A Oxfam, aquela ONG britânica que existe para nos lembrar que o capitalismo é um sistema econômico tão perverso que só pode ter sido inventado pelo tinhoso em pessoa, divulgou hoje, em Davos, o seu já tradicional relatório sobre a desigualdade global. Segundo o relatório, a soma dos patrimônios dos bilionários soma, agora, US$ 15 trilhões, contra US$ 13 trilhões há apenas um ano, o crescimento mais rápido da história. Isso fez com que a ONG previsse a existência de nada menos que 5 trilionários daqui a 10 anos. Só não fiquei mais alarmado do que quando leio relatórios sobre o aquecimento global. Aliás, está aí um estudo interessante, a correlação entre o número de bilionários e a temperatura do planeta. Perdão, divago.
A divulgação do relatório, coincidentemente ou não, se dá no dia da posse de Donald Trump. Esta coincidência é lembrada em dois trechos da reportagem. Em ambos, menciona-se o bilionário Trump e seu fiel escudeiro, o homem mais rico do mundo, Elon Musk, como símbolos dessa criminosa concentração de renda. Os Estados Unidos estariam agora liderando o que de pior o capitalismo produziu ao longo dos séculos.
Só tem um probleminha com esse simbolismo: segundo levantamento da Forbes, 83 bilionários apoiaram Kamala Harris, contra 52 que apoiaram Trump. E entre os apenas milionários, 57% apoiaram Kamala, contra 43% que apoiaram Trump.
Segundo a revista, os bilionários viam na democrata alguém que “daria continuidade a políticas previsíveis que apoiariam o império da lei, a estabilidade e um ambiente de negócios saudável”. Ou seja, os bilionários consideravam Harris como a mais indicada para manter um ambiente em que… as suas fortunas cresceriam ainda mais! Aliás, não custa lembrar que em 2024, ano em que os bilionários amealharam US$ 2 trilhões adicionais, o presidente era ainda Joe Biden.
Ok, alguns bilionários devem ter votado em Kamala para aliviar um pouco o seu peso de consciência por serem bilionários. Mas não tenho dúvida de que a maioria estava fazendo uma conta de vantagens/desvantagens em relação aos seus próprios interesses. Assim, Trump pode até servir como uma caricatura da concentração de renda, mas quem votou nele foi a classe média baixa, não os bilionários.
A Oxfam, como toda organização de esquerda, acha que fala em nome dos pobres. Isso sim, é só uma caricatura.