Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 9 de fevereiro de 2019
Da TV Lula à TV Bolsonaro? - Ricardo Bergamini e Rodrigo Constantino
Venezuela: especulando sobre o que pode ocorrer - Paulo Roberto de Almeida
Trump: nunca antes na história dos EUA, e nunca mais...
1) Trump:
“North Korea, under the leadership of Kim Jong Un, will become a great Economic Powerhouse. He may surprise some but he won’t surprise me, because I have gotten to know him & fully understand how capable he is. North Korea will become a different kind of Rocket - an Economic one!”
2) Carlos Goes:
“Se algum dia a gente descobrir que o Trump é um membro secreto da ala stanlinista PCdoB que quer: centralizar a economia, dar estímulo fiscal em pleno emprego, evitar mudança tecnológica, aumentar a dívida e acabar com o livre comércio, as coisas vão fazer mais sentido.”
3) PRA:
“Nunca antes na história dos EUA um presidente revelou-se: a) um insano demencial; b) um cretino fundamental; c) um desmantelador serial; d) idiota terminal; e) todas as opções precedentes. Reparem quem gosta dele...”
4) Machado de Assis:
(Ainda selecionando a melhor frase de Simão Bacamarte).
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
Paul Klee: primeira grande mostra no Brasil - CCBB-SP
Ícone do modernismo, Paul Klee ganha primeira grande exposição no Brasil
Uma vez que será a primeira grande exposição de Paul Klee no Brasil, nós decidimos organizá-la no formato de uma retrospectiva. A mostra permitirá que o público conheça seu desenvolvimento artístico e também tenha acesso a importantes aspectos de sua obra, como seu interesse pelo teatro, seus comentários políticos ou a série de desenhos com a temática dos anjos.
Sim, acredito que ressoa em artistas como Lasar Segall, Alfredo Volpi e até mesmo nos neoconcretos. Mais estudos precisam ser feitos. Espero que a mostra desperte o interesse para a pesquisa de mais relações como essas.
Eu destacaria especialmente uma pequena pintura intitulada ‘Struck from the List’, que Klee produziu em 1933, no período em que foi perseguido pelo regime nazista. A obra é muito singela, mas expressa claramente como ele se sentia. Também destacaria a última pintura criada por ele, que ainda estava em um cavalete de seu estúdio quando ele morreu. É uma natureza-morta na qual ele combinou os aspectos mais importantes de sua obra.
Em cada seção, o público descobrirá um Klee diferente – e é exatamente isso que faz a mostra ser tão interessante.
O chanceler paralelo: Eduardo Bolsonaro - Igor Gadelha (Crusoe)
O sr. acha que o Brasil deveria intervir ou apoiar uma intervenção militar na Venezuela?
Sou contra a ideia de que o Brasil venha a declarar uma guerra ou fazer uma intervenção na Venezuela. Até se nós quisermos aqui formar uma força humanitária e mandar um avião sobrevoar as áreas onde estão as pessoas mais ligadas ao Guaidó (Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino do país), qual a garantia teremos de que esse avião não vai ser bombardeado na Venezuela? Nenhuma. Então, a Venezuela hoje não tem sequer uma estabilidade para você mandar uma ajuda humanitária desse porte. Além disso, mandando uma ajuda humanitária, certamente quem está lá embaixo está com armas nas mãos, que são os coletivos do Maduro, para os quais ele distribuiu vários fuzis, inclusive AK. Com apoio da Rússia, alguns anos atrás, o (Hugo) Chávez distribuiu mais de 100 mil (fuzis) para os seus coletivos, os cubanos, que são em torno de 50 mil, expectativa de 50 mil a 100 mil, mais ou menos, que estejam lá, Hezbollah, FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ELN (Exército de Libertação Nacional). Esse pessoal é que vai pegar a ajuda humanitária e distribuir entre os deles. Então temos que ter a coragem de falar o seguinte: o Maduro só vai sair do poder através do uso da força. Não estou dizendo que o Brasil tem que ir lá, entrar com militares, com as Forças Armadas, para tirar o Maduro, não. Não é isso que estou dizendo. Estou tendo uma conclusão óbvia. Porque através de eleições ele já demonstrou que não vai sair. As últimas eleições tiveram mais de 80% de abstenções. Se levarmos em conta que não houve fraude, o que é uma piada imaginar que não houve fraude naquelas eleições, o Maduro foi reeleito com 17% dos votos.
De onde viria, então, essa força para tirar Maduro do poder? Dos Estados Unidos?
Os Estados Unidos têm grandes Forças Armadas. E não só os Estados Unidos, mas qualquer iniciativa que venha a ser feita na Venezuela, como ocorreu de maneira desorganizada com Oscar Pérez, que juntou um pequeno contingente de militares e policiais e conseguiu fazer uma força ali para tentar bater de frente com o Maduro, qualquer iniciativa dessas tem que ser apoiada. Porque, se ela não for apoiada, a cada dia que passa, mais pessoas estarão morrendo de fome, e o Maduro não está nem aí para isso.
Mas que solução o sr. vê, afinal?
Vejo que, de alguma maneira, alguém tem que se organizar. Principalmente militares venezuelanos que estão no exílio, de alguma maneira, se organizar para conseguir, pouco a pouco, entrar e ir libertando a Venezuela. Agora, entre o que eu acho que pode acontecer e o que vai acontecer, há uma distância bem grande. Estou te falando aqui como um deputado federal do Brasil o que eles podem fazer, o que estão fazendo etc. Agora, toda ditadura, quanto mais ela vai se enrijecendo, mais a oposição também vai tomando medidas contrárias. O povo venezuelano estará vendo que vai morrer de fome ou vai ter que se prostituir para ter umas migalhas do governo, mais e mais pessoas vão pensando que vale a pena tentar ir para o tudo ou nada.
Qual é a sua opinião sobre a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém?
Acredito que o Brasil não pode errar porque, pelo tamanho que o Brasil tem, ele vai servir de exemplo para toda a região. Então, se o Brasil fizer uma transferência de maneira exitosa, se for um sucesso a transferência da embaixada, isso fará com que outros países possam vir a acompanhar o Brasil. Do mesmo modo que, se nós fizermos alguma coisa errada, isso vai servir de exemplo para que outros países não venham a seguir essa tentativa de transferência da embaixada para Jerusalém. O que as pessoas não atentam é que ocorreu já uma grande mudança no Oriente Médio, onde Israel não é mais visto como inimigo. Israel é cada vez mais visto como um aliado. O grande problema de toda aquela região é o Irã. O Irã é que financia o terrorismo, o Irã é que causa problemas, que dá suporte para grupos extremistas. Para você ver: Israel queria dar de graça a tecnologia de água para os fazendeiros no Irã. O governo do Irã não permitiu porque era uma ajuda de Israel. Ele prefere ver seu povo morrendo sem alimento e sem água a receber uma ajuda de Israel. E eu corroboro que aquelas relações ali mudaram quando você olha a mudança que os Estados Unidos fizeram de sua embaixada para Jerusalém. Vários países censuraram publicamente, mas não houve qualquer tipo de retaliação contra os Estados Unidos. Aí, já sei, você vai perguntar: poxa, mas olha o tamanho dos Estados Unidos. Tudo bem. Mas olha o tamanho da Guatemala. Será que, se os países árabes não quisessem destruir a Guatemala, fazer um embargo econômico, não poderiam fazer? Por que não fizeram? O Brasil é um meio termo. Não está em uma posição como a americana, nem como a guatemalteca. Mas é um meio termo, e acho, sim, que a gente tem que fazer essa mudança. Primeiro, por respeito aos eleitores, já que é uma promessa de campanha do Jair Bolsonaro. E, em conversa com o Benjamin Netanyahu, quando ele veio ao Brasil, Jair Bolsonaro se comprometeu a fazer a mudança.
Há uma pressão da bancada ruralista contra a transferência por receio de retaliações na compra de frango.
Muito frango… E carne. Do Brasil e da Austrália. E se os dois mudarem a embaixada, (os países árabes) vão fazer o quê?
O sr. concorda com o meio termo adotado pela Austrália de instalar a embaixada em Jerusalém Ocidental?
Não. Acho que tem que ser o compromisso de campanha. Você pode botar um gabinete avançado, depois pode fazer a mudança da embaixada. Tem que ver um prédio para isso. Isso pode ser que não saia de graça. Enfim. Mas são medidas que têm que ser tomadas. Outro ponto que a gente não passou, mas que é relevante, é que muitas pessoas têm medo de ataque terrorista. Ah, a gente vai estar trazendo para o Brasil a questão do terrorismo islâmico para cá. Meus caros, a Argentina já teve dois ataques terroristas nos anos 1990. Quem acha que no Brasil não tem operação de grupo extremista está redondamente enganado. O Hezbollah está aqui em cima junto com o Hamas, aqui na Venezuela. E reparem: quantas pessoas morreram de ataques terroristas em 10 anos na Europa? Não chegam a mil.
Mesmo assim é muita gente.
Eu sei. Mas calma lá. Estou querendo dizer o seguinte: e se eles começarem a fazer ataques terroristas reivindicando que as mulheres, sei lá, tenham determinado comportamento? E aí, a gente vai abaixar a cabeça para eles porque vão fazer ataques terroristas? Acho que, se eles radicalizarem com ataques terroristas, a gente poderia enrijecer as nossas leis, especificamente para esses casos. Banimento de passaporte, banimento do país, prisão perpétua. Começar a discutir aqui. Tenho certeza que, se você colocar para um plebiscito, aprova.
Mas é cláusula pétrea na Constituição a proibição da prisão perpétua, por exemplo. Como fazer?
O poder constituinte originário é do povo. O povo tem total poder para mudar. Quem vive no território brasileiro não é o povo brasileiro?
Dawisson Lopes e a Diplomacia do Conhecimento - Paulo Roberto de Almeida
Acrescentei algo ao retwitar no meu próprio Twitter.
Paulo Roberto de Almeida
Dawisson Lopes:
1) A convite do Itamaraty, participei de 2 eventos no ano passado. Os 2 tinham por objetivo discutir as principais questões da pol. externa brasileira no futuro. Nas ocasiões, usei meu tempo para discutir a relação entre DIPLOMACIA e CONHECIMENTO. Narro, na sequência, os fatos.
2) Em fevereiro, falei do lugar periférico do 🇧🇷 nas redes globais do conhecimento. Por várias métricas - de PISA a rankings universitários - nós ficamos para trás. Somos um país de poucos falantes de inglês. Produção científica volumosa, mas de baixo impacto. Investimento baixo.
3) Quando visitamos a história da política externa brasileira, contudo, encontramos a hipótese de que teria sido a "diplomacia do conhecimento", isto é, o investimento sistemático em saberes jurídicos e cartográficos, o que nos teria garantido um lugar à mesa. Ver a obra do Barão do RB.
4) O que expus aos presentes - embaixadores e acadêmicos - é que, talvez, aquele quadro cognitivo de 100 anos atrás ainda estivesse a balizar o nosso corpo diplomático. A aposta nos saberes clássicos, em oposição às novas técnicas e temas, nos limitaria possibilidades.
5) Fundamentei meu argumento em casos ao redor do mundo. Na forma como estadunidenses se relacionavam com o conhecimento para produzir política externa. Nos estudos que os chineses ora desenvolviam. Na maneira como indianos vinham mobilizando a academia e os think tanks, etc.
6) Temas como revolução industrial 4.0, nova corrida espacial, cibersegurança, biotecnologia, dentre outros, pareciam-me ainda distantes do universo cognitivo do diplomata brasileiro. Meu ponto: a "diplomacia do conhecimento", hoje, demandaria um acercamento dessas novidades.
7) Em outubro último, voltei a margear o assunto, ao tratar da relação entre fazer acadêmico e fazer diplomático. Enquanto a diplomacia não busca insumos acadêmicos para a fabricação de suas políticas, à academia faltaria, com certa frequência, mais conhecimento sobre a prática.
8) Entendo que a diplomacia brasileira poderia beneficiar-se dos conhecimentos sobre métodos e técnicas para acessar/analisar dados que a academia cultiva. Uma abordagem menos ensaística e mais embasada em metodologia científica poderia ajudar na consecução de melhores resultados.
9) Análise de política pública, estatística inferencial, big data, protocolos de comparação, dentre outros ferramentais, municiam toda a produção da atual política externa chinesa, por exemplo. Não tenho dúvida de que o ensaísmo diplomático do 🇧🇷 é um problema a superar.
10) Faço o longo prólogo para, enfim, debruçar-me sobre as mudanças propostas na formação do diplomata brasileiro, recentemente publicizadas. Houve diversas mudanças de terminologia disciplinar, de carga horária, de encadeamento na grade curricular, além de exclusões e inclusões.
11) Às principais mudanças: a) as disciplinas de História da PEB e de Pensamento Diplomático, enquanto tais, não existem mais. Foram fundidas; b) a disciplina de Planej. Diplom. perdeu metade da CH. Como professor, bem sei que esse é um jeito sutil de fazer o indesejado "sumir".
12) Tem mais: c) a disciplina de América Latina foi suprimida na grade; d) incluíram-se, por sua vez, duas disciplinas de Clássicos. A primeira, já em oferta, cobre de Platão a Kant. 25 livros que representariam, quero acreditar, a melhor tradição ocidental conforme o atual chanceler.
13) Ora: o novo 'homo diplomaticus', na verdade, não vai se aproximar do temário contemporâneo da política internacional, tampouco se atualizar sobre metodologia científica de ponta. Antes, mergulhará no ensaísmo diletante. Aperfeiçoará ainda mais a sua cultura de salão.
Paulo Roberto de Almeida:
“Diplomacia do conhecimento” é exatamento o título de um ensaio meu ainda não divulgado, mas que deve acompanhar a 3a. edição da obra “O Itamaraty na Cultura Brasileira” (1a. ed. em 2001, na gestão Celso Lafer; org. Alberto da Costa e Silva), agora em finalização. Aguardem.
Meus livros do período do ostracismo - Paulo Roberto de Almeida
Sério! Não estou brincando. Se não fosse pelo fato de os "barões" da diplomacia lulopetista no Itamaraty terem me colocado num longo ostracismo, de 2003 a 2016, período no qual fiz da Biblioteca meu principal local de trabalho, eu nunca teria produzido tanto, pois teria de ficar redigindo aborrecidos expedientes de trabalho, em lugar de me dedicar ao que mais gosto de fazer: ler, refletir, escrever, divulgar o que produzo.
Meus agradecimentos, portanto.
Segue a lista dos livros, exclusivamente entre 2003 e 2016.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de fevereiro de 2019