O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 28 de setembro de 2013

Economic Freedom of the World (mas o Brasil NAO e' um pais livre) - 2013

Aliás, em alguns critérios exclusivamente econômicos, a China comunista é mais livre que o Brasil. Pode?
Claro que pode: a China é uma perfeita ditadura, no plano político, mas seus líderes não são estúpidos, e aprenderam, depois de anos de maoismo delirante e de comunismo idiota -- que a faz regredir absolutamente -- que só o capitalismo e a livre economia de mercado produzem riquezas e prosperidade para o povo, e agem conformemente às regras de uma economia de mercado. No que depende dos capitalistas privados, a economia vai muito bem, e o Estado faz o dever de casa na parte de infraestrutura, comunicação, regulação favorável ao setor privado. No que depende do capitalismo de Estado -- que ela também tem, obviamente -- a China vai muito mal, acumulando bolhas e buracos negros financeiros, que ainda podem provocar uma crise monumental no país.
Em todo caso, o Brasil parece um país socialista perto da China, o que é uma vergonha, além de ser um crime econômico ou simplesmente uma estupidez...
Bem, com vocês o relatório liberado este ano...
Paulo Roberto de Almeida

Economic Freedom of the World

The foundations of economic freedom are personal choice, voluntary exchange, and open markets. As Adam Smith, Milton Friedman, and Friedrich Hayek have stressed, freedom of exchange and market coordination provide the fuel for economic progress. Without exchange and entrepreneurial activity coordinated through markets, modern living standards would be impossible.
Potentially advantageous exchanges do not always occur. Their realization is dependent on the presence of sound money, rule of law, and security of property rights, among other factors. Economic Freedom of the World seeks to measure the consistency of the institutions and policies of various countries with voluntary exchange and the other dimensions of economic freedom. The report is copublished by the Cato Institute, the Fraser Institute in Canada and more than 70 think tanks around the world.

Economic Freedom of the World: 2013 Annual Report

Global economic freedom increased modestly in this year's report, though it remains below its peak level of 6.92 in 2007. After a global average drop between 2007 and 2009, the average score rose to 6.87 in 2011, the most recent year for which data is available. In this year's index, Hong Kong retains the highest rating for economic freedom, 8.97 out of 10. The rest of this year's top scores are Singapore, 8.73; New Zealand, 8.49; Switzerland, 8.30; United Arab Emirates, 8.07; Mauritius, 8.01; Finland, 7.98; Bahrain, 7.93; Canada, 7.93; and Australia, 7.88.
The United States, long considered the standard bearer for economic freedom among large industrial nations, has experienced a substantial decline in economic freedom during the past decade. From 1980 to 2000, the United States was generally rated the third freest economy in the world, ranking behind only Hong Kong and Singapore. After increasing steadily during the period from 1980 to 2000, the chain linked EFW rating of the United States fell from 8.65 in 2000 to 8.21 in 2005 and 7.74 in 2011. The chain-linked ranking of the United States has fallen precipitously from second in 2000 to eighth in 2005 to 19th in 2011 (unadjusted rating of 17th).
The rankings (and scores) of other large economies in this year's index are the United Kingdom, 12th (7.85); Germany, 19th (7.68); Japan, 33rd (7.50); France, 40th (7.38); Italy, 83rd (6.85); Mexico, 94th (6.64); Russia, 101st (6.55); Brazil, 102nd (6.51); India, 111th (6.34); and China, 123rd (6.22).
Nations in the top quartile of economic freedom had an average per-capita GDP of $36,446 in 2011, compared to $4,382 for nations in the bottom quartile in 2011 current international dollars. In the top quartile, the average income of the poorest 10% was $10,556, compared to $932 in the bottom quartile in 2011 current international dollars. Interestingly, the average income of the poorest 10% in the most economically free nations is more than twice the overall average income in the least free nations. Life expectancy is 79.2 years in nations in the top quartile compared to 60.2 years in those in the bottom quartile, and political and civil liberties are considerably higher in economically free nations than in unfree nations.
The first Economic Freedom of the World Report, published in 1996, was the result of a decade of research by a team which included several Nobel Laureates and over 60 other leading scholars in a broad range of fields, from economics to political science, and from law to philosophy. This is the 17th edition of Economic Freedom of the World and this year's publication ranks 152 nations for 2011, the most recent year for which data are available.
Economic Freedom of the World 2013
By James GwartneyRobert Lawson, and Joshua Hall, and contributions fromAlice M. CrispBodo KnollHans Pitlik, and Martin Rode 
Contents: 
Table of Contents [pdf, 55Kb] 
Executive Summary [pdf, 119Kb] 
Chapter 1 [pdf, 478Kb] 
Chapter 2, Country Data Tables [pdf, 840Kb] 
Chapter 3 [pdf, 2.28Mb] 
Chapter 4 [pdf, 239Kb] 
Appendix [pdf, 140Kb] 
Acknowledgments [pdf, 204Kb]

Across the whale in a month (11): pausa para descanso, em Santa Barbara, CA...

Se eu tiver de aceitar dar aulas em alguma universidade americana, que seja na praia...
Ou melhor, em Santa Barbara, CA, quase perto de Los Angeles (100 milhas, apenas).
Não por Los Angeles, nem pela praia, que eu não me inclino por nenhuma das duas.
Apenas porque Santa Barbara é um lugar extremamente agradável, onde se pode espairecer, no melhor clima da California.
Bem, vamos a coisas mais sérias...
Depois de termos feito uma visita à missão de Carmel, no dia de ontem, nesta sexta-feira visitamos a missão de Santa Barbara, a única que escapou de uma campanha de laicização, depois que o México se tornou independente e deu para enfrentar um dos demônios de sua história (um outro, tão grande quanto a Igreja, esteve representado pelo Império, obviamente). Belo passeio, também, devidamente registrado, ambos, fotograficamente, por Carmen Lícia, muito mais competente do que eu nessas artes de fixar imagens.

Aliás, o dia de ontem teve mais coisas do que simplesmente visitar a Missão de Carmel. Estivemos no Centro Steinbeck, como já referi anteriormente, e depois fomos almoçar na sua antiga casa, como reproduzida aqui neste menu do restaurante.

Na bookshop do Centro Steinbeck, compramos mais algumas lembranças, e livros, obviamente.
Carmen Lícia está lendo Travels with Charlie, que relata o coast to coast que o escritor fez numa camionete adaptada como pequena casa, na companhia de seu terrier francês no início dos anos 1960, logo depois de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura.
Eu comprei A Journey Into Russia, o relato da viagem que o escritor fez à então União Soviética de um Stalin triunfante, na companhia do fotógrafo Robert Capa, que ilustrou os contatos (difíceis) que tiveram com o povo russo (e ucraniano).

Depois viemos a Santa Barbara, mas chegamos tarde, e só conseguir dar um passeio noturno pela cidade, para localizar os lugares visitáveis.
Foi o que fizemos durante esta jornada de sexta-feira.
Pela manhã, visita ao Museu Marítimo, no porto, com belas coleções e um excelente filme sobre a localização do Titanic, e filmagem interna no barco submergido a 4 mil metros no Atlântico norte.
Depois, almoço no Wine Bistro, da State Street, a principal da cidade, com registrado nesta segunda foto gastronômica. Nada de excepcional, pois foi apenas um lanche rápido: Carmen Lícia atacou de salada grega com camarões, e eu pedi uma simples focaccia caprese, com salada igualmente. Mais interessante foram os dois Chardonnays que pedimos, ambos da região, mas de vinhedos distintos.

Depois fomos ao museu de arte (especialmente para ver os impressionistas franceses da coleção do milionário Armand Hammer, que era amigo de Lênin, ou pelo menos se aproximou do bolchevique para poder explorar o petróleo russo, na época soviético). Também tinha uma bela coleção de arte asiática, devidamente fotografada por Carmen Lícia.
Do museu de arte fomos, aí sim, à Missão de Santa Barbara, muito bem preservada como museu, mas com igreja ainda funcionando regularmente.
Agora pela noite, provavelmente mais turismo gastronômico, com um restaurante italiano em vista...
Sim, aceito algum convite para dar aulas em Santa Barbara, pelo menos nos bons meses da primavera e do outono...
Paulo Roberto de Almeida
Santa Barbara, 27/09/2013

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Lulo-petismo ANALFABETIZA o Brasil: estrito e lato senso...

Sim, eles conseguem ser piores do que a encomenda.
Em matéria de analfabetismo são campeões: não apenas contribuem para o embrutecimento da população em geral, deseducando brasileiros do jardim da infância à pós-graduação -- com suas mentiras e propaganda enganosa, bem como com todo o besteirol ideologicamente motivado -- como também estão aumentando, literalmente, o número absoluto e relativo de analfabetos no país.
Nunca antes isso havia acontecido, ou talvez sim, mais de cem anos atrás, quando a população cresceu rapidamente, mas não as oportunidades educacionais: a consequência foi o aumento do número e da proporção de analfabetos no país. Mas, nos últimos 80 anos, a proporção vinha decrescendo gradualamente, e o processo se acelerou no odiado regime tucanês, quando as taxas de matrículas, em diversos níveis, se expandiram rapidamente. Não mais no maravilhoso regime do nunca-antes: eles conseguiram fazer o Brasil recuar também nesse vetor que bastava manter constância nas políticas que tinham sido criadas pelo ancien régime tucanês.
Os petralhas se superam: mais um pouco conseguem fazer o Brasil reverter à idade da pedra lascada...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 27/09/2013

O Brasil teve um grande ministro da Educação. Seu nome: Paulo Renato Souza. Foi, mais de uma vez, alvo da máquina de destroçar reputações criada pelo PT, por intermédio, no caso, de seu braço sindical. Em junho de 2011, por ocasião de sua morte, escrevi aqui um post sobre os números da educação brasileira, desfazendo alguns mitos. O décimo item da minha lista era este, que reproduzo na íntegra (em azul):
“10 – Cresceu o número de analfabetos no país sob o governo Lula – e eu não estou fazendo graça ou uma variante do trocadilho. Os números estão estampados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE. No governo FHC, a redução do número de analfabetos avançou num ritmo de 0,5% ao ano; na primeira metade do governo Lula, já caiu a 0,35% – E FOI DE APENAS 0,1% ENTRE 2007 E 2008. Sabem o que isso significa? Crescimento do número absoluto de analfabetos no país. Fernando Haddad sabe que isso é verdade, não sabe? O combate ao analfabetismo é uma responsabilidade federal. Em 2003, o próprio governo lançou o programa ‘Brasil Alfabetizado’ como estandarte de sua política educacional. Uma dinheirama foi transferida para as ONGs sem resultado – isso a imprensa noticiou. O MEC foi deixando a coisa de lado e acabou passando a tarefa aos municípios, com os resultados pífios que se veem.”
Retomo
É isso aí. Com base nos dados no PNAD, apontei, então, que caía o ritmo da redução de analfabetos, o que estava a indicar o constante aumento do número absoluto de analfabetos. Mantida a tendência, é claro que acabaria acontecendo o que agora se verifica: haveria um aumento da taxa — pela primeira vez em 15 anos. É matemática, não tem jeito. Os “companheiros” podem até achar que essa ciência só existe para sabotar seus propósitos, mas a gente sabe que não é assim.
O dado, que reproduzi no texto de novembro de 2011, já estava num artigo que escrevi em agosto de 2010. Três anos depois, o fatal acontece.
Notem: quando, então, naquele agosto de 2010, apontei que havia a tal redução da queda do analfabetismo, eu não o fazia porque, afinal de contas, não comungo — e não comungo mesmo, com todo o direito que tenho! — dos valores petistas (ou da falta deles). Eu o fiz porque era um dado da realidade, haurido dos números oficiais.
Alguns abestalhados acharam que se tratava apenas de má vontade, uma forma de negar os formidáveis avanços obtidos pelos companheiros na educação. Já então Fernando Haddad estava sendo treinado para vir a ser um “líder” no petismo. Deu no que deu. Imaginem o escândalo que não se faria nas redes sociais e na máquina de propaganda das esquerdas e assemelhados se uma reversão dessa natureza tivesse se dado num governo tucano.
Analfabetismo universitário
No ano passado, a ONG Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro divulgaram dados sobre o Alfabetismo Funcional (Inaf) segundo a escolaridade. O quadro é este.

Em 2001/2002, 2% dos alunos universitários tinham apenas rudimentos de escrita e leitura. Em 2010, essa porcentagem havia saltado para 4%. Vale dizer: 254.800 estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos. Espantoso? Em 2001/2002, 24% não eram plenamente alfabetizados. Um número já escandaloso. Em 2010, pularam para 38%. Isso quer dizer que 2.420.600 estudantes do terceiro grau não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza. É o que se espera de um aluno ao concluir o… ensino fundamental!
Concluo
Sim, meus caros, o diabo é invariavelmente mais feio do que se pinta — ou não seria o diabo, mas outra coisa de menor malignidade. Aquela taxa lá do alto, que aumentou, é do analfabetismo mesmo, a parte do Brasil que forma a sociedade ágrafa. Caso se leve em consideração o analfabetismo funcional, aí é que a gente se defronta com uma parte do Brasil real que o discurso ufano-triunfalista esconde.
Nas democracias convencionais, exemplos escandalosos de ineficiência, como o que se vê acima, costumam ser levados para as campanhas eleitorais. É o certo. “Você prometeu fazer e não fez etc.” É um direito da sociedade confrontar intenções com gestos. No Brasil jabuticaba, como tenho tratado aqui há tempos, não só inexiste um grande partido conservador que seja alternativa de poder (única democracia da Terra com essa característica) como inexistem forças políticas capazes de fazer essa cobrança. Ao contrário: todas as campanhas eleitorais, da oposição ou da situação, exploram o Brasil grande, o Brasil que vai pra frente, o ninguém segura este país.
Algumas drogas perigosas atentam contra o nosso futuro: o ufanismo sem lastro é uma delas.

Quando apontei a redução do ritmo da queda de analfabetismo, algo deveria ter sido feito. Já estaria dando resultado. E deveria não porque fui eu a apontar, claro!, mas porque eram números extraídos de dados oficiais. Mas quê… Fernando Haddad saltou do Ministério da Educação (“o melhor ministro da história destepaiz”, segundo Lula) para a Prefeitura de São Paulo. Ele tinha uma grande tarefa a cumprir: prometer o Arco do Futuro e, no presente, devolver o Centro de São Paulo aos traficantes e consumidores de crack. “O que uma coisa tem a ver com outra?” Só estou evidenciando como o processo político brasileiro, por um conjunto de razões que não cabem neste artigo, premia a ineficiência. 

Yale: perigosa para jornalistas? Apenas na Faculdade de Direito...

Estive dando uma palestra na Law School da Universidade de Yale duas semanas atrás. Havia segurança para o controle de visitantes externos, mas nada excepcional.
Aparentemente, a peesença de ilustres presidentes de supremas cortes provocou esse excesso de zelo, provavelmente dos dois lados, da jornalista do Estadão, e do segurança da Universidade, que deve ter chamado um policial.  Alguns policiais podem ser perfeitamente trogloditas, mas a maioria é muito bem educada, desde que se cumpra suas instruções...
Consultaram-me sobre esse caso por telefone, desde Washington, mas eu estava, como estou, a 3 mil milhas de distância, na California. Forneci os contatos que tinha na Law School, mas foi tudo...
PRA

Correspondente do 'Estado' é presa e algemada em Yale (EUA)

Destacada para cobrir a visita do ministro Joaquim Barbosa, que fazia uma conferência na universidade, a jornalista foi autuada por 'invasão de propriedade privada', segundo a polícia

27 de setembro de 2013 
O Estado de S. Paulo
A correspondente do Estado em Washington, Cláudia Trevisan, foi detida nesta quinta-feira, 26, na Universidade Yale, uma das mais respeitadas dos Estados Unidos, enquanto tentava localizar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que fazia uma conferência no local. A jornalista foi algemada e mantida incomunicável por quase cinco horas, inicialmente dentro de um carro policial e depois em uma cela do distrito policial de New Haven, cidade onde fica a universidade. Sua liberação ocorreu apenas depois de sua autuação por "invasão de propriedade privada".
O caso foi acompanhado pelo Itamaraty, em Brasília, e especialmente pela embaixada brasileira em Washington e pelo consulado em Hartford, Connecticut, que colocou à disposição da jornalista seu apoio jurídico. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, estava em Nova York e foi informado por assessores sobre o incidente. Claudia, pouco antes de ser presa, pudera informar um diplomata da embaixada brasileira por telefone.
Claudia Trevisan é correspondente do Estado em Washington desde o final de agosto. Nos últimos cinco anos, atuara em Pequim, na China, onde foi também diretora da Associação de Correspondentes Estrangeiros. Por outros meios de comunicação brasileiros, havia trabalhado como correspondente em Buenos Aires e em Pequim.
"Eu não invadi nenhum lugar", declarou ela, ao mostrar-se indignada pela acusação policial e por sua prisão."Passei cinco anos na China, viajei pela Coreia do Norte e por Mianmar e não me aconteceu nada remotamente parecido com o que passei na Universidade de Yale", completou nesta quinta-feira, 26, ainda abalada.
A jornalista havia sido destacada para cobrir a visita do ministro Joaquim Barbosa à Universidade Yale, onde participaria do Seminário Constitucionalismo Global 2013. Ela trocara e-mails com a assessora de imprensa da Escola de Direito da universidade, Janet Conroy, que lhe informara ser o evento fechado à imprensa. Claudia aquiesceu, mas disse que, por dever de ofício, esperaria pelo ministro do lado de fora do Woolsey Hall, o auditório onde se daria o seminário.
Ela também havia conversado previamente, por telefone celular, com o próprio ministro Barbosa, a quem solicitou uma entrevista. Barbosa disse que não estava disposto a falar com a imprensa. Claudia, então, informou o presidente do STF que o aguardaria e o abordaria do lado de fora do prédio.
Portas abertas. O prédio é percorrido constantemente por estudantes e funcionários da universidade e por turistas. Suas portas estavam abertas às 14h30 de quinta-feira. Claudia ingressou e, na tentativa de confirmar se o evento se daria ali, dirigiu-se ao policial DeJesus, em guarda no primeiro andar. Ele pediu para Claudia acompanhá-lo. No piso térreo do prédio, a pedido do policial, Claudia forneceu seu endereço em Washington, telefone e passaporte. Ao alcançarem a calçada, do lado de fora do prédio, DeJesus recusou-se a devolver seu documento.
"Nós sabemos quem você é. Você é uma repórter, temos sua foto. Você foi avisada muitas vezes que não poderia vir aqui", disse o policial, segundo relato de Claudia Trevisan, para em seguida agregar que ela seria presa.
Algemas. O processo de prisão teve uma sequência não usual nos EUA. Os argumentos de Claudia não foram considerados pelo policial. Na calçada, ele a algemou com as mãos nas costas e a prendeu dentro do carro policial sem a prévia leitura dos seus direitos. Ela foi mantida ali por uma hora, até que um funcionário do gabinete do reitor da Escola de Direito o autorizou a conduzi-la à delegacia da universidade, em outro carro, apropriado para o transporte de criminosos.
Na delegacia, Claudia foi revistada e somente teve garantido seu direito a um telefonema depois de quase quatro horas de prisão, às 21h20. O chefe de polícia, Ronnell A. Higgins, registrou a acusação de "transgressão criminosa". Ela deverá se apresentar no próximo dia 4 diante de um juiz de New Haven.
Estado manifestou hoje sua indignação à Escola de Direito da Universidade Yale pela prisão arbitrária de sua correspondente em Washington. Solicitou também respostas a cinco perguntas pontuais sobre o episódio e seu acesso às imagens de câmeras de segurança do prédio de Woolsey Hall, para comprovar o fato de Claudia ter obedecido as instruções do policial. A resposta dessa instituição está sendo aguardada.

Confira as perguntas cujas respostas são aguardadas pelo 'Estado':
Em virtude dos infelizes fatos ocorridos, O Estado de S. Paulo gostaria de obter, nesta sexta-feira, de preferência, alguns esclarecimentos da Escola de Direito da Universidade Yale:
1. Quais foram - especificamente - as instruções recebidas pelo policial DeJesus antes do evento, com relação ao tratamento dado ao jornalistas?
2. Por que a jornalista Cláudia Trevisan foi presa por 'invasão de propriedade privada' se ela não estava no interior de um prédio privado naquele momento, não resistiu às instruções dadas pelo policial DeJesus e não foi agressiva?
3. Qual é o nome do oficial que deu ao policial DeJesus a permissão para conduzir a jornalista Cláudia Trevisan ao distrito policial e processá-la? Por que ele fez isso?
4. O ministro Joaquim Barbosa deu alguma instrução à faculdade de Direito ou para pessoas da organização do evento de como tratar a imprensa?
5. O mesmo procedimento foi usado antes pela Faculdade de Direito em outros episódios parecidos.

Estado gostaria de ter acesso à cópia do vídeo feito pelas câmeras de segurança, capturadas equipamentos instalados no ambiente interno e externo do prédio, com imagens dos movimentos da jornalista.

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Correspondente brasileira é detida nos Estados Unidos
Jornalista Cláudia Trevisan foi algemada enquanto esperava pelo presidente do STF
DE SÃO PAULO
Folha de S.Paulo. 27/09/2013
A jornalista brasileira Cláudia Trevisan, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" em Washington, foi presa anteontem nos Estados Unidos enquanto esperava pelo fim de uma palestra do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na Universidade Yale, na cidade de New Haven.
Trevisan ficou detida por algumas horas e foi liberada no mesmo dia. Ela foi autuada por "transgressão criminosa". O Itamaraty foi acionado pela Embaixada em Washington e pelo consulado em Hartford. Segundo a assessoria do órgão, a jornalista receberá assistência jurídica. O "Estado" manifestou indignação à Universidade Yale.
Segundo o "Estado", Trevisan não invadiu nenhuma parte da universidade. Ela teria avisado a assessora de imprensa da Escola de Direito da instituição, além do próprio Joaquim Barbosa, que o aguardaria do lado de fora do prédio para entrevistá-lo.

A reportagem da Folha, que também estava na universidade para falar com Barbosa, se identificou e foi alertada de que a conferência seria fechada e de que a mídia não poderia entrar. A reportagem foi escoltada por um policial até a rua e recebeu o aviso de que seria presa caso tentasse entrar no prédio. Ficou esperando na porta.

Fome Zero petralha tem zero comida, mas desvia milhoes de reais para ospetralhas

A gente quase se acostuma com a roubalheira dos companheiros. Para onde quer que olhe, se cavar um pouco, não dá minhoca, mas sempre se descobre uma roubalheira petralha. Impressionante a vocação dessa turma: parece que se prepararam anos e anos, duas décadas pelo menos, para sentar e começar a roubar. Mas tem os que roubam de pé mesmo, ou andando, outros até dormindo...
Nunca antes na história do Brasil tínhamos atravessado essas sete pragas: gafanhotos, ratazanas, cupins, vampiros, sanguessugas, saúvas (freireanas), mosquitos, varejeiras, cri-cris, piolhos, pulgas, serpentes, víboras, hienas... Ops! Tem mais de sete? É assim mesmo...
E ainda não atravessamos?
Estamos em pleno domínio das pragas companheiras?
Quem poderá nos salvar? 
O Chapolim Colorado?
Paulo Roberto de Almeida

Operação Agro-Fantasma

Ministro da Agricultura determina afastamento de diretor da Conab

Silvio Porto é suspeito de envolvimento com quadrilha que desviava recursos do Fome Zero; Porto ficará fora do cargo até a conclusão das investigações

Veja.com, 27/09/2013
Hugo Marques, de Brasília
Silvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Conab
Porto ficará afastado até o fim das investigações (Elza Fiúza/ABr)
O ministro da Agricultura, Antonio Andrade, determinou nesta sexta-feira o afastamento temporário do diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto. Ele ficará fora do cargo até a conclusão das investigações sobre um esquema de corrupção desmontado nesta semana Polícia Federal (PF). Porto, vinculado ao PT, é suspeito de envolvimento com uma quadrilha que desviava recursos do Fome Zero. A decisão foi tomada em uma reunião entre o ministro e o presidente da Conab, Rubens Rodrigues dos Santos.
A Operação Agro-Fantasma, como o próprio nome diz, detectou que o Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA, é em grande parte uma simulação de produção e de entrega de alimentos. Os produtos não existem, compradores e vendedores não existem, mas o dinheiro existe. Para desviar os recursos públicos, a Conab autorizava repasses para associações e cooperativas rurais, o grande público que vota no PT no campo, utilizando nomes de produtores rurais e notas fiscais frias e superfaturadas.  
“A Conab sabia das irregularidades e fazia relatórios falsos para continuar distribuindo dinheiro do programa”, diz o delegado Maurício Todeschini, que coordenou a operação. “Os coordenadores do programa nos municípios eram os principais responsáveis pelos desvios, com a conivência da Conab no acobertamento das irregularidades”.
Um batalhão de 200 policiais cumpriu 92 mandados no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul para recolher documentos, prender onze pessoas e indiciar 58 envolvidos com as fraudes. Assim que os agentes encerraram a operação, começaram a receber denúncias de desvios envolvendo a Conab em Sergipe e na Bahia. Silvio Porto não foi preso, mas teve de ir à Superintendência da PF em Brasília para dar explicações. Na ocasião, alegou que não tinha tido acesso às investigações que posteriormente daria satisfações.
Há dez anos, o presidente Lula lançou o PAA, um dos braços do programa Fome Zero para levar alimentos às comunidades pobres. Os produtos são comprados pela Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, e doados a entidades assistenciais, restaurantes populares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias. Lula escolheu pessoalmente, em janeiro de 2003, o principal responsável pelos programas sociais da Conab, o diretor Silvio Porto.
Petista do Rio Grande do Sul, homem de confiança da presidente Dilma Rousseff e do ministro Gilberto Carvalho, Silvio administrava mais de 1 bilhão de reais por ano em compras que são feitas sem licitação e quase sem nenhum controle. O PAA ajudou na escolha de José Graziano da Silva para a diretoria-geral da FAO, a agência da ONU para agricultura e alimentação. O programa também serviu para neutralizar a ação de muitos movimentos sociais, pois os sem-terra estão entre os beneficiários, seja recebendo comida enquanto acampados ou vendendo ao governo quando assentados.
Investigação – A operação deflagrada pela Polícia Federal na semana passada mostrou que boa parte do dinheiro do programa foi desviada. Os investigadores que acompanharam a ação acreditam que as fraudes tenham surrupiado mais de 30% de todo o dinheiro do programa, que movimentou 5 bilhões de reais em dez anos.
A PF fez um trabalho detalhado em quinze municípios paranaenses e outros dois municípios de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Os agentes visitaram as propriedades que supostamente teriam sido beneficiadas com uma boa parcela dos bilhões administrados por Silvio Porto. Há o caso de um pequeno pecuarista que teria vendido grande quantidade de leite para a Conab. Quando os policiais chegaram lá, o pecuarista desmentiu que tenha vendido leite para o órgão e disse que tem apenas um boi, um bezerro e uma vaca que há muito tempo não dá leite.
Há o caso também de outro agricultor que a Conab diz ter comprado produtos. O agricultor ficou preocupado com a versão dos agentes e pediu que não alardeassem que ele tinha tanta produção em sua propriedade, com medo de sua mulher desconfiar que fosse rico e tivesse outra propriedade e outra família. “O agricultor disse que não tinha comida nem para botar na mesa para a família e a Conab insistia que ele vendia sua produção para o governo”, diz um dos investigadores.
A PF conseguiu localizar a assinatura de Silvio Porto em negócios autorizados com associações reincidentes nas fraudes.
Confiança – Silvio Porto goza de tanta confiança das autoridades do governo que não perdeu o cargo na semana passada, quando a Conab afastou outros sete funcionários envolvidos com as fraudes. Mas foi indiciado nos crimes de peculato culposo, prevaricação, formação de quadrilha e estelionato. E só ele poderá dar explicações, pois Porto tinha total controle sobre sua área na Conab.
Como diretor de Política Agrícola e Informações, Porto tinha a função de planejar, coordenar e acompanhar as políticas ligadas à agricultura familiar, tecnologia da informação, informações agrícolas de abastecimento, análise de mercado, geração de estudos agrícolas e formação de estoques.
A Conab tem um presidente e quatro diretores, mas Porto quase nunca dava satisfações ao colegiado sobre sua área específica. O poder dele na Conab é tão grande que ao longo da semana vários servidores do órgão foram proibidos de falar sobre a operação.
A Conab já foi alvo de inúmeros escândalos. No último, em 2011, o diretor Oscar Jucá, irmão do líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR), denunciou que a companhia era fatiada por PMDB e PTB e que havia esquema de corrupção na Conab. “Ali só tem bandido”, disse Oscar Jucá. Mas o que não se sabia ainda é que a fatia controlada pelo PT na Conab é talvez a que mais desvia dinheiro público.

"The Economist esta' errada!" (So' podia ser...) "Brasil e' um sucesso!"

Essas coisas não dá para apostar contra.
Só se aposta na reação, para acertar, claro...

Cenário

Dilma diz no Twitter que The Economist está 'desinformada'

Presidente defendeu sua administração afirmando que o Brasil é a terceira economia que mais cresceu no mundo no segundo trimestre

Veja.com, 27/09/2013
Em sessão solene do Congresso Nacional, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher entrega o relatório final à presidente da República, Dilma Rousseff, e homenageia a Lei Maria da Penha
No Twitter, presidente rebate críticas da revista inglesa (Evaristo SA/AFP)
Depois de quase três anos de silêncio, a presidente Dilma Rousseff voltou a postar nesta sexta-feira em sua conta oficial na rede de microblog Twitter. Ela aproveitou a rede social para responder à revista inglesa The Economist, que, em reportagem de capa desta semana alega que o país perdeu o rumo e questiona a capacidade de Dilma em recuperar a economia brasileira: "Eles (The Economist) estão desinformados. O dólar estabilizou, a inflação está sob controle e somos o único grande país com pleno emprego".
Dilma continuou na defesa de sua administração: "Somos a terceira economia que mais cresceu no mundo no segundo trimestre. Quem aposta contra o Brasil, sempre perde". A presidente também falou sobre o programa Mais Médicos: "Respeito muito os médicos brasileiros, mas traremos médicos de onde pudermos. Importante é atender melhor a população", disse.
(com Estadão Conteúdo)


Jose Mujica na ONU: um duscurso economicamente ingenuo, mas sincero

Comentário inicial de Mauricio David:

O discurso do presidente do Uruguai, José (Pepe) Mujica na Assembléia da ONU: “Sim, é possível uma humanidade melhor” - deixa os brasileiros morrendo de inveja...
José Mujica é um presidente sui-generis na nossa América Latina, quiçá no mundo. Homem modesto, preferiu deixar de viver no Palácio Presidencial, em Montevidéu, para continuar a viver em sua pequena e modesta chácara nas cercanias de Montevidéu, junto da sua companheira de décadas, atualmente Senadora da República.  Guarda presidencial ? Dois ou três policiais apenas... Enquanto isto, no Brasil... Os presidentes circulam com um imenso séquito de carros de segurança, carro de bombeiros, ambulância, helicópteros sobrevoando o cortejo... Quando eu trabalhava no BNDES, vi diversas vezes a chegada destes cortejos quando o Lula ou a Dilma vinham a alguma cerimônia no Banco. Parecia o Palácio de Buckinghan circulando sobre rodas...E até o Vice José Alencar ( embora apenas Vice...) circulava com um cortejo assim... Que desperdício de recursos públicos, quanta ostentação...
Enquanto o presidente Mujica abandona os palácios e vai viver em sua modesta casa de campo, aqui no Brasil a nossa Presidenta convida uma tia para viver no Alvorada... A nossas custas...Sem contar a sua filha Paula que pega uma carona em suas viagens presidenciais, especialmente quando são para Roma, Nova York e outros lugares interessantes... Quem fica tomando conta do pequeno Gabriel ? Certamente não o avô Carlos Araújo...
Depois do vexaminoso discurso da Dilma na Assembléia Geral da ONU, lendo com gestos de atriz de teatro mambembe um discurso mal alinhavado, que inveja nos dá poder ler o belo discurso do Pepe Mujica na mesma reunião... Ter um bom Presidente faz toda a diferença...
Transcrição do discurso do presidente Pepe Mujica na ONU :

Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de intercâmbios funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferências e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negatica e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os gobernos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra cuando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso “nós”.
Gracias.