O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O mundo e os idiotas, ou um idiota do tamanho do mundo...

Como escrevi, num post recente, eu comecei a reconsiderar a questão central de um artigo escrito poucos anos atrás, no qual eu perguntava se o mundo estava abrigando um número maior de idiotas. Ou, em outros termos, eu queria saber se o número de idiotas estava crescendo, com condições de submergir nosso pequeno mundo de seres racionais num mar de irracionalidade.
Mas eu estava falando de pessoas comuns, ou seja inocentes úteis, ou mesmo inúteis, gente simples, sem muita educação e suscetível, portanto, de se deixar levar por alguns espertos, falando em nome da religião, do dinheiro (ou da cobiça por), ou seja lá o que for.
Eu agora estou pronto a reconsiderar minha pergunta, aliás deixar de perguntar, e afirmar simplesmente: sim, o mundo está cheio de idiotas, cada vez mais, e os mais idiotas não são, necessariamente, gente simples, pouco educada.
Tem idiota dos grandes, formados, diplomados, talvez até informados, mas também deformados, capazes de fazer de tudo para ver no capitalismo um sistema falido, ou como diz Leonardo Boff, uma crise final, terminal.
Não se enganem: estamos em face de um idiota terminal, estrutural, não simplesmente conjuntural; um verdadeiro idiota fractal, definitivo.
Frente a um idiota assim, eu fico praticamente sem palavras...
Paulo Roberto de Almeida

Crise terminal do capitalismo?
Blog Leonardo Boff, 22/06/2011

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.
A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX, Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.
A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal, 12% no pais, e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.
A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentitentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.
Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.
As ruas de vários países europeus e árabes, os "indignados" que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhois gritam: "não é crise, é ladroagem". Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumo-sacerdotes do capital globalizado e explorador.
Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

Leonardo Boff é teólogo e escritor, autor do livro "Proteger a Terra – cuidar da vida: como evitar o fim do mundo" (Record 2010).

Arquivos (pouco) diplomaticos: tempos de chumbo...

Em geral evito o sensacionalismo e as fontes pouco confiáveis. No caso abaixo, dispenso as acusações pouco objetivas, na base do impressionismo.
Mas documentos existem e devem ser considerados no processo de reavaliação histórica.
Avante história...
Paulo Roberto de Almeida

Os arquivos da ditadura que os militares brasileiros querem ocultar
Dario Pignotti - Página/12
Carta Maior, 28/06/2011

Documentos da ditadura militar brasileira, obtidos pelo jornal Página/12, trazem detalhes inéditos dos arquivos que a presidenta Dilma Rousseff quer tornar públicos. Militares resistem à divulgação desses arquivos. Matéria publicada neste domingo no jornal argentino traz informações sobre atuação de Azeredo da Silveira, chanceler do general Geisel, que antes de assumir o Itamaraty comandou a embaixada na Argentina, onde teria sido um "pioneiro do terrorismo de Estado regionalizado". Da leitura de centenas de papéis em poder do Página/12 fica claro que os contatos eram frequentes, e grande a afinidade dos militares brasileiros com os golpistas de 1976 na Argentina. A reportagem é de Dario Pignotti.

“O ex-presidente argentino Juan Perón esteve na mira dos serviços de Inteligência brasileiros. Isso é quase um fato. Participei de reuniões com ele, se pressentia que nos vigiavam. Se abrirem os arquivos da ditadura, como quer a presidenta Dilma, surgirão mais provas disso”.

A afirmação é de João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Melchior Goulart, Jango, amigo do general argentino por mais de duas décadas. Transcorridos 47 anos da derrubada Jango e 38 de seus últimos encontros com Perón, provavelmente espionados por agentes brasileiros, “é hora de terminar com esse longo silêncio, ainda vivemos de costas para a história dos anos 70 devido às pressões de grupos ligados ao terrorismo de Estado”, lamenta João Vicente.

Dilma Rousseff parece compartilhar essa preocupação e, na semana passada, instruiu seus ministros, em particular a titular de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para que convençam o Congresso a aprovar imediatamente o projeto sobre a Comissão da Verdade, contra o qual se insubordinaram os chefes das forças armadas em dezembro de 2009.

“Certo dia estava em um hotel de Madri, com papai, atendi o telefone e alguém me disse: “Quero falar com Janguito, diga que sou o general Juan Perón. Eu não podia acreditar, mas era verdade. Perón estava do outro lado da linha para convidar Jango para uma conversa na residência da Porta de Ferro. Creio que era o início de 1973”, relatou Goulart ao Página/12.

“Em uma ocasião, falou-se da possibilidade de haver um acordo. Meu pai (fazendeiro) venderia carnes no marco de um plano trienal que iria ser implementado pelo governo peronista, mas que fracassou por influências do bruxo”, apelido pelo qual era conhecido José López Rega. “Ocorreram mais reuniões com Perón, outra foi em Buenos Aires. Lembro que algumas pessoas nos diziam que os serviços de Inteligência estavam rondando por ali”.

Algo parecido ocorria com o ditador Ernesto Geisel, que se referia ao argentino como a “Múmia” e o excluiu de sua cerimônia de posse, no início de 1974, da qual participaram o chileno Augusto Pinochet, o boliviano Hugo Banzer e o uruguaio Juan María Bordaberry. Geisel iniciou um período de mudanças na política externa, conhecido como “pragmatismo responsável”, caracterizado pela abertura de relações com países do Terceiro Mundo e menor alinhamento com os Estados Unidos. Este giro não implicava o fim da estratégia de contenção do comunismo. Outra marca de sua política externa foi a intensa, e por vezes contraditória, relação com o secretário de Estado, Henry Kissinger. Nenhum chanceler teve mais sintonia com Kissinger do que Francisco Azeredo da Silveira, que esteve no cargo durante o quinquênio de Geisel.

Antes disso, Azeredo comandou a embaixada na Argentina, “onde foi um pioneiro do terrorismo de Estado regionalizado; em 1970 foi o responsável pelo sequestro em Buenos Aires e transporte ilegal ao Brasil do coronel Jefferson Cardin, um militar nacionalista e brizolista que foi meu companheiro na prisão do Rio de Janeiro”, diz Jarbas Silva Marques, prisioneiro político entre 1967 e 1977. “Jefferson Cardin me disse na prisão do Rio que Azeredo da Silveira, sendo chanceler, sabia tudo sobre a Argentina e certamente sabia dessa possível espionagem sobre Perón e mandava a embaixada colaborar com os golpistas”.

“Essa é uma história pesada, estamos falando do chefe da diplomacia brasileira entre 1974 e 1979. De uma política de Estado. Até hoje há gente querendo esconder essa história debaixo do tapete, há muita pressão. Vemos o presidente do Senado, José Sarney, fazendo lobby a favor dos militares para impedir que Dilma abra os arquivos, disse Silva Marques ao Página/12.

É impossível fazer uma reconstrução acabada de todos os movimentos da diplomacia brasileira e seus pactos com os golpistas argentinos, devido à falta de documentação suficiente. Da leitura de centenas de papéis em poder do Página/12 fica claro que os contatos eram frequentes, e grande a afinidade com aqueles que perpetrariam o golpe de 1976. A guerra suja já lançada então contra a “subversão” era aprovada.

O telegrama “secreto” enviado pela embaixada brasileira no dia 3 de setembro de 1975 dá conta de uma “longa conversa” com os “comandantes Jorge Videla e Eduardo Massera”, que expressaram seu interesse em “estimular por todos os meios a aproximação das Forças Armadas” de ambos os países. Em outra mensagem “confidencial”, de 19 de fevereiro de 1975, fala-se sem eufemismos da coordenação repressiva. A nota relata um encontro oficial de diplomatas brasileiros com o ministro da Defesa argentino, Adolfo Savino, quando se tratou com “total franqueza da necessidade de um profundo entendimento de nossos países frente aos inimigos comuns da subversão”.

Durante sua conversa com o Página/12, o filho de João Goulart e Jarbas Silva Marques lamentaram o “atraso” histórico do Brasil frente a Argentina, o Chile e o Uruguai, onde “houve um ajuste de contas com a história e a verdade”, mas manifestaram esperança de que essa situação possa ser revertida. Eles, assim como vários organismos de direitos humanos, confiam no compromisso com a verdade assumido por Dilma Rousseff, vítima de prisão e torturas durante o regime militar, assim como na pressão internacional. Citam o exemplo da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o Estado brasileiro por não julgar os crimes da ditadura.

Tradução: Katarina Peixoto

Um caso para o Dr. House... - Itamar, uma alma ingenua...

Itamar Franco foi um homem bom. Muitas vezes equivocado, como por exemplo, quando quis a volta do velho, antiquado, ultrapassado Fusca. Ou quando mudou de presidente do BC e de ministro da Fazenda várias vezes seguida, só porque queria juros baixos (um dos segredos mais inescrutáveis da economia brasileira).
Em todo caso, foi mais benigno do que certos ex-presidentes ou senadores que andam por ai, arrombando cofres públicos e praticando desonestidades.
Meus votos de melhoras a ele...

POLÍTICA
ITAMAR FRANCO VAI PARA A UTI
Ex-presidente contraiu pneumonia enquanto luta contra leucemia

The Joy of (Same) Sex (Marriage): the comfort of ladies...

Argumenta a autora, uma jornalista feminista, que o casamento gay, ou homoafetivo, ou do mesmo sexo -- chamem como quiserem -- beneficia as mulheres.
Bem, pode-se pensar que vai diminuir o número de straight guys disponíveis -- sim, sempre tem quem case, independentemente de sua orientação ou preferência sexual -- mas por outro lado, argumenta ele, pela primeira vez as mulheres tem a vantagem de ver reconhecida pela sociedade a igualdade absoluta dos sexos no casamento.
Machistas, já para a cozinha e a lavanderia...
Paulo Roberto de Almeida

Setting Marriage Straight
By Linda Hirshman
Slate magazine, June 26, 2011

The biggest cheers from the record-breaking throng at the New York Pride Parade Sunday were for the soberly T-shirted, widely grinning lobbyists and activists from the coalition Marriage Equality New York. When the state legislature passed and Gov. Andrew Cuomo signed the law authorizing same-sex marriage in New York late Friday night, the number of Americans who will be able to marry same-sex partners doubled. New York is the first state to legalize same sex marriage after a dry spell following Maine's repeal of its marriage law a year and a half ago. Maybe for lesbian and gay people, It Gets Better after all.

And they're not the only ones. To paraphrase the great gay songwriter Stephen Sondheim: Straight women, rise! As same-sex couples marry, things get better for us, too. Remember the scary (and since-discredited) stories about how a woman is more likely to be killed by a terrorist than to find a husband after she turns 40? Or the one about how suitors are fleeing from Maureen Dowd because they're afraid of her Pulitzer Prize? The poll showing evangelical women in patriarchal marriages are happier than Sarah Jessica Parker? Well, same-sex marriage shows that people can make long-term, loving, sexual bonds with each other even where neither is naturally inclined to tell the other what to do. Or to be the natural homemaker or the hunter-gatherer. Same-sex marriage represents the possibility that marriage can be an equal deal after all—or at least one where inequality is not locked in at birth. The conservatives are right: Same-sex marriage will change opposite-sex marriage. And it's a good thing, too.
The people fighting same-sex marriage know this. They've been fighting some variation of the battle against marriage equality—for women—probably since the early Christians argued for the equality of women's souls. In the Anglo-American common law system, laws called "coverture" eliminated women's civic personhood when they married men. Unequal marriage was portrayed as a bargain between naturally created opposites: Women did women's work at home, and men took care of their public role, making contracts for them and voting in their interests. Apparently unsatisfied with this "bargain," women pressed for equality, including marriage equality, ultimately giving rise to the suffrage movement in the 19th century and feminism in the 20th.

At each point along the road to women's equality, conservatives defended heterosexual marriage inequality on the grounds that women were naturally suited only for certain kinds of lives. At the height of the suffrage battle in 1873, the Supreme Court rejected feminist Myra Bradwell's plea to be allowed to practice law on the grounds that "the paramount destiny and mission of woman are to fulfill the noble and benign offices of wife and mother." In 2001, after the second wave of feminism broke, conservative scholar William Bennett wrote in his ominously titled The Broken Hearth: Reversing the Moral Collapse of the American Family: "In the past husbands and wives had well defined roles. Today, thanks to the social and sexual revolution of our time, definitions blur, and disappointed hopes can turn rapidly into hopes abandoned."
The naturalism argument has suffered somewhat from the fact that women have been living outside their natural boundaries for decades. So marriage-equality resisters have moved to a kind of happiness project—trying to show that women with traditional gender attitudes are happier than their counterparts in more socially egalitarian relationships. In his much-debated 2006 article "What's Love Got To Do With It? Equality, Equity, Commitment and Women's Marital Quality" (PDF), W. Bradford Wilcox, a sociologist at the University of Virginia and resident scholar at the Institute for American Values, argued that "women are not happier in marriages marked by egalitarian practices and beliefs." And it's their fault: "We suspect that higher expectations of intimacy and equality among women, especially more egalitarian-minded women, have led them to view their husbands' emotion work more critically; we also suspect that these expectations have increased marital conflict and—in turn—dampened men's marital emotion work." More church attendance, higher male earnings, and lower female expectations are instead the key to family happiness, Wilcox concludes.
Opponents of heterosexual equality may have been first alerted to the dangerous possibilities of same-sex marriage by a 1993 Hawaii court decision. Writing against same-sex marriage in the Washington Post in 1996, Bennett opined "Marriage is not an arbitrary construct; it is an 'honorable estate' based on the different, complementary nature of men and women" (italics mine). The members of Congress who drafted the federal law rejecting same-sex marriage, the Defense of Marriage Act, dropped Bennett's article right into the Congressional Record. Seventeen years later, when the time came for the defenders of California's same-sex marriage prohibition, Proposition 8, to produce an expert witness on the harm such unions might produce, up popped David Blankenhorn, founder and president of Brad Wilcox's scholarly home away from home, the Institute for American Values. Who knows what same-sex marriage might do to the rest of our marriages, Blankenhorn intoned. Who knows? It might even make them more equal.
Turnabout is fair play. As the arguments for heterosexual marriage inequality were used to fight same-sex marriage, so the success of same-sex marriage is a living refutation of the argument that marriage requires congenital natural inequality with women on the bottom. Even the campaign for same-sex marriage, consisting of a torrent of moving stories about the happy same-sex couples who want to get married, is a feminist windfall. Maybe marital equality and happiness aren't so incompatible after all.

Cooperacao ao desenvolvimento: uma industria anacronica (e inutil)

Alguém ai já ouviu falar de algum país, um só, que se tenha tornado desenvolvido, ou digamos, que tenha escapado ao subdesenvolvimento, com base em ajuda de outros países, com base em assistência ao desenvolvimento, tal como ela vem sendo praticada pelos últimos 50 ou 60 anos?
Alguém acredita nisso?
O novo secretário-geral da FAO, o brasileiro Francisco Graziano diz que o Brasil e a FAO vão aumentar a ajuda à África.
Alguém acredita que vai funcionar?
O Brasil se prepara para fazer o que europeus e americanos vem fazendo pelo último meio século.
Alguém acredita que vai funcionar, só porque é o Brasil?
Abaixo, uma matéria sobre a cooperação indiana ao desenvolvimento, um país desesperadamente pobre. Alguém acredita que vai fazer alguma diferença?
Paulo Roberto de Almeida

Poor Little Rich Country
BY PATRICK FRENCH
Foreign Policy, June 24, 2011

How do you categorize India, a nation that is at once fantastically wealthy and desperately poor?

In May, the Indian government announced that it was giving $5 billion in aid to African countries in the interest of helping them meet their development goals. "We do not have all the answers," Prime Minister Manmohan Singh said, "but we have some experience in nation-building, which we are happy to share."
The British could be forgiven for being annoyed with Singh's largesse. Britain, after all, currently gives more than $450 million a year in aid to India, and has plans to continue doing so for at least the next few years. The British economy is bumping in and out of a recession, while India's gross domestic product is growing at more than 8 percent a year. This has put the British government in the rather bizarre position of having to sell bonds in order to donate money to Asia's second-fastest-growing economy, even as the latter is itself getting into the philanthropy business.

The policy is unpopular with most of the British press, which argues that because India has a space program and some flamboyant billionaires, it does not need aid -- especially when Britain cannot really afford it. (When the Labour government was voted out at last year's general election, the departing Finance Minister Liam Byrne left a one-line note on his desk for his successor: "I'm afraid there is no money." It was a joke -- but it was also true.) Nevertheless, Britain still sees itself as a donor nation, with all the obligations and international prestige that entails. This comes in part from a sense of postcolonial guilt: Prime Minister David Cameron spoke recently of a "sense of duty to help others" and the "strong moral case" for giving aid.

The situation suggests just how dramatically the economic rise of Asia has undone centuries of experience, and the expectation that the West will retain the hegemony it has had for the past 400 years. It is increasingly difficult to classify whether a nation is rich or poor, and terms such as "the Global South" and "the Third World" have to be heavily qualified to take into account the fact that large sections of the population in countries like China, Brazil, and India now have a purchasing power matching that of people in "the West."

In 1951, the American diplomat Bill Bullitt described the condition of India in Life magazine: "An immense country containing 357 million people," he wrote, "with enormous natural resources and superb fighting men, India can neither feed herself nor defend herself against serious attacks. An inhabitant of India lives, on average, 27 years. His annual income is about $50. About 90 out of 100 Indians cannot read or write. They exist in squalor and fear of famine." Today, it would be hard to make such an absolute statement about India. Poverty certainly remains a chronic problem, but it exists alongside pockets of substantial wealth. An Indian's life expectancy at birth now stands at 67 years, and continues to rise. It is necessary perhaps to think in a different way, and to see that a country like India, like Schrödinger's cat, exists in at least two forms simultaneously: rich and poor.

The most important change of the last two decades, since the beginning of economic liberalization, has been the transformation of middle-class Indian aspiration. Although the stagnant days of the controlled economy and the "Permit Raj" -- when important decisions depended on a bureaucrat's authorization -- had their own stability, they also stifled opportunity and individual talent. Members of the professional middle class frequently preferred to seek their fortune in more meritocratic societies abroad.

The modern Indian middle class has a new chance to shape its own destiny in a way that was not previously possible. You can move to your own house using a home loan and live outside the joint family; you can buy a car that is not an Ambassador or a Fiat; you can travel abroad and see how people in other countries live; you can watch your politicians accept bribes or dance with prostitutes on television in local media sting operations while surfing your way to Desperate Housewives or Kaun Banega Crorepati, an Indian adaptation of Who Wants to Be a Millionaire? Businesspeople who have succeeded on their own merits overseas, such as PepsiCo CEO Indra Nooyi, are presented as national heroes.

In the 20th century, the world's personal wealth was held in American, European, Arab, and occasionally East Asian hands. By 2008, four of the eight richest people alive were Indian, and 2011 is the first year in which more billionaires have come from the BRICs -- Brazil, Russia, India, and China -- than from Europe. In earlier times, India's rich were princely rulers or members of extended business families who had made a fortune in textiles or manufacturing. Industrialists would hoard capital, and there was a limited expectation of seeking to outbid your neighbors in gross ostentation. Since liberalization, many of the new flock of billionaires who have made fortunes in areas such as construction, real estate, steel, and technology are no longer the scions of well-connected families. An unbound social elite has grown with extraordinary speed.

At times this new wealth has provoked intense resentment. In Mumbai, the industrialist Mukesh Ambani recently built the world's most expensive private residence, a 27-story confection housing three floors of gardens, swimming pools, a "cool room" (which, in the ultimate Himalayan dream, blows flurries of fake snow), three helipads, a six-story parking garage, and several "entourage rooms" -- because who travels without an entourage? The steel tycoon Lakshmi Mittal, who lives in London and is presently the richest person in Britain, is today the only Indian richer than Ambani. In 2006, Mittal Steel's hostile bid for Europe's largest steelmaker, Arcelor, was met with dismay on the continent. The head of the latter firm, Guy Dollé, said sorrowfully that the predatory company was "full of Indians" and his own Luxembourg-based operation had no need for "monnaie de singe" -- an expression meaning "money without value," but a phrase that has the unfortunate direct translation of "monkey change." Lakshmi Mittal won the battle, Dollé was ousted, and Arcelor Mittal is now the world's largest steel company.

During this global financial shift, about one-quarter of India's population has so far gained almost nothing from the country's economic transformation. Those who live outside the cash economy, in hills and jungles and on land that is increasingly sought after for its natural resources, have not shared the benefits of national growth at all. The journalist Mark Tully, who has been reporting on India for nearly 50 years, once said that the crocodile tears shed over India's poor would flood the Ganges. Today, as inequality grows and some Indians become exceptionally rich, the arguments over the country's poverty -- its extent and depth and the best means of alleviating it -- are fiercer than ever. Surjit Bhalla, who runs an economic research and asset management firm in New Delhi, has argued that the numbers of India's least fortunate are massively exaggerated: In his analysis, a "conservative estimate" suggests the poverty level in India in 1999 was under 12 percent, and is surely even lower today. But a first-time visitor to India will notice at once that many people there are painfully poor, and that the suggestion that they number scarcely 1 in 10 of the population -- or lower -- is absurd.
Doubtful statistics are also used by those who dislike liberal economic policies and the effects of globalization. It is commonly claimed that 77 percent of Indians live on less than 20 rupees (about $0.50) a day. This figure has an interesting lineage, and first came to public notice in a report issued in 2007 by the left-wing economist Arjun Sengupta, which he claimed was based on data from India's National Sample Survey Organisation (NSSO), an official body. On closer inspection, it would appear Sengupta used average monthly per capita consumer expenditure for the year 2004-05, which came out at 559 rupees for rural India and 1,052 rupees for urban India. But what commentators who widely circulate this data do not point out is that consumer expenditure figures collected by the NSSO have consistently been low -- possibly because of under-reporting -- and are very difficult to square with the fact that other measures of consumption in India have grown steadily over the past few years.

Using more current data, the Indian government's Planning Commission announced a few weeks ago that in fact, 41.8 percent of the rural population and 25.7 percent of the urban population now live on 20 rupees a day or less -- suggesting either that India's poverty has been more than halved in just six years, or (more likely) that Sengupta's original figure was wrong, and should never have been publicized without extensive qualification. But obtaining accurate data on poverty and interpreting it reasonably is a difficult task; an additional problem is that India's state governments routinely overestimate their poverty levels in order to get more money from New Delhi.

In any case, even cautious figures suggest that a substantial portion of India's population remains desperately poor. The basic argument about whether economic liberalization has been good or bad for India is today largely conducted outside the country. In India itself, the debate ran itself into the ground in the late 1990s, when it became apparent that growth rates were higher even than the reformers had expected. All major political parties are now in broad agreement that it would be a mistake to return to centralized, socialist planning; after all, back in the 1970s per capita GDP in India was growing more slowly than at any point in the preceding 100 years. The crucial question now is, how to narrow the gulf between the rich and the poor? The Indian government has made some progress with social programs in recent years, but is moving interminably slowly, and corruption and weak governance at the centre remain a pressing problem. In the short term there is no harm in countries like Britain continuing with their aid projects, but India has the money to fund its own poverty alleviation programs. Whether it will choose to do so, is another question.

Os protecionistas de sempre...

Como sempre digo: quem produz riqueza, patentes, renda são os engenheiros.
Advogados, na melhor das hipóteses apenas redistribuem riqueza, na pior criam déficits públicos.
São os maiores defensores das reservas de mercado no Brasil, aliás, junto com engenheiros e capitalistas da construção civil.
Paulo Roberto de Almeida

MERCADO DE TRABALHO
Brasil é contra a globalização na prática jurídica
Advogados brasileiros não querem estrangeiros caçando seus clientes
Opinião e Notícia, 27/06/2011

Brasil rejeita a atuação de advogados estrangeiros no país

Com a quantidade de recursos permitidos a criminosos condenados e as generosas leis trabalhistas que são um convite permanente para processar empregadores, a impressão é que há trabalho para todos os advogados no Brasil. Mas nos bastidores, os juristas mais poderosos do país tentam dificultar a vida dos mais de cem estrangeiros que oferecem serviços jurídicos no país.

No ano passado, a Organização dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) informou que as alianças jurídicas entre advogados estrangeiros e locais são uma violação das suas regras. A OAB em Brasília está considerando o assunto. Caso também concorde com a opinião da vertente paulista, todos os escritórios de advocacia do país poderão ter suas alianças estrangeiras dissolvidas.

O trabalho de advogados formados no exterior já é bastante regulamentado no Brasil. Advogados estrangeiros não podem trabalhar em empresas que contratem trabalhadores locais, ou oferecer qualquer consultoria sobre leis brasileiras. Mas o parecer da OAB-SP foi ainda mais longe. A organização proclamou que as alianças entre advogados estrangeiros e brasileiros são antiéticas. “Consultores jurídicos estrangeiros”, como são chamados, não são advogados para tudo. Ao menos foi isso que a OAB-SP determinou.

O ritmo de abertura de escritórios de advogados estrangeiros no Brasil aumentou bastante nos últimos anos. Desde 2007 cerca de três escritórios são inaugurados a cada ano, e diversos outros assinaram acordos formais com escritórios locais. Os advogados recém-chegados ao país dizem que não estão fazendo nada diferente dos que vieram antes e que estão cumprindo as leis brasileiras ao montarem parcerias com escritórios no Brasil. Mas eles acreditam que a chegada de advogados estrangeiros ameace o status quo, em que meia dúzia de grandes escritórios controlam a maioria dos negócios no país. As médias empresas locais que têm ligação com empresas estrangeiras poderiam desafiar este oligopólio.

Como os advogados partilham seus honorários é de pouco interesse para seus clientes, que se preocupam apenas em obter a melhor consultoria por um preço justo. Na tentativa de tornar mais difícil para clientes conseguirem aconselhamento jurídico de empresas de advocacia locais formalmente aliadas a escritórios estrangeiros, o Brasil está se movendo contra a maré da globalização na prática jurídica.

In praise of McDonald's

June 27, 2011
Mises Daily

A cadeia McDonald's, sempre desprezada por criar, justamente, "McDonald's' jobs", ou seja, os trabalhos mais mal remunerados do capitalismo americano, mereceria uma medalha de honra, e o título de "heróis da pátria", justamente por criar empregos em meio a uma recessão.
Quando vejo esses energúmenos anti-imperialistas destruindo lanchonetes da cadeia, apenas por causa de seus baixos instintos anti-capitalistas e supostamente anti-imperialistas, eu só posso constatar uma coisa: esses idiotas detestam pobres e odeiam alguém que dá empregos para pobres.
Sim, porque um emprego na cadeia é um dos mais baixos da escala social: o mais ignorante adolescente pode ser treinado rapidamente para trabalhar numa lanchonete, seja começando por esfregar o chão, limpando mesas ou lavando banheiro ou, se for um pouco mais qualificado, vai virar hamburgueres...
A cadeia se adapta aos tempos do politicamente correto, e começa a servir non fat food e coisas mais saudáveis. Assim é o mundo.
Sua importância tecnológica e econômica é enorme, justamente numa recessão, quando os desempregados abandonam restaurantes e vão comer hamburgueres.
A cadeia McDonaldo é um ícone do capitalista, aliás de qualquer economia de mercado.
Quem assistiu ou viu, por TV, o mar de gente invadindo as primeiras lojas dessa cadeia quando abriram nessas porcarias socialistas que eram a finada União Soviética e a República Popular da China sabe do que estou falando.
Viva o McDonald (aliás, eu não costumo comer em McDonald, e depois que meus filhos ficaram grandes, nunca mais entrei num, mas não hesitaria em entrar, se precisasse).
Paulo Roberto de Almeida

McDonald's as the Paradigm of Progress
by Jeffrey A. Tucker
Mises Daily, June 27, 2011

The nice folks at the local McDonald's know me well, but even they were puzzled when I snapped a dozen images of their newly restored interior, which is absolutely beautiful. Like most fast-food places, the management is used to customers but still a bit surprised by dedicated fans like me.

I feel vindicated by recent data on this company's hiring in the midst of terrible economic times.

The national labor-participation rate has been falling for a decade and is now as low as it was during the 1982 recession. If people were leaving the workplace with wads of cash and every intention of living out their dream of a life of leisure, this might be good news.

Sadly, all evidence runs the other direction. People want remunerative work but can't find it, and their situation is getting worse not better, thanks mainly to legal restrictions and artificial burdens borne by institutions that would otherwise be hiring.

McDonald's appears to be responsible for more than half the new jobs being created right now: its April jobs fair added 30,000 people to its payrolls. It has bucked the trend — a bit like swimming against the tide.

But instead of congratulating this great company for doing the impossible, the judgment in the press is harsh. Burger flipping is the only work to be had out there? Surely this is evidence of how pathetic economic growth is.

The trouble with this line is that it doesn't recognize how difficult it is for an institution to adapt itself and still grow in this climate. And how does McDonald's do it? It is an old recipe: watch the markets, emulate the successful, adapt and change, and slavishly serve the consuming public.

The reinvention of McDonald's began only two years ago, as its management noted the new vogue for healthy food and fancy coffees and fruit smoothies served up in a posh environment such as Starbucks offers. Can McDonald's, the very embodiment of the lowbrow urge for a greasy burger and fries, actually horn in on this market?

It doesn't seem likely, but the company gave it a try. There were new breakfast items like fruit parfaits. There was an apple-and-walnuts salad, along with many other premium salads, for lunch. There was a new premium burger made of Angus beef (which to me tastes as good as a restaurant-style burger). There were new fruit smoothies that taste as good (or better) than the ones that cost twice as much at the hip smoothie bars.

Not that McDonald's merely chases public fads. The company responded to an earlier outcry for diet food by making the McLean sandwich in the mid 1990s. No one bought it. The company dropped it from the menu. The lesson is that public piety is not the same thing as actual spending habits. Future development would be rooted in reality, and it certainly is today.

Most of all there was the addition of new coffee drinks. Each is made from freshly ground beans, with the addition of fresh milk (whole or low fat), all made upon order. McDonald's added its own spin. The most annoying aspect of Starbucks, as everyone knows, is the wait. Everything is done by hand, from the cleaning to the packing of grounds.

McDonald's has a new machine that does everything. The beans fall through a large funnel. The milk is sucked out of gallons from the doors underneath. The nozzles and containers are cleaned after each drink by superhot steam blasts. The human hand only gets involved at the beginning to push buttons and at the end to give it all one last stir. The time it takes to make this fresh treat is reduced to half or even one-third of the Starbucks time.

Then there is the cost issue. A latte at McDonald's costs 40 percent less than the same at Starbucks. And you don't have to use strange words like venti or grande when you order. At McDonald's, they seem to understand normal English words like small, medium, and large.

There was just one element of change missing: the interior of the restaurants. Mostly they have been unchanged for decades. The dining room was filled with tables with a fixed number of attached chairs, suggestive of a school cafeteria. The company did its research and rethought the entire issue of what a fast-food dining area could look like.

In the same space, it created many different styles: a round booth, long tables with movable chairs, small round tables with bar-style seating, along with traditional booths. Each place you sit amounts to a separate environment of your own choosing. You can be private or sociable, intimate or public, alone or engaged with others. The seating area is separated from the ordering area by Plexiglas sheets from floor to ceiling that appear both modern and artistic. I don't know much about the art of interior design, but the whole scheme strikes me as brilliant.

So certain is the company that these changes are going to make a difference, it is spending a minimum of $1 billion on the renovations in all 14,000 US restaurants. The first 800 will be complete in 2011, costing some $250,000 per store. Our own local restaurant started renovations in early June and completed them in a mere two weeks time — all the while keeping the drive-through window open and doing a vigorous business.

And what is the point of all of this? It should be obvious: to serve the public better. Better service, more attractive environments, and more menu choice lead to higher profits, and therefore more expansion and job creation.

In a striking way, this approach is deeply embedded in the company's history. The first restaurant opened in 1940 and closed for renovations in 1948, only to reopen as the first drive-through restaurant. Its first indoor-seating restaurant didn't open until 1962. Since then, the company has taken glorious steps forward that have foreshadowed global change: it opened in Moscow in 1990, Warsaw in 1992, and on the Web in 1996.

Let's be clear here. It's not the case that the management of this company has an unusually high devotion to the well-being of humanity. The management is following the pricing signals and making entrepreneurial judgments all in the service of the consuming public. It is a great competitor, relentlessly reinventing itself in an effort to win the affections of the eating-out public.

The managers here might be the greatest humanitarians in history or they might be the greediest and most selfish people on earth. It really doesn't matter. The market is the driving force and the profitability signals are the test of whether the company is or is not doing the right thing. This is the very heartbeat of the capitalistic process — the one spotted and dissected centuries ago by economists in France, Spain, Italy, and England.

"The result is not just a beautiful model for serving up food but a beautiful model for social service in general."

These old liberals saw that the capitalistic process is the answer to the great social and moral problems raised by thinkers of all ages precisely because it pours every manner of human motivation into the grand project of satisfying the needs and wants of all society's members. If economic science had one main point to contribute to the world of ideas, this was it.

A most impressive feature of capitalism that is highlighted in the McDonald's case is how its institutions so beautifully adapt themselves to change. The drift is always upward: new and improved. And this drift is like a wind that never stops blowing unless it is stopped by the organized force of the state.

When the reinvention of this company began in 2009, it was not preceded by national campaigns and platforms. There were no public votes. Billions were not spent on lobbying for change. There were no public debates, advertising campaigns, frenzied conventions, or door-to-door campaigning. It was a decision made by the management — an entrepreneurial judgment that could be right or could be wrong — in an effort to please the stockholders who are the owners. And the final test is always the same: are people willing to buy?

Meanwhile, in the world of politics, decade after decade goes by with endless rounds of "reinventing government," school reform, bureaucratic reform, rearrangement of spending priorities, and regulatory change to make stuff work better. In the end, it amounts to little or nothing. Crucially, there is no real test to determine whether these changes were worth the cost or whether they really accomplished the goal. In politics, it is not even clear what the goal is! And, of course, the result is predictable. There is no change, no reinvention, no real improvement.

The addition or removal of the king-consumer from the process of reform amounts to a fundamental change in the whole raison d'être of an institution. It's true that McDonald's is not entirely sustained by the market alone, and even overly scrupulous libertarians have jumped on the attack. It's true that it has been reported that some of its business loans were backed by TARP money after the crisis of 2008, and, of course, it benefits indirectly from subsidies on corn and the like.

By the same token, it is also wickedly punished by the state, paying 30 percent taxes on earnings and shoveling some $2 billion into the federal treasury every year — all money that might otherwise be used for capital upgrades, dividends, or expansions.

The crucial way to tell a predominantly market-based company from a state-based company is to investigate its primary institutional interest: does it serve the state or does it serve the consuming public? There can be no question where McDonald's is on this spectrum, and the result is not just a beautiful model for serving up food but a beautiful model for social service in general.

McDonald's is a prime example of how the market has overcome a fundamental human problem: getting enough to eat. This is a problem that vexed the whole of humanity from the beginning of time. Now it appears to be almost entirely solved, thanks to institutions such as McDonald's, which people feel entitled to criticize and smear because they seem to be such a fixed element in the universe.

"It is a constant struggle to stay on top in this world in which every success can be imitated by a competitor."
But such institutions are not fixed. They are not permanent. They are the result of wild entrepreneurship embedded in a global market order rooted in ownership, exchange, freely floating prices, and human cooperation. It is a constant struggle to stay on top in this world in which every success can be imitated by a competitor, where consumers are as fickle as they want to be, and where even the best entrepreneur can make terrible mistakes.

This market is so robust, so vigorous, so innovative, that it even overcomes every obstacle that the anachronistic state puts in its way. Despite it all, McDonald's is hiring: people helping people get by and even live better.

The market blesses us every day, and society responds by, on the one hand, snobbishly cursing its productivity over cocktails, and, on the other hand, grabbing a value meal from the drive-through on the way home.

Jeffrey Tucker is the editor of Mises.org and author of Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo. Send him mail. See Jeffrey A. Tucker's article archives.

Leituras: "Quebras de mercado" e Grundrisse, de Marx

Sinto muito, mas antes de repassar a matéria, sobre os livros abaixo relacionados, vou me estender um pouco sobre a ingenuidade de comentaristas e escritores:

Duas dicas de leitura:
John Cassidy:
Como os mercados quebram
Editora Intrínseca

Karl Marx:
Grundrisse
Editora Boitempo

O titulo do primeiro ensaio bibliográfico é uma contradição nos termos. Aliás é de uma ingenuidade ingenua, com perdão da redundância, neste caso necessária.
Nem penso que o autor acredita realmente que os mercados quebram por fiat auto-induzido. E se ele pensa que um dos responsáveis é o Alan Greenspan está provavelmente 50% certo, o resto da responsabilidade podendo ser atribuído às demais agências públicas.

A constatação é simples: MERCADOS NUNCA QUEBRAM.
Pela simples razão de que mercados são apenas espaços de interação entre agentes econômicos.
Eles continuam funcionando, na alta ou na baixa, com perdas ou com ganhos, absolutamente neutros quanto aos agentes que deles participam.
Essa coisa de culpar os mercados por crises, por externalidades negativas, por distorções, por concentração de renda, por perversidades cegas, ou por qualquer outra coisa, é de uma inutilidade atroz, pois seria como culpar os ventos, as marés, as correntes marítimas, as precipitações atmosféricas, as cinzas vulcânicas disso ou daquilo. Ou seja, é inutil, aliás completamente sem sentido.
Quem quebra são agentes envolvidos em transações de mercado, apenas e simplesmente isto. Ponto.
Quando alguém "perde" no mercado, é porque apostou errado. Algum outro ganhou ou pode ganhar...
Se todos os bancos, que atuam conectados, fizeram bobagens, como fizeram os bancos americanos que venderam hipotecas subprime a investidores mal-informados, são esses bancos que quebram, e com eles os seus depositantes, os investidores, eventualmente um ou outro governo. Os bancos NUNCA tem o dinheiro dos depositantes e dos investidores disponivel, o que aliás seria uma bobagem. Por isso existem mecanismos de seguro ou garantias de deposito (mas alguém tem de pagar por isso, e mais uma vez é o mercado funcionando).
Todos os mercados continuam firmes, em quaisquer circunstâncias, apenas refletindo as bobagens feitas pelos agentes. Alguém vai passar e recolher, com lucro eventual, o que restou das bobagens feitas pelos incautos, e isso é justamente o mercado funcionando, perfeitamente.
Essa coisa de dizer que mercados fizeram isso e aquilo, que eles quebraram, ou que estão "irracionais" é de uma bobagem exemplar, até irracional, para evitar de dizer que quem fez as besteiras foram os agentes.
Em linguagem marxista, como diria o outro ingênuo mais abaixo, é uma metafísica aplica aos mercados, uma reificação de uma instituição social eterna, cega, surda e muda. Mercados são assim, indiferentes ao que pensam os homens, ricos, pobres, liberais ou intervencionistas. Eles simplesmente funcionam, como devem funcionar...
Ou então, dizer que os mercados falham, ou quebram, é só uma excusa para pedir intervenção dos governos.
Quem disse que os agentes do governo cometem menos bobagens do que os agentes puros de mercado?
Provavelmente cometem muito mais, pois que cingidos por leis e regulamentos que tornam mais lentos, ou mais restritos os movimentos do mercado, impedindo-os, portanto, de funcionarem adequadamente.
O potencial destruidor de um agente do governo é infinitamente muito maior do que o suposto potencial de dano do mercado, pois este é corrigido quase imediatamente, quando uma informação distorcida conduz a uma perda de algum agente: este atuará rapidamente para reverter ou minimizar as suas perdas, vendendo ou se retirando das transações. Só um agente de governo consegue acorrenter os agentes de mercado a determinados comportamentos ou obrigá-los a fazer determinadas coisas (ou impedi-los de fazer) sem que eles possam se desvencilhar desse incomodo "sócio" indevido.
Por que será que os livros de economia sempre têm capítulos dedicados às "falhas de mercado", mas poucos, ou nenhum, tem capítulos sobre as "falhas dos governos"?
Deve ser por preconceito, por ingenuidade, ou por viés ideológico...

Quanto ao filósofo uspiano que se dedica a escrever sobre os Grundrisse do Marx, acho que ele está fora de época. Esse tempo já passou e ele ainda não percebeu. Who cares?
Qual é o economista sério, ou mesmo um economista da teoria pura, que ainda se preocupa com Marx?
Só os historiadores do pensamento econômico...
Paulo R. de Almeida

---------------------------

(1)
John Cassidy:
Como os Mercados Quebram
Editora Intrinseca

Livro faz relação entre crise e pensamentos econômicos
Autor descreve contribuição daqueles que apontaram falhas no mercado

O GRANDE VILÃO DA HISTÓRIA, PARA O AUTOR, FOI ALAN GREENSPAN, QUE PRESIDIU O FED, O BC AMERICANO

Nos últimos 40 anos o pensamento econômico se afastou da realidade e se revestiu de utopia. Autoridades abraçaram a nova ideologia e fecharam os olhos para distorções e abusos que se formavam no mercado financeiro. Isso resultou na crise global de 2007-2008.
Essa é a ideia central de "Quando os Mercados Quebram", do jornalista britânico John Cassidy, que trabalha para a prestigiosa revista "The New Yorker".
O livro explica como surgiu a defesa da tese de que um mercado livre de amarras é eficiente porque "recursos físicos e humanos são dirigidos para onde mais se precisa deles, e os preços estão vinculados a custos".
Cassidy mostra como pensadores que vieram depois do pai da ideia -Adam Smith- avançaram e aprimoraram a teoria do economista britânico.
Para ele, esse grupo de economistas dos séculos 18 e 19 era menos dogmático a respeito da eficiência do livre mercado do que fervorosos defensores mais recentes.
Segundo Cassidy, Smith e outros economistas, como o britânico John Stuart Mill, alertavam para os distúrbios no sistema financeiro e defendiam a necessidade de regulação governamental.

"A noção de que os mercados financeiros são mecanismos racionais e autorreguladores é invenção dos últimos 40 anos", afirma o autor. Essa é a essência do que ele chama economia utópica.
O autor descreve a contribuição dos economistas que apontaram falhas do livre mercado, como incertezas, informação imperfeita e comportamento de manada.
Os economistas americanos Milton Friedman e Robert Lucas são citados como expoentes do pensamento econômico utópico, que ignorou esses problemas. Cassidy mostra distorções desnudadas pela crise, cujos sinais foram ignorados.
"Quando o preço de um patrimônio qualquer sobe de 20% a 30% ao ano, ninguém que o possua ou negocie quer ouvir falar que sua riqueza súbita é ilusória", diz ele.
O grande vilão da história, para o autor, foi Alan Greenspan, que presidiu o Fed (Federal Reserve, banco central americano) entre 1987 e 2006. Cassidy descreve como Greenspan manteve uma visão cega e fervorosa em relação à eficiência dos mercados livres de regulação governamental, mesmo perante sinais claros de uma bolha.
Ben Bernanke, sucessor de Greenspan e atual presidente, seria o culpado coadjuvante já que quando assumiu o bastão, em fevereiro de 2006, "não fez esforço algum para mudar a posição não intervencionista do Fed".
Cassidy diz que Greenspan e Bernanke ignoraram a função do Fed de "retirar a tigela de ponche quando a festa engrena" definido por outro ex-presidente da casa (William McChesney Martin).
A conclusão tem certo tom de ceticismo em relação à reformulação do pensamento econômico "com base na realidade" e aos esforços para criar uma regulação que coíba problemas como os que levaram à crise.

(ÉRICA FRAGA)

==========

(2)
Esboços de uma obra capital
José Arthur Gianotti
Sabático, O Estado de S.Paulo, 25/06/2011

Karl Marx:
Grundrisse

Chega às livrarias brasileiras a primeira tradução feita no País de Grundrisse, volume com textos de Karl Marx escritos em 1857-58, os quais avançam no que seria o ponto mais alto de seu pensamento

A Editora Boitempo está lançando uma das obras clássicas de Marx: Grundrisse der Kritik der Politishen Ökonomie, mantendo a primeira palavra do título alemão Grundrisse (Esboços). É assim que este livro se tornou conhecido entre nós. Acompanha-o, na contracapa, um rápido comentário do sociólogo e economista Francisco de Oliveira, velho amigo. Reúne textos redigidos nos anos 1857-1858 e que permaneceram inéditos até 1939 e 1941, quando foram publicados, em dois volumes, pelo Instituto Marx-Engel-Lenin de Moscou. São textos preparatórios do livro que sairia em 1859, Para a Crítica da Economia Política, e avançam no que seria O Capital.

Não é fácil traduzir uma obra desse porte, em particular na medida que deixa visível o emprego da lógica hegeliana na montagem dos argumentos. Quando O Capital foi traduzido para o francês, Marx pede ao tradutor que não preste muita atenção às argúcias da dialética, pois os franceses não são muito afeitos a elas. Para quem se interessa pelo método marxiano - no fundo ligado a uma ontologia do ser social, como descobriu o velho Lukács - esses jogos aparentemente verbais servem para mostrar, dentre outras coisas, como as relações capitalistas de produção passam por um processo de reificação, muito diferente do que acontece nos outros modos de produção. É, pois, fundamental para Marx não confundir, por exemplo, a compra e venda da força de trabalho com a compra e venda do escravo. Neste caso, o indivíduo é comprado como se fosse uma mercadoria, todo ele passando a ser propriedade do comprador. Em contrapartida, na relação propriamente capitalista apenas é comprada a força do trabalhador por um determinado período de tempo. Não se confunda essa transação com o pagamento que se pode fazer a alguém que preste um serviço. O salário do trabalhador regular é determinado pelas forças de mercado, tudo se passando, então, como se ele fosse uma pequena parcela do quantum de trabalho que um sistema dedica à produção dos bens de que necessita.

Marx aceita a teoria do valor da mercadoria formulada por Ricardo. Este valor não se resume simplesmente no tempo concreto gasto para produzir um objeto. O tempo é socialmente abstrato porque representa uma parcela do tempo que todos os trabalhadores de uma sociedade despendem para produzir tudo de que ela necessita, desde que todos eles trabalhem num determinado nível social de produtividade.

Note-se que fazem parte desta medida ao menos dois parâmetros abstratos - trabalho social necessário e produtividade média - que somente podem se confirmar depois que o processo de trabalho terminou. Pois só assim é que se poderá saber qual foi o trabalho necessário para produzir na medida do consumo social e como todos os trabalhadores tiveram acesso a instrumentos que se encaixam numa produtividade socialmente determinada.

No fundo, essa definição somente ganhará sentido científico se as equações de seu modelo incluírem uma constante que possa introduzir essas medidas post festum. Mas, fora do modelo, o que representaria efetivamente essa constante? Não depende do próprio movimento do real?

Marx, porém, não é apenas um grande cientista, mas igualmente o crítico de uma teoria e de uma forma de sociedade. Pretende trazer para o nível da crítica a crítica das armas que os movimentos sociais mantinham contra os capitalistas; estes, incapazes de criar riqueza social sem enormes bolsões de miséria. Ora, essa crítica se dirige antes de tudo contra o tipo de objetividade que os economistas emprestam aos conceitos científicos; eles os pensam como se fossem a-históricos, sem data de validade e sem contradições internas. Um conceito da economia política não pode ser reduzido a relações formais e funcionai; deve incluir o modo pelo qual seu objeto vem a ser, encontra sua forma e se desfaz. Não é o que já acontece com esse valor trabalho, que é muito mais do que relacionamentos de valores de uso com valores de troca? Estes passam a ser iguais entre si de tal modo que terminam representando o valor transpassando todos os produtos. E nesse equacionamento o que importa não é tanto como se trocam mutuamente, mas como passam a exprimir um tempo de trabalho característico de um modo especialíssimo de produzir socialmente.

Daí a crítica que Marx, anos depois, endereça a Ricardo: "A última objeção decorre da exposição defeituosa de Ricardo que não investiga de modo algum o valor segundo sua forma - a forma determinada que o trabalho assume como substância do valor - mas apenas as magnitudes de valores, as quantidades desse trabalho [QUE É]universalmente abstrato e social graças a essa forma, que produz a diferença nas quantidades de valor das mercadorias" (Theorien Über Den Mehrwert, 2, 163, Dietz Verlag, 1959).

Além das magnitudes, os valores teriam uma substância, isto é um trabalho social sustentando cada uma de suas expressões, aquela totalidade integrada por todos os atos de trabalho decorridos num período de tempo. Estes simplesmente não se somam. Como perdem suas respectivas medidas individuais para formar um todo que passa a medir o exercício de cada trabalho individual? É como se um galo e uma galinha se reunissem para produzir um ovo e um filhote porque todos esses atos estivessem sendo dirigidos pela forma, pela espécie galinácea. Sem a teoria do código genético, essa espécie só pode ser o conceito hegeliano que possui em si mesmo a capacidade de criar seus próprios casos. Estamos assim em plena lógica idealista. Como conciliar essa crítica com o materialismo marxiano?

Se a alienação já marca o valor trabalho, ela se aprofunda na constituição do capital. O primeiro passo é a transformação do valor da força de trabalho em capital variável. Se a primeira figura do capital é o dinheiro que se investe para que retorne com mais valor, se todos os outros insumos investidos na produção mantêm seu valor, já que conservam o trabalho morto neles incluído, só o dinheiro investido na compra da força de trabalho será variável, podendo aumentar, mas também diminuir. No entanto, sendo dinheiro apropriado pelo capitalista investidor, ele é capital e não mais "capital humano" de propriedade dos trabalhadores.

Conforme Marx avança na análise do modo capitalista de produção, mais se aprofunda a alienação das categorias. É fundamental observar que esse processo vai além do fetichismo das mercadorias, da reificação das relações que as determinam. Não encontramos nos Grundrisse a reificação peculiar do capital. Somente no terceiro volume d'' O Capital aparecem as três formas nas quais o capital se aliena. Tudo se passa como se naturalmente o capital produzisse lucro; a terra, renda fundiária e o trabalho, salário - quando na realidade todas essas formas encontram seu fundamento numa apropriação subreptícia da mais-valia, isto é, na diferença de valor entre o trabalho socialmente produzido e salário pago.

O processo de reificação e de alienação é, pois, o nervo da crítica marxista. Marx justifica o sistemático emprego da lógica hegeliana na medida em que ele a inverte. Um dia, afirma ele, haveria de apresentar essa inversão. Mas uma lógica que se pretende ser um círculo de círculo não pode ser invertida. Pouco ajuda invocar autores como Feuerbach, que partiam no movimento enriquecedor da percepção. Desde que o conceito se apresenta com a capacidade de determinar seus casos, não há como fugir da lógica hegeliana. Isto não é uma ilusão necessária do sistema? Cabe então examinar o sentido dessa ilusão e como ela se infiltra no coração dos procedimentos do capital.

Cabe, porém, desde já, ressaltar que o fetichismo da mercadoria não possui a mesma estrutura do fetichismo do capital. Marx mostra que eliminando o primeiro naturalmente o segundo seria anulado. No entanto, como hoje, depois do insucesso do socialismo real, não sabemos como produzir socialmente sem as amarguras do mercado, precisamos atentar para as diferentes formas de alienação. Se a mercadoria somente funciona se estiver apoiada numa relação pré-jurídica de propriedade, já o capital integra a política no seu desenvolvimento: o capital sempre luta para encontrar situações privilegiadas de acesso aos mercados.

Para a ciência econômica de hoje, essa inversão da relação entre norma e casos não tem cabimento, pois os fenômenos econômicos são pensados a partir dos comportamentos do homo economicus, do homem racional que, aceitando determinados fins, trata de mobilizar os meios para atingi-los. Contudo, depois da enorme crise do capital financeiro, na qual o mundo ainda está medido, é preciso voltar com olhos críticos para as análises muito instigantes da alienação desse capital.

Não me parece possível entender essa crítica marxista sem examinar a lógica que serviu à montagem dos textos críticos de Marx. Depois da Terceira Internacional se divulgou a tolice de que haveria duas lógicas, uma formal, que excluiria qualquer contradição, e a lógica dialética, que a abrigaria. Aceita a contradição, seria possível descrever o movimento do conceito até articular casos que o negassem. Essa duplicidade da lógica, porém, separaria o intelecto em duas partes irredutíveis. Não haveria coordenação possível entre elas. Não seria o caso de voltar a refletir sobre o que faz com que relações sociais apareçam como se fossem determinantes de seus casos? Para essa tarefa, o estudo dos Grundrisse é imprescindível.

José Arthur Giannotti é professor emérito de filosofia da USP, pesquisador do CEBRAP e autor, entre outros, de Lições de filosofia primeira (Companhia das Letras)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pieguice: sentimento bem distribuido na terra...

Todo mundo tem dó dos coitadinhos. Só não se perguntam quem é que vai pagar a conta da caridade.
Alguns anos atrás, escrevi um artigo intitulado interrogativamente:

Estaria aumentando o número de idiotas no mundo? (podem procurar em meu site que está em algum lugar...)

Hoje eu já não perguntaria mais, pois tenho certeza que sim...
Paulo Roberto de Almeida

Não existe almoço de graça
LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de S.Paulo, 27/076/2011

"Bleeding hearts" é como são chamados pelos conservadores esses teenagers da política

A EUROPA ESTÁ em chamas pelo medo da dissolução da União Europeia. No Brasil, os defensores dos direitos dos imigrantes ilegais na Europa ainda se aferram à imagem adolescente de que o continente deve receber "todo mundo", numa conta infinita a ser paga pela colonização.
Não existe almoço de graça, mas tem muita gente, que normalmente não paga o almoço, que não sabe disso ou finge que não sabe.
A atitude é adolescente porque essa gente que grita contra a "direita" europeia (que cresce à medida que os países vão falindo) não pagaria um sanduíche para um estranho, mas acha que os europeus devem pagar comida, casa, hospital e escola até para os ilegais. A recusa em entender isso só piora as coisas.
O que me assusta é como gente grande pode ter sido contaminada por tamanha infantilidade em termos de análise política e social. O filósofo da vaidade, Rousseau (século 18), assim chamado por Burke (também do século 18), crítico dele e da revolução francesa, é muito responsável por esse absurdo, além do velho Marx.
"Bleeding hearts" é como são chamados pelos conservadores americanos esses teenagers da política.
O problema de países como Portugal, Espanha e Grécia é que não se pode ganhar como eles e gastar como franceses e alemães. Uma hora a casa cai.
Recentemente, conversando com um médico brasileiro que ficou um mês trabalhando num hospital importante em Bruxelas, especializado em câncer, fiquei sabendo dos absurdos do sistema de saúde da Bélgica.
A Bélgica deverá acabar em breve por conta do impasse de ser um país que reúne flamengos (etnicamente próximos dos holandeses) e belgas franceses e por isso não consegue formar um governo decente.
Lá, estrangeiros ilegais recebem mais direitos a tratamento médico do que cidadãos belgas. Funcionários belgas do hospital em questão falam disso com grande rancor. Quem aguenta isso?
Tudo bem que a Bélgica, dizem, foi o colonizador mais cruel da África (Joseph Conrad imortalizou a violência da colonização belga do Congo em seu monumental "Coração das Trevas"), mas até onde se pode pagar uma "conta" dessas?
Semelhante é o caso brasileiro e o absurdo do país ficar "sustentando" o Paraguai via Itaipu. Quando o governo brasileiro, por afinidade ideológica com o governo paraguaio, decide que deve aumentar a "contribuição" dada ao Paraguai por Itaipu, quem paga a conta é você através de seu trabalho e de suas agonias cotidianas. Legal, não? Você paga imposto para doar dinheiro para o Fernando Lugo, presidente do Paraguai, posar de "defensor de su pueblo".
Quando acordar de manhã, pense: "Opa, hoje tenho que correr de um lado para o outro pra mandar dinheiro para o Paraguai".
Claro que tem gente que diz que devemos muito ao Paraguai pelo que fizemos lá durante a Guerra do Paraguai, mas até onde essa história é verdadeira? Aconselho a leitura do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" do Leandro Narloch (Ed. LeYa), para aprender um pouco mais sobre esse mito que destruímos uma nação que marchava para ser um país perfeito sob a batuta de seu ditador Solano Lopez.
Calma, não se trata de ser insensível com o sofrimento dos mais fracos. Sei que o coro dos humilhados e ofendidos gritará, mas não o temo. Trata-se sim de perceber que o mundo não é o que um centro acadêmico pensa que é.
Pensemos numa situação hipotética. Imagine que tivéssemos um número gigantesco de imigrantes de países pobres entre nós. Agora imagine que eles tivessem mais direitos a saúde pública que você, que trabalha como um cão e que paga impostos extorsivos, como é o caso no Brasil e na Europa.
O que você pensaria disso? Você aceitaria sustentar pessoas que se mudam para a sua casa a fim de lá viver às suas custas?
Alguém sempre paga a conta e quando se tenta fechar os olhos à sangria que é bancar o crescimento de imigrantes (ilegais ou não) na Europa, a tendência inevitável é que radicais de direita sejam eleitos.
Quando você se "revoltar" contra isso, doe uma parte da sua grana para a África.

Com acucar, sem afeto...: o avanco do diabetes pelo mundo afora

Provavelmente os mais açucólatras do mundo são os habitantes da Micronésia, numa das raras demonstrações de suicídio coletivo que possa existir...

Charts, maps and infographics
Daily chart - Diabetes
Sugar rush

The Economist, June 27th 2011
The progress of a disease over thirty years

THE number of adults with diabetes more than doubled between 1980 and 2008, according to a new study led by Professor Majid Ezzati of Imperial College London and Goodarz Danaei at Harvard University and published in the Lancet. This jump is not quite as horrific as the numbers might initially suggest, because ageing helped push up rates. But a good 30% of the increase was caused by higher prevalence of diabetes across age groups. Obesity seems to be a main culprit; the authors found a high correlation between rising rates of diabetes and a rise in body mass index. The global leap masks considerable variation between the sexes and among regions. Across the world the rate of diabetes rose by 18% for men and by 23% for women, to 9.8% and 9.2% respectively. In some countries the gap between the sexes was more dramatic. In Pakistan, for example, rates jumped by 46% for men and by 102% for women. The highest incidence of all is found in the Marshall Islands, where more than a quarter of all adults had diabetes in 2008. America has lived up to its hefty reputation. Women’s rate of diabetes jumped 79%, something that has contributed to a decline in life expectancy among some groups. And once again, French women are the envy of the world. Rates there fell by 11.2%.

Brasil amplia leque de relacoes diplomaticas - Correio Braziliense

Diplomacia brasileira ganha força no país e no exterior
Tatiana Sabadini
Correio Braziliense, 26/06/2011

Aos 51 anos, Brasília hospeda 124 embaixadas e é a 13ª capital mais "frequentada" do mundo. Número de representações do país no estrangeiro também tem grande expansão

Brasília – Faltavam dois meses para inauguração da capital federal, em 1960, quando a primeira embaixada estrangeira foi inaugurada. Cinco décadas depois, a envergadura da política externa e a importância do Brasil como ator global fizeram do país destino cobiçado de missões internacionais. Brasília ocupa hoje a 13ª posição entre as 20 principais sedes de postos diplomáticos, à frente de capitais europeias como Madri e Viena. É a única representante da América do Sul no ranking.

A capital chega ao cinquentenário hospedando representações de 124 países e consolida uma posição de destaque. "É algo muito significativo para o Brasil. É sinal de grande interesse em um relacionamento com o país", afirma Tovar da Silva Nunes, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Atualmente, mais 13 países demonstram interesse em abrir embaixada no Brasil, segundo apuração da reportagem. Entre eles estão Afeganistão, Butão, Cazaquistão, Ilhas Fiji, Jamaica, Mongólia e Serra Leoa. Em recente visita a Washington, o chanceler Antonio Patriota reuniu-se com uma delegação do Barein, que também manifestou desejo de ampliar sua representação em Brasília, gesto que poderá ter a recíproca por parte do governo brasileiro. Para instalar uma missão em outro país, é necessário seguir um processo administrativo definido na convenção sobre relações diplomáticas. A ação pode durar dias ou meses e depende muito da rapidez do requisitante.

A escolha do embaixador é um ponto importante para o desenvolvimento da relação bilateral. Para começar, ele precisa ser aprovado pelo governo anfitrião e ter conhecimento para representar seu papel. "É ele quem interpreta o que é possível em um relacionamento bilateral e quais são os valores de um país. Ele nos indica o melhor caminho para a interlocução", aponta Tovar Nunes. Segundo o diplomata, a grande tarefa está em "decodificar os modos de comportamento de um país e seus interesses políticos e econômicos".

RECÉM-CHEGADOS
O Brasil recebeu 28 novas embaixadas desde 2003, grande parte de países africanos. O interesse cresceu com a mudança política externa no governo Lula, que multiplicou as representações brasileiras na África. "A evolução favorável dos países emergentes ajudou o governo a desenvolver isso, e a atuação do ex-presidente, pelo carisma e pela perseverança na cooperação com a África e a Ásia, determinou o aumento do interesse pelo Brasil", afirma o porta-voz do MRE.

Entre as missões diplomáticas que desembarcaram em Brasília nos últimos oitos anos está a de Barbados. A pequena ilha caribenha instalou seu representante em fevereiro de 2010, de olhos na cooperação sul-sul. "O Brasil é uma das grandes economias emergentes e tem um papel importante no nível regional e internacional. Na última década, nossa relação cresceu e temos acordos na área de saúde, técnica, educacional e cultural. Esperamos ajudar nossos empresários a desenvolver relações comerciais e esperamos que exista uma missão de comércio no Brasil, em futuro próximo", comenta a embaixadora Yvette A. Goddard.

Muitos países decidem fincar sua bandeira no Brasil, apesar da distância geográfica e cultural, pela importância internacional. "Para a amizade, nenhuma distância é muito grande", afirma Syed Ahmed Maroof, ministro da embaixada do Paquistão. "Nós trabalhamos juntos para expandir as relações bilaterais em todas as áreas, com um foco maior em projetos econômicos. As ligações de negócios entre os dois países estão crescendo fortemente, até mesmo neste aspecto as distâncias geográficas não têm significado", completa.

O Brasil mantém 132 embaixadas e, desde 2002, abriu 218 postos – entre eles também consulados, escritórios e representações. Agora, no governo Dilma Rousseff, o país não deve ampliar os horizontes diplomáticos na mesma intensidade dos últimos oito anos. A única embaixada aberta em 2011 foi em Libreville, no Gabão. "Por enquanto, é difícil expandir, porque já abrimos (representações) em muitos países. Estamos em um momento de estabilidade, empenhados a desenvolver o trabalho nesses postos, e estamos colhendo os frutos de uma crença no diálogo com a África", declara Tovar Nunes.

A piada da semana: ministro quer hackers no governo...

Poderia ser uma piada por dia, pois existe material para tanto, mas vamos ficar na piada da semana, para não inflacionar demais este blog com coisas de baixa qualidade intelectual, o que desmentiria a sua vocação para debates inteligentes.
Uma distração com besteirol por semana basta.
Portanto, vamos ao que leio na manchete do dia:

Ministro quer chamar hackers para trabalhar no governo
(Agência Estado)
Mercadante minimizou ataques; segundo ele, ativistas ajudariam a modernizar os portais do Planalto

Bem, eu não tenho nenhuma dúvida de que os hackers -- que o ministro chama de ativistas, enquadrando-os, portanto, na mesma categoria do terrorista italiano que é bem-vindo no Brasil e logo ganhará um emprego de escritor oficial de alguma ONG, ou quem sabe até?, no governo -- fariam muito, e facilmente, para melhorar um governo que parece claudicar no caminho da modernidade (onde mesmo fica a direção da modernidade?).
Resta saber apenas se eles serão pagos por tarefa, por dia (ou por hora), ou se serão contratados por um determinado período...
Paulo Roberto de Almeida

========

Addendum em 28/06/2011:
Enviado por meu amigo Mario Machado, que merece esta promoção de comentário:

Seguindo a mesma lógica: Contrabandistas e traficantes ajudam a modernizar a segurança das fronteiras. E os bandidos que fogem da cadeia cumprem dever patriótico de reforçar a segurança dos presídios.

Governo barata tonta: custos da indefinicao - Marcelo de Paiva Abreu

Gastar menos e gastar melhor
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 23.6.2011

As notícias das últimas semanas sugerem que o governo está ilhado e paralisado. Em política, a natureza também detesta o vácuo. Sucessivas crises políticas que põem em risco a brancaleônica coalizão governamental emergem em meio a marchas e contramarchas envolvendo temas em muitos casos de importância secundária. Enquanto isso, o governo mostra carecer de plano de voo em relação a decisões que são vitais para que o País cresça de forma rápida e sustentada nas próximas décadas.

Em meio às controvérsias sobre o caso Battisti, regras sobre o prazo de sigilo de documentos e o fantástico auxílio-refeição dos juízes, o debate sobre os assuntos econômicos continua atolado na cantilena habitual sobre o quanto a taxa cambial está sobrevalorizada e como o Brasil é recordista mundial no quesito taxas de juros reais positivas. Sempre omitindo o espetacular desempenho brasileiro no ranking mundial de distribuição de crédito público subsidiado.

É cansativo insistir: a alta taxa de juros reais resulta da necessidade de conter (ou tentar conter) a inflação nos limites determinados pelo regime de metas, dada a política fiscal. Alterações significativas da política de juros requereriam ou a "flexibilização" do regime de metas, permitindo inflação maior, ou a mudança de postura quanto à política fiscal, deixando de acomodar aumento de despesas com aumentos da carga tributária. O banzo com relação a políticas de intervenção com foco em juros e câmbio deve ser exorcizado.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo encomendou ao Instituto Ipsus pesquisa sobre "o que faria você perder o sono?". A resposta de 26% dos entrevistados identificou a inflação (e 7%, o aumento de taxas e impostos). Entre os mais velhos, que têm memória inflacionária direta, a proporção sobe a quase 40%. Algo para ser digerido antes de declarações precedendo a próxima reunião do Copom...

Se o regime de metas deve pelo menos manter as metas inflacionárias atuais, o caminho que resta ao governo, ao engajar-se em esforço coerente de redução das taxas de juros reais, tem que ver com as contas públicas, de tal forma que a poupança pública volte a ser significativa e cumpra o seu papel de catalisadora da poupança privada.

É natural que o ritmo de crescimento da economia concentre as preocupações do governo. Aumentar a taxa de crescimento desejada para algo em torno de 5% ao ano requer investimentos como proporção do PIB da ordem de 23%. Prioridade no aumento da poupança pública faz parte essencial de um processo de aumento gradual da poupança doméstica e consequente redução da necessidade de poupança externa.

As preocupações governamentais não se devem centrar exclusivamente nos níveis de investimento, mas também devem levar em conta em que medida aumentos na relação investimento/PIB refletem aumentos efetivos de capacidade produtiva. Se os gastos de investimento estiverem concentrados na aquisição de máquinas e equipamentos ou contratação de serviços de construção a preços elevados, a criação de efetiva capacidade produtiva será consequentemente reduzida. Manter o custo do investimento sob controle deve fazer parte da estratégia do governo quanto à manutenção do crescimento econômico. Isso significa pôr o foco sobre os custos de máquinas e equipamentos (cerca de 50% da formação bruta de capital) e da construção civil (cerca de um terço).

Embora as estatísticas brasileiras sobre investimentos no longo prazo sejam notoriamente deficientes, não há dúvida de que, em diversos momentos, as altas taxas de formação bruta de capital fixo em parte refletiram o aumento de preços relativos de máquinas e equipamentos, bem como de construção, num mercado fechado à concorrência internacional e desprovido de disciplinas efetivas de regulação da concorrência. A inflação alta também teve o seu papel.

Embora seja importante preservar a capacidade doméstica de produzir bens de capital, é preciso ter em mente que a manutenção de tarifa de importação sobre bens de capital relativamente alta (mesmo levando em conta as reduções referentes aos ex-tarifários) tem implicações relevantes sobre o custo do investimento. A política de compras da Petrobrás ilustra o argumento. Ao optar por um produtor nacional até o limite de preços de 35% acima dos preços praticados por produtores internacionais, revela a grande importância que atribui à criação de capacidade produtiva doméstica de equipamentos para a indústria petrolífera, mas onera significativamente seus custos de investimento, sem preocupações de definir a redução das margens de proteção no decorrer do tempo. Da mesma forma, há espaço para a adoção de políticas que estimulem a concorrência na provisão de serviços de construção civil com impacto significativo no custo do investimento.

A estratégia econômica do governo deveria ter como mote: "gastar menos e gastar melhor". Remanejamentos recentes da equipe governamental sugerem grande preocupação com a eficácia gerencial. Mesmo que se aceite que essa eficácia foi comprovada - algo que poderia ser questionado -, o que se pergunta é: de que adianta talento gerencial, se o projeto do governo não tem rumo?

*Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.

Toda solidariedade aos anarquistas: uma seita destinada a durar...

Gostaria de expressar minha solidariedade aos anarquistas, uma tribo que resiste bem aos humores do tempo, e às mudanças do capitalismo (e do socialismo também).
Como eles nunca se deixaram seduzir pelo culto irracional dos marxistas ao poder do Estado, e aos equívocos monumentais do planejamento econômico centralizado, eles conservam intacta sua crença (infundada, claro) na possibilidade de abolição do Estado e da auto-organização dos trabalhadores (sempre existe uma esperança).
Eles não se contaminaram, assim, com as imensas bobagens cometidas pelos socialistas marxistas ao longo do século XX, como tampouco com os crimes cometidos em nome da fidelidade à causa do comunismo de tipo soviético, embora possam partilhar de algumas outras ilusões comunistas e ter cometido também sua cota de crimes políticos (na guerra civil espanhola, por exemplo, quando saíram fuzilando padres e freiras a torto e à direita, mas não à esquerda...).
Quanto ao dilema colocado pelo companheiro, ou camarada Danton (belo nome este, que não sei se é verdadeiro, ou apenas emprestado), sobre a encruzilhada do movimento anarquista, sinto decepcioná-lo e confirmar que minha opção vai por este caminho:

o movimento anarquista terá de se conformar, infelizmente "com a posição de crítico eterno situado além do bem e do mal (ou seja, além da prática): umbiguista, isolado, preocupado somente em manter a pureza dos quatro dogmas."

Acho que é isso, pois a outra opção, dar um
"salto qualitativo e decid[ir] converter-se em uma contribuição para os movimentos populares, cumprindo dessa maneira seu objetivo como movimento revolucionário",
não está em seu alcance fazê-lo, pois não existem classes sociais (menos ainda os trabalhadores) ou grupos outros que pretendam empreender uma ascensão e um processo revolucionário no Brasil. As classes populares estão mais interessadas em continuar consumindo o que for possível, comprar seus bens duráveis, e as classes verdadeiramente subalternas só querem ganhar uma prebenda do governo. Banqueiros e industriais, como de resto os capitalistas em geral, estão muito bem e não tem o que reclamar do atual governo da classe operária no Brasil, que quase já chegou ao paraíso (pelo menos a máfia sindical que a comanda).
Quanto aos anarquistas universitários, que são os que agitam essa seita, e publicam esses livros, eles vão continuar lutando pelos seus salários no sistema esclerosado da universidade pública e condenando o Estado burguês e a sociedade capitalista por essas injustiças.
Assim segue o mundo.
Paulo Roberto de Almeida

A Faísca Publicações Libertárias, do Brasil, anuncia a publicação do livro:
Problemas e Possibilidades do Anarquismo
de José Antônio Gutierrez Danton,
uma compilação de artigos realizada pelos organizadores, cujo conteúdo está a seguir:

Apresentação
Felipe Corrêa e Daniel Augusto de Almeida Alves

Algumas Palavras sobre a Razão de Ser deste Livro

A Organização Revolucionária Anarquista

América Latina: Problemas e possibilidades para o anarquismo

Os Problemas Colocados pela Luta de Classes Concreta e pela Organização Popular: Reflexões a partir de uma perspectiva anarco-comunista

Considerações sobre o Programa Anarquista

Sobre a Política de Alianças
Problemas em torno da construção de um pólo libertário de luta

A Importância da Crítica para o Desenvolvimento do Movimento Revolucionário
"Creio que o movimento anarquista está em uma encruzilhada: ou dá o salto qualitativo e decide converter-se em uma contribuição para os movimentos populares, cumprindo dessa maneira seu objetivo como movimento revolucionário, ou, pelo contrário, se conforma com a posição de crítico
eterno situado além do bem e do mal (ou seja, além da prática): umbiguista, isolado, preocupado somente em manter a pureza dos quatro dogmas. [...] Talvez não estejamos de acordo em tudo o que está dito aqui, mas talvez estejamos de acordo no mais importante, que é como fazer do anarquismo revolucionário algo relevante para esses milhões de pessoas que buscam uma sociedade diferente, mais justa e mais humana."
José Antonio Gutiérrez Danton

Ver a capa: http://www.anarkismo.net/article/19934

Em breve será publicada no portal Anarkismo.net uma resenha de um dos
apresentadores e organizador da compilação.

Related Link: http://www.editorafaisca.net.

Juros no Brasil - Ilan Goldfajn (um debate relevante)

A longa travessia para a normalidade: juros reais no Brasil
Ilan Goldfajn
Valor Econômico, 27/06/2011, pág. A14

Quanto mais os indivíduos preferem o consumo à poupança no presente, maior é taxa de equilíbrio.

São Paulo - Parece uma eternidade. Mas foi há menos de uma década. O circo estava pegando fogo e eu me sentei para escrever um texto1. Não era algo natural. A crise de 2002 estava instalada e, na diretoria do Banco Central (BC), nos ocupávamos do intenso dia a dia. O Brasil estava no meio do furacão e a comunidade internacional duvidava que a dívida pública brasileira seria paga. O texto argumentava que não havia razões econômicas para essa dúvida e que a trajetória da dívida futura era declinante (tinha projeções até o distante 2011!). Deve ter sido um dos textos mais contestados da minha carreira. O final, como sabemos, foi feliz. O Brasil teve uma década de sucesso e a dívida declinou de 63%, na época, para em torno de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), hoje.
Mas nessa viagem ao passado, um fenômeno salta aos olhos. Na época, projetávamos manutenção dos superávits fiscais primários, crescimento razoável, câmbio mais apreciado (no auge da crise chegou a cerca de US$ 4 reais) e juros menores. Tudo mais ou menos em linha com o ocorrido. Mas os juros reais no Brasil permanecem acima do padrão internacional, mesmo de países de similar desenvolvimento.
Não quer dizer que os juros tenham permanecido nos mesmos patamares do passado. De fato, a economia brasileira tem experimentado uma tendência de queda dos juros reais nos últimos anos, principalmente após a adoção do regime de metas de inflação em 1999. As taxas de juros reais básicas no Brasil recuaram de 11,4% ao ano, em média, no período entre janeiro de 2000 e junho de 2004, para 9,7% entre julho de 2004 e dezembro de 2008, e para próximo de 7% mais recentemente. Mas esta ainda é uma taxa muita alta para uma economia estável e próspera como o Brasil nos últimos anos.
Como mostrado por Bacha2, há evidências empíricas de redução do juro real no Brasil em relação ao resto do mundo, e a diferença entre essas duas taxas diminuiu com a adoção do regime de metas de inflação. No entanto, controlando para os ciclos econômicos no Brasil e no resto do mundo, e para a inércia do ajustamento, a diferença entre as duas taxas permanece elevada.
"Redução do diferencial de juros exige ajuste fiscal que controle o crescimento dos gastos do governo"
Não considero que o alto nível da taxa de juros no Brasil seja um fenômeno permanente. Na sua travessia, o Brasil precisa gerar as condições para passar a ter uma taxa de juros baixa. É uma tarefa difícil, mas não intransponível. Há vários casos bem-sucedidos de redução de juros em países emergentes. A Turquia, no começo de 2003, amargava juros reais (acima da inflação) de 25% ao ano, e depois conseguiu que suas taxas convergissem para níveis de um dígito. A Polônia derrubou sua taxa de juros reais de 9% ao ano para 3%, a partir de 2001. Na América Latina, ocorreu o mesmo. No Chile, as taxas caíram de 8% para 3%, assim como houve quedas significativas no Peru.
A pergunta no Brasil é por que a transição para um patamar de juros reais tem sido tão lenta?
Tenho preferência pelas explicações fundamentais. Entendo a taxa de juro real de equilíbrio (ou neutro) como aquela que permite ao Brasil crescer no seu potencial, sem gerar pressões inflacionárias. Essa taxa depende das condições econômicas como a estabilidade, o risco percebido, a produtividade, a política fiscal (crescimento de gastos), assim como das distorções ainda existentes da economia brasileira. Depende também de quanto os brasileiros estão dispostos a poupar, em vez de consumir hoje. Quanto mais os indivíduos preferem o consumo no presente, maior é taxa de juro real de equilíbrio.
A alternativa de os juros altos serem resultado de equívocos de política monetária (mais altos que o necessário) não é compatível com os dados, pois teriam de ter durado por décadas e levariam a forças deflacionárias, com inflação sistematicamente abaixo das metas, o que não tem sido o caso.
O entendimento de por que os juros ainda são tão altos passa pela compreensão cuidadosa de seus determinantes. Na busca pelos determinantes é interessante distingui-los pela sua relevância temporal na taxa de juros de equilíbrio. Alguns podem impactar a taxa de equilíbrio apenas no curto prazo, enquanto outros mudam sua trajetória de longo prazo.
O juro real neutro de longo prazo depende dos fundamentos da economia, de fatores estruturais, alguns mencionados acima, como a produtividade, preferências intertemporais, prêmio de risco soberano, dívida pública, prêmio de risco de inflação, questões institucionais, etc. São fatores diretamente associados ao comportamento da poupança no longo prazo.
"O melhor a fazer é conduzir a política monetária de forma pragmática e avaliar continuamente o seu impacto"
O juro real de equilíbrio de curto prazo depende do juro real de longo prazo e de elementos conjunturais. Mudanças temporárias no ritmo de crescimento da economia global, assim como acelerações cíclicas no gasto do governo ou alterações na taxa de câmbio real afetam o juro real de equilíbrio no curto prazo.
Introduzo aqui já a minha preferência pela explicação da insuficiência de poupança doméstica, como já introduzido por André Lara Resende3 neste espaço, como explicação para a manutenção dos juros altos nessa transição para a normalidade. Os juros servem para inibir o consumo privado e estimular a poupança, na ausência de poupança pública suficiente para financiar os necessários investimentos.
Estimativas de um estudo recente com Aurelio Bicalho4 identificam que a redução do diferencial de juros em relação a outras economias exige um ajuste fiscal que controle o crescimento dos gastos do governo.
Os resultados também revelam que o prêmio de risco-país, a dívida pública em proporção do PIB e o crédito em proporção do PIB, todos com defasagens, afetam o nível da taxa de juro real e explicam a trajetória de queda observada nos últimos anos. Mostram também que a taxa de juros real de equilíbrio de longo prazo tem se reduzido nos últimos anos, mas o nível estimado continua bastante elevado quando comparado a outras economias emergentes.
O impacto do prêmio de risco e da dívida pública na taxa de juro real é coerente com outros resultados encontrados na literatura. As estimativas mostram também que o aumento do crédito em proporção do PIB contribui, com longas defasagens, para a redução do juro real de equilíbrio de longo prazo. Essa relação pode ser reflexo do impacto de avanços na estrutura institucional do mercado financeiro, que estaria sendo captada pela variável crédito. Uma melhora na estrutura dos mercados poderia, por exemplo, ampliar as opções de ativos em termos de retorno, risco e liquidez disponíveis para os poupadores. Isso funcionaria como um estímulo à poupança, o que diminuiria a taxa de juro real de equilíbrio. O aumento do crédito na economia pode estar relacionado a esse avanço nas estruturas dos mercados, com o desenvolvimento de novos produtos, o que tenderia a reduzir a taxa de juros. Mas para que o crédito contribua para a redução da taxa de juro real de equilíbrio de longo prazo, é necessário que sua expansão seja determinada por fatores estruturais, como a redução da assimetria de informação, avanço institucional que acelere a recuperação do colateral e desenvolvimento de novas estruturas financeiras (caso contrário, o efeito no curto prazo pode ser o inverso).
Mas há outras explicações na literatura para a taxa de juros elevada. Uma delas é a existência de incerteza jurisdicional e ausência de conversibilidade da moeda desenvolvida por Persio Arida, Edmar Bacha e Andre Lara Resende5. A incerteza jurisdicional afeta a poupança e evita o desenvolvimento de um mercado de crédito de longo prazo. A ausência da conversibilidade da moeda pressiona as taxas de juros de curto prazo, pois os poupadores exigem uma taxa maior para alocar seus recursos no mercado de dívida local. Esses fatores institucionais afetam a curva de poupança doméstica e o fluxo de capitais, influenciando a taxa de juro real de equilíbrio.
Considerando dados de diversos países, os estudos mostram que o efeito da dolarização (ou a falta de conversibilidade da moeda) é significativo6, embora pequeno, em explicar o nível mais alto da taxa de juro real no Brasil. Os resultados também evidenciam a importância do risco de crédito soberano em explicar o nível da taxa de juro real. Países de classificação de risco grau de investimento possuem taxas de juros reais de cerca de 2 pontos percentuais mais baixas do que países com classificação de risco pior. No longo prazo, essa diferença pode chegar a 4 pontos percentuais.
A trajetória recente dos juros parece confirmar os resultados do estudo com Aurelio Bicalho. Esse identifica que a recente crise internacional reduziu temporariamente a taxa de juro de equilíbrio de curto prazo, mas o mesmo não parece ter ocorrido com a taxa de equilíbrio de longo prazo. A queda da atividade econômica global reduziu o crescimento do país, permitindo que a taxa de juro real ficasse abaixo da taxa neutra de longo prazo para equilibrar a economia através dos estímulos ao consumo e ao investimento. Notamos, também, que a incerteza sobre o nível do juro real de equilíbrio de curto prazo aumentou substancialmente durante a crise internacional. Essa incerteza refletiu, em grande medida, a intensidade do impacto do crescimento mundial na economia doméstica, além da intensidade dos impactos das medidas anticíclicas adotadas durante a crise.
O impacto da crise no juro de equilíbrio de curto prazo teve consequências na condução da política econômica naquele momento. No auge da crise, o Banco Central reduziu a taxa de juros para estimular o crescimento. Ao mesmo tempo, o governo adotou uma política fiscal expansionista via aumento de gastos e redução de impostos. Além disso, utilizou o canal de crédito como instrumento para incentivar a atividade econômica. A partir do momento em que essas medidas começaram a atuar na economia e o mundo voltou a crescer, a taxa de juro real de equilíbrio de curto prazo inverteu a sua trajetória de queda e passou a subir em direção à taxa neutra de longo prazo.
No início de 2010, as estimativas mostravam que a taxa de equilíbrio de curto prazo estava próxima da neutra de longo prazo. Logo, os estímulos monetários e fiscais deveriam ser retirados, pois o risco era um aquecimento exagerado da atividade econômica, com elevação das pressões inflacionárias. No final de 2010 e início de 2011, esses estímulos começaram a ser retirados.
A dinâmica da taxa de juros real de equilíbrio é de suma relevância para a condução da política monetária. É através dos desvios entre a taxa de juros efetiva, que é afetada pelas decisões do Banco Central, e a taxa de juro de equilíbrio de longo prazo que a autoridade monetária estimula ou contrai a demanda agregada com o intuito de alcançar seu objetivo final, que é o de manter a inflação na meta.
É importante reconhecer que há um alto grau de incerteza nas estimativas das taxas de juros de equilíbrio. As evidências internacionais mostram que é bastante incerta a estimativa da taxa de juro real de equilíbrio em diferentes países, mesmo para aqueles com taxas muito inferiores e com menor volatilidade do que a taxa do Brasil. De fato, os intervalos das estimativas para a taxa de juro real de equilíbrio em diversos países revelam o grau de incerteza que cerca essas variáveis. É comum um intervalo de 1 ponto nessas estimativas, mesmo para economias com níveis baixos de taxas de juros. No Brasil, onde a taxa de juros tem tido uma tendência de queda, como evidenciam os dados e as nossas estimativas, e o nível da taxa ainda é bastante elevado, quando comparado aos padrões internacionais, é provável que o grau de incerteza seja ainda mais alto.
Dadas as elevadas incertezas associadas às medidas das taxas de equilíbrio, acreditamos que o melhor que a autoridade monetária possa fazer é conduzir a política monetária de forma pragmática, avaliando continuamente o impacto de suas ações sobre a economia. Deste modo, a política monetária deve continuar baseando-se nos sinais advindos da inflação, da atividade e de outras variáveis macroeconômicas, permitindo que mudanças estruturais sejam percebidas sem mais demoras.
As evidências acima sugerem que a opção da sociedade por gastos públicos crescentes (vários destes legítimos) tem contribuído para retardar o processo de convergência da taxa de juro real de equilíbrio para níveis internacionais tanto no curto prazo quanto no longo prazo. A redução do crescimento dos gastos correntes, tudo o mais constante, aumentaria a poupança da economia e reduziria o juro real de equilíbrio. Uma queda consistente dos juros possibilitaria um conjunto de desenvolvimentos que não são viabilizados com juros altos, como o alongamento dos horizontes dos poupadores e dos investidores, fundamental ao financiamento do investimento no Brasil.
A estabilidade macroeconômica e a credibilidade da autoridade monetária têm exercido papel fundamental na redução dos prêmios de risco, permitindo a queda da taxa de juros real de equilíbrio de longo prazo. Aliado a isso, uma política fiscal voltada para a redução dos gastos públicos contribuiria para acelerar esse processo e fazer com que no futuro o Brasil tenha taxas de juros reais mais próximas dos padrões internacionais.

Notas:
1 Goldfajn, I. Há razões para duvidar de que a dívida publica é sustentável? Nota Técnica do Banco Central do Brasil número 25, Julho 2002.
2 Bacha, E. Além da Tríade: Como Reduzir os Juros? Novos Dilemas da Política Econômica - Ensaios em Homenagem a Dionísio Dias Carneiro, Eds: Bacha, E. e De Bolle, M., LTC, 335p, 2011
3 Lara Resende, A. Juros: Equívoco ou jabuticaba, Valor 16/06
4 Goldfajn, I. e Bicalho, A. A Longa Travessia para a Normalidade: Os Juros Reais no Brasil. Novos Dilemas da Política Econômica - Ensaios em Homenagem a Dionísio Dias Carneiro, Eds: Bacha, E. e De Bolle, M., LTC, 335p, 2011
5 Arida, P., Bacha, E., e Lara-Resende, A. Credit, Interest, and Jurisdictional Uncertainty: Conjectures on the Case of Brazil. IEPE/CdG, 1-25, 2004.
6 Bacha, E., Holland, M. e Gonçalves, F. A Panel-Data Analysis of Interest Rates and Dollarization in Brazil. Revista Brasileira de Economia. 63, n.4, 341-360, 2009
Agradeço a Aurelio Bicalho pela contribuição a este artigo.

Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco e sócio do Itaú BBA.

Este é o nono de uma série de artigos sobre a conjuntura econômica atual, com foco maior nos problemas de câmbio, juros e inflação, feitos por renomados economistas a pedido do 'Valor'. Amanhã publicaremos o artigo de Márcio Holland.