificar tal concepção estreita de alguns dos efeitos da globalização na categoria das manifestações paranoicas, derivadas de certo nacionalismo estreito, de um soberanismo introvertido, e de uma atitude defensiva em relação aos avanços diretos e indiretos da globalização, para mim inevitáveis e positivos, como aliás a própria perda de soberania dos Estados nacionais sobre partes importantes das políticas públicas, o que considero ser uma tendência favorável à racionalidade econômica e ao bem-estar das sociedades nacionais.
A esquerda política, num certo sentido, também atua contra a globalização, como visto pelo exemplo de diversos partidos europeus na rejeição dos projetos comunitários ou dos acordos regionais e plurilaterais de abertura econômica e de liberalização comercial, como também em outros continentes. Na América Latina, diferentes componentes da esquerda tendem a rejeitar os acordos de livre comércio, em favor de projetos mercantilistas, estatistas, intervencionistas, colocados sob estrito controle das burocracias nacionais.
Em resumo, eu vejo muitas diferenças, e total dissociação de objetivos entre um processo objetivo como a globalização e uma construção política, de caráter restritivo, como esse conceito de globalismo, que de fato se opõe à globalização, por considerá-la negativa ou restritiva das soberanias nacionais, o que eu reputo como positivo.

De onde vem essa ideia de globalismo e qual a origem dessa pauta? Por que estamos falando disso?
O globalismo, essa construção artificial, de certo modo reacionária, tende, pelo que entendo, a restringir, a constranger, fazer retroceder a globalização, por considerar que esse processo atua contra os interesses dos Estados nacionais, em favor de uma entidade que eu considero totalmente fantasmagórica que seria o “governo mundial”, algo totalmente impossível de ser instituído, uma vez que vivemos, desde Westfália pelo menos, e pelos próximos séculos até onde a vista alcança, sob o domínio dos Estados nacionais independentes e soberanos.
Visto pelo outro lado, registramos que é o nacionalismo estreito, a afirmação mesquinha dos interesses nacionais, a defesa exacerbada de uma concepção estreita desses interesses e sua projeção exterior que foram, e ainda são, responsáveis pela maior parte das guerras e conflitos militares, assim como, internamente, pelas violações mais grosseiras dos direitos nacionais e até pela repressão das liberdades democráticas. As ideias de liberdade, de defesa dos direitos humanos, de afirmação irrestrita de valores e princípios democráticos são ideias universais, concebidas e implementadas para a defesa dos direitos dos indivíduos, das liberdades pessoais (de religião, de expressão, de associação, de iniciativas individuais), contra os Estados, contra as tiranias, contra os governos arbitrários, prepotentes, concentradores do poder.
Vejo a globalização, justamente, como um processo criado e desenvolvido ao nível micro, ou seja, por indivíduos e empresas, ao passo que as forças antiglobalização são geralmente de nível macro, estatal, ou até de caráter intergovernamental. São essas forças, muitas delas implementadas por indivíduos ou por organizações de caráter estreitamente nacionalista, que se opõem a um fantasma, o globalismo, ou um pretenso governo mundial.

Quem são essas entidades? ONU, UE, fundações etc. qual o propósito, o que elas defendem, por que elas nasceram e com que dinheiro atuam. 
O mundo atual, o sistema contemporâneo de organizações internacionais, ou de âmbito regional – como a UE, por exemplo, um projeto comunitário – surgiram ao cabo e como consequência de grandes conflitos interestatais, ou de guerras globais, que trouxeram enormes destruições materiais ou e gigantescas hecatombes humanas, crises terríveis surgidas geralmente, quando não totalmente, da afirmação exacerbada dos interesses nacionais, dos nacionalismos exclusivistas, ou de ambições desmedidas de líderes nacionais irresponsáveis, animados pelo desejo de dominar povos e nações, pela via da expansão territorial e das aventuras militaristas. Essas organizações constituem uma tentativa, por parte de líderes responsáveis, democráticos, respeitadores dos direitos humanos, de valores e princípios humanitários, de encontrar um terreno comum de diálogo e entendimento entre os diferentes Estados nacionais soberanos, de maneira a evitar novas guerras e destruições.
Essas organizações podem ser invasivas, intrusivas, destruidoras das soberanias nacionais, mas num certo sentido elas também são soberanistas, defensivas, restritivas, mercantilistas, pela simples razão de que elas são intergovernamentais, na maior parte dos casos, e tendem a defender mais os interesses dos Estados do que dos povos. Creio, assim, de que a acusação de globalistas, ou de defensoras desse fantasma do globalismo, feitas contra elas é exagerada, e equivocada, pois elas nada podem fazer contra a vontade dos Estados nacionais, de que é prova maior a ação (ou falta de) do Conselho de Segurança das Nações Unidas em relação aos piores conflitos ocorridos nos teatros regionais desde o surgimento da ONU, notadamente o conflito no Oriente Médio, como no passado a guerra do Vietnã e, desde sempre e atualmente, as muitas guerras civis, conflitos intra-estatais e diferentes situações de violações de direitos humanos e dos princípios democráticos em quase todos os continentes.
Essas organizações nasceram justamente desses conflitos e das guerras globais, elas defendem o convívio democráticos entre povos e nações, entre Estados nacionais, a cooperação internacional para a paz e a segurança mundiais, o desenvolvimento e o bem-estar desses povos. O dinheiro de que dispõem vem diretamente dos Estados nacionais e de algumas outras fontes secundárias, e elas são, portanto, dependentes dessas dotações. O governo Trump, por exemplo, retirou os EUA da Unesco, o que geralmente significa uma redução do orçamento operacional entre um quinto e um quarto do total dos recursos devotados a alimentar a sua burocracia ou suas ações.

Como diferentes agentes se comportam nesse jogo de interesses? Estados Unidos, Rússia, China, economias emergentes, Islã...
Esses “agentes”, são muito diversos entre si. Estamos falando aqui, de um lado, de três Estados soberanos, Estados Unidos, Rússia e China, totalmente diferentes entre si, sob qualquer critério que se examine; de outro lado, de uma categoria difusa de “atores” que são arbitrariamente agrupados nessa categoria de “economias emergentes”, à qual o Brasil supostamente pertenceria, há muitos anos aliás. Cada um deles possui certamente interesses nacionais, não necessariamente convergentes entre si, e na maior parte do tempo bastante opostos entre si, como parecem ser, por exemplo, os objetivos nacionais de EUA, Rússia ou China. Quanto aos emergentes, essa categoria difusa não permite sequer falar de “jogo de interesses”, pois não jogam num tabuleiro comum.
Já o “Islã”, totalmente ou praticamente desconhecido no Brasil, designa uma imensa comunidade de praticantes dessa religião, divididos em diferentes seitas e vertentes da própria religião, nem sempre harmônicas entre si, que por sua vez se estende a um número muito grande de países e de regiões, diversificados em línguas, geografias, modos de organização política e formas diversas de integração econômica mundial, sem que se possa identificar claramente que tipo de unidade política, ou de governança, haveria de unir todos eles ao abrigo de um conceito vago como “Islã”. Existe uma “Organização Islâmica” que não tem sequer unidade de visão, ou coordenação de comportamentos dos governos dos países membros, para tratar, por exemplo, do problema mais intratável da atualidade, que é o terrorismo de base islâmica, na verdade fundamentalista, ou sectária, e que vitima primeiramente e principalmente os próprios muçulmanos, e marginalmente os ocidentais, que seriam, supostamente, os “inimigos” principais desses terroristas fundamentalistas.

Quais as possíveis consequências de um governo global? Tanto positivas quanto negativas. O que ambas correntes argumentam a respeito. 
Falar sobre as “possíveis consequências” de um fantasmagórico “governo global” significa, em primeiro lugar, considerar que uma tal construção seja possível, que ela esteja em curso de ocorrer, que possa emergir futuramente, ou que esteja sendo seriamente considerada por essas entidades, ou por estadistas ou dirigentes nacionais interessados nesse tipo de agência ou organismo supranacional, que serviria para se substituir, ou até se opor, aos Estados nacionais. Ora, eu considero, não apenas, que tal tipo de governo global é indesejável, mas simplesmente que ele é impossível, nas atuais condições das relações internacionais e dos sistemas existentes de cooperação e de coordenação entre Estados soberanos, membros da ONU. A ONU, ou suas agências especializadas, inclusive as relativamente “independentes” no plano orçamentário, como o FMI ou o Banco Mundial, são totalmente submetidas à vontade, aos desejos, aos projetos dos governos nacionais, sobretudo dos mais poderosos entre eles, como são as cinco potências com cadeiras permanentes no CSNU e alguns outros atores dotados de certas capacidades políticas, financeiras ou militares, como alguns membros do G-20 (estes fazem mais de 90% do PIB mundial, e provavelmente quase a totalidade do “poder de fogo” no mundo, sem que eles sejam capazes de evitar conflitos na periferia).
Não se pode tampouco considerar que existam, efetivamente, duas “correntes” identificadas de opinião, uma “globalista”, a outra anti-globalista, que seriam, hipoteticamente, constituídas, a primeira por partidários da globalização, a segunda por seus opositores, ou vice versa (qualquer que seja o sentido que se atribua a esses conceitos). Tal maniqueísmo conceitual, totalmente artificial, não corresponde a qualquer movimento, processo ou projeto concreto, num ou noutro sentido, ainda que pessoas, ou grupos de pessoas venham agitando tais ideias. Na verdade, apenas os opositores de direita da globalização falam de um “governo global”, ao passo que seus opositores de esquerda preferem ser chamados de “altermundialistas”, e pretendem, utopicamente, a construção de “um outro mundo possível”, que seria não capitalista, não pró-mercados, mas sim partidários de uma coisa chamada “economia solidária”, defesa do meio ambiente contra supostas maldades das multinacionais, defesa de “minorias” – indígenas, mulheres, povos periféricos – que estariam sendo ameaçados por “capitalistas globais”.
Não acreditando, portanto, nessa possibilidade de um governo global, não tenho considerações outras a fazer, que não descartar tal hipótese. O mais próximo que talvez se esteja dessa “ameaça” pode ser representado, muito precariamente, pelas instituições comunitárias da União Europeia, hoje simbolizadas no euro, que não é senão uma etapa mais avançada das quatro liberdades criadas pelos tratados de Roma 60 anos atrás, ou seja: a liberdade de circulação de bens, de serviços, de capitais e de pessoas. A moeda comum, que ainda não é a moeda única da União Europeia, representa, de fato, uma perda, ou abandono, de soberania política e econômica por parte dos Estados membros, mas isso já estava implícito desde a origem, ao se aprovar a constituição de um mercado comum, que apela naturalmente a uma moeda comum. Mesmo esse tipo de arranjo é parcial e limitado, e não deixa de sofrer contestações dos próprios países membros quando determinadas medidas, convertidas em resoluções comunitárias, ameaçam infringir direitos nacionais desses membros, ou quando a Comissão de Bruxelas parece extravasar seu mandato dado pelo Conselho Europeu e busca “harmonizar” disposições diversas com impacto na vida econômica e social das comunidades nacionais.
A outra instância política supostamente destinada a “instaurar” uma alegada “governança global” seria o G-20, um foro de consulta e coordenação entre as maiores economias planetárias, mais a própria UE e algumas outras organizações internacionais que podem trazer alguma expertise ou competência institucional nos temas tratados pelo grupo, que estão situados primariamente no terreno da coordenação econômica global – uma vez que ele foi convocado, ou ressuscitado, quando da crise de 2008 que redundou na Grande Recessão, segundo a terminologia dos economistas –, mas que podem se estender igualmente a outros terrenos (meio ambiente, segurança internacional, etc.). Mas essas duas dezenas de países são muito diversos entre si, possuem alguns objetivos comuns, mas vários outros bastante divergentes, interesses nem sempre coincidentes ou convergentes, o que deve deixar esse grupo muito longe, talvez a anos-luz de distância, de qualquer perspectiva de “governo global”.

O que devemos esperar como próximos passos?
Não existe, a rigor, uma base conceitual adequada para se definir próximos passos, quando não existe uma base comum de entendimento sobre o que seja “globalismo”, “globalização”, “governança global”, ou “governo mundial”, e quando não tem uma definição clara do que sejam “interesses nacionais” desses vários “agentes” ou atores do sistema internacional contemporâneo. Minha compreensão do mundo atual é baseada em estudos de cunho econômico, de natureza política, sobre o desenvolvimento diferenciado e desigual dos países e regiões existentes, a partir de metodologias típicas da ciência política, das relações internacionais, da história e da economia, o que me revela um mundo em transição para algum tipo de configuração ainda não claramente definida.
No pós-guerra, as relações internacionais estiveram dominadas pela bipolaridade organizada em torno dos dois grandes atores da era atômica, logo adiante perturbado pelo desgarramento da China do mundo socialista soviético, e pelo neutralismo de uma parte de países periféricos que evitavam colocar-se claramente de um ou outro lado da bipolaridade. O Brasil, na maior parte do tempo, por força do anticomunismo oficial, colocou-se no lado “ocidental” da bipolaridade, mas crescentemente afirmativo na defesa dos seus interesses nacionais, em busca de uma trajetória própria de políticas nacionais de desenvolvimento, o que o levou a distanciar-se, em algumas instâncias das posturas defendidas pelos países líderes de sua suposta “coalizão de interesses”, no terreno da não proliferação, por exemplo, na capacitação tecnológica ou nas políticas comerciais e de investimentos estrangeiros (num plano relativamente distante do que existia no plano da OCDE, para mencionar um clube anteriormente chamado de “países ricos”, e que ao incorporar, a partir de certo momento, países em transição do socialismo ao capitalismo ou economias em desenvolvimento, passou ao se considerar um “clube de boas práticas”).
O Brasil é claramente um país em desenvolvimento, bastante conhecido pelo seu protecionismo renitente, pelo seu intervencionismo estatal exacerbado, por seu nacionalismo histórico, por uma introversão persistente das políticas econômicas e setoriais, pela burocracia intrusiva na vida dos cidadãos, e portanto por diversas restrições ao empreendedorismo de livre mercado. Até pelos exageros perpetrados desde o início do século por governos notoriamente ineptos e reconhecidamente corruptos, e pelo fracasso de políticas econômicas intervencionistas que nos levaram ao que pode ser chamado de “Grande Destruição”, o Brasil teria interesse, no presente momento de transição, de aproximar-se mais do modelo OCDE de governança econômica, assim como aperfeiçoar sua governança nacional em direção de padrões e práticas mais conformes ao que se chama de accountability – ou seja, responsabilidade governativa, com transparência – e de maior qualidade democrática, o que não é claramente o caso atualmente.
Por isso mesmo, depois de mais de uma década e meia de retrocessos institucionais e de deficiências de governança, estendendo-se por quase todas as áreas das políticas públicas, com uma expansão significativa dos níveis de corrupção política e empresarial, o interesse nacional brasileiro deveria voltar-se para uma recomposição de seu sistema político, com reformas importantes na legislação partidária e eleitoral, e para uma revisão fundamental de suas políticas econômicas, no sentido da abertura econômica e da liberalização comercial, com maior disposição para uma ampla integração econômica mundial.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de dezembro de 2017


Addendum 8/12/2017:

            Tenho por hábito escrever sobre todos os assuntos sobre os quais eu possa deter alguma capacidade analítica, como fruto de minha experiência de vida e conhecimento adquirido pelo estudo, pela pesquisa e através dos livros, em temas importantes da atualidade política e econômica brasileira e mundial. Tenho por hábito refletir sobre toda e qualquer demanda que me é feita, e preparar meus argumentos antecipadamente a meus pronunciamentos públicos.
            Por isso mesmo, nunca embarquei nessa canoa furada do “globalismo”. Esse conceito de globalismo assumiu, para a direita, o mesmo status que já tem, desde longos anos, o conceito de “neoliberalismo” para a esquerda: um slogan vazio, que não se traduz em nenhuma realidade palpável, a não ser uma fantasmagoria construída pela paranoia de alguns contra as evidências concretas da globalização, esta sim um processo real, como eu argumento no texto acima.
            Não pretendo mudar a concepção de ninguém, mas não posso deixar de expressar meus argumentos, que são o fruto de uma experiência diversificada de décadas vivendo no exterior, no Brasil, em contato e na vivência com todos os tipos de socialismos e de capitalismos, em todas as partes do mundo, assim como como resultado de leituras, pesquisas, estudos e debates feitos ao longo dessas últimas cinco décadas, mais a experiência prática como negociador diplomático em diversos foros desse tal de “globalismo”, e confesso nunca ter encontrado essa conspiração de megabilionários e de organizações internacionais para instalar o tal de “governo mundial”. Isso é paranoia pura.
            Outro simplismo extremamente redutor, e totalmente equivocado, é falar de um Islã, como se ele expressasse uma realidade uniforme, e como se todo o Islã quisesse esmagar o Ocidente para instalar o seu modo de governança sobre nós.
            Assim como a esquerda perdeu qualquer credibilidade e respeito intelectual ao persistir nas versões simplistas, e equivocadas, da história, a direita – se ele existe como “entidade”, o que eu duvido – pode perder credibilidade, e alimentar a paranoia, se continuarem agitando essa fantasmagoria do “globalismo”.
            Digo isto com base no que observo, leio, reflito sobre a realidade da vida empresarial, dos organismos internacionais, da vivência em diferentes sistemas socioculturais em que se divide o mundo, pois não me considero ser apenas, ou basicamente, um homem de livros, um acadêmico, ou mesmo apenas diplomata.
            A direita, no Brasil, não poder ser aprisionada pelos conservadores, ou ser um reduto dos reacionários, apenas para se demarcar da esquerda, e acabar adotando uma visão do mundo que é também ideológica, para não dizer sectária. Essa noção de que existe um complô de mega-bilionários com outras entidades poderosas para retirar a nossa soberania é simplesmente ridícula, como sempre foram ridículas as teorias conspiratórias da esquerda em relação ao imperialismo americano atuando para impedir o nosso desenvolvimento.
            Como sempre, escrevo o que penso, o que quero, e expresso minhas ideias através de artigos e livros publicados, ou deixo as ideias disponibilizadas no meu blog e site. Não peço licença a ninguém para expressar minhas ideias...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de dezembro de 2017

Ficha completa do trabalho: 

3202. “Globalismo e globalização: os bastidores do mundo”, Brasília, 7 dezembro 2017, 8 p. Notas preparadas para entrevista via hangout, para um programa da série Brasil Paralelo, gravada em companhia de, e em contraposição a Olavo de Carvalho, sobre o processo de globalização e o conceito de globalismo. Blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html). Complemento em 8/12/2017. Transmitido em 11/11/2017 (link: https://www.youtube.com/watch?feature=youtu.be&utm_campaign=inscritos_-_o_primeiro_debate_do_webinario_ja_esta_no_youtube&utm_medium=email&utm_source=RD%2BStation&v=6Q_Amtnq34g); no Canal YouTube (link: https://youtu.be/6Q_Amtnq34g); divulgado no Fabebook pessoal (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1746403232089786) e no blog Diplomatizzando (link: ). Relação de Publicados n. 1279.


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Oliveira Lima: um historiador das Americas:lancamento de livro no Recife, 13/12/2017

Um convite da Companhia Editora de Pernambuco, CEPE, que editou meu livro e do André Heráclio do Rego, sobre o grande escrito, jornalista, historiador e diplomata, entre outras qualidades, Oliveira Lima:



Brasil Paralelo: entrevista com Paulo Roberto de Almeida (2016)

Antes de ter acesso a uma entrevista recente que concedi na série do Brasil Paralelo, na qual defendi a globalização e acusei o tal de "globalismo" de ser apenas uma invenção paranóica de certa direita (da qual ainda preciso ter o link), disponibilizo novamente uma entrevista feita no ano passado, na qual tratei de diversos problemas da conjuntura brasileira imediatamente após o impeachment de Madame Pasadena. 
 
Neste link: 
 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Protecionismo ‘a brasileira - Marcos Jank, Jose Tavares de Araujo 


Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 09/12/2017

Marcos Sawaya Jank (*)

José Tavares de Araujo Jr. (**)

A saída está em mais mercado e menos governo, avançando na integração às cadeias globais de valor.

O Brasil é um dos países mais fechados do mundo. Ocupa a 8ª posição entre os 134 países com maiores tarifas de importação sobre bens industriais —14,1%, ante 8% na média da Organização Mundial do Comércio (OMC). A relação comércio/PIB está entre as menores do mundo. Além disso, nos desconectamos do mundo ao não assinar nenhum acordo comercial relevante e praticamente não participar das grandes cadeias de valor que marcam o desenvolvimento capitalista no século 21.

Na realidade, nosso protecionismo é quase centenário, já que tem sua origem no modelo nacional-desenvolvimentista de substituição de importações criado por Getúlio Vargas nos anos 1930.

É fato que no início dos anos 1990 houve um esforço para abrir a economia, que, com raras exceções, não foi suficiente para integrar o Brasil ao mundo. Ao contrário, a partir dos anos 2000, a abertura sofreu um severo revés, com o aperfeiçoamento de procedimentos excêntricos que caracterizam o que poderíamos chamar de "protecionismo à brasileira".

Exemplos são a aplicação de medidas antidumping sobre operações de drawback, as tarifas de importação sobre bens de capital e intermediários entre as mais altas do planeta, as regras anacrônicas de "conteúdo local", as benesses transitórias concedidas por meio de ex-tarifários e os critérios de política industrial incompatíveis com os padrões contemporâneos de organização da produção, como as portarias interministeriais que definem o chamado Processo Produtivo Básico (PPB), um conceito que só existe no Brasil.

Apesar de dispor de US$ 400 bilhões em divisas, o Brasil não consegue se desvencilhar da herança protecionista, com foco na secular substituição de importações. Um exemplo são os incentivos discriminatórios do programa Inovar-Auto, lançado em 2012 e condenado pela OMC em agosto. Outro é a introdução de restrições inéditas às importações de produtos do agronegócio, setor no qual o Brasil possui vantagens comparativas inequívocas e deveria dar o exemplo. 

Sob a ótica da economia política da proteção, uma das distorções típicas dos regimes comerciais voltados à busca da autarquia é fortalecer o poder burocrático dos órgãos que controlam o comércio. Além da escalada recente na aplicação de medidas antidumping, em 2016 a Advocacia Geral da União (AGU) considerou que os pareceres do Departamento de Defesa Comercial (Decom-Mdic) sobre investigações antidumping seriam vinculantes às decisões da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Isso criou uma situação paradoxal, na qual o Conselho de Ministros da Camex surpreendentemente não tem poder para rever decisões do Decom, com exceção dos casos em que for aplicável a chamada cláusula de "interesse público".

A boa notícia é que o tema da abertura comercial está ao menos sendo pautado. Em novembro, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), em parceria com os Ministérios da Fazenda e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, promoveu o evento "Diálogos Estratégicos: Abertura Econômica para o Desenvolvimento e o Bem-Estar".

Esperamos que a matéria ganhe importância num momento em que finalmente estamos avançando nas reformas e que entramos num ano eleitoral que pode definir um novo modelo de desenvolvimento.

É verdade que o uso do cachimbo entortou a boca, e hoje só ouvimos lamúrias sobre custo Brasil, perda de competitividade e baixo crescimento —sendo que alguns só conseguem propor soluções que passam por mais Estado.

Mas a verdadeira saída está, sim, em mais mercado e menos governo, aprofundando as reformas (tributária, por exemplo) e avançando na agenda de integração a países-chave e às cadeias globais de valor.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.

(**) José Tavares de Araujo Jr. é doutor em economia pela Universidade de Londres e sócio da Ecostrat Consultores. Email: jtavares@ecostrat.net