quinta-feira, 27 de agosto de 2009

1311) IPEA: surrealismo econômico em alta (again, and helàs...)

A fantástica fábrica de chocolate econômico do presidente do IPEA

Os "Comunicados da Presidência" do IPEA constituem, supostamente, uma nova forma de comunicação com o distinto público por parte da direção do IPEA, esse instituto que um dia já foi de pesquisa econômica aplicada e que, aparentemente, converteu-se agora num repositório de sandices econômicas alimentado por seu presidente e pela equipe de transplantados de de algumas faculdades Tabajara de economia que o seguiu nesse alegre aventura brasiliense.
Não seria grave, se tudo não passasse de brincadeiras inconsequentes, de pequenas loucuras econômicas de um pessoal bizarro que parece se divertir ofendendo a inteligência dos leitores ou simples curiosos como eu, além de, suponho, os próprios técnicos do IPEA, o pessoal mais sério de gestões anteriores que deve olhar essa patota unicampista como se fossem marcianos se preparando para jogar futebol americano...

Pois não é que o presidente do IPEA perpetrou mais um de seus petardos de irracionalidade econômica, desta vez focando a suposta produtividade elevada do setor público, capaz de superar com uma cabeça de vantagem a do setor privado.
Fiquei curioso em saber como tinha sido feito esse milagre e fui ler com mais atenção.
Confesso que não entendi, e por isso consultei outros economistas interessados no assunto.
O resultado de minha pesquisa está em outro blog meu, sob este título e link:

Sexta-feira, Agosto 21, 2009
492) O suposto aumento da produtividade do setor publico: anúncio do IPEA e avaliação de economistas...

Nesse post, eu indico que me espantei com, o seguinte trecho:
"Alguns fatores que justificam o crescimento da produtividade no setor público, segundo Pochmann, são o aproveitamento de novas tecnologias da informação, a participação social no acompanhamento de políticas públicas e a modernização do setor por meio de concursos e cursos de qualificação".

Confesso que sou muito pouco preparado em economia, daí o meu espanto em não conseguir entender como "a participação social no acompanhamento de políticas públicas" poderia representar um elemento quantificável para justificar esse alegado aumento na produtividade do setor público (cuja metodologia permanece, aliás, deconhecida de todos).
(remeto ao post acima para o resto da discussão e para os comentários de alguns economistas que consultei).

Agora, ao tomar conhecimento de outras reações, resolvi re-postar (com perdão pelo neologismo) novos materiais, pois acredito que a matéria justifique que se exponha com toda publicidade o besteirol produzido pelo presidente do IPEA.
Se ele produzisse apenas a versão econômica do que os americanos chamam de bullshit, seria sem maiores consequências, mas o fato é que o economista trapalhão pretende revolucionar a ciência econômica e reformular todo o setor público brasileiro, colocando seus meninos amestrados para produzir uma nova modalidade de economia surrealista, que poderia fazer sorrir, se não fosse produzir comichões em que lê esse tipo de bobagem.

Como eu tenho certa alergia a burrice, de fato fico eriçado com o festival de estupidezes que tem emergido -- o mais correto seria submergido -- do IPEA desde algum tempo.
Permito-me, assim, apenas transcrever uma matéria da Míriam Leitão, que entrevistou o Samuel Pessôa (IBRE-FGV) e desvendou porque Roraima aparece como sendo o estado que mais aumentou a produtividade do Setor Público entre 1995 e 2006.

Do Site da Míriam Leitão:
Pela regra internacional da ONU e que o IBGE segue corretamente nas contas nacionais, a produtividade está relacionada a certas despesas, como salário. Quando o governo aumenta muito o salário dos funcionários, ele aumenta a produtividade.

Quer ler mais e ver o tamanho da trapalhada? Então clique AQUI

1310) Submarinos franceses, submarinos alemaes: uma pequena diferenca de 2 bilhoes de euros

Talvez o ministro da Defesa tenha de se explicar melhor ao Congresso, e à opinião pública...

Submarinos: carta contraria Jobim
Diferentemente do que disse ministro, alemães aceitam transferir tecnologia
José Meirelles Passos
O Globo, 26.08.2009

Ao justificar a compra de quatro submarinos Skorpène, da DCNS, estatal da França, e um casco maior - ao qual seria instalado um propulsor nuclear, que ainda está em desenvolvimento no Brasil - o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem dito que não fechou acordo com uma empresa concorrente, da Alemanha, porque não haveria transferência de tecnologia. A alemã HDW construiu no Arsenal da Marinha, no Rio de Janeiro, os cinco submarinos convencionais que o Brasil vem usando. Segundo Jobim, "depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha tem limitações, por tratados internacionais, de transferir a tecnologia que precisamos".

No entanto, em proposta enviada ao Comando da Marinha e a Jobim - e que tem preço mais baixo do que a feita pela França - a firma alemã deixa claro que não há restrição alguma. O documento, protocolado no último dia 6, obtido pelo GLOBO, diz: "Antes de tudo, temos o prazer de informá-lo que o governo da República Federal da Alemanha aprovou o pedido feito pela HDW para transferir à Marinha brasileira a tecnologia do projeto do submarino, para o desenvolvimento de seu próprio grande submarino, que poderá receber a propulsão nuclear, atualmente sendo desenvolvido pela Marinha brasileira".

O documento deixa mais claro que a opção francesa preferida pelo governo brasileiro - Jobim afirma que o contrato será assinado dia 7 de setembro -- é bem mais cara do que a outra oferta. Segundo o Comando da Marinha, só o casco francês custaria cerca de dois bilhões de euros. E a transferência de tecnologia de projeto da embarcação sairia por 900 milhões de euros adicionais. Um total de 2,9 bilhões de euros por um modelo criado dez anos atrás e que só poderia entrar em atividade quando o Brasil conseguir produzir e homologar um propulsor nuclear. A estimativa de técnicos do setor é a de que isso levaria de 15 a 20 anos.

Curiosamente, o mais novo submarino nuclear francês, o Barracuda - tido como o mais avançado do mundo - está orçado em 1,9 bilhão de euros. Ou seja, 1 bilhão de euros a menos do que o casco de submarino que a França pretende vender ao Brasil.

Addendum em 27.08.09:
Recebido de alguem que entende do assunto:

O fato é que a Marinha alema nao pode transferir tecnologia de construcao de submarinos nucleares porque simplesmente nao os tem. É triste que o articulista nao se de ao trabalho de ver este fato obvio.
O projeto do submarino alemao já foi passado ao Brasil há mais de 20 anos, tanto que construimos diversos deles no Brasil (Classe Tupi).
A alemanha é especialista em desenvolver submarinos de propulsao diesel-eletrica para exportacao. Nuclear o "buraco é BEM mais embaixo" e eles nao tem tecnologia para isso. Ponto.
Nao quer dizer que nao possam fazer um, caso decidissem. Mas nao é esse o caso.
O fato é que a reportagem, como toda sobre o assunto defesa, é fraca, desinformada e carente do conhecimento de aspectos tecnicos minimos. Talvez fruto de uma pesquisa apressada e descuidada. Estas comparacoes que o reporter coloca sao equivocadas pq comparam "laranja com banana".
No entanto, acho boa a discussao do assunto por parte da sociedade. O reporter, contudo, perdeu uma excelente oportunidade de escrever uma noticia que informasse corretamente, pois nem isso faz.
Talvez fosse o caso de perguntar:
-porque a Alemanha depois da decisao brasileira decidiu que poderia vender uma tecnologia que nao tem?
-quantas bases nucleares de submarinos a alemanha tem, para crer que pode concorrer com a oferta francesa?
-qual o projeto de reator nuclear naval a Alemanha pretende vender se nunca os teve? (Os reatores a bordo de submarinos sao COMPLETAMENTE diferentes dos de uso civil)

Esta briga é de cachorro grande e com certeza nao tem nada a ver com a tecnologia do submarino, mas com o "arrasto" que a construcao de um submarino causa, como caldeiraria pesada, metalurgia, mecanica de precisao, combustivel nuclear, construcao civil de bases, optronica etc.
Sobre o caso do Barracuda é tipico de uma assessoria de imprensa com outros interesses...
Seria como comparar um produto que foi completamente desenvolvido no pais, adaptado ao mercado e a demanda futura e querer vende-lo a outro país. É claro que haverá um "premium" nisso. É o que pagamos por nao querer desenvolver tecnologia propria...
A compra da alheia é sempre mais cara.
Cabe notar que a controversia entre comprar fora ou fazer no Brasil vem dos tempos do Imperio e, em geral, o Brasil compra fora para fazer a alegria dos estrangeiros, de sua industria e dos atravessadores. Isso é muito notado em equipamento militar, mas nao se restringe somente a eles. É o caso, por exemplo, de aparelhos de diagnosticos etc.
Somente lamento que o Brasil, mais uma vez, tenha preferido ir "comprar lá fora" em vez de desenvolver aqui. O fato é que NENHUM país até hoje transferiu, nem vendendo, a tecnologia nuclear de nada. O desenvolvimento é sempre autoctone. Portante, me parece, como observador externo, que a oferta da Franca é o primeiro caso da Historia Nuclear. Vamos pagar pra ver, literalmente.
O projeto nuclear brasileiro, sem entrar no merito, é uma mostra da teimosia brasileira ante ao bloqueio externo para o desenvolvimento de tecnologias. Finalmente o Collor e FHC conseguiram leva-lo ao estado vegetativo. Uma pena pois se aprendeu muito, especialmente em metalurgia, e, nao fosse a Marinha trasnferi-lo para as mãos civis como INB e Nuclep, ele seria enterrado de vez.
Eu nao tenho acesso a nenhuma informacao privilegiada, mas essa serie de reportagens é boa devido ao debate sobre a questao, mas que tem um fundo essencialmente mercantilista, ah isso tem.
Isso me lembra uma definicao de luta politica: "briga de oponente armados de faca em uma sala escura. Ganha quem fura mais e sangra menos".

PRA: Agradeco a meu interlocutor as informacoes.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

1309) Problemas de fronteira: solucoes confusas...

Primeiro a matéria da Folha de São Paulo:

Bolívia abre mão de prazo para remoção de brasileiros da fronteira

Morales aceita não exigir saída até dezembro, e Lula se compromete a ajudar os que queiram regressar
FABIANO MAISONNAVE - ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Folha de São Paulo, 25.08.2009

Atendendo a um pedido do colega Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente Evo Morales concordou em não exigir mais a saída até dezembro dos brasileiros que vivem ilegalmente na zona de fronteira, conforme estava inicialmente previsto em acordo bilateral.
Segundo a Folha apurou, Lula, por sua vez, também se comprometeu com Morales em ajudar os brasileiros que queiram regressar ao Brasil. Os dois se reuniram no sábado, em Villa Tunari (Bolívia).

Na prática, a conversa deve gerar a revisão do projeto original, que incentiva os brasileiros ocupando terras na faixa de 50 km da fronteira boliviana (o que a lei local proíbe) a se mudarem para outras áreas mais no interior da Bolívia.

No departamento amazônico do Pando (norte da Bolívia), onde está a maior parte dos brasileiros em zona de fronteira, o projeto provocou forte descontentamento. Os brasileiros têm resistido a se mudar para dentro do inóspito interior boliviano, e muitos preferem cruzar a fronteira de volta.

A tensão na área aumentou ainda mais com a transferência, no início do mês, de centenas de colonos bolivianos trazidos de outras área do país pelo governo Morales.

Entre os brasileiros, há o temor de perder benfeitorias, como casas e plantações, para os recém-chegados.

A maior parte dos brasileiros é formada por famílias pobres do Acre que vivem da extração da castanha e da borracha, além de praticar agricultura em pequena escala.

Muitos estão há décadas na Bolívia, mas a grande maioria nunca regularizou a sua situação e não fala espanhol, devido à grande presença de brasileiros e ao isolamento da região com o restante da Bolívia.

As estimativas das famílias brasileiras na região variam de 400 a mil famílias. No próximo mês, a OIM (Organização Internacional para as Migrações) planeja um cadastro definitivo de quem deve sair da região.

Fruto do acordo entre Brasília e La Paz, a OIM, organização internacional cuja sede regional fica em Buenos Aires, recebeu R$ 20 milhões do governo Lula para realizar o trabalho de reassentamento dos brasileiros, mas quase nada foi realizado até agora.

Em entrevista coletiva ontem, Morales demonstrou estar satisfeito com a visita de Lula, cujo ponto alto foi a concessão de uma linha de crédito de US$ 332 milhões do BNDES para a construção de uma rodovia. "[O Brasil] é um dos países que lideram a região por sua participação na integração da América do Sul e da América Latina", afirmou o boliviano.

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Agora meus comentários:


O mundo muda, as pessoas também.
No século 19, o Brasil estimulava a imigracao, a colonizacao de terras e o ingresso de agricultores, sobretudo NAS REGIOES DE FRONTEIRAS, como forma de ocupa-las e integra-las à economia nacional.
No seculo 20, as preocupacoes de seguranca nacional, supostamente ameacada por agricultores pobres que sequer tem nocao de jurisicao nacional e de questoes de soberania, determinou que os governos desocupassem as faixas de fronteiras, que deveriam ficar reservadas à posse do governo nacional, por serem supostamente indispensaveis ao exercicio da soberania e da defesa nacional.
Os camponeses pobres, obviamente, ignoram esses pequenos detalhes da grande politica, e continuam a se deslocar, premidos por necessidades puramente materiais.
Governos tem o direito de considerar que sua jurisdicao deva ser preservada.
Dai à paranoia de julgar que esses camponeses pobres constituam uma ameaca à soberania do país é um grande passo, que apenas idiotas resolvem tomar.
O que governos racionais deveriam fazer seria tentar regularizar, registrar, legalizar atividades economicas legitimas, se necessario em cooperacao com os vizinhos de fronteira, que jamais mandaram camponeses pobres em estrategia conspiratoriamente imperialista, como acreditam alguns.
O que governos paranoicos fazem é expulsar, nao raro manu militari, camponeses pobres que adentraram em seu territorio soberano.
Nao creio que seja a melhor forma de tratar da questao.
O que os governos da Bolivia e do Brasil deveriam fazer seria tentar regularizar a situacao desses camponeses pobres, permitindo-lhes exercer atividades economicas legitimas, que contribuem para desenvolver a regiao de fronteira e a torna-la mais segura.
O recurso à expulsão nao resolve nenhum desses problemas...
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Paulo Roberto de Almeida

1308) Still, and over again: colaboracoes a livros

Minhas três últimas colaborações a livros coletivos, publicados recentemente.
Curiosamente, disponho dos dados editoriais, mas ainda não recebi, e portanto não vi fisicamente, nenhum desses três livros:

898. “O império em ascensão (por um de seus espectadores): Introdução ao livro de Manoel de Oliveira Lima: Nos Estados Unidos, Impressões políticas e sociais (1899)”, Brasília, 17 de abril de 2008, 20 p. Comentários e apresentação à reedição deste livro pelo Senado Federal. In: Manoel de Oliveira Lima, Nos Estados Unidos, Impressões políticas e sociais (Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2009; 424 p.; p. 9-39). Relação de Originais n. 1876.

896. “Uma paz não-kantiana?: Sobre a paz e a guerra na era contemporânea”, In: Eduardo Svartman, Maria Celina Soares d’Araujo e Samuel Alves Soares (orgs.), Defesa, Segurança Nacional e Forças Armadas: II Encontro da Abed (Campinas: Mercado de Letras, 2009, 376 p.; ISBN: 978-85-7591-112-9). Relação de Trabalhos n. 1987


895. “Bases conceituais de uma política externa nacional: uma contribuição para a definição de uma agenda diplomática condizente com o princípio do interesse nacional”, In: Estevão C. de Rezende Martins e Miriam G. Saraiva (orgs.) Brasil - União Europeia - América do Sul : Anos 2010-2020 (Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, 2009, p. 267; ISBN: 978-85-7504-138-3). Relação de Originais n. 1929.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

1307) Continuando com a autopromocao (indevida, aparentemente)

Até três meses atrás, a revista Espaço Acadêmico possuía site próprio e ali publicava (às custas dos colunistas editores) todos os seus artigos. Aliás, ainda possui, pois o estoque acumulado até o número 97 continua disponível neste link.
A partir de então, a revista passou a ser editada num programa de edição eletrônica universitária e localizada num servidor universitário, neste link.
Nela publiquei extensiva e intensivamente, mas de forma algo dissidente com o espírito da maioria dos colaboradores.
Os mais atilados logo deduzirão porque...

Estes são alguns dos muitos artigos que publiquei nos últimos tempos, aliás, todos eles disponíveis neste link.

Falácias acadêmicas, 11: o mito da transição do capitalismo ao socialismo

Falácias acadêmicas, 10: mitos sobre o sistema monetário internacional

Falácias acadêmicas, 9: o mito do socialismo do século 21

Falácias acadêmicas, 8: os mitos da utopia marxista

Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964

Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana

Falácias acadêmicas, 5: o mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres

Falácias acadêmicas, 4: o mito do Estado corretor dos desequilíbrios de Mercado

Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico

Falácias acadêmicas, 2: o mito do Consenso de Washington

Falácias acadêmicas, 1: o mito do neoliberalismo

Bem, deve ter mais uns 90 artigos meus no site da Espaço Acadêmico...

1306) Nao querendo fazer propaganda pessoal (mas fazendo...)

Muito estudantes, alguns colegas, outros curiosos, enfim, um bocado de gente já me pediu para que eu enviasse meus trabalhos concluídos e publicados para suas caixas postais, pois eles estavam (supostamente) interessados em ler um pouco de minha produção.
A todos eu respondo sinceramente que não faço isso e que não pretendo fazer. Sei que tem alguns escritores compulsivos -- ao meu estilo, talvez -- que mantêm listas fixas e sempre crescentes de recebedores de seus artigos publicados, mas este não é o meu estilo, nem nunca vai ser. Não sou de ficar abarrotando a caixa postal dos amigos e conhecidos com quaisquer trabalhos que eu possa produzir.
Publico aqui e ali e os interessados acabam tropeçando eventualmente com alguns dos meus textos, nos sites originais de produção ou por republicação não autorizada (e eu nem fico sabendo para cobrar meus direitos morais...).
Em todo caso, tenho colaborado mais regularmente com alguns veículos, entre eles a revista digital Espaço Acadêmico (agora chegando em seu número 100) e o boletim gaúcho Via Política (onde também já publiquei mais de cem textos diversos).

Para não dizer que escondo minha produção, reproduzo aqui os títulos dos meus mais recentes artigos publicados na Via Política, que podem ser lidos cronologicamente dispostos, em ordem de atualidade, no seguinte link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_indice.php

Via Política - Seção Diplomatizzando

Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo
17.08.2009
Frases de um perfeito idiota latino-americano (dos grandes)
10.08.2009
Os dez mandamentos da política – em certos governos (Com alguns agradecimentos a Moisés e seus escribas)
02.08.2009
Crônica de um desastre anunciado: o socialismo do século 21 na Venezuela
26.07.2009
A cooperação euro-brasileira no âmbito internacional - Uma proposta maximalista para resultados minimalistas
19.07.2009
Sobre políticas de governo e políticas de Estado: distinções necessárias
12.07.2009
Sobre a morte do G8 e a ascensão dos Brics: comentários metodológicos
05.07.2009
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência: mais do mesmo?
05.07.2009
Diplomacia brasileira: consensos e dissensos
24.05.2009
A crise e a morte anunciada do capitalismo (provavelmente exageradas, como diria Mark Twain)
11.05.2009
Os mitos em torno do movimento militar de 1964 (4): Balanço econômico do governo Goulart
03.05.2009
Os mitos em torno do movimento militar de 1964 (3): Análise das alegadas ‘reformas de base’
26.04.2009
Os mitos em torno do movimento militar de 1964 (2): Mitos do governo Goulart
19.04.2009
Os mitos em torno do movimento militar de 1964 (1): Uma historiografia enviesada
12.04.2009
Estratégia Nacional de Defesa: comentários dissidentes
23.03.2009
A questão racial nas relações Brasil-EUA
24.02.2009
Fórum Surreal Mundial, 2 Pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores
19.01.2009
Fórum Surreal Mundial, 1 Reciclando velhas idéias
12.01.2009
Previsões imprevisíveis em tempos de crise global: minha astrologia econômica para 2009 (e mais além)
22.12.2008
O problema da universidade no Brasil: do público ao privado?
15.12.2008
As crises do capitalismo e a crise do marxismo: qual a mais grave?
23.11.2008
Sobre a proposta de uma nova autoridade financeira mundial
16.11.2008
Bric: anatomia de um conceito - X
10.11.2008
Bric: anatomia de um conceito – IX
02.11.2008
Bric: anatomia de um conceito – VIII
26.10.2008
Bric: anatomia de um conceito - VII
20.10.2008
Bric: anatomia de um conceito - VI
12.10.2008
Bric: anatomia de um conceito - V
06.10.2008
Bric: anatomia de um conceito – IV
29.09.2008
Bric: anatomia de um conceito - III
15.09.2008

Próximo
(e aí deve continuar por mais duas ou três páginas...)
Boa digestão, aos interessados...

1305) Um cubano desesperançado fala de mudancas

Vivendo em Cuba, este cubano só pode falar de um novo socialismo, e parece muito cauteloso com a atual política pós-Fidel. Mas, uma simples leitura desta matéria revela a enormidade dos problemas que enfrentam os cubanos normais.
Não se trata de propaganda pró-regime, nem de um ataque de direita. Apenas um simples retrato da situação.

Cuba: Um novo socialismo?
Por Leonardo Padura, de Havana, Cuba
Via Política, 24.08.2009

Nós, cubanos, estamos acostumados a viver entre crises, limitações e carências, planos de emergência e períodos mais ou menos “especiais”. Talvez por isso, durante meses, muitos viram com distanciamento, como algo alheio, a crise econômica e financeira que há dois anos percorre o mundo. Inclusive os políticos e a imprensa contribuíram para dar essa sensação de distância: em Cuba não haveria cortes de empregos, ninguém perderia sua casa (porque legalmente, entre outras razões, ninguém pode comprar uma casa) e os programas de benefício social não seriam cancelados nem sofreriam reduções.

Em 2008, entretanto, três furacões ferozes capazes de devastar meia ilha (apenas na área da habitação foram afetados mais de meio milhão de construções), e uma longa e exasperante ineficiência econômica sistêmica que obriga, por exemplo, à importação de 80% dos alimentos consumidos (em um país rico para a agricultura, e onde mais da metade da terra se mantém improdutiva). Além disso, fatores como flutuação dos preços do petróleo, dificuldade de acesso a créditos internacionais, travas comerciais impostas pelo embargo norte-americano e as ondas da depressão, que também chegaram ao litoral cubano, levaram a economia a um estado próximo da paralisia e os cofres do Estado a aceitar que o país caminha para a bancarrota.

A cautela com que, ao longo de seus três anos de gestão, o presidente Raúl Castro introduziu mudanças na estrutura econômica e financeira da nação parece ter chegado ao fim: as circunstâncias agora obrigam os dirigentes cubanos a olhar a economia com maior realismo e, em consequência, a remodelar certas estruturas herdadas do velho modelo socialista ao estilo soviético que, apesar do desaparecimento da União Soviética, se mantiveram funcionando na ilha.

Nas últimas intervenções públicas do atual governante cubano, mesmo quando não especifica quais serão as reduções dos benefícios sociais ou os movimentos da estrutura econômica – além do já iniciado processo de entrega de terras “ociosas” a quem quiser cultivá-las –, e apesar de insistir na permanência do sistema econômico, político e social do socialismo adotado no país há quase meio século, nota-se que já não será o mesmo socialismo e, portanto, não estarão vigentes as mesmas regras de jogo.

Porém, qual é o novo socialismo que se praticará em Cuba? Por acaso um ao estilo chinês? O que é previsível é que, se no plano político não acontecerão grandes modificações (não se prevê mudanças no sistema de partido único) e na área econômica o quase monopólio estatal continuará imperando, no campo social haverá transformações que – alertou o governante – implicam cortes em subsídios e nos gastos “insustentáveis”.

Até agora, anuncia-se que em um setor tão sensível quanto a saúde não haverá alterações, embora o certo é que o sistema sanitário cubano sofreu uma profunda deterioração nos últimos anos, por falta de pessoal (milhares de médicos servem fora do país), pelo alarmante estado de muitos centros de saúde e pela falta de insumos e medicamentos.

Na educação e na cultura talvez haja mais transformações do que a simples e esperada eliminação dos institutos pré-universitários localizados em zonas rurais – que demonstraram, há anos, sua escassa ressonância produtiva e sua visível contribuição à deterioração ética de jovens afastados de seus pais em uma etapa crucial de suas vidas – e sejam introduzidos diversos cortes em gratuidades e subsídios.

Contudo, sem dúvida, será nos benefícios sociais relacionados diretamente com o consumo e a economia que chegarão os golpes mais sensíveis. Há meses se fala da insustentabilidade do sistema de caderneta de racionamento, que garante a toda população da ilha uma determinada quantidade de produtos subsidiados, que o Estado deve comprar a preços do mercado internacional e vender a preços baixos.

Também se fala com força sobre a necessidade de eliminar o sistema de dupla moeda (uma emergência adotada durante a crise dos anos 90, quando a posse de divisas foi descriminalizada), que criou uma economia bicéfala em pesos cubanos e em moeda conversível, o que poderia ser resolvido somente com uma elevada taxa de câmbio das divisas frente ao peso cubano (ou seja, mantendo essa taxa próxima do câmbio atual, de 24 pesos para um CUC, o peso cubano conversível, equivalente a aproximadamente US$ 0,90). Inclusive, falou-se de um sistema de impostos mais amplo – pois agora apenas os trabalhadores autônomos e os vinculados a empresas estrangeiras os pagam –, e também é de se prever aumento no preço de produtos e serviços.

A anunciada eliminação oficial de um sistema igualitário é, mais do que uma necessidade, uma realidade já estabelecida. Os que em Cuba têm acesso a divisas, seja pelo trabalho (a menor parte), por artimanhas da estendida corrupção (a maior parte) ou pela simples recepção de remessas enviadas do exterior (várias centenas de milhares ou milhões de cubanos), têm um nível de vida infinitamente superior aos que ganham salários estatais (se o salário médio chega a 500 pesos, falamos de US$ 25, a quarta parte do que teria quem recebesse uma remessa de US$ 100 mensais).

O mais triste é que essas diferenças econômicas, na maioria dos casos, não dependem do trabalho, da criatividade, qualificação ou talento das pessoas, mas da própria estrutura imperfeita de um status econômico que torna mais rentável ser carregador em hotéis do que neurocirurgião...

Sejam quais forem as mudanças e reduções na área econômica, parece evidente que os tempos do protecionismo e do igualitarismo ficaram para trás. O socialismo cubano reduzirá subsídios e benefícios e imporá regras de jogo mais férreas para uma sociedade que faz água por muitos lados. Enfim, mais socialismo, mas com menos benefícios sociais. Esse parece ser o modelo.

21/8/2009
Fonte: ViaPolítica/Envolverde/IPS
http://envolverde.ig.com.br/
URL: http://envolverde.ig.com.br/?materia=62060#

Leonardo Padura é escritor e jornalista cubano. Seus romances foram traduzidos para uma dezena de idiomas e sua obra mais recente, La Neblina del Ayer, ganhou o Prêmio Hammett de melhor novela policial em espanhol de 2005.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...