terça-feira, 23 de setembro de 2025

Dois discursos na AGNU, dos dois primeiros presidentes: Trump e Lula - Paulo Roberto de Almeida

 Dois discursos na AGNU, dos dois primeiros presidentes: Trump e Lula

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre os discursos de Lula e de Trump na AGNU.

Rotineiramente, os debates nas reuniões anuais da AGNU, desde 1946, começam pelo delegado do Brasil, eventualmente o presidente ou o chanceler, seguido pelo representante do país-sede, os EUA, raramente pelo presidente, mais frequentemente pelo Secretário de Estado ou o próprio represente diplomático na ONU.
Durante 70 anos, aproximadamente, os discursos inaugurais do Brasil refletiram os conceitos basilares de nossa diplomacia: estrito respeito à Carta da ONU e às normas mais elementares do Direito Internacional, aliás consolidados na Carta Constitucional de 1988. Ocorreu, sim, uma ruptura com os padrões tradicionais de nossa política externa e da diplomacia, durante os quatro anos do governo Bolsonaro, bizarramente oposta ao mecanismo fundamental da diplomacia contemporânea: o multilateralismo e a igualdade soberana das nações, substituídos pela submissão vergonhosa, não exatamente à nação ainda hegemônica na comunidade internacional, mas ao seu primeiro presidente claramente oposto aos mesmos princípios e supostamente um modelo para o seu subserviente colega brasileiro.
Esse mesmo presidente americano, eleito para um segundo mandato, persiste em seus propósitos de desmantelar o sistema multilateral, especialmente o comercial, e as regras consagradas do Direito Internacional.
Não cabe comentar o inacreditável discurso de Donald Trump, uma vez que não há uma única frase que corresponda à verdade dos fatos, um único argumento que reflita a realidade atual das relações internacionais, justamente afetadas pelas ações arbitrárias e unilaterais do Estado ainda mais poderoso do mundo (infelizmente para quase todo o resto da comunidade mundial). Cada palavra mais contundente, contra a ONU, os imigrantes, as múltiplas guerras supostamente terminadas por sua ação “merecedora de um Prêmio Nobel da Paz”, todos os conceitos constituem apenas o reflexo de seus preconceitos, obsessões e invenções de uma mente distintamente perturbada por uma megalomania raras vezes vistas no cenário mundial. Nada de muito novo, de fato, em termos de previsões sombrias para a Europa e o resto do mundo e de futuros radiantes para o seu próprio país.
Quanto ao discurso de Lula, pode ser considerado positivo — na defesa do multilateralismo e da soberania nacional, o que corresponde, na verdade, ao habitual costumeiro de nossa diplomacia — e correto nas críticas às sanções unilateralmente impostas ao Brasil, sem necessariamente vinculá-las ao presidente norte-americano.
Se examinarmos mais detidamente, porém, os primeiros parágrafos do discurso de Lula, chegaremos à conclusão de que todas as referências às violações à Carta da ONU, a condenação do recurso à guerra para resolver controvérsias e disputas entre Estados ou no tratamento do terrorismo, tudo isso se aplica, inteira e totalmente, à Rússia de Putin, sem que ela seja jamais equiparada às mesmas práticas delitivas e criminosas sendo infligidas à população palestina de Gaza.
[Discurso de Lula: “Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra.”]
Ao contrário, Lula repete ipsis litteris os argumentos de Putin no que respeita à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, jamais mencionada enquanto tal, como uma grave ruptura do Direito Internacional e dos mesmos princípios que a diplomacia brasileira defende estritamente.
[Discurso de Lula: “No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. O recente encontro no Alaska despertou a esperança de uma saída negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista. Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes.” [Putin dixit] ]
Em resumo, o discurso de Lula pode ser considerado como 90% adequado aos requerimentos da ONU, mas totalmente falho no tocante à pior ameaça à paz e à segurança internacionais desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de setembro de 2025

Discurso de Lula na AGNU, 23/09/2025

 Discurso de Lula na AGNU, 23/09/2025

Senhor Secretário-Geral, António Guterres,
Caros chefes de Estado e de Governo e representantes dos Estados-Membros aqui reunidos.
Este deveria ser um momento de celebração das Nações Unidas.
Criada no fim da Guerra, a ONU simboliza a expressão mais elevada da aspiração pela paz e pela prosperidade.
Hoje, contudo, os ideais que inspiraram seus fundadores em São Francisco estão ameaçados, como nunca estiveram em toda a sua história.
O multilateralismo está diante de nova encruzilhada.
A autoridade desta Organização está em xeque.
Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder.
Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra.
Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia.
O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades.
Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas.
Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades.
Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais, e cerceiam a imprensa.
Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há quarenta anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais.
Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia.
A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável.
Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias.
Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil.
Não há pacificação com impunidade.
Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito.
Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso.
Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas.
Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.
Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela.
Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral.
Seu vigor pressupõe a redução das desigualdades e a garantia dos direitos mais elementares: a alimentação, a segurança, o trabalho, a moradia, a educação e a saúde.
A democracia falha quando as mulheres ganham menos que os homens ou morrem pelas mãos de parceiros e familiares.
Ela perde quando fecha suas portas e culpa migrantes pelas mazelas do mundo.
A pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo.
Por isso, foi com orgulho que recebemos da FAO a confirmação de que o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome neste ano de 2025.
Mas no mundo, ainda há 670 milhões de pessoas famintas. Cerca de 2,3 bilhões enfrentam insegurança alimentar.
A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza.
Esse é o objetivo da Aliança Global que lançamos no G20, que já conta com o apoio de 103 países.
A comunidade internacional precisar rever as suas prioridades:
•⁠ ⁠Reduzir os gastos com guerras e aumentar a ajuda ao desenvolvimento;
•⁠ ⁠Aliviar o serviço da dívida externa dos países mais pobres, sobretudo os africanos; e
•⁠ ⁠Definir padrões mínimos de tributação global, para que os super-ricos paguem mais impostos que os trabalhadores.
A democracia também se mede pela capacidade de proteger as famílias e a infância.
As plataformas digitais trazem possibilidades de nos aproximar como jamais havíamos imaginado.
Mas têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação.
A internet não pode ser uma “terra sem lei”. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis.
Regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.
Ataques à regulação servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes, como fraudes, tráfico de pessoas, pedofilia e investidas contra a democracia.
O Parlamento brasileiro corretamente apressou-se em abordar esse problema.
Com orgulho, promulguei na última semana uma das leis mais avançadas do mundo para a proteção de crianças e adolescentes na esfera digital.
Também enviamos ao Congresso Nacional projetos de lei para fomentar a concorrência nos mercados digitais e para incentivar a instalação de datacenters sustentáveis.
Para mitigar os riscos da inteligência artificial, apostamos na construção de uma governança multilateral em linha com o Pacto Digital Global aprovado neste plenário no ano passado.
Senhoras e senhores,
Na América Latina e Caribe, vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade.
Manter a região como zona de paz é nossa prioridade.
Somos um continente livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos.
É preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo.
A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas.
Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento.
Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias.
A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela.
O Haiti tem direito a um futuro livre de violência.
E é inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo.
No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar.
O recente encontro no Alaska despertou a esperança de uma saída negociada.
É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista.
Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes.
A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem contribuir para promover o diálogo.
Nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina.
Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo.
Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza.
Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes.
Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente.
Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo.
Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente.
Expresso minha admiração aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva.
O povo palestino corre o risco de desaparecer.
Só sobreviverá com um Estado independente e integrado à comunidade internacional.
Esta é a solução defendida por mais de 150 membros da ONU, reafirmada ontem, aqui neste mesmo plenário, mas obstruída por um único veto.
É lamentável que o presidente Mahmoud Abbas tenha sido impedido pelo país anfitrião de ocupar a bancada da Palestina nesse momento histórico.
O alastramento desse conflito para o Líbano, a Síria, o Irã e o Catar fomenta escalada armamentista sem precedentes.
Senhora presidenta,
Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática.
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado.
A COP30, em Belém, será a COP da verdade.
Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta.
Sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas (as NDCs), caminharemos de olhos vendados para o abismo.
O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59 e 67% suas emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.
Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios.
Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões.
Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de justiça.
A corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos.
Em Belém, o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia.
O Brasil já reduziu pela metade o desmatamento na região nos dois últimos anos.
Erradicá-lo requer garantir condições dignas de vida para seus milhões de habitantes.
Fomentar o desenvolvimento sustentável é o objetivo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar para remunerar os países que mantêm suas florestas em pé.
É chegado o momento de passar da fase de negociação para a etapa de implementação.
O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima.
Mas é necessário trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que ela tenha a atenção que merece.
Um Conselho vinculado à Assembleia Geral com força e legitimidade para monitorar compromissos dará coerência à ação climática.
Trata-se de um passo fundamental na direção de uma reforma mais abrangente da Organização, que contemple também um Conselho de Segurança ampliado nas duas categorias de membros.
Poucas áreas retrocederam tanto como o sistema multilateral de comércio.
Medidas unilaterais transformam em letra morta princípios basilares como a cláusula de Nação Mais Favorecida.
Desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral perniciosa de preços altos e estagnação.
É urgente refundar a OMC em bases modernas e flexíveis.
Senhoras e senhores,
Este ano, o mundo perdeu duas personalidades excepcionais: o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, e o Papa Francisco.
Ambos encarnaram como ninguém os melhores valores humanistas.
Suas vidas se entrelaçaram com as oito décadas de existência da ONU.
Se ainda estivessem entre nós, provavelmente usariam esta tribuna para lembrar:
•⁠ ⁠Que o autoritarismo, a degradação ambiental e a desigualdade não são inexoráveis;
•⁠ ⁠Que os únicos derrotados são os que cruzam os braços, resignados;
•⁠ ⁠Que podemos vencer os falsos profetas e oligarcas que exploram o medo e monetizam o ódio; e
•⁠ ⁠Que o amanhã é feito de escolhas diárias e é preciso coragem de agir para transformá-lo.
No futuro que o Brasil vislumbra não há espaço para a reedição de rivalidades ideológicas ou esferas de influência.
A confrontação não é inevitável.
Precisamos de lideranças com clareza de visão, que entendam que a ordem internacional não é um “jogo e soma zero”.
O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral.
O Brasil confere crescente importância à União Europeia, à União Africana, à ASEAN, à CELAC, aos BRICS e ao G20.
A voz do Sul Global deve ser ouvida.
A ONU tem hoje quase quatro vezes mais membros do que os 51 que estiveram na sua fundação.
Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância.
Que Deus nos abençoe a todos.
Muito obrigado."

As opções da ONU em seu futuro sombrio: uma revolução, decadência ou ‘trumpificação’ - The Economist

As opções da ONU em seu futuro sombrio: uma revolução, decadência ou ‘trumpificação’

O Conselho de Segurança está praticamente paralisado e as missões de paz da ONU estão fora de moda

Por The Economist, 22/09/2025 | 14h30


A Organização das Nações Unidas passou por muitas crises desde sua fundação, em 1945: da misteriosa morte de seu secretário-geral, Dag Hammarskjöld, no Congo, em 1961, até a suposta “batida de sapato” de Nikita Khrushchev durante a Guerra Fria, os massacres de civis sob sua proteção na década de 1990 e a invasão americana do Iraque em 2003. Com os líderes se preparando para o 80º aniversário da ONU e a Assembleia-Geral em Nova York, os especialistas dizem que nenhum desses desastres parece tão calamitoso quanto o atual. Com o retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca, há muitos cenários traumáticos para a ONU, mas três se destacam: uma revolução interna, a decadência ou a “trumpificação”.

Ninguém na sede da ONU em Turtle Bay, Nova York, sabe ao certo o que as ideias do “America First” (América em primeiro lugar) de Trump trarão, em parte porque não há ninguém para lhes dizer. O Senado ainda não confirmou Mike Waltz, indicado por Trump para o cargo de embaixador. Todos estarão à procura de pistas nos discursos contraditórios de 23 de setembro, quando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, adversário ferrenho de Trump, abrirá o debate na Assembleia Geral da ONU, seguido pelo próprio Trump.

O choque imediato é orçamentário. O governo Trump está privando a ONU de fundos antes mesmo de revelar sua prometida revisão das instituições multilaterais. Membro habitualmente inadimplente, os Estados Unidos não pagaram suas contribuições obrigatórias à ONU para 2025. A solicitação orçamentária do presidente para o ano fiscal de 2026, atualmente em tramitação no Congresso, “suspende” quase todos os pagamentos à ONU.

Enquanto isso, a ajuda externa dos Estados Unidos, grande parte dela encaminhada por meio de contribuições voluntárias a organizações humanitárias da ONU, foi drasticamente reduzida. Os orçamentos das agências da ONU encolheram em média cerca de um terço. Alimentos, medicamentos, ajuda a refugiados e outras formas de assistência a centenas de milhões de pessoas estão sendo eliminados. Abalado pelas tarifas dos Estados Unidos, o desenvolvimento econômico global pode entrar em retrocesso.

Mesmo com o esgotamento dos recursos financeiros, o Conselho de Segurança está praticamente paralisado e as missões de paz da ONU estão fora de moda. Os grandes membros zombam da proibição da Carta das Nações Unidas de tomar o território de outro Estado pela força: a Rússia, ao fazê-lo descaradamente, e os Estados Unidos, com suas declarações levianas sobre anexar a Groenlândia e absorver o Canadá como seu “51º Estado”.

O que acontecerá a seguir? Os Estados Unidos têm sido, há muito tempo, o ingrediente essencial nas tentativas de governança global. A primeira iniciativa mundial foi prejudicada desde o início pela recusa do Senado americano em ratificar a Liga das Nações, no final da 1ª Guerra Mundial. a Liga efetivamente morreu com a eclosão da 2ª Guerra Mundial. Sua herdeira, a ONU, perdurou em grande parte porque gerações de líderes americanos reconheceram que, apesar de suas falhas, ela promovia uma ordem liberal e o poder americano.

As pesquisas mostram que a maioria dos americanos ainda apoia a ONU, mas as opiniões estão polarizadas. Os governos republicanos há muito tempo desconfiam da instituição. John Bolton, ex-embaixador dos Estados Unidos na ONU, chocou o mundo ao declarar: “O prédio do Secretariado em Nova York tem 38 andares. Se perdesse dez andares, não faria a menor diferença”. O nível de hostilidade republicana hoje é maior do que nunca e pode criar as condições para o primeiro cenário: que a ONU se torne adversária dos Estados Unidos, tornando-se “desonesta” em resposta ao radicalismo do America First.

Uma ruptura total com os Estados Unidos pode ocorrer em 2027, se seus atrasos orçamentários atingirem o valor de duas contribuições anuais, nível no qual um país perde seu direito de voto na Assembleia-Geral. Esse órgão deliberativo faz declarações em sua maioria não vinculativas, e os Estados Unidos poderiam vetar qualquer tentativa de forçá-los a sair do Conselho de Segurança. Mas a humilhação poderia provocar retaliação, se não a saída dos Estados Unidos.

A Palestina é outro catalisador potencial. Muitos membros da ONU a consideram a última grande causa colonial e a guerra de Israel como genocídio. Por sua vez, Israel e o governo Trump acham que a ONU está impregnada de antissemitismo. O último movimento para reconhecer a soberania palestina, liderado pela França e pela Arábia Saudita, pode crescer. O governo Trump negou vistos para a delegação palestina participar da reunião.

O governo Trump já está se recusando a participar da tomada de decisões globais. Os Estados Unidos pararam de financiar a UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos. Estão saindo do Acordo de Paris sobre o clima, da Organização Mundial da Saúde, da UNESCO (a organização educacional e cultural da ONU) e do Conselho de Direitos Humanos. Retiraram-se das discussões sobre a resposta a futuras pandemias, a reforma do financiamento do desenvolvimento e a proteção de partes do alto mar. O governo agora se opõe aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de 17 objetivos — desde a eliminação da pobreza extrema até a promoção da saúde — que são utópicos e abrangentes. Os Estados Unidos consideram esses objetivos como um governo mundial crescente, cheio de ideologias “woke” progressistas de gênero e clima, e um endosso às ideias chinesas.

Outros países poderiam tentar preencher o vácuo com dinheiro e esforços diplomáticos, alterando o equilíbrio de financiamento e pessoal dentro do sistema da ONU. A Europa poderia tentar defender os valores liberais, mas outros países não o fariam. Potências médias como a Turquia e os Estados do Golfo já estariam influenciando a entrega de ajuda em zonas de conflito com base em seus objetivos políticos, bem como em necessidades genuínas.

A ONU, especialmente a Assembleia Geral, poderia se tornar radicalmente antiamericana, como ameaçou fazer na década de 1970, quando muitos dos países recém-descolonizados a utilizaram para pressionar por uma “nova ordem econômica” para desfazer o capitalismo ocidental e o livre comércio. Ela poderia, por exemplo, começar a adotar exigências para que os países ricos paguem reparações climáticas ou compartilhem os impostos de forma mais equitativa. Mesmo que os Estados Unidos mantivessem seu veto no Conselho de Segurança, a ONU se tornaria um órgão para galvanizar a resistência contra eles.

Isso tornaria mais fácil para a Rússia e, especialmente, para a China reivindicar a liderança na ONU e em outros lugares. Eles já estão promovendo outros órgãos em paralelo, notadamente o clube econômico Brics e a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), um fórum de segurança eurasiano. Em uma cúpula da SCO no início deste mês, com a participação da Índia, o líder da China, Xi Jinping, falou da necessidade de “tomar uma posição clara contra o hegemonismo e a política de poder, e praticar o verdadeiro multilateralismo”. Muitos países desconfiam da China, mas podem achar a oferta de Xi mais atraente do que a de Trump.

Minh-Thu Pham, do Project Starling, um grupo que apoia a cooperação multilateral, afirma que o perigo não é tanto a ONU se tornar rebelde, mas sim os Estados Unidos. “A ONU está avançando sem os EUA, e não apesar dos EUA ou para contrariar os EUA”, diz ela; o abandono pelos Estados Unidos significa que a ONU se tornará mais “independente”.

Uma ONU zumbi

Um segundo cenário é um em que a ONU sobreviva — os Estados Unidos permaneçam nela e os países evitem antagonizar Trump —, mas o sistema se fragmente e entre em decadência. A China adotou o hábito americano de atrasar os pagamentos. Outros grandes contribuintes, principalmente os países europeus, estão cortando a ajuda externa para redirecionar os fundos para a defesa.

A OCDE, um clube formado principalmente por países ricos, projeta que seus membros cortarão a ajuda em 9% a 17% este ano, além do corte de 9% no ano passado. A resistência burocrática e os interesses conflitantes dos membros podem deixar o emaranhado de cerca de 140 órgãos da ONU praticamente intocado, embora com financiamento insuficiente. Tom Fletcher, chefe de assuntos humanitários da ONU, afirma que a organização recebeu apenas 19% dos fundos de ajuda solicitados em 2025.

A ONU também pode se tornar uma organização seletiva. Ela não teria garantia de fundos americanos, mas algumas de suas agências poderiam se beneficiar se, por exemplo, os Estados Unidos decidissem que sua agência para refugiados era útil para conter o fluxo de migrantes. Richard Gowan, do International Crisis Group, um think tank, argumenta que o Conselho de Segurança, em particular, poderia ficar meio morto, com apenas alguns espasmos reflexivos, por exemplo, para renovar o mandato das forças de paz da ONU em Chipre.

A assembleia poderia tentar reivindicar um papel maior em questões de paz e segurança. Algumas das agências especializadas da ONU — a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), por exemplo, ou a Organização Internacional da Aviação Civil — provavelmente continuarão existindo. “Poderíamos ver o surgimento de uma forma fragmentada de multilateralismo, sem um verdadeiro núcleo político, mas com muitas agências com um único objetivo”, diz Gowan. “Ela seria administrada principalmente a partir de Genebra ou Nairóbi, e não de Manhattan.”

O cenário final é uma reinvenção trumpiana. Waltz, o indicado por Trump para o cargo de embaixador na entidade, diz que pretende “tornar a ONU grande novamente”. Os Estados Unidos estão pressionando para restringir os direitos de asilo sob a convenção de refugiados da ONU de 1951; também querem que a ONU ajude a fortalecer a missão, liderada pelo Quênia, no Haiti devastado por gangues; e pressionaram a Europa a “retomar” as sanções ao Irã. Alguns países podem acolher com satisfação um maior foco na paz e menos tempo dedicado a questões sociais.

Trump gosta de pompa e pode buscar acordos ostensivos. Fontes internas da ONU esperam encontrar reformas, como um conjunto mais restrito de prioridades, que sejam boas para a ONU e agradem a Trump. Alguns diplomatas sugerem que a ONU deve se afastar da manutenção da paz para se ocupar da diplomacia da paz. Ou talvez algo mais prático possa substituir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que em grande parte não foram alcançados. Órgãos duplicados ou marginais poderiam ser abolidos.

Virando Maga

A votação do Conselho de Segurança dos Estados Unidos em fevereiro, com a Rússia e a China pedindo “uma paz duradoura” entre a Ucrânia e a Rússia, desanimou a Europa. Mas isso poderia levar a uma maior cooperação entre as grandes potências.

Depois de apoiar lados diferentes da guerra civil na Síria, os Estados Unidos e a Rússia estão apoiando o governo do ex-jihadista Ahmed al-Sharaa. O “acordo do século” para Trump, observa Pham, seria reformar a composição e os direitos de voto no Conselho de Segurança e redefinir o equilíbrio de poder global.

Muito depende dos caprichos de Trump e da habilidade do próximo secretário-geral da ONU. A campanha para substituir António Guterres em 2027 começa no final deste ano. Alguns candidatos, como Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA, estão disputando a posição. Até recentemente, falava-se em uma mulher latino-americana. Os trumpistas podem achar isso muito politicamente correto. Brincando apenas pela metade, uma fonte interna propõe uma mulher querida por Trump: sua filha, Ivanka. Se é isso que é preciso para manter Trump envolvido, que assim seja. Tempos desesperados, medidas desesperadas.

https://www.estadao.com.br/internacional/as-opcoes-da-onu-em-seu-futuro-sombrio-uma-revolucao-decadencia-ou-trumpificacao/

Discurso de Lula na AGNU - Paulo Roberto de Almeida

Discurso de Lula na AGNU

Nenhuma dúvida de que o Itamaraty (se lhe deram essa chance) preparou um bom discurso para Lula nesta terça-feira. No Planalto certamente incluiram mais algumas frases duras contra o unilateralismo agressivo daqueles que se julgam os novos imperadores do mundo.

“Daqueles” inclui mais de um, claro.

O discurso de Lula será bom, mas só estará perfeito se tiver uma, só uma uminha, condenação da guerra de agressão unilateral de Putin contra a Ucrânia. 

Tenho muitas dúvidas de que terá a mesma coragem com a qual condena duramente o genocídio de Netanyahu em Gaza. Putin iniciou o seu em 2022 e ainda não ouvimos nenhuma crítica de Lula ao seu amigo russo.

Vai se redimir desta vez?

Minha aposta é que não!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/09/2025


The world according to Trump: tarifas não MFN

 The world according to Trump: tarifas não MFN

Na visão tosca de Trump, existem países que são malvados com o comércio bilateral dos EUA (ou por motivos políticos, alheios ao comércio) que merecem as maiores tarifas, e existem aqueles que vão sendo "graduados" em função da relação de forças, ou dos interesses trumpistas estrito sendo:

🔝 The Highest Tariffs
• Brazil 🇧🇷 → 50% (the highest globally)
• Syria 🇸🇾 → 41%
• Myanmar 🇲🇲 → 40%
• Laos 🇱🇦 → 40%
• Switzerland 🇨🇭 → 39%
• Canada 🇨🇦 → 35% (non-USMCA exempt goods)
• Iraq 🇮🇶 & Serbia 🇷🇸 → 35% each

Strategic Mid-Tier Tariffs
• China 🇨🇳 → 30% (with some exemptions; still a central trade battleground)
• South Africa, Algeria, Libya, Bosnia & Herzegovina → 30%
• Mexico 🇲🇽 → 25% (non-USMCA exempt goods)
• India, Kazakhstan, Tunisia, Moldova → 25%



📉 Moderate Tariffs
• Bangladesh, Sri Lanka, Taiwan → 20%
• Philippines, Thailand, Nicaragua → 18–19%
• Pakistan, Indonesia, Cambodia, Malaysia → 15–19%


🟢 Standard Tariffs
• EU (most goods) → 15%
• Japan, Turkey, Israel, Ghana, Nigeria, New Zealand, Vietnam, Venezuela, Zambia, Zimbabwe → 15%
• All other countries → 10%

As coisas vão continuar na mais perfeita desordem e na total ignorância da cláusula de nação mais favorecida. É a mais completa subversão da política comercial americana desde a independência do país, desde os pais fundadores. Nunca houve nada igual na história dos EUA, na história econômica mundial e na história do sistema multilateral de comércio desde 1947.

domingo, 21 de setembro de 2025

O chanceler acidental em seu artigo sobre Trump e o Ocidente - Paulo Roberto de Almeida

 O chanceler acidental em seu artigo sobre Trump e o Ocidente

Paulo Roberto de Almeida
Minha crítica ao artigo do chanceler acidental sobre Trump e o Ocidente.

        Um sujeito de sorte, depois de azar, e novamente de sorte: o chanceler acidental, defenestrado por acaso, salvo com certeza de figurar no processo da tentativa de golpe de Estado, recentemente julgado pelo STF.
        Estou me referindo ao diplomata obscuro que ascendeu repentinamente com um empurrão do assim chamado "filósofo do bolsonarismo", com muita influência (infeliz) na educação e sobretudo no "bolsolavismo diplomático" que envergonhou nossa política externa e desestruturou nossa diplomacia no excepcional desgoverno do golpista condenado a 27 anos e 3 meses. Vocês sabem quem foi o sortudo-azarento e sortudo, tenho certeza disso, que voltou à obscuridade.
        Ele só chegou a ser escolhido como chanceler (acidental), por ter escrito um artigo que eu publiquei nos Cadernos de Política Exterior, apesar de que o artigo em questão não tivesse nada a ver com política exterior, e sim com história das ideias (malucas).
        Pois bem, no dois anos em que o chanceler acidental tentou administrar (desgovernar seria o termo mais correto) a política externa e a diplomacia, os verdadeiros chanceleres e chefes dele foram o Bananinha 03 – atualmente autoexilado na Trumplândia e prejudicando o Brasil – e o tal de Robespirralho, Filipe Martins, que foi devidamente enquadrado num dos núcleos dos golpistas trapalhões, ficou efetivamente preso durante meses e ainda aguarda julgamento por ter sido o cara que ofereceu uma das minutas do golpe ao chefão incompetente e covarde.
        O chanceler acidental só escapou da malta que planejou o golpe e hoje enfrenta o julgamento no STF pelo fato de ter brigado com a senadora Katia Abreu e ter sido expurgado em março de 2021, depois de ter infelicitado o Itamaraty durante mais de dois anos.
        Eu havia publicado, como disse, seu artigo sobre "Trump e o Ocidente", e apenas suspeitava que isso iria ridicularizá-lo em face de todos os colegas, pois quem seria capaz de admitir, sequer aceitar que o Trump (na primeira versão) pudesse ser o "salvador do Ocidente". Pois, graças ao Olavo de Carvalho, a quem o obscuro diplomata foi levar seu artigo, ele foi escolhido chanceler acidental.
        Logo depois de assumir, ele me demitiu do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Funag (IPRI), e só aí eu fui ler com atenção e anotar seu tristemente famoso artigo que o fez alçar à chefia da Casa de Rio Branco (que ele envergonhou terrivelmente). Mas, o fato de ter sido defenestrado o salvou da tentativa de golpe, e ele hoje permanece quieto, com repentes ocasionais, em sua tradicional obscuridade.

Minha análise está neste trabalho:

3483. “O Ocidente e seus salvadores: um debate de ideias”, Brasília, 28 junho 2019, 10 p. Avaliação crítica do artigo de Ernesto Araújo, “Trump e o Ocidente” (Cadernos de Política Exterior, n. 6).
Sumário:
1. A decadência e o Ocidente: algum perigo iminente?
2. Quais são as “teses” principais de “Trump e o Ocidente”?
3. O grande medo do Ocidente cristão: realidade ou paranoia?
4. Contradições insanáveis no projeto de salvamento do Ocidente cristão

O trabalho em questão está disponível neste link da plataforma Academia.edu.

Mapoteca Histórica do Itamaraty: acervo cartográfico com 30 mil mapas (sete volumes em pdf)

Mapoteca Histórica do Itamaraty

O Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro guarda uma das maiores coleções cartográficas da América Latina: cerca de 30 mil mapas, atlas, cartas náuticas e perfis geológicos, produzidos entre os séculos XVI e XX. Agora, todo esse acervo foi integralmente catalogado e o resultado é um instrumento de pesquisa disponível gratuitamente em formato digital.

O Catálogo da Documentação Cartográfica reúne pela primeira vez todos os itens cartográficos preservados na Mapoteca Histórica do Itamaraty, que há quase dois séculos acompanha a trajetória da diplomacia brasileira e a própria formação do território nacional.

A obra está organizada em 7 volumes:

Vol. 1 (Introdução): processo de catalogação, metodologia e estatísticas;

Vol. 2 (Brasil): mapas históricos e contemporâneos da cartografia nacional;

Vol. 3 (Atlas): 561 atlas dos séculos XVI a XIX;

Vol. 4 (Questões de Limites): mapas de fronteiras e disputas territoriais;

Vol. 5 (Gerais): mapas de continentes, regiões e países;

Vol. 6 (Nomes Geográficos): ilhas, montanhas, oceanos, rios e outros acidentes;

Vol. 7 (Apêndices): mais de 470 biografias de autores e as coleções do Barão do Rio Branco e do Barão da Ponte Ribeiro.


Mais do que um inventário, o catálogo representa um compromisso com a preservação da memória diplomática e a democratização do acesso ao conhecimento. É um convite a pesquisadores, estudantes e ao público em geral para explorar a riqueza de uma coleção que ajuda a contar a história do Brasil e do mundo.

🔗 Acesse o catálogo: itamaraty.pergamum.com.br/acervo/163699

⚠️ A Mapoteca integra o Museu Histórico e Diplomático, atualmente fechado para reforma. Acompanhe nossas redes sociais para novidades sobre a preservação do patrimônio diplomático brasileiro.

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Dados do Acervo - Livros
Número de Chamada:
912
Entradas Secundárias/Autor:
Entradas Secundárias/Autor:
Título Principal:
Catálogo documentação cartográfica : Mapoteca Histórica do Itamaraty / Organizador: Lucas Augusto Alves Figueiredo.
Publicação:
Rio de Janeiro : Trio Gráfica Digital , 2025.
Descrição Física:
7 v. : il. ; 30x21 cm
Notas:
Este catálogo foi publicado como um dos resultados do processo de catalogação e inventariação do acervo cartográfico da Mapoteca Histórica do Itamaraty, no âmbito do Projeto de Revitalização do Complexo do Itamaraty, localizado na cidade do Rio de Janeiro .
Notas:
Conteúdo completo : Volume 1 - Introdução | Volume 2 - Brasil | V 3 - Atlas | Volume 4 - Questões de Limites | Volume 5 - Gerais | Volume 6 - Nomes Geográficos | Volume 7 - Apêndices.
Notas:
Disponível no formato PDF.
ISBN:
ISBN 97865-01446592
Endereço Eletrônico:
Volume 1 - INTRODUÇÃO.pdf
Volume 2 - BRASIL.pdf 
Volume 3 - ATLAS.pdf
Volume 4 - QUESTÕES DE LIMITES.pdf
Volume 5 - GERAIS.pdf 
Volume 6 - NOMES GEOGRÁFICOS.pdf 
Volume 7 - APÊNDICES.pdf 

Firms as Political Forces for Good: Navigating Disorder and State Interventionism in A Multipolar World - Sergio Mariotti (Thunderbird International Business Review)

Firms as Political Forces for Good: Navigating Disorder and State Interventionism in A Multipolar World

Sergio Mariotti
Thunderbird International Business Review
Dear colleagues and friends,
I’m pleased to share my recent article, published in Thunderbird International Business Review, which examines the evolving role of firms as a political force for good in today’s volatile global economic environment—reshaped by rising fragmentation and by nation-states’ increasingly assertive, and often confrontational, strategies. These include shifts in industrial policy, rising protectionism, and tit-for-tat measures.
In this shifting context, the article argues that firms can adopt a more constructive and proactive role by working with stakeholders and policymakers to support balanced, well-being-enhancing outcomes. Revisiting the literature on Corporate Political Responsibility and Corporate Diplomacy, it explores how companies—particularly in economic-industrial and geoeconomic spheres—may begin to take on quasi state-like functions, such as providing public goods and building systemic resilience to help mitigate global tensions.
In addition to offering a conceptual reframing, the piece outlines practical implications for both scholars and practitioners and suggests avenues for future research at the intersection of international business, political economy, and strategy.
The article is open access and can be freely downloaded and shared using the following link:


I would be delighted to hear your thoughts and feedback.
With warm regards,
Sergio Mariotti
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Sergio Mariotti
Professor Emeritus
Politecnico di Milano
Dept. of Management, Economics and Industrial Engineering

sábado, 20 de setembro de 2025

Crimes da crise da covid devem ser apurados - Opinião do Correio Braziliense

Crimes da crise da covid devem ser apurados

O ministro Flávio Dino acerta ao determinar investigações sobre a condução da pandemia. O Brasil deve reconhecer que houve escolhas políticas conscientes durante a pandemia que ampliaram a tragédia

Opinião do Correio Braziliense, 20/09/2025

A tragédia da covid-19 no Brasil não pode ser tratada como mera fatalidade. O país registrou mais de 700 mil mortes ao longo da pandemia, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, tornando-se uma das nações com maior número absoluto de vítimas no mundo. Essa cifra, por si só, evidencia a gravidade da crise sanitária e o peso das escolhas políticas no agravamento do cenário.

O ministro Flávio Dino acerta ao determinar investigações sobre a condução da pandemia. As apurações não se restringem a um balanço administrativo: elas dizem respeito à responsabilização por crimes contra a saúde pública, condutas que resultaram em perdas irreparáveis. Por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal dará seguimento às investigações da CPMI da Covid, que havia indiciado várias pessoas, inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro, cujas atitudes deliberadamente hostis à ciência orientaram a resposta do governo federal ao coronavírus.

Entre janeiro de 2021 e o início de 2022, enquanto o Brasil acumulava centenas de milhares de novos óbitos, políticos e autoridades sabotavam medidas básicas de contenção, como o incentivo ao uso de máscaras e o distanciamento social, além de defenderem tratamentos ineficazes. Ao mesmo tempo, atrasavam negociações para a compra de vacinas, travando o processo de imunização em um país que historicamente tem uma das estruturas de imunização mais bem estruturadas do mundo: o Programa Nacionais de Imunização (PNI).

Esse quadro ficou mais dramático diante de episódios como a crise em Manaus, quando a falta de oxigênio hospitalar levou pacientes à morte por asfixia, numa cena que simboliza a incompetência e a negligência das autoridades. A omissão governamental, somada à politização do tema, custou milhares de vidas, que poderiam ter sido salvas com uma gestão responsável e coordenada. Relatório do  Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgado ano passado sustenta que ao menos 300 mil mortes por covid-19 poderiam ter sido evitadas no país.

A responsabilidade, portanto, não é apenas moral, mas também jurídica. Quando um governo se torna vetor de desinformação, desestimula a vacinação e compromete a cooperação internacional para aquisição de insumos, coloca em risco não só a saúde coletiva, mas a própria integridade do sistema público de saúde. O SUS, apesar de sua resiliência, não pode enfrentar pandemias dessa magnitude sem o apoio firme das mais altas instâncias do Executivo.

Investigar e responsabilizar é, assim, um imperativo democrático. O Brasil não pode naturalizar a perda de 700 mil vidas como se fosse parte dos "danos colaterais" de uma guerra. Pelo contrário, deve reconhecer que houve escolhas políticas conscientes que ampliaram a tragédia. Até porque isso serve de alerta: o país precisa manter a sociedade e o sistema de saúde em permanente vigilância. A covid-19 não será o último desafio sanitário global. A experiência recente deve servir como lição para reforçar a ciência, as instituições de controle, o financiamento do Sistema Único de Saúde  e as políticas de equidade em saúde.

https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2025/09/7252569-crimes-da-crise-da-covid-devem-ser-apurados.html


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