Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 3 de novembro de 2009
1474) A familia Castro, de Cuba, obviamente: dividida pelo marxismo
Enfim, já tratei desse tema no post:
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
1468) O passado sinistro do Itamaraty, segundo um anti-imperialista de ocasiao...
Também já tratei da situação em Cuba, num artigo recente:
“Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana”, Espaço Acadêmico (ano 8, n. 94, março 2009). Reproduzido, sob o titulo de “Os Mitos da Revolução Cubana”, na revista Acadêmica Espaço da Sophia (Tomazina, PR; ISSN: 1981-318X, Ano 2, n. 25, p. 1-17, março de 2009; edição eletrônica).
Aliás, sem pretender intrometer-me em assuntos de família, sugeri a Raul Castro um pronunciamento ao povo cubano, mas não tenho certeza de que ele já leu, e se leu, se ele pretende seguir minhas sugestões:
“Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo”, Via Política (17.08.2009). Republicado pelo Instituto Millenium (08.09.2009).
Agora cabe ler as recordações de Juanita, novamente famosa por boas e más razões...
Juanita Castro: "El marxismo ha acabado con nuestra familia"
La hermana de Fidel y Raúl Castro ha charlado con los lectores sobre su autobiografía
NATALIA MARCOS - Madrid
El Pais, 02/11/2009
Vive en el exilio en Miami desde que el 19 de junio de 1963 saliera de Cuba, desertara y se mostrara en contra del gobierno encabezado por su hermano Fidel. Juanita Castro ha roto su silencio con el libro Fidel y Raúl, mis hermanos. La historia secreta, en la que ha confesado que llegó a ser agente de la CIA. A propósito de la publicación de su autobiografía, Juanita Castro ha charlado con los lectores sobre la infancia y juventud de Fidel y Raúl Castro, además del pasado, presente y futuro de Cuba.
En la entrevista digital, la hermana de Fidel y Raúl ha explicado los motivos de la publicación de este libro: "Fue hecho por mi necesidad de clamar por justicia en relación con el honor de mis padres y de mis abuelitos, que ha sido mancillado de tal manera que se han ensañado con ellos". Juanita Castro ha explicado cómo era su familia cuando ella y sus hermanos eran niños. "Éramos una familia bien llevada. Nuestros padres nos enseñaron a respetar a todo el mundo, a no ofender jamás a nadie, a que estudiáramos y lucháramos para tener un futuro asegurado". Además, ha asegurado que entre los hermanos había una relación muy buena "hasta que llegó al país el sistema que lo ha gobernado durante tantos años. El marxismo ha acabado con nuestra familia en la misma forma en que ha acabado con el resto de la familia cubana".
Según su hermana, la familia de Fidel Castro nunca observó una inclinación hacia el comunismo en el joven Fidel. "Siempre pensamos que era un demócrata confeso, un idealista, que estaba muy interesado en la política y en llegar a ocupar posiciones muy importantes en el país para servirlo. Pero por nuestra mente nunca pasó lo que sucedería después del triunfo de la Revolución y que abrazaría las ideas marxistas y el sistema comunista".
Juanita Castro no pierde la esperanza de que la democracia llegue a Cuba en un futuro no muy lejano. Su deseo lo expresa en forma de refrán: "No hay mal que dure cien años ni cuerpo que lo resista".
Para terminar la entrevista digital, un lector ha preguntado a Juanita si cree que sus padres estarían orgullosos del legado de Fidel, a lo que Juanita ha asegurado escuetamente: "Nadie puede estar orgulloso de lo que ha hecho Fidel, incluidos mis padres si vivieran".
=========
PS Paulo Roberto de Almeida:
É meu desejo sincero que a família possa se reconciliar antes da morte de um dos três, embora eu duvide que isso venha a acontecer. Fidel está mais para personagem de Roa Bastos, ou de Gabriel Garcia Marques (que aliás é seu amigo), do que para um personagem de carne e osso (mais deste do que daquela...).
1473) Um agente soviético, diplomata brasileiro: cenários bondianos...
Mas não deixo de ler meus romances, de vez em quando, um John Le Carré aqui, um Graham Greene ali, e vários outros mais, mas na dimensão realista, não fantasias à la Ludlum...
Pois eis que me chega um comentário "chocante" de um leitor de meu post:
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
1468) O passado sinistro do Itamaraty, segundo um anti-imperialista de ocasiao...
o que justifica retirar o comentário de seu insignificante "rodapé" para lhe dar o devido destaque. Não conheço (suponho) o autor e não tenho por que questioná-lo mais do que ele revela neste pequeno trecho de um livro, que traz algo de que eu jamais tinha ouvido falar. Confesso minha completa ignorância sobre o tema, mas vou procurar saber mais a respeito do:
Um espião (diplomata brasileiro) a serviço da União Soviética?
Alat disse...
Caro PRA,
Aproveitando o assunto dessa postagem, você conhece o história do Vasili Mitrokhin, o arquivista da KGB que copiou trechos dos documentos por décadas a fio e fugiu para o Ocidente logo que a URSS acabou? Estou lendo o livro dele e há algumas menções interessantes ao Brasil, que copio abaixo. Any guesses sobre a identidade de IZOT e ALEKS?
Abraço,
Alat
“Among the DGI operations in Angola carried out to assist the KGB was a penetration of the Brazilian embassy to obtain intelligence on its cipher system. A technical specialist from KGB’s Sixteenth (SIGINT) Directorate flew out from Moscow with equipment which enabled a DGI agent to photograph the wiring of the embassy’s Swiss-made TS-803 cipher machine” (k-22, 150, apud Andrew & Mitrokhin 2005:96).
“The KGB’s best intelligence on Brazil probably came from its increasing ability to intercept Brazil’s diplomatic traffic. By 1979 the radio-intercept post (codenamed KLEN) in the Brasilia residency was able to intercept 19,000 coded cables sent and received by the Foreign Ministry as well as approximately 2,000 other classified official communications” (k-22, 128 apud Andrew & Mitrokhin 2005:105)
“SIGINT enabled the Center to monitor some of the activities of probably its most important Brazilian agent, codenamed IZOT, who was recruited while serving as Brazilian ambassador in the Soviet bloc. As well as providing intelligence and recruitment leads to three other diplomats, IZOT also on occasion included in his reports information (probably disinformation) provided by the KGB” (Andrew & Mitrokhin 2005:105).
“IZOT is the highest-ranking Brazilian agent identified in the files noted by Mitrokhin. He provided recruitment leads on three fellow diplomats, including the ambassador of a NATO country in Prague. IZOT had himself been talent-spotted for the KGB by another Brazilian ambassador, an agent codenamed ALEKS; k-22, 235-7, apud Andrew & Mitrokhin 2005:521, n. 68).
A referência é
ANDREW, CHRISTOPHER & MITROKHIN, VASILI.
The World Was Going Our Way: The KGB and the Battle for the Third World
New York: Basic Books, 2005.
========
Bem, só resta comprar o livro, conferir, realizar uma pequena investigação sobre sua veracidade, e depois pedir aos arapongas da Abin que movimentem os seus fundilhos e pelo menos dois neurônios.
Aliás, o livro deve constar da biblioteca da Abin: vou pedir emprestado...
Paulo Roberto de Almeida
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
1472) Controversias historicas: Ha-Joon Chang e o uso de evidencias seletivas
“Falácias acadêmicas, 5: O mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres”
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 93, fevereiro 2009).
Reproduzido, sob o título de “Sobre o complô dos ricos contra os pobres”,
no site Dom Total (16.04.2009).
O que segue abaixo é um exchange, a respeito das mesmas teses, publicado no:
The New York Review of Books,
Volume 56, Number 18 · November 19, 2009
'The Anarchy of Success'
By Ha-Joon Chang, James Rossant, Reply by William Easterly
In response to The Anarchy of Success* (October 8, 2009)
To the Editors:
William Easterly misrepresents Bad Samaritans ["The Anarchy of Success," NYR, October 8] as advocating 1960s-style state planning, when I argue for a judicious mix of market and government.
Mr. Easterly attacks me for relying on a few East Asian countries to make my case. However, one of the central points of my book is that most of today's rich countries, and not just those in Asia, have succeeded through infant industry protection. Mr. Easterly tries to dismiss the importance of these historical cases by arguing that those countries have more often protected agriculture than industry. This is not true. A recent study by Lehmann and O'Rourke for the National Bureau of Economic Research shows that most of them protected industry far more than agriculture.
Mr. Easterly argues that looking at 1983–2008, instead of 1980–2000 (as I do), shows that growth in developing countries under neoliberalism was as vigorous as in the interventionist period. We can debate the exact numbers, but he fails to consider that the growth rate for his neoliberal period is improved both by excluding the recession in 1980–1982 (caused by neoliberal monetary policy in the US) and by the ascent of China and India (which have never embraced neoliberalism), which compensates for the abject failures in Latin America and sub-Saharan Africa, which implemented neoliberal policies most faithfully. He tries to refute my argument that the growth rate of Mexican per capita income of 1.8 percent from 1994–2002 is evidence that free trade isn't working there, asserting that "it takes a while to decide what policies are having a positive effect on growth." Unfortunately for him, Mexico's growth rate during 2002–2009 is negative.
Mr. Easterly says representative democracy was a key to the economic development of Western countries. He should brush up his history. No Western country adopted universal suffrage before 1907 (New Zealand) and it was only after World War II that a majority of them gave the vote to all. Perhaps it's just trivia for him that Switzerland refused to give women the vote until 1971, but what does Mr. Easterly think the civil rights movement was all about?
Mr. Easterly says that economic growth does not come from "experts" like me but entrepreneurs, like Ju-Yung Chung, the legendary founder of Hyundai. He conveniently omits the details that prove my point: before it succeeded in the world market, Chung's auto venture was supported by decades of import bans, export subsidies, and tariff protection.
Ha-Joon Chang
University of Cambridge
Cambridge, England
To the Editors:
If the "Gang of Four" of East Asia—Hong Kong, Singapore, Taiwan, and South Korea —and now China are current successes, as William Easterly writes in his review of The Drunkard's Walk by Leonard Mlodinow and Bad Samaritans: The Myth of Free Trade and the Secret History of Capitalism, it is not only the policy of free trade that made them so, or other policies discussed in the review. It is also the centuries-old institution of "overseas Chinese" and the ethnic Tongs, who made it happen like the Protestants in Easterly's review.
The Overseas Chinese Association (OCA) was and still is a significant, enormous organization in China and within the rest of the "Gang of Four" countries (except of course South Korea) and reflects their mission: to create a borderless federation for promotion of businesses of overseas Chinese merchants linking banks, manufacturers, merchants, technical specialists like construction and mining engineers, and government.
The OCA worked directly with existing governments, socialist, Communist, and capitalist, well before the current East Asian miracle bloomed. By 1980, the Overseas Chinese Association had a chain of hotels, meeting rooms, communication networks, business facilities like telex, overseas telephone exchanges, printing equipment, restaurant entertainment rooms, and private banquet facilities in all but the smallest cities in China and in the rest of the "Gang of Four" countries. This made for smooth, integrated business growth for Chinese businessmen, which, in Singapore, Malaysia, and Taiwan, meant most new development. Even without the OCA, Chinese in Malaysia and Singapore and Hong Kong had the hidden support of the southern Chinese family Tongs, which gave and still give incredible advantages, functioning as tough "old boy" networks.
I was a guest of a Haaka Tong member who was also a member of the Overseas Chinese Association in the early 1980s and I observed how a transaction that might take a businessman from the US, Australia, India, or the UK months took only a few days.
James Rossant
FAIA, FAICP
Condeau, France Graduate City Planning
Pratt Institute Brooklyn, New York
William Easterly replies:
I agree with Mr. Rossant on the role of the overseas Chinese—they would be part of what I called the "randomness" of "who will be in the right place at the right time to sell the right thing to the right people."
Concerning Professor Chang's letter, it puzzles me that he did not respond to my main criticism of his book: that he finds spurious patterns in partially random economic outcomes in ways identified by Leonard Mlodinow's book. In particular, I criticized him for selective use of evidence (confirmation bias) and excessive reliance on too little data. His letter claims to rebut my criticisms—by engaging in more selective use of evidence (confirmation bias) and more excessive reliance on too little data.
So, for example, Chang rebuts my claim that "rich countries have often protected agriculture rather than industry," citing a study that he says shows "most of them protected industry far more than agriculture." I am not sure what he means by "most," as the study covered only ten now-rich countries from 1875 to 1913, of which only one (Australia) fits Chang's "far more" statement. The others broke down like this: two protected agriculture somewhat more, three protected manufacturing somewhat more, and the other four were tied or mixed. In this case, Chang does seem to find what he already expected to find even in the studies he has already selected to bolster his argument (Mlodinow's "confirmation bias.")
Chang similarly is selective in his attempt to rescue his vulnerable claim that growth is slower under a system of neoliberalism (to use his term), in which states do not intervene much in relatively free markets and free trade. His letter admits my point that growth performance under neoliberalism is as good as before neoliberalism, but now he attributes this to allegedly non-neoliberal China and India. Yet his letter omits the inconvenient fact that China and India are much more neoliberal than they were in the good old days of the interventionist period.
Chang misses the point on how the evidence for any one good thing—like representative democracy—is only reliable in the very long run (lots of data) and cannot be confirmed or rejected with only a few examples (too little data). So he refutes my case for democracy with lots of data—by reliance on too little data (whether women in one country—Switzerland—could vote after 1971? Of course this is not trivial from a moral standpoint, but its weight as evidence is minuscule). The now-rich countries have been more democratic than the rest of the world on average in the long run and have been steadily increasing in democracy.
Mlodinow's book warned that our brains are so hard-wired to misunderstand randomness that we make the same mistakes even after somebody points out the mistakes. I have been guilty of this myself in my own career, and unfortunately Chang now does the same with this letter
1470) Lenin morreu de sifilis; Sorry, true believers...

Bem, pelo menos se pode argumentar que ele nao era gay...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Historiadora diz que Lênin morreu de sífilis
Um novo livro sobre a vida de Vladimir Lênin sustenta que o revolucionário russo e um dos fundadores da União Soviética morreu de sífilis, doença que teria contraído em Paris depois de uma relação sexual com uma prostituta.
Segundo a autora da obra, Helen Rappaport, especialista em história russa, diferentes documentos indicam que Lênin teve sífilis, da qual também foram vítimas outros homens famosos, diz a edição de hoje do jornal britânico "Daily Telegraph".
Rapapport afirma que os sintomas da sífilis de Lênin eram visíveis e que muitos hierarcas russos suspeitavam de que sofria da doença, mas foram proibidos de falar sobre isso até a morte do líder político, em 1924, aos 53 anos.
Os documentos oficiais da época atribuem seu falecimento a três ataques apopléticos sofridos nos dois últimos anos de sua vida e às sequelas de uma tentativa de assassinato em 1918.
Rappaport baseia sua afirmação em um relatório do famoso cientista Ivan Pavlov no qual este afirmava que a revolução tinha sido feita por "um louco com o cérebro sifilítico".
Em seu livro, intitulado "Conspirator: Lenin in Exile" ("Conspirador: Lênin no Exílio", em tradução livre), a historiadora sustenta que o líder russo contraiu sífilis de uma prostituta de Paris em 1902.
Segundo Rappaport, a afirmação de Pavlov sobre Lênin aparece em documentos mantidos na universidade americana de Columbia e nos quais se reproduz uma conversa de 1928 em Paris do primeiro com outro cientista, Mikhail Zernov.
"Pavlov disse a Zernov que Lênin tinha sífilis e manifestava todos os sintomas" da doença, afirma a historiadora.
De acordo com Rappaport, "Pavlov conhecia os cientistas convocados a examinar o cérebro de Lênin depois de sua morte e todos coincidiram nesse diagnóstico".
1469) A profissao academica: do copiar-colar ao consumo de ideias
Confesso não ter a solução para esse problema (e outros, que também afligem a academica, tampouco), mas talvez isso possa estimular alguém a escrever a respeito.
Em todo caso, antes de conseguir fazer uma elaboração mais reflexiva a respeito, transcrevo, como uma espécie de Aide-Mémoire, nosso exchange sobre o assunto.
A "reprodução" acadêmica
On 04/08/2009, at 16:52, Mxxxxxx Sxxxx wrote:
Boa tarde dr. Paulo Roberto , durante uma pesquisa me deparei com alguns textos de sua autoria , os quais me agradaram muito , principalmente na maneira de tecer sua opinião .Gostaria de saber se existe algum artigo que o senhor publicou a respeito do “consumo de idéias”, reprodução do conhecimento no lugar da produção deste.Refiro-me principalmente as universidades as quais deveriam propor a construção do conteúdo ao invés de apenas continuar COPIANDO e COLANDO o que algum ser superior declarou no passado.
Sou universitária e vivencio isso diariamente, não sei dizer se essa situação ocorre apenas na minha faculdade , no meu curso , mas observo que os universitários estão cada vez mais conformados, afinal é mais fácil decorar( ou usar o famoso ctrl C ctrl V) a ter que parar pra refletir , questionar , investigar.
Caso o senhor publicou algum material sobre esse assunto ou algo relacionado a isso , gostaria da indicação bibliográfica ,caso não fica esse e-mail como sugestão.
Agradeço muito a atenção e aguardo resposta
Mxxxxx
Mxxxxx,
Grato pelo contato. Voce levanta um ponto interessante e passível de exame mais detido e discussão pública. Confesso que me senti motivado a escrever algo a respeito, mas infelizmente não tenho nada nessa linha que possa lhe servir neste momento.
Estou atualmente engajado na escritura de uma série de artigos sobre "falácias acadêmicas" e talvez o seu tema possa constituir o objeto de um próximo artigo meu. Até o momento tratei de questões econômicas, sociais e políticas, como você pode ver em meu site, no link "Falácias Acadêmicas".
Acredido que todos, atualmente, professores e alunos, vivenciamos esse tipo de problema, diariamente. Isso tem a ver com a honestidade intelectual, obviamente, mas as fronteiras são tenues, entre a pesquisa honesta, e referenciada, e a apropriação indébita, ou fraudulenta.
Veja que, em meu ultimo artigo (sobre o socialismo de mercado na China), eu aproveitei trechos de um trabalho antigo que tinha ficado incompleto, ou deasproveitado, como tal inédito. Neste caso, sou eu copiando a mim mesmo, o que nao é apropriacao, e sim apenas aproveitamento. Mas, por vezes tambem tem um pouco de Lavoisier, que é a pratica conhecida como transposicao: na Natureza nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma, segundo a frase do famoso cientista frances do seculo 18.
Mas, tambem pesquisei no Google referências para meus ultimos trabalhos, livros publicados por economistas, frases que eles disseram, etc. Por vezes, essas fontes são referenciadas explicitamente, por vezes não.
A maior parte dos alunos, e alguns professores, por inércia, preguiça ou incapacidade própria, acaba transcrevendo trechos inteiros de trabalhos de terceiros para seus próprios trabalhos, o que constitui fraude, apropriação, desonestidade intelectual, e deve ser denunciado.
Mas a prática é mais comum do que se pensa.
Talvez eu escreva algo a respeito. Mas nao tenho nada especial no momento.
Em todo caso agradeço muito sua sugestão, que aproveitarei num próximo trabalho.
Cordialmente,
PS em 2.11.2009: Bem, até agora não tive tempo, oportunidade, lazer para escrever algo a respeito. Vou dedicar meu próximo ensaio da série Falácias ao problema da responsabilidade dos intelectuais, mas este tema permanece em meu "caderninho de próximos trabalhos".
1468) O passado sinistro do Itamaraty, segundo um anti-imperialista de ocasiao...
Creio que ele está enganado ao dizer que Pio Correa espionou para a CIA: ele sempre foi anti-comunista, honestamente se ouso dizer (pois confessa quase tudo o que fez contra os comunistas em seu livro de memórias), mas não há registro de que tenha trabalhado para a CIA. Cooperou, sim, com os objetivos norte-americanos no âmbito da Guerra Fria, assim como outros diplomatas mantinham simpatias por Cuba e pela União Soviética no mesmo período.
Creio que essa época tem de ser vista com menos paixão e mais isenção, como tentei fazer neste meu trabalho sobre o mesmo período:
Paulo Roberto de Almeida:
“Do alinhamento recalcitrante à colaboração relutante: o Itamaraty em tempos de AI-5” In: Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Ventapane Freitas (orgs.), “Tempo Negro, temperatura sufocante": Estado e Sociedade no Brasil do AI-5 (Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, Contraponto, 2008; 396 p. ISBN 978-85-7866-002-4; p. 65-89). (ver o livro neste link).
==========
Juanita e o passado sinistro do Itamaraty
Argemiro Ferreira
Carta Maior, 1.11.2009
Há uma particularidade insólita sobre nosso ministério das Relações Exteriores, o velho Itamaraty. Sempre desfrutou de boa imagem, menos por merecê-la do que pela prática nefasta, talvez de muitos anos, de varrer a sujeira para debaixo do tapete. Atravessou, por exemplo, todo o período da ditadura militar como se vivéssemos no melhor dos mundos, enquanto perseguia diplomatas - intelectuais como Antonio Houaiss, Vinícius de Morais, João Cabral de Melo Neto entre muitos. E prestou-se a papéis indignos mesmo antes do golpe de 1964.
Vale a pena lembrar tais coisas embora neste momento o Itamaraty, com o ministro Celso Amorim à frente, conduza com sucesso uma política externa exemplar. O que sugere revisitar a questão é a iniciativa de uma cubana de Miami, 76 anos de idade, notória pelo detalhe de ser irmã de Fidel e Raul Castro, de revelar num prolixo livro de memórias (Fidel y Raúl, Mis Hermanos – La Historia Secreta, 432 páginas), ter sido agente da CIA, central de espionagem dos EUA, graças à diplomacia brasileira.
Juanita Castro não fez a revelação nesses termos, mas o que escreveu (ou o que escreveu para ela a co-autora mexicana Maria Antonieta Collins, especialista em livros de auto-ajuda que ensinam dietas, receitas, como lidar com ex-maridos, livrar-se do vício do cartão de crédito, etc) permite chegar a tal conclusão. Sem atribuir explicitiamente a carreira de espiã à nossa diplomacia, ela diz ter sido recrutada para a atividade pouco nobre através da mulher do embaixador Vasco Leitão da Cunha, que então servia em Havana.
O péssimo exemplo da embaixatriz
É conveniente esclarecer que, entre outras coisas, agora Juanita se diz traída duas vezes - uma pelo irmão Fidel, a outra pela CIA e os EUA. No primeiro caso, a gente entende: como governante Fidel optou por cuidar dos problemas do país, não dos interesses da família. Quanto ao país que a recebeu, queixou-se de que a CIA no governo do presidente Nixon, eleito em 1968, pediu a ela para mudar o discurso e sustar os ataques a Cuba e Fidel - ou seja, dizer o contrário do que dizia até então.
Mas voltemos à diplomacia. Como chefe da missão do Brasil, o embaixador Leitão da Cunha recebera Juanita como asilada em 1958, ainda no governo JK. Ela alegara correr risco por ser irmã de Fidel, então líder dos guerrilheiros que lutavam contra o ditador Fulgencio Batista. Vitoriosa a revolução no primeiro dia de 1959, ela deixou a embaixada. E em 1961, depois do fracasso (em abril) da invasão da CIA (na baía dos Porcos) a embaixatriz Virginia Leitão, ciente da atividade dela contra o governo revolucionário do irmão, chamou-a para uma conversa. E sugeriu que passasse a colaborar “com uns amigos que conhecem seu trabalho (contra o governo) e querem ajudá-la”.
De acordo com a versão, Virginia encarregou-se de promover o encontro de Juanita com um dos “amigos”, Tony Sforza, então usando o codinome “Enrique”, depois de ter atuado um tempo sob o disfarce de jogador e frequentador de cassinos, com o codinome “Frank Stevens”. Logo depois Juanita passava a operar como agente da CIA em território cubano, com o codinome “Donna”. A se acreditar no livro, durante quase três anos (até 1964, quando foi para os EUA), ela “protegia”, inclusive escondendo em sua casa, críticos e opositores da revolução.
As relações promíscuas de diplomatas
Daí em diante Juanita foi usada permanentemente pela CIA como arma de propaganda. A ligação dela com a espionagem americana não era segredo. Já em 1975, no seu livro Inside the Company - CIA Diary, o ex-espião Philip Agee, citou-a como “agente de propaganda da CIA”. E num livro póstumo de 2005, Spymaster - My Life in the CIA, o célebre Ted Schackley, controvertido ex-chefe de operações da agência, revelou publicamente, pela primeira vez, que o contato da CIA com Juanita Castro tinha sido feito através da embaixatriz brasileira Virginia Leitão da Cunha.
Difícil é entender porque o fato ainda era ocultado no Brasil e porque não se tenta saber mais sobre as relações promíscuas de diplomatas e gente direta ou indiretamente ligada ao Itamaraty, dentro e fora do país? O mesmo livro que fizera (em 1975) a primeira referência à relação de Juanita com a CIA também registrara que no Uruguai, na década de 1960, o embaixador brasileiro Manuel Pio Corrêa atuara como espião da CIA.
Mas só em julho de 2007, graças a série de reportagens do Correio Braziliense durante quatro dias seguidos, o país soube a extensão do papel de Corrêa. Depois de passar pelo Uruguai e pela Argentina ele foi premiado com a secretaria geral do Itamaraty e usou o cargo - e os superpoderes recebidos no governo Castello Branco - para criar insólita máquina de espionagem no ministério, com alcance mundial. Um certo Centro de Informações do Exterior (CIEX) dedicava-se a monitorar em toda parte, com a ajuda de nossos diplomatas, os exilados brasileiros e críticos do regime militar.
D. Hélder e a espionagem de Pio Corrêa
Por alguma razão desconhecida a grande mídia do resto do país, cúmplice do golpe de 1964 e beneficiária da ditadura durante 20 anos, preferiu praticamente ignorar o conteúdo daquelas reportagens. Mas um dos efeitos conspícuos da ação do CIEX pode ter sido a campanha mundial orquestrada pela diplomacia brasileira para impedir a concessão do prêmio Nobel da Paz ao arcebispo Hélder Câmara, que denunciava torturas e abusos contra os direitos humanos no Brasil. A maquinação torpe devia ser hoje motivo de estudo e repúdio na formação dos futuros diplomatas.
Mas os segredos do Itamaraty, ao contrário, parecem intocáveis. No seu livro de memórias, O mundo em que vivi, o próprio Pio Corrêa, ao negar perseguição a Vinícius de Moraes (que se desligou, alega ele, num acordo amistoso) vangloriou-se de ter demitido “pederastas”, “vagabundos” e “bêbados”. Houaiss e João Cabral já eram perseguidos antes da ditadura, como alvos de campanha macarthista liderada, ainda no início da guerra fria, pela Tribuna da Imprensa ao tempo de Carlos Lacerda, que os denunciava como subversivos em manchetes de primeira página.
Seria no mínimo saudável arejar esse passado recente e não perpetuar o sigilo. O Itamaraty foi suspeito antes de ocultar seus erros e ainda os gastos elevados, como se fosse uma caixa preta. O fato de alguém como Virginia Leitão da Cunha - cujo marido ocupou altos cargos, foi até ministro do Exterior da ditadura - ter atuado como espiã a serviço de potência estrangeira, dentro da embaixada brasileira, e recrutado agente para serviço de espionagem de outro país, é vergonha que tem de ser exposta à execração pública, para o exemplo nunca ser seguido. E se deixar de ser feita coisa parecida em relação aos Pio Corrêa da vida, a impunidade funcionará como estímulo no futuro ao mesmo comportamento deprimente - que revela subserviência e rebaixa a qualidade de nossa diplomacia.
http://argemiroferreira.wordpress.com/
======
PS Paulo Roberto de Almeida:
Cabe registrar aqui mais um comentário pessoal, baseado em meu parco conhecimento da vida e das posições do Embaixador Vasco Leitão da Cunha, que deixou um livro de memórias, chamado Diplomacia em Alto Mar.
Enquanto foi representante diplomáatico brasileiro, Vasco Leitao abrigou, na Embaixada do Brasil em Havana, muitos opositores de Batista, na fase revolucionaria, e depois muitos opositores de Fidel, após a vitoria da revoluçnao. Ou seja, fez seu trabalho diplomatico, sem olhar ideologias e paixoes revolucionarias, de um lado e de outro.
Pode-se dizer que era um ecletico, ou um gentleman, como muitos se referem a ele. Em todo caso, era um embaixador ao velho estilo, com todos os tiques e trejeitos dos diplomatas punhos de renda, e tambem, um defensor consciente da opcao americana para o Brasil, um conservador sincero e honesto. O pessoal de esquerda pode chama-lo de reacionario, por causa de sua adesao ao movimento militar em 1964, mas isso porque esse pessoal tambem tem uma visao maniqueista do mundo, um pouco como o Pio Correa, um anticomunista profissional...
Cada um tem direito a sua opiniao, e de expo-la livremente, sem esses maniqueismos tao ridiculos como os de Argemiro Ferreira no arquivo abaixo. Como se outros nao tivessem espionado para os sovieticos.
Mas, claro, apenas a CIA é pecaminosa, ilegitima, desrespeitadora da soberania brasileira e interessada em subordinar o Brasil aos interesses americanos. A URSS e a KGB estavam sinceramente comprometidas com o desenvolvimento brasileiro...
Certos maniqueistas só vem o problema de um lado...
Postagem em destaque
Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida
Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...
-
Uma preparação de longo curso e uma vida nômade Paulo Roberto de Almeida A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em ...
-
FAQ do Candidato a Diplomata por Renato Domith Godinho TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplom...
-
Países de Maior Acesso aos textos PRA em Academia.edu (apenas os superiores a 100 acessos) Compilação Paulo Roberto de Almeida (15/12/2025) ...
-
Mercado Comum da Guerra? O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios memb...
-
Reproduzo novamente uma postagem minha de 2020, quando foi publicado o livro de Dennys Xavier sobre Thomas Sowell quarta-feira, 4 de março...
-
Itamaraty 'Memórias', do embaixador Marcos Azambuja, é uma aula de diplomacia Embaixador foi um grande contador de histórias, ...
-
Israel Products in India: Check the Complete list of Israeli Brands! Several Israeli companies have established themselves in the Indian m...
-
Pequeno manual prático da decadência (recomendável em caráter preventivo...) Paulo Roberto de Almeida Colaboração a número especial da rev...
-
Desde el post de José Antonio Sanahuja Persles (Linkedin) Con Camilo López Burian, de la Universidad de la República, estudiamos el ascens...
