segunda-feira, 20 de maio de 2024

A interminável novela do acordo Mercosul-UE - Oliver Pieper Deutsche Welle

 O que ainda segue travando o acordo UE-Mercosul

Deutsche Welle, 19/05/2024

A maior zona de livre-comércio do mundo não sairá do papel antes das eleições europeias no início de junho. Enquanto a França aperta o freio, Alemanha apoia ratificação do pacto. Já ambientalistas torcem pelo fracasso.


Se for concluído, o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul será o maior tratado desse tipo no mundo, atingindo um total de 780 milhões de pessoas. Contudo, em visita ao Brasil no fim de março, o presidente da França, Emmanuel Macron, avaliou que o pacto, "tal como está sendo negociado agora, é um péssimo acordo".

A fala de Macron pode ter sido uma tentativa de evitar dar aos partidos populistas de direita franceses – como o Reunião Nacional, de Marine Le Pen – munição gratuita para sua campanha antes das eleições para o Parlamento Europeu no início de junho. Ou uma tentativa de não irritar ainda mais os agricultores franceses, que paralisaram as ruas do país durante semanas com seus protestos.

As palavras do presidente francês ainda ressoam semanas depois, e o acordo entre a UE e países sul-americanos, finalizado há cinco anos, segue até hoje sem ratificação. A história se repete: foi também a França que bloqueou o acordo em 2019 – à época, em resposta ao ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro e suas políticas controversas na Amazônia.

Alemanha avança, e França freia

Agora, Macron está preocupado com o fato de que a Argentina, o Brasil e o Uruguai possam inundar a União Europeia com carne mais barata – e que os agricultores franceses voltem a fazer barricadas. Por outro lado, o setor industrial alemão está pressionando para que o acordo seja concluído, se necessário por uma maioria qualificada, mesmo sem a ratificação da França.

Grandes empresas químicas, como a Basf e a Bayer, bem como automotivas, incluindo a Daimler e a Volkswagen, veem o acordo como uma grande oportunidade de negócios. A Volkswagen disse à DW que "apoia uma política comercial aberta, livre e baseada em regras, e está defendendo a rápida ratificação do acordo com o Mercosul".

Em Bruxelas, os negociadores permanecem notavelmente calmos, apesar do atraso. "As equipes do [acordo] UE-Mercosul continuam em contato em nível técnico para resolver as questões pendentes. A UE continua se concentrando em garantir que o acordo atenda às metas de sustentabilidade da UE, ao mesmo tempo em que leva em consideração as sensibilidades da UE no setor agrícola", afirma Olof Gill, porta-voz da Comissão de Comércio e Agricultura do bloco.

E assim se desenha mais um capítulo na história aparentemente interminável das negociações entre a UE e o Mercosul. Elas começaram em 1999, com o objetivo de facilitar o comércio entre os dois continentes em determinados produtos e reduzir as tarifas. No entanto, esses 25 anos parecem ter sido uma crônica de oportunidades perdidas. A mais recente foi no final de 2023, quando o clima na França ainda estava calmo, os tratores ainda não passavam pelas cidades francesas, e o momento era de fato muito favorável.

Argentina favorável

Do outro lado do Atlântico, o autoproclamado anarcocapitalista Javier Milei, antes de ser eleito presidente da Argentina, chegou a fazer campanha para deixar o Mercosul e descreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um "comunista furioso" e um "criminoso". Agora chefe de Estado, Milei não fala mais em sair do bloco sul-americano. Em vez disso, o entusiasta do livre-comércio já sinalizou que poderá assinar o contrato com a UE imediatamente.

"O governo do presidente Milei quer reformar a economia argentina, abrindo-a para um maior comércio e uma presença internacional mais forte", avalia Marcela Cristini, economista sênior da Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas (FIEL) da Argentina. "Juntamente com os outros países do Mercosul, já foram assinados acordos de livre-comércio com Cingapura e os países da EFTA [Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça]."

Portanto, a surpresa em Buenos Aires é ainda maior porque agora a UE, ou mais precisamente a França, está no caminho. Cada vez mais vozes se levantam na Argentina para que o acordo seja novamente revisto em busca de benefícios para seu próprio país. A União Europeia insiste numa declaração adicional com sanções a quem descumprir os objetivos ambientais do acordo.

Cristini acredita que as exigências ambientais da UE são excessivas. Segundo ela, a pecuária argentina é muito mais ecologicamente correta do que a pecuária europeia. "A competitividade da indústria agrícola do Mercosul é reconhecida mundialmente, e teme-se a concorrência de suas exportações. Ao mesmo tempo, a pegada de carbono dos países do Mercosul em produtos agroindustriais está entre as mais baixas do mundo", afirma a especialista.

China se beneficia de negociações paralisadas

Por sua vez, a China vem acompanhando de perto as negociações paralisadas do acordo UE-Mercosul. "Os países do Mercosul são comerciantes globais, e a China é um dos principais compradores de produtos agrícolas e industriais, o que explica o crescimento dos fluxos comerciais bilaterais", explica Cristini.

"Essa situação não poderá mais ser revertida. No caso do Mercosul, a China é o parceiro comercial número um ou número dois de cada país", acrescenta.

Ambientalistas esperam fracasso

Enquanto isso, Macron é a última esperança para aqueles que se opõem fundamentalmente ao acordo de livre-comércio. Organizações ambientais e de direitos humanos da Europa e da América do Sul vêm lutando contra os planos há anos. Um breve comentário do presidente francês, sugerindo a negociação de um novo tratado que "leve em conta o desenvolvimento, o clima e a biodiversidade", fez com que esses grupos se organizassem.

Na vanguarda da oposição está a advogada de direito ambiental Roda Verheyen. Em um parecer jurídico encomendado pelo Greenpeace Alemanha, ela concluiu que o acordo viola a lei climática internacional.

"Esse acordo não deveria mais ser negociado, porque simplesmente não representa um acordo de livre-comércio moderno e legal, não importa o que eles acrescentem a ele", disse Verheyen à DW. "O acordo UE-Mercosul está simplesmente desatualizado e inadequado, do ponto de vista atual, para combinar proteção climática e abordagens políticas globais."

A advogada ambiental já defendeu com sucesso uma maior proteção climática na Alemanha, perante o Tribunal Constitucional Federal em Karlsruhe, em 2021. Ela afirma que, devido ao aumento do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa, a meta de proteção climática do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a um máximo de 2 graus, de preferência 1,5, está ficando fora de alcance.

Em vez disso, Verheyen exige que, no mundo de hoje, os acordos de livre-comércio se concentrem principalmente na transferência e no compartilhamento de tecnologias.

"Como o acordo com a Nova Zelândia, por exemplo, e acordos menores também, que se concentram na transformação em ambas as direções", diz. "Nosso objetivo certamente não pode ser importar produtos agrícolas do exterior mais baratos e, por outro lado, exportar motores de combustão interna para o exterior. Isso é prejudicial para todos."


domingo, 19 de maio de 2024

18 novos paises no mundo desde o fim da Guerra Fria

A maior parte desses 18 países é formada pelos saídos da implosão do maior império do mundo, o finado soviético (URSS). Mas, o império russo é ainda o maior do mundo, vai implodir também?

Mas antes da implosão da URSS, outros estados se tornaram independentes, alguns reconhecidos imediatamente, como Angola, Moçambique e Guiné Bissau, além de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe; faltou incluir o Timor Leste, que se declarou independente desde 1975, mas que foi invadido pela Indonésia no mesmo ano; durou mais de duas décadas e foi finalmente reconhecido como Estado membro da ONU em 2002.

Falta ainda a Palestina, que não sabemos se virá, quando virá. Não esqueçamos os curdos, quem sabe Taiwan?

The world’s newest countries:

🇸🇸 South  Sudan -  2011

🇲🇪 Montenegro -  2006

🇷🇸 Serbia -  2000

🇵🇼 Palau -  1994

🇨🇿 Czech Republic -  1993

🇸🇰 Slovakia -  1993

🇪🇷 Eritrea -  1993

🇲🇰 North Macedonia -  1993

🇺🇿 Uzbekistan -  1992

🇰🇿 Kazakhstan -  1992

🇦🇿 Azerbaijan -  1992

🇹🇯 Tajikistan -  1992

🇰🇬 Kyrgyzstan -  1992

🇹🇲 Turkmenistan -  1992

🇭🇷 Croatia -  1992

🇬🇪 Georgia -  1992

🇲🇩 Moldova -  1992

🇧🇦 Bosnia and Herzegovina -  1992



The State of Russia in 2024: Documentary by the Centre for Eastern Studies (OSW)


Atkinson on Rollo, 'Terminus: Westward Expansion, China, and the End of American Empire' [Review] (H-Net Reviews)


Estamos vivenciando o fim de uma era? O fim da expansão contínua do império americano e o início da re-ascensão do Império do Meio (em sua fase política comunista), depois de dois séculos e meio de ascensão do primeiro e do declínio do segundo? 

Pode ser, mas é um processo que pode se passar pacificamente, ou envolver algum conflito bilateral, uma vez que se trata de um processo diferente do que houve durante a era anterior, quando os dois impérios estavam relativamente ou absolutamente desconectados. Desta vez, há uma grande interdependência (já foi melhor) e intensos contatos entre os dois impérios, diretamente e nas zonas de fricção (Taiwan e Rússia, para mencionar apenas duas), o que pode comandar uma convivência em bons termos ou atiçar conflitos já existentes. Este livro trata do passado e não do presente ou do futuro, mas ele oferece boas indicações sobre como abordar essa MAIS IMPORTANTE relação da atual geopolítica mundial, mais até do que o desafio da Rússia, que pode ser contido no continente europeu.

As próximas décadas já são a de uma nova corrida armamentista, nuclear e espacial, e de uma disputa de arrogâncias que pode descambar para um conflito direto. O que significa que não haverá muito espaço para a cooperação conjunta em benefício dos países mais pobres, mas uma competição sem qualquer convergência de objetivos entre os dois grandes impérios da atualidade.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 19/05/2024


Atkinson on Rollo, 'Terminus: Westward Expansion, China, and the End of American Empire' [Review]

H-Net Reviews

Rollo, Stuart.  Terminus: Westward Expansion, China, and the End of American Empire. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2023. 296 pp. $55.95 (cloth), ISBN 9781421447384.

Reviewed by David C. Atkinson (Purdue University)
Published on H-Diplo (May, 2024)
Commissioned by Seth Offenbach (Bronx Community College, The City University of New York)

Printable Version: https://www.h-net.org/reviews/showpdf.php?id=60309

Stuart Rollo’s Terminus: Westward Expansion, China, and the End of American Empire is a richly kaleidoscopic contribution to the ever-burgeoning literature on US-China relations. Rollo situates the Sino-US relationship in terms of the rise and fall of American empire, and this is the book’s most important interpretive contribution. Focusing on the context and character of Americans’ evolving disposition toward China over the last 250 years, he begins with an overview of US continental colonization and Americans’ subsequent expansion into the Pacific Ocean. He concludes with President Joseph Biden’s attempt to resuscitate the diminished structures of the US-dominated liberal internationalist order. In between, Rollo entwines his evaluation of American engagements with China with an expertly rendered narrative of imperialism and foreign relations, blending historical and international relations perspectives throughout. It is an erudite and informative synthesis that should appeal to all H-Diplo readers, as well as our students and members of the public who seek a clear understanding of why contemporary US-Chinese relations remain so fraught in our present moment, and how we got here.

Terminus is a versatile book that can be read in multiple registers. Rollo’s narrative is especially valuable for the way he weaves four distinct narrative threads together. On one level, it is a useful survey of Sino-US relations, albeit one that emphasizes the perspectives of American rather than Chinese interlocuters in that relationship. Readers looking for the Chinese perspective, or a greater focus on traditional diplomatic relations, will find it lacking compared to Warren I. Cohen’s still essential America’s Response to China (2019), for example. But that is not Rollo’s purpose. Rather, Terminus seeks to integrate that story into the history of American empire and expansion. On that level, it offers something particularly novel. Historians of American imperialism might balk at Rollo’s emphasis on the imperial rather than colonial manifestations of Americans’ desire for economic, if not territorial, suzerainty in Aisa, but again, that is not his objective: how Americans conceived of China (Qing, Nationalist, and Communist) in relation to the rise and fall of American empire (commercial, financial, territorial, military, and ideational) is the focus. In addition to interlacing these themes, on another level Rollo pays regular attention to the ideas of those theorists and strategists who whetted American appetites when it came to China, combining historical and international relations scholarship and perspectives throughout the narrative. We hear from a large cast of both critics and boosters of American power from across the centuries, including Karl Marx, John Atkinson Hobson, Nicholas Spykman, William Appleman Williams, and Andrew Bacevich to name a few. Finally, the book can be read as a very engaging survey of US foreign relations writ large, since Rollo never confines himself to the transpacific lens, and instead constantly keeps American visions of China in the same frame as Americans’ conceptions of a broader global imperium.

Terminus is therefore best understood as an alloy, in that it derives its strength from the mixture of these four interlacing narratives and frames. The result is a concise and accessible book that offers an adept historical overview of China’s changing significance to American policymakers, theorists, and strategists from independence to the present.

The book is divided into three sections, each encompassing a distinct phase of American ambitions for China. Part 1 traces the story from the aftermath of independence to the turn of the twentieth century and focuses on the commercial and financial aspirations of American merchants, statesmen, and strategists during that century. In the first two chapters, Rollo roots his narrative in a familiar story of westward expansion characterized by violent Native dispossession and the insatiable drive for land and commercial access to Asia. In that context, China especially enraptured those seeking to exploit Asia’s potentially lucrative markets, goods, and raw materials. Rollo is attentive to the domestic and international contexts that both facilitated and inhibited the realization of these prospects—whether real or imagined—and he emphasizes the internal and external ruptures that catalyzed the Qing dynasty’s nineteenth-century decline. This part of the book culminates in the convulsion of late nineteenth-century US imperialism, and Rollo rightly focuses on the major manifestations of that paroxysm in the Asia-Pacific region. The Open-Door Notes and the Boxer Rebellion receive particular attention, and Rollo is attentive to the racial and geostrategic anxieties that suffused the most capacious cravings of those who viewed China as an outlet not only for American goods, but also American capital and civilization.

Part 2 addresses the twentieth-century phase of US economic and strategic predominance, from the emergence of American power following the First World War to the ostensive triumph of the Soviet Union’s collapse in 1991. Rollo unsurprisingly foregrounds the American and Japanese competition for East Asian predominance at the core of this section’s first chapter, orienting his analysis productively toward modern industrial warfare’s thirst for strategic raw materials. From this perspective, both contenders perceived China as a repository of essential minerals like manganese and tungsten that would consolidate their prospective regional—and in the case of the United States, global—primacy. Chapter 5 broadens its frame commensurate with the now truly global aspirations of American power. The allure of potential markets and investment opportunities in China and elsewhere now gave way to more sophisticated geostrategic conceptions of global capitalist integration and cooperation. Commercial dominance remained an important objective, but security and prosperity now required the creation and management of an intricate, internationally panoptic liberal-democratic architecture, one dominated of course by the United States. In Asia, that manifested in what Rollo provocatively calls an “American-led Asian Co-Prosperity Sphere,” anchored by Japan (pp. 120-121).

The sixth chapter addresses the emergence of the People’s Republic and the Cold War, which in Rollo’s interpretation sees China evoke a more dangerously existential threat to the broader hegemonic project fostered by the United States, not just in Asia but around the world. He sees the wars in Korea and Vietnam as exemplars of that project, but also harbingers of its demise. It is the one chapter in which Rollo’s argument might have benefited from more room to breathe, since we are hurled at breakneck speed through some of the most consequential moments in the history of Sino-US relations. This includes not only those devasting American wars in Southeast and East Asia, but also President Richard Nixon’s rapprochement, President Jimmy Carter’s fulfillment of recognition, and the profound economic transformations of the Ronald Reagan years, not to mention those of Chinese leader Deng Xiaoping.

The third part of Terminus transitions to the post-Cold War era through the present. Here, Rollo recounts the flush of victory that encouraged American policymakers to confidently thrust the open door upon the globe. The desire to secure markets, raw materials, and investment opportunities reigned supreme, as successive US presidents and their counselors inside and outside government tried to reshape the world in America’s apparently transcendent image. For Rollo, economic access and predominance remained paramount, but contemporary presidents differed in their enthusiasm for strategic competition with China. It waned during the Bill Clinton years, during which American officials believed the gospel of globalization would convert Chinese Communist leaders to the benefits of democratization and neoliberal economics. Strategic competition nevertheless waxed under the presidency of George W. Bush, exacerbated by the events of September 11 and the global war on terror. American imperial overreach during the Bush years diminished the United States’ capacity to reshape the world in its image, and China seized the opportunity to reorient and strengthen its own economy, eventually supplanting the US as the global economic hegemon by many metrics.

Chapters 8 and 9 deal with American attempts to alternatively understand, manage, resist, or reset that reality. The final chapter is, from my perspective, the most generative and thought-provoking. Rollo proves as fluent in the lexicon of modern security studies as he is with its historical antecedents. His assessment of our contemporary options to grapple with the threat and possibilities posed by Xi Jinping’s resurgent China is clear-eyed and judicious. Rollo’s estimation of the most productive path forward reflects that most venerable analogy, favored by generations of American national security personnel: the Goldilocks principle. While President Donald Trump favored a white-hot porridge laced with quid pro quos, zero-sum transactions, and military superiority, others have mooted the cold gruel of retrenchment. Rollo not surprisingly favors the more palatable oats of “offshore balancing and mutual deterrence and denial” (p. 206). That might not set the taste buds alight, but it is much less likely to cause irreparable indigestion.

The final chapter concludes with one of the book’s most intriguing points. Here, Rollo posits our contemporary conundrum: how to ensure peace between “a rising Chinese empire and a declining American one” (p. 208). This brief recognition that China is erecting an imperial structure of its own—one that reflects its own interests and yet echoes many elements of the now deteriorating edifice constructed by the United States—is a tantalizing gesture toward the next century of US-Chinese relations. It also demands that we retrain our focus less on American intentions and possible rear-guard actions, and more on the objectives of China’s ruling class as it looks toward the next century. Others are already doing that work, of course, and Rollo’s Terminus will be a very useful text for them as they come to grips with the American half of that equation.[1] The nightly gaggle of pundits who confidently espouse the unique dangers of China’s rise would do particularly well to take cognizance of Rollo’s historicization of the United States’ attitudes toward global power across the last two centuries. They may find more resonances than dissonances between the waning American imperium they lament, and the expanding Chinese imperium they decry.

Note

[1]. See. for example, Suisheng Zhao, The Dragon Roars Back: Transformational Leaders and Dynamics of Chinese Foreign Policy (Stanford, CA: Stanford University Press, 2022); Susan L. Shirk, Overreach: How China Derailed Its Peaceful Rise (New York: Oxford University Press, 2022); and Bates Gill, Daring to Struggle: China’s Global Ambitions under Xi Jinping (New York: Oxford University Press, 2022).

David C. Atkinson is associate professor of history at Purdue University. He is the author of The Burden of White Supremacy: Containing Asian Labor Migration in the British Empire and the United States (2017), along with numerous articles and chapters on international migration, diplomacy, and empire.

Citation: David C. Atkinson. Review of Rollo, Stuart. Terminus: Westward Expansion, China, and the End of American Empire. H-Diplo, H-Net Reviews. May, 2024.
URL: https://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=60309

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 3.0 United States License.

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Terminus: Westward Expansion, China, and the End of American Empire Kindle Edition


A sweeping narrative of America's imperial history and its long entanglement with China.

In Terminus, Stuart Rollo examines the origins and trajectory of American empire in the Asia-Pacific region, focusing on its westward expansion and historic entanglement with China. American foreign and strategic policy in this region, Rollo argues, has always been shaped by broader economic and political concerns centered on China. China's current rise, and the economic and strategic systems that China is developing, represents the most serious challenge to the structure of American empire to date.

Rollo paints a sweeping historical narrative of American imperial history and its relationship with China from 1776 to the present. Grounded in archival research, official and personal correspondence, policy documents, declassified intelligence material, and congressional records, 
Terminus traces the development of American empire building from the pre-independence period to the eve of World War I, arguing that this new empire was primarily driven by commercial interests in China. Rollo explores shifts in global power, resource politics, and international economic structures that led the United States to transition from one of several imperial powers to the world's sole superpower by the last decade of the twentieth century. Finally, he examines the decline of American empire since its brief period of unipolarity in the 1990s, explaining the new pressures and challenges posed by the rise of China.

Rollo proposes three scenarios for how the United States might manage its inevitable imperial decline: a vain attempt to shore up and extend the empire, an exploitative hegemony, or a post-imperial foreign policy. This last option would work to repair the damaged fabric of American social and political life, providing a long-term, stable foundation for national security, prosperity, and the well-being of its citizens. All empires eventually end, but with the benefit of hindsight, Rollo urges us to consider how to engineer a softer landing.

Editorial Reviews

Review

Important, insightful, and timely, this is an extraordinary synthesis of an incredibly comprehensive subject. I could never have imagined it possible to summarize the economic, political, and cultural history of US-Chinese relations over 225 years, yet Rollo has succeeded. The research is impressive, both for its thoroughness and selectivity.
―Walter Allan McDougall, University of Pennsylvania, author of The Tragedy of U.S. Foreign Policy: How Civil Religion Betrayed the National Interest

The first book to develop a historical analysis of the American empire through the lens of the US-China relationship, Terminus addresses the most challenging issue in the contemporary world: the great power rivalry between the United States and China. Rollo offers a comprehensive survey of the rivalry, entanglement, and decoupling of the United States and China in global trade, investment, and production as well as the growing role of China in undermining the US empire in such areas as capital formation, technology innovation, and global production and supply chains.
―Baogang He, Deakin University, author of Contested Ideas of Regionalism in Asia

Narrating the rise and decline of the American empire through the prism of US-China relations, Stuart Rollo has written a succinct, sophisticated, and hard-hitting critique. The appearance of Terminuscould not be more timely―nor or its contents more worrisome.
―Andrew Bacevich, Chairman and Cofounder, Quincy Institute for Responsible Statecraft

 

About the Author

Stuart Rollo (SYDNEY, AUS) is a postdoctoral research fellow at the Centre for International Security Studies at the University of Sydney.

 

Product details

Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2023. 296 pp. $55.95 (cloth), ISBN 9781421447384

ASIN ‏ : ‎ B0BWSKD9VM

Publisher ‏ : ‎ Johns Hopkins University Press (October 31, 2023)

Publication date ‏ : ‎ October 31, 2023

Language ‏ : ‎ English

File size ‏ : ‎ 4171 KB

 

Falecimento do Prof. José Flávio Sombra Saraiva - Nota da ABRI

 É com profundo pesar que a Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) recebe a triste notícia do precoce falecimento do ilustre Professor José Flávio Sombra Saraiva. Neste momento de dor e consternação, queremos expressar nossas mais sinceras condolências e solidariedade a toda a sua família, amigos e entes queridos.

O Professor Sombra Saraiva foi uma figura central para o desenvolvimento da área de Relações Internacionais no Brasil e seu adensamento científico. Sua longa e dedicada carreira traduziu-se na publicaçao de inúmeros livros, artigos, além de orientar diversos trabalhos academicos, sendo um dos principais expoentes nos estudos sobre África, América Latina, Política Externa Brasileira, História das Relaçoes Internacionais. Suas contribuições intelectuais foram fundamentais para a construção de uma visão sólida e comprometida com os valores democráticos e a cooperação internacional. Foi um dos fundadores do Instituto de Relaçoes Internacionais da Universidade de Brasília (IREL-UnB), instituiçao na qual lecionou por 30 anos, e presidente eleito da ABRI em 2009. Também, foi membro do Conselho Editorial da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vice-presidente da Comissão Internacional de História das Relações Internacionais (CHRI) e Comendador da Ordem do Rio Branco, entre muitas outras atividades que desempenhou.
A ABRI está de luto e solidária com a tristeza que a familia enfrenta neste momento. Que as memórias compartilhadas e os ensinamentos deixados por Sombra Saraiva possam servir de conforto e inspiração neste momento difícil.

sábado, 18 de maio de 2024

Livres da polarização - Augusto De Franco, Eduardo Jorge, Roberto Freire e Gilberto Natalini: encontro-debate online, 20 junho, 20:00hs


Os autores do artigo "Livres da polarização", publicado no Estadão em 11/05/2024, estão convidando outras pessoas para conversar sobre o tema.

@augustodefranco, @EduardoJorge, @freire_roberto e @gnatalini convidam para um debate.  

Reservem a data para conversarmos: 20 de Junho / 24. Às 20 h. Tema: “Livre da Polarização”!!!

https://x.com/augustodefranco/status/1791926915596517730 

Se puder divulguem.

Livres da polarização

Quem falará pelos 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas?

Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini e Augusto de Franco

 O Estado de São Paulo, 11/05/2024

Há no Brasil de hoje dezenas de milhões de eleitores que não se sentem representados pelas forças que dominam a arena política. São esses – em boa parte – os que apoiam a democracia como um valor universal e que são contra toda sorte de preconceitos e discriminações. São os que acreditam na eficiência do Estado, mas defendem uma economia livre, querem aliar desenvolvimento e sustentabilidade, desejam empreender, mas precisam de apoio ou, quando menos, que não sejam atrapalhados, os que sabem que segurança é inteligência e a violência, irmã da desigualdade.

São os que não acham que um pouquinho de inflação faz bem, nem querem leis dos anos 1940 regulando o trabalho, como ficou patente com a decisão dos líderes governistas de abandonar o projeto com o qual o governo pretendia transformar em trabalhadores CLT os motoristas e entregadores de aplicativo. São os que não veem legitimidade em invasões e depredações de patrimônio público ou privado, sejam eles patrocinados pelo MST ou por partidários de golpes de Estado. São os que defendem, de forma intransigente, as liberdades de expressão, organização e manifestação de acordo com as regras do Estado Democrático de Direito.

Eles não estão nos extremos ou polos que viraram instrumento de análise da divisão a que o lulismo e o bolsonarismo submeteram a sociedade, ambos em busca do poder pelo poder. Eles não defendem, nem justificam, grupos terroristas como o Hamas, o Hezbollah, os Houthis e demais milícias do Oriente Médio que servem aos propósitos da teocracia iraniana e estão sendo usados pelas grandes autocracias do planeta contra os regimes democráticos – tampouco apoiam Nicolás Maduro, Vladimir Putin ou outros ditadores, de esquerda, de direita ou fundamentalistas religiosos.

Quem falará pelos cerca de 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas? Os partidos políticos falharam em interpretar os sentimentos, captar as aspirações e endereçar soluções para os problemas desse imenso contingente populacional. Os que não minguaram viraram satélites dos dois campos que alimentam a clivagem social e política brasileira. Não por outra razão, pesquisa recente do Datafolha mostra que aumentou a desconfiança da população dos partidos políticos. Os números, aliás, são alarmantes: só 43% confiam “um pouco”.

A construção de alternativas à polarização, portanto, terá de partir dos insatisfeitos com esse estado de coisas. E, nesse campo, há grande diversidade. De intelectuais a políticos, passando por jovens idealistas, professores, profissionais liberais, trabalhadores de chão de fábrica e de empresas de tecnologia, entregadores e motoristas de aplicativos, empresários, agricultores, artistas, sindicalistas, cientistas, enfim, pessoas comuns que querem viver, estudar, trabalhar, empreender, se divertir, amar e se congraçar com seus semelhantes sabendo que somente a democracia pode configurar ambientes pacíficos onde seus direitos políticos e suas liberdades civis sejam respeitados e valorizados.

Uma oposição democrática aos populismos, no governo ou fora dele, já existe no Brasil. Ela ainda é pequena e está dispersa, mas não crescerá por mágica nas eleições deste ano ou nas próximas. Isso só vai acontecer se as forças políticas democráticas começarem a se articular para influenciar de pronto a agenda nacional, resgatando o espaço público dos populismos de esquerda e direita que o sequestraram. Isso exige conversação livre e franca entre pessoas que não imaginam ter o monopólio da verdade e que estão abertas a ouvir e entender os pontos de vista do outro e, se necessário, a mudar seus próprios pontos de vista, seja em busca de convergência, seja porque alguém teve uma ideia melhor. Isso exige empenho contínuo, um exercício permanente de olhar para a frente, de pensar o País para além das disputas de poder.

Há muita gente disposta a isso, dentro e fora dos partidos, centristas, à esquerda ou à direita, nos mais diversos Estados. Gente cansada do destrutivo e paralisante “nós contra eles”. Gente que espera há anos por políticas que deram certo em outros lugares do mundo, independentemente da ideologia de seus idealizadores, mas que aqui são sabotadas pela polarização. Seja na educação, com a reforma do ensino médio, ou no saneamento básico, com o marco legal, para ficar em dois exemplos recentes de tentativa de retrocesso.

Que todos esses comecem a se conectar, virtual ou presencialmente, não importa se em grande ou pequeno número. O resultado desse esforço não será uma frente de pessoas que pensam igual, mas uma ecologia de diferenças coligadas. Não se articularão apenas para lançar candidatos, embora daí nascerão opções aos extremos, mas para congregar quem deseja trabalhar pela despolarização. Em nome dos milhões de brasileiros que almejam viver em um país melhor e estão fartos de quem lucra com a divisão da sociedade brasileira.


Roberto Freire é político e advogado, Eduardo Jorge e Gilberto Natalini são políticos e médicos, Augusto de Franco é político e escritor.


Les personnes qui lisent de la fiction ont un cerveau plus performant - Lola Buscemi Slate

Les personnes qui lisent de la fiction ont un cerveau plus performant

Lola Buscemi

Slate, 13 mai 2024 à 21h30

https://www.slate.fr/story/266808/lecture-fiction-cerveau-impact-effet-avantages-etude

 

Bonne nouvelle pour les rats de bibliothèque.

La fiction boosterait certaines de nos capacités cognitives. 


L'impact de la consommation des récits de fiction sur le cerveau humain a longtemps constitué un sujet de discorde au sein du corps scientifique. Pour certains, il s'agirait seulement d'une source de divertissement qui présenterait plusieurs désagréments, comme une tendance à ôter son lecteur son ancrage vis-à-vis du monde réel; mais pour d'autres, ce serait un excellent moyen d'améliorer ses capacités cognitives. L'équipe de Lena Wimmer, chercheuse à l'université allemande de Wurtzbourg, a mené une nouvelle étude afin de déterminer comment la lecture de fiction affecte le cerveau.

Psypost reprend les résultats de l'enquête publiée dans le Journal de la psychologie expérimentale, où il est expliqué que l'équipe de chercheurs a mené deux méta-analyses distinctes. Ce processus consiste à combiner les résultats de plusieurs études indépendantes afin d'en tirer des conclusions.


Une tendance positive commune 

La première s'est concentrée sur les études expérimentales. Les spécialistes ont rassemblé soixante-dix analyses de ce type, qui impliquaient un total de 11.172 participants. Les résultats ont montré que la lecture de fiction «avait un effet positif faible, mais statistiquement significatif, sur les compétences cognitives en général», détaille Psypost. Les avantages étaient plus prononcés au niveau de l'empathie et de la capacité à comprendre les intentions d'autrui.


La seconde méta-analyse regroupe les travaux mesurant l'impact des écrits de fiction sur des lecteurs réguliers, tout au long de leur vie. La combinaison de 114 études a mis en évidence une relation positive et constante entre la quantité de fiction lue au cours d'une vie et l'amélioration des compétences cognitives. Cette corrélation était particulièrement forte pour les capacités verbales et cognitives générales (comme le raisonnement ou la résolution de problèmes).

En conclusion, «ce projet de recherche suggère que les personnes qui lisent beaucoup de fiction ont de meilleures compétences cognitives que celles qui lisent peu ou pas de fiction», souligne Lena Wimmer. Cependant, ces résultats ne constituent pas une preuve irréfutable: d'autres études, qui incluraient des variables tel que le niveau d'éducation, seraient en effet nécessaires.

 

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Si vous voulez lire davantage, suivez les conseils de ces grands lecteurs

Tout est une question d'habitude.

Les Français lisent-ils plus? Selon le Centre national du livre, la tendance remonte après une baisse pendant la pandémie. En 2023, 86% des personnes interrogées déclaraient lire spontanément, contre 81% deux ans plus tôt.

En revanche, le temps de lecture réel est en deçà des attentes individuelles, notamment chez les 15-49 ans. Si la majorité dit vouloir lire plus, elle considère aussi avoir du mal à le faire par manque de temps et la préférence pour d'autres loisirs. Mais il existe des moyens de contourner ces obstacles, d'après le Washington Post. Le quotidien américain a recueilli les conseils de grands lecteurs, ces personnes qui arrivent à lire plusieurs centaines de livres par an.

Première recommandation: prendre avantage des petits laps de temps dans la journée, que ce soit dans les transports ou lorsque l'on attend que l'eau des pâtes arrive à ébullition. Faire d'un moment dans la journée son temps de lecture privilégié facilite aussi la prise d'habitude: lire une demi-heure avant d'aller au lit par exemple, lorsque l'on n'a rien d'autre à faire (d'autant plus que cela améliore le sommeil).

S'engager dans la lecture

Autre conseil: suivre sa progression, que ce soit d'un livre ou vers un objectif de lecture sur une période donnée. «Je dois dire que [le faire] m'a rendue un peu moins à même d'abandonner un livre», explique Olivia Ambrogio, formatrice en sciences de la communication. «On se dit “J'en ai lu 42%! Je peux le finir.”»

S'engager dans la lecture est donc l'axe principal de cette habitude«Si on veut vraiment lire un livre, il faut vraiment s'investir dans les premières 100, 200 pages» estime Paul Scott, un retraité californien. «Je ne peux pas vous dire le nombre de fois où j'ai commencé un livre en lisant les quinze premières pages, et où j'ai relu ces quinze pages le lendemain en essayant de vraiment m'y accrocher.»

Et pour ceux qui n'ont jamais les mains libres, il y a toujours les livres audio, que l'on peut écouter en faisant ses tâches ménagères. Que ce soit en supplément de la version écrite ou non, c'est un bon moyen de s'y mettre. En revanche, les bienfaits d'un livre écrit pour le cerveau sont atténués par l'écoute. Mieux vaut adopter un mélange des deux à long terme.


Simone Tebet, um corpo estranho no governo petista - Opiniao, O Estado de S. Paulo

TEBET UM CORPO ESTRANHO NO GOVERNO PETISTA 

Editorial O Estado de S. Paulo, 18/05/2024

https://www.estadao.com.br/opiniao/tebet-um-corpo-estranho-no-governo-petista/

(O Estado de São Paulo diz o que o Brasil inteiro percebeu. Penso eu que o governo de frente ampla, foi uma fake news criada por Lula para derrotar Bolsonaro. Nunca foi uma proposta séria e pra valer. Roberto Freire)


Com  apenas nove meses de vigência, o arcabouço fiscal dá mostras evidentes  de não ser capaz de entregar o crescimento econômico com  responsabilidade fiscal que promete, mantidos os atuais parâmetros para  gastos e receitas. Os sinais preocupantes que surgem por todos os lados  mostram que é preciso recalibrar as despesas públicas, que não tiveram  tratamento adequado no regime fiscal do governo Lula da Silva e ameaçam  comprometer o equilíbrio das contas e levar a administração federal à  insolvência, afetando os investimentos públicos.

O  roteiro para o necessário corte de despesas do governo, parte mais  sensível e complexa do gerenciamento fiscal, coube ao Ministério do  Planejamento, de Simone Tebet – que, sendo liberal, é um corpo estranho  no governo lulopetista. Tebet assumiu uma solitária batalha que tende a  transformá-la em bode expiatório do PT. Para indignação dos petistas, a  ministra estuda ajustes para tornar viáveis os pagamentos de benefícios  previdenciários e para conciliar os gastos obrigatórios, as despesas  discricionárias e o custeio da máquina pública.

Utilizando projeções do Ministério do Planejamento obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação, reportagem do Estadão mostrou que até 2028 os gastos mínimos constitucionais com Saúde e  Educação vão consumir 112% do espaço das despesas não obrigatórias do  Orçamento federal. Os dados corroboram a necessidade de revisão dos  pisos constitucionais, o que já havia sido constatado pelo Tesouro,  quando propôs, no ano passado, a vinculação desses gastos ao crescimento  da população, ao PIB per capita ou ao próprio arcabouço fiscal.

Outra  linha mestra do plano de Tebet, a desindexação dos benefícios  previdenciários do modelo de reajuste do salário mínimo, foi invalidada  no nascedouro pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Não vejo muito  espaço, nessa seara, para discussão da questão do mínimo”, disse o  ministro, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Difícil  imaginar uma gestão Lula da Silva discutindo temas como a desindexação  de benefícios da Previdência do salário mínimo; a vinculação de gastos  com saúde e educação aos limites impostos pelo arcabouço; e a  recalibragem da contribuição federal ao Fundeb, um fundo de natureza  contábil voltado à educação básica. Todas compõem o cardápio de  alternativas em estudos no Planejamento. Adotá-las ou não será uma  decisão política do governo. Mas não parece crível esperar avaliação  ponderada e criteriosa de uma administração federal que defende o gasto  público irrestrito, pois, como diz Lula, não se trata de gasto, e sim de  “investimento”.

Orgulhosamente  desenvolvimentista e estatista, o PT atacou pesadamente o trabalho em  curso no Planejamento. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, foi ao X  para classificar como “muito ruins” as propostas de Tebet, que, segundo  ela, “contrariam o programa de governo eleito em 2022″. Trata-se de uma  falácia: com o objetivo de forjar a tal “frente ampla” para derrotar  nas urnas o então presidente Jair Bolsonaro, o demiurgo petista nunca  foi claro sobre o que pretendia fazer na economia, e seu programa de  governo era suficientemente vago para que os incautos acreditassem que,  desta vez, Lula não seria Lula.

A  mesma Gleisi que hoje critica a inobservância à ortodoxia petista  garantiu aos partidos da suposta frente ampla que o governo, uma vez  eleito, governaria com todos. O embarque de Tebet na candidatura de Lula  em 2022 foi parte do processo que convenceu muitos eleitores de centro  de que valia a pena correr o risco de votar no PT contra Bolsonaro  porque Lula levaria em conta a visão de quem não era petista. Não é  exagero dizer, aliás, que foi isso o que decidiu a eleição a favor de  Lula na apertadíssima disputa contra Bolsonaro.

A  equipe do Planejamento está embasando as implicações do crescimento das  despesas na economia. A correção no ritmo dos gastos será a alternativa  proposta a soluções paliativas ou mal-ajambradas do passado, como a  contabilidade criativa da gestão Dilma Rousseff, que gerou grave crise  econômica. O governo será leviano se fugir ao debate. Simone Tebet está  sentindo na pele o que é defender racionalidade dentro de um governo  petista.


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