Recebido da Belgica:
Lettre d'information du CEVIPOL du 25/05/2009
CEVIPOL's Newsletter of 2009-05-25
Bonjour,
A l'occasion des élections européennes qui auront lieu du 4 au 7 juin 2009, le CEVIPOL vous propose de suivre l’actualité de la campagne électorale dans les différents Etats membres de l’UE. Chaque semaine, les articles traitant des élections européennes vous sont résumés sur notre site Int ernet. Plusieurs quotidiens nationaux ont été sélectionnés pour chacun des 22 pays observés.
Pour accéder au dossier spécial « Elections européennes 2009 », cliquez-ici
Pour de plus amples informations, vous pouvez contacter les coordinateurs de
ce projet collectif :
Nathalie BRACK
Yann-Sven RITTELMEYER
Cristina STANCULESCU
CEVIPOL - Centre d'étude de la vie politique
www.cevipol.be - cevipol@ulb.ac.be
Avenue F.D. Roosevelt, 39 - B-1050 Bruxelles - Belgique
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 24 de maio de 2009
1116) Producao cientifica no Brasil: os numeros e a realidade
Transcrevo, em primeiro lugar, um boletim oficial quanto ao aumento da produção científica no Brasil. Depois apresentarei alguns comentários.
Produção científica cresce 56% no Brasil
O Brasil alcançou na 13ª posição na classificação mundial em produção científica em 2008 e ultrapassou a Rússia (15ª) e a Holanda (14ª). De 19.436 artigos em 2007, essa produção subiu para 30.451 publicações no ano passado, crescimento de 56%. Os dados são do National Science Indicators, base de dados estatísticos sobre pesquisa e ciência que reúne dados atualizados de mais de 180 países.
Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o resultado alcançado pelo Brasil se deve, entre outros fatores, ao aumento no orçamento das universidades federais; à ampliação do número de mestres e doutores no Brasil e ao crescimento no número de bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“O indicador mostra o esforço nacional e o vigor das universidades federais”, disse o ministro. Haddad afirmou, que, se a produção científica brasileira mantiver o ritmo de crescimento, o País poderá estar, dentro de pouco tempo, entre os dez maiores produtores de conhecimento científico do mundo.
Estados Unidos, China, Alemanha, Japão e Inglaterra são os cinco primeiros colocados no ranking, seguidos da França, Canadá, Itália, Espanha, Índia, Austrália e Coréia do Sul. Com o aumento registrado na produção científica em 2008, o Brasil passa a contribuir com 2,12% dos artigos de todos países monitorados pela base de dados.
Portal - Outro fator que contribui para o a boa colocação do Brasil no ranking é o acesso livre ao conhecimento gerado mundialmente, oferecido pelo Portal de Periódicos: www.periodicos.capes.gov.br.
Quando foi criado, em 2000, o portal contava com 1,8 mil títulos. Em 2009, são 13 mil periódicos, 126 bases de dados referenciais e seis bases dedicadas exclusivamente a patentes.
Nesse período, o número de consultas ao portal passou de 1.735.606 acessos às bases de texto completo e 1.287.545 às bases referenciais para 21.111.922 textos completos baixados e 39.591.556 pesquisas aos abstracts (resumos) oferecidos pelas bases referenciais, o que totaliza 60.703.478 acessos ao conteúdo assinado.
Cresceu também o número de instituições que fazem pesquisas no portal - de 72, em 2001, para 268 em 2009. A intenção da instituição é incentivar ainda mais a internacionalização da pesquisa brasileira por meio de acordos com editoras para permitir o livre acesso no mundo a artigos científicos publicados por autores brasileiros.
Capes - Criada em 1951, a Capes é uma autarquia do Ministério da Educação que cumpre papel estratégico na qualidade da educação superior e na formação de mestres e doutores. Em 2007, a Capes passou a investir também na formação de professores da educação básica (educação infantil e ensinos fundamental e médio). O aumento do número de doutores e mestres é uma das prioridades da política nacional de educação e de ciência e tecnologia do governo federal.
Comentários PRA:
Esse tipo de atitude auto-congratulatoria com os pretensos progressos da pesquisa cientifica no Brasil é totalmente mistificador da verdadeira realidade da pesquisa cientifica no Brasil, uma especie de auto-engano coletivo.
Os dados se referem ao volume (portanto quantitativo) de artigos supostamente "cientificos" publicados em veiculos especializados, a vasta maioria dos quais nacionais, e de faculdades nao preciso lembrar.
Ora, quem conhece o ambiente universitario brasileiro, sobretudo e especialmente (desculpem a redundancia) a area de humanidades, sabe muito bem que mais da metade dessa pretensa producao academica, que nao tem nada de cientifica, sequer seria considerada por revistas cientificas serias, com selecao rigorosa dos publicaveis com base em criterios de "blind evaluation".
Como a Capes comecou a pontuar esse tipo de "coisa" (desculpem mas o termo se aplica), ocorreu uma corrida nas faculdades para a "edicao" de revistas, com equipes editoriais na base do compadrio e a publicacao quase sem nenhuma avaliacao de conteudo ou de qualidade.
No mundo cientifico, o que vale, realmente, sao os citation indexes, que coleta a "produtividade" de um artigo a partir de sua citacao por outros pesquisadores, o que aproxima um pouco mais a producao do seu valor substantivo.
O resto é transpiracao de quem precisa de pontos nos sistemas brasileiros de avaliacao, muito pouco rigorosos...
Nao querendo ofender ninguem, eu diria que povo com cultura cientifica boa é povo com Premios Nobel (ainda que seus criterios possam ser questionaveis em determinados aspectos) e povos com muitas patentes produzidas.
O Brasil nao tem absolutamente nada nos dois criterios...
Produção científica cresce 56% no Brasil
O Brasil alcançou na 13ª posição na classificação mundial em produção científica em 2008 e ultrapassou a Rússia (15ª) e a Holanda (14ª). De 19.436 artigos em 2007, essa produção subiu para 30.451 publicações no ano passado, crescimento de 56%. Os dados são do National Science Indicators, base de dados estatísticos sobre pesquisa e ciência que reúne dados atualizados de mais de 180 países.
Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o resultado alcançado pelo Brasil se deve, entre outros fatores, ao aumento no orçamento das universidades federais; à ampliação do número de mestres e doutores no Brasil e ao crescimento no número de bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“O indicador mostra o esforço nacional e o vigor das universidades federais”, disse o ministro. Haddad afirmou, que, se a produção científica brasileira mantiver o ritmo de crescimento, o País poderá estar, dentro de pouco tempo, entre os dez maiores produtores de conhecimento científico do mundo.
Estados Unidos, China, Alemanha, Japão e Inglaterra são os cinco primeiros colocados no ranking, seguidos da França, Canadá, Itália, Espanha, Índia, Austrália e Coréia do Sul. Com o aumento registrado na produção científica em 2008, o Brasil passa a contribuir com 2,12% dos artigos de todos países monitorados pela base de dados.
Portal - Outro fator que contribui para o a boa colocação do Brasil no ranking é o acesso livre ao conhecimento gerado mundialmente, oferecido pelo Portal de Periódicos: www.periodicos.capes.gov.br.
Quando foi criado, em 2000, o portal contava com 1,8 mil títulos. Em 2009, são 13 mil periódicos, 126 bases de dados referenciais e seis bases dedicadas exclusivamente a patentes.
Nesse período, o número de consultas ao portal passou de 1.735.606 acessos às bases de texto completo e 1.287.545 às bases referenciais para 21.111.922 textos completos baixados e 39.591.556 pesquisas aos abstracts (resumos) oferecidos pelas bases referenciais, o que totaliza 60.703.478 acessos ao conteúdo assinado.
Cresceu também o número de instituições que fazem pesquisas no portal - de 72, em 2001, para 268 em 2009. A intenção da instituição é incentivar ainda mais a internacionalização da pesquisa brasileira por meio de acordos com editoras para permitir o livre acesso no mundo a artigos científicos publicados por autores brasileiros.
Capes - Criada em 1951, a Capes é uma autarquia do Ministério da Educação que cumpre papel estratégico na qualidade da educação superior e na formação de mestres e doutores. Em 2007, a Capes passou a investir também na formação de professores da educação básica (educação infantil e ensinos fundamental e médio). O aumento do número de doutores e mestres é uma das prioridades da política nacional de educação e de ciência e tecnologia do governo federal.
Comentários PRA:
Esse tipo de atitude auto-congratulatoria com os pretensos progressos da pesquisa cientifica no Brasil é totalmente mistificador da verdadeira realidade da pesquisa cientifica no Brasil, uma especie de auto-engano coletivo.
Os dados se referem ao volume (portanto quantitativo) de artigos supostamente "cientificos" publicados em veiculos especializados, a vasta maioria dos quais nacionais, e de faculdades nao preciso lembrar.
Ora, quem conhece o ambiente universitario brasileiro, sobretudo e especialmente (desculpem a redundancia) a area de humanidades, sabe muito bem que mais da metade dessa pretensa producao academica, que nao tem nada de cientifica, sequer seria considerada por revistas cientificas serias, com selecao rigorosa dos publicaveis com base em criterios de "blind evaluation".
Como a Capes comecou a pontuar esse tipo de "coisa" (desculpem mas o termo se aplica), ocorreu uma corrida nas faculdades para a "edicao" de revistas, com equipes editoriais na base do compadrio e a publicacao quase sem nenhuma avaliacao de conteudo ou de qualidade.
No mundo cientifico, o que vale, realmente, sao os citation indexes, que coleta a "produtividade" de um artigo a partir de sua citacao por outros pesquisadores, o que aproxima um pouco mais a producao do seu valor substantivo.
O resto é transpiracao de quem precisa de pontos nos sistemas brasileiros de avaliacao, muito pouco rigorosos...
Nao querendo ofender ninguem, eu diria que povo com cultura cientifica boa é povo com Premios Nobel (ainda que seus criterios possam ser questionaveis em determinados aspectos) e povos com muitas patentes produzidas.
O Brasil nao tem absolutamente nada nos dois criterios...
1115) Acao afirmativa nos EUA: o debate politico e juridico
O artigo abaixo foi publicado em 2008, mas conserva toda a sua atualidade, não apenas em torno da complexidade do debate jurídico e social ocorrendo nas instâncias governamentais e no âmbito da opinião pública dos EUA sobre a questão das cotas raciais nas universidades, mas ele também pode ajudar a iluminar um pouco esse debate (tão pobre) que ocorre no Brasil.
Op-Ed Contributor
Affirmative Distraction
By STEPHEN L. CARTER
New York Times, July 6, 2008
THIRTY years ago last week, the Supreme Court handed down its Bakke decision, hoping to end the argument over the constitutionality of affirmative action in college admission. But with hindsight, it’s clear that the justices mainly helped hasten the end of serious discussion about racial justice in America. As they set the stage for a lasting argument over who should get into college, the wound of race continued to fester, unhealed, and our politics moved on.
The ruling in Regents of the University of California v. Bakke was the court’s disorderly attempt in 1978 to bring some order to racially conscious admissions programs. The medical school of the University of California at Davis had set aside 16 spots for members of groups described as having been subjected to past discrimination.
(...)
Para ler a sequencia, veja este post de meu outro blog, Textos PRA:
426) Acao afirmativa nos EUA: o debate juridico e politico
Op-Ed Contributor
Affirmative Distraction
By STEPHEN L. CARTER
New York Times, July 6, 2008
THIRTY years ago last week, the Supreme Court handed down its Bakke decision, hoping to end the argument over the constitutionality of affirmative action in college admission. But with hindsight, it’s clear that the justices mainly helped hasten the end of serious discussion about racial justice in America. As they set the stage for a lasting argument over who should get into college, the wound of race continued to fester, unhealed, and our politics moved on.
The ruling in Regents of the University of California v. Bakke was the court’s disorderly attempt in 1978 to bring some order to racially conscious admissions programs. The medical school of the University of California at Davis had set aside 16 spots for members of groups described as having been subjected to past discrimination.
(...)
Para ler a sequencia, veja este post de meu outro blog, Textos PRA:
426) Acao afirmativa nos EUA: o debate juridico e politico
sexta-feira, 22 de maio de 2009
1114) Contra o Racismo e o Apartheid oficiais
Minha colaboração: transcrever um excelente artigo deste professor da UERJ:
-------------
Paulo Roberto de Almeida
COTAS E LOROTAS
Ubirataran Iorio
20/05/2009
http://www.ubirataniorio.org/blog.htm
Nestes dias em que nossos congressistas estão para votar o chamado “Estatuto da Igualdade Racial”, que deveria ser denominado de Estatuto da Desigualdade Instituída, reproduzo o artigo que publiquei no Jornal do Brasil em 9/7/2007:
“Há poucos dias, a Suprema Corte dos Estados Unidos, em decisão apertada – cinco votos contra quatro – desferiu um golpe letal no denominado princípio de ação afirmativa, ao decidir pela inconstitucionalidade do sistema de cotas étnicas em dois distritos: Seattle, no estado de Washington e Louisville, em Kentuky. Tal decisão deverá firmar jurisprudência, dando margem a ações judiciais contra as cotas, o que poderá pôr fim a essa prática. Entrementes, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o sistema de cotas acaba de ser aprovado...
Ações afirmativas são políticas que têm o objetivo de garantir o acesso à educação ou a empregos a grupos “historicamente não dominantes”, como as chamadas minorias - mulheres, homossexuais, negros e índios -, por meio de tratamentos preferenciais que os beneficiem, dos quais a imposição de cotas é um exemplo.
À época em que ocupava o cargo de diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, vi com preocupação o governo estadual impor, pela primeira vez no Brasil, cotas nos vestibulares da universidade, para candidatos afrodescendentes (dos quais a maioria - os mulatos - também são eurodescendentes!) e para os originários de escolas públicas. Meu ceticismo era motivado por diversas razões: não há constituição em qualquer sociedade que se preze que não abrace o princípio da igualdade perante a lei; reprimindo pessoas qualificadas em favor de pessoas não qualificadas, fere-se a meritocracia; trata-se de uma forma aberta de discriminação; é uma prática do coletivismo; ao gerar ressentimentos contra os beneficiados, incita ao racismo; sob o ponto de vista da economia, as cotas são claramente contra-produtivas; contribuem para piorar a já tão enfraquecida qualidade acadêmica; tenta-se combater injustiças “históricas” mediante novas injustiças e enfrentar discriminação com mais discriminação - olho por olho e dente por dente.
Apenas com a melhoria da educação básica - e não usando critérios de raça (sempre discutíveis), etnia ou sexo - é que seremos uma sociedade com mais igualdade de oportunidades! Isto é de uma clareza tão visível que é difícil acreditar existirem pessoas que não pensem assim! A luta deve ser por maior igualdade de oportunidades, ou seja, para que todos os cidadãos, indistintamente, tenham acessos semelhantes aos benefícios e que, mediante o esforço e a capacidade de cada um, possam deles usufruir. Não será lançando uns contra outros que construiremos uma grande nação!
O argumento de que as políticas afirmativas reparam “injustiças históricas” pode até ser bem intencionado, mas é uma bazófia que padece de impressionante falta de praticidade: muitos povos, historicamente, sofreram injustiças com guerras e outros flagelos, mas como consertá-las de forma “justa”? Babilônicos, assírios, sumérios, caldeus, amoritas, acádios, godos, visigodos, medos, celtas, samaritanos, cartagineses, etruscos, índios, negros, asiáticos, coríntios, efésios, hebreus e tantos outros... Se, por exemplo, algum remoto descendente de um cidadão da Esparta do general Leônidas fosse descoberto, seria “justo” obrigar um também longínquo descendente do exército de Xerxes da Pérsia a indenizá-lo por aquela injustiça “histórica”? Seria “justo” entregar a Alemanha para os judeus de hoje, a título de reparar os crimes hediondos de que seus pais, avós e bisavós foram vítimas? É “justo” contemplar descendentes de escravos negros com cotas, em detrimento de tataranetos de senhores de engenho, que nem conheceram? Quantas tribos foram massacradas por outras tribos, ainda na África? E quantos brancos, hoje, não serão descendentes distantes de escravos dos romanos ou atenienses, por exemplo?
Boas intenções, apenas, não bastam. Não se corrigem velhos erros com erros novos. A ação realmente afirmativa de que carece o país é uma boa educação para todos, sem qualquer distinção, e que premie o mérito. Basta de cotas e de lorotas!”
Se deixarmos o racismo invadir o Brasil, dividindo-o e agredindo a formação de nosso povo, vai ser muito difícil extirpá-lo mais tarde!
-------------
Paulo Roberto de Almeida
COTAS E LOROTAS
Ubirataran Iorio
20/05/2009
http://www.ubirataniorio.org/blog.htm
Nestes dias em que nossos congressistas estão para votar o chamado “Estatuto da Igualdade Racial”, que deveria ser denominado de Estatuto da Desigualdade Instituída, reproduzo o artigo que publiquei no Jornal do Brasil em 9/7/2007:
“Há poucos dias, a Suprema Corte dos Estados Unidos, em decisão apertada – cinco votos contra quatro – desferiu um golpe letal no denominado princípio de ação afirmativa, ao decidir pela inconstitucionalidade do sistema de cotas étnicas em dois distritos: Seattle, no estado de Washington e Louisville, em Kentuky. Tal decisão deverá firmar jurisprudência, dando margem a ações judiciais contra as cotas, o que poderá pôr fim a essa prática. Entrementes, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o sistema de cotas acaba de ser aprovado...
Ações afirmativas são políticas que têm o objetivo de garantir o acesso à educação ou a empregos a grupos “historicamente não dominantes”, como as chamadas minorias - mulheres, homossexuais, negros e índios -, por meio de tratamentos preferenciais que os beneficiem, dos quais a imposição de cotas é um exemplo.
À época em que ocupava o cargo de diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, vi com preocupação o governo estadual impor, pela primeira vez no Brasil, cotas nos vestibulares da universidade, para candidatos afrodescendentes (dos quais a maioria - os mulatos - também são eurodescendentes!) e para os originários de escolas públicas. Meu ceticismo era motivado por diversas razões: não há constituição em qualquer sociedade que se preze que não abrace o princípio da igualdade perante a lei; reprimindo pessoas qualificadas em favor de pessoas não qualificadas, fere-se a meritocracia; trata-se de uma forma aberta de discriminação; é uma prática do coletivismo; ao gerar ressentimentos contra os beneficiados, incita ao racismo; sob o ponto de vista da economia, as cotas são claramente contra-produtivas; contribuem para piorar a já tão enfraquecida qualidade acadêmica; tenta-se combater injustiças “históricas” mediante novas injustiças e enfrentar discriminação com mais discriminação - olho por olho e dente por dente.
Apenas com a melhoria da educação básica - e não usando critérios de raça (sempre discutíveis), etnia ou sexo - é que seremos uma sociedade com mais igualdade de oportunidades! Isto é de uma clareza tão visível que é difícil acreditar existirem pessoas que não pensem assim! A luta deve ser por maior igualdade de oportunidades, ou seja, para que todos os cidadãos, indistintamente, tenham acessos semelhantes aos benefícios e que, mediante o esforço e a capacidade de cada um, possam deles usufruir. Não será lançando uns contra outros que construiremos uma grande nação!
O argumento de que as políticas afirmativas reparam “injustiças históricas” pode até ser bem intencionado, mas é uma bazófia que padece de impressionante falta de praticidade: muitos povos, historicamente, sofreram injustiças com guerras e outros flagelos, mas como consertá-las de forma “justa”? Babilônicos, assírios, sumérios, caldeus, amoritas, acádios, godos, visigodos, medos, celtas, samaritanos, cartagineses, etruscos, índios, negros, asiáticos, coríntios, efésios, hebreus e tantos outros... Se, por exemplo, algum remoto descendente de um cidadão da Esparta do general Leônidas fosse descoberto, seria “justo” obrigar um também longínquo descendente do exército de Xerxes da Pérsia a indenizá-lo por aquela injustiça “histórica”? Seria “justo” entregar a Alemanha para os judeus de hoje, a título de reparar os crimes hediondos de que seus pais, avós e bisavós foram vítimas? É “justo” contemplar descendentes de escravos negros com cotas, em detrimento de tataranetos de senhores de engenho, que nem conheceram? Quantas tribos foram massacradas por outras tribos, ainda na África? E quantos brancos, hoje, não serão descendentes distantes de escravos dos romanos ou atenienses, por exemplo?
Boas intenções, apenas, não bastam. Não se corrigem velhos erros com erros novos. A ação realmente afirmativa de que carece o país é uma boa educação para todos, sem qualquer distinção, e que premie o mérito. Basta de cotas e de lorotas!”
Se deixarmos o racismo invadir o Brasil, dividindo-o e agredindo a formação de nosso povo, vai ser muito difícil extirpá-lo mais tarde!
1113) Twitter: para mim uma inutilidade
Depois que me inscrevi no Twitter (e não me perguntem por que fiz isso, pois não tenho a menor idéia), tenho recebido dezenas de mensagens como esta:
Hi, Paulo Almeida
[XXXX] has requested to follow your updates on Twitter!
A little information about [XXXX]:
Na mesma mensagem, o sistema avisa que eu tenho:
0 followers
0 updates
following 13 people
Since you protect your updates, you need to either approve or deny this request. You can do this by visiting http://twitter.com/friend_requests. For more information or help, please visit our help article
De fato, eu sou um fracasso nesse novo sistema interativo, do qual eu tinha vagamente ouvido falar como a nova moda, ou febre, interativa.
Pelo que percebi, as pessoas postam, como se fosse num mini-blog, pequenas notas sobre o que estão fazendo, para que outros curiosos, ou voyeurs, possam saber o que, exatamente, elas estão pensando, fazendo, indo, saindo, etc, ou seja, um perfeito narcisismo dirigido, ou um voyeurismo organizado, e público, obviamente...
Sinto muito, a todos os que pretenderiam saber de minhas atividades, mas não sou dado a este tipo de coisas. Sem querer ofender a todos os conhecidos que demonstraram curiosidade por me seguir no Twitter, não pretendo alimentar tal tipo de instrumento.
E, de antemão, me desculpo com todos aqueles que buscam interação por esse veículo.
Aceitei algumas demandas por pura cortesia, de pessoas conhecidas, mas elas devem estar se perguntando quando eu pretendo postar a primeira mensagem.
Respondo de imediato: NEVER.
Sinto muito, mas não é o meu estilo.
O mesmo Twitter Team informa que:
Turn off these emails at: http://twitter.com/account/notifications
É o que pretendo fazer, e talvez até cancelar minha conta no Twitter, pois não pretendo usá-lo. Como disse, entrei por pura distração, ao pretender me informar melhor o que era, ou o que é, exatamente, esse novo instrumento, mas posso parar por aqui mesmo.
Sorry twitters, mas estou fora dessa...
Hi, Paulo Almeida
[XXXX] has requested to follow your updates on Twitter!
A little information about [XXXX]:
Na mesma mensagem, o sistema avisa que eu tenho:
0 followers
0 updates
following 13 people
Since you protect your updates, you need to either approve or deny this request. You can do this by visiting http://twitter.com/friend_requests. For more information or help, please visit our help article
De fato, eu sou um fracasso nesse novo sistema interativo, do qual eu tinha vagamente ouvido falar como a nova moda, ou febre, interativa.
Pelo que percebi, as pessoas postam, como se fosse num mini-blog, pequenas notas sobre o que estão fazendo, para que outros curiosos, ou voyeurs, possam saber o que, exatamente, elas estão pensando, fazendo, indo, saindo, etc, ou seja, um perfeito narcisismo dirigido, ou um voyeurismo organizado, e público, obviamente...
Sinto muito, a todos os que pretenderiam saber de minhas atividades, mas não sou dado a este tipo de coisas. Sem querer ofender a todos os conhecidos que demonstraram curiosidade por me seguir no Twitter, não pretendo alimentar tal tipo de instrumento.
E, de antemão, me desculpo com todos aqueles que buscam interação por esse veículo.
Aceitei algumas demandas por pura cortesia, de pessoas conhecidas, mas elas devem estar se perguntando quando eu pretendo postar a primeira mensagem.
Respondo de imediato: NEVER.
Sinto muito, mas não é o meu estilo.
O mesmo Twitter Team informa que:
Turn off these emails at: http://twitter.com/account/notifications
É o que pretendo fazer, e talvez até cancelar minha conta no Twitter, pois não pretendo usá-lo. Como disse, entrei por pura distração, ao pretender me informar melhor o que era, ou o que é, exatamente, esse novo instrumento, mas posso parar por aqui mesmo.
Sorry twitters, mas estou fora dessa...
quinta-feira, 21 de maio de 2009
1112) Carreira Diplomatica: respondendo a um questionario
Carreira Diplomática: respondendo a um questionário
Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Respostas a questões colocadas por graduanda em administração na UFSC.
1. Como você se sente por ter escolhido essa profissão (área de atuação)?
PRA: Bastante bem: de certa forma, a profissão me escolheu, posto que desde muito cedo comecei a viajar, primeiro pelo Brasil, depois pela América do Sul e, finalmente, ao completar 21 anos, decidi estudar na Europa, por meus próprios meios e obtendo meus próprios recursos. Foi uma escolha que me preparou para uma vida nômade e aventureira e nunca me arrependi de ter-me lançado ao mundo em fase ainda precoce e sem sequer ter terminado o segundo ano da graduação. Como minha intenção era estudar fora do Brasil, pode-se dizer que realizei meu intento. Quando regressei ao Brasil, depois de quase sete anos na Europa, eu já estava preparado, digamos assim, para tornar-me diplomata. Mas, antes, não tinha pensado: “tropecei” com a carreira, se ouso dizer. Até então, eu só queria derrubar o governo militar.
2. Como você descreveria a sua profissão?
PRA: Uma burocracia de alto nível de qualificação técnica com ampla abertura para as humanidades e o conhecimento especializado. Trata-se, simplesmente, da mais intelectualizada carreira na burocracia federal, combinando aspectos da carreira acadêmica, da pesquisa aplicada e da elaboração de decisões em ambiente altamente competitivo, tanto interna, quanto externamente. Uma elite, como se costuma dizer.
3. Qual sua formação acadêmica? Você considera que ela foi fundamental para o sucesso profissional?
PRA: Ciências Sociais, ou humanidades, no sentido lato, e acredito que ela foi fundamental no ingresso e sucesso na carreira escolhida. Desde muito cedo inclinei-me para os estudos sociais, com forte ênfase na história, na política e na economia, complementados por uma dedicação similar a geografia, antropologia, línguas e cultura refinada, de uma maneira geral. Sou basicamente um autodidata e creio que isso facilitou-me enormemente o ingresso na carreira, pois quase não necessitei de muito estudo para os exames de ingresso. Aliás, entre a decisão de fazer o concurso (direto, no meu caso) e o ingresso efetivo, decorreram pouquíssimos meses (três).
4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar no concurso?
PRA: Direito e Inglês, posto que eu havia estudado amplamente todas as demais matérias, mas não Direito, e todos os meus estudos foram feitos em Francês, que eu dominava amplamente. Mas, meu Inglês era muito elementar, servindo tão somente para leituras. Acho que passei raspando nessas duas matérias, nas outras fui bem.
5. Quando você iniciou sua carreira você tinha definido alguns objetivos e metas de onde queria chegar?
PRA: Não especialmente: nunca fui carreirista, no sentido tradicional do termo, e não me preocupava em ser embaixador ou ocupar qualquer posto de distinção. O que me seduzia era a profissão em si, a mobilidade geográfica, o conhecimento de novos países, a possibilidade de estar sempre aprendendo, estudando, viajando. Sou basicamente um estudioso, um observador da realidade, um “compilador” de informações e análises e um escritor improvisado. Todo o resto me é secundário.
6. Como você integra as diversas esferas de sua vida (trabalho, família, lazer, esporte, cursos, etc.)? Está satisfeito?
PRA: Imenso sacrifício para consegui fazer tudo aquilo que tenho vontade, pela simples razão que eu tenho vontade de ler tudo, o tempo todo, em qualquer circunstância, assim como tenho vontade de viajar, de participar de atividades acadêmicas e intelectuais, tendo ao mesmo tempo de me desempenhar em funções atribuídas pela burocracia no meio de tudo isso. Ora, é praticamente impossível conciliar tantas vontades, e ainda ser um marido perfeito, um pai de família perfeito e outras coisas da vida social e relacional. Em síntese, esses outros aspectos foram de certa forma sacrificados no empenho pessoal em ler, estudar e escrever. Reconheço essas imperfeições, mas não se pode ter tudo na vida: escolhas são inevitáveis, e as minhas estão do lado da leitura, do saber e da escrita. São atividades nas quais eu me realizo plenamente. Em outros termos, ninguém consegue integrar todos os seus interesses perfeitamente, e algum aspecto (ou vários) acaba sempre sendo sacrificado; no meu caso, são horas de sono, de lazer, de simples far niente, e também certa negligência familiar, reconheço. Não pratico esportes, a não ser caminhadas moderadas, já em idade madura. Pratico leituras, com alguma intensidade, eu diria intensíssima, e sobretudo o gosto da escrita. No mais, sou um pouco eremita...
7. Quais os períodos de sua carreira que você mais gostou?
PRA: Todos, pois em todos e em cada um eu fiz aquilo que mais gosto: viajar, muito, intensamente, ler, também intensamente, escrever, observar, aprender, em toda e qualquer circunstância, mesmo em situações difíceis de abastecimento, conforto, restrições monetárias ou outras. Toda a minha carreira me trouxe algo de bom, mesmo em situações temporariamente de sacrifício. Nunca deixei de fazer aquilo que mais gosto, e que já foi descrito anteriormente.
8. Quais os períodos de sua carreira que você menos gostou?
PRA: Numa ou noutra situação, alguns postos apresentam dificuldades materiais, desconfortos psicológicos, desafios razoáveis: por pequenos momentos, chega-se a desejar voltar ao Brasil e retornar à rotina burocrática do cerrado central, onde os atrativos são menores, mas também as surpresas. De toda forma, sempre aproveitei os momentos de dificuldade para refletir e escrever, como sempre, aliás.
9. Dentro da perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você gostaria especialmente de evitar?
PRA: Sim, talvez eu devesse ter dedicado menos atenção aos livros e mais às pessoas, mas essas são escolhas que fazemos deliberadamente, por opções próprias, pensadas ou não. Quem tem a compulsão pela leitura e pela escrita, não consegue acalmar-se a menos de satisfazer o seu “vicio”, daí o sacrifício de outros aspectos da vida social que muita gente valoriza em primeiro lugar. Por outro lado, nunca, na carreira, fui obrigado a assumir obrigações que eu mesmo não desejasse assumir, como por exemplo trabalhar em áreas para as quais eu não me sinto talhado nem tenho a mínima vontade de experimentar: administração, por exemplo, ou cerimonial, ou talvez ainda consular. São áreas nas quais eu provavelmente me sentiria infeliz, pois o meu terreno natural são os estudos, de qualquer tipo: geográfico, político, econômico, cultura, antropológico, no sentido amplo. Todas as áreas funcionais de caráter geográfico, político ou sobretudo econômico me servem perfeitamente. Aliás, nunca me pediram para trabalhar em áreas nas quais eu não gosto, e se me pedissem eu não teria nenhuma hesitação em recusar, mesmo podendo incorrer em alguma falta funcional ou ser sancionado por isto. Sou um pouco anarquista, e não gosto de fazer o que me mandam e sim o que eu decido e gosto de fazer.
Por outro lado, jamais me pediram para escrever ou dizer algo que violentasse minha consciência, e eu não hesitaria um segundo em recusar-me terminantemente, como algumas vezes me recusei a defender determinados pontos de vista, que não eram os meus. Por outro lado, jamais enfrentei a obrigação de escrever naquele estilo clássico, ou chatérrimo, que é o diplomatês habitual, cheio de adjetivos hipócritas e de pura formalidade vazia: não tenho espírito, paciência nem disposição para esse tipo de enrolação. Costumo escrever o que penso, sem qualquer concessão a formalismos. Sobretudo, não costumo produzir bullshits, muito freqüentes nesta profissão...
10. Você tem objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma visão de futuro profissional?
PRA: Acredito que o diplomata deve servir antes à Nação do que a governos, deve defender valores, e não se subordinar a teses momentaneamente vitoriosas que por alguma eventualidade confrontem esses valores. Já escrevi algo a esse respeito, e remeto a meu trabalho: “Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago, 22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p., n. 800; ensaio breve sobre novas regras da diplomacia; revista eletrônica Espaço Acadêmico, a. 1, n. 4, setembro de 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/004/04almeida.htm).
11. Você se considera realmente bom em quê? Quais são seus pontos fortes? E como você aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
PRA: Creio que sou capaz de fazer análises contextuais que envolvam conhecimento histórico, embasamento econômico e situação política, ou seja, tenho instrumentos analíticos e amplos conhecimentos que me permitem situar qualquer problema (ou quase) em um contexto mais amplo, e daí extrair alguns elementos de informação para a instrução de um processo decisório que tenha em conta o interesse nacional. Toda a minha vida eu estudei o Brasil e o mundo, visando tornar o primeiro melhor, num mundo que nem sempre é cooperativo. Registre-se que eu não pretendo tornar o Brasil melhor para si mesmo, ou seja, uma grande potência ou qualquer pretensão desse gênero, que encontro simplesmente ridícula. Eu pretendo tornar o Brasil melhor para os brasileiros, ponto. Contento-me apenas com isso. Minha perspectiva, a despeito de ser um funcionário de Estado, não é a do Estado. Não pretendo trabalhar no Estado, para o Estado, com o Estado: minha perspectiva é a dos indivíduos concretos, e meus objetivos são promover os indivíduos, se preciso for contra o Estado. Não tenho nenhum culto ao Estado e nem pretendo torná-lo maior ou mais poderoso, apenas mais eficiente para servir aos indivíduos, não a si mesmo. Desespera-me essas pretensões nacionalistas estatizantes, pois elas se fazem, em geral, em detrimento do bem-estar individual da maior parte dos cidadãos.
Por outro lado, não me considero patriota, no sentido corriqueiro do termo. Sou brasileiro por puro acidente geográfico, pois poderia ter nascido em qualquer outro país ou em qualquer outra época, por puro acaso. Gostaria de reiterar esse ponto, com toda a ênfase que me é permitida. Não sou dado a patriotismos, nem a chauvinismos ultrapassados e ridículos. A nacionalidade, repito, é um acidente geográfico, ou talvez seja a naturalidade, da qual decorre a primeira. Parto do pressuposto da unidade fundamental e universal da espécie humana. Sou brasileiro, como poderia ter sido esquimó, hotentote ou pigmeu, e ninguém seria responsável por esses acasos demográficos, nem mesmo meus pais, posto que ninguém “fabrica” uma pessoa com base em especificações pré-determinadas. Somos em parte o resultado da herança genética (em grande medida, talvez mais do que o indicado ou desejável, mas talvez não a parte mais decisiva de nossas personalidades); em parte o resultado do meio social e cultural no qual crescemos, e das influências que experimentamos involuntariamente em diversas etapas formativas de nosso caráter; e em parte ainda (o que espero mais substancial ou importante), somos o produto de nossa própria formação ativa, dos estudos empreendidos e dos esforços que fazemos nós mesmos para moldar nossas vidas, nosso estilo de comportamento e nossa maneira de pensar, com base em escolhas e preferências que adotamos ao longo da vida. Devemos sempre assumir responsabilidade pelo que somos, e jamais atribuir ao meio ou a qualquer herança genética determinados traços que podem eventualmente revelar-se menos funcionais para nosso desempenho profissional ou intelectual.
Meus pontos fortes, portanto, são minha capacidade analítica, meus conhecimentos acumulados e meu devotamento à causa dos indivíduos, não dos Estados, e sempre tento passar esses pontos à frente de qualquer outra consideração. Não hesito em defender meus pontos de vista, mesmo contra meus interesses imediatos, que poderiam recomendar uma acomodação com a situação presente – a lei da inércia é uma das mais disseminadas na humanidade – ou com autoridades de qualquer tipo. Não costumo fazer concessões a autoridades apenas para obter vantagens pessoais, e acho essa atitude basicamente correta (ainda que a um custo por vezes enorme no plano pessoal). Talvez seja teimosia de minha parte, mas considero isso antes uma virtude, do que um defeito. Enfim, tendo concepções fortes sobre determinados temas, me é muito mais fácil preparar e expor posições do interesse do Brasil, com base em conhecimentos previamente acumulados, o que me dispensa de longas pesquisas ou buscas em arquivos.
12. Quais são seus pontos fracos?
PRA: Devo ter (e tenho) vários, sendo os mais evidentes essa introversão habitual, essa preferência ao convívio com os livros, mais do que a convivência com pessoas, uma certa arrogância intelectual (que reconheço plenamente), derivada de leituras intensas e de uma imensa acumulação de conhecimentos e informações – que em excesso podem ser prejudiciais, dizem alguns – essa pretensão a saber mais do que os outros (o que em parte é verdade, pela simples intensidade de leituras, mas os outros não gostam que se lhes confronte os argumentos, obviamente). Por outro lado, não tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade, o que muitos consideram um defeito (mas não eu, dado meu anarquismo particular). Não sou de respeitar o argumento da autoridade, mas apenas a autoridade do argumento, a lógica impecável, e a decisão bem formulada, posto que empiricamente embasada, tecnicamente sólida, com menor custo-oportunidade ou a melhor relação custo-benefício. Enfim, sou um racionalista, e detesto impressionismos e subjetivismos, o que é muito fácil de encontrar em quaisquer meios. Daí choques inevitáveis com determinadas pessoas que pretendem mandar a partir de sua vontade exclusiva, não de um estudo aprofundado de situação. Enfim, ser rebelde assim deve ser um defeito...
13. O que você mais deseja na sua carreira?
PRA: Todos somos egocêntricos ou narcisistas em certa medida. Todos queremos reconhecimento e prestígio, por mais que se diga o contrário. Todos queremos ser elogiados e premiados (no meu caso não monetariamente ou em qualquer aspecto material). Assim, desejo ser reconhecido não necessariamente como um bom diplomata, mas simplesmente como um bom cidadão, alguém que cumpre seus deveres e atua conscienciosamente em benefício da maioria (que calha de ser o povo brasileiro, mas poderia ser qualquer outro, pois como disse, eu me coloco do ponto de vista dos indivíduos, não do Estado). Gostaria de ser reconhecido como estudioso, como esforçado e, sobretudo, como alguém comprometido com o bem comum. Pode ser vaidade, mas é assim que vejo minha carreira, que para mim não é uma simples carreira de Estado, mas sim uma atividade que me coloca no centro (ou pelo menos numa das agências) do Estado, ali colocado para servir a pessoas, não a instituições abstratas.
Gostaria que se dissesse de mim, em algum momento futuro: foi um funcionário dedicado, foi um homem bom, esforçado, devotado ao bem comum, sobretudo foi correto consigo mesmo e com todas as instâncias de interação social ou profissional. Praticou a honestidade intelectual e se esforçou para fazer do Brasil e do mundo lugares melhores do que aqueles que encontrou em sua etapa inicial de vida.
14. O que você pensa que acontecerá à sua carreira nos próximos dez anos?
PRA: Nada de muito relevante, posto que não sou carreirista e não faço da carreira o centro de minhas preocupações intelectuais ou sequer materiais. Estou na carreira diplomática, como poderia estar na academia ou em alguma outra atividade que tenha a ver com o estudo, o esforço intelectual, a análise e a elaboração de propostas. Sou basicamente um intelectual e a carreira para mim é secundária. Provavelmente vou me aposentar nos próximos dez anos, e aí dispor de todo o meu tempo livre para me dedicar àquilo de que mais gosto: leitura, redação, um pouco de aulas e palestras, viagens, alguns prazeres materiais (como a gastronomia, ou a gourmandise, por exemplo) e espero ter condições físicas de continuar escrevendo, ensinando e colaborando com a elevação intelectual da sociedade pelo maior tempo possível. Se me sobrar tempo gostaria de consertar algumas coisas que encontro muito erradas no Brasil, como por exemplo: a corrupção (generalizada em todas as esferas), a desonestidade intelectual nas academias, a miséria material de grande parte da população (que decorre, em minha opinião, de políticas erradas e do excesso de poderes conferidos ao Estado), enfim, tudo aquilo que sabemos errado em nosso País.
15. O que você aconselharia para alguém que estivesse iniciando na mesma área?
PRA: Seja estudioso, dedicado, honesto intelectualmente, esforçado no trabalho, um pouco (mas apenas um pouco) obediente, inovador, curioso, questionador – mas ostentando um ceticismo sadio, não uma desconfiança doentia –, tente aprender com as adversidades, trate todo mundo bem (e, para mim, da mesma forma, um porteiro e um presidente), não seja preguiçoso (embora dormir seja sumamente agradável), cultive as pessoas, mais do que os livros (o que eu mesmo não faço), seja amado e ame alguém, ou mais de um... Enfim, seja um pouco rebelde, também, pois a humanidade só avança com aqueles que contestam as situações estabelecidas, desafiam o status quo, tomam novos caminhos, propõem novas soluções a velhos problemas (alguns novos também). No meio de tudo isso, não se leve muito a sério, pois a vida é uma só – sim, sou absolutamente irreligioso – e vale a pena se divertir um pouco. Tudo o que eu falei ou escrevi acima, parece sério demais. Não se leve muito a sério, tenha tempo de se divertir, de contentar a si mesmo e os que o cercam.
Brasília, 21 de maio de 2009.
Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Respostas a questões colocadas por graduanda em administração na UFSC.
1. Como você se sente por ter escolhido essa profissão (área de atuação)?
PRA: Bastante bem: de certa forma, a profissão me escolheu, posto que desde muito cedo comecei a viajar, primeiro pelo Brasil, depois pela América do Sul e, finalmente, ao completar 21 anos, decidi estudar na Europa, por meus próprios meios e obtendo meus próprios recursos. Foi uma escolha que me preparou para uma vida nômade e aventureira e nunca me arrependi de ter-me lançado ao mundo em fase ainda precoce e sem sequer ter terminado o segundo ano da graduação. Como minha intenção era estudar fora do Brasil, pode-se dizer que realizei meu intento. Quando regressei ao Brasil, depois de quase sete anos na Europa, eu já estava preparado, digamos assim, para tornar-me diplomata. Mas, antes, não tinha pensado: “tropecei” com a carreira, se ouso dizer. Até então, eu só queria derrubar o governo militar.
2. Como você descreveria a sua profissão?
PRA: Uma burocracia de alto nível de qualificação técnica com ampla abertura para as humanidades e o conhecimento especializado. Trata-se, simplesmente, da mais intelectualizada carreira na burocracia federal, combinando aspectos da carreira acadêmica, da pesquisa aplicada e da elaboração de decisões em ambiente altamente competitivo, tanto interna, quanto externamente. Uma elite, como se costuma dizer.
3. Qual sua formação acadêmica? Você considera que ela foi fundamental para o sucesso profissional?
PRA: Ciências Sociais, ou humanidades, no sentido lato, e acredito que ela foi fundamental no ingresso e sucesso na carreira escolhida. Desde muito cedo inclinei-me para os estudos sociais, com forte ênfase na história, na política e na economia, complementados por uma dedicação similar a geografia, antropologia, línguas e cultura refinada, de uma maneira geral. Sou basicamente um autodidata e creio que isso facilitou-me enormemente o ingresso na carreira, pois quase não necessitei de muito estudo para os exames de ingresso. Aliás, entre a decisão de fazer o concurso (direto, no meu caso) e o ingresso efetivo, decorreram pouquíssimos meses (três).
4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar no concurso?
PRA: Direito e Inglês, posto que eu havia estudado amplamente todas as demais matérias, mas não Direito, e todos os meus estudos foram feitos em Francês, que eu dominava amplamente. Mas, meu Inglês era muito elementar, servindo tão somente para leituras. Acho que passei raspando nessas duas matérias, nas outras fui bem.
5. Quando você iniciou sua carreira você tinha definido alguns objetivos e metas de onde queria chegar?
PRA: Não especialmente: nunca fui carreirista, no sentido tradicional do termo, e não me preocupava em ser embaixador ou ocupar qualquer posto de distinção. O que me seduzia era a profissão em si, a mobilidade geográfica, o conhecimento de novos países, a possibilidade de estar sempre aprendendo, estudando, viajando. Sou basicamente um estudioso, um observador da realidade, um “compilador” de informações e análises e um escritor improvisado. Todo o resto me é secundário.
6. Como você integra as diversas esferas de sua vida (trabalho, família, lazer, esporte, cursos, etc.)? Está satisfeito?
PRA: Imenso sacrifício para consegui fazer tudo aquilo que tenho vontade, pela simples razão que eu tenho vontade de ler tudo, o tempo todo, em qualquer circunstância, assim como tenho vontade de viajar, de participar de atividades acadêmicas e intelectuais, tendo ao mesmo tempo de me desempenhar em funções atribuídas pela burocracia no meio de tudo isso. Ora, é praticamente impossível conciliar tantas vontades, e ainda ser um marido perfeito, um pai de família perfeito e outras coisas da vida social e relacional. Em síntese, esses outros aspectos foram de certa forma sacrificados no empenho pessoal em ler, estudar e escrever. Reconheço essas imperfeições, mas não se pode ter tudo na vida: escolhas são inevitáveis, e as minhas estão do lado da leitura, do saber e da escrita. São atividades nas quais eu me realizo plenamente. Em outros termos, ninguém consegue integrar todos os seus interesses perfeitamente, e algum aspecto (ou vários) acaba sempre sendo sacrificado; no meu caso, são horas de sono, de lazer, de simples far niente, e também certa negligência familiar, reconheço. Não pratico esportes, a não ser caminhadas moderadas, já em idade madura. Pratico leituras, com alguma intensidade, eu diria intensíssima, e sobretudo o gosto da escrita. No mais, sou um pouco eremita...
7. Quais os períodos de sua carreira que você mais gostou?
PRA: Todos, pois em todos e em cada um eu fiz aquilo que mais gosto: viajar, muito, intensamente, ler, também intensamente, escrever, observar, aprender, em toda e qualquer circunstância, mesmo em situações difíceis de abastecimento, conforto, restrições monetárias ou outras. Toda a minha carreira me trouxe algo de bom, mesmo em situações temporariamente de sacrifício. Nunca deixei de fazer aquilo que mais gosto, e que já foi descrito anteriormente.
8. Quais os períodos de sua carreira que você menos gostou?
PRA: Numa ou noutra situação, alguns postos apresentam dificuldades materiais, desconfortos psicológicos, desafios razoáveis: por pequenos momentos, chega-se a desejar voltar ao Brasil e retornar à rotina burocrática do cerrado central, onde os atrativos são menores, mas também as surpresas. De toda forma, sempre aproveitei os momentos de dificuldade para refletir e escrever, como sempre, aliás.
9. Dentro da perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você gostaria especialmente de evitar?
PRA: Sim, talvez eu devesse ter dedicado menos atenção aos livros e mais às pessoas, mas essas são escolhas que fazemos deliberadamente, por opções próprias, pensadas ou não. Quem tem a compulsão pela leitura e pela escrita, não consegue acalmar-se a menos de satisfazer o seu “vicio”, daí o sacrifício de outros aspectos da vida social que muita gente valoriza em primeiro lugar. Por outro lado, nunca, na carreira, fui obrigado a assumir obrigações que eu mesmo não desejasse assumir, como por exemplo trabalhar em áreas para as quais eu não me sinto talhado nem tenho a mínima vontade de experimentar: administração, por exemplo, ou cerimonial, ou talvez ainda consular. São áreas nas quais eu provavelmente me sentiria infeliz, pois o meu terreno natural são os estudos, de qualquer tipo: geográfico, político, econômico, cultura, antropológico, no sentido amplo. Todas as áreas funcionais de caráter geográfico, político ou sobretudo econômico me servem perfeitamente. Aliás, nunca me pediram para trabalhar em áreas nas quais eu não gosto, e se me pedissem eu não teria nenhuma hesitação em recusar, mesmo podendo incorrer em alguma falta funcional ou ser sancionado por isto. Sou um pouco anarquista, e não gosto de fazer o que me mandam e sim o que eu decido e gosto de fazer.
Por outro lado, jamais me pediram para escrever ou dizer algo que violentasse minha consciência, e eu não hesitaria um segundo em recusar-me terminantemente, como algumas vezes me recusei a defender determinados pontos de vista, que não eram os meus. Por outro lado, jamais enfrentei a obrigação de escrever naquele estilo clássico, ou chatérrimo, que é o diplomatês habitual, cheio de adjetivos hipócritas e de pura formalidade vazia: não tenho espírito, paciência nem disposição para esse tipo de enrolação. Costumo escrever o que penso, sem qualquer concessão a formalismos. Sobretudo, não costumo produzir bullshits, muito freqüentes nesta profissão...
10. Você tem objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma visão de futuro profissional?
PRA: Acredito que o diplomata deve servir antes à Nação do que a governos, deve defender valores, e não se subordinar a teses momentaneamente vitoriosas que por alguma eventualidade confrontem esses valores. Já escrevi algo a esse respeito, e remeto a meu trabalho: “Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago, 22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p., n. 800; ensaio breve sobre novas regras da diplomacia; revista eletrônica Espaço Acadêmico, a. 1, n. 4, setembro de 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/004/04almeida.htm).
11. Você se considera realmente bom em quê? Quais são seus pontos fortes? E como você aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
PRA: Creio que sou capaz de fazer análises contextuais que envolvam conhecimento histórico, embasamento econômico e situação política, ou seja, tenho instrumentos analíticos e amplos conhecimentos que me permitem situar qualquer problema (ou quase) em um contexto mais amplo, e daí extrair alguns elementos de informação para a instrução de um processo decisório que tenha em conta o interesse nacional. Toda a minha vida eu estudei o Brasil e o mundo, visando tornar o primeiro melhor, num mundo que nem sempre é cooperativo. Registre-se que eu não pretendo tornar o Brasil melhor para si mesmo, ou seja, uma grande potência ou qualquer pretensão desse gênero, que encontro simplesmente ridícula. Eu pretendo tornar o Brasil melhor para os brasileiros, ponto. Contento-me apenas com isso. Minha perspectiva, a despeito de ser um funcionário de Estado, não é a do Estado. Não pretendo trabalhar no Estado, para o Estado, com o Estado: minha perspectiva é a dos indivíduos concretos, e meus objetivos são promover os indivíduos, se preciso for contra o Estado. Não tenho nenhum culto ao Estado e nem pretendo torná-lo maior ou mais poderoso, apenas mais eficiente para servir aos indivíduos, não a si mesmo. Desespera-me essas pretensões nacionalistas estatizantes, pois elas se fazem, em geral, em detrimento do bem-estar individual da maior parte dos cidadãos.
Por outro lado, não me considero patriota, no sentido corriqueiro do termo. Sou brasileiro por puro acidente geográfico, pois poderia ter nascido em qualquer outro país ou em qualquer outra época, por puro acaso. Gostaria de reiterar esse ponto, com toda a ênfase que me é permitida. Não sou dado a patriotismos, nem a chauvinismos ultrapassados e ridículos. A nacionalidade, repito, é um acidente geográfico, ou talvez seja a naturalidade, da qual decorre a primeira. Parto do pressuposto da unidade fundamental e universal da espécie humana. Sou brasileiro, como poderia ter sido esquimó, hotentote ou pigmeu, e ninguém seria responsável por esses acasos demográficos, nem mesmo meus pais, posto que ninguém “fabrica” uma pessoa com base em especificações pré-determinadas. Somos em parte o resultado da herança genética (em grande medida, talvez mais do que o indicado ou desejável, mas talvez não a parte mais decisiva de nossas personalidades); em parte o resultado do meio social e cultural no qual crescemos, e das influências que experimentamos involuntariamente em diversas etapas formativas de nosso caráter; e em parte ainda (o que espero mais substancial ou importante), somos o produto de nossa própria formação ativa, dos estudos empreendidos e dos esforços que fazemos nós mesmos para moldar nossas vidas, nosso estilo de comportamento e nossa maneira de pensar, com base em escolhas e preferências que adotamos ao longo da vida. Devemos sempre assumir responsabilidade pelo que somos, e jamais atribuir ao meio ou a qualquer herança genética determinados traços que podem eventualmente revelar-se menos funcionais para nosso desempenho profissional ou intelectual.
Meus pontos fortes, portanto, são minha capacidade analítica, meus conhecimentos acumulados e meu devotamento à causa dos indivíduos, não dos Estados, e sempre tento passar esses pontos à frente de qualquer outra consideração. Não hesito em defender meus pontos de vista, mesmo contra meus interesses imediatos, que poderiam recomendar uma acomodação com a situação presente – a lei da inércia é uma das mais disseminadas na humanidade – ou com autoridades de qualquer tipo. Não costumo fazer concessões a autoridades apenas para obter vantagens pessoais, e acho essa atitude basicamente correta (ainda que a um custo por vezes enorme no plano pessoal). Talvez seja teimosia de minha parte, mas considero isso antes uma virtude, do que um defeito. Enfim, tendo concepções fortes sobre determinados temas, me é muito mais fácil preparar e expor posições do interesse do Brasil, com base em conhecimentos previamente acumulados, o que me dispensa de longas pesquisas ou buscas em arquivos.
12. Quais são seus pontos fracos?
PRA: Devo ter (e tenho) vários, sendo os mais evidentes essa introversão habitual, essa preferência ao convívio com os livros, mais do que a convivência com pessoas, uma certa arrogância intelectual (que reconheço plenamente), derivada de leituras intensas e de uma imensa acumulação de conhecimentos e informações – que em excesso podem ser prejudiciais, dizem alguns – essa pretensão a saber mais do que os outros (o que em parte é verdade, pela simples intensidade de leituras, mas os outros não gostam que se lhes confronte os argumentos, obviamente). Por outro lado, não tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade, o que muitos consideram um defeito (mas não eu, dado meu anarquismo particular). Não sou de respeitar o argumento da autoridade, mas apenas a autoridade do argumento, a lógica impecável, e a decisão bem formulada, posto que empiricamente embasada, tecnicamente sólida, com menor custo-oportunidade ou a melhor relação custo-benefício. Enfim, sou um racionalista, e detesto impressionismos e subjetivismos, o que é muito fácil de encontrar em quaisquer meios. Daí choques inevitáveis com determinadas pessoas que pretendem mandar a partir de sua vontade exclusiva, não de um estudo aprofundado de situação. Enfim, ser rebelde assim deve ser um defeito...
13. O que você mais deseja na sua carreira?
PRA: Todos somos egocêntricos ou narcisistas em certa medida. Todos queremos reconhecimento e prestígio, por mais que se diga o contrário. Todos queremos ser elogiados e premiados (no meu caso não monetariamente ou em qualquer aspecto material). Assim, desejo ser reconhecido não necessariamente como um bom diplomata, mas simplesmente como um bom cidadão, alguém que cumpre seus deveres e atua conscienciosamente em benefício da maioria (que calha de ser o povo brasileiro, mas poderia ser qualquer outro, pois como disse, eu me coloco do ponto de vista dos indivíduos, não do Estado). Gostaria de ser reconhecido como estudioso, como esforçado e, sobretudo, como alguém comprometido com o bem comum. Pode ser vaidade, mas é assim que vejo minha carreira, que para mim não é uma simples carreira de Estado, mas sim uma atividade que me coloca no centro (ou pelo menos numa das agências) do Estado, ali colocado para servir a pessoas, não a instituições abstratas.
Gostaria que se dissesse de mim, em algum momento futuro: foi um funcionário dedicado, foi um homem bom, esforçado, devotado ao bem comum, sobretudo foi correto consigo mesmo e com todas as instâncias de interação social ou profissional. Praticou a honestidade intelectual e se esforçou para fazer do Brasil e do mundo lugares melhores do que aqueles que encontrou em sua etapa inicial de vida.
14. O que você pensa que acontecerá à sua carreira nos próximos dez anos?
PRA: Nada de muito relevante, posto que não sou carreirista e não faço da carreira o centro de minhas preocupações intelectuais ou sequer materiais. Estou na carreira diplomática, como poderia estar na academia ou em alguma outra atividade que tenha a ver com o estudo, o esforço intelectual, a análise e a elaboração de propostas. Sou basicamente um intelectual e a carreira para mim é secundária. Provavelmente vou me aposentar nos próximos dez anos, e aí dispor de todo o meu tempo livre para me dedicar àquilo de que mais gosto: leitura, redação, um pouco de aulas e palestras, viagens, alguns prazeres materiais (como a gastronomia, ou a gourmandise, por exemplo) e espero ter condições físicas de continuar escrevendo, ensinando e colaborando com a elevação intelectual da sociedade pelo maior tempo possível. Se me sobrar tempo gostaria de consertar algumas coisas que encontro muito erradas no Brasil, como por exemplo: a corrupção (generalizada em todas as esferas), a desonestidade intelectual nas academias, a miséria material de grande parte da população (que decorre, em minha opinião, de políticas erradas e do excesso de poderes conferidos ao Estado), enfim, tudo aquilo que sabemos errado em nosso País.
15. O que você aconselharia para alguém que estivesse iniciando na mesma área?
PRA: Seja estudioso, dedicado, honesto intelectualmente, esforçado no trabalho, um pouco (mas apenas um pouco) obediente, inovador, curioso, questionador – mas ostentando um ceticismo sadio, não uma desconfiança doentia –, tente aprender com as adversidades, trate todo mundo bem (e, para mim, da mesma forma, um porteiro e um presidente), não seja preguiçoso (embora dormir seja sumamente agradável), cultive as pessoas, mais do que os livros (o que eu mesmo não faço), seja amado e ame alguém, ou mais de um... Enfim, seja um pouco rebelde, também, pois a humanidade só avança com aqueles que contestam as situações estabelecidas, desafiam o status quo, tomam novos caminhos, propõem novas soluções a velhos problemas (alguns novos também). No meio de tudo isso, não se leve muito a sério, pois a vida é uma só – sim, sou absolutamente irreligioso – e vale a pena se divertir um pouco. Tudo o que eu falei ou escrevi acima, parece sério demais. Não se leve muito a sério, tenha tempo de se divertir, de contentar a si mesmo e os que o cercam.
Brasília, 21 de maio de 2009.
1111) Volatilidade e paises em desenvolvimento
Um estudo do Center for Global Development, de Washington:
Beyond Lending : How Multilateral Banks Can Help Developing Countries Manage Volatility
Guillermo Perry, 2009
Center for Global Development
Contents
Chapter 1: Causes and Consequences of High Volatility in Developing Countries
Chapter 2: The Role of Financial Insurance and Hedging (and of Multilateral Development Banks) in Reducing Volatility
Chapter 3: Dealing with Liquidity Shocks and the Procyclicality of Private Capital Flows
Chapter 4: Dealing with Currency Risks
Chapter 5: Dealing with Commodity Price, Terms of Trade, and Output Risks
Chapter 6: Dealing with Natural Disaster Risks
Chapter 7: Why Multilateral Development Bank Practices Are So Far from Their Potential
Chapter 8: An Agenda Going Forward
http://www.cgdev.org/content/publications/detail/1422098
Beyond Lending : How Multilateral Banks Can Help Developing Countries Manage Volatility
Guillermo Perry, 2009
Center for Global Development
Contents
Chapter 1: Causes and Consequences of High Volatility in Developing Countries
Chapter 2: The Role of Financial Insurance and Hedging (and of Multilateral Development Banks) in Reducing Volatility
Chapter 3: Dealing with Liquidity Shocks and the Procyclicality of Private Capital Flows
Chapter 4: Dealing with Currency Risks
Chapter 5: Dealing with Commodity Price, Terms of Trade, and Output Risks
Chapter 6: Dealing with Natural Disaster Risks
Chapter 7: Why Multilateral Development Bank Practices Are So Far from Their Potential
Chapter 8: An Agenda Going Forward
http://www.cgdev.org/content/publications/detail/1422098
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