segunda-feira, 11 de junho de 2018

Reduzir o tamanho do Estado: absoluta necessidade - Julio Marcelo de Oliveira (Crusoe)

É preciso reduzir o tamanho do Estado

O procurador que investigou as pedaladas fiscais de Dilma Rousseff defende a privatização de estatais como um atalho para reduzir a corrupção, tornar os serviços públicos mais eficientes e evitar problemas como o que deflagrou o levante dos caminhoneiros

Revista Crusoé, 10/06/2018

Júlio Marcelo de Oliveira: as estatais continuam servindo aos partidos e aos políticos (Adriano Machado/Crusoé)01.06.18
Quando o impeachment de Dilma Rousseff era apenas uma ameaça nos bastidores do Congresso Nacional, no início de 2015, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira, hoje com 49 anos, apresentou ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma representação cujos desdobramentos acabaram por fundamentar juridicamente a queda da petista, no ano seguinte. Representante do Ministério Público junto à corte, o procurador deu a partida no processo que eternizou na história brasileira o termo “pedaladas fiscais”, usado para definir a manobras orçamentárias que permitiam ao governo fazer caixa atrasando repasses aos bancos públicos.
Passados dois anos da saída de Dilma, o procurador diz que os problemas estruturais da gestão anterior persistem no governo Michel Temer. Ele vê alguns avanços pontuais, como na gestão da Petrobras, estatal que foi virada do avesso pela Lava Jato e, nos últimos dias, esteve no epicentro de mais uma crise. Mesmo assim, defende a privatização da companhia, de outras estatais e de bancos públicos como um atalho para reduzir a corrupção endêmica no país. Para ele, é preciso reduzir o tamanho do Estado e concentrar investimentos em áreas como educação e saúde. “Qual o sentido hoje de o país ser dono de uma petroleira estatal? Por que não ter aqui cinco petroleiras, abrir o mercado, gerar competição na exploração no refino na distribuição?”, diz. Eis a entrevista.
O que a crise atual, causada pela greve dos caminhoneiros, tem a ver com a ineficiência do Estado brasileiro?
Há um caldo de insatisfação da sociedade com um governo que cobra muito imposto, que custa caro e não entrega um serviço de qualidade. Basta ver a falta de segurança, os hospitais públicos caindo aos pedaços e a educação que não avança e está longe de ser uma alavanca de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, há o Poder Judiciário com esses habeas corpus em escala industrial, especialmente do ministro Gilmar Mendes, que acabam ajudando a aumentar a sensação de impunidade, de que há certas pessoas e grupos protegidos. Isso gera descrença na democracia e nas instituições. A credibilidade do Supremo nunca esteve tão em xeque, e isso faz parte do caldo de insatisfação da sociedade brasileira. Se as pessoas não acreditam nas instituições, por que vão mantê-las? Por que vou manter um sistema que não me devolve o que espero dele?
O senhor enxerga descrença na democracia? Qual seria a alternativa?
Eu não tenho descrença na democracia. Para mim, ela é um valor absoluto. O que vejo em grande parte da sociedade é uma descrença na democracia em razão de as pessoas não perceberem nas instituições uma resposta adequada ao problema que é apontado pela população como o mais grave do país hoje — a corrupção. Se o Congresso Nacional e os partidos políticos não expurgam nem mesmo os já condenados e se alguns ministros do STF concedem habeas corpus em escala industrial, a percepção da sociedade é de que nossa democracia não funciona. E assim as pessoas ficam perdidas, procurando uma alternativa que possa ser melhor, mas que não existe. Temos de consertar nossa democracia, não jogá-la fora. Democracia é incompatível com impunidade. O Judiciário é o fiador da democracia, tem de garantir o seu funcionamento, porque deve proteger a lei e punir quem a viola. Em vez de pedirem o fim da democracia, essas pessoas devem exigir intolerância com a corrupção nos três poderes, o STF incluído.
Em que medida a má gestão contribui para agravar o problema?
Os números mostram que a má gestão e o desperdício causam até mais prejuízos que a corrupção. Mas uma coisa está amarrada à outra, porque você tem a ocupação dos cargos públicos por pessoas incompetentes para gerir, mas competentes para arrecadar, para abastecer o caixa das campanhas dos partidos políticos. É por isso que é tão tão grande a sede dos partidos pelo loteamento dos cargos na Esplanada. É por isso que o número de cargos em comissão é altíssimo. E é por isso que instituições como a Caixa são troféus, e que os partidos procuram fazer indicações para diretorias dessa e de todas as outras grandes estatais.
O tamanho do Estado brasileiro atrapalha que se chegue a uma solução?
Atrapalha muito e gera ineficiência. Nosso país até hoje é patrimonialista. O Estado é visto como um meio de conseguir recursos, privilégios, benefícios fiscais, ocupação de cargos. Um Estado maior favorece isso. Um Estado menor dificulta. Por isso não se conseguiu privatizar mais na era Fernando Henrique. Recentemente, ele mesmo disse que não conseguiu privatizar Furnas porque era um condomínio de indicações políticas. O Estado é muito ineficiente. Não defendo Estado mínimo, mas pergunto: por que o Estado tem que ser empresário? Ele tem uma dívida imensa com a sociedade brasileira na saúde e na educação pública. Essas áreas, sim, podem alavancar nosso desenvolvimento. Na educação pública você investe e daqui a 15, 20 anos tem uma geração de pessoas educadas, bem formadas, com alta produtividade e capacidade de inovação. Isso hoje está restrito a quem pode pagar escola particular ou a um mínimo de escolas públicas de qualidade. Isso é que tinha que ser considerado estratégico pela população. As crianças brasileiras é que são nosso ativo estratégico para desenvolver o país, não é o petróleo.
Qual é a saída? Privatizar?
Por que não?
O senhor defende, então, a privatização de estatais como a Petrobras?
Qual o sentido hoje de o país ser dono de uma petroleira estatal? Por que não ter aqui cinco petroleiras, abrir o mercado, gerar competição na exploração, no refino, na distribuição? A gente só tem a ganhar.
E por que não se privatiza?
Porque no imaginário do brasileiro a Petrobras é estratégica. Se foi, lá na década de 50, hoje já não é. Petróleo já não é mais estratégico. Daqui até 2030, os países não vão ter mais combustível fóssil sendo queimado por tantos veículos. Vai ser quase tudo elétrico. Quanto mais a gente gerar de exploração de petróleo agora, aproveitar de geração de riqueza enquanto ele tem valor, melhor. Por que tratar isso como se fosse uma questão de soberania nacional? O Brasil precisa se abrir.
Dilma Rousseff ao deixar o Planalto: um impeachment sustentado nas “pedaladas fiscais” apontadas por Júlio Marcelo (Adriano Machado/Crusoé)
A Lava Jato expôs uma Petrobras bastante útil aos políticos. Vem daí a maior resistência à privatização?
São várias resistências. Primeiro, dos funcionários que vão sempre dizer que aquilo é um patrimônio do país, estratégico, que não pode ser vendido de jeito nenhum, como diziam da Vale. Segundo, tem esse imaginário popular que precisa ser desconstruído. A população precisa ver que tem muito mais a ganhar com a privatização. Enquanto o imaginário da sociedade achar que o petróleo é estratégico e que a Petrobras é fundamental para o futuro do país, políticos vão ficar com medo de tocar nesse assunto. E sempre há a resistência daqueles outros que usam a empresa para fortalecer o seu grupo.
Não seria mais interessante esperar pela plena recuperação da empresa?
A Petrobras já vinha recuperando seu valor. As ações estavam subindo até a greve dos caminhoneiros. Em qualquer lugar, fazer uma gestão boa dá trabalho, leva tempo, mas para destruir é muito rápido. Tem que pegar a empresa enquanto está boa e vender enquanto ela vale algo, enquanto está em boas condições. Um próximo governo com viés ideológico equivocado pode destruir a Petrobras, pode acabar com ela.
Acredita que o desastre pode se repetir?
(Pode) Querer que ela seja utilizada para controlar a inflação, impondo o prejuízo de comprar gasolina mais cara do que ela vende. Essa política causou 60 bilhões de reais de prejuízos na Petrobras e fez da empresa uma máquina de investimento sem capacidade de retorno. Essas refinarias que ela começou a construir no governo passado, várias simultaneamente, foram um absurdo. Sem orçamento, com orçamento chutado, com obras que custaram muitos bilhões a mais do que o inicialmente previsto, com outras que foram abandonadas, gastaram-se alguns bilhões e não haverá retorno nenhum. Esse dinheiro foi todo perdido.
O senhor vê os mesmos problemas da Petrobras nas outras estatais?
Há níveis de governança diferenciados. Percebemos diferença nítida, por exemplo, entre Caixa e Banco do Brasil. O Banco do Brasil conseguiu criar cultura de diretorias ocupadas por servidores de carreira de uma qualidade técnica maior e um senso de proteção da instituição, mas isso também não impede que esses funcionários de carreira não sejam ligados a partidos políticos e procurem nos partidos os vetores que lhe vão dar a oportunidade para ascender. Mesmo assim, o nível de qualidade da governança é melhor. A Caixa, por sua vez, é explicitamente vulnerável, como deixou claro a Lava Jato. Também é evidente a utilização da Caixa como instrumento político do governo para atender as suas bases.
O senhor defende a privatização dos bancos públicos?
Qual sentido faz a União ser dona de dois bancos (Caixa e Banco do Brasil) desse porte? Tem sentido o Estado ter uma instituição financeira quando o mercado é incipiente. Quando não há outras instituições financeiras, o Estado vai lá e ocupa esse espaço. Com o mercado financeiro sofisticado como o que temos no país, não tem sentido o Estado ser dono de metade do crédito do mercado financeiro. Não tem sentido ser dono do Banco do Brasil e ser dono da Caixa.
Michel Temer: governança melhorou, mas está longe do ideal (Adriano Machado/Crusoé)
A privatização das teles trouxe resultados, os brasileiros passaram a ter telefone, mas o processo foi controverso.
Não é porque você vai privatizar que vai privatizar mal. Privatização não pode ser um fetiche que se justifica por si só. Ela pode ser melhor para o país se for bem feita. No caso das teles, houve erros. Mas é fácil avaliar olhando para trás.
Em que medida o trabalho do Ministério Público aqui no Tribunal de Contas decorre da ineficiência da máquina pública?
Vejo instituições públicas sendo levadas a fazer maus negócios para atender orientações políticas. A Caixa Econômica libera empréstimos para município e estados que têm dificuldade, que têm capacidade de endividamento comprometido a ponto de não conseguir o aval do Tesouro. Bradesco e Itaú não iriam emprestar dinheiro para município sem aval do Tesouro. Por que a Caixa tem que fazer isso? Se o Tesouro não está dando aval é porque esse município e esse estado já estão com capacidade de endividamento esgotada, já estão devendo muito. Agora, em ano eleitoral, o prefeito e o governador querem gastar e o negócio é feito. Isso é uma disfunção.
O senhor fala de indicações políticas, mas o próprio TCU é formado por ministros escolhidos politicamente.
Defendo publicamente o fim das indicações políticas para ministros e conselheiros dos tribunais de contas. Isso tem que acabar. Tem várias propostas de emenda constitucional nesse sentido. Mas a questão cultural é muito forte. Na cabeça dos políticos brasileiros, tribunais de contas são para nomear, para ter indicação política.
E nos estados é ainda pior, não?
É bem pior por duas razões. Primeiro, porque nos estados você tem uma elite menor e acontece de haver um mesmo grupo político dominando o estado por 20, 30 anos. Acaba que todos os conselheiros fazem parte do mesmo grupo político e têm uma visão afinada. Isso prejudica ainda mais a independência e a liberdade.
Com a investigação das pedaladas fiscais, o senhor teve papel relevante na queda de Dilma Rousseff. No que diz respeito ao loteamento da máquina, vê mudanças no governo Temer?
Na Petrobras, dado o seu estado crítico, houve a sensibilidade de que ela tinha que ir para a UTI e ser recuperada, blindada desses critérios de indicação política que a corroeram. Agora, no resto do governo, a lógica continua sendo a mesma de loteamento político. O BNDES hoje é mais transparente. Quando Maria Silvia (Bastos Marques) assumiu, a postura foi de abrir a base de dados para os órgãos de controle. Ainda assim, estamos longe do ideal.
O que poderia tornar mais eficiente a ação dos órgãos de controle?
Quando se tem transparência, isso facilita muito a atividade. Hoje se trabalha melhor com o paradigma de transparência nas empresas estatais e nas agências reguladoras. O grande desafio de um órgão como o TCU, que tem que ter seletividade na sua atuação, é fazer um mapeamento de risco, de relevância. Não tem como controlar tudo o tempo todo. O controle tem que ser eficiente e gerar expectativa. É como a Lei Seca. Não dá para ter um policial para cada cidadão. Agora, se o cidadão sabe que existe o risco de ser parado em uma blitz, ele é estimulado a cumprir a lei. É fundamental que exista a certeza de que tudo pode ser fiscalizado.

domingo, 10 de junho de 2018

Ricardo Bergamini e as relacoes econômicas internacionais do Brasil

Recebido de Ricardo Bergamini em 10/06/2018:

Nosso comércio internacional (saldo da conta de transações correntes) sempre foi deficitário, conforme abaixo colocado, consequentemente sempre estamos vivendo no “fio da navalha” de crises cambiais, dependendo do humor do mercado externo.

Saldo de Transações Correntes

Série história do saldo das transações correntes com base na média/ano foi como segue: Governo FHC (1995/2002) – deficit de US$ 23,4 bilhões = -3,31% do PIB; Governo Lula (2003/2010) – deficit de US$ 6,6 bilhões = -0,52% do PIB; Governo Dilma/Temer (2011/2017) – deficit de US$ 53,0 bilhões = -2,37% do PIB. 

Saldo da Conta de Capital e Financeira 

Série história do saldo da conta de capital e financeira com base na média/ano foi como segue: Governo FHC (1995/2002) – superavit de US$ 23,8 bilhões = 3,37% do PIB; Governo Lula (2003/2010) – superavit de US$ 36,8 bilhões = 2,89% do PIB; Governo Dilma/Temer (2011/2017) – superavit de US$ 62,3 bilhões = 2,79% do PIB. 

A crise atual não é apenas pelo deficit no saldo de transações correntes, inclusive muito abaixo do que no período do governo FHC. Os motivos são diversos, tais como:

- Insegurança politica e jurídica.

- Baixo nível de aprovação do governo (hoje Datafolha de 3%).

- Sem reservas em moeda estrangeira.

- Rebaixamento do Brasil de “Grau de Investimento”, conquistado no governo Lula, para “Grau de Especulação” conquistada no governo Temer, tendo em vista seu crime de responsabilidade fiscal que inviabilizou o ajuste fiscal no curto prazo, em função do parágrafo abaixo:

A tragédia econômica promovida pelo governo Temer (réu confesso, aguardando as algemas) foi responsável pelo rebaixamento das notas do Brasil no mercado financeiro internacional. Tendo sido o aumento de gastos concedidos aos servidores públicos até o ano de 2019 que inviabilizou o ajuste fiscal necessário para a recuperação da economia. Cabe lembrar ter sido o descontrole dos gastos com pessoal a fonte primária que provocou a maior crise fiscal da história econômica do Brasil. 

- Com o objetivo de fazer média para concorrer ao “Oscar de Efeitos Especiais” reduziu, de forma artificial, o ganho real dos investidores da média de 5,59% ao ano no período de 2011/2017, com o país operando em “Grau de Investimento”, para ganho real de 3,64% ao ano em maio de 2018, com o Brasil operando em “Grau de Especulação”, com queda de 34,88%, conforme explicado no parágrafo abaixo:
                                                                                                                         
Cabe lembrar que de 2011 até 2017 a média do ganho real dos investidores foi de 5,59% ao ano, e o ganho real apurado em maio de 2018 foi de 3,64% ao ano, ou seja: 34,88% menor. Se a inflação continuar em ascendência e o estoque de dívida continuar aumentando de forma desordenada somente restarão ao Banco Central retornar o caminho de volta, aumentado à taxa de juros SELIC. Não creio que para um país que opera em “grau de especulação” seja a atual, uma taxa de retorno atrativa. Já estamos observando uma fuga de capitais desvalorizando o real em relação ao dólar. Cabe lembrar que o IPP (Índice de Preços ao Produtor) que nada mais é do que o IPCA futuro teve aumento de 8,03% em doze meses até abril de 2018.

sábado, 9 de junho de 2018

Manual do perfeito apocalipse. Preparem-se...

Rogerio Xavier sempre com colocações sábias.  Desta vez compiladas por Geraldo Samor, do Brazil Journal.

Rogério Xavier começou dizendo que iria estragar o dia dos ouvintes — e estragou.

Num evento com investidores do BTG Pactual ontem, o fundador da SPX Capital disse que “o câmbio está de graça” e previu que o fracasso do Brasil em promover reformas estruturais, somado ao cenário externo cada vez mais perigoso — e um cenário eleitoral idem — podem empurrar o dólar para a faixa de R$ 4,90 a R$ 5,30.

Um dos traders mais experientes do Brasil, Xavier trabalhou 23 anos na tesouraria do Banco BBM antes de abrir a SPX, hoje uma das maiores gestoras do País.

Abaixo, um resumo da palestra que está circulando no mercado.

O Brazil Journal checou com a SPX a fidedignidade do relato.

“Mercado está ferrado. Cenário externo está contra nós e cenário interno é reflexo dos nossos próprios erros.

Estados Unidos: está indo para o superaquecimento. Crescimento de 2,9% está acima do potencial. O nível de déficit fiscal é inédito para o estágio atual do ciclo (desemprego baixo com déficit alto). Inflação está surgindo. Já é possível ver um reflexo nos salários e nos custos de produção. Tarifas propostas por Trump devem pressionar ainda mais a inflação. Condições financeiras seguem frouxas mesmo com as altas de juros recentes. Todos os episódios de recessão nos EUA aconteceram após altas de juros. Atualmente os juros estão 0,9% abaixo do neutro, ainda tem muito para subir. Balanço do Fed precisa diminuir significativamente. Ou seja, taxa de juros americana vai explodir (títiulo do Tesouro de 10 anos tem probabilidade muito alta de chegar a 4-5-6%). Oportunidade boa de fazer posições tomadas em taxas de juros US. Consequentemente, o Brasil vai sofrer.

Brasil: Situação é caótica. Governo acabou de financiar terroristas. A SPX projeta 0,8% de crescimento do PIB para 2018, bem abaixo do mercado. O hiato do produto ainda é elevado, e a inflação não deve ser muito pressionada, mas o melhor momento ficou para trás. O IPCA deve ser de 3,7% no final do ano. A dívida bruta está crescendo de maneira acelerada e precisa de solução. Se nada for feito em relação à Previdência, vamos caminhar para insolvência.

Eleição: Totalmente indefinida. Pessoas estão contra tudo e contra todos, e a chance de cairmos num extremo é enorme. As pessoas atribuem a falta de recursos à corrupção e não a um problema estrutural da economia. Populismo vai ganhar apoio muito forte. Qualquer candidato indicado pelo Lula vai sair com grande vantagem. Congresso tem maioria de centro direita, de forma que, se um candidato pró-reformas ganhar, vai ter apoio. O problema é que o Congresso está cada vez mais fragmentado e exige grande capacidade de negociação do Presidente.

A soma do déficit fiscal com o déficit em conta corrente deixa o Brasil em situação vulnerável.

Taxa de câmbio pode chegar a 4,90-5,30. O câmbio está de graça.

Mercado de juros, principalmente pré, também está de graça. Inclinação não está muito alta como todos estão pensando. Falar que tem prêmio na curva brasileira é piada. Em breve o BC vai ter que subir juros para conter a situação.”

sexta-feira, 8 de junho de 2018

O BRICS serve para alguma coisa? China impõe sobretaxas a carnes de frango do Brasil

O tal d BRIC, inventado pelos companheiros com seus camaradas russos, depois convertido em BRICS, por obra e graça dos companheiros chineses, que precisavam dessa legitimação africana – a despeito de a África do Sul não corresponder minimamente ao conceito original do BRIC –, é para ser levado a sério, ou se trata apenas de uma piada de mau gosto? Começa pelo fato de que ele não existe comercialmente, ou melhor, ele é totalmente anti-comércio, para dizer o mínimo. Ele existe para o quê, exatamente? Se é para ter um banco de financiamento, acho que não precisa, pois para que gastar milhões em divisas para compor seu capital, se podemos usar esse dinheiro para outras finalidades? Cabe registrar, enfaticamente, não existe falta de capital no mundo, e o que falta são bons projetos (mas para que pagar para ter projetos examinados por chineses e indianos?).Por outro lado, para que o acordo de reservas contingentes, para fazer a mesma coisa que o FMI e os bancos multilaterais existentes? Para que gastar mais esse dinheiro?
Acho tudo isso uma péssima ideia, e ainda vem com esse abuso dos chineses contra nossa carne de frango, para se acertar com os americanos. Acho que o Brasil deveria abrir um caso contra a China na OMC.
Se alguém me provar que o BRICS serve para alguma coisa eu agradeço...
Paulo Roberto de Almeida 

SOBRETAXAS 

China impõe tarifas sobre carne de frango do Brasil

Empresas chinesas que adquirem frangos brasileiros terão de pagar tarifas entre 18,8% e 38,4% sobre o valor das importações

China impõe tarifas sobre carne de frango do Brasil
De acordo com a Reuters, 29 empresas brasileiras foram listadas na decisão do Mofcom (Foto: EBC)
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A China vai aplicar tarifas à importação de frango do Brasil a partir do próximo sábado, 9. A decisão foi divulgada pelo Ministério de Comércio da China (Mofcom) nesta sexta-feira, 8.
Com isso, empresas chinesas que adquirem frangos brasileiros terão de pagar tarifas entre 18,8% e 38,4% sobre o valor das importações. Isso acontece porque, segundo a China, que iniciou uma investigação sobre o frango brasileiro em agosto de 2017, a carne estaria sendo comercializada abaixo do valor do mercado, prejudicando produtores chineses.
A medida é anunciada poucas semanas após o ministro de Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge, se encontrar com o ministro do Comércio da China, Zhong Shan. Apesar de não ser o principal mercado para o Brasil, as novas tarifas podem impor alguns obstáculos para exportadores brasileiros.
De acordo com a Reuters, 29 empresas brasileiras foram listadas na decisão do Mofcom. Os produtos da JBS e da Seara Comércio sofrerão uma sobretaxa de 18,8%; já os produtos da BRF terão uma sobretaxa de 25,3%; enquanto isso, a C.Vale Cooperativa Agroindustrial sofrerá a maior aplicação de tarifa, com um total de 38,4%.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), apenas em 2017, a China importou 391,4 mil toneladas de frangos brasileiros, o que equivale a 9,2% de toda a exportação brasileira do produto no mesmo período. O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, exportando, apenas em 2016, mais de 4 milhões de tonelada do produto.
Descontente com a decisão, a ABPA divulgou uma nota, afirmando que acredita que o fluxo comercial com a China deve ser mantido mesmo com as imposições das tarifas, “frente à necessidade e alta demanda do mercado chinês”. Além disso, a ABPA lembrou que essa é apenas uma decisão provisória, com a medida final sendo anunciada somente no próximo mês de agosto.
“A associação reafirma que não há qualquer nexo causal entre as exportações de carne de frango do Brasil e eventuais situações mercadológicas locais. Os esclarecimentos apresentados pelo setor produtivo e pelas agroindústrias exportadoras deixaram clara a ausência de qualquer possível dano aos produtores e ao mercado chinês”, descreveu a nota.
As novas taxas chinesas sobre a importação de frango brasileiro ocorrem em um momento de aproximação comercial entre a China e os Estados Unidos. Os americanos estariam interessados em reabrir o mercado avícola para a China. Em fevereiro, o Ministério do Comércio chinês removeu uma tarifa sobre frangos americanos, segundo o jornal Estado de S. Paulo.
“Estamos muito, muito preocupados com essas negociações, porque o que nós não queremos ver é os exportadores brasileiros em situação de desvantagem vis-à-vis outros concorrentes que podem também estar em condições de exportar para este país”, afirmou uma fonte da embaixada brasileira na China à Reuters.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

Valerio Mazzuoli: Sistemas regionais de protecao dos direitos humanos - IPRI, 12/06, 15hs

Inscrições Abertas:
Diálogos Internacionais do IPRI:
"Análise comparativa e crítica dos sistemas regionais de proteção dos direitos humanos"  
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), convidam para a palestra-debate “Análise comparativa e crítica dos sistemas regionais de proteção dos direitos humanos”, a ser proferida pelo Coordenador-adjunto do Programa de Mestrado em Direito da UFMT, Valerio de Oliveira Mazzuoli. O professor Mazzuoli é Pós-Doutor em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa, Doutor summa cum laude em Direito Internacional pela UFRGS e Mestre em Direito Internacional pela UNESP. A palestra será realizada no Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II do Itamaraty, no dia 12 de junho de 2018 às 15h00. Inscreva-se!

Jaime Cortesao: trajetorias de um triplo exílio - Francisco Roque de Oliveira

Transcrevo, sem comentários no momento, excelente relatório feito pelo professor Francisco Roque de Oliveira, sobre o colóquio recentemente realizado na Biblioteca Nacional de Portugal, em torno da obra no exílio do mais insigne representante da historiografia luso-brasileira do século XX.
Paulo Roberto de Almeida 

Jaime Cortesão: escritos e geografias do exílio

Nos dias 10 e 11 de Maio de 2018 deco­rreu na Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal, em Lis­boa, o Sim­pó­sio Inter­na­cio­nal Jaime Cor­te­são: escri­tos e geo­gra­fias do exí­lio.Tratou-se de uma ini­cia­tiva con­junta do CEG-Centro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos da Uni­ver­si­dade de Lis­boa e do CHAM-Centro de Huma­ni­da­des da Uni­ver­si­dade Nova de Lis­boa e da Uni­ver­si­dade dos Aço­res, em par­ce­ria com a Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal. Esta reunião foi rea­li­zada no âmbito das acti­vi­da­des do Pro­jecto de Inves­ti­gação FCT/CAPES «Sabe­res geo­grá­fi­cos e geo­gra­fia ins­ti­tu­cio­nal: influên­cia e relações recí­pro­cas entre Por­tu­gal e o Bra­sil no século XX», desen­vol­vido no Cen­tro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos da Uni­ver­si­dade de Lis­boa, e do grupo de inves­ti­gação Lei­tura e For­mas de Escrita do CHAM.
Este Sim­pó­sio propôs-se reunir os mais recen­tes resul­ta­dos da inves­ti­gação que vem sendo rea­li­zada em torno da obra do autor de Ale­xan­dre de Gus­mão e o Tra­tado de Madrid e da His­tó­ria do Bra­sil nos vel­hos mapas. Pretendeu-se tam­bém apro­fun­dar o con­he­ci­mento sobre os suces­si­vos con­tex­tos de exí­lio que Jaime Cor­te­são enfren­tou na Europa e no Bra­sil durante mais de 30 anos, com des­ta­que para aque­les que deco­rre­ram na Espanha repu­bli­cana e no Rio de Janeiro das déca­das de 1940 e 1950. Esta ini­cia­tiva foi ainda pen­sada como uma opor­tu­ni­dade para reflec­tir sobre o impor­tante legado de Cor­te­são enquanto edi­tor e tra­du­tor, assim como para ana­li­sar o estado actual dos pro­jec­tos de edição da sua obra, tanto em Por­tu­gal como no Brasil.
A escolha da Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal para local de rea­li­zação deste Sim­pó­sio repre­sen­tou um gesto sim­bó­lico. Jaime Cor­te­são (1884–1960) foi o mais des­ta­cado direc­tor da então cha­mada Biblio­teca Nacio­nal de Lis­boa durante a I Repú­blica Por­tu­guesa (1910–1926). A par­tir de 1919, quando foi nomeado para esse cargo, Cor­te­são teve opor­tu­ni­dade de exe­cu­tar aí um notá­vel tra­balho de reor­ga­ni­zação admi­nis­tra­tiva e téc­nica e – sobre­tudo – de dou­tri­nação cul­tu­ral e cívica, tendo sido saneado em 1927, na sequên­cia da ins­tau­ração da dita­dura mili­tar em Por­tu­gal. Médico por for­mação e escri­tor por vocação, este inte­lec­tual mul­ti­fa­ce­tado foi poeta e fic­cio­nista, dra­ma­turgo e escri­tor de via­gens, peda­gogo das Uni­ver­si­da­des Popu­la­res das pri­mei­ras déca­das do século XX e, final­mente, o historiador-geógrafo que reali­zou a sín­tese entre a his­to­rio­gra­fia dos Anna­les de Lucien Feb­vre e Marc Bloch e a geo­gra­fia humana de Cami­lle Vallaux e Jean Brun­hes apli­cada à his­tó­ria de Por­tu­gal e do seu império.
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Cor­te­são foi estu­dado como um pro­ta­go­nista, entre outros, de uma bril­hante diás­pora polí­tica e cien­tí­fica que tem inúme­ras afi­ni­da­des com a diás­pora repu­bli­cana espan­hola que se viu obri­gada a reinventar-se nas Amé­ri­cas na mesma época, fazendo fru­ti­fi­car aí as suas com­pe­tên­cias inte­lec­tuais e o seu cosmopolitismo.
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Jaime Cor­te­são foi tam­bém um homem de acção polí­tica muito empen­hado e, por isso mesmo, sem­pre muito temido pela dita­dura por­tu­guesa. Os atri­bu­la­dos anos da sua per­ma­nên­cia em Espanha e Fra­nça, entre 1927 e 1940, repre­sen­tam a expe­riên­cia de um dos prin­ci­pais pro­ta­go­nis­tas de exí­lio repu­bli­cano por­tu­guês acos­sado e dis­perso entre Madrid, Bar­ce­lona, o sul de Fra­nça e Paris. Banido para o Bra­sil por ordem de Sala­zar, em 1940, Cor­te­são rela­nçou no Rio de Janeiro o magis­té­rio e as pes­qui­sas que fize­ram dele a mais impor­tante figura da his­to­rio­gra­fia luso-brasileira do século XX. Regres­sado defi­ni­ti­va­mente a Por­tu­gal em 1957, foi eleito pre­si­dente da Socie­dade Por­tu­guesa de Escri­to­res e pro­posto como can­di­dato à Pre­si­dên­cia da Repú­blica pela opo­sição não comu­nista orga­ni­zada sob a égide do Direc­tó­rio Democrato-Social, indi­gi­tação essa que decli­nou. Preso uma última vez por moti­vos polí­ti­cos quando con­tava já 74 anos de idade, foi liber­tado na sequên­cia de uma intensa cam­panha inter­na­cio­nal de pro­testo enca­beçada pela imprensa bra­si­leira. Depois de reins­tau­rada da demo­cra­cia em Por­tu­gal, Cor­te­são seria rein­te­grado na função pública a título pós­tumo, restituindo-se-lhe então as hon­ras e dig­ni­da­des de que fora arbi­tra­ria­mente pri­vado, como se lê no Decreto-Lei 275, de 14 de Agosto de 1980, que deter­mi­nou esta repa­ração moral.
Atra­vés do estudo de algu­mas das prin­ci­pais peças da obra de Jaime Cor­te­são, os par­ti­ci­pan­tes neste Sim­pó­sio tive­ram opor­tu­ni­dade de inqui­rir aspec­tos asso­cia­dos à dura­doura marca dei­xada na ciên­cia e na uni­ver­si­dade por­tu­gue­sas por força dos exí­lios e de toda a série cons­tran­gi­men­tos mais dis­cre­tos, mas nem por isso menos efi­ca­zes, impos­tos pela dita­dura à acti­vi­dade cien­tí­fica e ao saber em geral. Nesse sen­tido, Cor­te­são foi tam­bém estu­dado como um pro­ta­go­nista, entre outros, de uma bril­hante diás­pora polí­tica e cien­tí­fica que tem inúme­ras afi­ni­da­des com a diás­pora repu­bli­cana espan­hola que se viu obri­gada a reinventar-se nas Amé­ri­cas na mesma época, fazendo fru­ti­fi­car aí as suas com­pe­tên­cias inte­lec­tuais e o seu cos­mo­po­li­tismo. O Sim­pó­sio estruturou-se em três mesas dis­tin­tas, pre­ce­di­das por uma ses­são de aber­tura e uma con­fe­rên­cia inau­gu­ral, con­forme a sequên­cia que pas­sa­mos a resenhar.
Usa­ram da pala­vra na ses­são de aber­tura os direc­to­res dos dois Cen­tros de inves­ti­gação orga­ni­za­do­res – Mário Vale pelo CEG e João Paulo Oli­veira e Costa pelo CHAM –, Car­los Kes­sel, chefe do Setor Cul­tu­ral da Embai­xada do Bra­sil em Lis­boa, Vera Lucia Ama­ral Fer­lini, res­pon­sá­vel pela Cáte­dra Jaime Cor­te­são da Uni­ver­si­dade de São Paulo e Ins­ti­tuto Camões, para além de Fran­cisco Roque de Oli­veira, pela comis­são orga­ni­za­dora do Sim­pó­sio. A lição inau­gu­ral esteve a cargo de Joa­quim Romero Magal­hães (Uni­ver­si­dade de Coim­bra), que dis­ser­tou sobre «O des­con­he­cido Bra­sil, de los comien­zos a 1799, de Jaime Cor­te­são (1956)». Trata-se de uma obra que apa­re­ceu inte­grada no volume 26 da His­to­ria de Amé­rica y de los Pue­blos Ame­ri­ca­nos diri­gida por Anto­nio Balles­te­ros y Berreta, publi­cada em Bar­ce­lona pela Edi­to­rial Sal­vat. Sabe-se que a mesma obra teve ori­gem num con­trato assi­nado ainda em 1933, quando Cor­te­são vivia exi­lado em Madrid e cuja con­cre­ti­zação em livro seria pro­te­lada pelas vicis­si­tu­des da Gue­rra Civil de Espanha e da II Gue­rra Mundial.
Jaime Cortesão durante o seu exílio no Brasil (c. 1950) Fotografia: Espólio Jaime Cortesão, Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa).
Jaime Cor­te­são durante o seu exí­lio no Bra­sil (c. 1950)
Foto­gra­fia: Espó­lio Jaime Cor­te­são, Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal (Lisboa).
A pri­meira mesa do Sim­pó­sio foi subor­di­nada ao tema «Jaime Cor­te­são, edi­tor e edições», tendo sido preen­chida por duas comu­ni­cações que arti­cu­la­ram a prin­ci­pal acti­vi­dade de Cor­te­são enquanto publi­cista durante a I Repú­blica Por­tu­guesa e o seu con­tri­buto como edi­tor e tra­du­tor ao longo das déca­das seguin­tes. Daniel Pires (Cen­tro de Estu­dos Boca­gea­nos e CLEPUL-Centro de Lite­ra­tu­ras e Cul­tu­ras Lusó­fo­nas e Euro­peias da Uni­ver­si­dade de Lis­boa) trouxe uma comu­ni­cação sobre «Jaime Cor­te­são, o Grupo da Biblio­teca e a Seara Nova», tendo apre­sen­tado uma carta des­con­he­cida na qual o escri­tor e jor­na­lista Raul Proença – chefe da Divi­são dos Ser­viços Téc­ni­cos da Biblio­teca Nacio­nal durante a Dire­cção de Cor­te­são – se insurge con­tra a cen­sura imposta na sequên­cia do golpe mili­tar do 28 de Maio de 1926, que ins­ti­tuiu a dita­dura em Por­tu­gal. Coube a Daniel Melo (CHAM) apre­sen­tar «Jaime Cor­te­são enquanto pro­mo­tor da edição e da lei­tura», suma­riando a fecunda acti­vi­dade que deco­rreu entre a cola­bo­ração de Cor­te­são com o movi­mento cul­tu­ral Renas­ce­nça Por­tu­guesa e o magis­té­rio da Uni­ver­si­dade Popu­lar do Porto, em 1914, e o seu tra­balho como edi­tor lite­rá­rio no Bra­sil, pas­sando pelo com­pro­misso que teve com a Asso­ciação Inter­na­cio­nal de Escri­to­res para a Defesa da Cul­tura, em par­ti­cu­lar por via da par­ti­ci­pação nos Con­gres­sos Inter­na­cio­nais de Escri­to­res pela Defesa da Cul­tura de 1935 (Paris) e 1937 (Valência-Madrid-Barcelona-Paris).
A segunda mesa foi dedi­cada à «Escrita da His­tó­ria», agru­pando qua­tro comu­ni­cações. Vera Fer­lini apre­sen­tou «Jaime Cor­te­são: novas dimen­sões para a His­tó­ria de São Paulo». Par­tindo das obras A Fun­dação de São Paulo – Capi­tal Geo­grá­fica do Bra­sil (1955), Ale­xan­dre de Gus­mão e o Tra­tado de Madrid (1952–1961) e Raposo Tava­res e a For­mação Terri­to­rial do Bra­sil (1958), Fer­lini salien­tou o modo como as mes­mas dia­lo­ga­ram com as pers­pec­ti­vas his­to­rio­grá­fi­cas do Ins­ti­tuto His­tó­rico e Geo­grá­fico de São Paulo (IHGSP) e as teses de alguns dos seus notá­veis his­to­ria­do­res bra­si­lei­ros de então, como Afonso d’Escragnolle Tau­nay e Sér­gio Buar­que de Holanda. Renato Amado Pei­xoto (Uni­ver­si­dade Fede­ral do Rio Grande do Norte) cen­trou a sua inter­ve­nção inti­tu­lada «Oxy­mo­ron: Cor­te­são, Varn­ha­gen, o Meri­diano de Tor­de­sil­has e a repre­sen­tação da For­mação do Bra­sil» numa pers­pec­tiva equi­va­lente a essa. Neste caso, tratou-se de con­fron­tar alguns dos con­teú­dos con­so­li­da­dos na his­to­rio­gra­fia bra­si­leira do século XIX, que se reper­cu­ti­ram dura­dou­ra­mente na cons­trução pro­gra­má­tica da iden­ti­dade nacio­nal atra­vés do ensino da Geo­gra­fia e da His­tó­ria, com algu­mas das teses que Cor­te­são gizou para expli­car o pro­cesso de for­mação terri­to­rial deste país e que for­ma­li­zou em dois pro­jec­tos edi­to­rais orga­ni­za­dos no âmbito do Minis­té­rio das Relações Exte­rio­res do Bra­sil: o Atlas His­tó­rico do Bra­sil (1959) e a His­tó­ria do Bra­sil nos vel­hos mapas (1957–1971).
«Os irmãos Jaime e Armando Cor­te­são. Dos exí­lios e das polé­mi­cas his­to­rio­grá­fi­cas na expan­são atlân­tica» cons­ti­tuiu o título escol­hido por Rui S. Andrade (Cen­tro de His­tó­ria da Uni­ver­si­dade de Lis­boa), numa comu­ni­cação cen­trada em algu­mas das mais rele­van­tes teo­rias que estes dois his­to­ria­do­res desen­vol­ve­ram ao longo de déca­das no qua­dro de um esfo­rço inte­lec­tual mais vasto, com raí­zes fun­das na his­to­rio­gra­fia do século XIX, e de que são exem­plo a cha­mada «polí­tica do sigilo» e o suposto des­co­bri­mento pré-colombino da Amé­rica pelos por­tu­gue­ses. Como ilus­trou Andrade, tais teo­rias esti­ve­ram na ori­gem de um intenso debate tra­vado entre os irmãos Cor­te­são e diver­sos aca­dé­mi­cos anglo-saxónicos, assim como com alguns dos seus pares por­tu­gue­ses e bra­si­lei­ros, cons­ti­tuindo um dos aspec­tos mais inter­es­san­tes, mas tam­bém mais con­tro­ver­sos do seu legado. A fechar a ses­são, José Manuel Gar­cia (Aca­de­mia Por­tu­guesa da His­tó­ria) apre­sen­tou «Os Des­co­bri­men­tos Por­tu­gue­ses de Jaime Cor­te­são: bala­nço de uma carreira his­to­rio­grá­fica». Como o título indi­cia, tratou-se de uma abor­da­gem àquela que cons­ti­tui a última grande empresa his­to­rio­grá­fica de Cor­te­são, vista aqui, simul­ta­nea­mente, como ponto de che­gada e sín­tese monu­men­tal de cerca de qua­tro déca­das de carreira no domí­nio da his­tó­ria da expan­são portuguesa.
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Entre as suces­si­vas ini­cia­ti­vas aglu­ti­na­do­ras da opo­sição por­tu­guesa no exí­lio dina­mi­za­das por Jaime Cor­te­são, destacou-se a União dos Anti­fas­cis­tas Por­tu­gue­ses Resi­den­tes em Espanha, criada em Madrid depois da vitó­ria elei­to­ral da Frente Popu­lar, em Feve­reiro de 1936, e a Dele­gação da Frente Popu­lar Por­tu­guesa ins­ti­tuída em Bar­ce­lona com apoio do governo repu­bli­cano e da Gene­ra­li­tat da Catalunha.
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A última mesa do Sim­pó­sio agru­pou três comu­ni­cações à volta do tema gené­rico «Geo­gra­fias do exí­lio». Cris­tina Clí­maco (Uni­ver­sité Paris 8) leu «O exí­lio euro­peu de Jaime Cor­te­são e a luta anti­fas­cista (1927–1940)», des­cre­vendo e con­tex­tua­li­zando os perío­dos de per­ma­nên­cia de Cor­te­são em Espanha e Fra­nça na sequên­cia da sua par­ti­ci­pação na frus­trada revolta de Feve­reiro de 1927 con­tra a dita­dura mili­tar por­tu­guesa e o papel que lhe coube como dina­mi­za­dor de suces­si­vas ini­cia­ti­vas aglu­ti­na­do­ras da opo­sição no exí­lio. Entre estas, Clí­maco des­ta­cou a União dos Anti­fas­cis­tas Por­tu­gue­ses Resi­den­tes em Espanha, criada em Madrid depois da vitó­ria elei­to­ral da Frente Popu­lar, em Feve­reiro de 1936, e a Dele­gação da Frente Popu­lar Por­tu­guesa ins­ti­tuída em Bar­ce­lona com apoio do governo repu­bli­cano e da Gene­ra­li­tat da Cata­lunha. Fran­cisco Roque de Oli­veira (CEG-Universidade de Lis­boa), Roger Lee de Jesus (Uni­ver­si­dade de Coim­bra) e Rui S. Andrade apre­sen­ta­ram «Abraça-te o teu irmão muito amigo: a corres­pon­dên­cia entre Jaime e Armando Cor­te­são», tendo sin­te­ti­zado o con­teúdo do extenso con­junto de car­tas dis­per­sas pelos arqui­vos de Lis­boa, Coim­bra e Rio de Janeiro atra­vés das quais se podem seguir as vicis­si­tu­des do exí­lio durante muito tempo par­til­hado pelos irmãos Cor­te­são, os con­tex­tos que os enqua­dra­ram, assim como o desen­vol­vi­mento das res­pec­ti­vas obras cien­tí­fi­cas, desig­na­da­mente no domí­nio da his­tó­ria da car­to­gra­fia, cujo inter­esse par­til­ha­ram. Por último, Aqui­lino Machado (CEG-Universidade de Lis­boa) expôs «Do Vera Cruz ao Bra­sil: entre a via­gem de Aqui­lino Ribeiro e as geo­gra­fias do exí­lio de Jaime Cor­te­são», comu­ni­cação cen­trada nos regis­tos autó­gra­fos e na docu­men­tação exis­tente sobre a des­lo­cação de Aqui­lino Ribeiro ao Bra­sil, em 1952, e o círculo de socia­bi­li­da­des do exí­lio polí­tico por­tu­guês aí radi­cado com o qual este escri­tor man­teve impor­tan­tes contactos.
Em ses­são extra­or­di­ná­ria que deco­rreu no início do segundo dia de tra­bal­hos, Roger Lee de Jesus intro­du­ziu os dois úni­cos regis­tos sono­ros de Jaime Cor­te­são edi­ta­dos em disco no final da década de 1950. De seguida, o mesmo Roger Lee de Jesus e Fran­cisco Roque de Oli­veira apre­sen­ta­ram o Dia­po­rama que ela­bo­ra­ram a par­tir da longa entre­vista con­ce­dida por Cor­te­são ao jor­na­lista Igre­jas Caeiro em 1958 e então emi­tida pelo Rádio Clube Por­tu­guês. Na mesma oca­sião, foi exi­bido na sala Mul­ti­mé­dia da Biblio­teca Nacio­nal o epi­só­dio do docu­men­tá­rio À Porta da His­tó­ria dedi­cado a Jaime Cor­te­são. Rea­li­zado por Jorge Pai­xão da Costa para a Rádio e Tele­vi­são de Por­tu­gal (RTP) em 2015, este epi­só­dio foi gen­til­mente cedido para exi­bição não comer­cial durante o Sim­pó­sio pela Ukbar Fil­mes. Para­le­la­mente, os Ser­viços da Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal, coor­de­na­dos por Manuela Rêgo, orga­ni­za­ram uma pequena mos­tra biblio­grá­fica que reuniu algu­mas das mais impor­tan­tes obras de Jaime Cor­te­são nos domí­nios da his­to­rio­gra­fia – sobre­tudo sobre o Bra­sil –, da cró­nica de via­gens, do registo memo­ria­lís­tico de gue­rra e da poesia.

CENTRO DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA. Sabe­res geo­grá­fi­cos e geo­gra­fia ins­ti­tu­cio­nal: influên­cia e relações recí­pro­cas entre Por­tu­gal e o Bra­sil no século XX, Pro­jecto Con­vé­nio FCT-CAPES, 2016–2018, Proc. 44.1.00 CAPES/8513/14–7. <http://www.ceg.ulisboa.pt/saberesgeograficos/>

OLIVEIRA, Fran­cisco Roque de. A «Ilha Bra­sil» de Jaime Cor­te­são: ideias geo­grá­fi­cas e expres­são car­to­grá­fica de um con­ceito geo­po­lí­tico. Biblio 3W. Revista Biblio­grá­fica de Geo­gra­fía y Cien­cias Socia­les. [En línea]. Bar­ce­lona: Uni­ver­si­dad de Bar­ce­lona, 25 febrero 2017, Vol. XXII, nº 1.191. <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1191.pdf>

Fran­cisco Roque de Oli­veira é inves­ti­ga­dor do Cen­tro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos e pro­fes­sor no Ins­ti­tuto de Geo­gra­fia e Orde­na­mento do Terri­tó­rio da Uni­ver­si­dade de Lisboa.

Ficha biblio­grá­fica:
OLIVEIRA, Fran­cisco Roque de. Jaime Cor­te­são: escri­tos e geo­gra­fias do exí­lio. Geo­cri­tiQ. 30 de mayo de 2018, nº 391. [ISSN: 2385–5096]. <http://www.geocritiq.com/2018/05/jaime-cortesao-escritos-e-geografias-do-exilio>

Nuvens negras se adensam no panorama da economia brasileira

1) Brasil pode ser a bola da vez dos emergentes a cair, diz guru dos mercados”* - Mohamed  El-Erian, economista e guru dos mercados internacionais, alertou nesta quarta-feira (6) para o fato de que o Brasil pode ser o próximo emergente a entrar em crise financeira. "Depois da Argentina e da Turquia, o Brasil é o próximo", questionou El-Erian em um tuíte, que veio acompanhado de um gráfico que mostra a disparada do dólar em relação ao real. "A recente queda moeda coloca o Banco Central em uma posição complicada, e há pouca margem para erro, e suas ações estão sendo monitoradas de perto pelos mercados doméstico e externo." (FSP)

2) O peso da incerteza sobre a atividade produtiva é ponto pacífico no debate econômico e, no caso do Brasil, essa incapacidade de ver o futuro com alguma clareza é regra desde pelo menos as eleições presidenciais de 2014 e uma nova onda se avizinha. Apesar disso, pouco se sabe sobre os reais efeitos da incerteza na economia brasileira. Partindo desse ponto, pesquisadores elaboraram modelos para tentar mensurar o impacto desse fenômeno e concluíram que os níveis de incerteza vigentes desde as eleições presidenciais de 2014 representam importante fator por trás da recessão, diminuindo fortemente o investimento, a produção industrial e, consequentemente, o Produto Interno Bruto (PIB). 
"Estima-se que, caso não houvesse a expansão de incerteza doméstica observada a partir do segundo semestre de 2014, a produção industrial em 2015 teria sido, em média, entre 0,9% e 3,9% maior, dependendo da variável de incerteza utilizada. No caso do IBC-Br, esse teria sido entre 0,4% e 1,3% maior. Como a incerteza afeta mais intensamente o investimento e como bens de investimento são produzidos pelo setor industrial, é natural que os efeitos da incerteza na indústria sejam maiores do que no PIB", diz o estudo "Os Efeitos da Incerteza sobre a Atividade Econômica no Brasil", de Ricardo de Menezes Barboza, economista do Grupo de Conjuntura Econômica da UFRJ, e Eduardo Zilberman, do Departamento de Economia na PUC-Rio. O trabalhou foi publicado recentemente na Revista Brasileira de Economia, da FGV. (Valor Econômico)

3) Saída para regra de ouro é 'grave precedente', dizem técnicos”* - Técnicos das consultorias de orçamento do Congresso Nacional criticaram a proposta do governo para cumprir a "regra de ouro" das contas públicas em 2019. A medida "abriria grave precedente", provocando insegurança jurídica e enfraquecendo o arcabouço legal das finanças públicas. Mesmo assim, eles reconhecem não haver uma alternativa fácil para atender a norma constitucional.  A análise está em nota técnica elaborada conjuntamente pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle (Conorf, do Senado Federal) e pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira (Conof, da Câmara dos Deputados). Os técnicos chegam a propor ações para o cumprimento da regra, mas admitem que pode acabar sendo necessário alterar a Constituição. A regra de ouro veda operações de crédito (endividamento público) em montante superior ao total das despesas de capital (como investimentos). A exceção é quando o valor for autorizado por meio de créditos adicionais, aprovados pelo Congresso.
O governo buscou uma saída ao inserir, no Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), um artigo prevendo créditos adicionais no Orçamento. Mas os técnicos contestam. Para eles, as peças orçamentárias devem vir com a regra de ouro equacionada (operações de crédito iguais ou abaixo das despesas de capital) e os créditos adicionais só podem ser requeridos durante a execução do Orçamento - ou seja, no ano que vem.
No entanto, o governo viu dificuldades para enviar ao Congresso um Orçamento de 2019 com a regra de ouro equacionada e, por isso, propôs uma solução já na PLDO. Para os técnicos, o governo busca um aval do Congresso para que o Orçamento desobedeça a regra de ouro. Segundo eles, o artigo 21 da PLDO - que prevê os créditos especiais no Orçamento – pode ser contestado no Supremo Tribunal Federal.  (Valor Econômico)

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...