Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
[Objetivo: entrevista concedida a Celso
Assis; finalidade: Clube Bastiat, de
Goiânia]
Exatamente dois anos atrás,
comparecendo em Goiânia para uma aula inaugural no curso de pós-graduação lato sensu
em Diplomacia e Relações Internacionais da UFG, em 24/03/2017, a convite do Prof.
Diego Trindade D’Ávila Magalhães, coordenador do curso – o texto de minha alocução
na ocasião, “A política externa e a diplomacia brasileira
no século XXI”, encontra-se disponível no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/03/a-politica-externa-e-diplomacia.html)
–, fui entrevista por Celso Assis, animador do Clube Bastiat – nome revelador –
na capital do estado de Goiás.
O que segue abaixo é a
transcrição dessa entrevista, gravada, na qual efetuei pequenas correções
formais, a partir de sua publicação no site Medium
(link: https://medium.com/@celsoassis/paulo-roberto-de-almeida-o-socialismo-%C3%A9-uma-mis%C3%A9ria-moral-14281d4726f2?fbclid=IwAR3s7Rfy8o6jPIXLRIG2miYg3Q_GAQFPSEHfqH2P3wSz4uTy9b2k9BzlZXk;
acesso em 24/03/2019). Meu entrevistador, Celso Assis, efetuou um resumo da
conversa de quase uma hora que tivemos depois de minha aula inaugural, e lhe
sou grato pela gentileza da iniciativa e pelo trabalho dela decorrente. Essa
entrevista não fazia parte de meus trabalhos registrados, e agora entra em
minha lista de trabalhos de 2017, na sequência imediata daquela aula, sob o número
3098bis.
Gostaria, dois anos
depois, de deixar registrado meus agradecimentos tanto ao pessoal da Universidade
Federal de Goiás, pela confiança e pelo convite formulado para essa aula inaugural,
quanto ao Celso Assis, pela iniciativa tomada de aproveitar minha viagem para
realizar a entrevista, um pouco de surpresa, sem preparação, o que explica o
caráter um pouco descosido e improvisado de minhas respostas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de março de
2019
Paulo Roberto de Almeida: “O
socialismo é uma miséria moral” — entrevista
Diplomata
conta como foi marxista quando jovem, explica sobre o caos na Venezuela e
descreve a figura de Roberto Campos
Entrevista
realizada em 24 de março de 2017 para o Clube Bastiat na oportunidade que Paulo
Roberto de Almeida ministrou uma palestra na Universidade Federal de Goiás. Foi
transcrita recentemente para melhor aproveitamento do material.
Paulo Roberto de Almeida é
diplomata de carreira, professor universitário e doutor em Ciências Sociais
pela Universidade de Bruxelas (1984). Desde agosto de 2016, é diretor do
Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação
Alexandre de Gusmão (Funag), do Ministério das Relações Exteriores.
COMO O SENHOR CHEGOU AOS IDEAIS LIBERAIS?
Paulo Roberto de Almeida: Eu não me
defino teoricamente como um liberal ou como um progressista ou qualquer outro
rótulo. Eu tive um caminho vindo do marxismo na juventude e tanto no plano
teórico, pelas leituras, quanto no plano prático, pela observação, pelas
viagens, pela vida vivida em diversos socialismos e capitalismos, eu fui
caminhando naturalmente em direção de soluções mais racionais. Aquelas que
encarnam uma relação, uma compatibilidade entre as verdades dos fatos e as
intenções.
É claro que na juventude você tem aquelas aspirações
igualitárias, socializantes, de justiça social, construídas sobre utopias,
sobre falsas soluções. É um fato que se descobre pela vida de que o socialismo
é um fracasso material. Mais que um fracasso material, o socialismo é
uma miséria moral. Um regime de delação, de repressão.
Saindo do Brasil muito jovem, com vinte anos, fui
direto ao socialismo, na Europa central, no socialismo real de tipo soviético.
Eu me deparei não apenas com a penúria material, mas com a miséria moral. Ao
cabo de pouco tempo, menos de três meses, eu saí e me estabeleci na Bélgica.
Não era mais o socialismo real, mas o capitalismo quase ideal. Trabalho e
estudando, passando meu tempo sobretudo na biblioteca do Instituto de
Sociologia da Universidade de Bruxelas, fui fazendo a transição natural do
socialismo estatizante da juventude para um socialismo mais light.
Depois naturalmente, eu aceitei a realidade das democracias de mercado.
MESMO COM TANTOS RELATOS DAS MISÉRIAS QUE PASSARAM E
PASSAM AS PESSOAS EM NAÇÕES SOCIALISTAS, POR QUE AINDA HÁ PESSOAS QUE INSISTEM
EM UMA “REVOLUÇÃO”?
PRA: A concepção marxista do mundo é instigante e
atraente. Ela proclama as misérias materiais do mundo: nenhum regime é
perfeito, as pessoas têm que trabalhar duro. Ela proclama um ideal mais
elevado, o da igualdade. Aponta a causa da miséria como sendo a propriedade
privada dos meios de produção, a existência de burgueses concentradores de
riquezas. Apontam também o caminho revolucionário ou pelo meio eleitoral, mas com
a intenção de superar o capitalismo e a propriedade privada.
Isso atrai muito a juventude, pois ela é mais propensa
a maior justiça social, a maior igualdade, a maior generosidade, a uma grande
reforma na sociedade. Esses jovens não atentam a que a construção humana é
feita de progressos graduais, constantes e cumulativos. Esse é um processo que
todas as sociedades atravessam. A tentativa de reordenar a sociedade
para construir igualdade redunda geralmente na distribuição da pobreza.
A sociedade
precisa ter o processo de acumulação, efeito de trabalho e competição. Não é um
sistema generoso. O capitalismo em si mesmo não é um sistema moral ou imoral,
ele é amoral. Ele é um sistema amoral. As pessoas trabalham, tem algo para
vender, para oferecer. O retorno vem pelo mercado, não pela mão generosa
do estado.
O Estado é uma extorsão da riqueza social produzida pelos empresários e
pelos trabalhadores em benefício do conjunto da sociedade. Com isso você
diminui os incentivos à acumulação. É um sistema falho, onde todos esperam
receber algo de um ente supostamente neutro, que na verdade não existe. O
estado é uma construção social feita pelos homens para facilitar as relações
humanas, mas ele próprio não é um criador de riqueza. Ele vive da extração da riqueza
criada pela sociedade.
Basear todo o progresso econômico e social sobre um
sistema estatizante é apoiar-se apenas na miséria, na pobreza e na estagnação.
COMO O BRASIL PODE AJUDAR A VENEZUELA E COMO PODEMOS
NOS PROTEGER DAQUELE DESTINO?
PRA: A Venezuela é um caso extremo, a exacerbação
de um fenômeno tipicamente latino-americano. Temos, de um lado, a demagogia
política, as mentiras, as promessas irrealistas e, de outro lado, o populismo
econômico. Isso não acontece apenas na América Latina, mas esta é especialmente
devotada a essas deformações.
A Venezuela tem um traço diferente de seus vizinhos
latino-americanos que é sua riqueza em petróleo. Pode ser uma boa coisa, se bem
administrada, mas pode ser uma maldição. Ele deforma as condições econômicas de
um país. Muitas vezes ele está à flor da terra, o que permite uma riqueza
imediata.
A sociedade venezuelana foi deformada pelo petróleo
durante décadas. Essa situação atraiu comportamentos rentistas, o que os
economistas chamam de rent-seeking. A sociedade passou a ficar
dependente do petróleo.
O [falecido ditador Hugo] Chávez criou aquilo que se
chama assistencialismo estatal, distribuindo a riqueza do petróleo de uma forma
desigual. E também atraído pelo socialismo dos cubanos, ele passou a reprimir a
atividade capitalista privada e a estatizar e a monopolizar diversos setores.
Com isso ele retirou os estímulos à produção de bens pela própria sociedade.
A Venezuela é um estado falido e possivelmente em
situação de pré-guerra civil.
O Brasil poderia talvez criar um grupo de “amigos do povo venezuelano” e
obrigar a Venezuela a fazer eleições verdadeiramente livres. Tecnicamente, a
Venezuela já é uma ditadura. As instituições estão deformadas. Antes, o
parlamento era majoritariamente chavista, hoje tem uma oposição maior, mas que
está sendo sabotada. O Brasil e os outros países da América Latina, através de
mecanismos de defesa da democracia do Mercosul, da Unasul, da OEA, deveriam
pressionar a Venezuela por eleições livres. Daí poderia começar um processo
muito duro de reconstrução da economia.
[ATUALIZAÇÃO:
Algo assim aconteceu em fevereiro de 2018 por um grupo de países
latino-americanos, incluindo o Brasil. Mais informações por meio deste link.]
QUANDO O PRESIDENTE MICHEL
TEMER DISSE QUE NO GOVERNO DELE O BRASIL NÃO
VAI TRABALHAR COM VISÕES DE MUNDO ENVIESADAS, ENTÃO ELE ESTAVA FALANDO SOBRE
ISSO?
PRA: Exato. O Brasil, como todo país
latino-americano, alterna entre visões mais demagógicas, mais populistas e mais
realistas. Infelizmente, o Brasil atravessou nos últimos treze anos, com os
governos petistas, governos estatizantes, dirigistas, apoiadores de governos
socialistas e inimigos da liberdade, como o cubano.
Nisso a política externa foi deformada, ela passou de
abstencionista da democracia para um apoiador de ditaduras.
O Brasil é em grande parte responsável pela manutenção
do Chávez e de outros regimes populistas e bolivarianos na América Latina.
Felizmente acabou, mas ocorreu um desastre na
economia. A presidente Dilma foi impedida de continuar seu mandato. O
presidente Temer é um político tradicional e o Itamaraty retoma seu caráter
profissional e isento, sem esse viés progressista e bolivariano dos últimos
treze anos.
EM ABRIL (DE 2017), ROBERTO CAMPOS COMPLETARIA 100
ANOS. O SENHOR PODERIA DIZER QUAL FOI O LEGADO DELE PARA O BRASIL?
PRA: O Roberto Campos [1917–2001]
foi um intelectual de qualidade excepcional. Vindo de estudos seminaristas,
entrou na diplomacia e ao ser encarregado de questões econômicas, tanto no
Itamaraty quando na sua primeira missão nos Estados Unidos, ele participou de
conferências extremamente importantes, como a de Bretton Woods e a
de Havana,
sobre comércio e emprego.
Com isso ele se tornou um economista altamente
capacitado em uma fase que o Brasil estava deslanchando para o desenvolvimento.
Ele fez uma tese de mestrado sobre flutuações e ciclos econômicos de qualidade
tão excepcional que Joseph Schumpeter, famoso economista que lecionava em
Harvard, disse que ela tinha qualidade de doutorado — e de fato tinha.
Observando o Brasil, os Estados Unidos, a América Latina, Roberto Campos
concluiu que a melhor forma de desenvolvimento para o Brasil seria via mercado,
estabilidade macroeconômica, combatendo a inflação, competição no campo
microeconômico, instituições de governança fiáveis, alta qualidade de capital
humano — ele sempre insistiu na educação — e sobretudo a abertura ao mercado
internacional e aos investimentos estrangeiros. Ele tinha uma receita para o
desenvolvimento e tentou aplicar.
Roberto Campos foi um dos criadores e um dos
presidentes do BNDE [posteriormente renomeado BNDES], um dos principais redatores
do Plano de Metas do Juscelino Kubitschek em 1955. Essa experiência prática, de
não só estudar economia e comparar o Brasil a outros países, mas também de
formular políticas econômicas, de ver o efeito devastador da inflação e de um
mercado protecionista, fez com que ele chegasse a uma receita ideal para o
desenvolvimento do Brasil.
Infelizmente o Brasil não era propenso a aceitar essas
receitas liberais. Tanto que ele era chamado de Bob Fields [a tradução do nome
Roberto Campos para o inglês] por sua visão pró-americana do mundo. Mesmo não tendo
participado do golpe militar de 1964, ele foi convidado logo em seguida para o
Ministério do Planejamento. De 1964 a 1967, junto com o Ministro da Fazenda
Otávio Gouveia de Bulhões, um liberal, ele pode transformar radicalmente a
economia brasileira, modernizá-la e fazer todas as reformas necessárias para
colocar o Brasil em um novo patamar de desenvolvimento. E ele conseguiu.
Em 1967, quando ele saiu do governo, o Brasil
enveredou em um ciclo de crescimento extraordinário, a taxas chinesas,
digamos — aliás, os asiáticos vinham ao Brasil para tomar receitas de
crescimento econômico. Chegou a 14% o crescimento em 1973, mas os
militares exageraram. Roberto Campos criticava seus antecessores e seus
sucessores. Apontava a leniência com a inflação, a estatização exagerada, o
apoio no endividamento externo. Ele não tinha problema em criticar.
Durante todos esses anos, de 1950 até sua morte, ele
foi um debatedor. Escrevi artigos semanais para os grandes jornais do Rio e de
São Paulo. Lembro que quando eu era jovem, eu até tentei me opor
ideologicamente a ele, mas não consegui.
Se a gente ler os escritos dele desde aquela época,
todas as prescrições econômicas que ele fez para o Brasil continuam válidas e
pungentes. Ele tem uma atualidade muito concreta. Teve a felicidade de
sobreviver ao socialismo e também a felicidade de não ver essa lástima que
aconteceu à economia graças aos petistas.
Algumas semanas depois
desta entrevista, o professor Paulo Roberto de Almeida lançou o livro “O homem
que pensou o Brasil — trajetória intelectual de Roberto Campos” (Curitiba:
Appris, 2017).
|Sem Rumo| Prestes a completar três meses na presidência, Jair Bolsonaro ainda não conseguiu afinar a política externa, que se distancia do pragmatismo característico e se aproxima de decisões ideológicas
O Povo (CE), domingo, 24 de março de 2019
A dúvida continua sendo o principal sentimento de quem tenta responder para qual direção o governo de Jair Bolsonaro deve conduzir a política externa brasileira. Há uma única certeza entre pesquisadores da área e diplomatas de carreira: o rumo será o oposto do que vinha sendo traçado, pelo menos, durante os últimos 40 anos.
"Pela primeira vez na história, temos um chanceler (Ernesto Araújo) que propõe uma ruptura completa com o que eram os princípios diplomáticos anteriores. Ele vem chamando isso de dar alma à política externa. Isso é retórica, mas tem implicações importantes", aponta Guilherme Casarões, professor da FGV São Paulo.
Mudança quanto ao posicionamento sobre a questão palestina, possibilidade de se envolver em intervenção militar na Venezuela, rusgas no tratamento com a China, principal parceiro comercial brasileiro, e, principalmente, alinhamento com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dão sinais de como o Brasil deve se portar nos próximos anos, o que não é visto de modo otimista. "Não estamos falando de um ruptura em relação ao governo Lula, não é uma ruptura meramente esquerda e direita. É uma ruptura que tem a ver com a tradição diplomática do Brasil", argumenta Casarões.
Professora da Universidade Estadual do Ceará e coordenadora do Observatório de Nacionalidade, Mônica Martins elenca que existem graves consequências dessa ruptura provocada pela nova gestão do Itamaraty. "São eles a perda do papel de liderança regional e o de ser um ator soberano junto à comunidade internacional, que a gente vinha mantendo a duras penas. O presidente jogou na lata do lixo essas duas importantes conquistas da diplomacia brasileira", critica.
O discurso repetido sobre a diplomacia promete a retirada de ideologia da política externa brasileira. "Ele é o presidente que nós já convivemos desde a redemocratização que demonstra uma ideologia mais explícita", rebate Mônica Martins. O diplomata de carreira Paulo Roberto de Almeida concorda que são as questões ideológicas que vêm guiando as
decisões na área.
Esse tipo de tratamento não seria novidade na atuação de governos na área internacional, segundo ele. "(Agora) Você está vendo uma diplomacia não mais partidária como a dos presidentes petistas, mas
familiar", completa.
"Os filhos do presidente já mostraram do que são capazes. Eles possuem força e influência no Planalto e no próprio governo", afirma o presidente do instituto Brasil África, Bosco Monte. "(Se ventila) que o senhor Eduardo Bolsonaro seria uma espécie de chanceler paralelo. Eu até diria que ele é o chanceler de fato e tem afirmado coisas sobre política internacional que causam apreensão quanto à sua capacidade de compreender o que seja a realidade internacional", concorda Paulo Roberto.
Os diversos grupos querendo controlar os rumos das relações internacionais brasileiras e uma indefinição por parte do governo de qual deve ser a direção escolhida pode gerar receio nos governantes mundiais, inclusive quanto às relações econômicas e a possibilidade de investimentos de outros países no Brasil.
"Historicamente, o Brasil foi previsível. Hoje é difícil identificar qual o interlocutor e qual posição que o Brasil vai tomar. Você tem o filho do presidente e o próprio ministro que tentam dialogar mais com a base de eleitores e ignora os impactos que declarações e medidas anunciadas e recuos podem ter nas nossas relações", critica a pesquisadora em relações internacionais Maiara Folly.
A projeção do futuro próximo da diplomacia brasileira não é mais fácil de ser feita do que a análise do presente Quando indagado, Bosco Monte vislumbra poucas alterações nesse roteiro de indefinição, com "expectativa de que não teremos outra narrativa do que estou falando agora nos próximos anos".
"Isso é ruim, tanto para o governo, para os diversos ministérios, mas também para uma conversa com os de fora, os governos que esperam ainda uma sinalização de Brasília gostariam de ter uma definição de como o Brasil vai conversar com esses países. É necessário que haja uma definição", finaliza Monte.
Leia mais nas páginas 12 a 15
[PRA: Vou solicitar a matéria completa ao jornal O Povo]
Famílias ainda estão buscando familiares desaparecidos, em última instância seus restos enterrados de forma clandestina pelos esbirros da ditadura militar. Comparar essa macabra, mas necessária missão, a cachorros procurando desenterrar ossos é uma suprema injúria contra essas famílias.
Até o presidente chileno, um homem da direita, mas digno, lamentou a declaração do presidente brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida
Piñera: frases de Bolsonaro sobre a ditadura são tremendamente infelizes
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou, neste domingo (24.mar.2019), que as frases do presidente Jair Bolsonaro sobre as ditaduras latino-americanas são infelizes. “São tremendamente infelizes. Não compartilho muito do que Bolsonaro diz sobre o tema”, disse Piñera.
Uma das frases definida por Piñera como infeliz é:“Quem procura osso é cachorro”. A expressão se refere à busca por desaparecidos na época da ditadura e estampava um cartaz pendurado na porta do gabinete de Bolsonaro quando ele era deputado. Lembrando do episódio, grupos de direitos humanos pediam que Bolsonaro deixasse o Chile.
Apesar de ter dito que não concorda com algumas frases de Bolsonaro, o presidente do Chile também o elogiou durante a visita do brasileiro ao país. Ele disse que há coincidências no modo dos dois líderes pensarem em “temas de modernização da economia e de recuperação de equilíbrios fiscais”.
Em sua estada no Chile, o presidente brasileiro enfrentou protestos de estudantes, organizações de direitos humanos e feministas. Ao chegar no Chile, Bolsonaro respondeu que manifestações assim existem onde quer que ele vá.“O importante é que, no meu país, fui eleito por milhares de brasileiros”, afirmou.
PROSUL
Segundo Piñera, o bloco Prosul criadona última 6ª feira (22.mar) como contraponto à Unasul, não agrupa países de direita.“Não estamos agrupando a direita, e sim os países democráticos”, afirmou.
O Uruguai e a Bolívia optaram por não assinar a declaração conjunta. O presidente do Chile reforçou, na fala deste domingo, que ambos os países seguem convidados a entrar para o bloco mais adiante.
A Venezuela ainda não está convidada,“por não cumprir com o requisito de ser um país democrático e com respeito aos direitos humanos”,disse.