E não é para menos: o politicamente correto dos juizes eleitorais está acabando até com o nosso bom humor.
Já não podemos mais gozar da cara dos políticos, e ridicularizá-los, como eles merecem.
Só os portugueses poderão fazê-lo, e ele já começaram...
Notícia recolhida de um site português:
Brasil proíbe ridicularização de candidatos presidenciais na TV e rádio
Isabel Marques da Silva - Jornalista
17.08.2010
A campanha para as eleições presidenciais no Brasil começa agora a aquecer mas as características dos candidatos mais previsíveis para piadas e caricaturas não poderão ser usadas por comentadores ou comediantes. É que a lei brasileira proibe este tipo de abordagem na rádio e TV, com o argumento de que os candidatos não devem ser ridicularizados para poderem ter uma avaliação imparcial e justa por parte do eleitorado.
Hoje começam a ser emitidos anúncios de propaganda dos partidos na rádio e TV com vista às eleições de 3 de Outubro, mas os ouvintes e telespectadores não terão acesso às análises mais mordazes dessas mensagens políticas.
Ao contrário do que é prática corrente em muitas democracias pluripartidárias, os protagonistas das eleições presidenciais no Brasil não podem ser alvo de piadas, comentários jocosos ou caricaturização que ridicularize as suas características pessoais e profissionais.
Uma restrição a que as rádios e televisões (os jornais não são abrangidos) têm de obedecer apenas nos três meses que antecedem o acto eleitoral e que se prende, de acordo com a lei brasileira, com a necessidade de preservar uma imagem justa e imparcial dos candidatos.
Gozar com os candidatos dá direito a multa que pode chegar a mais de 100 mil dólares (78 mil euros) e suspensão de licença de emissão. Apesar de haver poucos casos de multas aplicadas, a auto-censura tem funcionado.
Uma lei antiquada?
A regra foi herdada das restrições à liberdade de expressão impostas pela ditadura militar (1964-1985). "Conhece alguma outra democracia no mundo como uma regra destas?" pergunta Marcelo Tas, humorista brasileiro que tem um programa de televisão semanal, entrevistado pela agência de notícias Associated Press.
Tas aconselha os políticos brasileiros a seguirem o exemplo de Barack Obama, Presidente dos EUA.
"A curva de popularidade de Obama subiu muito quando ele apareceu num programa de TV humorístico. Quando a pessoa permite uma entrevista ou confronto mais crítico, como acontece no meu programa, pode levar-se com alguns "tiros" mas também existe a possibilidade de mostrar um lado mais humano de que o eleitorado gosta. O humor não é mais que a realidade exagerada, o que ajuda as pessoas a pensarem sobre um assunto por outro ângulo", explica.
Internet e jornais a salvo
Como a Internet não é licenciada pelo Governo, os sites não estão abrangidos pela lei. Mas se uma estação de rádio ou tv usar o seu site para fazer uma piada, ou reproduzir uma piada de outros sites, poderá ser responsabilizada.
A imprensa está a salvo da lei, mas alguns colunistas insurgem-se contra a medida que afecta os seus colegas.
"Isto é uma forma de castrar o direito dos eleitores à informação", disse Clovis Rossi, que assina uma coluna no jornal "Folha de São Paulo", um dos mais importantes do país. "Não é uma ameaça à liberdade de imprensa, mas é uma ameaça à inteligência do povo brasileiro",acrescentou.
Apoiantes da medida consideram que esta evita, por um lado, que a imagem de alguns políticos saia mais prejudicada que a de outros; e, por outro, encoraja os mesmos a serem honestos sobre as suas ideias e passado.
Um tema que está a ser debatido em colunas de opinião na imprensa e também nas redes sociais na Internet, bem como nalguns seminários públicos.
Um editorial recente do jornal "O Globo" pronunciou-se contra a lei porque a considera censória e diz que seria "impensável na mais vibrante democracia do mundo, os EUA".
Com Associated Press
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Nicaragua: escolhendo juizes por sorteio...
Cesar Maia pensa que a Nicaragua se aproxima do modelo Chávez. Talvez ainda não. Na terra do coronel, os juizes não são sorteados; são escolhidos por ele...
Da coluna diária de Cesar Maia:
CHAVISMO AVANÇA NA AMÉRICA LATINA!
Daniel Ortega toma o controle do Supremo Tribunal da Nicarágua
El País, 14/08/2010
1. A reunião de terça-feira foi uma sessão surrealista na sede da Suprema Corte da Nicarágua, composta por 16 juízes. Os juízes, de tendência sandinista, se reuniram com uma dezena de candidatos para substituir seus companheiros liberais. Como se fosse uma loteria, a presidente interina do Supremo, Alba Luz Ramos, pediu a dois dos jornalistas que cobrem os trabalhos do Tribunal para tirar de uma urna de madeira sete números que correspondiam aos juízes que seriam eleitos. Desta maneira tão original, os magistrados sandinistas impuseram aos chamados “substitutos”, cinco sandinistas e dois liberais.
2. Arbitrariedade. "A convocatória dos “substitutos” é uma arbitrariedade, não tem base legal. O Supremo Tribunal se converteu no centro da arbitrariedade da Nicarágua: compõem as salas como querem, chamam quem lhes dá vontade, passam por cima da das leis e da Constituição. A maioria dos juízes tem uma preocupação: conseguir maiores graus de legitimidade política para a reeleição do presidente”, disse o especialista Gabriel Alvarez.
---------
E falando de um outro país onde o Estado também já deixou de existir, e talvez até o governo...
NARCOBLOQUEIO EM MONTERREY, CAPITAL FINANCEIRA DO MÉXICO!
El País, 17/08/2010
En la madrugada del domingo, la sede de la cadena Televisa en Monterrey fue objeto de un atentado con una granada. Pero el ataque a lacadena no fue el mayor sobresalto que vivieron en Nuevo León el pasado domingo. Como ha ocurrido a lo largo de un año, pero cada vez con mayor desdén a las autoridades, a partir de las 19.30 grupos de narcotraficantes bloquearon calles y avenidas de la capital de ese Estado. Con armas de gran calibre, los delincuentes despojaron decoches y camiones a distintos ciudadanos y cerraron con ellos varias vías. La policía no sólo no hizo nada por evitarlo, sino que en esta ocasión algunas comisarías y el Palacio Municipal, además de sitios turísticos como el Barrio Antiguo, quedaron aislados. Los narcobloqueos (al menos 39, según las autoridades) duraron poco más de tres horas y ocurrieron después de un enfrentamiento entre grupos criminales, que dejó de tres muertos.
Da coluna diária de Cesar Maia:
CHAVISMO AVANÇA NA AMÉRICA LATINA!
Daniel Ortega toma o controle do Supremo Tribunal da Nicarágua
El País, 14/08/2010
1. A reunião de terça-feira foi uma sessão surrealista na sede da Suprema Corte da Nicarágua, composta por 16 juízes. Os juízes, de tendência sandinista, se reuniram com uma dezena de candidatos para substituir seus companheiros liberais. Como se fosse uma loteria, a presidente interina do Supremo, Alba Luz Ramos, pediu a dois dos jornalistas que cobrem os trabalhos do Tribunal para tirar de uma urna de madeira sete números que correspondiam aos juízes que seriam eleitos. Desta maneira tão original, os magistrados sandinistas impuseram aos chamados “substitutos”, cinco sandinistas e dois liberais.
2. Arbitrariedade. "A convocatória dos “substitutos” é uma arbitrariedade, não tem base legal. O Supremo Tribunal se converteu no centro da arbitrariedade da Nicarágua: compõem as salas como querem, chamam quem lhes dá vontade, passam por cima da das leis e da Constituição. A maioria dos juízes tem uma preocupação: conseguir maiores graus de legitimidade política para a reeleição do presidente”, disse o especialista Gabriel Alvarez.
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E falando de um outro país onde o Estado também já deixou de existir, e talvez até o governo...
NARCOBLOQUEIO EM MONTERREY, CAPITAL FINANCEIRA DO MÉXICO!
El País, 17/08/2010
En la madrugada del domingo, la sede de la cadena Televisa en Monterrey fue objeto de un atentado con una granada. Pero el ataque a lacadena no fue el mayor sobresalto que vivieron en Nuevo León el pasado domingo. Como ha ocurrido a lo largo de un año, pero cada vez con mayor desdén a las autoridades, a partir de las 19.30 grupos de narcotraficantes bloquearon calles y avenidas de la capital de ese Estado. Con armas de gran calibre, los delincuentes despojaron decoches y camiones a distintos ciudadanos y cerraron con ellos varias vías. La policía no sólo no hizo nada por evitarlo, sino que en esta ocasión algunas comisarías y el Palacio Municipal, además de sitios turísticos como el Barrio Antiguo, quedaron aislados. Los narcobloqueos (al menos 39, según las autoridades) duraron poco más de tres horas y ocurrieron después de un enfrentamiento entre grupos criminales, que dejó de tres muertos.
Brasil: grande exportador de commodities, mas nao mais de café
Um século atrás, mais de 70% do valor das exportações brasileiras era café: o café era o Brasil e o Brasil era o café.
Cem anos depois, o café representa menos de 3% das exportações totais do Brasil. Uma história de sucesso na substituição... por outras commodities, pois a soja vai a mais de 10% da pauta...
Brasil, bastante diferentes, mas sempre igual...
Paulo Roberto de Almeida
O café decola
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 13 de agosto de 2010
A colheita de café deste ano está terminando. Se as estimativas da Conab se confirmarem, serão 47 milhões de sacas de 60 kg. O IBGE prevê pouca coisa menos, 45,8 milhões. Alguns analistas do setor, mais otimistas, confiam numa safra recorde de 55 milhões de sacas. A conferir.
Mas a principal novidade não está no volume da produção e, sim, no preço em que será vendida. As cotações, que vinham a mais de uma década se arrastando, estão em franca recuperação. Em junho, o produto atingiu o maior preço em 12 anos na Bolsa de Nova York e, desde então, não parou de subir. Neste ano, foi a segunda commodity agrícola que mais valorizou: 29,09%, só ultrapassada pelo trigo (alta de 29,73%). Na Bolsa de São Paulo, a esticada no mesmo período segue ritmo parecido: 25,76%. Sexta-feira, no mercado futuro em Nova York, os contratos com vencimento em setembro terminaram o dia a 174,10 centavos de dólar por libra-peso. Aqui em São Paulo, a saca de 60 kg foi negociada a U$$ 209,00.

São três as molas propulsoras dos preços: quebra de produção nos anos anteriores, redução dos estoques e mais consumo. O mercado está cada vez mais interessado por cafés do tipo arábica. Os produtores da Colômbia e da América Central, fornecedores importantes dessa variedade, vêm apresentando quedas na produção em consequência de clima adverso e só voltarão a abastecer o mercado no fim deste ano.
Os estoques mundiais (de todos os tipos de café) estão caindo. Em 2003, eram de 73 milhões de sacas. Neste ano, devem ser de apenas 33,5 milhões de sacas. No Brasil, encolheram ainda mais: caíram de 23 milhões de sacas em 2003 para 9 milhões de sacas em 2009.
Por outro lado, cada vez mais gente no mundo não abre mão do seu cafezinho ou, como preferem os americanos, da sua xícara grande de café. É o fator que, desde 1990, vem puxando o consumo global a uma média anual de 2,2%. Em 2010, o consumo deve atingir 134 milhões de sacas contra uma produção que não deverá passar das 130 milhões de sacas (as estimativas são da Organização Internacional do Café – OIC).
As projeções de aumento do consumo para o Brasil, o segundo maior mercado do mundo, são ainda mais expressivas. Estatísticas da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), puxadas pelas boas previsões para o crescimento do PIB, dão conta de que o consumo brasileiro deverá aumentar 5% em volume neste ano, para 19,31 milhões de sacas de 60 kg.
Diante desse quadro de baixa oferta e de forte demanda, grande parte dos analistas acredita que os preços altos irão se manter por um bom tempo, tanto no mercado internacional quanto no doméstico.
O cafeicultor Luiz Suplicy Hafers está farejando mais. Está prevendo um “squeeze” na Bolsa de São Paulo, ou seja, uma escassez repentina. Mas os analistas Tito Gusmão, da XP Investimentos, e Rodrigo Costa, da corretora Newedge, entendem que esta é uma aposta pouco provável, já que a safra cheia em fase final de colheita por aqui será mais do que suficiente para honrar os contratos.

No gráfico, você acompanha o comportamento, ano a ano, dos estoques mundiais de café.
A história mudou. O Brasil continua sendo o maior produtor e o maior exportador de café do mundo. Mas, se até os anos 70, o café era o principal produto de exportação, hoje a história já é bem diferente…
Participação modesta. Em 2009, as exportações do produto correspondiam a 2,8% das exportações brasileiras, enquanto a fatia da soja alcançava 11,3%.
COLABOROU ISADORA PERON
Cem anos depois, o café representa menos de 3% das exportações totais do Brasil. Uma história de sucesso na substituição... por outras commodities, pois a soja vai a mais de 10% da pauta...
Brasil, bastante diferentes, mas sempre igual...
Paulo Roberto de Almeida
O café decola
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 13 de agosto de 2010
A colheita de café deste ano está terminando. Se as estimativas da Conab se confirmarem, serão 47 milhões de sacas de 60 kg. O IBGE prevê pouca coisa menos, 45,8 milhões. Alguns analistas do setor, mais otimistas, confiam numa safra recorde de 55 milhões de sacas. A conferir.
Mas a principal novidade não está no volume da produção e, sim, no preço em que será vendida. As cotações, que vinham a mais de uma década se arrastando, estão em franca recuperação. Em junho, o produto atingiu o maior preço em 12 anos na Bolsa de Nova York e, desde então, não parou de subir. Neste ano, foi a segunda commodity agrícola que mais valorizou: 29,09%, só ultrapassada pelo trigo (alta de 29,73%). Na Bolsa de São Paulo, a esticada no mesmo período segue ritmo parecido: 25,76%. Sexta-feira, no mercado futuro em Nova York, os contratos com vencimento em setembro terminaram o dia a 174,10 centavos de dólar por libra-peso. Aqui em São Paulo, a saca de 60 kg foi negociada a U$$ 209,00.

São três as molas propulsoras dos preços: quebra de produção nos anos anteriores, redução dos estoques e mais consumo. O mercado está cada vez mais interessado por cafés do tipo arábica. Os produtores da Colômbia e da América Central, fornecedores importantes dessa variedade, vêm apresentando quedas na produção em consequência de clima adverso e só voltarão a abastecer o mercado no fim deste ano.
Os estoques mundiais (de todos os tipos de café) estão caindo. Em 2003, eram de 73 milhões de sacas. Neste ano, devem ser de apenas 33,5 milhões de sacas. No Brasil, encolheram ainda mais: caíram de 23 milhões de sacas em 2003 para 9 milhões de sacas em 2009.
Por outro lado, cada vez mais gente no mundo não abre mão do seu cafezinho ou, como preferem os americanos, da sua xícara grande de café. É o fator que, desde 1990, vem puxando o consumo global a uma média anual de 2,2%. Em 2010, o consumo deve atingir 134 milhões de sacas contra uma produção que não deverá passar das 130 milhões de sacas (as estimativas são da Organização Internacional do Café – OIC).
As projeções de aumento do consumo para o Brasil, o segundo maior mercado do mundo, são ainda mais expressivas. Estatísticas da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), puxadas pelas boas previsões para o crescimento do PIB, dão conta de que o consumo brasileiro deverá aumentar 5% em volume neste ano, para 19,31 milhões de sacas de 60 kg.
Diante desse quadro de baixa oferta e de forte demanda, grande parte dos analistas acredita que os preços altos irão se manter por um bom tempo, tanto no mercado internacional quanto no doméstico.
O cafeicultor Luiz Suplicy Hafers está farejando mais. Está prevendo um “squeeze” na Bolsa de São Paulo, ou seja, uma escassez repentina. Mas os analistas Tito Gusmão, da XP Investimentos, e Rodrigo Costa, da corretora Newedge, entendem que esta é uma aposta pouco provável, já que a safra cheia em fase final de colheita por aqui será mais do que suficiente para honrar os contratos.

No gráfico, você acompanha o comportamento, ano a ano, dos estoques mundiais de café.
A história mudou. O Brasil continua sendo o maior produtor e o maior exportador de café do mundo. Mas, se até os anos 70, o café era o principal produto de exportação, hoje a história já é bem diferente…
Participação modesta. Em 2009, as exportações do produto correspondiam a 2,8% das exportações brasileiras, enquanto a fatia da soja alcançava 11,3%.
COLABOROU ISADORA PERON
O Estado sequestrado pelo governo - o caso das agencias reguladoras
Parece que vai ser difícil reconstruir, reconstituir a independência, a autonomia e a seriedade das agências reguladoras. O governo conseguiu colocá-las a seu serviço, numa das involuções mais vergonhosas a que se assistiu nos oito anos do governo atual.
Uma marca lamentável para o Estado brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida
Um plano em execução
Editorial - O Estado de S.Paulo, 17.08.2010
O caos nos principais aeroportos brasileiros registrado no início do mês, por causa da mudança do sistema de escala das tripulações da Gol, bem como o ocorrido no fim do ano passado, em decorrência da adoção de um novo sistema de check-in pela TAM, deixaram claras a incompetência operacional da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e sua incapacidade de evitar colapsos como o ocorrido.
Mas a Anac é apenas um exemplo de como, por meio de asfixia financeira, de nomeações de dirigentes sem as qualificações técnicas necessárias para exercer o cargo e até de redução de responsabilidades, o governo Lula vem esvaziando as agências reguladoras, na execução daquilo que tem todas as características de um plano preconcebido.
Agências imunes aos interesses políticos do governo são incompatíveis com a política petista de açambarcamento do Estado Nacional. Por isso, desde o início deste governo, boa parte das verbas orçamentárias das agências vem sendo retida pelo Tesouro Nacional, a pretexto de assegurar o cumprimento das metas de superávit fiscal. No ano passado - como mostrou o Estado na segunda-feira, em reportagem de Renée Pereira - o contingenciamento dessas verbas atingiu um nível recorde.
Deixaram de ser repassados às agências nada menos do que 85,7% das receitas totais a que elas tinham direito, o que tornou impossível a realização de serviços essenciais, especialmente os de fiscalização. Esse número foi levantado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), com base em dados do Tesouro Nacional.
Criadas para regular e fiscalizar a prestação de serviços públicos por empresas privadas ou estatais, as agências são órgãos do Estado brasileiro, que não deveriam estar subordinados ao governo. Por isso, não estão vinculadas à estrutura dos Ministérios e, assim, não deviam receber ordens do presidente da República, de ministros ou de outros funcionários do Executivo. Para exercer sua função, devem dispor de autonomia financeira, administrativa e operacional, além de amplos poderes de fiscalização e de liberdade para impor sanções.
Mas, com o contingenciamento das suas verbas, o Executivo limita drasticamente a sua capacidade de atuação. Em 2009, por exemplo, a Anac só dispôs de R$ 20 milhões para garantir a operação da aviação civil de acordo com os padrões internacionais de qualidade e segurança. Em 2010, foram autorizados para essa função R$ 34 milhões, mas R$ 10 milhões foram contingenciados.
A sequência de apagões elétricos iniciada em 2009 e que se estendeu até este ano poderia ter sido pelo menos contida, se a Agência Nacional de Energia Elétrica mantivesse a amplitude das fiscalizações. No ano passado, estavam previstas 2.017 fiscalizações, mas, por causa do corte de verbas, só foram executadas 1.866, um número menor do que o de 2008.
A Agência Nacional de Telecomunicações dispõe de receitas que, em 2009, estavam orçadas em R$ 3,8 bilhões. Desse valor, porém, só recebeu R$ 302 milhões.
É isso que explica boa parte da piora da qualidade da atuação das agências nos últimos sete anos.
Mas o governo recorre a outros meios para asfixiar as agências. Um deles é a atribuição a empresas estatais, controladas pelo Executivo, de tarefas típicas de agências independentes. Os contratos para a exploração do petróleo da camada pré-sal, por exemplo, serão definidos pela nova estatal, a Petro Sal. “Esse tipo de medida reduz o poder de decisão das agências”, adverte o professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Ari Sundfeld.
Há ainda a interferência direta do governo nas agências, por meio da nomeação de diretores de acordo com critérios político-partidários, como acaba de ocorrer com a Agência Nacional de Transportes Terrestres, para a qual foi nomeado um ex-dirigente de basquete cuja experiência mais importante no setor público foi a de assessorar um ex-senador do PMDB. Na verdade, só uma derrota da candidata do PT em outubro salvaria as agências. Se Dilma Rousseff for eleita, a sentença de morte será executada.
Provavelmente não por asfixia, mas por apedrejamento…
================
Aos companheiros, tudo
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 16 de agosto de 2010
O governo Lula tem feito enorme confusão entre atribuições de governo e atribuições de Estado, para grande prejuízo do interesse público. A mais gritante está no desempenho das agências reguladoras.
Logo depois de sua posse, em 2003, Lula estranhou que as agências reguladoras, criadas para garantir a observância das regras do jogo nos principais setores da atividade econômica, se comportavam com certa autonomia. Não entendeu que não são organismos do governo, mas são organismos do Estado, como o são o Judiciário e o Banco Central.
Seu aparecimento ficou necessário após o processo de privatização, de maneira a que o Estado (e não o governo) regulasse e fiscalizasse setor por setor. A relativa autonomia e neutralidade é uma decorrência de sua natureza. Para regular isentamente o mercado, as agências não podem ser reféns dos políticos que orbitam o poder. Para isso, os dirigentes de cada agência deveriam ter mandatos fixos, cassáveis apenas em casos de graves transgressões comprovadas da lei.
No entanto, apenas chegou ao Palácio do Planalto, Lula tratou de submeter os cargos de direção das agências às barganhas políticas, dentro do jogo franciscano do “é dando que se recebe”, que vem caracterizando a administração do PT.
Assim, um a um, os dirigentes das agências foram sendo removidos ou enquadrados às determinações comandadas pela Presidência da República. Foi assim que a Anatel, o organismo que deveria regular o mercado de telefonia, passou a permitir estranhos movimentos e outras tantas fusões e confusões, cujo resultado mais importante foi beneficiar controladores de algumas companhias.
Outro exemplo de desmandos e incompetência teve como foco a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), onde dirigentes, apadrinhados por figurões do governo, permitiram o mergulho do setor e a administração dos aeroportos brasileiros no caos em que se encontram hoje.
Anomalia semelhante acontece na Agência Nacional do Petróleo (ANP), cujo comando foi entregue a um prócer do PCdoB, Haroldo Lima, dentro do jogo de alianças da administração Lula. Depois de passar bom tempo do seu mandato tentando arrancar dinheiro da Petrobrás para satisfazer o interesse de alguns políticos por supostas diferenças no repasse de royalties a Estados e municípios, Haroldo Lima advoga agora o pagamento máximo da Petrobrás à União pela cessão onerosa, a transferência de 5 bilhões de barris de petróleo ainda no chão, a título de subscrição da parcela correspondente ao Tesouro no capital da empresa.
Em princípio, nada haveria de errado na fixação de um preço ainda que máximo desses barris, se a própria ANP não tivesse estabelecido como critério o que viesse a ser certificado pela consultoria Gaffney, Cline & Associates, especialmente contratada para isso. Outra vez, a direção da ANP está mais interessada em fazer o jogo político da hora do que em impor o critério técnico previamente acertado.
Essas e outras deformações acontecem porque o governo Lula permite e incentiva o aparelhamento do Estado em benefício da companheirada política. O maior prejudicado é o interesse público.
Uma marca lamentável para o Estado brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida
Um plano em execução
Editorial - O Estado de S.Paulo, 17.08.2010
O caos nos principais aeroportos brasileiros registrado no início do mês, por causa da mudança do sistema de escala das tripulações da Gol, bem como o ocorrido no fim do ano passado, em decorrência da adoção de um novo sistema de check-in pela TAM, deixaram claras a incompetência operacional da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e sua incapacidade de evitar colapsos como o ocorrido.
Mas a Anac é apenas um exemplo de como, por meio de asfixia financeira, de nomeações de dirigentes sem as qualificações técnicas necessárias para exercer o cargo e até de redução de responsabilidades, o governo Lula vem esvaziando as agências reguladoras, na execução daquilo que tem todas as características de um plano preconcebido.
Agências imunes aos interesses políticos do governo são incompatíveis com a política petista de açambarcamento do Estado Nacional. Por isso, desde o início deste governo, boa parte das verbas orçamentárias das agências vem sendo retida pelo Tesouro Nacional, a pretexto de assegurar o cumprimento das metas de superávit fiscal. No ano passado - como mostrou o Estado na segunda-feira, em reportagem de Renée Pereira - o contingenciamento dessas verbas atingiu um nível recorde.
Deixaram de ser repassados às agências nada menos do que 85,7% das receitas totais a que elas tinham direito, o que tornou impossível a realização de serviços essenciais, especialmente os de fiscalização. Esse número foi levantado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), com base em dados do Tesouro Nacional.
Criadas para regular e fiscalizar a prestação de serviços públicos por empresas privadas ou estatais, as agências são órgãos do Estado brasileiro, que não deveriam estar subordinados ao governo. Por isso, não estão vinculadas à estrutura dos Ministérios e, assim, não deviam receber ordens do presidente da República, de ministros ou de outros funcionários do Executivo. Para exercer sua função, devem dispor de autonomia financeira, administrativa e operacional, além de amplos poderes de fiscalização e de liberdade para impor sanções.
Mas, com o contingenciamento das suas verbas, o Executivo limita drasticamente a sua capacidade de atuação. Em 2009, por exemplo, a Anac só dispôs de R$ 20 milhões para garantir a operação da aviação civil de acordo com os padrões internacionais de qualidade e segurança. Em 2010, foram autorizados para essa função R$ 34 milhões, mas R$ 10 milhões foram contingenciados.
A sequência de apagões elétricos iniciada em 2009 e que se estendeu até este ano poderia ter sido pelo menos contida, se a Agência Nacional de Energia Elétrica mantivesse a amplitude das fiscalizações. No ano passado, estavam previstas 2.017 fiscalizações, mas, por causa do corte de verbas, só foram executadas 1.866, um número menor do que o de 2008.
A Agência Nacional de Telecomunicações dispõe de receitas que, em 2009, estavam orçadas em R$ 3,8 bilhões. Desse valor, porém, só recebeu R$ 302 milhões.
É isso que explica boa parte da piora da qualidade da atuação das agências nos últimos sete anos.
Mas o governo recorre a outros meios para asfixiar as agências. Um deles é a atribuição a empresas estatais, controladas pelo Executivo, de tarefas típicas de agências independentes. Os contratos para a exploração do petróleo da camada pré-sal, por exemplo, serão definidos pela nova estatal, a Petro Sal. “Esse tipo de medida reduz o poder de decisão das agências”, adverte o professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Ari Sundfeld.
Há ainda a interferência direta do governo nas agências, por meio da nomeação de diretores de acordo com critérios político-partidários, como acaba de ocorrer com a Agência Nacional de Transportes Terrestres, para a qual foi nomeado um ex-dirigente de basquete cuja experiência mais importante no setor público foi a de assessorar um ex-senador do PMDB. Na verdade, só uma derrota da candidata do PT em outubro salvaria as agências. Se Dilma Rousseff for eleita, a sentença de morte será executada.
Provavelmente não por asfixia, mas por apedrejamento…
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Aos companheiros, tudo
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 16 de agosto de 2010
O governo Lula tem feito enorme confusão entre atribuições de governo e atribuições de Estado, para grande prejuízo do interesse público. A mais gritante está no desempenho das agências reguladoras.
Logo depois de sua posse, em 2003, Lula estranhou que as agências reguladoras, criadas para garantir a observância das regras do jogo nos principais setores da atividade econômica, se comportavam com certa autonomia. Não entendeu que não são organismos do governo, mas são organismos do Estado, como o são o Judiciário e o Banco Central.
Seu aparecimento ficou necessário após o processo de privatização, de maneira a que o Estado (e não o governo) regulasse e fiscalizasse setor por setor. A relativa autonomia e neutralidade é uma decorrência de sua natureza. Para regular isentamente o mercado, as agências não podem ser reféns dos políticos que orbitam o poder. Para isso, os dirigentes de cada agência deveriam ter mandatos fixos, cassáveis apenas em casos de graves transgressões comprovadas da lei.
No entanto, apenas chegou ao Palácio do Planalto, Lula tratou de submeter os cargos de direção das agências às barganhas políticas, dentro do jogo franciscano do “é dando que se recebe”, que vem caracterizando a administração do PT.
Assim, um a um, os dirigentes das agências foram sendo removidos ou enquadrados às determinações comandadas pela Presidência da República. Foi assim que a Anatel, o organismo que deveria regular o mercado de telefonia, passou a permitir estranhos movimentos e outras tantas fusões e confusões, cujo resultado mais importante foi beneficiar controladores de algumas companhias.
Outro exemplo de desmandos e incompetência teve como foco a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), onde dirigentes, apadrinhados por figurões do governo, permitiram o mergulho do setor e a administração dos aeroportos brasileiros no caos em que se encontram hoje.
Anomalia semelhante acontece na Agência Nacional do Petróleo (ANP), cujo comando foi entregue a um prócer do PCdoB, Haroldo Lima, dentro do jogo de alianças da administração Lula. Depois de passar bom tempo do seu mandato tentando arrancar dinheiro da Petrobrás para satisfazer o interesse de alguns políticos por supostas diferenças no repasse de royalties a Estados e municípios, Haroldo Lima advoga agora o pagamento máximo da Petrobrás à União pela cessão onerosa, a transferência de 5 bilhões de barris de petróleo ainda no chão, a título de subscrição da parcela correspondente ao Tesouro no capital da empresa.
Em princípio, nada haveria de errado na fixação de um preço ainda que máximo desses barris, se a própria ANP não tivesse estabelecido como critério o que viesse a ser certificado pela consultoria Gaffney, Cline & Associates, especialmente contratada para isso. Outra vez, a direção da ANP está mais interessada em fazer o jogo político da hora do que em impor o critério técnico previamente acertado.
Essas e outras deformações acontecem porque o governo Lula permite e incentiva o aparelhamento do Estado em benefício da companheirada política. O maior prejudicado é o interesse público.
Tony Judt: escritos no New York Review of Books
Um grande historiador desapareceu recentemente. Inglês, trabalhando nos Estados Unidos, Judt foi um colaborador constante da melhor revista de resenhas críticas -- review-articles, na verdade -- do mundo, a New York Review of Books.
Nem todos os artigos estão disponíveis (alguns apenas para assinantes), mas tem muita coisa interessante.
Paulo Roberto de Almeida
Tony Judt na New York Review of Books
link
Tony Judt (1948–2010) was the founder and director of the Remarque Institute at NYU and the author of Postwar: A History of Europe Since 1945, Ill Fares the Land, and The Burden of Responsibility: Blum, Camus, Aron, and the French Twentieth Century, among other books.
Meritocrats, August 19, 2010
Words, July 15, 2010
Magic Mountains, May 27, 2010
America, My New-Found-Land, May 27, 2010
‘Edge People’, May 13, 2010
Toni, May 13, 2010
Austerity, May 13, 2010
An Open Letter About ALS, April 29, 2010
Work, April 8, 2010
Girls! Girls! Girls!, April 8, 2010
What Happened in May 1968?, April 8, 2010
Ill Fares the Land, April 29, 2010
Cheers for the École Normale, April 29, 2010
Lord Warden, March 25, 2010
Edge People, March 25, 2010
Saved by Czech, March 11, 2010
In Love with Trains, March 11, 2010
Paris Was Yesterday, March 11, 2010
Revolutionaries, February 25, 2010
The Green Line, February 25, 2010
Food, February 25, 2010
Kibbutz, February 11, 2010
Joe, February 11, 2010
‘Night’, February 11, 2010
Bedder, February 11, 2010
Night, January 14, 2010
(...)
[Articles from 1990 to 2009 (...)]
Fired in Belgrade, March 29, 1990
Nem todos os artigos estão disponíveis (alguns apenas para assinantes), mas tem muita coisa interessante.
Paulo Roberto de Almeida
Tony Judt na New York Review of Books
link
Tony Judt (1948–2010) was the founder and director of the Remarque Institute at NYU and the author of Postwar: A History of Europe Since 1945, Ill Fares the Land, and The Burden of Responsibility: Blum, Camus, Aron, and the French Twentieth Century, among other books.
Meritocrats, August 19, 2010
Words, July 15, 2010
Magic Mountains, May 27, 2010
America, My New-Found-Land, May 27, 2010
‘Edge People’, May 13, 2010
Toni, May 13, 2010
Austerity, May 13, 2010
An Open Letter About ALS, April 29, 2010
Work, April 8, 2010
Girls! Girls! Girls!, April 8, 2010
What Happened in May 1968?, April 8, 2010
Ill Fares the Land, April 29, 2010
Cheers for the École Normale, April 29, 2010
Lord Warden, March 25, 2010
Edge People, March 25, 2010
Saved by Czech, March 11, 2010
In Love with Trains, March 11, 2010
Paris Was Yesterday, March 11, 2010
Revolutionaries, February 25, 2010
The Green Line, February 25, 2010
Food, February 25, 2010
Kibbutz, February 11, 2010
Joe, February 11, 2010
‘Night’, February 11, 2010
Bedder, February 11, 2010
Night, January 14, 2010
(...)
[Articles from 1990 to 2009 (...)]
Fired in Belgrade, March 29, 1990
Os banqueiros votam em Dilma (nao sei o que dirao os companheiros)
Bem, a gente já sabia que os banqueiros preferem Lula. Não podendo tê-lo outra vez, como seria desejável, eles se contentam com a sua indicada a sucedê-lo certos de que haverá perfeita continuidade na política de favorecimento de banqueiros e capitalistas em geral.
Não sei o que diriam os companheiros a esse respeito, eles que tanto odiavam os banqueiros e outros representantes do grande capital.
Pior ainda, vários desses banqueiros fazem parte daquilo que os petistas, naquela linguagem antiga, antiquada e portanto anacrônica, sempre chamaram de capital monopolista financeiro internacional, ou seja, a pior espécie de banqueiro que possa existir, aqueles vampiros sugadores da seiva financeira dos países explorados e periféricos como o nosso.
Pois bem, esse pessoal detestável está agora, de corpo e alma, com os seus bolsos cheios, se ouso dizer, com a candidata oficial, a sucessora do grande benefactor, o homem que deu aos banqueiros muito mais que eles poderiam desejar.
Aqui vai portanto o relatório dos banqueiros internacionais sobre o processo eleitoral (suponho que os companheiros não se incomodarão com essa intervenção estrangeira nos assuntos internos do Brasil).
Paulo Roberto de Almeida
Brazil - We expect Mrs. Rousseff to win in the first round
Citi: Emerging Markets Daily, Latin American Edition, 17 August 2010
Brazil – We expect Mrs. Rousseff to win in the first round. We now expect the government-backed presidential candidate to win in the first round given the latest round of opinion polls and our 2H'10 activity outlook. (p. 4)
Latest round of opinion polls show the government-backed candidate is ahead in voting intention. According to Datafolha institute, Dilma Rousseff leads polls with 41% of voting intention, whereas Jose Serra has 33%. The previous Datafolha poll, on July 23, showed a technical tie, as Mrs. Rousseff had 36% and Mr. Serra, 37%.In third-place, Marina Silva’s voting intention remained at 10%. On the spontaneous survey, without mentioning the candidates’ names in the questionnaire, voting intention for Mrs. Rousseff’s increased to 26% from 21% and Mr. Serra remained at 16%. Simulations of a runoff between these two candidates also showed the same trend, as Mrs. Rousseff reached 49% while Mr. Serra came at 41%. Regarding rejection rates, Mrs. Rousseff is also in a more comfortable position, as she scored 20% while 28% reject Mr. Serra.
Overall, Mrs. Rousseff’s popularity has been on a steady upward trend whereas the opposition candidate’s has remained stable until July and now seems to be experiencing a slight downward trend.
Governor elections are favoring Mrs. Rousseff. The Datafolha polls for regional elections showed that candidates from within Mrs. Rousseff’s alliance are leading in vote intention. Strong results in local elections tend to be positive for presidential candidates and the Datafolha survey seems to reinforce this view.
In the Northeastern region, where the income transfer programs are more widespread, voting intention for Mrs. Rousseff’s stands at 49%, while Mr. Serra has 25%. In the Southeastern region − the most relevant as it encompasses the states of São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) and Minas Gerais (MG) − Mr. Serra is now trailing Mrs. Rousseff (35% vs. 37%). The latter, considering the PMDB’s strong showings in MG and RJ, where the candidates likely to win in the first round, are supporting the government-backed candidate. Finally, in the Southern region, Mr. Serra holds the lead with 41% vs. Mrs. Rousseff’s 34%.
President Lula’s influence in the campaign has been remarkable and we believe there is more to come. President Lula has pushed hard for connecting his image to Mrs. Rousseff’s, in order to transfer some of his popularity over to her.
His first step was to tag her as the “mother of the PAC” (Growth Accelerating Program). In the Datafolha poll, 42% answered that the President’s support would be key in the voting definition, while an additional 22% declared they would take such information into account. Finally, 29% disregarded the President’s support as playing any role in the voting decision. In addition, the Datafolha poll showed that 7% did not know that Mrs. Rousseff is President Lula’s candidate and would be certain to vote for the President-backed candidate. This could be considered as an additional upside for Mrs. Rousseff, which could eventually lead to a first-round definition. Moreover, President
Lula managed to keep his record-high approval rating at 77%, while only 4% regard his administration as bad.
We now believe the presidential elections will be decided in the first round. We held a view of a tight race all the way trough the first round, with a bias toward Mrs. Rousseff’s victory. We are now changing this view to a Rousseff victory in the first round. Mrs. Rousseff needs only three more points to finish off the race, because in the ballot only the valid votes are taken into account. The latest poll showed 5% of invalid votes (null and blank votes). Therefore, she already has 47% of the valid votes. The above-mentioned aspects of the latest Datafolha poll are already self-assuring but there is more. Previous elections indicate a small effect from media campaign, which is to begin this week on Tuesday August 17. Leaders in polls ahead of the TV and radio campaigns usually remain in that place throughout the first round. Finally, the economic deceleration in 2Q’10 was temporary and the labor market conditions continued to improve while consumption resumed the upward trend, according to the latest retail sales results. Overall, these are all signs supporting Mrs. Rousseff’s candidacy and making Mr. Serra's task of reaching the runoff evermore difficult.
Não sei o que diriam os companheiros a esse respeito, eles que tanto odiavam os banqueiros e outros representantes do grande capital.
Pior ainda, vários desses banqueiros fazem parte daquilo que os petistas, naquela linguagem antiga, antiquada e portanto anacrônica, sempre chamaram de capital monopolista financeiro internacional, ou seja, a pior espécie de banqueiro que possa existir, aqueles vampiros sugadores da seiva financeira dos países explorados e periféricos como o nosso.
Pois bem, esse pessoal detestável está agora, de corpo e alma, com os seus bolsos cheios, se ouso dizer, com a candidata oficial, a sucessora do grande benefactor, o homem que deu aos banqueiros muito mais que eles poderiam desejar.
Aqui vai portanto o relatório dos banqueiros internacionais sobre o processo eleitoral (suponho que os companheiros não se incomodarão com essa intervenção estrangeira nos assuntos internos do Brasil).
Paulo Roberto de Almeida
Brazil - We expect Mrs. Rousseff to win in the first round
Citi: Emerging Markets Daily, Latin American Edition, 17 August 2010
Brazil – We expect Mrs. Rousseff to win in the first round. We now expect the government-backed presidential candidate to win in the first round given the latest round of opinion polls and our 2H'10 activity outlook. (p. 4)
Latest round of opinion polls show the government-backed candidate is ahead in voting intention. According to Datafolha institute, Dilma Rousseff leads polls with 41% of voting intention, whereas Jose Serra has 33%. The previous Datafolha poll, on July 23, showed a technical tie, as Mrs. Rousseff had 36% and Mr. Serra, 37%.In third-place, Marina Silva’s voting intention remained at 10%. On the spontaneous survey, without mentioning the candidates’ names in the questionnaire, voting intention for Mrs. Rousseff’s increased to 26% from 21% and Mr. Serra remained at 16%. Simulations of a runoff between these two candidates also showed the same trend, as Mrs. Rousseff reached 49% while Mr. Serra came at 41%. Regarding rejection rates, Mrs. Rousseff is also in a more comfortable position, as she scored 20% while 28% reject Mr. Serra.
Overall, Mrs. Rousseff’s popularity has been on a steady upward trend whereas the opposition candidate’s has remained stable until July and now seems to be experiencing a slight downward trend.
Governor elections are favoring Mrs. Rousseff. The Datafolha polls for regional elections showed that candidates from within Mrs. Rousseff’s alliance are leading in vote intention. Strong results in local elections tend to be positive for presidential candidates and the Datafolha survey seems to reinforce this view.
In the Northeastern region, where the income transfer programs are more widespread, voting intention for Mrs. Rousseff’s stands at 49%, while Mr. Serra has 25%. In the Southeastern region − the most relevant as it encompasses the states of São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) and Minas Gerais (MG) − Mr. Serra is now trailing Mrs. Rousseff (35% vs. 37%). The latter, considering the PMDB’s strong showings in MG and RJ, where the candidates likely to win in the first round, are supporting the government-backed candidate. Finally, in the Southern region, Mr. Serra holds the lead with 41% vs. Mrs. Rousseff’s 34%.
President Lula’s influence in the campaign has been remarkable and we believe there is more to come. President Lula has pushed hard for connecting his image to Mrs. Rousseff’s, in order to transfer some of his popularity over to her.
His first step was to tag her as the “mother of the PAC” (Growth Accelerating Program). In the Datafolha poll, 42% answered that the President’s support would be key in the voting definition, while an additional 22% declared they would take such information into account. Finally, 29% disregarded the President’s support as playing any role in the voting decision. In addition, the Datafolha poll showed that 7% did not know that Mrs. Rousseff is President Lula’s candidate and would be certain to vote for the President-backed candidate. This could be considered as an additional upside for Mrs. Rousseff, which could eventually lead to a first-round definition. Moreover, President
Lula managed to keep his record-high approval rating at 77%, while only 4% regard his administration as bad.
We now believe the presidential elections will be decided in the first round. We held a view of a tight race all the way trough the first round, with a bias toward Mrs. Rousseff’s victory. We are now changing this view to a Rousseff victory in the first round. Mrs. Rousseff needs only three more points to finish off the race, because in the ballot only the valid votes are taken into account. The latest poll showed 5% of invalid votes (null and blank votes). Therefore, she already has 47% of the valid votes. The above-mentioned aspects of the latest Datafolha poll are already self-assuring but there is more. Previous elections indicate a small effect from media campaign, which is to begin this week on Tuesday August 17. Leaders in polls ahead of the TV and radio campaigns usually remain in that place throughout the first round. Finally, the economic deceleration in 2Q’10 was temporary and the labor market conditions continued to improve while consumption resumed the upward trend, according to the latest retail sales results. Overall, these are all signs supporting Mrs. Rousseff’s candidacy and making Mr. Serra's task of reaching the runoff evermore difficult.
A Ignorancia Letrada: um exemplo involuntario (e no mais alto nível)
Escrevi e publiquei, recentemente, um artigo sobre a mediocrização das nossas academias. Obviamente não pretendia tratar desse assunto doloroso, tanto que convivo parte do tempo com colegas universitários, publico em revistas acadêmicas, dou aulas e, aparentemente, tenho alguma coisa no Lattes que me habilita a falar como um desses.
Este o artigo:
A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico
Espaço Acadêmico (vol. 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127).
Publicados n. 985; Originais n. 2169.
Fui levado a escrever coisas um pouco severas sobre meus colegas pelo fato de receber muitos artigos para dar parecer e me surpreendo, a cada vez, com a deterioração constante da língua pátria, essa inculta e bela, que justifica o "inculta" e dispensa o "bela", já que está cada vez mais feia, torturada como vem sendo pelo nossos colegas de academia. Quanto ao conteúdo, então, dispenso-me de comentários, pois é evidente que eu recuso vários artigos -- provavelmente mais do que meus colegas pareceristas -- não tanto pelas agressões ao Português, mas pelos atentados à lógica formal, pelas crueldades cometidas com a verossimilhança, a falta de fidelidade ao mundo real, as loucuras surrealistas que brotam aqui e ali de textos que dificilmente mereceriam esse nome.
Mas, quando escrevi esse trabalho cáustico (o que reconheço) estava pensando mais naquele típico acadêmico de humanidades, que não aprendeu quase nada nos originais, mas que leu vários livros de vulgarização, e que se permite emitir julgamentos perempetórios sobre a política mundial, sobre a cultura universal e o universo mental de seus pares, que não ultrapasse uma colina de dez metros. Ou seja, o "gramsciano de baixa extração", ou o militante de chinelo de dedo que se considera acadêmico.
Eu nunca tinha pensado que um reitor de uma universidade pudesse alcançar -- se o termo se aplica -- esse nível de mediocridade. Pois é, parece que já chegamos ao ápice da mediocridade até mesmo nas reitorias.
Querem a prova?
Sigam esta matéria de um jornalista conhecido, sobre um ministro conhecido...
Paulo Roberto de Almeida
Mais um exemplo da “nova era democrática”: a barbárie intelectual da universidade. Ou: como formar ignorantes orgulhosos e patriotas
Reinaldo Azevedo, 16.08.2010
Manguei outro dia do “consenso” (!?) de três intelectuais, segundo os quais o Brasil está vivendo uma “nova era” democrática. E expus, num longo texto, as muitas agressões que o estado de direito vem sofrendo no Brasil. E não porque eu queira ou não goste do governo, mas porque são fatos. Se uma nova “era” existe, dadas aquelas violações, ela não é boa. Um fato ocorrido na semana passada, no Rio, caracteriza bem esse “novo ambiente”. Talvez vocês também fiquem um tanto chocados, embora certamente não surpresos.
Abaixo, há um áudio que está no canal que o Itamaraty tem no Youtube. Ele traz a “aula inaugural” ministrada no último dia 11 por Celso Amorim, o Colosso de Rhodes da diplomacia brasileira, no curso de história da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro — é a Uni-Rio, não a UFRJ. Sigam com o texto e ouçam depois se tiverem paciência.
http://www.youtube.com/mrebrasil#p/u/0/Y4LW97Vy99w
Falarei alguma coisinha sobre o discurso deste gigante, o homem que perdeu todas as disputas internacionais em que se meteu — e que se transformou, por isso, num formidável sucesso. Mas ele é o de menos nessa história porque se limitou a repetir a glossolalia de sempre, com aquele orgulho muito típico dos derrotados. Chocante mesmo, verdadeiramente estupefaciente, foi a fala da “Magnífica reitora, professora doutora Malvina Tuttman”. Nunca antes na história destepaiz se viu algo parecido na academia. A primeira intervenção da “magnífica” começa ali pelos 6 minutos e se estende mais ou menos até os 11. Transcrevo em vermelho [em itálico, neste blog] alguns trechos de sua fala (dando destaque a algumas palavras e expressões) e vou comentando em azul [normal].
Começo observando que a gramática da “professora doutora magnífica” rivaliza com a de Dilma Rousseff nos transes da ventura sintática e nos dons do pensamento truncado. Numa ousadia realmente digna de nota, Malvina diz que Celso Amorim contribuiu para elevar até a auto-estima dos “nossos irmãos estrangeiros”. Não tentem identificar, em sua fala, sujeito, verbo, complemento, aquelas coisas antigas que caracterizavam os discursos de “magníficos” no passado. Isso passou. Malvina é expressão de uma parcela da universidade brasileira desta “nova era”. Teria dificuldade para trabalhar em telemarketing. A ela:
(…) Celso Amorim, um dos homens deste país que, atualmente, vem imprimindo e mostrando a seriedade desse país não só para fortalecer a auto-estima nossa, do povo brasileiro, mas, em especial, dos nossos irmãos estrangeiros, que, por meio de uma política governamental importante de relações exteriores e, sem dúvida alguma, falava há pouco com o ministro, por conta da capacidade, da força, da história de vida do ministro, do embaixador Celso Amorim, o nosso país, hoje, não só por isso, mas também por isso, tem um reconhecimento e um valor importante internacional. (…) Uma das pessoas que eu considero (…) um dos nomes mais representativos da história deste país…
Bem, é o que costumo chamar de “sintaxe na fase da miséria”. A vontade de agradar é tal que a gente nota até uma certa aerofagia, uma emoção verdadeiramente genuína. Imagino a excitação intelectual desta senhora. E vocês já perceberam o vício de linguagem da “companheira”, não? Essa história de “auto-estima” é peça de resistência de todas as campanhas oficiais — e das estatais. Será que Malvina sabe que Celso Amorim perdeu todos os embates em que se meteu, sem uma só exceção? Eu acho que não. Isso não significa que pudesse dizer coisa diferente se soubesse, mas acho que ela ignora mesmo…
(…)
O ministro, ele não ficará historicamente lembrado, já que estamos numa aula inaugural de história, apenas por sua passagem neste momento político do nosso país, mas enquanto aquilo que ele representa como brasileiro que se orgulha de ser brasileiro e que leva esse orgulho para fora dos muros, das fronteiras do nosso país.
Esse “o ministro, ele” — a anteposição de uma espécie de aposto do sujeito — é um dos vícios de linguagem que mais me irritam e que, vênia máxima, viu, magnífica?, considero índice de ignorância e de pensamento vago. É coisa típica desses pastores televisivos. E o que dizer disto: “O ministro ficará lembrado enquanto aquilo que ele representa…”? Paulo Francis, nessas horas, costumava apelar ao chicote — metafórico, claro…
(…)
E posso lhe [a Amorim] dizer que, além da satisfação de estar reitora neste momento político importante do nosso país, onde as universidades têm recebido um justo olhar para aquilo que ela produz de importante, de ciência para esse país, e isso tem acontecido, nós podemos ter um marco importante, antes de 2003 e depois de 2003, e, por isso, eu posso me orgulhar de estar reitora neste momento, desde 2004, ministro, e completarei o meu mandato até 2012…
Interrompo aqui, mas o trecho abaixo é seqüência deste, sem corte. Amorim já entendeu, eu acho. O mandato dela vai até 2012… ENTENDEU, AMORIM??? Ninguém pode dizer que ela não está se esforçando para dar vôos maiores. Vejam ali a mistificação do discurso oficial repetida na fala da magnífica: o Brasil começou em 2003. Sigamos:
, mas eu quero também lhe cumprimentar e lhe dizer da grande satisfação de Malvina Tuttman, cidadã brasileira, estar, neste momento, sentada ao lado de um grande homem, um homem que fortalece o nosso país, um país que vem crescendo e que irá, se ainda não surpreendeu, irá surpreender não só alguns brasileiros incrédulos, mas Irá surpreender ao mundo.
Ah, apareceram os “brasileiros incrédulos”, aquela gente nefasta que insiste em não acreditar nas verdades eternas do petismo e do governo. A gente nota que Malvina é mesmo entusiasmada. Não lhe basta falar como reitora, não! Ela quer dar seu testemunho pessoal, falar também como “cidadã”, evidenciando que seu engajamento não é apenas profissional. Ela está nessa de corpo e alma mesmo. Dona Malvina poderia “cumprimentá-LO”, mas “lhe cumprimentar” jamais! A língua é democrática, magnífica! Oferece pronomes oblíquos tanto para verbos transitivos diretos como para os indiretos. Se a senhora servisse cafezinho na Uni-Rio, eu não lhe faria tal cobrança, mas como é a reitora…
Aí veio a intervenção do gigante, com aquele seu incrível dom de dizer coisas que estão em desacordo com a verdade. Deteve-se um pouco mais demoradamente na brilhante negociação que o Brasil empreendeu no Irã, asseverando que se alcançou lá um acordo fabuloso, mas, vocês sabem,as grandes potências, invejosas do talento brasileiro, não aceitaram… Seguiram-se algumas perguntas de estudantes e coisa e tal.
Malvina achou que a sua fala inicial não tinha sido convincente o bastante. Afinal, seu mandato vai até 2012 apenas… ENTENDEU, AMORIM??? No encerramento do evento, ela retoma a palavra (1h40min). E conclui a sua obra. Desta feita, atingiu o estado de arte nas manhas da adulação patriótica
Ministro, que quero lhe dizer que o senhor verdadeiramente nos deu uma aula. Uma aula de auto-estima, uma aula de mediação de combinação de habilidade de negociação com, se o senhor me permite, uma certa ousadia, ou muita ousadia, diplomática importante.
Vocês ainda respiram ou sufocaram na “aula de mediação de combinação de habilidade de negociação”? Adoro o “se e o senhor me permite”. Imaginem se Amorim não permitiria. Melhor do que isso só mesmo se Malvina dissesse: “Ministro, se o senhor me permite, o senhor é um gigante!” Atenção que a magnífica vai, agora, alertar Amorim para o fato de que sempre existem pessoas “do contra”. E vai aconselhá-lo.
E eu acho que essa é a grande diferença, essa habilidade conjugada à ousadia, mas uma ousadia que sabe aonde quer chegar, uma ousadia respeitosa. Isso fez e faz com que o nosso país, internamente, se veja de uma outra maneira e que, externamente, tenha essa representatividade internacional que nós temos. Do contra, ministro, nós sempre vamos encontrar. E é bom até, porque as opiniões muitas vezes contrárias nos fazem repensar e, algumas vezes, se temos essa habilidade, nos fazem crescer também e verificar que as diversas vozes contribuem, se elas não vêm para atrapalhar, elas contribuem para o nosso avanço.
Uau!!! Nem parece que Celso Amorim tentou nomear um brasileiro duas vezes para a OMC e perdeu as duas; que tentou nomear outro brasileiro para o BID e perdeu; que tentou uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e perdeu; que apostou todas as fichas na Rodada Doha e perdeu; que tentou reinstalar o bandido Manuel Zelaya em Honduras e perdeu; que deu apoio a um egípcio anti-semita para comandar a Unesco e perdeu; que tentou evitar sanções ao Irã na ONU e perdeu. Leitor, se você quiser relembrar todas as besteiras e derrotas de Celso Amorim, clique aqui.
Mas o que mais me encantou na fala de Malvina foi o seu entendimento do que vem a ser “tolerância”. Vejam que ela até admite que as pessoas “do contra” têm lá o seu lugar na sociedade. Generosa, ela se dispõe a aprender com elas. Tem apenas uma ressalva: “se elas não vêm para atrapalhar”. Do contra, pode; não pode, pelo visto, é manifestar essa contrariedade. A isso está reduzida boa parte da universidade brasileira.
O senhor falou tantas coisas importantes, mas eu destacaria, se o senhor me permite, uma palavra importante, que, para nós, é especial e que marca também a visão da política no nosso país em todos os sentidos, principalmente neste momento das relações exteriores. E é alguma coisa que tem de ser inserida no nosso modo de estar no mundo, que é a paz. E o nosso governo, por meio do nosso presidente e do senhor, tem dado também essa lição para o mundo, para nós e para o mundo.
Bem, não poderia faltar o puxa-saquismo explícito, evocando o presidente. O Brasil, com efeito, tem investido na paz. De que modo? Adulando todos os ditadores do planeta e enviando à ONU um documento que pede mais diálogo com esses facínoras. Em Honduras, o governo brasileiro investiu na paz tentando promover a guerra civil e não reconhecendo um governo eleito legitimamente. Em Cuba, investe na paz comparando prisioneiros políticos a delinqüentes brasileiros. No Sudão, investe na paz impedindo censura ao tirano que governa o país. Na Colômbia, investe na paz mobilizando-se contra o governo contitucional do país e flertando com as Farc. Em Israel, investe na paz querendo bater papinho com o Hamas. No Irã, bem, no Irã… A gente chega lá.
Eu fiquei orgulhosa, orgulhosa, ministro, da atitude que o Brasil teve especificamente, há muitas, mas especificamente ao fato do Irã. Gostei. E sou judia! E aí fico muito á vontade de dizer dessa minha satisfação, desse meu orgulho, porque, acima de tudo, nós somos homens e mulheres, crianças e pessoas mais amadurecidas, mas que temos convicções muitas vezes contraditórias, mas alguma coisa tem de nos unir, a condição de sermos humanos, e, por isso, a paz é imprescindível. Eu acho que a atuação do presidente Lula e a atuação do ministro das Relações Exteriores pode, no meu entendimento, podem ser caracterizadas e definidas, para mim, numa palavra que, nesse momento, é a mais importante de todas: paz. Muito obrigada, ministro, seja muito saudado pela nossa comunidade!
Malvina acredita que o fato de ela ser judia e de apoiar o governo Lula muda o caráter do regime iraniano. E daí que é judia? Por que isso faria seu adesismo deixar de ser o que é? Mais: ao evocar essa condição, parece que tenta representar outras mulheres e homens judeus. E não representa, não! E isso, eu, que não sou judeu, asseguro. Porque esse povo não vem de tão longe para flertar com um anti-semita delirante, negador do Holocausto, que promete varrer Israel do mapa. Nesta segunda, dia 16, cinco dias depois da fala de Malvina, o Irã anunciou mais um passo em seu programa nuclear, numa clara provocação ao Ocidente, à ONU e à Agência Internacional de Energia Nuclear. Fale em seu próprio nome, minha senhora!
Encerrando
A fala de Malvina é uma colcha de retalhos de bordões oficiais e das muitas mistificações do petismo. Até nos vícios, repete a linguagem “companheira”. Seu discurso é a expressão daquela maçaroca de bobagens entre nacionalistas e patrióticas, que mal escondem o viés militante.
A universidade é o local da pesquisa e do pensamento, não da justificação do poder. Por mais que os centros de excelência, no mundo democrático, sejam integrados ao establishment, essa integração se dá na esfera dos valores, de uma cultura votada para o progresso, para a diversidade e para a tolerância. Servilismo ao governo de turno é outra coisa. É patente na fala da “magnífica” a satanização do passado, a exemplo do que faz o governo que Celso Amorim representa, com o seu discurso recheado de clamorosas imposturas. Ok, dona Malvina não precisa concordar comigo. Mas há um modo decoroso até mesmo de puxar o saco.
Imaginem: esse “bobajol” está sendo cotidianamente repetido nas salas de aula Brasil afora, especialmente, como é o caso, nos chamados cursos da área de humanas. E depois nos perguntamos por que a escola brasileira é tão ruim. Eis aí: Malvina dá a receita para a formação de ignorantes orgulhosos e patriotas.
==========
Comento rapidamente (PRA):
Confesso que estou sem palavras, ou melhor, não sei o que dizer. A reitora da Uni-Rio conseguiu me desmentir em meu artigo preocupado com a mediocrização da universidade brasileira, mas o quadro é muito pior do que eu imaginava, muito piormente pior, se ouso dizer, e se a reitora me permite este atentado à língua dela.
Eu vou ser obrigado a reescrever o meu artigo, ou escrever um novo, para me corrigir: não existe um processo de mediocrização, pois a universidade já desceu muito fundo, e o conceito deve ser outro.
Se uma reitora consegue falar daquela maneira, é porque a universidade já se encontra lá no fundo do poço. Nem sei de que curso é essa "senhora" -- sinto muito, mas não consigo chamá-la de reitora, mas eu recomendaria que ela se tornasse pelo menos "leitora", que é reitora em chinês, se ela me entende -- mas acredito que não faça muita diferença hoje em dia: todos os cursos estão indo para o brejo, pelo menos no que se refere à linguagem -- se o termo se aplica -- utilizada...
=========
Addendum (a partir da Wikipedia):
Deve ter sido escrito por ela mesma. Tudo se explica:
Malvina Tuttman
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação, pesquisa
Malvina Tania Tuttman é a atual reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Santa Úrsula (1976), mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981) e doutorado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2004). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, especialmente nos seguintes temas: flexibilização curricular, extensão universitária, cotidiano na educação, metodologias participativas e planejamento.
A cerimônia de posse de seu atual e segundo mandato ocorreu no dia 3 de setembro de 2009, na sede do Ministério da Educação – MEC, em Brasília.
A Reitora recebeu o Prêmio Mais Mulheres, recém instituído pela Secretária Especial de Políticas para Mulheres, Nilcéia Freire, no dia 09 de março de 2009, em Brasília.
Atualmente, a reitoria da Unirio está envolvida com as mudanças necessárias para que a universidade se encaixe nos moldes do Reuni. O campus da Urca está recebendo um novo prédio para laboratório, novos cursos estão sendo oferecidos, em novos turnos, e o ensino à distância está ganhando força.
Este o artigo:
A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico
Espaço Acadêmico (vol. 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127).
Publicados n. 985; Originais n. 2169.
Fui levado a escrever coisas um pouco severas sobre meus colegas pelo fato de receber muitos artigos para dar parecer e me surpreendo, a cada vez, com a deterioração constante da língua pátria, essa inculta e bela, que justifica o "inculta" e dispensa o "bela", já que está cada vez mais feia, torturada como vem sendo pelo nossos colegas de academia. Quanto ao conteúdo, então, dispenso-me de comentários, pois é evidente que eu recuso vários artigos -- provavelmente mais do que meus colegas pareceristas -- não tanto pelas agressões ao Português, mas pelos atentados à lógica formal, pelas crueldades cometidas com a verossimilhança, a falta de fidelidade ao mundo real, as loucuras surrealistas que brotam aqui e ali de textos que dificilmente mereceriam esse nome.
Mas, quando escrevi esse trabalho cáustico (o que reconheço) estava pensando mais naquele típico acadêmico de humanidades, que não aprendeu quase nada nos originais, mas que leu vários livros de vulgarização, e que se permite emitir julgamentos perempetórios sobre a política mundial, sobre a cultura universal e o universo mental de seus pares, que não ultrapasse uma colina de dez metros. Ou seja, o "gramsciano de baixa extração", ou o militante de chinelo de dedo que se considera acadêmico.
Eu nunca tinha pensado que um reitor de uma universidade pudesse alcançar -- se o termo se aplica -- esse nível de mediocridade. Pois é, parece que já chegamos ao ápice da mediocridade até mesmo nas reitorias.
Querem a prova?
Sigam esta matéria de um jornalista conhecido, sobre um ministro conhecido...
Paulo Roberto de Almeida
Mais um exemplo da “nova era democrática”: a barbárie intelectual da universidade. Ou: como formar ignorantes orgulhosos e patriotas
Reinaldo Azevedo, 16.08.2010
Manguei outro dia do “consenso” (!?) de três intelectuais, segundo os quais o Brasil está vivendo uma “nova era” democrática. E expus, num longo texto, as muitas agressões que o estado de direito vem sofrendo no Brasil. E não porque eu queira ou não goste do governo, mas porque são fatos. Se uma nova “era” existe, dadas aquelas violações, ela não é boa. Um fato ocorrido na semana passada, no Rio, caracteriza bem esse “novo ambiente”. Talvez vocês também fiquem um tanto chocados, embora certamente não surpresos.
Abaixo, há um áudio que está no canal que o Itamaraty tem no Youtube. Ele traz a “aula inaugural” ministrada no último dia 11 por Celso Amorim, o Colosso de Rhodes da diplomacia brasileira, no curso de história da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro — é a Uni-Rio, não a UFRJ. Sigam com o texto e ouçam depois se tiverem paciência.
http://www.youtube.com/mrebrasil#p/u/0/Y4LW97Vy99w
Falarei alguma coisinha sobre o discurso deste gigante, o homem que perdeu todas as disputas internacionais em que se meteu — e que se transformou, por isso, num formidável sucesso. Mas ele é o de menos nessa história porque se limitou a repetir a glossolalia de sempre, com aquele orgulho muito típico dos derrotados. Chocante mesmo, verdadeiramente estupefaciente, foi a fala da “Magnífica reitora, professora doutora Malvina Tuttman”. Nunca antes na história destepaiz se viu algo parecido na academia. A primeira intervenção da “magnífica” começa ali pelos 6 minutos e se estende mais ou menos até os 11. Transcrevo em vermelho [em itálico, neste blog] alguns trechos de sua fala (dando destaque a algumas palavras e expressões) e vou comentando em azul [normal].
Começo observando que a gramática da “professora doutora magnífica” rivaliza com a de Dilma Rousseff nos transes da ventura sintática e nos dons do pensamento truncado. Numa ousadia realmente digna de nota, Malvina diz que Celso Amorim contribuiu para elevar até a auto-estima dos “nossos irmãos estrangeiros”. Não tentem identificar, em sua fala, sujeito, verbo, complemento, aquelas coisas antigas que caracterizavam os discursos de “magníficos” no passado. Isso passou. Malvina é expressão de uma parcela da universidade brasileira desta “nova era”. Teria dificuldade para trabalhar em telemarketing. A ela:
(…) Celso Amorim, um dos homens deste país que, atualmente, vem imprimindo e mostrando a seriedade desse país não só para fortalecer a auto-estima nossa, do povo brasileiro, mas, em especial, dos nossos irmãos estrangeiros, que, por meio de uma política governamental importante de relações exteriores e, sem dúvida alguma, falava há pouco com o ministro, por conta da capacidade, da força, da história de vida do ministro, do embaixador Celso Amorim, o nosso país, hoje, não só por isso, mas também por isso, tem um reconhecimento e um valor importante internacional. (…) Uma das pessoas que eu considero (…) um dos nomes mais representativos da história deste país…
Bem, é o que costumo chamar de “sintaxe na fase da miséria”. A vontade de agradar é tal que a gente nota até uma certa aerofagia, uma emoção verdadeiramente genuína. Imagino a excitação intelectual desta senhora. E vocês já perceberam o vício de linguagem da “companheira”, não? Essa história de “auto-estima” é peça de resistência de todas as campanhas oficiais — e das estatais. Será que Malvina sabe que Celso Amorim perdeu todos os embates em que se meteu, sem uma só exceção? Eu acho que não. Isso não significa que pudesse dizer coisa diferente se soubesse, mas acho que ela ignora mesmo…
(…)
O ministro, ele não ficará historicamente lembrado, já que estamos numa aula inaugural de história, apenas por sua passagem neste momento político do nosso país, mas enquanto aquilo que ele representa como brasileiro que se orgulha de ser brasileiro e que leva esse orgulho para fora dos muros, das fronteiras do nosso país.
Esse “o ministro, ele” — a anteposição de uma espécie de aposto do sujeito — é um dos vícios de linguagem que mais me irritam e que, vênia máxima, viu, magnífica?, considero índice de ignorância e de pensamento vago. É coisa típica desses pastores televisivos. E o que dizer disto: “O ministro ficará lembrado enquanto aquilo que ele representa…”? Paulo Francis, nessas horas, costumava apelar ao chicote — metafórico, claro…
(…)
E posso lhe [a Amorim] dizer que, além da satisfação de estar reitora neste momento político importante do nosso país, onde as universidades têm recebido um justo olhar para aquilo que ela produz de importante, de ciência para esse país, e isso tem acontecido, nós podemos ter um marco importante, antes de 2003 e depois de 2003, e, por isso, eu posso me orgulhar de estar reitora neste momento, desde 2004, ministro, e completarei o meu mandato até 2012…
Interrompo aqui, mas o trecho abaixo é seqüência deste, sem corte. Amorim já entendeu, eu acho. O mandato dela vai até 2012… ENTENDEU, AMORIM??? Ninguém pode dizer que ela não está se esforçando para dar vôos maiores. Vejam ali a mistificação do discurso oficial repetida na fala da magnífica: o Brasil começou em 2003. Sigamos:
, mas eu quero também lhe cumprimentar e lhe dizer da grande satisfação de Malvina Tuttman, cidadã brasileira, estar, neste momento, sentada ao lado de um grande homem, um homem que fortalece o nosso país, um país que vem crescendo e que irá, se ainda não surpreendeu, irá surpreender não só alguns brasileiros incrédulos, mas Irá surpreender ao mundo.
Ah, apareceram os “brasileiros incrédulos”, aquela gente nefasta que insiste em não acreditar nas verdades eternas do petismo e do governo. A gente nota que Malvina é mesmo entusiasmada. Não lhe basta falar como reitora, não! Ela quer dar seu testemunho pessoal, falar também como “cidadã”, evidenciando que seu engajamento não é apenas profissional. Ela está nessa de corpo e alma mesmo. Dona Malvina poderia “cumprimentá-LO”, mas “lhe cumprimentar” jamais! A língua é democrática, magnífica! Oferece pronomes oblíquos tanto para verbos transitivos diretos como para os indiretos. Se a senhora servisse cafezinho na Uni-Rio, eu não lhe faria tal cobrança, mas como é a reitora…
Aí veio a intervenção do gigante, com aquele seu incrível dom de dizer coisas que estão em desacordo com a verdade. Deteve-se um pouco mais demoradamente na brilhante negociação que o Brasil empreendeu no Irã, asseverando que se alcançou lá um acordo fabuloso, mas, vocês sabem,as grandes potências, invejosas do talento brasileiro, não aceitaram… Seguiram-se algumas perguntas de estudantes e coisa e tal.
Malvina achou que a sua fala inicial não tinha sido convincente o bastante. Afinal, seu mandato vai até 2012 apenas… ENTENDEU, AMORIM??? No encerramento do evento, ela retoma a palavra (1h40min). E conclui a sua obra. Desta feita, atingiu o estado de arte nas manhas da adulação patriótica
Ministro, que quero lhe dizer que o senhor verdadeiramente nos deu uma aula. Uma aula de auto-estima, uma aula de mediação de combinação de habilidade de negociação com, se o senhor me permite, uma certa ousadia, ou muita ousadia, diplomática importante.
Vocês ainda respiram ou sufocaram na “aula de mediação de combinação de habilidade de negociação”? Adoro o “se e o senhor me permite”. Imaginem se Amorim não permitiria. Melhor do que isso só mesmo se Malvina dissesse: “Ministro, se o senhor me permite, o senhor é um gigante!” Atenção que a magnífica vai, agora, alertar Amorim para o fato de que sempre existem pessoas “do contra”. E vai aconselhá-lo.
E eu acho que essa é a grande diferença, essa habilidade conjugada à ousadia, mas uma ousadia que sabe aonde quer chegar, uma ousadia respeitosa. Isso fez e faz com que o nosso país, internamente, se veja de uma outra maneira e que, externamente, tenha essa representatividade internacional que nós temos. Do contra, ministro, nós sempre vamos encontrar. E é bom até, porque as opiniões muitas vezes contrárias nos fazem repensar e, algumas vezes, se temos essa habilidade, nos fazem crescer também e verificar que as diversas vozes contribuem, se elas não vêm para atrapalhar, elas contribuem para o nosso avanço.
Uau!!! Nem parece que Celso Amorim tentou nomear um brasileiro duas vezes para a OMC e perdeu as duas; que tentou nomear outro brasileiro para o BID e perdeu; que tentou uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e perdeu; que apostou todas as fichas na Rodada Doha e perdeu; que tentou reinstalar o bandido Manuel Zelaya em Honduras e perdeu; que deu apoio a um egípcio anti-semita para comandar a Unesco e perdeu; que tentou evitar sanções ao Irã na ONU e perdeu. Leitor, se você quiser relembrar todas as besteiras e derrotas de Celso Amorim, clique aqui.
Mas o que mais me encantou na fala de Malvina foi o seu entendimento do que vem a ser “tolerância”. Vejam que ela até admite que as pessoas “do contra” têm lá o seu lugar na sociedade. Generosa, ela se dispõe a aprender com elas. Tem apenas uma ressalva: “se elas não vêm para atrapalhar”. Do contra, pode; não pode, pelo visto, é manifestar essa contrariedade. A isso está reduzida boa parte da universidade brasileira.
O senhor falou tantas coisas importantes, mas eu destacaria, se o senhor me permite, uma palavra importante, que, para nós, é especial e que marca também a visão da política no nosso país em todos os sentidos, principalmente neste momento das relações exteriores. E é alguma coisa que tem de ser inserida no nosso modo de estar no mundo, que é a paz. E o nosso governo, por meio do nosso presidente e do senhor, tem dado também essa lição para o mundo, para nós e para o mundo.
Bem, não poderia faltar o puxa-saquismo explícito, evocando o presidente. O Brasil, com efeito, tem investido na paz. De que modo? Adulando todos os ditadores do planeta e enviando à ONU um documento que pede mais diálogo com esses facínoras. Em Honduras, o governo brasileiro investiu na paz tentando promover a guerra civil e não reconhecendo um governo eleito legitimamente. Em Cuba, investe na paz comparando prisioneiros políticos a delinqüentes brasileiros. No Sudão, investe na paz impedindo censura ao tirano que governa o país. Na Colômbia, investe na paz mobilizando-se contra o governo contitucional do país e flertando com as Farc. Em Israel, investe na paz querendo bater papinho com o Hamas. No Irã, bem, no Irã… A gente chega lá.
Eu fiquei orgulhosa, orgulhosa, ministro, da atitude que o Brasil teve especificamente, há muitas, mas especificamente ao fato do Irã. Gostei. E sou judia! E aí fico muito á vontade de dizer dessa minha satisfação, desse meu orgulho, porque, acima de tudo, nós somos homens e mulheres, crianças e pessoas mais amadurecidas, mas que temos convicções muitas vezes contraditórias, mas alguma coisa tem de nos unir, a condição de sermos humanos, e, por isso, a paz é imprescindível. Eu acho que a atuação do presidente Lula e a atuação do ministro das Relações Exteriores pode, no meu entendimento, podem ser caracterizadas e definidas, para mim, numa palavra que, nesse momento, é a mais importante de todas: paz. Muito obrigada, ministro, seja muito saudado pela nossa comunidade!
Malvina acredita que o fato de ela ser judia e de apoiar o governo Lula muda o caráter do regime iraniano. E daí que é judia? Por que isso faria seu adesismo deixar de ser o que é? Mais: ao evocar essa condição, parece que tenta representar outras mulheres e homens judeus. E não representa, não! E isso, eu, que não sou judeu, asseguro. Porque esse povo não vem de tão longe para flertar com um anti-semita delirante, negador do Holocausto, que promete varrer Israel do mapa. Nesta segunda, dia 16, cinco dias depois da fala de Malvina, o Irã anunciou mais um passo em seu programa nuclear, numa clara provocação ao Ocidente, à ONU e à Agência Internacional de Energia Nuclear. Fale em seu próprio nome, minha senhora!
Encerrando
A fala de Malvina é uma colcha de retalhos de bordões oficiais e das muitas mistificações do petismo. Até nos vícios, repete a linguagem “companheira”. Seu discurso é a expressão daquela maçaroca de bobagens entre nacionalistas e patrióticas, que mal escondem o viés militante.
A universidade é o local da pesquisa e do pensamento, não da justificação do poder. Por mais que os centros de excelência, no mundo democrático, sejam integrados ao establishment, essa integração se dá na esfera dos valores, de uma cultura votada para o progresso, para a diversidade e para a tolerância. Servilismo ao governo de turno é outra coisa. É patente na fala da “magnífica” a satanização do passado, a exemplo do que faz o governo que Celso Amorim representa, com o seu discurso recheado de clamorosas imposturas. Ok, dona Malvina não precisa concordar comigo. Mas há um modo decoroso até mesmo de puxar o saco.
Imaginem: esse “bobajol” está sendo cotidianamente repetido nas salas de aula Brasil afora, especialmente, como é o caso, nos chamados cursos da área de humanas. E depois nos perguntamos por que a escola brasileira é tão ruim. Eis aí: Malvina dá a receita para a formação de ignorantes orgulhosos e patriotas.
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Comento rapidamente (PRA):
Confesso que estou sem palavras, ou melhor, não sei o que dizer. A reitora da Uni-Rio conseguiu me desmentir em meu artigo preocupado com a mediocrização da universidade brasileira, mas o quadro é muito pior do que eu imaginava, muito piormente pior, se ouso dizer, e se a reitora me permite este atentado à língua dela.
Eu vou ser obrigado a reescrever o meu artigo, ou escrever um novo, para me corrigir: não existe um processo de mediocrização, pois a universidade já desceu muito fundo, e o conceito deve ser outro.
Se uma reitora consegue falar daquela maneira, é porque a universidade já se encontra lá no fundo do poço. Nem sei de que curso é essa "senhora" -- sinto muito, mas não consigo chamá-la de reitora, mas eu recomendaria que ela se tornasse pelo menos "leitora", que é reitora em chinês, se ela me entende -- mas acredito que não faça muita diferença hoje em dia: todos os cursos estão indo para o brejo, pelo menos no que se refere à linguagem -- se o termo se aplica -- utilizada...
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Addendum (a partir da Wikipedia):
Deve ter sido escrito por ela mesma. Tudo se explica:
Malvina Tuttman
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação, pesquisa
Malvina Tania Tuttman é a atual reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Santa Úrsula (1976), mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981) e doutorado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2004). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, especialmente nos seguintes temas: flexibilização curricular, extensão universitária, cotidiano na educação, metodologias participativas e planejamento.
A cerimônia de posse de seu atual e segundo mandato ocorreu no dia 3 de setembro de 2009, na sede do Ministério da Educação – MEC, em Brasília.
A Reitora recebeu o Prêmio Mais Mulheres, recém instituído pela Secretária Especial de Políticas para Mulheres, Nilcéia Freire, no dia 09 de março de 2009, em Brasília.
Atualmente, a reitoria da Unirio está envolvida com as mudanças necessárias para que a universidade se encaixe nos moldes do Reuni. O campus da Urca está recebendo um novo prédio para laboratório, novos cursos estão sendo oferecidos, em novos turnos, e o ensino à distância está ganhando força.
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