Well, sort of. Nada de garimpagem, depredação do meio ambiente, homens brutos atrás da pepita salvadora, bebendo demais em bares miseráveis, assediando mulheres e filhas do local, não, nada disso.
Uma corrida civilizada, só para quem tem dinheiro para investir. Bem, pode-se perder dinheiro, também, mas muitos vão tentar...
L'or dure, mais...
Le Monde, 16.01.2010
Matières premières
Ruez-vous sur l'or, car la fête de l'once ne devrait pas se prolonger au-delà de cette année. C'est Philip Klapwijk, le président du cabinet GMFS réputé pour le sérieux de ses études sur les métaux précieux, qui l'a dit, mercredi 13 janvier à Londres, en présentant les perspectives du marché : "La lune de miel ne sera pas éternelle."
Quelle lune de miel ? L'or devrait retrouver et battre son record historique de décembre 2009 à 1 226,56 dollars. Vendredi, l'once est retombée à 1 131 dollars à Londres, mais M. Klapwijk "pense qu'au second semestre, nous pourrions voir les prix pousser au-delà des 1 300 dollars". A condition qu'un courant vigoureux d'argent frais se dirige vers le marché de l'or, "en provenance des institutions comme les compagnies d'assurances, les fonds de pension et les fonds souverains de plus en plus actifs".
Qu'est-ce qui inciterait ces riches moutons de Panurge à miser sur le métal précieux ? "La peur d'une rechute dans la récession, la persistance d'énormes déficits publics, une politique monétaire très laxiste et la conviction qu'une inflation forte, sinon galopante, va faire son retour", explique le patron de GMFS. "Comme la reprise économique sera molle, poursuit-il, il y aura donc peu ou pas de tour de vis monétaire dans les grandes économies cette année, et cela soulève de sérieuses questions sur la solvabilité des gouvernements."
"Cela tisse une toile de fond qui reste très favorable à l'investissement or", poursuit-il. Autrement dit, la vocation de coffre-fort de l'or devrait se confirmer de façon éclatante. C.Q.F.D.
Mais alors pourquoi M. Klapwijk parle-t-il de "lune de miel" qui pourrait tourner mal ? Pourquoi, après nous avoir fait miroiter un eldorado, parle-t-il de "possibilité d'une correction significative dans les six prochains mois" ?
D'abord parce que, comme tous les prévisionnistes, il se protège en disant que le contraire de ce qu'il annonce peut arriver. On ne sait jamais. Ensuite, parce que la pierre philosophale pourrait tout à fait fonctionner à l'envers, changeant l'or en métal plus vulgaire.
Si le dollar redresse la tête, parce que l'euro pâtit des malheurs de la Grèce, les investisseurs miseront sur le billet vert et plus sur l'or. Si les belles Indiennes persistent à snober la bijouterie en or devenue hors de prix (- 23 % pour la demande mondiale en 2009), l'argent en profitera.
Sauve-qui-peut
Si la production minière (+6 % en 2009) et le recyclage (+27 %) continuent à doper l'offre d'or, les investisseurs pourraient y voir les prémices d'une baisse des cours et se lancer dans un sauve-qui-peut.
Si la reprise économique et un retour du goût pour le risque se confirment, on verra les capitaux quitter le douillet refuge de l'or et se placer dans des valeurs de vraie croissance.
Combien pariez-vous que le cours du beau métal qui ne craint "ni la rouille ni les vers" sera tout sauf un long fleuve tranquille en 2010 ?
Alain Faujas
Article paru dans l'édition du 17.01.2010
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 17 de janeiro de 2010
1701) Como a internet mudou a minha vida...
A crônica de Janer Cristaldo se refere às perguntas anuais do site The Edge.
Para quem não conhece, é um forum de debates sobre questões científicas, que todo ano faz uma provocação com seus associados, instando-os a responder uma pergunta incisiva.
Já fiz, de minha parte, uma resposta unilateral, aqui consignada:
Em que você mudou de opinião? E por quê?, Via Política, 17.02.2008 (Trabalho 1861)
Janer Cristaldo é um colunista independente, no sentido mais libertário da palavra. Vale uma visita ao seu site.
O que vai abaixo é sua resposta à pergunta do final de 2009 do The Edge.
Paulo Roberto de Almeida (17.01.2010)
COMO A INTERNET MUDOU MINHA VIDA
Janer Cristaldo
Terça-feira, Janeiro 12, 2010
Um amigo me envia um site chamado Edge, que funciona como um "salão" de pensadores (físicos, psicólogos, neurocientistas, matemáticos, artistas, jornalistas, filósofos...) do qual fazem parte alguns nomes relativamente famosos como Nassim Taleb, Richard Dawkins e Steven Pinker. Durante todo o ano os participantes escrevem sobre assuntos relacionados especialmente ao seu trabalho, e a cada ano o fundador, John Brockman, faz uma pergunta que todos, ou quase todos, respondem com um texto. Este ano a pergunta foi "Como a Internet mudou a sua forma de pensar?", e apareceu em diversos lugares das media mundiais.
Para quem quiser dar uma olhada, a página inicial do site, relacionada à pergunta do ano, é http://www.edge.org/q2010/q10_index.html. Os textos realmente começam em http://www.edge.org/q2010/q10_1.html. Perguntas passadas do site incluem:
- No que você acredita, mas não pode provar?
- Qual é sua idéia perigosa?
- A respeito de quê você mudou de idéia? Por quê?
São questões que fazem pensar. Quanto à pergunta deste ano, minha resposta é singela. A Internet não mudou em nada minha forma de pensar. Quando cheguei à Internet já tinha bem mais de 50 anos e uma visão de mundo consolidada. A questão não é muito feliz. Não vejo como uma forma de comunicação possa mudar a maneira de pensar de alguém. Se me perguntassem o que mudou em minha vida, bom, aí eu teria muito a dizer.
Para começar, na vida de um jornalista a Internet se tornou sinônimo de liberdade de expressão. Os jornais enchem a boca falando de imprensa livre, mas nenhuma imprensa é realmente livre. Todos os jornais têm interesses a defender – que mais não seja, os interesses dos anunciantes – e sempre censuram, de uma ou outra forma, seus redatores. Você até pode xingar o governo. Mas não pode xingar o anunciante. Nos dias em que escrevi em papel, sempre me autocensurei um pouco. Sabia que certas afirmações não podiam ser publicadas. Então, para não incomodar-me, as deixava de lado.
Hoje, mudou o trote da mula. Na Internet, você pode escrever o que quiser. Claro que continua submetido à legislação. Se cometer crime de calúnia ou difamação, estará incurso nas mesmas penalidades que um conversador de boteco. Mas pode-se xingar o papa à vontade, denunciar a manipulação da grande imprensa, abordar temas-tabu. Verdade que alguns juízes já se alertaram para esta brecha e começam a censurar blogs. Mas, uma vez destapada a garrafa, o gênio não volta à garrafa. Censurar a Internet é como tentar parar a chuva a golpes de sabre.
Neste sentido, minha vida mudou e muito. Nossas vidas mudaram. Hoje, qualquer jornalista pode fazer jornalismo sem depender de jornal algum. Furar um jornal não exige maior esforço. Os jornais saem sempre amanhã. O blogueiro escreve agora. Além do mais, faz sua própria pauta e não depende de patrão algum. A liberdade de imprensa, tão apregoada pelos jornais, só surge a meu ver com a Internet.
Outra mudança em meus dias: hoje, não recebo mais cartas. A não ser de bancos e empresas ou entidades públicas. Carta virou peça de museu. Em 2000, passando por Évora, em Portugal, comprei dois pesados estribos de madeira. Não que pretendesse cavalgar. É que me pareceram muito adequados para guardar cartas. O que não me ocorreu é que, naqueles dias, eu já não recebia cartas. Enfim, para algo servem. Para guardar aqueles papeluchos que infestam minha escrivaninha, contas de luz, água e telefone.
Posso até ter saudades das cartas, mas não me queixo. Email é mais rápido e não precisamos ir ao correio, entrar em filas, lamber selos, postar. Podemos enviar sons e imagens em poucos segundos. Neste sentido, a Internet mudou a vida de todo mundo.
Outra mudança fundamental, particularmente para quem vive em pequenas cidades: você quer um livro ou filme que jamais iria encontrar em sua aldeia? Simples. Alguns cliques e uma ou duas semanas depois chega em sua casa aquele livro ou DVD que só existem em Paris ou Nova York. Isso sem falar nos ebooks. Por um livro eletrônico não preciso esperar uma semana. Ele chega em segundos às minhas mãos. Você precisa consultar já uma obra de Platão? Estão todas na rede. Alguns toques de teclado e o livro está em suas mãos, mesmo que você viva na mais remota aldeia do país.
Sim, havia um certo charme na correspondência epistolar. Em meus dias de Paris, na correspondência com minhas amigas, eu escolhia um papel bonito, envelope idem, comprava um selo significativo, caprichava na datilografia e tinha um especial prazer em despachar minhas cartas. Sem falar na tensão da espera. Uma semana depois, a resposta. Buscar correspondência na caixa do prédio era sempre uma expectativa prazerosa. Hoje, basta ligar o computador.
Não, não deploro os tempos modernos. Mas aqueles outros tempos também eram muito bons. De minha epistolografia parisiense fiz um grosso volume, de umas trezentas páginas. (Hoje caberia num disquete, se é que disquete ainda existe). Guardo este volume como uma relíquia do passado, uma espécie de diário de dias em que era feliz e não sabia.
Passagens, reservas de hotéis, roteiros de viagem. Hoje, posso fazer tudo isto sentado em minha casa. Antes da Web, estas diligências exigiam horas de consultas a um agente de turismo. Outra mudança importante em minha vida foi o reencontro de amigos e amigas que não via há trinta ou mais anos. (Já encontrei pessoa que não via há 45 anos). Sem a Internet, jamais os reencontraria.
Isso sem falar nos amigos que surgem. Se nem sempre temos idéia do que pode interessar a nosso vizinho de porta, é muito fácil encontrar na rede quem participe de nossa Weltanschauung, mesmo que viva nas antípodas. Hoje, alguém que vive em outro continente está potencialmente mais perto de mim do que alguém que vive a meu lado. Nestes dias, temos mais amigos no planetinha do que no prédio onde vivemos.
A Internet não mudou em nada minha forma de pensar. Mas tornou minha vida mais ágil e rápida. Acho que voltarei ao assunto.
- Enviado por Janer @ 8:28 PM
Para quem não conhece, é um forum de debates sobre questões científicas, que todo ano faz uma provocação com seus associados, instando-os a responder uma pergunta incisiva.
Já fiz, de minha parte, uma resposta unilateral, aqui consignada:
Em que você mudou de opinião? E por quê?, Via Política, 17.02.2008 (Trabalho 1861)
Janer Cristaldo é um colunista independente, no sentido mais libertário da palavra. Vale uma visita ao seu site.
O que vai abaixo é sua resposta à pergunta do final de 2009 do The Edge.
Paulo Roberto de Almeida (17.01.2010)
COMO A INTERNET MUDOU MINHA VIDA
Janer Cristaldo
Terça-feira, Janeiro 12, 2010
Um amigo me envia um site chamado Edge, que funciona como um "salão" de pensadores (físicos, psicólogos, neurocientistas, matemáticos, artistas, jornalistas, filósofos...) do qual fazem parte alguns nomes relativamente famosos como Nassim Taleb, Richard Dawkins e Steven Pinker. Durante todo o ano os participantes escrevem sobre assuntos relacionados especialmente ao seu trabalho, e a cada ano o fundador, John Brockman, faz uma pergunta que todos, ou quase todos, respondem com um texto. Este ano a pergunta foi "Como a Internet mudou a sua forma de pensar?", e apareceu em diversos lugares das media mundiais.
Para quem quiser dar uma olhada, a página inicial do site, relacionada à pergunta do ano, é http://www.edge.org/q2010/q10_index.html. Os textos realmente começam em http://www.edge.org/q2010/q10_1.html. Perguntas passadas do site incluem:
- No que você acredita, mas não pode provar?
- Qual é sua idéia perigosa?
- A respeito de quê você mudou de idéia? Por quê?
São questões que fazem pensar. Quanto à pergunta deste ano, minha resposta é singela. A Internet não mudou em nada minha forma de pensar. Quando cheguei à Internet já tinha bem mais de 50 anos e uma visão de mundo consolidada. A questão não é muito feliz. Não vejo como uma forma de comunicação possa mudar a maneira de pensar de alguém. Se me perguntassem o que mudou em minha vida, bom, aí eu teria muito a dizer.
Para começar, na vida de um jornalista a Internet se tornou sinônimo de liberdade de expressão. Os jornais enchem a boca falando de imprensa livre, mas nenhuma imprensa é realmente livre. Todos os jornais têm interesses a defender – que mais não seja, os interesses dos anunciantes – e sempre censuram, de uma ou outra forma, seus redatores. Você até pode xingar o governo. Mas não pode xingar o anunciante. Nos dias em que escrevi em papel, sempre me autocensurei um pouco. Sabia que certas afirmações não podiam ser publicadas. Então, para não incomodar-me, as deixava de lado.
Hoje, mudou o trote da mula. Na Internet, você pode escrever o que quiser. Claro que continua submetido à legislação. Se cometer crime de calúnia ou difamação, estará incurso nas mesmas penalidades que um conversador de boteco. Mas pode-se xingar o papa à vontade, denunciar a manipulação da grande imprensa, abordar temas-tabu. Verdade que alguns juízes já se alertaram para esta brecha e começam a censurar blogs. Mas, uma vez destapada a garrafa, o gênio não volta à garrafa. Censurar a Internet é como tentar parar a chuva a golpes de sabre.
Neste sentido, minha vida mudou e muito. Nossas vidas mudaram. Hoje, qualquer jornalista pode fazer jornalismo sem depender de jornal algum. Furar um jornal não exige maior esforço. Os jornais saem sempre amanhã. O blogueiro escreve agora. Além do mais, faz sua própria pauta e não depende de patrão algum. A liberdade de imprensa, tão apregoada pelos jornais, só surge a meu ver com a Internet.
Outra mudança em meus dias: hoje, não recebo mais cartas. A não ser de bancos e empresas ou entidades públicas. Carta virou peça de museu. Em 2000, passando por Évora, em Portugal, comprei dois pesados estribos de madeira. Não que pretendesse cavalgar. É que me pareceram muito adequados para guardar cartas. O que não me ocorreu é que, naqueles dias, eu já não recebia cartas. Enfim, para algo servem. Para guardar aqueles papeluchos que infestam minha escrivaninha, contas de luz, água e telefone.
Posso até ter saudades das cartas, mas não me queixo. Email é mais rápido e não precisamos ir ao correio, entrar em filas, lamber selos, postar. Podemos enviar sons e imagens em poucos segundos. Neste sentido, a Internet mudou a vida de todo mundo.
Outra mudança fundamental, particularmente para quem vive em pequenas cidades: você quer um livro ou filme que jamais iria encontrar em sua aldeia? Simples. Alguns cliques e uma ou duas semanas depois chega em sua casa aquele livro ou DVD que só existem em Paris ou Nova York. Isso sem falar nos ebooks. Por um livro eletrônico não preciso esperar uma semana. Ele chega em segundos às minhas mãos. Você precisa consultar já uma obra de Platão? Estão todas na rede. Alguns toques de teclado e o livro está em suas mãos, mesmo que você viva na mais remota aldeia do país.
Sim, havia um certo charme na correspondência epistolar. Em meus dias de Paris, na correspondência com minhas amigas, eu escolhia um papel bonito, envelope idem, comprava um selo significativo, caprichava na datilografia e tinha um especial prazer em despachar minhas cartas. Sem falar na tensão da espera. Uma semana depois, a resposta. Buscar correspondência na caixa do prédio era sempre uma expectativa prazerosa. Hoje, basta ligar o computador.
Não, não deploro os tempos modernos. Mas aqueles outros tempos também eram muito bons. De minha epistolografia parisiense fiz um grosso volume, de umas trezentas páginas. (Hoje caberia num disquete, se é que disquete ainda existe). Guardo este volume como uma relíquia do passado, uma espécie de diário de dias em que era feliz e não sabia.
Passagens, reservas de hotéis, roteiros de viagem. Hoje, posso fazer tudo isto sentado em minha casa. Antes da Web, estas diligências exigiam horas de consultas a um agente de turismo. Outra mudança importante em minha vida foi o reencontro de amigos e amigas que não via há trinta ou mais anos. (Já encontrei pessoa que não via há 45 anos). Sem a Internet, jamais os reencontraria.
Isso sem falar nos amigos que surgem. Se nem sempre temos idéia do que pode interessar a nosso vizinho de porta, é muito fácil encontrar na rede quem participe de nossa Weltanschauung, mesmo que viva nas antípodas. Hoje, alguém que vive em outro continente está potencialmente mais perto de mim do que alguém que vive a meu lado. Nestes dias, temos mais amigos no planetinha do que no prédio onde vivemos.
A Internet não mudou em nada minha forma de pensar. Mas tornou minha vida mais ágil e rápida. Acho que voltarei ao assunto.
- Enviado por Janer @ 8:28 PM
sábado, 16 de janeiro de 2010
1700) Carreira diplomatica: especializacao e escolha de lotacao e postos...
Carreira Diplomática: Geral ou Especializada?
Respondendo a dúvidas legítimas
Paulo Roberto de Almeida
Um leitor de meu blog, eventualmente de meu site, interessado na carreira diplomática, me escreve para formular perguntas em torno de uma das mais legítimas dúvidas que assaltam candidatos à carreira, e que já possuem algum interesse por áreas específicas, tentando saber, ou antecipar, se poderão, ou não, se dirigir, no trabalho profissional, para essas áreas de interesse, ou se terão de seguir o itinerário normal de uma carreira passavelmente burocrática, mas, também, amplamente diversificada. Na verdade, muitas pessoas gostariam de poder continuar fazendo, na diplomacia, o que já vem fazendo na vida profissional, ou acadêmica, ou então enveredar por um tipo determinado de trabalho, à exclusão de alguns outros, que poderiam lhe ser atribuídos sem possibilidade de escolha ou de recusa, trabalho que seria uma extensão preferencial de seus desejos pessoais, o que é amplamente legítimo e respeitado em diversas outras esferas de trabalho.
Concretamente, meu correspondente me coloca a seguinte questão:
“A minha dúvida não é sobre a prova, mas sim sobre o encaminhamento da carreira. Por mais que o senhor diga que o diplomata é um generalista, é possível direcionar a carreira para a área de interesse - formação? No meu caso, meu sonho é trabalhar com cooperação cultural internacional, na interface cultura e desenvolvimento - como se daria este caminho dentro do Ministério das Relações Exteriores?”
Continua ainda o meu correspondente, candidato à carreira:
“Se não for inconveniente (ou seja, pedir demais), também gostaria de saber em que ponto anda a atuação do Departamento Cultural do MRE em relação às discussões e parâmetros da UNESCO. Acompanho os Informes Mundiais de Cultura, e gostaria de saber se isso está no dia-a-dia da prática do referido departamento, ou se ele está voltado unicamente à ação cultural. Eu pesquisei no site do MRE na internet mas gostaria de uma impressão mais ‘de dentro’ a respeito do assunto. Além de eu querer entrar para a carreira, meu TCC da pós-graduação deverá ser a respeito de algum desses temas, para não criar um ‘estudo esquizofrênico’.”
Muito bem, expostas as dúvidas e colocadas as questões, vejamos o que eu poderia elaborar em torno delas. Eu o farei na medida de minhas possibilidades, posto que nunca trabalhei na área cultural, tendo orientado minha carreira para a área econômica, que constitui, justamente, uma de minhas afinidades eletivas.
A primeira pergunta, portanto, seria esta: “é possível direcionar a carreira para a área de interesse - formação?”
Respondo de imediato: é possível, sim, mas isso dentro de certos parâmetros e condicionantes, nem todas administráveis pelo jovem diplomata segundo seus interesses primários ou imediatos. Concretamente, como se dá o processo de escolha ou atribuição de funções, dentro da Secretaria de Estado (MRE, em Brasília) ou nos postos no exterior?
Toda a carreira diplomática, ou quase toda, é guiada por uma (famigerada?) lista de antiguidade, um expediente de tipo confuciano que nos posiciona no processo de ascensão funcional e nas movimentações ao longo do tempo. Concretamente, quando se faz o concurso e se é admitido na carreira – atualmente desde o ingresso no Instituto Rio Branco, a alma mater de formação e de socialização do jovem diplomata – se entra numa fila, cuja ordem de precedência é dada pela colocação nos resultados finais do exame de ingresso. Ou seja: os novos ingressantes terão o número que lhes cabe, em função das vagas disponíveis no Serviço Exterior, o que significa que os entrantes se distribuirão nos últimos postos da classe de Terceiro Secretário.
Ao sair do Instituto Rio Branco, aprovados obviamente, eles continuam a ter um número, mas este resultará de sua classificação final. Ainda durante o curso, eles farão estágios nas diversas Divisões ou Coordenadorias do MRE, uma escolha ou atribuição supostamente segundo essa classificação inicial e continuada: ou seja, os primeiros colocados provavelmente terão maior amplitude de escolha, e os últimos terão de se conformar com as vagas existentes: se for na Divisão do Arquivo terá de ser, pelo menos inicialmente na Divisão do Arquivo. Nada de muito dramático, pois sempre será possível solicitar e negociar uma mudança ao cabo de algum tempo, digamos depois de um ano. Em princípio, havendo vaga e disposição do chefe na Divisão de interesse, sempre será possível negociar a ida para essa área. A rigor, a burocracia se combina com certo grau de liberdade para determinar a lotação – esta a palavra técnica – do funcionário, numa determinada área.
Da mesma forma, a destinação exterior em algum posto também depende, em grande medida, da classificação do candidato em questão e das vagas disponíveis: todo e qualquer posto tem um quadro de funcionários relativamente estável (tantos secretários, alguns conselheiros, um ou dois ministros, para os maiores, e assim por diante). Nem sempre é possível, digamos, ir para a Unesco em Paris segundo sua própria vontade, mas é possível negociar uma ida em algum momento da carreira, desde que se consiga planejar e consolidar algumas escolhas nos momentos certos.
Digo isto porque o Itamaraty, ademais de ser essencialmente burocrático, num sentido institucionalmente weberiano, tem algum grau de arbítrio, o que o aproxima de uma burocracia feudal, no sentido de responder a determinações dos “barões” da Casa: a chefia política (ministro de Estado, secretário-geral) dispõe de grande poder de “lotação”, assim como a própria chefia do Serviço Exterior. Algumas regras estão codificadas (tempo de posto no exterior, alternância entre postos A, B, C etc.), outras regras dependem mais de um processo político de negociação e de mérito.
De fato, a carreira toda é marcada por algumas características próprias a toda carreira de Estado – como a dos militares, por exemplo – e algumas peculiaridades da diplomacia: em princípio, o mérito é reconhecido, mas as relações humanas, ou sociais, também contam na trajetória funcional. Um diplomata reconhecidamente sério e trabalhador receberá convites para trabalhar em determinadas funções de responsabilidade, embora outros possam receber esses convites também em função de algum vinculo familiar ou o famoso QI, quem indica (ou pistolão). Isso existe e não se pode negar: aliás, mesmo no setor privado, as relações humanas se combinam a trabalho para determinar o sucesso, ou não, de um determinado funcionário.
Portanto, a lotação de um diplomata, no começo ou no meio da carreira, dependerá tanto de seu posicionamento na lista de antiguidade, quanto de seu reconhecimento funcional, tanto por mérito próprio como pela rede de relacionamento que ele possa ter, sendo este último fator mais importante, talvez, nos escalões mais avançados da carreira. Isto vale para a área cultural como para qualquer outra área.
Em meu caso, tanto por preferência pessoal, como por convites, fui orientado e orientei-me bem mais para os setores de economia do que outras áreas, mas talvez eu pudesse ter trabalhado em áreas diferentes (política, cultural, jurídica), se tivesse interesse ou inclinação para fazê-lo. De minha parte, eu poderia facilmente trabalhar numa área política, de segurança internacional, de tecnologia, mas jamais teria me orientado, por vontade própria, para áreas jurídicas (por incompetência, talvez), para o cerimonial (falta de jeito, provavelmente) ou para a administração (simples falta de gosto, confesso, embora reconheça a importância).
Da mesma forma, nunca procurei, nem nunca pedi, para trabalhar em New York, na sede da ONU, pois (provavelmente por preconceito) eu acho o “grand machin” (como a ela se referia o General De Gaulle) essencialmente burocrática e “enrolativa”, preferindo Genebra (também ONU, mas mais orientada a temas econômicos, como o GATT e outros organismos). Da mesma forma, me dei muito bem na área de integração (Aladi, em Montevidéu, e em Brasília, idem) e na econômico-financeira (em Brasília e Washington, acompanhando FMI e Banco Mundial). Se alguém me convidasse para chefiar o cerimonial ou a administração em Brasília, eu provavelmente recusaria, mas nem sempre se pode recusar essas áreas no exterior, quando o posto é pequeno e as escolhas mais reduzidas.
No geral, é possível sim, mesmo se a carreira não oferece, oficialmente, nenhuma especialização, construir a sua própria especialização: de minha parte isso foi possível, não todo o tempo, mas most of the time... Esse debate, ou dilema, entre generalidades e especialização é em grande medida artificial, pois, a despeito de certas limitações inerentes a qualquer carreira burocrática, é possível manter certo gosto por certas áreas e ser capaz de exercer (e desfrutar) essas preferências.
Em contrapartida, eu não consigo responder adequadamente a questão do trabalho na área cultural, e suas relações com a Unesco, posto que nunca trabalhei nessa área. Suponho, como no caso de outros organismos internacionais, que existe um mix de formulação de agenda de trabalho que combina o peso burocrático desses organismos – e alguns deles são verdadeiramente “dinossáuricos”, stricto et lato sensi – e sugestões ou exigências dos países membros. Todo e qualquer organismo internacional possui uma agenda própria de trabalho, derivada de seu mandato original, e uma agenda composta das demandas dos países, formuladas nas delegações ou nas capitais. Pessoalmente eu considero a Unesco um desses dinossauros parisienses, que provavelmente gasta mais dinheiro em Paris do que na destinação final, e suposta, de seu trabalho de promoção da cultura ‘universal’. Mas, esse deve ser outro preconceito meu. Gostaria de poder responder mais concretamente, mas não consigo fazê-lo sem um conhecimento preciso (e “especializado”) da área.
Voilà, eis o que eu poderia responder e espero que satisfaça meu correspondente candidato à carreira.
Felicidades na carreira, muito estudo até ingressar e sucesso em sua vida pessoal e profissional.
Brasília, 16 de janeiro de 2010.
Respondendo a dúvidas legítimas
Paulo Roberto de Almeida
Um leitor de meu blog, eventualmente de meu site, interessado na carreira diplomática, me escreve para formular perguntas em torno de uma das mais legítimas dúvidas que assaltam candidatos à carreira, e que já possuem algum interesse por áreas específicas, tentando saber, ou antecipar, se poderão, ou não, se dirigir, no trabalho profissional, para essas áreas de interesse, ou se terão de seguir o itinerário normal de uma carreira passavelmente burocrática, mas, também, amplamente diversificada. Na verdade, muitas pessoas gostariam de poder continuar fazendo, na diplomacia, o que já vem fazendo na vida profissional, ou acadêmica, ou então enveredar por um tipo determinado de trabalho, à exclusão de alguns outros, que poderiam lhe ser atribuídos sem possibilidade de escolha ou de recusa, trabalho que seria uma extensão preferencial de seus desejos pessoais, o que é amplamente legítimo e respeitado em diversas outras esferas de trabalho.
Concretamente, meu correspondente me coloca a seguinte questão:
“A minha dúvida não é sobre a prova, mas sim sobre o encaminhamento da carreira. Por mais que o senhor diga que o diplomata é um generalista, é possível direcionar a carreira para a área de interesse - formação? No meu caso, meu sonho é trabalhar com cooperação cultural internacional, na interface cultura e desenvolvimento - como se daria este caminho dentro do Ministério das Relações Exteriores?”
Continua ainda o meu correspondente, candidato à carreira:
“Se não for inconveniente (ou seja, pedir demais), também gostaria de saber em que ponto anda a atuação do Departamento Cultural do MRE em relação às discussões e parâmetros da UNESCO. Acompanho os Informes Mundiais de Cultura, e gostaria de saber se isso está no dia-a-dia da prática do referido departamento, ou se ele está voltado unicamente à ação cultural. Eu pesquisei no site do MRE na internet mas gostaria de uma impressão mais ‘de dentro’ a respeito do assunto. Além de eu querer entrar para a carreira, meu TCC da pós-graduação deverá ser a respeito de algum desses temas, para não criar um ‘estudo esquizofrênico’.”
Muito bem, expostas as dúvidas e colocadas as questões, vejamos o que eu poderia elaborar em torno delas. Eu o farei na medida de minhas possibilidades, posto que nunca trabalhei na área cultural, tendo orientado minha carreira para a área econômica, que constitui, justamente, uma de minhas afinidades eletivas.
A primeira pergunta, portanto, seria esta: “é possível direcionar a carreira para a área de interesse - formação?”
Respondo de imediato: é possível, sim, mas isso dentro de certos parâmetros e condicionantes, nem todas administráveis pelo jovem diplomata segundo seus interesses primários ou imediatos. Concretamente, como se dá o processo de escolha ou atribuição de funções, dentro da Secretaria de Estado (MRE, em Brasília) ou nos postos no exterior?
Toda a carreira diplomática, ou quase toda, é guiada por uma (famigerada?) lista de antiguidade, um expediente de tipo confuciano que nos posiciona no processo de ascensão funcional e nas movimentações ao longo do tempo. Concretamente, quando se faz o concurso e se é admitido na carreira – atualmente desde o ingresso no Instituto Rio Branco, a alma mater de formação e de socialização do jovem diplomata – se entra numa fila, cuja ordem de precedência é dada pela colocação nos resultados finais do exame de ingresso. Ou seja: os novos ingressantes terão o número que lhes cabe, em função das vagas disponíveis no Serviço Exterior, o que significa que os entrantes se distribuirão nos últimos postos da classe de Terceiro Secretário.
Ao sair do Instituto Rio Branco, aprovados obviamente, eles continuam a ter um número, mas este resultará de sua classificação final. Ainda durante o curso, eles farão estágios nas diversas Divisões ou Coordenadorias do MRE, uma escolha ou atribuição supostamente segundo essa classificação inicial e continuada: ou seja, os primeiros colocados provavelmente terão maior amplitude de escolha, e os últimos terão de se conformar com as vagas existentes: se for na Divisão do Arquivo terá de ser, pelo menos inicialmente na Divisão do Arquivo. Nada de muito dramático, pois sempre será possível solicitar e negociar uma mudança ao cabo de algum tempo, digamos depois de um ano. Em princípio, havendo vaga e disposição do chefe na Divisão de interesse, sempre será possível negociar a ida para essa área. A rigor, a burocracia se combina com certo grau de liberdade para determinar a lotação – esta a palavra técnica – do funcionário, numa determinada área.
Da mesma forma, a destinação exterior em algum posto também depende, em grande medida, da classificação do candidato em questão e das vagas disponíveis: todo e qualquer posto tem um quadro de funcionários relativamente estável (tantos secretários, alguns conselheiros, um ou dois ministros, para os maiores, e assim por diante). Nem sempre é possível, digamos, ir para a Unesco em Paris segundo sua própria vontade, mas é possível negociar uma ida em algum momento da carreira, desde que se consiga planejar e consolidar algumas escolhas nos momentos certos.
Digo isto porque o Itamaraty, ademais de ser essencialmente burocrático, num sentido institucionalmente weberiano, tem algum grau de arbítrio, o que o aproxima de uma burocracia feudal, no sentido de responder a determinações dos “barões” da Casa: a chefia política (ministro de Estado, secretário-geral) dispõe de grande poder de “lotação”, assim como a própria chefia do Serviço Exterior. Algumas regras estão codificadas (tempo de posto no exterior, alternância entre postos A, B, C etc.), outras regras dependem mais de um processo político de negociação e de mérito.
De fato, a carreira toda é marcada por algumas características próprias a toda carreira de Estado – como a dos militares, por exemplo – e algumas peculiaridades da diplomacia: em princípio, o mérito é reconhecido, mas as relações humanas, ou sociais, também contam na trajetória funcional. Um diplomata reconhecidamente sério e trabalhador receberá convites para trabalhar em determinadas funções de responsabilidade, embora outros possam receber esses convites também em função de algum vinculo familiar ou o famoso QI, quem indica (ou pistolão). Isso existe e não se pode negar: aliás, mesmo no setor privado, as relações humanas se combinam a trabalho para determinar o sucesso, ou não, de um determinado funcionário.
Portanto, a lotação de um diplomata, no começo ou no meio da carreira, dependerá tanto de seu posicionamento na lista de antiguidade, quanto de seu reconhecimento funcional, tanto por mérito próprio como pela rede de relacionamento que ele possa ter, sendo este último fator mais importante, talvez, nos escalões mais avançados da carreira. Isto vale para a área cultural como para qualquer outra área.
Em meu caso, tanto por preferência pessoal, como por convites, fui orientado e orientei-me bem mais para os setores de economia do que outras áreas, mas talvez eu pudesse ter trabalhado em áreas diferentes (política, cultural, jurídica), se tivesse interesse ou inclinação para fazê-lo. De minha parte, eu poderia facilmente trabalhar numa área política, de segurança internacional, de tecnologia, mas jamais teria me orientado, por vontade própria, para áreas jurídicas (por incompetência, talvez), para o cerimonial (falta de jeito, provavelmente) ou para a administração (simples falta de gosto, confesso, embora reconheça a importância).
Da mesma forma, nunca procurei, nem nunca pedi, para trabalhar em New York, na sede da ONU, pois (provavelmente por preconceito) eu acho o “grand machin” (como a ela se referia o General De Gaulle) essencialmente burocrática e “enrolativa”, preferindo Genebra (também ONU, mas mais orientada a temas econômicos, como o GATT e outros organismos). Da mesma forma, me dei muito bem na área de integração (Aladi, em Montevidéu, e em Brasília, idem) e na econômico-financeira (em Brasília e Washington, acompanhando FMI e Banco Mundial). Se alguém me convidasse para chefiar o cerimonial ou a administração em Brasília, eu provavelmente recusaria, mas nem sempre se pode recusar essas áreas no exterior, quando o posto é pequeno e as escolhas mais reduzidas.
No geral, é possível sim, mesmo se a carreira não oferece, oficialmente, nenhuma especialização, construir a sua própria especialização: de minha parte isso foi possível, não todo o tempo, mas most of the time... Esse debate, ou dilema, entre generalidades e especialização é em grande medida artificial, pois, a despeito de certas limitações inerentes a qualquer carreira burocrática, é possível manter certo gosto por certas áreas e ser capaz de exercer (e desfrutar) essas preferências.
Em contrapartida, eu não consigo responder adequadamente a questão do trabalho na área cultural, e suas relações com a Unesco, posto que nunca trabalhei nessa área. Suponho, como no caso de outros organismos internacionais, que existe um mix de formulação de agenda de trabalho que combina o peso burocrático desses organismos – e alguns deles são verdadeiramente “dinossáuricos”, stricto et lato sensi – e sugestões ou exigências dos países membros. Todo e qualquer organismo internacional possui uma agenda própria de trabalho, derivada de seu mandato original, e uma agenda composta das demandas dos países, formuladas nas delegações ou nas capitais. Pessoalmente eu considero a Unesco um desses dinossauros parisienses, que provavelmente gasta mais dinheiro em Paris do que na destinação final, e suposta, de seu trabalho de promoção da cultura ‘universal’. Mas, esse deve ser outro preconceito meu. Gostaria de poder responder mais concretamente, mas não consigo fazê-lo sem um conhecimento preciso (e “especializado”) da área.
Voilà, eis o que eu poderia responder e espero que satisfaça meu correspondente candidato à carreira.
Felicidades na carreira, muito estudo até ingressar e sucesso em sua vida pessoal e profissional.
Brasília, 16 de janeiro de 2010.
1699) Transversalidade: argh!... eu também tenho horror dessas bobagens
Sempre tive uma bronca particular de certos modismos culturais, certas inovações terminológicas, certas importações falsificadas, que vem direto de Paris, como se descessem de algum nirvana filosófico, algum nec plus ultra intelectual, ao qual devêsssemos aderir de maneira contemplativa, beata, submissa, apenas porque representariam, sei lá, a mais recente benfeitoria conceitual da qual não poderíamos nos passar.
Sempre considerei esse tipo de colonialismo acadêmico uma impostura intelectual, e me revolto com esses universitários ingênuos que não fazem nenhum esforço de compreensão da realidade à sua volta, e que preferem "soltar" o seu Foucault, o seu Derrida, o seu Deleuze, como se esses gurus tivessem algo de inteligente a dizer para este pobres tupinambás que somos nós.
Passons!. Esta pequena introdução pedante, apenas para transcrever um post do Reinaldo Azevedo que encontro particularmente feliz em face do festival de bobagens conceituais que nos vem servido sob a forma do último Programa (!) Nacional (!!) de Direitos Humanos (!!!). Sinto pelas exclamações, mas é que tenho alergia à burrice e mais alergia ainda à estupidez, e o PNDH nosvem apresentado com fortes doses de ambos...
Paulo Roberto de Almeida (16.01.2010)
TRANSVERSALIDADE, A CARA DO MODERNO TOTALITARISMO. OU: VOCÊ ENTREGARIA TODO O PODER AOS CARDIOLOGISTAS?
Reinaldo Azevedo, 15/01/10
Caras e caros, vamos dar seqüência a nosso trabalho, que é demonstrar que, se a essência das coisas coincidisse com a sua aparência, os idiotas seriam os cientistas, e os cientistas, os idiotas. Acho que o texto que segue é daqueles que ajudam, sei lá, a formar o pensamento. Avaliem.
Aqui e mundo afora, uma palavrinha e sua derivação substantivada entraram na ordem do dia dos movimentos sociais e das ONGs, que roubaram, não raro, o público das antigas esquerdas (tornando-se as novas esquerdas): “transversal” e “transversalidade”. Em francês: “transversal/transversalité“. No inglês, conserva a sua origem latina: “transversal/transversality“. A palavra é o xodó das tentações totalitárias contemporâneas. Na origem, designa o que tem sentido oblíquo em relação a um referente qualquer. Nas ciências humanas, passou a designar um tema que atravessa perpendicularmente a sociedade. Dou exemplos:
- “Os direitos humanos devem ser vistos na sua transversalidade”;
- “O meio ambiente deve ser visto na sua transversalidade”;
- “A igualdade é um tema transversal da sociedade humana“.
O que isso significa? Que todas as ações e todas as áreas da vida teriam de estar pautadas segundo a agenda dos direitos humanos, do meio ambiente ou da igualdade — apenas para citar os mais famosos fetiches do pensamento contemporâneo. E antes que alguém resolva dar pulinhos de ignorância, sem paciência para ler o que vem, recomendo sossego. Pense, só para se acalmar, que os direitos humanos, o meio ambiente, a igualdade ou qualquer outro assunto tornado influente NÃO SÃO manifestações da natureza, MAS construções humanas. Estão sempre sujeitos ao controle de grupos de pressão. SÃO UMA ESCOLHA, NÃO UMA VERDADE ABSOLUTA. Adiante.
Tive o capricho de ver quantas vezes essas palavras aparecem naquele texto comuno-fascistóide que se quer um Programa Nacional de Direitos Humanos. Vejam o resultado:
1 - (…) Direitos Humanos constitui princípio transversal a ser considerado em todas as políticas públicas.
2 - As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importância de fortalecer a garantia e os instrumentos de participação social, o caráter transversal dos Direitos Humanos (…)
3 - (…)monitoramento das políticas públicas em Direitos Humanos, num diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais (…)
4 - Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais.
5 - Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de interação democrática.
6 - PNDH-3 orienta-se pela transversalidade, para que a implementação dos direitos civis e políticos transitem pelas diversas dimensões;
7 - No PNDH-3, essa concepção se traduz em propostas de mudanças curriculares, incluindo a educação transversal e permanente nos temas ligados aos Direitos Humanos
8 - transversalização incluída nos projetos acadêmicos dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação,
9 - cursos com a transversalização dos Direitos Humanos nos projetos políticos pedagógicos;
10 - Incentivo à transdisciplinariedade e transversalidade nas atividades acadêmicas em Direitos Humanos.
Acho que chegarei ainda mais perto do meu objeto se der uma exemplo, para voltar depois para a conceituação mais pura. Pensem, leitores: vocês acham que deveríamos, por exemplo, deixar os cardiologistas governar o mundo? Ou alguém aí não considera, por acaso, a saúde cardíaca um tema “transversal”. Não devemos consumir bacon em excesso — na verdade, quanto menos, melhor; de preferência, nada! Sal provoca retenção de líquidos e eleva a pressão sangüínea. A vida sedentária faz mal para o coração. Excesso de peso provoca sobrecarga e eleva os fatores de risco… O estresse e o cigarro são um veneno…
Imaginem como poderia ser a vida se déssemos todo poder aos cardiologistas. A saúde do coração seria um tema TRANSVERSAL, a atravessar perpendicularmente todas as nossas atividades. E seria impossível dizer que eles estariam buscando o nosso mal. Ao contrário. Comitês de especialistas se formariam para, por exemplo, examinar se as novelas estariam sendo “cadiologicamente corretas”. As feijoadas seriam atividades clandestinas, já que é impossível alegar que aquela, afinal de contas, é uma comida saudável. Os sedentários seriam denunciados como fatores de elevação do custo da saúde pública, dado que sua preguiça os predispõe a determinados males que têm repercussão da vida da coletividade. O mesmo se diga dos fumantes (bem, isso já está em curso, é bom notar).
Músicas e manifestações culturais que induzissem a comportamentos alimentares de risco deveriam ser consideradas manifestações de preconceito contra a saúde. As seções de culinária dos jornais e revistas teriam de ser submetidos a uma comissão de acompanhamento editorial. A vigilância sobre as TVs, que são concessões públicas, seria redobrada. Quem insistisse em exibir comportamento que ameaçasse a saúde do coração teria a licença cassada. Em uma década, o Brasil poderia ser o país com os corações mais saudáveis do planeta, embora a vida pudesse ser uma merda de tão chata. Algum rebelde se lembraria de perguntar: “Pô, tudo bem, é legal esse papo de proteger o coração, mas como fica a liberdade?” E alguém poderia responder, também com uma indagação, à moda de Lênin: “Liberdade pra quê?”
Estamos longe disso? Nem tanto, é bom deixar claro. A Confecom, aquela porcaria inventada por Franklin Martins reunindo pequenos candidatos a tiranos, aprovou resolução contra a publicidade que induza o consumismo — seja lá o que isso signifique — e produtos atentatórios à saúde. A Anvisa já andou encrencando com propaganda de biscoito e refrigerante. É que a saúde, gente, vocês sabem, é uma “tema transversal”…
Ditadores
“Transversalidade” é a palavra de ordem dos novos candidatos a ditadores. Aproveitam-se do fato de que certos temas são consensos da sociedade — porque, na verdade, são matéria de mero bom senso — e transformam a sua particular leitura do assunto num valor absoluto. Ora, quem é ou há de ser contra os direitos humanos, a preservação do meio ambiente ou a saúde? Ninguém! Mas que outros valores da nossa cultura, inclusive a política, temos a preservar?
É aceitável que, em nome da suposta “transversalidade” de um tema, se jogue, por exemplo, a democracia no lixo? Ou o Estado de Direito? Quando o sr. Paulo Vannuchi, ex-terrorista da ALN, propõe que se casse dos juízes o chamado “poder de cautela”, tentando impedir que concedam liminares de reintegração de posse, ele está, como já demonstrei aqui, TENTANDO FRAUDAR A CONSTITUIÇÃO. E de várias maneiras. Em nome do quê? “Ah, da transversalidade dos direitos humanos”. O que se esconde nesse discurso vigarista é que o direito de propriedade também é, afinal, um… direito humano! Foi Vannuchi e a aliança ALN-VPR-MR-8 que decidiram transformar uma agenda ideológica em “direitos humanos”, cassando, para tanto, os direitos de outros humanos.
Também é assim no caso do meio ambiente. Em muitos momentos, o que se tem é nada menos do que uma agenda autoritária e atentatória… aos direitos humanos! Se o Brasil aplicasse todas as leis ambientais que aí estão, faltaria terra para a agricultura. São Paulo, por exemplo, teria de perder uns 20% da área plantada. A economia iria para a breca, o preço dos alimentos subiria, os pobres seriam os mais prejudicados. “Ah, ele é contra o meio ambiente!” Uma ova! Sou contra a “transversalidade” que não tem um respeito mínimo pela realidade.
O único tema “transversal” que eu realmente reconheço é a liberdade, nos marcos de uma sociedade democrática. O resto é tentativa de imposição de uma agenda de grupos consideram a sua metafísica superior à de outros. Sei que os tempos andam bicudos para falar nesse assunto. Não dou a mínima. Não me importaria, se fosse o caso, em ser o último homem do século passado — o século que venceu os velhos totalitarismos.
Não darei, neste século, consentimento a ninguém para novos totalitarismos.
Sempre considerei esse tipo de colonialismo acadêmico uma impostura intelectual, e me revolto com esses universitários ingênuos que não fazem nenhum esforço de compreensão da realidade à sua volta, e que preferem "soltar" o seu Foucault, o seu Derrida, o seu Deleuze, como se esses gurus tivessem algo de inteligente a dizer para este pobres tupinambás que somos nós.
Passons!. Esta pequena introdução pedante, apenas para transcrever um post do Reinaldo Azevedo que encontro particularmente feliz em face do festival de bobagens conceituais que nos vem servido sob a forma do último Programa (!) Nacional (!!) de Direitos Humanos (!!!). Sinto pelas exclamações, mas é que tenho alergia à burrice e mais alergia ainda à estupidez, e o PNDH nosvem apresentado com fortes doses de ambos...
Paulo Roberto de Almeida (16.01.2010)
TRANSVERSALIDADE, A CARA DO MODERNO TOTALITARISMO. OU: VOCÊ ENTREGARIA TODO O PODER AOS CARDIOLOGISTAS?
Reinaldo Azevedo, 15/01/10
Caras e caros, vamos dar seqüência a nosso trabalho, que é demonstrar que, se a essência das coisas coincidisse com a sua aparência, os idiotas seriam os cientistas, e os cientistas, os idiotas. Acho que o texto que segue é daqueles que ajudam, sei lá, a formar o pensamento. Avaliem.
Aqui e mundo afora, uma palavrinha e sua derivação substantivada entraram na ordem do dia dos movimentos sociais e das ONGs, que roubaram, não raro, o público das antigas esquerdas (tornando-se as novas esquerdas): “transversal” e “transversalidade”. Em francês: “transversal/transversalité“. No inglês, conserva a sua origem latina: “transversal/transversality“. A palavra é o xodó das tentações totalitárias contemporâneas. Na origem, designa o que tem sentido oblíquo em relação a um referente qualquer. Nas ciências humanas, passou a designar um tema que atravessa perpendicularmente a sociedade. Dou exemplos:
- “Os direitos humanos devem ser vistos na sua transversalidade”;
- “O meio ambiente deve ser visto na sua transversalidade”;
- “A igualdade é um tema transversal da sociedade humana“.
O que isso significa? Que todas as ações e todas as áreas da vida teriam de estar pautadas segundo a agenda dos direitos humanos, do meio ambiente ou da igualdade — apenas para citar os mais famosos fetiches do pensamento contemporâneo. E antes que alguém resolva dar pulinhos de ignorância, sem paciência para ler o que vem, recomendo sossego. Pense, só para se acalmar, que os direitos humanos, o meio ambiente, a igualdade ou qualquer outro assunto tornado influente NÃO SÃO manifestações da natureza, MAS construções humanas. Estão sempre sujeitos ao controle de grupos de pressão. SÃO UMA ESCOLHA, NÃO UMA VERDADE ABSOLUTA. Adiante.
Tive o capricho de ver quantas vezes essas palavras aparecem naquele texto comuno-fascistóide que se quer um Programa Nacional de Direitos Humanos. Vejam o resultado:
1 - (…) Direitos Humanos constitui princípio transversal a ser considerado em todas as políticas públicas.
2 - As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importância de fortalecer a garantia e os instrumentos de participação social, o caráter transversal dos Direitos Humanos (…)
3 - (…)monitoramento das políticas públicas em Direitos Humanos, num diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais (…)
4 - Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais.
5 - Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de interação democrática.
6 - PNDH-3 orienta-se pela transversalidade, para que a implementação dos direitos civis e políticos transitem pelas diversas dimensões;
7 - No PNDH-3, essa concepção se traduz em propostas de mudanças curriculares, incluindo a educação transversal e permanente nos temas ligados aos Direitos Humanos
8 - transversalização incluída nos projetos acadêmicos dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação,
9 - cursos com a transversalização dos Direitos Humanos nos projetos políticos pedagógicos;
10 - Incentivo à transdisciplinariedade e transversalidade nas atividades acadêmicas em Direitos Humanos.
Acho que chegarei ainda mais perto do meu objeto se der uma exemplo, para voltar depois para a conceituação mais pura. Pensem, leitores: vocês acham que deveríamos, por exemplo, deixar os cardiologistas governar o mundo? Ou alguém aí não considera, por acaso, a saúde cardíaca um tema “transversal”. Não devemos consumir bacon em excesso — na verdade, quanto menos, melhor; de preferência, nada! Sal provoca retenção de líquidos e eleva a pressão sangüínea. A vida sedentária faz mal para o coração. Excesso de peso provoca sobrecarga e eleva os fatores de risco… O estresse e o cigarro são um veneno…
Imaginem como poderia ser a vida se déssemos todo poder aos cardiologistas. A saúde do coração seria um tema TRANSVERSAL, a atravessar perpendicularmente todas as nossas atividades. E seria impossível dizer que eles estariam buscando o nosso mal. Ao contrário. Comitês de especialistas se formariam para, por exemplo, examinar se as novelas estariam sendo “cadiologicamente corretas”. As feijoadas seriam atividades clandestinas, já que é impossível alegar que aquela, afinal de contas, é uma comida saudável. Os sedentários seriam denunciados como fatores de elevação do custo da saúde pública, dado que sua preguiça os predispõe a determinados males que têm repercussão da vida da coletividade. O mesmo se diga dos fumantes (bem, isso já está em curso, é bom notar).
Músicas e manifestações culturais que induzissem a comportamentos alimentares de risco deveriam ser consideradas manifestações de preconceito contra a saúde. As seções de culinária dos jornais e revistas teriam de ser submetidos a uma comissão de acompanhamento editorial. A vigilância sobre as TVs, que são concessões públicas, seria redobrada. Quem insistisse em exibir comportamento que ameaçasse a saúde do coração teria a licença cassada. Em uma década, o Brasil poderia ser o país com os corações mais saudáveis do planeta, embora a vida pudesse ser uma merda de tão chata. Algum rebelde se lembraria de perguntar: “Pô, tudo bem, é legal esse papo de proteger o coração, mas como fica a liberdade?” E alguém poderia responder, também com uma indagação, à moda de Lênin: “Liberdade pra quê?”
Estamos longe disso? Nem tanto, é bom deixar claro. A Confecom, aquela porcaria inventada por Franklin Martins reunindo pequenos candidatos a tiranos, aprovou resolução contra a publicidade que induza o consumismo — seja lá o que isso signifique — e produtos atentatórios à saúde. A Anvisa já andou encrencando com propaganda de biscoito e refrigerante. É que a saúde, gente, vocês sabem, é uma “tema transversal”…
Ditadores
“Transversalidade” é a palavra de ordem dos novos candidatos a ditadores. Aproveitam-se do fato de que certos temas são consensos da sociedade — porque, na verdade, são matéria de mero bom senso — e transformam a sua particular leitura do assunto num valor absoluto. Ora, quem é ou há de ser contra os direitos humanos, a preservação do meio ambiente ou a saúde? Ninguém! Mas que outros valores da nossa cultura, inclusive a política, temos a preservar?
É aceitável que, em nome da suposta “transversalidade” de um tema, se jogue, por exemplo, a democracia no lixo? Ou o Estado de Direito? Quando o sr. Paulo Vannuchi, ex-terrorista da ALN, propõe que se casse dos juízes o chamado “poder de cautela”, tentando impedir que concedam liminares de reintegração de posse, ele está, como já demonstrei aqui, TENTANDO FRAUDAR A CONSTITUIÇÃO. E de várias maneiras. Em nome do quê? “Ah, da transversalidade dos direitos humanos”. O que se esconde nesse discurso vigarista é que o direito de propriedade também é, afinal, um… direito humano! Foi Vannuchi e a aliança ALN-VPR-MR-8 que decidiram transformar uma agenda ideológica em “direitos humanos”, cassando, para tanto, os direitos de outros humanos.
Também é assim no caso do meio ambiente. Em muitos momentos, o que se tem é nada menos do que uma agenda autoritária e atentatória… aos direitos humanos! Se o Brasil aplicasse todas as leis ambientais que aí estão, faltaria terra para a agricultura. São Paulo, por exemplo, teria de perder uns 20% da área plantada. A economia iria para a breca, o preço dos alimentos subiria, os pobres seriam os mais prejudicados. “Ah, ele é contra o meio ambiente!” Uma ova! Sou contra a “transversalidade” que não tem um respeito mínimo pela realidade.
O único tema “transversal” que eu realmente reconheço é a liberdade, nos marcos de uma sociedade democrática. O resto é tentativa de imposição de uma agenda de grupos consideram a sua metafísica superior à de outros. Sei que os tempos andam bicudos para falar nesse assunto. Não dou a mínima. Não me importaria, se fosse o caso, em ser o último homem do século passado — o século que venceu os velhos totalitarismos.
Não darei, neste século, consentimento a ninguém para novos totalitarismos.
1698) Haiti: um artigo iconoclastico
Haideti, país desolado!
Mario Guerreiro
(16.01.2010)
Como todo mundo sabe, o Haiti não é uma ilha como aquela que seus nativos chamavam de Cubanacan e hoje se chama simplesmente Cuba, La Perla del Caribe. O Haiti não é uma ilha: é metade de uma, a outra metade chama-se República Dominicana, que nada tem a ver com a Ordem Dominicana de Frei Betto, grande teólogo da opressão e amigo pessoal de Fidel Castro.
A ilha em que ficam os dois países tem outro nome: Hispaniola, nome este dado por Colombo ao aportar por aquelas plagas navegando para o Ocidente, mas para nunca chegar ao Oriente... Teoricamente, al Levante por el Poniente era um princípio corretíssimo, porém na prática a teoria foi outra, por causa da América Central interpondo-se entre o Atlântico e o Pacífico...
Como nem todo mundo sabe, o Haiti pertenceu durante muito tempo à douce France, de quem herdou a péssima administração e a língua oficial do país, convivendo com um dialeto créole, assim como New Orleans convive com outro. Entra o inigualável Fats Domino cantando Jambalaya...
Good-bye Joe, me gotta go, me o my o.
Me gotta go pull the pirogue down the bay o.
Jambalaya and a crawfish pie and a fillet gambo,
‘Cause tonight I’m gonna see my cher ami o.
Compare-se o Haiti com Barbados, ilha do Caribe e ex-colônia britânica, para que se tenha uma boa idéia da vantagem de ser colonizado pela Inglaterra e não pela França. Até Karl Marx elogiava o espírito de entrepreneurship e a eficiência administrativa britânicos na Índia...
Importa saber que o Haiti ficou independente da França em 1804, antes mesmo do Brasil ficar independente de Portugal em 1822. O vizinho da República Dominicana foi um dos primeiros países do Novo Mundo a ficar independentes de países colonizadores europeus.
No entanto, é difícil dizer se sua independência foi um bem ou um mal; pois, apesar da sua péssima colonização de orientação puramente extrativista, enquanto os franceses estavam por lá havia ao menos um esqueleto administrativo e um mínimo de ordem, sem a qual homo homini lupus, como já dizia o doce e sereno Thomas Hobbes.
Este pequeno país com sua população formada de uma maioria de negros africanos, trazidos pelos franceses para plantações de cana e de fumo – culturas predominantes em todo o Caribe – é o país mais pobre da América Latina, conseguindo a proeza de ser mais pobre do que a Bolívia - túmulo de São Che Guevara cultuado por Primevo Inmorales - e a Cuba de El Coma Andante, atualmente El Coma Acostante.
Não bastasse a miserabilidade em que vive o povo haitiano – a não ser os privilegiados membros de sua Nomenklatura não-comunista – ele tem sido governado por ditaduras crudelíssimas, como as dos insaudosos Papa Doc e seu filho, Baby Doc, devidamente servidos pela Gestapo caribenha: os Ton Ton Makut, verdadeiros assassinos de aluguel alugados pelos respectivos facínoras.
Recentemente, o último déspota inesclarecido foi apeado do Poder e o Haiti teve uma curta fase de tumultos e arruaças com as gangues dos Monstros e dos Canibais – assim se autodenominavam eles - em sangrentos conflitos e incessantes atitudes predatórias dos bens públicos e privados. Todavia, com o envio de uma força-tarefa de paz da ONU, liderada pelo Exército Brasileiro, estava sendo pacificado, até onde se faz possível sê-lo.
Só não sei dizer por que estranha razão o Comandante Supremo das Forças Armadas – que vem a ser o mesmo que o Presidente do Brasil - enviou tropas para aquele país gastando dinheiro dos contribuintes e colocando em risco a vida de militares brasileiros em conflitos com gangues urbanas, quando tem se recusado a empregar o Exército para combater nossas quadrilhas aqui mesmo no Brasil.
Ora, na realidade, combater criminosos aqui ou no Haiti é função da polícia de lá ou de cá e não atribuição constitucional das Forças Armadas cuja função precípua é a segurança nacional. Só consigo vislumbrar um motivo, não uma razão, para o envio de tropas ao Haiti: a tolíssima pretensão de conquistar votos de países do terceiro mundo para um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Se for mesmo isso, pode esperar sentado...
Mas além da catástrofe social - de natureza política, econômica e cultural - recentemente o Haiti foi devastado por uma catástrofe natural: terremotos de até 7.8 na Escala Richter, cujo limite que é 9, atingiram o país, principalmente Port au Prince, a capital do mesmo, com milhares de mortos e feridos, hospitais em escombros, falta de luz e água, ameaça de doenças, etc. – uma indizível desgraça que não poupou nem mesmo o belo palácio do governo haitiano em estilo colonial francês!
Estava eu assistindo o noticiário O’Reilly Factor no canal da Fox quando apareceu uma ampla reportagem sobre a tragédia haitiana. Ela dizia que diversos países, inclusive o Brasil - que já perdeu 14 soldados mortos pelos terremotos - estavam enviando ajuda de todos os tipos para o Haiti, numa bela demonstração de solidariedade global, sem nenhuma dúvida.
O âncora do noticiário entrevistou várias pessoas. Considerando que o governo americano e ONGs, além de água, comida, assistência médico-hospitalar, especialistas em remoção de escombros, etc, mandou também cerca de 7 milhões de dólares de ajuda emergencial ao Haiti, o âncora não se cansava de repetir - visivelmente indignado! - a mesma pergunta para quase todos os entrevistados: I only want to know where is the money [Só quero saber onde está o dinheiro], ou seja: “Onde foi parar toda aquela grana?”
Na realidade, uma indagação puramente retórica, pois a resposta ele já estava careca de saber: para os bolsos das corruptas autoridades haitianas.
É assaz desolador e revelador da miséria espiritual humana, porém dolorosamente verdadeiro: não é a primeira vez nem será a última que políticos e funcionários públicos corruptos constroem palácios e se banqueteiam nos mesmos com recursos destinados às vítimas de uma grande tragédia.
Neste particular, todos nós conhecemos essa velha estória. Afinal de contas, o Caetano Veloso até que tinha razão: o Haiti é mesmo aqui!
Mario Guerreiro
(16.01.2010)
Como todo mundo sabe, o Haiti não é uma ilha como aquela que seus nativos chamavam de Cubanacan e hoje se chama simplesmente Cuba, La Perla del Caribe. O Haiti não é uma ilha: é metade de uma, a outra metade chama-se República Dominicana, que nada tem a ver com a Ordem Dominicana de Frei Betto, grande teólogo da opressão e amigo pessoal de Fidel Castro.
A ilha em que ficam os dois países tem outro nome: Hispaniola, nome este dado por Colombo ao aportar por aquelas plagas navegando para o Ocidente, mas para nunca chegar ao Oriente... Teoricamente, al Levante por el Poniente era um princípio corretíssimo, porém na prática a teoria foi outra, por causa da América Central interpondo-se entre o Atlântico e o Pacífico...
Como nem todo mundo sabe, o Haiti pertenceu durante muito tempo à douce France, de quem herdou a péssima administração e a língua oficial do país, convivendo com um dialeto créole, assim como New Orleans convive com outro. Entra o inigualável Fats Domino cantando Jambalaya...
Good-bye Joe, me gotta go, me o my o.
Me gotta go pull the pirogue down the bay o.
Jambalaya and a crawfish pie and a fillet gambo,
‘Cause tonight I’m gonna see my cher ami o.
Compare-se o Haiti com Barbados, ilha do Caribe e ex-colônia britânica, para que se tenha uma boa idéia da vantagem de ser colonizado pela Inglaterra e não pela França. Até Karl Marx elogiava o espírito de entrepreneurship e a eficiência administrativa britânicos na Índia...
Importa saber que o Haiti ficou independente da França em 1804, antes mesmo do Brasil ficar independente de Portugal em 1822. O vizinho da República Dominicana foi um dos primeiros países do Novo Mundo a ficar independentes de países colonizadores europeus.
No entanto, é difícil dizer se sua independência foi um bem ou um mal; pois, apesar da sua péssima colonização de orientação puramente extrativista, enquanto os franceses estavam por lá havia ao menos um esqueleto administrativo e um mínimo de ordem, sem a qual homo homini lupus, como já dizia o doce e sereno Thomas Hobbes.
Este pequeno país com sua população formada de uma maioria de negros africanos, trazidos pelos franceses para plantações de cana e de fumo – culturas predominantes em todo o Caribe – é o país mais pobre da América Latina, conseguindo a proeza de ser mais pobre do que a Bolívia - túmulo de São Che Guevara cultuado por Primevo Inmorales - e a Cuba de El Coma Andante, atualmente El Coma Acostante.
Não bastasse a miserabilidade em que vive o povo haitiano – a não ser os privilegiados membros de sua Nomenklatura não-comunista – ele tem sido governado por ditaduras crudelíssimas, como as dos insaudosos Papa Doc e seu filho, Baby Doc, devidamente servidos pela Gestapo caribenha: os Ton Ton Makut, verdadeiros assassinos de aluguel alugados pelos respectivos facínoras.
Recentemente, o último déspota inesclarecido foi apeado do Poder e o Haiti teve uma curta fase de tumultos e arruaças com as gangues dos Monstros e dos Canibais – assim se autodenominavam eles - em sangrentos conflitos e incessantes atitudes predatórias dos bens públicos e privados. Todavia, com o envio de uma força-tarefa de paz da ONU, liderada pelo Exército Brasileiro, estava sendo pacificado, até onde se faz possível sê-lo.
Só não sei dizer por que estranha razão o Comandante Supremo das Forças Armadas – que vem a ser o mesmo que o Presidente do Brasil - enviou tropas para aquele país gastando dinheiro dos contribuintes e colocando em risco a vida de militares brasileiros em conflitos com gangues urbanas, quando tem se recusado a empregar o Exército para combater nossas quadrilhas aqui mesmo no Brasil.
Ora, na realidade, combater criminosos aqui ou no Haiti é função da polícia de lá ou de cá e não atribuição constitucional das Forças Armadas cuja função precípua é a segurança nacional. Só consigo vislumbrar um motivo, não uma razão, para o envio de tropas ao Haiti: a tolíssima pretensão de conquistar votos de países do terceiro mundo para um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Se for mesmo isso, pode esperar sentado...
Mas além da catástrofe social - de natureza política, econômica e cultural - recentemente o Haiti foi devastado por uma catástrofe natural: terremotos de até 7.8 na Escala Richter, cujo limite que é 9, atingiram o país, principalmente Port au Prince, a capital do mesmo, com milhares de mortos e feridos, hospitais em escombros, falta de luz e água, ameaça de doenças, etc. – uma indizível desgraça que não poupou nem mesmo o belo palácio do governo haitiano em estilo colonial francês!
Estava eu assistindo o noticiário O’Reilly Factor no canal da Fox quando apareceu uma ampla reportagem sobre a tragédia haitiana. Ela dizia que diversos países, inclusive o Brasil - que já perdeu 14 soldados mortos pelos terremotos - estavam enviando ajuda de todos os tipos para o Haiti, numa bela demonstração de solidariedade global, sem nenhuma dúvida.
O âncora do noticiário entrevistou várias pessoas. Considerando que o governo americano e ONGs, além de água, comida, assistência médico-hospitalar, especialistas em remoção de escombros, etc, mandou também cerca de 7 milhões de dólares de ajuda emergencial ao Haiti, o âncora não se cansava de repetir - visivelmente indignado! - a mesma pergunta para quase todos os entrevistados: I only want to know where is the money [Só quero saber onde está o dinheiro], ou seja: “Onde foi parar toda aquela grana?”
Na realidade, uma indagação puramente retórica, pois a resposta ele já estava careca de saber: para os bolsos das corruptas autoridades haitianas.
É assaz desolador e revelador da miséria espiritual humana, porém dolorosamente verdadeiro: não é a primeira vez nem será a última que políticos e funcionários públicos corruptos constroem palácios e se banqueteiam nos mesmos com recursos destinados às vítimas de uma grande tragédia.
Neste particular, todos nós conhecemos essa velha estória. Afinal de contas, o Caetano Veloso até que tinha razão: o Haiti é mesmo aqui!
1697) A Fraude do Aquecimento Global

Livro: A fraude do aquecimento global: Como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial
Geraldo Luís Lino (*)
Prefácio de Luiz Carlos Baldicero Molion
(Rio de Janeiro: Capax Dei, 2009, 160 p. (il.), R$ 28; ISBN: 978-85-98059-12-9)
(*) Geraldo Luís Lino é geólogo, especializado na aplicação de estudos geológicos a projetos de engenharia civil e avaliações de impactos ambientais. É fundador e diretor do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) e co-autor dos livros Máfia Verde 2: ambientalismo, novo colonialismo (2005) e A hora das hidrovias: estradas para o futuro do Brasil (2008), ambos publicados pela Capax Dei Editora.
Apresentação:
O aquecimento global não é uma ameaça à humanidade – a histeria “aquecimentista”, sim!
As mudanças climáticas são fenômenos naturais que ocorrem há centenas de milhões de anos e contra as quais a humanidade pouco pode fazer no seu atual estágio de conhecimento, além de entender melhor a sua dinâmica e adaptar-se adequadamente a elas. O infundado alarmismo “aquecimentista” é promovido por interesses políticos e econômicos, que transformaram um debate científico em uma obsessão mundial e uma verdadeira indústria. Por isso, o público em geral ignora que:
- não há qualquer evidência científica concreta que vincule os combustíveis fósseis aos aumentos de temperaturas ocorridos desde o final do século XIX;
- as temperaturas mundiais pararam de subir no final da década de 1990 e estão em queda;
- os níveis do mar já foram mais altos que os atuais;
- as atuais concentrações atmosféricas de CO2 estão entre as mais baixas da história geológica da Terra;
- temperaturas e níveis de CO2 mais altos que os atuais seriam benéficos para a maioria dos seres vivos, inclusive o homem.
A fraude do aquecimento global supostamente causado pelo homem está sendo manipulada para converter a atividade científica em um processo de “assembléia de consenso”, apoiado por uma mídia geralmente acrítica e anestesiada e pelos recursos técnicos de Hollywood. Neste livro, encontram-se argumentos para ajudar a devolver essa discussão crucial ao campo do qual ela jamais deveria ter sido subtraída: o da boa ciência e do bom senso.
Trechos do prefácio de "A Fraude do Aquecimento Global", escrito por Molion:
"O clima da Terra é um sistema muito complexo e que tem variado naturalmente ao longo de sua existência [...] O clima não está e jamais esteve em equilíbrio, estático."
"Entre cerca de 800 e 1250, no chamado Ótimo Climático Medieval, as temperaturas mais altas permitiram aos nórdicos (vikings) colonizar as regiões do norte do Canadá e o sul de uma ilha por eles denominada Groelândia (Terra Verde), hoje coberta de gelo."
"[...] não há dúvidas que ocorreu um aquecimento global nos últimos 100 anos, uma recuperação da PIG (Pequena Idade do Gelo). No entanto, há um movimento muito forte, com apoio de governos e da mídia, afirmando que esse aquecimento foi provocado pelo homem, por meio da queima de combustíveis fósseis - petróleo, gás natural e carvão mineral."
"Entre 1947-76, apesar de ter havido um crescimento acelerado na economia global, com maiores geração de energia elétrica e emissões de GEE, ao contrário do que propala a teoria do aquecimento global antropogênico (AGA), ocorreu um ligeiro resfriamento global, cerca de -0,2 grau C, possivelmente devido ao resfriamento dsa águas do oceano Pacífico"
"No início da década de 1970, o 'consenso científico' afirmava que uma nova era glacial era iminente. Entretanto, por razões desconhecidas, o Pacífico se aqueceu bruscamente em meados de 1976 e as temperaturas voltaram a subir."
"Em 1988, o IPCC, organismo dsa Nações Unidas, foi criado para ser o grande propagador do aquecimento global antropogênico, que adquiriu contornos de uma crença fundamentada em dogmas, 'achismos' e projeções elaboradas com modelos matemáticos rudimentares de simulação do clima global e baseadas em cenários hipotéticos totalmente desprovidos de bases científicas sólidas."
"O aquecimento global, agora, eufemisticamente denominado 'mudanças climáticas' - pois as temperaturas estão diminuindo na última década -, deixou de ser um tema científico e passou a ser uma plataforma político-econômica, uma fraude para a implantação de uma nova ordem global, de possíveis estruturas globalizadas de 'governança' mundial."
"Reduzir as emissões de carbono significa reduzir a geração de energia elétrica, a mola propulsora do desenvolvimento e do bem-estar social, e condenar os países subdesenvolvidos à pobreza eterna e aos baixos Índices de Desenvolimento Humano (IDH)."
"Reduzir as emissões humanas de carbono em 5% ou 50% (0,3 ou 3 gigatoneladas/ano) de nada adiantará, uma vez que as fontes naturais somam 200 Gt/ano, com uma incerteza que é de cerca de 40 Gt/ano, ou seja, cerca de 30 vezes superior ao maior percentual citado. As concentrações de CO2 já foram mais altas que as atuais no passado e não provocaram catástrofes no mundo. O CO2 não é um poluente, é o gás da vida!"
"Finalmente, já é fato comprovado que o CO2 não controla as temperaturas globais. Como foi dito, o clima da Terra é complexo e, sem exagero, depende de tudo que ocorre no planeta e no Universo. [...] observações mostraram que os oceanos, em particular o oceano Pacífico, que são os principais controladores do clima global, ao lado do Sol, estão se resfriando. Portanto, nos próximos 20-25 anos, é muito mais provável que o clima global vá se resfriar, como ocorreu entre 1947-76, em vez de se aquecer. É possível, pois, que a fraude do aquecimento global esteja com os dias contados."
1696) Socialismo do seculo 21 - Rodrigo Constantino
Socialismo do Século XXI
Rodrigo Constantino
“Aqueles que ignoram o passado estão condenados a repeti-lo.” (George Santayana)
A Venezuela caminha a passos acelerados rumo ao completo abismo, fruto do modelo socialista cada vez mais imposto pelo caudilho Hugo Chávez. Cuba está logo ali. Empresas privadas, estrangeiras ou nacionais, foram tomadas pelo governo. A imprensa foi amordaçada. Os petrodólares foram usados de forma populista para comprar apoio da população. A inflação foi usada como mecanismo de estímulo à economia. Com a situação saindo de controle, culminando na maxidesvalorização de sua moeda, vimos essa semana a patética cena do Exército fechando lojas para combater a “especulação”. Para os socialistas, a inflação ainda é um fenômeno derivado da ganância dos empresários, não da emissão descontrolada de moeda pelo governo. Tem quem nunca aprenda com as lições da história mesmo.
Na Babilônia, há cerca de quarenta séculos, o Código de Hamurabi impôs um rígido sistema de controle de preços. Na Grécia Antiga, Atenas estava constantemente enfrentando escassez de cereais, dos quais pelo menos metade tinha que ser importada. Para combater a alta dos preços, um exército de inspetores dos cereais, chamados Sitophylakes, foi nomeado com o objetivo de estabelecer um preço “justo” para os cereais. Em ambos os casos, as medidas fracassaram. Apesar da pena de morte que o governo de Atenas aplicava aos desobedientes, era quase impossível fazer respeitar as leis que controlavam o comércio dos cereais.
No Império Romano, sob o tribuno Caio Graco, foi adotada a Lex Sempronia Frumentaria, que conferia a cada cidadão romano o direito de adquirir certa quantidade de trigo a um preço oficial muito inferior ao preço de mercado. O resultado, naturalmente, foi contrário ao que o governo esperava: a maioria dos agricultores do campo migrou para Roma, para lá viver sem trabalhar. Para resolver os problemas crescentes, os imperadores começaram a desvalorizar a moeda. Nero começou com pequenas desvalorizações, e Marco Aurélio intensificou o ritmo. O auge do controle de preços se deu no reino do imperador Diocleciano. Em vez de cortar os gastos do governo, Diocleciano preferiu desvalorizar a moeda, inflacionando a economia. Como os preços fugiam de controle, ele apelou para o tabelamento, e prescreveu a pena de morte para os que vendessem as mercadorias acima dos preços oficiais. O resultado foi um fracasso total.
Como se pode observar com esses exemplos, a tentativa de governos de controlar os preços das mercadorias com base em decretos não é novidade alguma. Para os brasileiros, a memória é recente, com os famosos fiscais do Sarney averiguando os preços praticados nos supermercados, em nome do combate à inflação. Claro que foi um fiasco. Afinal, como os economistas austríacos e de Chicago já tinham explicado faz tempo, a inflação é sempre um fenômeno monetário.
Mises explicou de forma sucinta o processo que ocorre quando um governo inflaciona a economia. O primeiro passo será a sensação de prosperidade causada pelo aumento dos gastos provenientes da impressão de moeda nova. Será uma prosperidade ilusória. Quando os preços de alguns produtos começam a sair de controle, a tendência é o governo partir para o controle daqueles preços específicos, os “vilões” da inflação. Mas isso irá gerar apenas escassez desses produtos no mercado, estimulando um mercado negro para eles. Outros produtos substitutos ou que usam tais produtos como insumos começam a disparar de preço também, e o governo precisa estender cada vez mais seu controle, até chegar à totalidade da economia.
Como exemplo, podemos pensar no minério de ferro. Supondo que ele seja alvo de uma expressiva alta de preços causada pelo excesso de moeda no mercado, o governo resolve tabelar seu preço. Logo começará a faltar minério no mercado. O preço do aço vai disparar também. O governo decide controlar o preço do aço então. Falta aço agora, e o preço de todos os produtos derivados do aço dispara, assim como o preço de seus substitutos. Em pouco tempo, o governo terá que tabelar quase todos os preços da economia, gerando uma escassez generalizada. O regime soviético, ícone dessa experiência de controle estatal da economia, conseguiu produzir apenas armas para o próprio governo oprimir o povo, e prateleiras vazias.
Eis a essência do socialismo. Miséria ao povo e armas para o governo controlar os miseráveis. Milênios atrás, ou em pleno século XXI. As leis econômicas não costumam ligar muito para esses detalhes. Pobre povo venezuelano. Servindo como cobaia de um experimento que cheira à naftalina de tão velho. E esse é o modelo que o governo Lula fez tanta questão de convidar para fazer parte do Mercosul. O povo venezuelano não aprendeu nada com a história. Resta saber se o povo brasileiro vai aprender com o triste exemplo do vizinho aquilo que não se deve fazer!
Rodrigo Constantino
“Aqueles que ignoram o passado estão condenados a repeti-lo.” (George Santayana)
A Venezuela caminha a passos acelerados rumo ao completo abismo, fruto do modelo socialista cada vez mais imposto pelo caudilho Hugo Chávez. Cuba está logo ali. Empresas privadas, estrangeiras ou nacionais, foram tomadas pelo governo. A imprensa foi amordaçada. Os petrodólares foram usados de forma populista para comprar apoio da população. A inflação foi usada como mecanismo de estímulo à economia. Com a situação saindo de controle, culminando na maxidesvalorização de sua moeda, vimos essa semana a patética cena do Exército fechando lojas para combater a “especulação”. Para os socialistas, a inflação ainda é um fenômeno derivado da ganância dos empresários, não da emissão descontrolada de moeda pelo governo. Tem quem nunca aprenda com as lições da história mesmo.
Na Babilônia, há cerca de quarenta séculos, o Código de Hamurabi impôs um rígido sistema de controle de preços. Na Grécia Antiga, Atenas estava constantemente enfrentando escassez de cereais, dos quais pelo menos metade tinha que ser importada. Para combater a alta dos preços, um exército de inspetores dos cereais, chamados Sitophylakes, foi nomeado com o objetivo de estabelecer um preço “justo” para os cereais. Em ambos os casos, as medidas fracassaram. Apesar da pena de morte que o governo de Atenas aplicava aos desobedientes, era quase impossível fazer respeitar as leis que controlavam o comércio dos cereais.
No Império Romano, sob o tribuno Caio Graco, foi adotada a Lex Sempronia Frumentaria, que conferia a cada cidadão romano o direito de adquirir certa quantidade de trigo a um preço oficial muito inferior ao preço de mercado. O resultado, naturalmente, foi contrário ao que o governo esperava: a maioria dos agricultores do campo migrou para Roma, para lá viver sem trabalhar. Para resolver os problemas crescentes, os imperadores começaram a desvalorizar a moeda. Nero começou com pequenas desvalorizações, e Marco Aurélio intensificou o ritmo. O auge do controle de preços se deu no reino do imperador Diocleciano. Em vez de cortar os gastos do governo, Diocleciano preferiu desvalorizar a moeda, inflacionando a economia. Como os preços fugiam de controle, ele apelou para o tabelamento, e prescreveu a pena de morte para os que vendessem as mercadorias acima dos preços oficiais. O resultado foi um fracasso total.
Como se pode observar com esses exemplos, a tentativa de governos de controlar os preços das mercadorias com base em decretos não é novidade alguma. Para os brasileiros, a memória é recente, com os famosos fiscais do Sarney averiguando os preços praticados nos supermercados, em nome do combate à inflação. Claro que foi um fiasco. Afinal, como os economistas austríacos e de Chicago já tinham explicado faz tempo, a inflação é sempre um fenômeno monetário.
Mises explicou de forma sucinta o processo que ocorre quando um governo inflaciona a economia. O primeiro passo será a sensação de prosperidade causada pelo aumento dos gastos provenientes da impressão de moeda nova. Será uma prosperidade ilusória. Quando os preços de alguns produtos começam a sair de controle, a tendência é o governo partir para o controle daqueles preços específicos, os “vilões” da inflação. Mas isso irá gerar apenas escassez desses produtos no mercado, estimulando um mercado negro para eles. Outros produtos substitutos ou que usam tais produtos como insumos começam a disparar de preço também, e o governo precisa estender cada vez mais seu controle, até chegar à totalidade da economia.
Como exemplo, podemos pensar no minério de ferro. Supondo que ele seja alvo de uma expressiva alta de preços causada pelo excesso de moeda no mercado, o governo resolve tabelar seu preço. Logo começará a faltar minério no mercado. O preço do aço vai disparar também. O governo decide controlar o preço do aço então. Falta aço agora, e o preço de todos os produtos derivados do aço dispara, assim como o preço de seus substitutos. Em pouco tempo, o governo terá que tabelar quase todos os preços da economia, gerando uma escassez generalizada. O regime soviético, ícone dessa experiência de controle estatal da economia, conseguiu produzir apenas armas para o próprio governo oprimir o povo, e prateleiras vazias.
Eis a essência do socialismo. Miséria ao povo e armas para o governo controlar os miseráveis. Milênios atrás, ou em pleno século XXI. As leis econômicas não costumam ligar muito para esses detalhes. Pobre povo venezuelano. Servindo como cobaia de um experimento que cheira à naftalina de tão velho. E esse é o modelo que o governo Lula fez tanta questão de convidar para fazer parte do Mercosul. O povo venezuelano não aprendeu nada com a história. Resta saber se o povo brasileiro vai aprender com o triste exemplo do vizinho aquilo que não se deve fazer!
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