segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Curso de Direito Internacional da OEA no RJ - agosto de 2025

 O Departamento de Direito Internacional da Secretaria de Assuntos Jurídicos da OEA (Organización de los Estados Americanos) anunciou a Convocação para o 50º Curso de Direito Internacional, organizado em conjunto com o Comitê Jurídico Interamericano, que ocorrerá entre os dias 4 e 15 de agosto de 2025, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.🇧🇷 

👉🏼Durante 50 anos, o Curso de Direito Internacional tem oferecido aos advogados e internacionalistas das Américas a oportunidade de estimular a análise e gerar um diálogo aberto sobre temas de relevância atual no âmbito do direito internacional em geral e do Sistema Interamericano em particular. Os estudantes tem a oportunidade de interagir em um ambiente acadêmico com os mais destacados internacionalistas e especialistas em relações internacionais, incluindo juízes de tribunais internacionais, membros do Comitê Jurídico Interamericano, professores de direito internacional público e privado das Américas e Europa, diplomatas, bem como funcionários de diversos organismos internacionais.

‼️As vagas são limitadas, por isso os interessados são convidados a apresentar sua candidatura o mais rápido possível. O prazo para envio das candidaturas é sexta-feira, 7 de março de 2025. Posteriormente, será realizado um processo de seleção e os candidatos admitidos serão notificados na sexta-feira, 21 de março de 2025.

👉🏼Entre os requisitos para participar, é necessário possuir um diploma universitário em direito ou relações internacionais e, pelo menos, dois anos de experiência profissional relevante.

Detalhes da convocação estão disponíveis em:

🔗https://lnkd.in/euuPXw7E 

A Oxfam é uma piada: ela acha que dá para eliminar a pobreza no mundo distruindo a riqueza dos bilionários - Blog do Marcelo Guterman

 

É só uma caricatura

A Oxfam, aquela ONG britânica que existe para nos lembrar que o capitalismo é um sistema econômico tão perverso que só pode ter sido inventado pelo tinhoso em pessoa, divulgou hoje, em Davos, o seu já tradicional relatório sobre a desigualdade global. Segundo o relatório, a soma dos patrimônios dos bilionários soma, agora, US$ 15 trilhões, contra US$ 13 trilhões há apenas um ano, o crescimento mais rápido da história. Isso fez com que a ONG previsse a existência de nada menos que 5 trilionários daqui a 10 anos. Só não fiquei mais alarmado do que quando leio relatórios sobre o aquecimento global. Aliás, está aí um estudo interessante, a correlação entre o número de bilionários e a temperatura do planeta. Perdão, divago.

A divulgação do relatório, coincidentemente ou não, se dá no dia da posse de Donald Trump. Esta coincidência é lembrada em dois trechos da reportagem. Em ambos, menciona-se o bilionário Trump e seu fiel escudeiro, o homem mais rico do mundo, Elon Musk, como símbolos dessa criminosa concentração de renda. Os Estados Unidos estariam agora liderando o que de pior o capitalismo produziu ao longo dos séculos. 

Só tem um probleminha com esse simbolismo: segundo levantamento da Forbes, 83 bilionários apoiaram Kamala Harris, contra 52 que apoiaram Trump. E entre os apenas milionários, 57% apoiaram Kamala, contra 43% que apoiaram Trump.

Segundo a revista, os bilionários viam na democrata alguém que “daria continuidade a políticas previsíveis que apoiariam o império da lei, a estabilidade e um ambiente de negócios saudável”. Ou seja, os bilionários consideravam Harris como a mais indicada para manter um ambiente em que… as suas fortunas cresceriam ainda mais! Aliás, não custa lembrar que em 2024, ano em que os bilionários amealharam US$ 2 trilhões adicionais, o presidente era ainda Joe Biden.

Ok, alguns bilionários devem ter votado em Kamala para aliviar um pouco o seu peso de consciência por serem bilionários. Mas não tenho dúvida de que a maioria estava fazendo uma conta de vantagens/desvantagens em relação aos seus próprios interesses. Assim, Trump pode até servir como uma caricatura da concentração de renda, mas quem votou nele foi a classe média baixa, não os bilionários.

A Oxfam, como toda organização de esquerda, acha que fala em nome dos pobres. Isso sim, é só uma caricatura.

Blog do Marcelo Guterman é uma publicação apoiada pelos leitores.

O patrimonialismo continua impérvio: gastos com o G20 Social foram maiores que o próprio G20

ESTATAIS GASTARAM ATÉ R$ 83,45 MILHÕES COM G-20 E ‘JANJAPALOOZA’, MOSTRAM DOCUMENTOS

BRASÍLIA – Empresas estatais brasileiras pagaram até R$ 83,45 milhões para a REALIZAÇÃO DA CÚPULA DO G20 e do festival com show de artistas que ficou conhecido como “Janjapalooza”. As informações estão no acordo de cooperação internacional firmado pelo Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (Caixa), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Petrobras com a Organização dos Estados Ibero-americanos.


domingo, 19 de janeiro de 2025

Book Review: Jane Mumby, Dismantling the League of Nations: The Quiet Death of an International Organization, 1945-8; review by Madeleine Dungy

 

H-Diplo: New posted content

Três datas relevantes na história mundial: 1925, 1945 e 2025 - Paulo Roberto de Almeida

Três datas relevantes na história mundial: 1925, 1945 e 2025

Paulo Roberto de Almeida

        Estamos em 2025, possível limiar de um processo voluntário e deliberado de desmantelamento da ordem mundial atual, criada majoritariamente pelos Estados Unidos em 1945, ou seja, 80 anos atrás, por iniciativa de um dirigente que é o exato oposto de Franklin Roosevelt, o presidente que começou nos anos 1930 pela Good Neighbour Policy (dirigida aos países da América Latina, interrompendo, por alguns anos, as intervenções no Caribe e América Central), continuou em 1941 com a Carta do Atlântico, assentando com Churchill as bases conceituais da futura ordem global multilateral das Nações Unidas, e que foi imprescindível na consolidação de uma ordem liberal e democrática que serviu a metade do mundo no pós-IIGM, inclusive ao Brasil, aliado e integrado à hoje menos defendida “ordem global ocidental”.

        Volto a cem anos atrás, para 1925, quando um seguidor demencial do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, preso pela sua tentativa de tomada do poder na República de Weimar (o “golpe da cervejaria de Munique”), escrevia o programa que adotaria ao chegar ao poder: os desmantelamento da ordem da Liga das Nações, a supremacia e o expansionismo da Grande Alemanha, a destruição da ameaça bolchevique e alguma “solução” (wagneriana) ao “problema judeu”, que ele considerava como responsável pelas “desgraças” do povo alemão. Seu programa, Mein Kampf, seria aplicado metodicamente a partir de 1933, quando Hitler finalmente chega ao poder por vias “legais” (mas pela violência também).

        O resultado dessa ascensão foi a destruição da ordem “liberal” anterior, mas também a de metade da Europa e da própria Grande Alemanha.

        Em 2025, um outro demencial, armado de um programa tosco, pretende conter um suposto adversário, a China (sendo menos eloquente contra o agressor real da atual ordem internacional, a Rússia de Putin) e quer eliminar o que considera como uma ameaça à “grandeza” americana, que são simples emigrantes ilegais, na maior parte trabalhadores honestos querendo construir uma nova vida para suas famílias.

        1925, 1945 e 2025: etapas momentosas na trajetória incerta do sistema internacional, projetos de alteração e de mudanças tentativas das desordens existentes na ordem em vigor em cada momento. Hitler, Roosevelt, Putin e Trump representam personagens-chaves na conformação benéfíca ou maléfica do cenário mundial. O Brasil é mais um espectador passivo do que um protagonista ativo nessas transições, mas sua diplomacia profissional poderia oferecer alguma contribuição positiva para os processos de mudança a cada uma dessas etapas, não fossem lideranças pouco afirmativas nas respectivas datas.

        Em 1925, um presidente trapalhão, Artur Bernardes, ordenava a retirada do Brasil da Liga das Nações, contra os argumentos do seu representante em Genebra, Afrânio de Melo Franco. 

        Em 1945, o ditador do Estado Novo, depois de ter impedido o chanceler Oswaldo Aranha de discutir com Roosevelt a futura ordem mundial que era desenhada em Dumbarton Oaks, em 1944, autorizou a adesão do Brasil à Carta de San Francisco, mesmo se a delegação diplomática do Brasil tinha críticas à ordem dos “mais iguais” declarados vencedores no maior conflito global da História.

        Em 2025 (na verdade desde antes), o atual presidente brasileiro declara seu apoio à proposta do violador da Carta da ONU de implementação de uma mal definida “nova ordem global multipolar”, de nítida orientação antiocidental e, portanto, antiliberal e antidemocrática.

        O mundo realmente não parece pacífico em 2025, como não o foi em 1925, e como ainda não o era no primeiro semestre de 1945. Os prognósticos continuam incertos neste centenário de preparação de um programa preliminar de mudança unilateral do mundo, assim como um novo dirigente pretende impor uma nova marca unilateral e supremacista de imposição de sua ordem regressiva ao mundo.

        Não obstante, cabe esperar que 2025 não seja um prenúncio similar aos 20 anos momentosos que levaram o mundo às destruições registradas até 1945, em 1925 no programa alucinante de um tresloucado supremacista. Um novo supremacista, racial e imperial, assume o poder no país ainda hegemônico, num cenário que também tem impérios concorrentes, como foi o caso cem anos atrás. 

        Que isso não seja a antecipação de um cenário tão desafiador quanto o foram os anos 1930-45. Não depende esse cenário da diplomacia profissional brasileira, mas ela sempre teve o discernimento adequado para enfrentar os desafios de cada momento, a despeito de incertas políticas externas ditadas por dirigentes nem sempre bem-preparados para cuidar dos interesses nacionais com propósitos afins aos valores e princípios da nação brasileira.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 19 de janeiro de 2025


Trump articula criação de nova ordem global e coloca mundo em tensão máxima - Jamil Chade (UOL)

Trump articula criação de nova ordem global e coloca mundo em tensão máxima

Por Jamil Chade, de Nova York


Nos corredores do prédio da ONU, em Nova York, o semblante de funcionários e diplomatas não esconde a tensão. Todos sabem que, a partir de segunda-feira (20), tudo será diferente. Donald Trump assume a Presidência americana mais forte do que nunca, preparado para implementar a transformação proposta por movimentos ultraconservadores e grupos de extrema direita.

Sua equipe avalia que a atual ordem mundial, estabelecida em 1945 com base nos interesses americanos, tornou-se uma ameaça à segurança nacional. O objetivo é desmantelá-la e construir uma nova estrutura que restabeleça a hegemonia dos EUA. Para diplomatas, isso marca o fim dos pilares da política externa americana dos últimos 80 anos, com valores sendo abandonados em nome do poder.

Nos organismos internacionais, já abalados por uma crise de legitimidade, prevalece a incerteza sobre quem sobreviverá e quais projetos serão enterrados. Trump defende a paz, mas sob seus próprios termos, recorrendo, se necessário, ao poderio militar e econômico dos EUA. Seu lema: "paz pela força".

Um plano estratégico de 900 páginas delineia as prioridades internas e externas do novo governo. No centro, está a redução de qualquer dependência em relação à China, vista como o maior desafio existencial dos EUA. Para isso, é crucial encerrar outras guerras, como no Oriente Médio e na Ucrânia, e concentrar esforços na competição com Pequim.

Para Marco Rubio, novo chanceler de Trump, Vladimir Putin não será o centro quando a história do século 21 for contada. Por isso, a guerra na Ucrânia precisa acabar, ainda que concessões.

A paz no Oriente Médio também cumpre essa função de liberar recursos e energia americana para enfrentar seu maior concorrente. A pressa será por uma normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, minando inclusive a posição russa na região e marginalizando a ameaça iraniana.

Rubio reforçou a prioridade na contenção da China em sua sabatina no Senado. Ele alertou que, em menos de uma década, os EUA poderão depender da autorização chinesa para suprir suas necessidades, dado o controle de Pequim sobre cadeias de fornecimento globais. O plano de Trump, portanto, tem como meta reduzir essa dependência.

"A China é o maior desafio que os EUA já tiveram em sua história, superando mesmo a União Soviética. Isso vai definir o século 21", alertou Rubio.

Para ele, não apenas a ordem mundial está obsoleta. "Mas é um instrumento contra os EUA", disse. "Somos chamados a criar um mundo livre a partir do caos. Não será fácil", disse. Ele prometeu colocar o interesse americano no centro de sua administração, e não a preservação da ordem mundial.

Implementar isso inclui a retomada da atividade industrial americana, mesmo que exija a construção de muros tarifários contra produtos estrangeiros e em violação às regras mundiais do comércio. Trump, por exemplo, já prometeu elevar barreiras de importação, inclusive para bens vendidos por aliados.

Também está prevista a transformação de organismos internacionais, como a ONU e a OMS, considerados alinhados a interesses chineses. A Otan será mantida, desde que os europeus aumentem seus investimentos na aliança. Ambientalmente, as regras climáticas e ambientais serão descartadas, vistas como obstáculos à produção industrial.

No âmbito territorial, o plano inclui áreas estratégicas como o Canal do Panamá, onde empresas chinesas dominam os lados Pacífico e Atlântico, e a Groenlândia, com rotas estratégicas que poderão surgir com o degelo. Além disso, há a ambição de liderar avanços digitais, incluindo inteligência artificial e propaganda social em massa.

China no horizonte

Se o plano americano está traçado, diplomatas e negociadores apontam que Trump terá sérios desafios para implementar esse reposicionamento. E o motivo, segundo eles, é simples: a China já está ocupando os locais cobiçados pelos americanos e não está disposta a sair.

A realidade é que Pequim está ainda mais poderosa que em 2017, no primeiro governo Trump, e se estabeleceu como a maior parceira comercial de mais de cem países. Os investimentos também são críticos, com contratos de 30 anos em direitos de mineração e exploração de portos pelo mundo.

Se não bastasse, a China criou um colchão inédito na história do comércio mundial. Em 2024, ela acumulou um superávit de US$ 1 trilhão. O valor é três vezes maior que o que existia em 2018.

A China consolidou sua posição como maior parceira comercial de mais de cem países, acumulou um superávit comercial recorde e responde por 27% da produção industrial mundial. Até o fim da década, esse número pode chegar a 40%, posição que os EUA ocuparam em 1945.

A implementação dessas políticas, portanto, pode desencadear tensões globais, com riscos de disputas territoriais. Negociadores alertam que ações americanas, como a retomada do Canal do Panamá, podem provocar reações chinesas em Taiwan ou russas na Geórgia.

Outro risco é de que, ao tentar reconstruir sua base industrial, Trump abra guerras comerciais pelo mundo, com consequências imprevisíveis. Em seu primeiro mandato, um dos resultados de sua política foi o esvaziamento dos tribunais do comércio na OMC. Sem as leis, portanto, chancelarias europeias e de países emergentes apontam que a "lei da selva" pode vigorar.

"Viveremos dias parecidos ao do auge da Guerra Fria. Tensão máxima", prevê um experiente de embaixador em Nova York.

A angústia é quebrada apenas pela ironia. Para diplomatas latino-americanos, a região poderá ver o desembarque da Doutrina Donroe --um jogo de palavras com a Doutrina Monroe, atualizada para o mandato de Trump.

Naquele momento da Presidência de Monroe, em 1823, o inimigo era o imperialismo europeu e os americanos despontavam como a ambição de hegemonia. Duzentos anos depois, é a China que surge como o desafio existencial.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/01/19/trump-articula-construcao-de-nova-ordem-e-coloca-mundo-em-tensao-maxima.htm 

As trajetórias possíveis de democracias precárias para regimes ditatoriais - Paulo Roberto de Almeida

As trajetórias possíveis de democracias precárias para regimes ditatoriais

Paulo Roberto de Almeida


No começo, outubro de 1917, foi o putsch de Lênin e Trotsky, que logo se converteu em ditadura com a dissolução da Assembleia Constituinte e mais adiante, com Stalin, em sistema totalitário, que se sustentou durante 70 anos.

Serviu de inspiração a Mussolini, que fez sua Marcha sobre Roma, intimidou o regime parlamentar burguês e constrangeu o Rei a designá-lo primeiro-ministro.

Algo semelhante ocorreu na República de Weimar, com intimidação e violência por parte do partido Nacional Socialista, até que o presidente Hindemburg nomeou-o chanceler, em janeiro de 1933.

Portugal já tinha proclamado o seu Estado Novo desde o início dessa década, modelo adotado pelo presidente Vargas para criar o seu no Brasil em 1937. Outras ditaduras militaristas ou regimes autoritários, parlamentares ou presidencialistas, seguiram esse curso, no Japão, na Europa, na América Latina.

A tentação totalitária não esmoreceu: conquista do Estado pela guerra civil do PCC na República da China, em 1949, pela guerrilha rural e revolta urbana na Cuba de Fulgêncio Batista em 1959, golpe militar de Direita no Brasil em 1964, conquista do poder e tentativas guerrilheiras em diversos países da América Latina nos anos 1970, redemocratização aqui e ali nos anos 1980, invertendo, apenas  parcialmente, a onda autoritária anterior. A revolução no Irã, em 1979, teve uma dimensão similar à de 1789, com consequências mais graves.

Os regimes autoritários do século XXI passam a adotar o caminho eleitoral e plebiscitário: foi assim com o chavismo militarista na Venezuela e com a lenta construção da cleptocracia de Putin na Rússia, ambos a partir de 1999, mais adiante pela ditadura de Ortega na Nicarágua.

Líderes autoritários tentam se manter no poder nos países os mais diversos, alguns teoricamente democráticos, inclusive nos Estados Unidos, em 2020, e no próprio Brasil, entre 2019 e 2023, mediante arremedos improvisados de golpes.

Certa parte da população em países formalmente democráticos, inclusive na Europa, aceita soluções autoritárias. 

O espectro dos anos 1930 parece se insinuar novamente no cenário político da atualidade. O povo contra a democracia?

Cosi è, si vi pare…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasilia, 19/01/2025


How Hitler Dismantled a Democracy in 53 Days - Timothy W. Ryback (The Atlantic)

How Hitler Dismantled a Democracy in 53 Days

He used the constitution to shatter the constitution.

The Atlantic, January 17, 2025

https://www.theatlantic.com/author/timothy-w-ryback/

Ninety-two years ago this month, on Monday morning, January 30, 1933, Adolf Hitler was appointed the 15th chancellor of the Weimar Republic. In one of the most astonishing political transformations in the history of democracy, Hitler set about destroying a constitutional republic through constitutional means. What follows is a step-by-step account of how Hitler systematically disabled and then dismantled his country’s democratic structures and processes in less than two months’ time—specifically, one month, three weeks, two days, eight hours, and 40 minutes. The minutes, as we will see, mattered.

Hans Frank served as Hitler’s private attorney and chief legal strategist in the early years of the Nazi movement. While later awaiting execution at Nuremberg for his complicity in Nazi atrocities, Frank commented on his client’s uncanny capacity for sensing “the potential weakness inherent in every formal form of law” and then ruthlessly exploiting that weakness. Following his failed Beer Hall Putsch of November 1923, Hitler had renounced trying to overthrow the Weimar Republic by violent means but not his commitment to destroying the country’s democratic system, a determination he reiterated in a Legalitätseid—“legality oath”—before the Constitutional Court in September 1930. Invoking Article 1 of the Weimar constitution, which stated that the government was an expression of the will of the people, Hitler informed the court that once he had achieved power through legal means, he intended to mold the government as he saw fit. It was an astonishingly brazen statement.

(…)

Timothy W. Ryback is a historian and director of the Institute for Historical Justice and Reconciliation in The Hague. He is the author of several books on Hitler’s Germany, most recently Takeover: Hitler’s Final Rise to Power.

Sign up The Atlantic.

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Foi mais ou menos o que Chávez fez, a partir de 2003, em um espaço de tempo mais delongado que o de Hitler. Mas os métodos foram relativamente similares: Chávez também conseguiu uma Lei Habilitante para começar a mudar por dentro o regime constitucional em vigor.

No caso de Hitler, ele nunca abrogou a Constituição de Weimar: ela permaneceu em vigor até depois de sua morte e do fim do Reich Alemão, formalmente uma república.

(PRA)




sábado, 18 de janeiro de 2025

O Auto da Compadecida 2 - Bruno Fabricio Alcebino da Silva; Introdução de Maurício David

Apresentação de Maurício David:

 A lembrança mais remota que tenho na memória é de, garoto de calça curta passando de ônibus pela Praia do Flamengo, no Rio, ter visto nos muros do antigo prédio da UNE cartazes de divulgação da peça de Ariano Suassuna “O Auto da Compadecida”. Tempos depois, soube que fora encenada pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE e que se tornara muito popular nos teatros estudantis que, de quando em quando, espoucavam nas escolas secundaristas do Rio de Janeiro, tocadas pelos estudantes de esquerda. Mas ver mesmo a obra de Ariano, só me ocorreu quando do lançamento da versão do Guel Arraes feita pelos estúdios da Globo Filmes (vejam a ironia da História, a Globo do Roberto Marinho, a arqui-reacionária emissora de televisão que esteve por décadas por detrás de tudo o que fosse obscurantismo político no Brasil... E o filme em si, filmado pelo brilhante cineasta e diretor de televisão Guel Arraes – filho do cassado ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes e banido do país pelo regime militar. Aliás, Guel vem de “Miguel” , o nome do pai (Miguel Arraes). Foi amor a primeira vista, um filmaço que até hoje me emociona e diverte!

Recomendo muitíssimo a leitura da peça do grande autor Ariano Suassuna, uma obra prima. E também que se vejam as duas sequencias filmadas do Auto (a primeira – pela qual sou apaixonado, que vi em uma das minhas vindas ao Brasil no começo dos anos 2000 (quando ainda estava vivendo no Chile em meu segundo exílio e trabalhando na CEPAL das Nações Unidas ; a segunda ainda não vi e que acaba de ser lançada nos cinemas brasileiros, mas já fiquei fã também pelas criticas positivas que li na imprensa.).

Recomendo então, com ênfase, neste começo de um 2025 alvissareiro, a leitura do livraço do Ariano Suassuna e os filmes que se basearam no seu livro . Boa leitura e se divirtam com os dois filmes do Guel...

MD

P.S.: Uma curiosidade : tenho uma amiga do movimento estudantil de 67/68 que por diversas vezes já mencionei em minhas episódicas memórias : a Ana Célia, que veio a se casar com o saudoso economista Antonio Barros de Castro e que se tornou também um grande amigo.  A Ana é uma amiga de lá se vão seis décadas (perdoe-me, querida Ana, por revelar a nossa idade, mas sei que você é tudo menos vaidosa...), amiga mesmo, daquelas capazes de estender a mão para quem está se afogando e fazer de tudo para salvar a vida do amigo... Certa vez em Paris, batendo papo com um brasileiro também amigo que estava por lá e que havia sido colega da Ana no Colégio de Aplicação da UFRJ, êle me contou que em apresentação teatral da peça O Auto da Compadecida pelos alunos do CAP a Ana Célia havia representado o papel da ... Nossa Senhora !!! Sim, a Nossa Senhora, a mesma que a grande atriz Fernanda Montenegro representou na versão cinematográfica do Guel Arraes... Me diverti muito com a história e sempre achei, depois disto, que a Ana Célia era mesmo a figura apropriada para representar a Nossa Senhora ( a Compadecida...) no teatro... Valeu, minha Nossa Senhora !!!, como repetia o ator – Matheus Nachtergaele - que representava João Grilo no filme do Guel !

Mauricio David

 

Para os amantes do Cine : O Auto da Compadecida 2

 

Ariano Suassuna. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2018, 208 págs.
O Auto da Compadecida 2.
Brasil, 2024, 114 minutos.
Direção: Guel Arraes, Flavia Lacerda.
Roteiro: Guel Arraes, Adriana Falcão.
Elenco:Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Virgínia Cavendish, Eduardo Sterblitch, Enrique Diaz, Luiz Miranda, Taís Araújo. 

 

Considerações sobre a peça de Ariano Suassuna e os filmes baseados nessa obra

 

...Auto da compadecida é muito mais do que uma sátira social. É também uma obra profundamente espiritual, que aborda questões existenciais de maneira acessível e tocante. A justaposição entre o cômico e o trágico reflete a própria experiência humana, especialmente no contexto do sertão, onde a luta pela sobrevivência é acompanhada por uma rica vida espiritual e cultural. Essa dualidade é exemplificada na figura de João Grilo, que, apesar de todas as suas falhas e artimanhas, revela uma profunda compreensão da condição humana e um desejo genuíno de justiça e redenção...

 

“Mandou chamar o vigário: / – Pronto! – o vigário chegou. / – Às ordens, Sua Excelência! / Bispo lhe perguntou: / – Então, que cachorro foi / Que o reverendo enterrou? / – Foi um cachorro importante, animal de inteligência: / ele, antes de morrer, / deixou a Vossa Excelência / Dois contos de réis em ouro. / Se eu errei, tenha paciência / – Não errou não, meu vigário, / você é um bom pastor. / Desculpe eu incomodá-lo, / a culpa é do portador! / Um cachorro como esse, / se vê que é merecedor! (Leandro Gomes de Barros, “O enterro do cachorro”, fragmento de O dinheiro).

“Não sei, só sei que foi assim”. Foi assim que cresci, foi assim que me formei, foi assim que vivi. Nasci no sertão do Cariri, no Ceará, mas fui criado em São Paulo, ouvindo minha avó e meu pai contarem os causos tradicionais e quase sempre cômicos que ouviram ou viveram por lá. A vastidão seca e austera dessa região, seus contornos agrestes e seu povo resiliente sempre moldaram minha percepção de mundo.

Ao ler Auto da compadecida (1955), de Ariano Suassuna, fui inevitavelmente transportado para um espaço muito próximo ao meu, ainda que ficcional: Taperoá, na Paraíba. Ali, os cenários e os personagens pareciam falar diretamente às minhas memórias, às vivências de quem conhece as nuances do sertão nordestino, seus dilemas e suas belezas.

O termo “auto”, que dá título à peça, remete a uma tradição literária medieval que encontrou sua expressão mais marcante em Portugal, com autores como Gil Vicente. Os autos, de caráter religioso ou moralizante, eram encenações teatrais que buscavam entreter e instruir, combinando elementos cômicos e dramáticos. Em Suassuna, essa tradição é revitalizada e adaptada à realidade nordestina, compondo um texto que é simultaneamente local e universal, popular e erudito, cômico e trágico.

Logo de início, Auto da compadecida se apresenta como uma obra que transcende fácil categorização. A narrativa, centrada nas figuras de João Grilo e Chicó, é um caleidoscópio de referências culturais, históricas e religiosas. João Grilo, o anti-herói arquetípico, é a personificação da astúcia sertaneja, enquanto Chicó, seu companheiro de aventuras, encarna o imaginário fabuloso e a oralidade tão própria ao povo nordestino. Ambos, através de suas artimanhas e desventuras, questionam instituições e hierarquias sociais, expondo as contradições de uma sociedade profundamente marcada pela desigualdade e pela hipocrisia.

O auto foi escrito com base em romances e histórias populares do Nordeste, como exemplificado pela epígrafe deste texto, que reflete a rica tradição literária e cultural da região, principalmente da literatura de cordel, uma expressão autêntica e profundamente enraizada na cultura nordestina. O cordel, com suas rimas e narrativas envolventes, sempre foi uma forma de resistência e preservação da história e das crenças populares do povo nordestino. Ela surge das vozes anônimas, das experiências cotidianas e das mitologias locais, muitas vezes abordando temas como o folclore, as lendas, os desafios da vida no sertão e as figuras heroicas que se tornam parte do imaginário coletivo.

A trama, ambientada em Taperoá, entrelaça o cotidiano do sertão com temas universais, como a justiça, a fé e a moralidade. No cerne da narrativa está o julgamento final, onde figuras como o Diabo, Manuel (Jesus Cristo) e Nossa Senhora da Compadecida desempenham papéis cruciais. Esse julgamento é uma síntese brilhante do sincretismo religioso brasileiro, mesclando elementos do catolicismo tradicional com a religiosidade popular. Nossa Senhora, por exemplo, é retratada como a intercessora máxima, dotada de uma empatia profunda pelo sofrimento humano, enquanto o Diabo encarna não apenas o mal metafísico, mas também as injustiças concretas do mundo terreno.

Um dos aspectos mais notáveis da peça é seu uso magistral da linguagem. Suassuna consegue recriar a oralidade nordestina com uma precisão e um lirismo que tornam o texto profundamente autêntico. As expressões idiomáticas, os ditos populares e o humor peculiar do sertão são explorados de maneira a dar à obra uma musicalidade própria, que é ao mesmo tempo cômica e poética. Esse uso da linguagem é também um ato de resistência cultural, uma afirmação da riqueza e da singularidade da tradição nordestina em um contexto histórico marcado pela marginalização dessa região no imaginário nacional.

Outro elemento essencial é o humor, que permeia toda a narrativa e serve como um meio de subversão e crítica. O riso em Ariano Suassuna não é apenas um fim em si mesmo; é uma ferramenta poderosa para desvelar as estruturas de poder e questionar as normas sociais. As cenas envolvendo figuras como o padeiro, a mulher adúltera e o padre ganancioso são exemplos claros de como o humor pode ser utilizado para expor a hipocrisia e a corrupção, sem perder de vista a complexidade e a humanidade dos personagens.

No entanto, Auto da compadecida é muito mais do que uma sátira social. É também uma obra profundamente espiritual, que aborda questões existenciais de maneira acessível e tocante. A justaposição entre o cômico e o trágico reflete a própria experiência humana, especialmente no contexto do sertão, onde a luta pela sobrevivência é acompanhada por uma rica vida espiritual e cultural. Essa dualidade é exemplificada na figura de João Grilo, que, apesar de todas as suas falhas e artimanhas, revela uma profunda compreensão da condição humana e um desejo genuíno de justiça e redenção.

Finalmente, não se pode falar de Auto da compadecida sem destacar seu impacto cultural. Desde sua estreia em 1955, a obra tem sido adaptada e reinterpretada em diversos formatos, incluindo cinema e televisão, sempre com grande sucesso. Essa capacidade de ressoar com públicos tão diversos é um testemunho de sua força artística e de sua relevância atemporal.

Assim, ao revisitar o auto, não apenas reconheci os traços do sertão de Taperoá, mas também enxerguei, refletidos na obra de Suassuna, os dilemas, as esperanças e a grandeza de um povo que, como João Grilo, encontra na astúcia e na fé as ferramentas para enfrentar as adversidades da vida. É uma obra que, mais do que nunca, fala à alma do Brasil.

Entre o sagrado e o profano: Auto da compadecida no cinema

Quando O Auto da Compadecida foi lançado em 2000, ele não apenas adaptou a obra-prima teatral de Ariano Suassuna; o filme redefiniu os limites do cinema brasileiro ao mesclar a comédia popular com um profundo subtexto cultural e espiritual. Sob a direção de Guel Arraes, a narrativa costurou o rico universo da literatura de cordel com um vigor cinematográfico raro, valorizando a oralidade nordestina, a esperteza dos personagens e o sincretismo religioso que define boa parte do Brasil profundo.

Agora, quase um quarto de século depois, a chegada de O Auto da Compadecida 2 apresenta novos desafios e celebra antigas conquistas, refletindo não apenas mudanças nos personagens, mas também no próprio cinema nacional.

A adaptação de 2000 transformou um material originalmente teatral e radiofônico em um dos mais marcantes sucessos do audiovisual brasileiro. O que foi crucial nesse processo não foi apenas a fidelidade à linguagem e ao humor de Suassuna, mas também a habilidade de transportar sua essência para um formato mais dinâmico e visualmente rico. A câmera de Guel Arraes explorou o sertão não como um espaço meramente árido e desolado, mas como um palco vibrante de emoções humanas e conflitos universais. A plasticidade dos cenários e a leveza da montagem ampliaram o alcance da obra, permitindo que João Grilo e Chicó transcendessem suas origens regionais para se tornarem arquétipos da malandragem, da coragem e da sobrevivência em um mundo de desigualdades.

O primeiro filme equilibrou o sagrado e o profano com uma elegância incomum. A presença de Fernanda Montenegro como a Compadecida não apenas ancorava o filme no imaginário católico, mas conferia gravidade e beleza ao julgamento final, em contraste com as peripécias hilárias de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello). O resultado foi uma obra que conseguia ser simultaneamente crítica e devocional, regional e universal, cômica e comovente.

Por outro lado, O Auto da Compadecida 2 surge em um momento em que o cinema brasileiro enfrenta tanto desafios orçamentários quanto pressões por inovação narrativa. A sequência, dirigida novamente por Guel Arraes e co-assinada por Flávia Lacerda, preserva a essência humorística e o carisma dos protagonistas, mas se revela menos ousada em suas ambições. Se o primeiro filme foi uma celebração da criatividade e do virtuosismo narrativo, o longa de 2024 prefere revisitar fórmulas consagradas, às vezes sem o frescor necessário para reinventá-las.

A escolha de explorar os mesmos arquétipos em uma nova disputa – agora eleitoral – funciona como uma alegoria contemporânea, mas carece da profundidade que tornou o original atemporal. Ao colocar João Grilo no centro de uma disputa entre poderosos locais, o filme aborda questões relevantes sobre manipulação política e ambição, mas muitas dessas reflexões acabam diluídas em uma trama que prioriza o humor fácil em detrimento da crítica social mais contundente.

Mesmo assim, há méritos que não podem ser ignorados. A utilização de animações para ilustrar os “causos” de Chicó é uma inovação que respeita o espírito narrativo original ao mesmo tempo em que explora novas linguagens visuais. Além disso, a introdução de novos personagens, como Antônio do Amor (Luiz Miranda) e a nova Compadecida (Taís Araújo), traz vitalidade ao elenco e prova que há espaço para reinvenções dentro desse universo.

A substituição de Fernanda Montenegro por Taís Araújo no papel da Compadecida sintetiza o maior desafio da sequência: como se apropriar de um legado icônico sem descaracterizá-lo? Araújo entrega uma interpretação que equilibra suavidade e carisma, mas inevitavelmente carrega o peso de suceder uma das maiores atrizes da história do cinema. Sua performance, entretanto, sinaliza uma tentativa de modernização do filme, aproximando a Compadecida de uma figura mais acessível e menos hierática.

Já Nachtergaele e Selton Mello permanecem como o coração da história. A química da dupla é tão marcante que ofusca eventuais problemas narrativos. João Grilo ainda é o malandro irresistível, enquanto Chicó continua o contador de histórias cheio de medos e contradições. Contudo, é notável que o roteiro de 2024, em sua tentativa de reproduzir os acertos de 2000, acabe restringindo a evolução dos personagens. A sensação de repetição é inevitável, especialmente para quem tem o primeiro filme vivo na memória.

Talvez o maior mérito da nova adaptação resida em sua capacidade de reaproximar o público do universo de Suassuna, mesmo que o faça de maneira menos inspirada do que poderia. O filme é um convite à nostalgia, mas não se arrisca o suficiente para ampliar as fronteiras narrativas do original. Em um momento em que o cinema nacional luta por espaço em meio a produções estrangeiras de alto orçamento, a falta de ousadia da sequência é compreensível, mas não deixa de ser frustrante.

Por outro lado, a obra reafirma o poder duradouro dos personagens de Suassuna e o impacto cultural de suas histórias. Mesmo quando não é plenamente inventivo, O Auto da Compadecida 2 prova que o Brasil ainda sabe rir de si mesmo – e, às vezes, essa capacidade é tudo o que precisamos para seguir em frente.

 

  • Bruno Fabricio Alcebino da Silva é graduando em Relações Internacionais e Ciências Econômicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC).

 


Ariano Suassuna. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2018, 208 págs.
O Auto da Compadecida 2.
Brasil, 2024, 114 minutos.
Direção: Guel Arraes, Flavia Lacerda.
Roteiro: Guel Arraes, Adriana Falcão.
Elenco:Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Virgínia Cavendish, Eduardo Sterblitch, Enrique Diaz, Luiz Miranda, Taís Araújo.

 

Do mundo como ele é e não como será - Stefan Bogdan Salej

Do blog do Stefan Bogdan Salej: 

https://salejcomment.blogspot.com/2025/01/do-mundo-como-e-e-nao-como-sera.html

DO MUNDO COMO É E NÃO COMO SERÁ

 DO MUNDO COMO É E NÃO COMO SERÁ 

 

Para entender o futuro do mundo dos negócios, ou seja, os mercados, a experiência do passado e a realidade de hoje são valores fundamentais. A compreensão do empresário da ambiência macro-política, seja no plano interno como no internacional, é fundamental, mas também é fundamental entender especificamente o seu mercado. Não estou falando do mercado financeiro, mas do mercado de seus produtos e serviços.

A notícia de que a China alcançou no ano passado um superávit comercial de quase 1 trilhão de dólares, ou seja, 15 vezes mais do que o Brasil, e encheu o caixa, enquanto os Estados Unidos têm um déficit de trilhões, diz simplesmente que a guerra contra a China, que o futuro Presidente Trump anuncia, muda de figura. Oschineses têm caixa e conseguiram esse resultado por absoluta competência tecnológica e comercial. Estamos desprezando continuamente o avanço gerencial e tecnológico das empresas chinesas. Usam as mais avançadas técnicas de gestão,utilizando toda a sabedoria de Confuncius e sua rica história. Os chineses não avançaram agora, eles já eram avançados no século 15, quando Marco Polo os descobriu.

Mas, a maior preocupação hoje está com o governo Trump 2. A expectativa é de que cumpra o que diz. Não se aplica a ele nenhum provérbio popular, nem de cão que ladra não morde e nem o de que a caravana passa e os cães ladram. A imprevisibilidade é grande, mas há um elemento novo neste mandato dele. A influência de bilionários liderados pelo homem mais rico do mundo, Musk. A posse de Trump custa 1 bilhão de reais, financiados pelos empresáriosAs políticasnorte americanas serão guiadas essencialmente por um grupo de bilionários. Os interesses ideológicos ou do estado serão subjugados aos interesses e ideias de indivíduos e suas empresas.

Esse filme já vimos. Na América Central com United Fruits, no Chile, com a ITT, etc. Mas desta vez com formas diferentes e com força até maior. Esse jogo já começou na Europa, com Musk interferindo diretamente na política alemã e britânica. E com dólar fortalecido, outro instrumento de pressão, a situação secomplica.

Brasil não está vulnerável porque a co-ocupante do Palácio da Alvorada tratou Musk, que tem até um cargo no governo Trump, com palavrão. Está vulnerável porque há rachaduras nas instituições democráticas. Também seu sistema de governança política não oferece segurança e estabilidade monetária, mas um gasto descontrolado. E a base econômica depende do mercado de commodities.

As políticas do governo Trump vão atingir em muito os mais vulneráveis economicamente e os frágeis nas suas bases políticas. Governo Lula dura mais 2 anos, o de Trump, quatro. do Xi, até a morte dele.


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