quinta-feira, 3 de julho de 2025

A volta ao mundo em 80 livros: revisitando Jules Verne - Paulo Roberto de Almeida

A volta ao mundo em 80 livros: revisitando Jules Verne

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Projeto de mais um clássico revisitado, sobre uma história que eu admiro, e os objetos que eu mais admiro, venero e cultivo. A ser desenvolvido na série clássicos revisitados.

Desde o Manifesto Comunista (para o século XXI), feito em 1998, nos 150 anos do “velho" Manifesto de Marx e Engels, eu fiz vários trabalhos nesta série de “clássicos revisitados”. Relaciono aqui os principais:

1) “Manifesto do Partido Comunista (atualizado para o século XXI)”; disponível neste link: https://www.academia.edu/41037349/Velhos_e_Novos_Manifestos_o_socialismo_na_era_da_globalizacao_1999_

2) O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado), link: https://www.academia.edu/5547004/16_O_Moderno_Pr%C3%ADncipe_Maquiavel_revisitado_2010_

3) “De la Démocratie au Brésil: Tocqueville de novo em missão”; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822/4947

4) Formação de uma estratégia diplomática: relendo Sun Tzu para fins menos belicosos: link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/12696/6714

5) Da diplomacia dos antigos comparada à dos modernos (à la Benjamin Constant); link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/10/da-diplomacia-dos-antigos-comparada-dos.html

6) Capitalismo e liberdade nos Estados Unidos e no Brasil: releitura do clássico de Milton Friedman na perspectiva do Brasil; link: https://www.academia.edu/130048022/Capitalismo_e_liberdade_nos_Estados_Unidos_e_no_Brasil_2025_

Estou agora considerando fazer um novo clássico revisitado de um livro que eu já li em várias edições, português e francês, e que sempre degustei, pelo lado romanesco, obviamente, mas também pelo lado geográfico e “internacionalista” (muito antes de ser diplomata). Bem, considero o livro do Jules Verne, mais pelo lado dos livros, do que pelo lado das aventuras. Começo por fazer uma listagem dos lugares por onde passou Phileas Fogg, mas pretendo apenas selecionar um livro para cada um dos lugares por onde ele passou, com seu ajudante Passepartout.
Vamos ao esquema:

Cidades, regiões e países pelas quais passou Phileas Fogg e Passepartout

1) Londres, Inglaterra, Reform Club, Museu Madame Tussaud, Bank of England: Planning de Voyage: De Londres à Suez par le Mont-Cenis et Brindisi, railways et paquebots ... 7 jours De Suez à Bombay, paquebot ... 13 jours De Bombay à Calcutta, railway ... 3 jours De Calcutta à Hong-Kong (Chine), paquebot ... 13 jours De Hong-Kong à Yokohama (Japon), paquebot ... 6 jours De Yokohama à San Francisco, paquebot ... 22 jours De San Francisco à New York, railroad ... 7 jours De New York à Londres, paquebot et railway ... 9 jours Total = 80 jours
2) Dover,
3) Calais,
4) Paris
5) Mont Cénis,
6) Turim,
7) Brindisi,
8) Suez,
9) Aden,
10) Bombai, Great Peninsular Railway
11) Buhrampour, Assurghur, Rothal, Kholby (por trem)
12) Allahabd (via Terrestre, por elefante, 2.000 libras)
13) Florestas da Índia: Bundelkung, Vindhias, Kallenger, Pillaji, Salvamento
14) Benares, Chandernagor, ville française
15) Calcutta,
16) Singapura,
17) Hong Kong
18) Shanghai
19) Yokohama pela linha Pacific Mail Steam, com o valor General Grant
20) San Francisco: Central Pacific,
21) Sacramento;
22) Reno
23) Salt Lake City (mórmons); Ogden station;
24) Wyoming
25) Medicine-Bow: ponte destruído
26) Denver, Colorado
27) Fort Kearney, ataque dos Sioux
28) Travessia em trenó sobre a neve
29) Columbus, Omaha, estado do Nebraska;
30) Iowa,
31) Des Moines,
32) Iowa City
33) Illinois
34) Chicago, rail-road, Chicago Rock Island Road
35) Indiana
36) Ohio
37) Pennsylvania
38) New Jersey
39) New York; o barco para Liverpool tinha partido 45 minutos antes
40) Barco Henrietta, em direção de Bordeaux, desviado para Liverpool
41) Queenstown, Irlanda
42) Dublin
43) Liverpool; preso em nome da Rainha
44) Londres
45) Reform Club, um minute antes da hora final

AGORA: livros para falar de todos esses lugares, no momento em que Phileas Fogg passou (1872) e nas décadas seguintes, até chegar na atualidade...
O que era o Brasil nessa época (Censo desse ano...)

Reproduzir trechos de Jules Verne (o imperialismo europeu, a supremacia colonialista britânica), a ausência de passaportes de entrada, vistos consulares, Suez e Lesseps, Aída de Verdi, os vapores e cabos telegráficos, a dominância da libra britânica, os horários dos trens e o cronograma dos vapores, a ausência de vacinas.
O atraso da Índia (livro de Robert Barro e Xavier Sala-i-Martin, Economic Growth), a selvageria dos EUA matando bisões e índios, e a fleugma dos ingleses: Phileas Fogg em nenhum momento perde a calma ou a cabeça, e sim mantém-se imperturbavelmente sereno e tranquilo.
Livros de turismo e de história econômica, a selecionar...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4972, 3 junho 2025, 3 p.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Meus artigos (antigos) na revista Interesse Nacional, dirigida pelo embaixador Rubens Barbosa - Paulo Roberto de Almeida

 Meus artigos (antigos) na revista Interesse Nacional, dirigida pelo embaixador Rubens Barbosa:


Artigos de Paulo Roberto de Almeida:

O Renascimento da Política Externa - 18/07/2016
https://interessenacional.com.br/o-renascimento-da-politica-externa/
A Miséria da Oposição no Brasil Da Falta de um Projeto de Poder à Irrelevância Política? - 01/04/2011
https://interessenacional.com.br/a-miseria-da-oposicao-no-brasil-da-falta-de-um-projeto-de-poder-a-irrelevancia-politica/
A OEA e a nova Geografia Política latino- americana - 01/07/2009
https://interessenacional.com.br/a-oea-e-a-nova-geografia-politica-latino-americana/

Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, doutor em ciências sociais pela Université Libre de Bruxelles, mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia, licenciado em ciências sociais pela Université Libre de Bruxelles, 1975). Atuou como professor de economia política no Programa de Pós-Graduação em direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Foi editor adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional; Membro do IHG-DF; blog: http://diplomatizzando.blogspot.com

Meus livros na Biblioteca da Câmara dos Deputados - Paulo Roberto de Almeida

Meus livros na Biblioteca da Câmara dos Deputados

(fichas recebidas de documentalista a partir do catálogo geral; eliminei os homônimos ou similares):


O Lugar da América do Sul na nova ordem mundial / Paulo Roberto Almeida ... [e outros] ; Marcos Costa Lima, org. 1 de jan. de 2001.

Formação da diplomacia econômica no Brasil : as relações econômicas internacionais no Império / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2017.

Relações internacionais e política externa do Brasil : a diplomacia brasileira no contexto da globalização / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2012.

O homem que pensou o Brasil : trajetória intelectual de Roberto Campos / Paulo Roberto de Almeida (organizador). 1 de jan. de 2017.

O moderno príncipe : (Maquiavel revisitado) / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2010.


O Mercosul no Limiar do Século XXI / Paulo Roberto de Almeida ... [e outros] ; Marcos Costa Lima, Marcelo de Almeida Medeiros, orgs. 1 de jan. de 2000.

Mercosul : fundamentos e perspectivas / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1998.

O Mercosul no contexto regional e internacional / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1993.

Globalizando : ensaios sobre a globalização e a antiglobalização / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2011.


Relações internacionais e política externa do Brasil : história e sociologia da diplomacia brasileira / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2004.

Velhos e novos manifestos : o socialismo na era da globalização / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1999.

A grande mudança : consequências econômicas da transição política no Brasil / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2003.

Formação da diplomacia econômica no Brasil : as relações econômicas internacionais no Império / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2001.

Mercosul : fundamentos e perspectivas / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1998.

Mercosul : textos básicos / Paulo Roberto de Almeida, coordenador. 1 de jan. de 1992.

Contra a corrente : ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil 2014-2018 / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2019.

Nunca antes na diplomacia-- : a política externa brasileira em tempos não convencionais / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2014.

O estudo das relações internacionais do Brasil / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1999.

O Brasil dos brasilianistas : um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 / Rubens Antônio Barbosa, Marshall C. Eakin e Paulo Roberto de Almeida, organizadores. 1 de jan. de 2002.

Relações internacionais e política externa do Brasil : história e sociologia da diplomacia brasileira / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2004.

Relações internacionais e política externa do Brasil : dos descobrimentos à globalização / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1998.

Integração regional : uma introdução / Paulo Roberto de Almeida ; Antônio Carlos Lessa, Henrique A. de Oliveira (coords.). By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2013.


Envisioning Brazil : a guide to brazilian studies in the United States, 1945-2003 / Edited by Marshall C. Eakin and Paulo Roberto de Almeida. 1 de jan. de 2005.

Partidos políticos e política externa / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1986.

Os primeiros anos do século XXI : o Brasil e as relações internacionais comtemporâneas / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 2002.

O Brasil e o multilateralismo econômico / Paulo Roberto de Almeida. By: Almeida, Paulo Roberto de. 1 de jan. de 1999.

Oswaldo Aranha : um estadista brasileiro / Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida, Rogério de Souza Farias (organizadores). 1 de jan. de 2017.

Mercosul, Nafta e Alca : a dimensão social / Yves Chaloult, Paulo Roberto de Almeida, organizadores. 1 de jan. de 1999.

A Constituição contra o Brasil : ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 / Roberto Campos ; organizador Paulo Roberto de Almeida. By: Campos, Roberto. 1 de jan. de 2018.

Mercosul : legislação e textos básicos / Paulo Roberto de Almeida, coordenador. 1 de jan. de 1992.

Relações Brasil-Estados Unidos : assimetrias e convergências / Paulo Roberto de Almeida, Rubens AntÔnio Barbosa, (Organizadores). 1 de jan. de 2006.

Relações Brasil - Estados Unidos : assimetrias e convergências / Paulo Roberto de Almeida, Rubens Antônio Barbosa (organizadores). 1 de jan. de 2006.


terça-feira, 1 de julho de 2025

Merquior, nos meus escritos - Paulo Roberto de Almeida

Merquior, nos meus escritos

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Listagem dos trabalhos de e sobre José Guilherme Merquior

1070. “José Guilherme Merquior e a agenda do liberalismo do Brasil”, Filadélfia, 3 jul. 2003, 4 p. Comentários a questões colocadas pelo jornalista João Gabriel de Lima, da Revista Veja, para número especial de 35 anos, selecionando a entrevista de Páginas Amarelas de José Guilherme Merquior. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/jose-guilherme-merquior-e-agenda-do.html).

2498. “Prata da Casa, Boletim ADB – 3ro. trimestre 2013”, Hartford, 12 julho 2012, 3 p.; + 1 p. em Grants, New Mexico, em 2/10/2013, (...) 7) José Guilherme Merquior: Liberalism, Old and New (Boston: Twayne Publishers, 1991, 182 p.; ISBN: 0-8057-8627-9)...

3412. “Prata da Casa, outubro de 2018 a fevereiro de 2019”, Brasília, 20 fevereiro 2019, 6 p. Resenhas dos seguintes livros para a Revista da ADB: (...); 11) Merquior, José Guilherme: O Marxismo Ocidental (tradução Raul de Sá Barbosa; 1a edição; São Paulo: É Realizações, 2018, 352 p.; ISBN: 978-85-8033-343-5); ...

3577. “José Guilherme Merquior: o esgrimista liberal”, Brasília, 7-19 fevereiro 2020, 48 p. Ensaio sobre a produção intelectual de José Guilherme Merquior no campo da sociologia política, para volume coletivo sobre os intelectuais na diplomacia brasileira. Enviado a embaixadores que conheceram e conviveram com Merquior. Complementado pelo trabalho 3579: “Merquior diplomata: o sistema internacional e a Europa ocidental”. In: José Guilherme Merquior, Foucault, ou o niilismo de cátedra (nova edição: São Paulo: É Realizações, 2021, 440 p.; ISBN; 978-65-86217-22-3; tradução de Donaldson M. Garshagen; posfácio; p. 251-320). Relação de Publicados n. 1383.

3579. “Merquior diplomata: o sistema internacional e a Europa ocidental”, Brasília, 9 fevereiro 2020, 9 p. Complementação do trabalho 3577, focando num ensaio a propósito do tema-título. Ambos, 3577 e 3579, publicados pela Editora É Realizações. In: José Guilherme Merquior, Foucault, ou o niilismo de cátedra (nova edição: São Paulo: É Realizações, 2021, 440 p.; ISBN; 978-65-86217-22-3; tradução de Donaldson M. Garshagen; posfácio; p. 251-320). Relação de Publicados n. 1383.

3581. “Intelectuais na diplomacia brasileira”, Brasília, 10 fevereiro 2020, 262 p. Consolidação de livro coletivo, sob a coordenação conjunta com Celso Lafer, e colaborações de Marcílio Marques Moreira (San Tiago Dantas), Ricardo Vélez-Rodríguez (Meira Penna), Rogério de Souza Farias (Lauro Escorel), Antonio Mesplé (Sergio Corrêa da Costa), Mary Del Priore (Vasco Mariz), Rubens Ricupero (Wladimir Murtinho) e eu mesmo, com introdução e dois capítulos (Roberto Campos e José Guilherme Merquior). Encaminhado aos autores, a Celso Lafer e a Gelson Fonseca, para verificar possibilidades de edição. Ainda em revisão de ampliação, para novos capítulos (Afonso Arinos por PRAlmeida), prefácio (Celso Lafer) e nova introdução (PRAlmeida). Em processo de finalização.

3805. “Intelectuais na construção da diplomacia brasileira”, Brasília, 28 novembro 2020, 1 p. Novo esquema do livro sobre os intelectuais na diplomacia, sob minha organização, incluindo quatro contribuições minhas (Rui Barbosa, Afonso Arinos, Roberto Campos, José Guilherme Merquior), em preparação.

3838. “Trinta anos sem José Guilherme Merquior”, Brasília, 5 janeiro 2021, 3 p. Listagem das postagens feitas em torno do “ano Merquior”, uma série de postagens com materiais dele e sobre ele, no blog Diplomatizzando (6/01/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/trinta-anos-sem-jose-guilherme-merquior.html).

3891. “José Guilherme Merquior, um intelectual brasileiro: 80 anos do nascimento”, Brasília, 16 abril 2021, 16 p. Dossiê seletivo com coletânea de postagens e documentos relativos à trajetória pessoal, funcional e intelectual do grande diplomata intelectual. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/jose-guilherme-merquior-um-intelectual.html).

3894. José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro, Brasília, 19 abril 2021, 322 p. Coletânea de textos de e sobre o grande intelectual diplomata, com exceção do prefácio, agregado posteriormente. Em revisão para tornar o volume menos pesado. Versão abreviada, com links remetendo a pdfs em Academia.edu, 187 p. Postado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/46954903/Jose_Guilherme_Merquior_um_Intelectual_Brasileiro_2021_); divulgado no blog Diplomatizzando (20/04/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/jose-guilherme-merquior-uma-homenagem.html).

3895. “Prefácio ao livro José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro, Brasília, 19 abril 2021, 6 p. Agregado à brochura composta sob n. 3894. Divulgado no blog Diplomatizzando (20/04/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/prefacio-ao-livro-jose-guilherme.html).

3896. “Apresentação José Guilherme Merquior”, Brasília 21 abril 2021, 14 slides. Síntese da trajetória intelectual de JGM, com destaque para a sua produção de livros próprios e breves referências a obras sobre seu pensamento. Elaborado em formato de Power Point para apresentação em debate organizado pelo diretor de comunicação do Livres, com a participação de Celso Lafer, Gelson Fonseca, Bolivar Lamounier e Persio Arida, via Streamyard, dia 22/04/2021, 18:00hs, aos 80 anos de JGM. Apresentação em pdf disponível nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/47382701/Jose_Guilherme_Merquior_um_intelectual_brasileiro_apresentacao_2021_), Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/351060079_Jose_Guilherme_Merquior_um_intelectual_brasileiro_presentation ) e divulgada no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/jose-guilherme-merquior-um-intelectual_21.html); DOI: 10.13140/RG.2.2.31640.52483.

4024. “Merquior: os 100 anos da República e a Revolução francesa”, Brasília, 27 novembro 2021, 11 p. Apresentação feita no Seminário Internacional José Guilherme Merquior: 80 anos (9 e 10 de dezembro de 2021), a convite do Prof. João Cezar Castro Rocha, no painel “Inéditos de José Guilherme Merquior”, dia 10/12/2021, 16h. Colocado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/62581764/4024_Merquior_os_100_anos_da_República_e_a_Revolução_francesa_2021_) e divulgado com o programa do seminário no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/jose-guilherme-merquior-seminario.html).

4025. “José Guilherme Merquior: 80 anos, Seminário Internacional”, Brasília, 28 novembro 2021, 16 slides. Apresentação preparada para o seminário internacional sobre J. G. Merquior, realizado em 9-10/12/2021, no painel “Inéditos de José Guilherme Merquior”, a ser efetuada em 10/12, 16h00, na companhia da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, da Universidade de Chicago. Postada na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/62586367/4025_4025_Jose_Guilherme_Merquior_80_anos_Seminario_Internacional_2021_) e apresentada no blog Diplomatizzando (28/11/2021, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/jose-guilherme-merquior-80-anos.html).

4034. “Jose Guilherme Merquior: textos inéditos ou pouco conhecidos”, Brasília, 2 dezembro 2021, 7 p. Apenas uma apresentação dos textos inéditos que serão tratados em outro trabalho, aproveitando a primeira parte do trabalho n. 4024. Divulgado na série dedicado às postagens sobre Merquior, na série 80 anos, no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/12/jose-guilherme-merquior-80-anos-6.html) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/63037269/4034_Jose_Guilherme_Merquior_textos_relativamente_ineditos_ou_pouco_conhecidos_2021_).

4038. “Inéditos de José Guilherme Merquior: amostras da ‘máquina de pensar’”, Brasília, 7 dezembro 2021, 19 p. Apresentação sumária dos textos inéditos ou pouco conhecidos de José Guilherme Merquior: prefácio às edições brasileiras dos Estudos Políticos de Raymond Aron (1980) e do Dicionário Crítico da Revolução Francesa, de François Furet e Mouna Ozouf (1988), e conferências feitas na Universidade de Harvard, El Otro Occidente (1988) e no Centre de Recherches sur le Brésil Contemporain, “Brésil: cent ans de bilan historique” (1990). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/63761861/4038_Ineditos_de_Jose_Guilherme_Merquior_amostras_da_maquina_de_pensar_2021_) e no blog Diplomatizzando (10/12/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/12/ineditos-de-jose-guilherme-merquior.html).


4040. “Apresentação sobre os inéditos de José Guilherme Merquior no Seminário Internacional em homenagem aos seus 80 anos”, Brasília, 7 dezembro, 12 slides. Capas de seus livros mais importantes e dos inéditos sendo apresentados. Seminário apresentado no YouTube da É Realizações (https://www.youtube.com/editorae). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/63769579/4040_Apresentacao_no_Seminario_Jose_Guilherme_Merquior_2021_), informado no blog Diplomatizzando (10/12/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/12/apresentacao-sobre-ineditos-de-jose.html).

4141. Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior, Brasília, 29 abril 2022, 217 p. Reformatação do trabalho 4118, com novo título e espaço para um prefácio externo. Enviado à Editora LVM para fins de editoração.


4187. Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior, Brasília, 28 junho 2022, 229 p. Nova versão do livro, encaminhada ao editor Pedro Henrique. Incorporado prefácio de Arnaldo Godoy em 10/07/2022; enviado ao editor, com novas correções em 11/07/2022. Apresentado, com a capa recebida em 15/08/, com índice e apresentação, no blog Diplomatizzando (15/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/construtores-da-nacao-projetos-para-o.html). Publicado em 23/08/2022: Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior (São Paulo: LVM Editora, 2022, 304 p.; ISBN: ISBN: 978-65-5052-036-6; prefácio de Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy, p. 11-17). Divulgado via blog Diplomatizzando (25/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/construtores-da-nacao-projetos-para-o25.html). Relação de Publicados n. 1467.

4335. “Os intelectuais do Itamaraty e o caso único de José Guilherme Merquior”, Brasília, 8 março 2023, 7 p. Colaboração à revista Crusoé; publicada em 17/03/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/255/os-intelectuais-do-itamaraty-e-o-caso-unico-de-jose-guilherme-merquior/ ). Relação de Publicados n. 1497.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4970, 1 julho 2025, 3 p.

Um texto do Livres sobre Tarifas e Liberdade Comercial

 O Livre Comércio é a melhor resposta contra tarifas

Contribuição do Livres

A ameaça feita pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros é uma medida profundamente equivocada. Em comunicação oficial, Trump declarou, com a decisão, buscar impacto sobre políticas internas do governo Lula e decisões do Supremo Tribunal Federal brasileiro. Na realidade, as tarifas não só falham nesse objetivo, como prejudicam fortemente consumidores americanos e produtores brasileiros.

Embora frequentemente empregadas como instrumentos de pressão política, sanções econômicas apresentam resultados mistos e, em muitos casos, não alcançam plenamente seus objetivos declarados. A ameaça de penalidades chantageia a política e a justiça local, e cola opositores do status quo a medidas que empobrecem o próprio povo. Ao afetarem a economia local e exporem a população à instabilidade econômica, as sanções reforçam narrativas de ameaças externas utilizadas pelas autoridades locais, rapidamente transformadas em defensoras dos interesses da nação. Assim, acabam por despertar ideologias nacionalistas, contrárias à cooperação internacional, às trocas voluntárias e aos princípios das sociedades abertas.

Donald Trump utiliza ameaças de punições tarifárias como ferramenta de pressão e negociação, atingindo aliados e adversários indistintamente, do Canadá ao México, da China à Coreia do Sul. O Brasil, ao apostar em estratégias diplomáticas vistas como hostis aos Estados Unidos, centradas no "Sul Global" e nos Brics, superestimou seu alcance econômico e político, minimizou a importância de uma ponte de negociação com o governo americano, e subestimou a disposição do nosso segundo maior parceiro comercial de impor tarifas punitivas sobre nossos produtos. É fundamental que os interesses dos brasileiros estejam no centro da ação diplomática do Itamaraty nas negociações que virão.

Tarifas aumentam custos para consumidores, reduzem o bem-estar social, prejudicam a competitividade dos produtores a jusante na cadeia produtiva, impactam negativamente a geração de riqueza e reduzem as oportunidades econômicas decisivas para a maior diminuição da pobreza global.

Mercados livres e abertos são o melhor caminho para a prosperidade econômica e para relações internacionais pacíficas. O Brasil deve reafirmar sua soberania e a independência de suas instituições, liderando pelo exemplo ao promover uma abertura econômica baseada em diálogo, negociação e no amadurecimento do debate público sobre os benefícios do livre comércio. Reduzir progressivamente as barreiras tarifárias e não tarifárias, de maneira consciente e acompanhada pela sociedade brasileira, fortaleceria a economia nacional e ampliaria nosso poder de negociação para assegurar maior acesso aos mercados internacionais.

Guerras comerciais geram preços altos para consumidores e dificuldades para que produtores possam exportar e crescer. Conflitos tarifários são jogos de destruição em que os derrotados sempre são os que mais precisam dos benefícios do comércio. Que o governo brasileiro responda à ameaça não com retaliação, inserindo mais um elo nessa corrente destrutiva, mas com pragmatismo, negociação e comércio com menos barreiras, em benefício do crescimento econômico e da prosperidade do Brasil.

Comunidade Livres
Este texto foi desenvolvido com a colaboração de

Sandra Rios
Economista, professora de Política Comercial na PUC-Rio e membro do 
Conselho Acadêmico do Livres.

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico e membro do 
Conselho Acadêmico do Livres.


segunda-feira, 30 de junho de 2025

A Nação israelense: itinerário histórico - Airton Dirceu Lemmertz

 Trailer (da série documental sobre a realidade social de Israel): 

https://www.youtube.com/watch?v=6MvRa1yPGrshttps://www.youtube.com/watch?v=XfJ_gTGhl2E 

SINOPSE: 
"Uma Nação que sobrevive no deserto” revela as complexidades da vida cotidiana em Israel, um país marcado pela diversidade cultural e pela convivência de diferentes religiões e etnias. Indo além das paisagens do deserto, o documentário se aprofunda nas histórias pessoais de homens e mulheres que vivem em um lugar onde a modernidade encontra tradições milenares, e onde a constante ameaça de conflito faz parte do cotidiano.

Gravado em Jerusalém e Tel Aviv, entre os dias 23 de julho e 10 de setembro de 2024.
Episódio 1. O DIREITO DE EXISTIR (26MIN): Partindo do massacre do dia 7 de outubro, os entrevistados fazem suas reflexões sobre a história de Israel e a situação política atual.

Episódio 2. PERSEVERAR (23MIN): A experiência do Shalva, entidade que cuida de crianças com deficiência em Jerusalém, retratada poeticamente como a perseverança de se viver num país em Guerra, com todas as limitações e superações.

Episódio 3. JUNTOS NA DIVERSIDADE (25MIN): O que é ser israelense, considerando a dinâmica de um país multicultural e religiosamente variado? Neste episódio, buscamos saber como tantas diferenças podem moldar um instinto de nacionalidade.

Episódio 4. OS VALORES DO PROGRESSO (25MIN): Queremos entender o papel da cultura judaica no desenvolvimento econômico de Israel. O que explica o paradoxo de um povo milenar estar sempre na vanguarda científica e tecnológica?

Gaza: o genocído continua - Paulo Roberto de Almeida

Três meses atrás, eu postava o que escrevi abaixo, sobre o genocídio israelense na Faixa de Gaza. Desde então, a situação só se agravou, pois o governo extremista de Netanyahu está matando os palestinos de fome, e os soldados israelense estão simplesmente matando os palestinos a tiros.
Algum amigo (ou inimigo) judeu, sionista ou antissionista, vai dizer que estou eerrado?

domingo, 23 de março de 2025
Uma constatação necessária: um genocídio "desnecessário"
Paulo Roberto de Almeida

Alguns dos meus amigos judeus, ou israelenses (não é a mesma coisa), vão reclamar desta minha postagem, mas vou explicitar a acusação, não ao Estado de Israel ou a seu povo (árabes e israelenses), mas ao seu atual governo FASCISTA, de claro e direto GENOCÍDIO contra o povo palestino, a pretexto de eliminar os terroristas que se imiscuíram na população dos territórios ILEGALMENTE ocupados por Israel (sim, eu sei, ao cabo de guerras deslanchadas contra o Estado judeu décadas atrás).
O povo palestino não pode levar a culpa por alguns atentados bárbaros que algumas lideranças TERRORISTAS impuseram sobre todo o povo israelense e sobre o povo palestino.
O povo israelense, judeus e não judeus, não pode levar a culpa pelos CRIMES CONTRA A HUMANIDADE sendo perpetrados por um CRIMINOSO DE GUERRA, que merece um julgamento ao estilo de Nuremberg, ao lado de Putin e outros assassinos.
A humanidade não merece o que vem sendo imposto a ela por ditadores, criminosos de guerra ou por simples IMBECIS, um deles nem preciso nomear.
O atual governo israelense está criando (pelo menos) uma geração de terroristas, mas a ONU e o sistema multilateral não conseguem fazer nada, sequer contra a maciça destruição imposta ao povo ucraniano, sequer EXPELIR os Estados terroristas da organição.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/03/2025 


Amado Luís Cervo e O Espírito das Relações Internacionais; Sobre o livro de Amado Cervo para seminário em sua homenagem - Paulo Roberto de Almeida

 

Amado Luís Cervo e O Espírito das Relações Internacionais

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Sobre o livro de Amado Cervo para seminário em sua homenagem

Amado Luiz Cervo:
O Espírito das Relações Internacionais [online]
Brasília: Editora da UnB, 2022

        O livro-síntese de Amado Luiz Cervo representa um condensado reflexivo sobre o conjunto de sua obra acumulada em praticamente meio século de intensos e extensos esforços em torno das relações internacionais em geral, sobre a história diplomática e das relações exteriores do Brasil, assim como em torno das pontes construídas com países vizinhos nos mesmos terrenos, em especial a Argentina e o Mercosul. Ele representa a confluência de suas análises e indagações entre a história e a teoria das relações internacionais, iniciada décadas atrás com alguns fundamentos da escola francesa nessas áreas, mas logo tornada original com base em suas próprias pesquisas documentais e arquivísticas, assim como apoiada em vasta literatura especializada, tanto a claramente factualista, événementielle, como a propriamente analítica e interpretativa. Amado foi um construtor de conceitos e paradigmas, e eles estão reproduzidos em cada um dos conceitos que são os títulos aos onze capítulos desta obra.
        Ao percorrer cada um dos capítulos pude perceber a maestria com a qual ele se refere tanto às obras de outros historiadores, brasileiros e estrangeiros, quanto aos trabalhos de cientistas políticos, sociólogos, economistas, ou seja, uma pletora de analistas das relações internacionais em geral, assim com às políticas exteriores dos principais Estados presentes. Impossível não ficar impressionado com a vastidão de seus argumentos sobre cada um dos principais conceitos ali trabalhados: valores, segurança, defesa, interesses, sobrevivência, convivência e guerra, entre os que estão diretamente nos fundamentos das relações exteriores dos Estados, seguidos por outros conceitos ou temáticas que terminam por circunscreve sua análise teórico-pedagógica: teorias, experiências concretas de países e suas diplomacias, e os itinerários seguidos por alguns deles. A bibliografia é seletiva, mas conta com nada menos do que 138 títulos, entre obras completas, ensaios e publicações diversas.
        O prefácio a cargo do grande historiador diplomático chileno, Raúl Bernal-Meza – autor de uma monumental Historia de las Relaciones Internacionales de Chile, 1810-2020 (Santiago: RIL Editores; Universidade Arturo Prat, 2020) –, enfatiza as principais contribuições de Amado Cervo para o engrandecimento do campo no Brasil e nos países vizinhos: formou discípulos e pesquisadores, se exerceu em todos os níveis da formação universitária e em redes acadêmicas desse campo, produziu novos caminhos no estudo dos processos históricos dos países do Cone Sul e ofereceu interpretações coerentes sobre as políticas públicas em todas as frentes das posturas internacionais desses países, inclusive integrando-as no contexto mundial mais amplo, e isso durante mais de meio século.
        Como enfatizou Bernal-Meza, o estudo da história das relações internacionais deve “apoiar-se em uma base empírica e não em uma abstração. Descobrir o espírito das relações internacionais e dar inteligibilidade aos acontecimentos constitui a chave que unifica toda a obra de nosso historiador e pensador” (Prefácio). Ele complementa suas observações sobre o sentido profundamente inovador do trabalho de Amado Cervo desta maneira:
        A contribuição de Amado Luiz Cervo para as relações internacionais pode ser percebida em três grandes linhas: história da política exterior do Brasil; história das relações internacionais da América Latina; e elaboração de conceitos e categorias analíticas para o estudo das relações internacionais. Para identificar tipos ideias de Estado, a partir da evolução política e social do Brasil, o professor Cervo elevou-se ao nível de abstração, da qual derivam interpretações sobre práxis da política exterior, bem como sobre diplomacia de cada modelo, em perspectiva histórica que se articula com os estudos das tendências da história da política exterior e das relações internacionais. Amado Cervo construiu e compartilhou com outros intelectuais latino-americanos os argumentos críticos que refutam a validade das teorias de relações internacionais anglo-saxônicas para interpretar a história e a realidade das relações internacionais em nossa região, bem como sua inserção global. Por meio de suas obras, Cervo fundamenta a elaboração e a reelaboração de conceitos propriamente latino-americanos; ou seja, produzidos pela inteligência de nossa região, com o fim de explicar seus próprios acontecimentos. (...) Com sua reflexão, convocou colegas e discípulos a trocar as teorias estrangeiras por conceitos próprios que expressam e que tenham sido extraídos da realidade própria de nossos países. (Prefácio)

        Os onze capítulos da obra de Amado Cervo tratam dos onze impulsos que ele detectou nesta síntese abrangente dos fatores que correspondem a comandos superiores das políticas exteriores dos Estados membros da comunidade política internacional, e que orientam os seus agentes no trabalho de representação e de ação no plano externo de cada um deles. São eles os seguintes:
1. Valores: é o substrato cultural que influencia os padrões de conduta dos Estados no plano externo;
2. Segurança: trata-se da proteção do território, a defesa nacional e a dissuasão contra possíveis ameaças;
3. Defesa: percepções sobre vulnerabilidade guiam a ação do Estado, individualmente ou em coalização com parceiros externos;
4. Interesses: estão conectados às assimetrias entre Estados, como a dominação colonial, mas também guiam ações de cooperação entre eles;
5. Sobrevivência: o princípio básico de indivíduos e Estados;
6. Convivência: possui vínculo com a sobrevivência, mas pode resultar em blocos do países possuindo interesses similares’
7. Guerra: Resulta de líderes desequilibrados, autoritários, mas também pode ocorrer pelo instinto de sobrevivência, no caso da defesa nacional;
8. Teorias: elas espelham interesses, valores e padrões de conduta; podem ser ilusórias;
9. Conceitos: conferem explicações sistêmicas para orientar a conduta dos agentes; eles são vários: potência, ingerência, intervenção, neutralidade, responsabilidade de proteger, ordem ou desordem internacional, historicidade e outros;
10. Pedaços: são países, regiões, blocos, que podem ser agressivos, ou pacifistas, de forma amplamente diversa;
11. Itinerários: são o reflexo das grandes orientações de cada Estado, algumas com mais autonomia do que outras, segundo as capabilidades de cada um.

        Todos esses comandos operam como instrumentos de atuação dos agentes estatais ou servem de suporte intelectual para a ação dos Estados, num contexto bastante complexo e multifacetado, que é o das relações internacionais contemporâneas, quer elas se exerçam num ambiente multilateral, por meio das organizações intergovernamentais existentes, quer mediante canais bilaterais ou plurilaterais (entre grupos ou blocos de países). A interação entre essas diferentes esferas de intervenção guia a conduta dos agentes envolvidos na trama, ou no “espírito”, das relações internacionais. Aqui se situa a contribuição epistemológica central desta obra-síntese, um livro que exibe um título quase hegeliano, combinando, como era o caso do filósofo prussiano, teoria e história, ou teoria da história e o desenvolvimento concreto do Estado racional e de suas políticas públicas, entre elas a externa.
        Amado Cervo talvez não seja um hegeliano de formação, sequer um marxista juvenil, mas ele é um teorizador experimentado das relações internacionais dos países em geral, não apenas as do Brasil. Sua obra reflete o esforço de sistematização dos grandes vetores que atuam sobre a conduta dos Estados e de seus agentes, os componentes básicos das interações entre eles. Esses vetores influenciam ou até determinam a política externa e a diplomacia dos Estados, conduzida pela tecnocracia diplomática e orientada pela clarividência, se for o caso, de seus dirigentes, entre eles estadistas, mas também alguns líderes autoritários, que soem ser os condutores das guerras interestatais.
        Seu capítulo sobre a guerra, justamente, é um dos mais extensos e bibliograficamente mais bem argumentados de toda a obra, combinando referências exaustivas aos principais autores de estudos sobre esse aspecto fundamental das relações entre Estados, assim como, no terreno empírico dos fatos militares mais relevantes da era contemporânea, remetendo aos conflitos mais emblemáticos e representativos da geopolítica do último século e meio. Em resumo, a obra-síntese de Amado Cervo pode ser considerado uma leitura essencial para estudiosos teóricos e condutores práticos das relações internacionais contemporâneas.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4968, 30 junho 2025, 3 p.



domingo, 29 de junho de 2025

O Governo dos Idiotas” na destruição do império Americano - Chris Hedges, transcrito por Carlos Russo

 O Governo dos Idiotas” na destruição do império Americano

Chris Hedges

 (Carlos Russo Jr)

Uma análise extremamente interessante é a base deste artigo. O norte-americano Chris Hedges, escritor e jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer, correspondente internacional do The New York Times durante quinze anos, descreveu com perfeição o significado, o “ideário”, a essência do governo Trump, um caminho que a direita fascista busca imitar e reproduzir por todos os cantos da Terra.

O Espaço Literário não poderia deixar de reproduzi-lo, praticamente em sua íntegra.

Chris Hedges:

A estupidez é a “perda da realidade”, já disse um filósofo. Na promessa de recuperarem a glória e poder perdidos, líderes de impérios moribundos nada criam – apenas aceleram o colapso. Trump, o piromaníaco, entretém a sociedade enquanto a conduz ao abismo

Os últimos dias de impérios moribundos são dominados por idiotas. As dinastias romanas, maia, francesa, Habsburgo, otomana, Romanoff, iraniana ruíram sob a estupidez de seus governantes decadentes, que se ausentaram da realidade, saquearam suas nações e se refugiaram em câmaras de eco onde fato e ficção eram indistinguíveis.

Donald Trump e os bufões bajuladores de sua administração são versões atualizadas dos reinados do imperador romano Nero, que destinou vastos gastos estatais para obter poderes mágicos; do imperador chinês Qin Shi Huang, que financiou repetidas expedições a uma ilha mítica de imortais para trazer de volta uma poção que lhe daria a vida eterna ( a poção era mercúrio); e uma corte czarista irresponsável que se sentava lendo cartas de tarô e participando de sessões espíritas enquanto a Rússia era dizimada por uma guerra que consumiu mais de dois milhões de vidas ( contra o Japão) e a revolução se desenvolvia nas ruas.

Em “Hitler e os Alemães”, o filósofo político Eric Voegelin descarta a ideia de que Hitler — talentoso em oratória e oportunismo político, mas mal educado e vulgar — tenha hipnotizado e seduzido o povo alemão. Os alemães, escreve ele, apoiavam Hitler e as “figuras grotescas e marginais” que o cercavam porque ele personificava as patologias de uma sociedade doente, assolada pelo colapso econômico e pela desesperança.

Voegelin define estupidez como uma “perda da realidade”. A perda da realidade significa que uma pessoa “estúpida” não consegue “orientar corretamente suas ações no mundo em que vive”. O demagogo, que é sempre um idiota, não é uma aberração ou mutação social. O demagogo expressa o sentimento da sociedade, seu afastamento coletivo de um mundo racional de fatos verificáveis.

Esses idiotas, que prometem recapturar a glória e o poder perdidos, não criam. Eles apenas destroem. Eles aceleram o colapso.

Limitados em capacidade intelectual, desprovidos de qualquer bússola moral, grosseiramente incompetentes e cheios de raiva das elites estabelecidas que consideram tê-los menosprezado e rejeitado, eles transformam o mundo em um playground para vigaristas e megalomaníacos. Eles declaram guerra às universidades, banem a pesquisa científica, propagam teorias charlatanescas sobre vacinas como pretexto para expandir a vigilância em massa e o compartilhamento de dados, retiram os direitos dos residentes legais e empoderam exércitos de capangas, que é o que o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) se tornou, para espalhar o medo e garantir a passividade. A realidade, seja a crise climática ou a miséria da classe trabalhadora, não interfere em suas fantasias. Quanto pior fica, mais idiotas eles se tornam.

Hannah Arendt culpa uma sociedade que abraça voluntariamente o mal radical por essa “irreflexão” coletiva. Desesperada para escapar da estagnação, onde eles e seus filhos estão presos, sem esperança e em desespero, uma população traída é condicionada a explorar todos ao seu redor em uma luta desesperada para progredir. Pessoas são objetos a serem usados, espelhando a crueldade infligida pela classe dominante.

Uma sociedade convulsionada pela desordem e pelo caos, como Voegelin aponta, celebra os moralmente degenerados, aqueles que são astutos, manipuladores, enganadores e violentos. Em uma sociedade aberta e democrática, esses atributos são desprezados e criminalizados. Aqueles que os exibem são condenados como estúpidos; “um homem [ou mulher] que se comporta dessa maneira”, observa Voegelin, “será socialmente boicotado”. Mas as normas sociais, culturais e morais em uma sociedade doente são invertidas. Os atributos que sustentam uma sociedade aberta — a preocupação com o bem comum, a honestidade, a confiança e o autossacrifício — são ridicularizados. Eles são prejudiciais à existência em uma sociedade doente.

A única coisa que esses regimes moribundos fazem bem é espetáculo. Esses números de pão e circo — como o desfile de US$ 40 milhões do Exército de Trump, realizado em seu aniversário, em 14 de junho — mantêm uma população aflita entretida.

A Disneyficação da América, a terra dos pensamentos eternamente felizes e das atitudes positivas, a terra onde tudo é possível, é propagada para mascarar a crueldade da estagnação econômica e da desigualdade social. A população é condicionada pela cultura de massa, dominada pela mercantilização sexual, pelo entretenimento banal e irracional e pelas representações gráficas de violência, a se culpar pelo fracasso.

Søren Kierkegaard, em “A Era Presente”, alerta que o Estado moderno busca erradicar a consciência e moldar e manipular os indivíduos, transformando-os em um “público” maleável e doutrinado. Esse público não é real. É, como escreve Kierkegaard, uma “abstração monstruosa, algo abrangente que não é nada, uma miragem”. Em suma, nos tornamos parte de um rebanho, “indivíduos irreais que nunca estão e nunca podem estar unidos em uma situação ou organização real — e, ainda assim, se mantêm unidos como um todo”.

Aqueles que questionam o público, aqueles que denunciam a corrupção da classe dominante, são descartados como sonhadores, aberrações ou traidores. Mas somente eles, de acordo com a definição grega de pólis, podem ser considerados cidadãos.

Thomas Paine escreve que um governo despótico é um fungo que cresce a partir de uma sociedade civil corrupta. Foi o que aconteceu com as sociedades do passado. Foi o que aconteceu conosco.

É tentador personalizar a decadência, como se nos livrarmos de Trump nos trouxesse de volta à sanidade e à sobriedade. Mas a podridão e a corrupção arruinaram todas as nossas instituições democráticas, que funcionam na forma, não no conteúdo. O consentimento dos governados é uma piada cruel. O Congresso é um clube que recebe propina de bilionários e corporações. Os tribunais são apêndices das corporações e dos ricos. A imprensa é uma câmara de eco das elites, algumas das quais não gostam de Trump, mas nenhuma das quais defende as reformas sociais e políticas que poderiam nos salvar do despotismo. Trata-se de como disfarçamos o despotismo, não o despotismo em si.

O historiador Ramsay MacMullen, em “Corruption and the Decline of Rome” (Corrupção e o Declínio de Roma), escreve que o que destruiu o Império Romano foi “o desvio da força governamental, sua má orientação”. O poder passou a ser uma questão de enriquecer interesses privados. Essa má orientação torna o governo impotente, pelo menos como uma instituição que pode atender às necessidades e proteger os direitos dos cidadãos. Nosso governo, nesse sentido, é impotente. É uma ferramenta de corporações, bancos, indústria bélica e oligarcas. Canibaliza-se para canalizar riqueza para o alto.

“O declínio de Roma foi o efeito natural e inevitável da grandeza desmedida”, escreve Edward Gibbon. “A prosperidade amadureceu o princípio da decadência; a causa da destruição multiplicou-se com a extensão da conquista; e, assim que o tempo ou o acidente removeram os suportes artificiais, a estrutura estupenda cedeu à pressão do seu próprio peso. A história da ruína é simples e óbvia: e em vez de indagar por que o Império Romano foi destruído, deveríamos nos surpreender por ele ter subsistido por tanto tempo. ”

O imperador romano Cômodo, assim como Trump, era fascinado pela própria vaidade. Encomendou estátuas de si mesmo como Hércules e tinha pouco interesse em governança. Imaginava-se uma estrela da arena, organizando lutas de gladiadores nas quais era coroado vencedor e matando leões com arco e flecha. O império — que ele renomeou Roma como Colônia Commodiana (Colônia de Cômodo) — era um veículo para saciar seu narcisismo insaciável e sua sede por riqueza. Ele vendia cargos públicos da mesma forma que Trump vende perdões e favores para aqueles que investem em suas criptomoedas ou doam para seu comitê de posse ou para a biblioteca presidencial.

Finalmente, os conselheiros do imperador providenciaram que ele fosse estrangulado até a morte em seu banho por um lutador profissional, depois que ele anunciou que assumiria o consulado vestido de gladiador. Mas seu assassinato não fez nada para deter o declínio. Cômodo foi substituído pelo reformador Pertinax, assassinado três meses depois. A Guarda Pretoriana leiloou o cargo de imperador. O imperador seguinte, Dídio Juliano, durou 66 dias. Haveria cinco imperadores em 193 d.C., o ano seguinte ao assassinato de Cômodo.

Como o antigo Império Romano, nossa república está morta.

Nossos direitos constitucionais — devido processo legal, habeas corpus, privacidade, liberdade de exploração, eleições justas e dissidência — nos foram retirados por decreto judicial e legislativo. Esses direitos existem apenas nominalmente. A enorme desconexão entre os supostos valores de nossa falsa democracia e a realidade significa que nosso discurso político, as palavras que usamos para descrever a nós mesmos e nosso sistema político, são absurdas.

Walter Benjamin escreveu em 1940, em meio à ascensão do fascismo europeu e à iminente guerra mundial:

“Uma pintura de Klee intitulada Angelus Novus mostra um anjo com a aparência de quem está prestes a se afastar de algo que contempla fixamente. Seus olhos estão fixos, sua boca está aberta, suas asas estão abertas. É assim que se imagina o anjo da história. Seu rosto está voltado para o passado. Onde percebemos uma cadeia de eventos, ele vê uma única catástrofe, que continua a empilhar destroços sobre destroços e os arremessa aos seus pés. O anjo gostaria de ficar, despertar os mortos e restaurar o que foi destruído. Mas uma tempestade sopra do Paraíso; ela se prendeu em suas asas com tanta violência que o anjo não consegue mais fechá-las. A tempestade o impulsiona irresistivelmente para o futuro, para o qual ele está de costas, enquanto a pilha de destroços à sua frente cresce em direção ao céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso”.

Nossa decadência, nosso analfabetismo e nosso afastamento coletivo da realidade já vinham se formando há muito tempo. A erosão constante dos nossos direitos, especialmente dos nossos direitos como eleitores, a transformação dos órgãos do Estado em ferramentas de exploração, a miséria dos trabalhadores pobres e da classe média, as mentiras que saturam as nossas ondas de rádio, a degradação da educação pública, as guerras intermináveis ​​e fúteis, a dívida pública alarmante, o colapso da nossa infraestrutura física refletem os últimos dias de todos os impérios.

“Trump, o piromaníaco, entretém-nos enquanto descemos”.

Congresso Nacional: da constituição cidadã à degradação republicana - Paulo Baía

Recomendo ler, com atenção. O que eu fiz e não hesitei em encontrar ou inventar um novo título ou qualificação para este diagnóstico cruel de uma realidade com a qual os brasileiros nos defrontamos:

Brasil: uma cleptocracia pouco republicana, aberta aos oportunistas espertos e às oligarquias predatórias

Paulo Roberto de Almeida 


Congresso Nacional: da constituição cidadã à degradação republicana

             * Paulo Baía 

Era uma vez um país que ousou sonhar com uma república viva. Ouvia-se, nos corredores de seu Parlamento, os ecos de um tempo fundante, tempo de reescrita, tempo de refundação. O ano era 1987. O povo ainda fermentava nas ruas, ainda sangrava de uma ditadura que não havia sido completamente sepultada, ainda desejava dizer: agora somos nós. Dali emergiu a Constituição de 1988, chamada com reverência de Constituição Cidadã, como se nela pulsassem os corações silenciados por duas décadas de chumbo. O Congresso Nacional era então um lugar de possibilidades, de fricções criativas, de esperanças germinando entre artigos e incisos. Havia contradições, havia limites, havia vícios. Mas havia também coragem. Havia decência institucional. Havia desejo de país.

O que se vê hoje, no entanto, é um outro cenário. É a lenta, ruidosa e devastadora degradação republicana. A casa que um dia aspirou representar a pluralidade do Brasil se converteu numa cidadela fechada. A arquitetura monumental que abriga os plenários virou teatro de um drama infame, onde cada cena é encenada não para o bem comum, mas para a manutenção de privilégios. O Congresso abandonou seu papel de representação popular e federativa, entregou-se ao patrimonialismo sem disfarces, ao clientelismo blindado por mecanismos técnicos de difícil decifração, ao poder quase litúrgico das emendas parlamentares, que são hoje a moeda com que se compram silêncios e se vendem consciências.

O país que ergueu sua Constituição com a promessa de um federalismo cooperativo assiste agora à sua própria fragmentação. A república foi desfigurada pelo avanço de quatro forças que ocupam o centro da cena legislativa: a bancada da bala, a do boi, a dos bancos e a bancada teocrática. Essas forças não apenas impõem sua agenda. Elas dominam o cotidiano do Parlamento. Ditam as pautas. Vetam o dissenso. Subjugam as demais bancadas como senhores de um latifúndio simbólico. A política brasileira, sob seu domínio, deixou de ser campo de disputa democrática para se tornar trincheira de exclusão, zona franca de interesses elitistas, lugar onde o povo só entra como espectro, como ausência, como retórica vazia.

Os teocratas atuais que se alastram pelo Parlamento, com suas indumentárias cívicas e dogmas disfarçados de moral pública, desempenham papéis com tal desenvoltura que fariam inveja aos aiatolás. Suas performances são meticulosamente teatrais, envoltas em uma retórica de salvação nacional, mas orientadas pela ânsia de poder absoluto. Não mais bastam-lhes púlpitos, templos e crenças: exigem microfones, comissões, gabinetes, verbas. Exigem influência sobre a educação, a cultura, os costumes, a vida íntima dos cidadãos. A cruz e a Constituição tornaram-se para eles armas de um mesmo arsenal. Legisladores de dogmas, gestores da fé como política de Estado, seus discursos se impõem não como opinião, mas como ordem. Como fé inquestionável transformada em norma jurídica. E assim as fronteiras da república laica vão se estreitando, sufocadas sob a imposição de valores que deveriam pertencer à esfera privada.

Esse domínio não é apenas conservador. É anti-republicano. É uma recusa ativa ao projeto de um Brasil plural, socialmente justo, economicamente solidário, eticamente público. O que se vê é a substituição do pacto coletivo por um condomínio de corporações. As leis brotam do asfalto quente do privilégio. As votações obedecem a mapas secretos de interesses. As comissões parlamentares são convertidas em quartéis administrativos de guerra contra qualquer tentativa de redistribuição. E quem ousa tocar nas estruturas de desigualdade é reduzido a inimigo.

O presidencialismo brasileiro, duas vezes ratificado pelas urnas em plebiscitos contundentes, tornou-se uma ficção governável apenas à custa de chantagens. O presidente, seja qual for sua coloração ideológica, é hoje um refém. Governar exige genuflexão. Exige concessões orçamentárias, nomeações milimetricamente negociadas, silêncio cúmplice diante de aberrações legislativas. A soberania do Executivo foi dissolvida por um parlamentarismo de fato, não previsto na Constituição, rejeitado pela sociedade, mas operado com vigor por um Legislativo que ocupa os espaços vazios da política com métodos de domínio. Métodos que fazem do orçamento público um campo de caça permanente. Métodos que substituem a democracia pelo conchavo, o pacto pela chantagem, a política pela clientela.

No meio desse desequilíbrio, o Judiciário se vê compelido a agir. Tenta proteger a Constituição, tenta manter alguma ordem, mas o faz do alto de um protagonismo que se descola da realidade social. Um protagonismo aristocrático, que transforma o juiz em oráculo, o tribunal em torre, a sentença em escudo. Em vez de mediar, confronta. Em vez de equilibrar, projeta-se como ator político. A tensão entre os poderes, que deveria ser sinal de vitalidade democrática, tornou-se dissonância crônica. Um campo minado onde a desarmonia não gera controle, mas ameaça.

O Congresso já não reflete o país. Suas entranhas são ocupadas por dinastias familiares, por homens brancos, empresários, grandes proprietários, teocratas com sede de poder. Não há ali ecos das fábricas que se reduzem, fábricas robotizadas em que a presença do trabalhador é dispensada, nem das salas de aula pública, nem do ambulatório do SUS, nem do campo desassistido, nem da favela cercada de tiro e esgoto. O poder ali não circula. Reproduz-se. De pai para filho, de padrinho para afilhado, de teocratas para discípulos igualmente teocratas. É uma lógica de hereditariedade travestida de democracia representativa. Os invisíveis da política são os mesmos invisíveis das estatísticas, das filas do INSS, das UTIs que colapsam, dos trens lotados. Não há espaço para eles. Não há voz para eles. Não há tempo para eles.

O povo é ruído. É despesa. É obstáculo. E é assim que legislam: contra a vida que dói, contra a juventude periférica que morre cedo ou enlouquece tentando sobreviver. Contra os motoboys que arriscam a existência por poucos trocados. Contra os idosos que veem sua aposentadoria corroída pela inflação e pela crueldade institucional. Contra as mulheres que sustentam seus filhos sozinhas. Contra os pretos, os indígenas, os LGBTQIA+, os corpos indesejados. Contra a própria ideia de justiça.

A representação federativa, que deveria equilibrar as vozes dos estados e territórios, virou instrumento de distorção. Os votos têm pesos desiguais. Os estados mais populosos têm menos representação proporcional. Os menos populosos, mais poder de veto. Essa assimetria é mantida não por inércia, mas por escolha. Uma escolha cínica que favorece o poder acumulado de elites locais, de feudos eternizados, de castas que se alimentam do desequilíbrio. E, em vez de discutir e deliberar pela representatividade efetiva e real da população com base em suas dinâmicas demográficas, o que se tem feito é simplesmente aumentar aritmeticamente o número de deputados federais para atender demandas localizadas. Uma manobra que, longe de corrigir os desequilíbrios estruturais, amplia e aprofunda as distorções da representação política da população brasileira, que em tese se faz presente na Câmara dos Deputados, mas na prática é diluída, ignorada e neutralizada por esse inchaço artificial da estrutura legislativa.

A reforma política, necessária e urgente, permanece trancada a sete chaves. Porque corrigir distorções significaria redistribuir o poder. E isso, no Brasil, ainda é considerado crime de lesa-majestade.

A república sangra. Não de uma ferida aberta, mas de mil cortes silenciosos. Cada emenda secreta. Cada CPI abortada. Cada veto derrubado. Cada projeto aprovado em favor do capital. Cada silêncio diante da dor coletiva. Cada escárnio contra a solidariedade. A confiança da população desmorona. O desprezo é palpável. Mais de 80% dos brasileiros não confiam no Congresso Nacional. Isso não é uma opinião. É um diagnóstico. É um atestado da falência moral de uma instituição que deveria representar todos, mas que se especializou em representar poucos.

Como dizia Santo Agostinho: na ausência de justiça, o que é o poder senão uma forma de saque institucionalizado. O Congresso brasileiro, hoje, é a síntese desse saque. Seus rituais são legais. Seus procedimentos são formais. Suas decisões, amparadas pelo regimento. Mas o que ali se opera é a manutenção de um Brasil excludente. Um Brasil que agride quem trabalha e protege quem explora. Um Brasil que reveste a desigualdade com o manto da técnica. Um Brasil onde a legalidade virou o álibi da injustiça.

Romper esse ciclo exige mais do que bons discursos. Exige ruptura. Exige reforma política. Exige mobilização cidadã. Exige coragem institucional para confrontar os interesses estabelecidos. Exige rever o financiamento de campanhas, rediscutir o sistema eleitoral, colocar a paridade de gênero e raça como princípio e não como concessão. Exige reumanizar a política. Fazer dela um lugar de projeto coletivo, e não de sobrevivência individual. Fazer dela ponte, e não trincheira. Fazer dela ato de cuidado, e não ritual de poder.

O Brasil precisa reaprender a sonhar. E sonhar exige recusar. Recusar a naturalização do privilégio. Recusar a obscenidade do orçamento capturado. Recusar o cinismo como método. Recusar o poder como herança. Recusar a política como farsa. Recusar o Congresso como fortaleza de poucos. Recusar o medo como regra. Recusar a república como escombro.

Só assim, quem sabe, um dia, o Congresso Nacional volte a ser o que prometeu ser. A casa de todos. A voz dos que não têm vez. O lugar onde a justiça não seja exceção, mas fundamento. Onde o povo não seja massa de manobra, mas sujeito da história. Onde a política não seja técnica de dominação, mas prática de emancipação. Onde o país possa, enfim, se reconhecer. E respirar. E florescer.

Paulo Baia

          * Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ

Congresso Nacional: da constituição cidadã à degradação republicana https://agendadopoder.com.br/congresso-nacional-da-constituicao-cidada-a-degradacao-republicana/


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