domingo, 27 de abril de 2025

A Nova Geopolítica da China e seus Reflexos no Brasil e no Mundo - Vitelio Brustolin CEBC

 Cabe rever esta apresentação, numa conjuntura de grandes desafios, ao Brasil e ao mundo, pelo grande especialista em geopolítica e relações internacionais Vitelio Brustolin:


A Nova Geopolítica da China e seus Reflexos no Brasil e no Mundo
Vitelio Brustolin
CEBC, 16/04/2025

https://www.youtube.com/watch?v=hNUi0LZfWKQ&t=703s

No quarto e último episódio da série de webinares “China: a Economia que Redefiniu o Mundo”, o Pesquisador da Harvard University e Professor da Universidade Federal Fluminense, Vitelio Brustolin, analisou as transformações em curso na geopolítica global e os impactos diretos da ascensão chinesa para o Brasil e o mundo.

Brustolin abordou temas como a rivalidade sino-americana, os novos rearranjos produtivos e as disputas tecnológicas, com destaque para as consequências dessas dinâmicas nas estratégias de inserção internacional da China — e seus reflexos na política externa, segurança e economia brasileiras.

O evento contou com a abertura do Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, Presidente do CEBC, e moderação de Tulio Cariello, Diretor de Conteúdo e Pesquisa do Conselho.

La géopolitique du pape François - Thomas Tanase (Diploweb)

A "geopolítica"do Papa Francisco – conceito que ele provavelmente rejeitava – era complexa e profundamente humana, como o próprio papa e o homem.

La géopolitique du pape François 

Thomas TANASE |Docteur en histoire, ancien membre de l’École française de Rome et diplômé de l’Institut d’Études Politiques de Paris

Thomas Tanase développe de façon très documentée une analyse des premières dix années du pontificat de François, pour comprendre comment celles-ci, au-delà des qualités personnelles du pape argentin, ont débouché sur un échec stratégique majeur, aggravant l’impasse du monde catholique. L'article se déroule en deux parties. Première partie Le pape François face à l’Occident. Seconde partie. Le pape François, l’Orient, l’Eurasie et la Chine.





http://r.mail-diploweb.com/mk/cl/f/sh/WCPzyXJTZ7Aw4xxqDDqgboJKuZnr559e/I0t9t_jVQY5v 

e

http://r.mail-diploweb.com/mk/cl/f/sh/WCPzyXJTZ7Ij90B6ZJKMNYT83MgyKmlm/CIqq9TmrCZ2e


Texto completo (75 páginas, em francês), disponível no seguinte link: 

https://www.academia.edu/129050089/Geopolitique_du_Pape_Francois_Thomas_Tanase_Diploweb_2025_


 

Conjuntura política global e impactos para o Brasil - Vitelio Brustolin (Unimed, RS)

Café do Instituto Unimed/RS discute conjuntura política global e impactos para o Brasil - Vitelio Brustolin

Painel contou com a presença do pós-doutor por Harvard e colaborador em análises geopolíticas para os principais veículos de comunicação do Brasil, Vitelio Brustolin

O Instituto Unimed/RS realizou mais uma edição do seu tradicional Café do Instituto, reunindo um excelente público na noite de 24 de abril de 2025 para discutir um tema de grande relevância: “A atual conjuntura política global e os impactos para o Brasil”. O evento, realizado na Casa da Memória Unimed Federação/RS, foi marcado pela palestra do pesquisador e professor Vitelio Brustolin, especialista em Segurança Internacional e Estudos Estratégicos, que traçou um panorama aprofundado sobre as tensões geopolíticas atuais e suas repercussões no contexto brasileiro.
O presidente do Instituto Unimed/RS, Alcides Mandelli Stumpf, abriu o evento destacando a importância da pauta e o compromisso da entidade em promover espaços de diálogo e reflexão sobre questões cruciais da atualidade. Stumpf ressaltou o papel do Instituto na ampliação do conhecimento e na integração entre cooperados, lideranças e parceiros do Sistema Unimed.
Compôs a mesa o coordenador da Área 1 da Unimed, Reginaldo Oliveira Rosa, que trouxe sua experiência, enfatizando a importância da participação da cooperativa na construção de espaços de diálogo e representação institucional.
Em sua apresentação, Brustolin, que é pós-doutor por Harvard, detalhou teorias e práticas que fundamentam as ações das duas maiores potências econômicas mundiais, EUA e China, abordou os conflitos internacionais, a crescente polarização política, os efeitos econômicos de guerras e tensões diplomáticas, e as perspectivas para o Brasil em meio às transformações do cenário global. O palestrante destacou temas como o aumento dos investimentos em defesa no mundo, a crise do multilateralismo e o papel estratégico do Brasil em um ambiente de incerteza e rápidas mudanças.
Um dos pontos altos do evento foi o espaço dedicado à interação com o público ao final da palestra. Vitelio Brustolin respondeu a diversas perguntas apresentadas pelos participantes, proporcionando uma interação longa, dinâmica e enriquecedora. O debate aprofundado permitiu esclarecer dúvidas, compartilhar visões e fomentar ainda mais a reflexão sobre os desafios e oportunidades que o Brasil enfrenta diante da conjuntura internacional.
Assim, o Café do Instituto Unimed/RS cumpriu mais uma vez o papel de promover conhecimento, troca de experiências e fortalecer o espírito cooperativista diante dos desafios contemporâneos. Ao encerrar o evento, Alcides Mandelli Stumpf citou Dostoiévski, em referência ao conteúdo apresentado e às diversas perspectivas levantadas por Vitelio: “Se Deus não existe, tudo é possível.”

Why Russia’s Military Collapse is Closer Than You Think -Chuck Pfarrer, with Jason Jay Smart (Kyiv Post YouTube)

 Why Russia’s Military Collapse is Closer Than You Think

Jason Jay Smart

sábado, 26 de abril de 2025

Concorrência chinesa no aço: ‘O país nos desanima’, diz Gustavo Werneck, presidente da Gerdau

Veja, Páginas Amarelas

26/04/2025


‘O país nos desanima’, diz Gustavo Werneck, presidente da Gerdau

O chefe da maior siderúrgica nacional afirma temer pelo futuro da indústria brasileira

 

Páginas Amarelas

‘O país nos desanima’, diz Gustavo Werneck, presidente da Gerdau

O chefe da maior siderúrgica nacional afirma temer pelo futuro da indústria brasileira

Por Márcio Juliboni

A escalada tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciada com o objetivo de brecar importações, estremeceu o mundo. De acordo com Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, a maior siderúrgica do Brasil, a política pode afetar cadeias produtivas globalizadas, mas defende que não há mocinhos e bandidos no jogo do comércio mundial. Para ele, a China, que hoje reclama do protecionismo americano, faz uso de concorrência predatória — e cita como exemplo o que ocorre hoje no mercado brasileiro. Nos últimos anos, a fatia do aço importado do dragão asiático saltou de 10% para 25% do mercado interno nacional. O sistema de cotas e tarifas adotado pelo governo em 2024 não impediu a invasão, e Werneck cobra medidas mais duras. “A concorrência desleal vem do próprio Estado chinês”, afirma ele. Werneck adverte que, se a questão não for resolvida, a Gerdau investirá em outros países, como os próprios Estados Unidos, que sobretaxaram em 25% o aço importado e onde o grupo já tem usinas. O desmonte da reforma trabalhista e o caótico sistema tributário também dificultam novos projetos por aqui. “O futuro da indústria brasileira nos preocupa muito”, diz Werneck.

Quais são os impactos das medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump?

Ainda é cedo para dimensionar. Embora a Gerdau possa se beneficiar, pois possui uma operação nos Estados Unidos voltada ao consumo interno sem a necessidade de exportar, fazer qualquer tipo de avaliação neste momento é prematuro.

E como a Gerdau é afetada pela sobretaxa que Trump impôs ao aço?

Como operamos lá, não há impacto. Nossa capacidade de produção nos Estados Unidos é quase a mesma que no Brasil, mas temos 30% de capacidade ociosa lá. Então, podemos aumentar rapidamente a produção sem grandes investimentos, à medida que a demanda interna crescer. O impacto para a indústria em geral é mais complexo. A indústria automotiva, por exemplo, se tornou bastante globalizada e vai demorar muitos anos para que volte a ser totalmente americana. Agora, por estarmos dentro dos Estados Unidos, podemos nos beneficiar com esses incentivos à produção local. Um exemplo é a retomada de projetos de infraestrutura.

O que o Brasil pode aprender com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs tarifas à importação de aço, visando sobretudo a China?

A Gerdau atua há mais de trinta anos nos Estados Unidos. Um grande aprendizado é que, lá, a defesa comercial envolve toda a cadeia produtiva de um setor. Todas as partes daquela cadeia entendem que a proteção comercial é positiva para a indústria como um todo. No Brasil, temos o grave problema de um setor ficar brigando com o outro. Isso é inaceitável. Alguns setores, como o de máquinas e equipamentos, têm uma visão míope de que aumentar a tarifa de importação do aço vai prejudicá-los. Mas isso vai ajudá-los, porque, do mesmo modo que o governo não defende o aço, não defende também a produção de máquinas, de equipamentos, de tratores. Esses setores jogam contra si mesmos.

Medidas protecionistas não contrariam o livre comércio?

Em nenhum momento pedimos protecionismo. Pedimos defesa contra uma concorrência predatória e desleal. Hoje, a indústria brasileira concorre com o Estado chinês, não com empresas chinesas. Não é à toa que o mundo todo está se defendendo. Existe uma grande diferença entre defesa e proteção. Sempre fomos a favor do livre comércio, desde que em condições iguais e corretas. Vivemos uma condição desleal, com Pequim subsidiando de forma artificial suas empresas. Assim, trocamos empregos brasileiros por chineses e condenamos o futuro da nossa indústria.

Por que as cotas e as tarifas impostas pelo governo, em junho passado, não impediram a invasão de aço da China?

Durante anos, a geração de emprego e renda na China dependeu do crescimento da indústria. Mas o país vive uma profunda transição e, para evitar uma convulsão social, o governo chinês subsidia setores como o do aço. A China exporta produtos em condições não isonômicas com as do mercado mundial. No ano passado, o Brasil criou um mecanismo de cotas e tarifas que estabelece uma taxa de 25% para o aço importado que exceder a cota. Mas está sobrando tanto aço na China, exportado com tantos subsídios, que, depois de um ano, em vez de a importação cair, está crescendo. Hoje, 25% do aço consumido no Brasil é importado, sobretudo da China. A média histórica era de 10%.

Quanto o excedente chinês de aço ameaça as siderúrgicas brasileiras?

O Brasil tem uma demanda anual de 4 milhões de toneladas de vergalhão, que é o tipo de aço mais usado na construção civil. Os Estados Unidos consomem 10 milhões de toneladas por ano. A China tem um excedente hoje de 400 milhões de toneladas de vergalhão. Se ela exportasse apenas 1% disso, atenderia a toda a demanda no Brasil. É chocante. Também sabemos quanto a China paga pelo minério de ferro. Vemos o aço chinês entrar no Brasil a preços menores que os do minério. É evidente a questão do dumping.

Por onde o aço chinês entra no Brasil?

Há três grandes entradas. Uma é a Zona Franca de Manaus, que tem um regime tributário especial. Houve um aumento muito grande de aço entrando por Manaus, mas a produção industrial na região não cresceu na mesma proporção. Se esse aço não é consumido na Zona Franca, então está circulando pelo país com isenção de impostos. O segundo problema é um acordo bilateral que permite que o aço importado do Egito pague tarifa reduzida. Essa via cresceu também, e não sabemos se esse aço foi mesmo produzido lá ou se foi fabricado em outro lugar e apenas passou pelo Egito para obter benefício fiscal. O terceiro é a isenção de ICMS que o estado de Santa Catarina concede às importações.

Que medidas brecariam, de fato, a importação de aço?

O público em geral acredita que o empresariado brasileiro não é competitivo e fica “mamando nas tetas do governo”. Isso é uma falácia. A Gerdau e muitos de nossos clientes competem de igual para igual com concorrentes estrangeiros no cenário global. Então, o que pedimos é apenas que o governo crie condições isonômicas de competição com os importados. O governo precisa endurecer as regras. Qualquer aço da China deveria pagar uma tarifa maior. O governo também deveria acelerar as investigações de dumping. Não é possível demorar dois ou três anos para concluir uma investigação.

As sobretaxas podem encarecer o aço no Brasil e pressionar a inflação. Como convencer os consumidores de que isso é necessário?

O Brasil não é um país que regula preço. Temos livre comércio e os preços do aço seguem o mercado internacional. É possível para o governo e qualquer pessoa acompanhá-los e ver se as siderúrgicas estão se aproveitando indevidamente da sobretaxa. Não queremos, de forma nenhuma, usar isso para reajustar preços e pressionar a inflação. O que queremos é diluir custos. Estou com fábricas paradas. O nosso custo fixo está muito alto. Pagamos IPTU, energia, aluguel e salários de empregados de unidades paralisadas.

O senhor já disse que a Gerdau pode rever o plano de investir 6 bilhões de reais neste ano, se o governo não proteger mais o mercado interno. Quão perto a empresa está de cortar investimentos?

Cada investimento em siderurgia demora anos, desde sua concepção até entrar em operação. Há quatro anos, decidimos investir 1,5 bilhão de reais na ampliação do laminador que foi inaugurado em março na usina de Ouro Branco, em Minas Gerais. Quatro anos depois, não temos para quem vender. Se o Brasil continuar criando cada vez mais dificuldades para as empresas, vamos buscar outros lugares para investir. A partir do mês de junho, faremos debates mais profundos, porque não está valendo a pena investir no Brasil. Temos uma história de 124 anos, e, apesar de nossa perseverança, está cada vez mais difícil empreender no Brasil. A Gerdau nunca esteve tão preparada quanto agora. Trabalhamos duro, nos últimos dez anos, para alcançar um nível de competitividade sem igual. Quase não temos dívidas e somos uma referência para a indústria em geral. Vivemos nosso melhor momento e, quando temos tudo para decolar, enfrentamos dificuldades que não são causadas por nós e que nos impedem de colher os frutos de todo esse trabalho. É uma frustração muito grande. O que pedimos não é choro de uma empresa ineficiente.

Com tantos problemas estruturais, ainda dá para ser otimista com o Brasil?

Neste momento, não, e dou alguns exemplos. Nossas operações nos Estados Unidos e no Brasil têm quase o mesmo tamanho, mas, lá, temos apenas três pessoas na área tributária. Aqui, temos 123 para lidar com a confusa tributação brasileira. Outro exemplo é o gás natural, que custa quatro vezes mais aqui do que nos Estados Unidos. Se o país não encontrar, no curto prazo, uma forma de oferecer energia elétrica e gás mais baratos, não compensará investir aqui. Vemos também a desconstrução do que conquistamos no passado, como a reforma trabalhista, que veio para trazer mais competitividade à indústria, mas está sendo desmontada. Todo dia, damos um passo para trás no Brasil. Outro exemplo: criamos, na cidade de Pindamonhangaba, em São Paulo, uma empresa para produzir aço para a indústria de energia eólica, chamada Gerdau Summit. O governo vendeu a energia eólica como um dos setores do futuro, mas a produção de equipamentos acabou e não temos para quem vender o aço. Investimos muito e não vendemos 1 quilo de aço da Gerdau Summit. Então, a indústria vive assim: a gente cria coragem, confia nas perspectivas do país, coloca um monte de dinheiro em novos projetos, e as promessas simplesmente não são cumpridas.

A isso se soma a necessidade de manter juros altos e frear a economia?

Sim, e aí vem a taxa de juros. Nossos clientes, como as montadoras e a construção, vão continuar demandando aço? Estamos em um momento de muita preocupação, porque não conseguimos ver nenhum dos setores em que atuamos se desenvolvendo com clareza no Brasil. Vemos a indústria automotiva com dificuldade, a indústria de energia com dificuldade, a indústria de máquinas e equipamentos importando muita máquina. Estamos mais preocupados do que nunca com o futuro da indústria brasileira. Junte-se a isso a questão da importação predatória de aço chinês, e a pergunta que fazemos é: até quando conseguiremos resistir?

Livro: Alexandre de Freitas Barbosa & Alexandre Macchione Saes: Celso Furtado, Trajetória, pensamento e método (Introdução)

Alexandre de Freitas Barbosa & Alexandre Macchione Saes:

Celso Furtado – Trajetória, pensamento e método 

Belo Horizonte, Autêntica, 2025, 318 págs

[https://amzn.to/3EF1tJs]

O lançamento em São Paulo será nesta segunda-feira, 28 de abril, a partir das 18h30, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena)

 

Celso Furtado – Trajetória, pensamento e método


 


Por ALEXANDRE DE FREITAS BARBOSA & ALEXANDRE MACCHIONE SAES*

Introdução dos autores ao livro recém-lançado

 

Os vários Furtados

“Por que um país com tanta riqueza, tanta terra […] tem esse mundo de gente abandonada, pedindo esmola na rua. Como se explica isso? Isso não é economia. Isso daí tem a ver com a história… O debate não alcança os pontos essenciais, porque a sociedade não está preparada para levar adiante esse debate”.
Celso Furtado, 10 de julho de 2004.[i]

1.

Celso Furtado é um dos intelectuais mais conhecidos e estudados no Brasil e na América Latina. Sua trajetória se mistura à do Brasil República, especialmente a partir dos anos 1950, a tal ponto que não se pode contar a história do país na segunda metade do século XX sem fazer a menção a esse homem público que refletiu e atuou sobre a cena nordestina, brasileira, latino-americana e mundial.

Nascido em 1920, na cidade de Pombal, Paraíba, sua trajetória compreende vários Furtados que se sucedem e se superpõem: o funcionário público do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), o estudante de doutorado na Sorbonne, o economista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o gestor da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e do Ministério do Planejamento.

Há ainda os anos de exílio como professor em universidades do exterior e o regresso ao Brasil, quando participa da transição democrática e da estruturação do Ministério da Cultura e desafia as promessas do “capitalismo global”. As diversas atividades exercidas por Furtado nutrem-se de suas utopias e projetos de transformação do Brasil, sempre presentes em suas obras, mesmo naquelas em que sobressai a verve analítica.

O presente livro fornece uma abordagem panorâmica de Celso Furtado, costurando sua trajetória e seu pensamento em constante transformação, repleto de nuances, ajustes e até rupturas, assim como a sociedade brasileira que ele procurou destrinchar por meio de uma perspectiva que parte da economia para transcendê-la.

Nesse sentido, é importante acompanhar como se dá o movimento de fusão de Celso Furtado com a história brasileira. Se a história avança por desvios, atalhos e cortes bruscos, também são vários os Furtados que a partir dela se expressam.

Isso pode ser percebido na leitura de seus Diários intermitentes. Há o jovem existencialista em busca de seu ser no mundo; o economista responsável por uma das mais originais contribuições brasileiras para a história do pensamento econômico; o intelectual público no front de batalha na Cepal, na Sudene e no Ministério do Planejamento; o professor exilado repensando o país com distanciamento histórico; e, finalmente, o intelectual renomado atuando nos bastidores da transição democrática inconclusa e procurando lapidar seu legado para as novas gerações.

Ao longo de aproximadamente cinquenta anos de produção intelectual e atividades públicas, Celso Furtado publicou quase quarenta livros. Ao percorrermos a vasta bibliografia produzida por Celso Furtado, nos deparamos com uma diversificada produção, com textos ora mais voltados para uma análise sobre os processos históricos, ora mais preocupados com o debate no campo da teoria econômica; mas sempre movido pelo anseio de estilhaçar as fronteiras estabelecidas entre as ciências sociais. Encontramos também a elaboração de manifestos de intervenção política em momentos decisivos de nossa história, assim como reflexões de cunho biográfico.

Em Celso Furtado, não há intervenção política sem teoria e história e tampouco interpretação sem propostas de ação. Teoria e práxis interagem mutuamente na trajetória de Celso Furtado, compondo um olhar muito próprio sobre a realidade brasileira e as possibilidades de transformação da sociedade.

2.

O livro procura apresentar, em linhas gerais, o pensamento de Celso Furtado a partir do contexto histórico em que produziu suas principais obras, sempre sob uma chave interdisciplinar, tornando-o palatável não apenas a economistas e cientistas sociais, mas também a leitores e leitoras provenientes do direito, história, geografia, relações internacionais, arquitetura, literatura e das artes e ciências em geral.

Se o contexto histórico permite acompanhar suas reflexões em constante mutação, é importante ressaltar que cada obra de sua autoria procura atuar de volta sobre a história, numa espécie de bumerangue incessante. Por isso, Francisco de Oliveira qualificou Celso Furtado como o mais “ideológico” de nossos intérpretes,[ii] no sentido de que suas sínteses sempre são projetadas no horizonte de possibilidades de cada momento.

Nesse sentido, nosso intuito é abarcar as múltiplas dimensões de sua obra em constante elaboração, numa chave panorâmica e pedagógica, apresentando nosso olhar sobre o intelectual – sua trajetória, seu pensamento e seu método – em diálogo com a ampla literatura existente.

Se a porta de entrada para conhecer a obra de Celso Furtado costuma ser Formação econômica do Brasil, sua obra-prima, este livro busca descortinar os “vários Furtados”.

Para além de uma das mais influentes interpretações da história econômica do Brasil, publicada em 1959, a obra de Celso Furtado navega pela teoria econômica, pela dinâmica história latino-americana, pela questão regional, pela economia da cultura e pela análise do capitalismo internacional. O que salta aos olhos é sua capacidade de fornecer uma perspectiva totalizante ao integrar essas temáticas. Isso se torna possível ao ampliar a concepção do sistema centro-periferia a partir da interpretação do subdesenvolvimento e da dependência.

3.

O variado espectro de temas é atualizado pelo confronto de três planos de análise: “o fenômeno da expansão da economia capitalista, o da especialidade do subdesenvolvimento e o da formação histórica do Brasil vista do ângulo econômico”.[iii] Portanto, uma interpretação que produz releituras sobre as conjunturas – do desenvolvimento nacional dos anos 1950 e da reestruturação do capitalismo global dos anos 1970 –, avaliando as oportunidades de transformação da sociedade e redesenhando os projetos de intervenção.

O método constantemente lapidado é o eixo a partir do qual procuramos encontrar a coerência de sua trajetória e seu pensamento, compreendidos a partir das rupturas da história brasileira e de como ele se posiciona frente a elas. Não se trata de uma coerência definida a priori, pois resultante do processo que altera a sua forma de vinculação à vida nacional em diferentes momentos: luta pela superação do subdesenvolvimento nos anos 1950 e 1960, exílio e crítica ao “modelo brasileiro” de desenvolvimento do pós-1964 e volta ao centro da cena durante a redemocratização dos anos 1980.

Celso Furtado se debruça ao longo de sua obra sobre o Nordeste, o Brasil, a América Latina e o sistema capitalista mundial estruturado por meio das relações entre centro e periferia. Essas dimensões de seu pensamento serão abordadas em seu devido lugar, mas não podemos esquecer que elas se referem a diversos níveis de análise sobre o mesmo problema – a tensa, complexa e por vezes dialética interação entre desenvolvimento e subdesenvolvimento – que muda conforme as escalas e temporalidades, e sempre de maneira encadeada.

Não podemos deixar de mencionar nessa introdução que o livro foi escrito com uma mirada para as próximas gerações, para os jovens que ingressam na universidade e na vida política, tal como fazia Celso Furtado em seus primeiros livros, dirigindo-se aos estudantes e à juventude.

Para os leitores que travaram algum conhecimento com a obra do intelectual na universidade ou nas batalhas políticas, procuramos recuperar os vários Furtados, como se fossem heterônimos de uma mesma persona. Poderão, assim, redescobrir esse pensador multifacetado a partir de novos olhares e perspectivas. Se os mais velhos possuem cada um “o Furtado para chamar de seu”, o convite que fazemos é para que ampliem seu repertório furtadiano.

Nós, os autores, nos damos por satisfeitos se o leitor e a leitora, ao chegarem ao final do livro, forem correndo ler este ou aquele livro do mestre. Nosso objetivo não é cultuar Furtado, mas praticar Furtado, aplicando seu método para entender as novas configurações assumidas pela economia nordestina, brasileira, latino-americana e mundial, sempre interagindo – por vezes de maneira contraditória – com as dimensões sociais, políticas e culturais.

4.

Com 22 anos incompletos, o estudante de Direito no Rio de Janeiro, e aficionado por música, publica na Revista da Semana, um artigo intitulado “Os inimigos de Chopin”.[iv] O jovem Furtado realiza então uma bela síntese em que o artista e seu país de origem aparecem fundidos.

Eis o trecho: “Chopin e Polônia estiveram por tanto tempo juntos e tanto se assemelham em suas trajetórias que se nos afiguram dois lados de uma mesma coisa. E teria sido possível um Chopin se não existisse uma Polônia? Certamente não. Como a Polônia não seria o que é sem este capítulo de sua existência: Frederico Francisco Chopin”.[v]

Parodiando o jovem, podemos dizer que o Brasil, país do sertanejo paraibano, tampouco seria o que foi, ainda é e pode ser, se não existisse o capítulo Celso Monteiro Furtado.

O intelectual Celso Furtado perscrutou analiticamente o potencial de desenvolvimento da nação, apesar da sordidez de suas elites e classes dominantes. Como se isso não bastasse, construiu possibilidades utópicas, entranhadas em sua metodologia inovadora, transformando-se numa “matriz de referência que não desiste nunca”, conforme a expressão de Maria da Conceição Tavares.[vi]

O capítulo Celso Furtado da história do Brasil não se encerrou com a partida do economista em 2004. Seu reconhecimento foi materializado, em 2004, com a criação do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, proposta encabeçada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E justificado pela crescente quantidade de trabalhos dedicados a refletir sobre a trajetória e a vasta obra de Celso Furtado. Uma obra que vem sendo debatida e valorizada, cada vez mais, para além das fronteiras da ciência econômica. Uma obra interdisciplinar necessária para enfrentar os novos desafios do Brasil.

Tal como Chopin revive toda vez que é tocado ao piano, alçando consigo sua Polônia natal, a sinfonia furtadiana encontra-se presente em sua obra. Toda vez que ela é lida, reinterpretada ou aplicada por alguém, o Brasil se reveste de possibilidades inauditas.

Foi assim durante as caravanas virtuais de 2020, quando o centenário de Celso Furtado despertou intelectuais, professores, estudantes e militantes dos quatro cantos do país, reivindicando seu legado durante a pandemia real e metafórica. Foram inúmeras lives, webinários, cursos, eventos, além dos dossiês publicados em revistas acadêmicas e livros lançados para rememorar esse capítulo da história do Brasil.

Se Chopin parece distante, vamos de Emicida: “eu não sinto que vim, eu sinto que voltei”.[vii] Furtado está sempre voltando, para levar adiante o necessário debate com ousadia crítica e imaginação transformadora. Não desanimemos.

5.

Celso Furtado: trajetória, pensamento e método foi escrito para dar conta do seguinte desafio: fornecer os instrumentos para acessar o seu método de análise e a sua produção intelectual por meio de uma abordagem panorâmica que tornasse possível acompanhar o pensamento e a trajetória de Celso Furtado ao longo da segunda metade do século XX.

O livro percorre a vida e obra de Celso Furtado descortinando os “vários Furtados” – teórico do subdesenvolvimento, intérprete do Brasil e do capitalismo, formulador de políticas de desenvolvimento, pensador da cultura e intelectual atuante –, situando a publicação de suas obras com os contextos históricos e os desafios vividos.

Para além de sua interpretação presente em Formação econômica do Brasil ou de seu papel como o representante brasileiro do estruturalismo latino-americano, procuramos situar a trajetória de Celso Furtado de uma maneira pedagógica, compondo um amplo quadro em que autor, obra e contexto histórico se conectam por meio de nossa leitura do projeto furtadiano de construção de um país soberano, justo e democrático.

A estrutura do livro é cronológica, pois sua biografia serve de ponto de partida para a compreensão de sua produção bibliográfica, mas sem projetar uma trajetória linear, cujo sentido esteja dado de antemão. Se o tratamos como “mestre”, é porque, com ele, aprendemos a pensar o Brasil. Não se trata, pois, de heroicizar o personagem. Ele viveu seu tempo e deixou seu legado. Cabe a nós recuperá-lo. Simples assim.

O capítulo inicial, “O jovem Furtado e os eixos de sua formação (1920-1948)”, apresenta suas primeiras reflexões, saindo da realidade nordestina para o Rio de Janeiro e, depois, da capital brasileira para a Europa. Uma formação jurídica na Universidade do Brasil, mas, acima de tudo, navegando pelas leituras das ciências sociais e pelos desafios de constituição do moderno Estado brasileiro nas décadas de 1930 e 1940. No doutoramento em Paris, por sua vez, sedimenta-se em sua formação a história como instrumento de análise, uma história problema, como presente na tradição da escola dos Annales.

O encontro com a ciência econômica, por outro lado, somente ocorreria a partir de 1949, quando se transfere para Santiago do Chile para trabalhar na Cepal. Este é o objeto do Capítulo 2, “A aventura da Cepal (1949-1958)”, fase da fantasia organizada, quando o economista se equipa com as ferramentas de planejamento para atuar no sentido da superação do subdesenvolvimento nos países latino-americanos. Essa fase se encerra com sua ida para a Universidade de Cambridge, contexto de redação de sua obra-prima, que figura como síntese de sua trajetória – por conjugar método analítico e interpretação histórica da economia brasileira –, objeto do Capítulo 3, “Formação econômica: o método histórico-estrutural e uma ideia de Brasil”.

“O intelectual estadista (1958-1964)”, Capítulo 4, situa Celso Furtado no auge de sua atuação política, pois num curto espaço de tempo o economista da Cepal transforma-se no formulador de um dos mais ousados planos de desenvolvimento regional do país, com a criação da Sudene no governo de Juscelino Kubitschek. Mais tarde, em meio à crise econômica e política do governo de João Goulart, Celso Furtado é o responsável pela formulação do Plano Trienal, como ministro extraordinário do Planejamento. A fantasia (é) desfeita com o golpe militar e seu longo exílio de quase vinte anos.

Os dois capítulos seguintes tratam do período em que Celso Furtado, tendo seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional n.º 1, precisa produzir distante do palco político. O Capítulo 5, “O intelectual no exílio 1: repensando o Brasil (1964-1974)”, percorre a primeira década do exílio, quando sua prioridade é compreender os dilemas da economia brasileira, as razões do golpe e os significados do novo modelo de subdesenvolvimento.

“O intelectual no exílio 2: repensando o capitalismo (1974-1980)”, por sua vez, destaca sua produção no contexto em que o economista se distancia dos problemas da conjuntura econômica brasileira e produz textos voltados para compreender os impasses da civilização industrial e do capitalismo contemporâneo, oferecendo uma reflexão inovadora no campo da ciência social.

6.

Os capítulos finais do livro se voltam para as duas últimas décadas de vida de Celso Furtado. Com seu retorno definitivo para o Brasil, durante o processo de redemocratização, o economista reaparece em plena forma, atualizando sua leitura do “modelo brasileiro” e esclarecendo aos cidadãos a origem e a dinâmica da dívida externa e da inflação. Assume, no governo Sarney, o Ministério da Cultura, área em que fornece contribuições valiosas desde os anos 1970, agora transformadas em política pública.

O Capítulo 7, “De volta à cena nacional: economia, redemocratização e cultura (1980-1988)”, procura explicar como e porque Celso Furtado foi escanteado pelos economistas do poder, ao passo que se sobressai como um intelectual para além da economia. Sua atuação na cena política lhe permite compreender os impasses da democracia brasileira por meio de uma perspectiva histórica.

O Capítulo 8, “Na linha do horizonte: dialogando com as novas gerações (1988-2004)”, apresenta uma fase de balanços e sínteses de Celso Furtado. Uma década em que o reconhecimento do economista se concretiza por meio de prêmios e indicações, como o recebimento de diversos títulos honoris causa, a nomeação para a Academia Brasileira de Letras e a indicação para o prêmio Nobel de Economia.

Por meio de seus livros, Celso Furtado estabelece um diálogo com as novas gerações, com ênfase nos novos desafios para o enfrentamento do subdesenvolvimento, a partir de um resgate de sua contribuição teórica e de sua trajetória pública, e de suas reflexões sobre a transformação da economia mundial.

A título de conclusão, apresentamos um ensaio-síntese que percorre meio século de produção intelectual de Celso Furtado com o objetivo de reter os instrumentos metodológicos de sua análise econômica e social. Uma perspectiva analítica burilada por décadas, que a despeito de completarmos vinte anos de seu falecimento em 2024, ainda nos auxilia a captar a essência da realidade – condição para o enfrentamento da pobreza e da desigualdade nas suas variadas formas, sempre levando em conta as transformações do cenário internacional, as quais constrangem e abrem possibilidades para novas propostas de desenvolvimento nacional.

*Alexandre de Freitas Barbosa é professor de economia no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP). Autor, entre outros livros, de O Brasil desenvolvimentista e a trajetória de Rômulo Almeida (Alameda).

*Alexandre Macchione Saes é professor no Departamento de Economia da USP. Autor, entre outros livros, de Conflitos do capital (EDUSC). [https://amzn.to/3LoAQIA]

Referência



Alexandre de Freitas Barbosa & Alexandre Macchione Saes. Celso Furtado – Trajetória, pensamento e método. Belo Horizonte, Autêntica, 2025, 318 págs. [https://amzn.to/3EF1tJs]

O lançamento em São Paulo será nesta segunda-feira, 28 de abril, a partir das 18h30, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena)

Notas


[i] Trecho do documentário O longo amanhecer: cinebiografia de Celso Furtado. Direção: Jose Mariani. Rio de Janeiro: Andaluz Produções, 2004. (73 min.)

[ii] Oliveira, F. A navegação venturosa: ensaios sobre Celso Furtado. São Paulo: Boitempo, 2003, p. 18-19.

[iii] Furtado, Celso. Aventuras de um economista brasileiro. In: Celso Furtado: Obra autobiográfica. Organização de Rosa Freire d’Aguiar.

Tomo II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 21.

[iv] Furtado, Celso. Os inimigos de Chopin [Revista da Semana, 14 abr. 1942]. In: Anos de Formação: 1938-1948. Organização de Rosa Freire d’Aguiar. Rio de Janeiro: Editora Contraponto/Centro Celso Furtado, 2014b. (Arquivos Celso Furtado, v. 6).

[v] Furtado ([1942] 2014a, p. 67).

[vi] O longo amanhecer: cinebiografia de Celso Furtado. Direção: Jose Mariani. Rio de Janeiro: Andaluz Produções, 2004. (73 min.)

[vii] AmarElo: é tudo para ontem. Direção: Fred Ouro Preto. São Paulo: Netflix, 2020. (89 min.)

 

Bicentenário de Dom Pedro II em exposição - Paulo Rezzutti, Claudia Thomé Witte (Tarso Marketing)

 Bicentenário de Dom Pedro II em exposição

Tarso Marketing, 12/04/2025


Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, em São Paulo, abriu neste sábado a exposição Dom Pedro II - 200 anos. Com curadoria dos escritores Paulo Rezzutti, biógrafo de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dom Pedro II, e Claudia Thomé Witte, biógrafa de Dona Maria II e de Dona Amélia, a exposição apresenta algumas peças inéditas que pertenceram ao próprio Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil ou à Família Imperial. Grande parte é de propriedade da própria Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, que possui um rico acervo imperial adquirido em leilões na Europa na década de 1980. Há também peças pertencentes à coleções particulares. A exposição poderá ser visitada até 15 de dezembro. Convém, enfatizar que no dia 2 de dezembro deste 2025 completam-se 200 anos do nascimento de Dom Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança.

Durante o evento realizou-se, em simultâneo, o início da temporada 2025 do Ciclo de Palestras sobre História do Brasil. O palestrante, Paulo Rezzutti, trouxe à tona novos dados sobre o filho de português e de austríaca que governou o Brasil por 49 anos.

 


 


 
 
 







 
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Todos os caminhos levam a Roma? Nem sempre… - Paulo Roberto de Almeida

Todos os caminhos levam a Roma?

Nem sempre…

Paulo Roberto de Almeida

        De todos os chefes de Estado de países relevantes — G20 e vários outros — estiveram ausentes dois supostamente “grandes”: Putin e Xi. 

        O primeiro não poderia ir, mesmo se desejasse, para conversar com outros, por exemplo, não necessariamente para homenagear um papa, qualquer que este fosse. Nem vai poder ir a outros eventos do gênero, pelo menos em países membros do TPI.

        O segundo é um imperador, que só se deslocaria em função dos interesses do seu império, em franca ascensão, o que requer certa pompa própria de conferências de grande impacto.

        Os que foram, aproveitaram a oportunidade para trocar palavras amenas, ou graves.

        Foi o caso de Trump e Zelensky, por exemplo, numa conjuntura dramática para a Ucrânia, massacrada de forma pouco cristã, por um aproveitador da Igreja Ortodoxa Russa, que o apoia integralmente, mesmo nos crimes de guerra e humanitários que deveriam evitar, até por ser cristã.

        Trump ameaçou colocar mais sanções contra seu amigo Putin, o que não diz muito para Zelensky, que apreciaria, ao contrário, receber mais meios de defesa contra os massacres aéreos.

        Alguns, ou muitos, desses ataques são facilitados por equipamentos fornecidos pela China, ligada a Putin por uma “aliança sem limites”, como proclamou o próprio Xi, em Beijing.

        Não, os dois não se sentiriam bem em Roma, mesmo se quisessem ou se pudessem ir. 

        Roma locuta, e falou pela presença de centenas de milhares de pessoas, às quais foram relembradas várias frases de Francisco em favor da paz e pela construção de pontes entre os povos.

    Todos os caminhos deveriam levar todos a Roma. Mas esses dois estão em outra geografia: a dos impérios expansionistas, que não era o mundo de Francisco. Um outro, por acaso ainda o Hegemon mundial, já tinha recebido um puxão de orelha, por sua conduta anti-cristã, com respeito aos imigrantes.

        Aliás, a primeira viagem de Francisco fora de Roma foi a Lampedusa, a porta de entrada de imigrantes na UE (os que sobrevivem à travessia).

        Francisco vai continuar falando, qualquer que seja o seu sucessor: a presença de tantos chefes de Estado em Roma confirma o seu “lasting power”. Que continue, em Roma ou fora da cidade eterna.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 26/04/2025


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