O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 27 de junho de 2006

523) Os economistas e a matematica...

Trecho da trajetoria intelectual de Lord Skidelsky (neste link):

[T]he chief source of authority in economics is mathematics. Mathematics is hailed as critical to the process of discovery, but its main use, it seems to me, is to establish the the intellectual authority of economists. (I say this with some feeling because my maths was never nearly good enough for economics. I did try to improve it, but that is another story, best told by my wife.) Economists use mathematics in an attempt to make precise what is necessarily vague. Keynes famously said, ‘It is better to be vaguely right than precisely wrong’. Most economists would disagree. They might agree that it is better to be precisely right than precisely wrong, but better to be precisely wrong than vaguely right, because only a precise hypthesis can give rise to a precise (testable) counter-hypothesis. Progress is assured if each successive hypothesis is only marginally less wrong than its predecessor. This is fine if one forgets that economics is a policy-machine, and that immense damage can be done by applying policies which are ‘precisely wrong’ rather than ‘vaguely right’.

Most economists I know suffer from ‘mathematics anxiety’, the fear that their maths is not up to scratch. Most of their time is spent acquiring and then maintaining their mathematical techniques in competitive readiness. This has a doubly crippling effect on their creativity: they have little time to think about much else and they are forced to repress any intuitions that are not mathematically tractable. All writing for newspapers carries a risk to academic reputation, but academic economists have virtually stopped addressing the public, since they dare not to think outside their mathematical boxes.

522) Embaixadinha? Nao, nao se trata de uma embaixada pequena

Do site No Minimo: por Sérgio Rodrigues

Embaixadinha (26.06.2006)

O amigo botafoguense se empolga com a nota sobre o “Olé” e pergunta, talvez esperando que eu encontre mais uma vez em João Saldanha a explicação para o mistério: e a embaixadinha, de onde vem? Talvez saiba que o chute é indefensável e o gol, certo. Nunca se chegou a um acordo sobre a origem dessa acepção futebolística de “embaixada”, provavelmente mais usada no diminutivo, “embaixadinha” – aquele exercício de foca em que se controla a bola com pés, coxas, cabeça e até ombros, sem permitir que ela toque no chão.

Em seu livro “A origem curiosa das palavras” (José Olympio), Márcio Bueno não toma partido de nenhuma das duas teses que dividem os estudiosos do futebol. Limita-se a registrá-las e deixar que o leitor escolha. Uma é rebuscada e luxuosa: a palavra viria do fato de a embaixadinha ser considerada uma jogada de gala, digna de black tie e outros salamaleques exigidos em recepções diplomáticas – hipérbole típica de locutor esportivo. A segunda tese é simples e prosaica: sem qualquer relação com a diplomacia, “embaixada” viria apenas do advérbio “embaixo”, que é onde se precisa tocar na bola para mantê-la no ar.

Embaixo + ada, sufixo de coletivo. Muitas vezes embaixo, um festival de toques embaixo da bola. Não soa bem? Provavelmente nunca saberemos ao certo, mas que a simplicidade dessa explicação lhe dá um jeitão de verdadeira, dá.

521) Preparados para uma sessão de tortura? (ou seria a própria seção do inferno?)

Veja quais são os 74 impostos no Brasil

Com a criação da taxa de fiscalização e controle da Previdência Complementar - TAFIC - art. 12 da MP nº 233/2004 - agora são 74 impostos e taxas no Brasil - correspondendo a 48,83% sobre o faturamento bruto das empresas.

Confira a lista de tributos que pagamos no Brasil - segundo o sitio da Aclame.
(está em ordem alfabética para não deixar ninguém confuso, mas uma organização cronológica revelaria toda a lógica (ou falta de) de nosso ordenamento tributário, que mais se parece uma casa de loucos, que só faz sentido para a própria receita, e para os governantes, que adoram dispor de recursos fáceis...)

* Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante - AFRMM - Lei 10.893/2004
* Contribuição á Direção de Portos e Costas (DPC) - Lei 5.461/1968
* Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT - Lei 10.168/2000
* Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), também chamado "Salário Educação"
* Contribuição ao Funrural
* Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) - Lei 2.613/1955
* Contribuição ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT)
* Contribuição ao Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena Empresa (Sebrae) - Lei 8.029/1990
* Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Comercial (SENAC) - Lei 8.621/1946
* Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado dos Transportes (SENAT) - Lei 8.706/1993
* Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI) - Lei 4.048/1942
* Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Rural (SENAR) - Lei 8.315/1991
* Contribuição ao Serviço Social da Indústria (SESI) - Lei 9.403/1946
* Contribuição ao Serviço Social do Comércio (SESC) - Lei 9.853/1946
* Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo (SESCOOP)
* Contribuição ao Serviço Social dos Transportes (SEST) - Lei 8.706/1993
* Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados)
* Contribuição Confederativa Patronal (das empresas)
* Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico - CIDE Combustíveis - Lei 10.336/2001
* Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública - Emenda Constitucional 39/2002
* Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional - CONDECINE - art. 32 da Medida Provisória 2228-1/2001 e Lei 10.454/2002
* Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF)
* Contribuição Sindical Laboral (não se confunde com a Contribuição Confederativa Laboral, vide comentários sobre a Contribuição Sindical Patronal)
* Contribuição Sindical Patronal (não se confunde com a Contribuição Confederativa Patronal, já que a Contribuição Sindical Patronal é obrigatória, pelo artigo 578 da CLT, e a Confederativa foi instituída pelo art. 8º, inciso IV, da Constituição Federal e é obrigatória em função da assembléia do Sindicato que a instituir para seus associados, independentemente da contribuição prevista na CLT)
* Contribuição Social Adicional para Reposição das Perdas Inflacionárias do FGTS - Lei Complementar 110/2001
* Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS)
* Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)
* Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (OAB, CRC, CREA, CRECI, CORE, etc.)
* Contribuições de Melhoria: asfalto, calçamento, esgoto, rede de água, rede de esgoto, etc.
* Fundo Aeroviário (FAER) - Decreto Lei 1.305/1974
* Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) - lei 5.070/1966 com novas disposições da lei 9.472/1997
* Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
* Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) - art. 6 da Lei 9998/2000
* Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização (Fundaf) - art.6 do Decreto-lei 1.437/1975 e art. 10 da IN SRF 180/2002.
* Imposto s/Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
* Imposto sobre a Exportação (IE)
* Imposto sobre a Importação (II)
* Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)
* Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU)
* Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)
* Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR - pessoa física e jurídica)
* Imposto sobre Operações de Crédito (IOF)
* Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)
* Imposto sobre Transmissão Bens Intervivos (ITBI)
* Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD)
* INSS - Autônomos e Empresários
* INSS - Empregados
* INSS - Patronal
* IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)
* Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP)
* Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro
* Taxa de Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de Graduação - lei 10.870/2004
* Taxa de Classificação, Inspeção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo nas atividades agropecuárias - Decreto Lei 1.899/1981
* Taxa de Coleta de Lixo
* Taxa de Combate a Incêndios
* Taxa de Conservação e Limpeza Pública
* Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA - lei 10.165/2000
* Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos - lei 10.357/2001, art. 16
* Taxa de Emissão de Documentos (níveis municipais, estaduais e federais)
* Taxa de Fiscalização CVM (Comissão de Valores Mobiliários) - lei 7.940/1989
* Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária Lei 9.782/1999, art. 23
* Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército Brasileiro - TFPC - lei 10.834/2003
* Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Complementar - TAFIC - art. 12 da MP 233/2004
* Taxa de Licenciamento Anual de Veículo
* Taxa de Licenciamento para Funcionamento e Alvará Municipal
* Taxa de Pesquisa Mineral DNPM - Portaria Ministerial 503/1999
* Taxa de Serviços Administrativos - TSA - Zona Franca de Manaus - lei 9960/2000
* Taxa de Serviços Metrológicos - art. 11 da lei 9933/1999
* Taxas ao Conselho Nacional de Petróleo (CNP)
* Taxas de Outorgas (Radiodifusão, Telecomunicações, Transporte Rodoviário e Ferroviário, etc.)
* Taxas de Saúde Suplementar - ANS - lei 9.961/2000, art. 18
* Taxa de Utilização do MERCANTE - Decreto 5.324/2004
* Taxas do Registro do Comércio (Juntas Comerciais)
* Taxa Processual Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE - Lei 9.718/1998

Chegou até o final? Cansou?
Deve ter mais: eu acho simplesmente impossível que sejam só 74. Não é possível, tem de ter mais. Esqueceram as gorjetas dos trombadinhas, os dez por cento obrigatórios nos serviços diretos aos clientes de restaurantes, o Natal dos porteiros e dos lixeiros, a Páscoa das crianças nos semáforos, enfim vários impostos indiretos que nos tocam muito diretamente.
Não é para ficar deprimido...

520) Lord Skidelsky: um britânico da China

The man who wrote The Road From Serfdom...

Gostaria de recomendar a todos, absolutamente a todos todos, o site do grande intelectual britânico (nascido na Mandchúria, no entre guerras, em 1939), Robert Skidelsky: www.skidelskyr.com

Professor Lord Skidelsky is Professor of Political Economy at the University of Warwick, author of The World After Communism (1995) and a biography of the economist John Maynard Keynes, which received 5 prizes, including the Lionel Gelber Prize for International Relations and the Council of Foreign Relations Prize for International Relations. He was elected a Fellow of the British Academy in 1994.
The single-volume abridgment of his three-volume biography of John Maynard Keynes was recently published in the US.

Robert Skidelsky elevated to the House of Lords in 1991 and served as Chief Opposition Spokesman on Treasury Affairs (1998-1999). From 1991 to 2001 he was Chairman of the Social Market Foundation. Since 2002 he has been Chairman of the Centre for Global Studies (London).

Lord Skidelsky is a non-executive director of Janus Capital Inc, Chairman of the Greater Europe Fund and a Director of Transnational Insights Ltd. A Russian speaker, he is Director of the Moscow School of Political Studies and Founder and Executive Secretary of The UK/Russia Round Table. He is also a Trustee of the Manhattan Institute and Chairman of the Governors of the Brighton College.

Alguns de seus muitos artigos, discursos, entevistas podem ser encontrados neste link: http://skidelskyr.com/?publications

Recomendo particularmente este trabalho:
From History to Economics and Back: A Personal and Intellectual Journey,
neste link.

Boas leituras a todos...

segunda-feira, 26 de junho de 2006

519) Lei da mordaça no IPEA?

Leio, na coluna da Sonia Racy, "Direito da Fonte", publicada no jornal O Estado de S.Paulo, no último sábado, 24 de junho de 2005, esta nota final, na seção "Curtas":

"Decidiu-se dentro da cúpula do governo Lula, incluindo o Planejamento, que o economista Fabio Giambiagi não mais poderá falar em nome do IPEA."

Minha impressão é a de que a dita cúpula não ficou contente com os estudos do IPEA, feitos por vários economistas, entre eles Giambiagi, que demonstram o excesso de gastos do governo com aumentos no salário mínimo e outras despesas sociais, ameaçando o equilíbrio fiscal a curto prazo. Esse alerta tinha sido refletido na coluna daquela jornalista sob o título de "Aumentos reais do mínimo custaram R$ 250 bilhões" (OESP, 21/06/06). A repercussão parece ter sido péssima no atual ar seco de Brasília.

Não adiantou muito o presidente do IPEA ter dito, logo em seguida que "as opiniões ali emitidas (no documento analítico do IPEA) são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do IPEA ou do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão". Parece que esse "disclaimer", que é de rigor em se tratando de estudos controversos, não produziu os efeitos desejados em certos "quartéis", preferindo os preocupados silenciar o mensageiro, antes que preocupar-se com o conteúdo da mensagem, de fato deveras preocupante...

Parece, bem mais, que, no caso em espécie, não se trata apenas de "opiniões", mas de fatos, ou pelo menos de deduções apoiadas em projeções relativamente objetivas quanto ao percurso futuro das contas públicas a partir dessas novas despesas contratadas pelo governo e produzindo "lasting effects", isto é, vindo para perdurar, não sendo aquele tipo de gasto com investimento que produz efeitos "once and for all" (isto é, se esgotam no ato de "consumo", ou de investimento).

Governos em geral costumam recorrer à lei da mordaça contra funcionários recalcitrantes, ou que costumam colocar o dedo na ferida.
Não creio que a "lei da mordaça" seja um sinal de, não digo abertura ao diálogo, mas de simples "diálogo com os números". Por enquanto, os números vencem o governo por larga distância.
O problema é que não se trata de um problema do governo, e sim de todos nós.
Aumento de despesas públicas, e déficits que se manifestam em conseqüência disso, só tem três saídas possíveis: mais inflação (via emissionismo irresponsável), mais tributos (dada a necessidade de cobrir as despesas com novos recursos), ou mais dívida pública (que onera a todos nós, e a nossos filhos e netos, com grandes amortizações futuras e um serviço da dívida maior, o que por sua vez onera a conta dos juros e os custos do superávit primário).

Ou seja, não há ganhadores nessa história, seja pela conta a ser paga mais à frente (ou já em 2007), seja pela falta de transparência na discussão dos problemas reais da economia brasileira.
Em lugar de fazer "lei da mordaça", os responsáveis da área poderiam vir a público oferecer explicações e uma interpretação diferente do cenário proposto pelos economistas do IPEA.

518) O Mercosul em francês vira Mercosud (pelo menos para mim...)

Le Brésil et le Mercosud
Une émission de la radio France Culture


O que segue abaixo é o resultado de um programa sobre o Brasil produzido pelo jornalista francês Thierry Garcin para a Radio France Culture, no quadro do ano do Brasil na França (em 2005). Ele me entrevistou sobre o Mercosul, um de meus objetos de pesquisa. A despeito de eu privilegiar a palavra Mercosud, um néologisme en Français, sobre sua forma mais frequente no exterior (Mercosur, que retoma do espanhol), eu acabei me referindo, algumas vezes ao Mercosul ou ao Mercosur, no meio da entrevista gravada.
Para os que desejam se familiarizar um pouco com a terminologie française de l'intégration, en vue des examens d'entrée à l'Itamaraty, c'est une occasion d'écouter (ou d'entendre, si vous voulez bien) ce que j'ai à dire sur le Mercosud.
C'est tout de même dommage que le journaliste Thierry Garcin ait seulement retenu une toute petite partie du long interview (eh, oui, en Anglais, n'en déplaise les francophones, ou francopholes, enragés) que je lui en donné pendant une bonne partie d'un après-midi de printemps à Brasilia...

Brésil 3/5
Emission du 26 Octobre 2005
Paulo Roberto de Almeida
Neste link para as informações introdutórias.

(ici il y avait une belle photo de moi, prise par T.G.)
Paulo Roberto de Almeida
© R.F./Thierry Garcin

L’intégration économique régionale du Mercosud.

Malgré son nom (marché commun du Sud), le Mercosud tend au marché commun. C’est un processus original, graduel et non linéaire d’intégration économique régionale.
Sa composition est déséquilibrée : un éléphant (le Brésil), un poids moyen (l’Argentine), et deux tout petits pays (l’Uruguay, le Paraguay).
Le Mercosud a des accords avec des membres associés.
Quelles réalisations, à partir de quels échanges, dans quel but, en fonction de quels aléas internes (crises monétaires brésiliennes, grave crise économique et financière en Argentine), et externes (aux conditions des Etats-Unis).
Comment le Mercosud peut-il évoluer? (PRA: j'ai corrigé une petite erreur de Français ici, car c'était écrit "évoulué"; tout de même, si je dois corriger le Français à des français, o'u allons-nous tomber, comme on dirait par ici?)

Vous retrouverez également dans l'émission "Radio libre" un documentaire de deux heures, intitulé : « Le Brésil, entre les contradictions internes et les aspirations mondiales » le samedi 29 octobre, de 15h à 17h.
http://www.blogger.com/img/gl.link.gif
Voir la bibliographie du 17 octobre dernier dans la fenêtre "Archives"

Invité: Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida est docteur en Sciences Sociales (Université Libre de Bruxelles, 1984), Maître en Planning Économique (Université d’Anvers, 1977) et diplomate de carrière depuis 1977. Il est aussi professeur à l’académie diplomatique du Brésil (Instituto Rio Branco) et au Centre Universitaire de Brasília (Uniceub).
Depuis 2003, il est Conseiller auprès de l’Unité d’Affaires Stratégiques de la Présidence de la République du Brésil. Avant, il était Ministre-Conseiller à l’Ambassade du Brésil à Washington (1999-2003).
Auteur de plusieurs livres publiés au Brésil et à l’étranger.

Écouter l’émission: http://www.radiofrance.fr/listen.php?file=/chaines/france-culture/chroniques2/enjeux/enjeux_20051026.ra
(ouvir em Real Audio, ou Real Player)

domingo, 25 de junho de 2006

517) O internacionalista: formacao e profissionalizacao

Internacionalistas: uma carreira, uma profissão?
Elementos de reflexão para os estudantes da área


Tenho sido procurado por coordenadores dos muitos cursos de graduação em relações internacionais existentes, assim como pelos próprios estudantes, para falar em semanas ou "foros" de RI em vários estados do Brasil. As preocupações são as de sempre: formação, perspectivas de carreira, possibilidades de trabalho dentro da própria área ou em áreas afins. Para os interessados nos diversos aspectos da carreira diplomática, recomendo uma visita a esta seção do meu site pessoal sobre a Diplomacia.

Tenho procurado atender a esses convites na medida do possível, transmitindo um pouco da minha visão e das minhas reflexões críticas sobre possibilidades e perspectivas existentes no campo. Procuro enfatizar a necessidade da autoformação, do autodidatismo e dos esforços individuais na construção de um perfil próprio de carreira.

O mundo do futuro não é tanto do emprego assegurado, como o do trabalho modelado segundo as necessidades dos contratantes, das diversas ocupações possíveis, num mercado em mobilidade constante, com muita competição e desafios.

No que se refere aos diferentes aspectos da formação e da profissionalização dentro dessa área, para os quais elaborei uma seção específica em meu site (neste link), vou simplesmente listar algumas das minhas palestras ou entrevistas sobre a formação e as perspectivas do mercado de trabalho dos chamados "internacionalistas"..

1) O profissional de relações internacionais: visão de um diplomata
Palestra (1491) feita na Semana Acadêmica da UFRGS – 2005 dos programas de graduação e mestrado em Relações Internacionais (Auditório da Faculdade de Ciências Econômicas, Porto Alegre, 11/11/2005, 20h30) A palestra filmada encontra-se disponível em vídeo neste link; para entender do que eu estava falando torna-se necessário fazer o download desta apresentação em PowerPoint.

2) As relações internacionais como oportunidade profissional
Respostas a algumas das questões mais colocadas pelos jovens que se voltam para as carreiras de relações internacionais (1563); divulgado em cinco partes, no blog Cousas Diplomaticas, do post 282 ao 286 (aqui o link inicial). Consolidado em documento em Word, neste link.

3) O Ser Diplomata: reflexões anárquicas sobre uma indefinível condição profissional
Reflexões sobre a profissionalização em relações internacionais, na vertente diplomacia (1591). Palestra organizada pela Pacta Consultoria em Relações internacionais, em cooperação com o Instituto Camões, realizada na Embaixada de Portugal, em 4 de maio de 2006 (documento em Word neste link).

4) O Internacionalista e as Oportunidades de Trabalho: desafios
Palestra no Forum de Relações internacionais do curso de RI da USP (FEA, 29 maio 2006, 17h30). Apresentação (1607) em PowerPoint neste link.

Tenho outros trabalhos, mas pelo momento fico nestes.

516) Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional

O Brasil no Mundo que vem aí
Iª Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional


Promoção:
Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG)
Data: 6 e 7 julho de 2006
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI)
Local: Palácio Itamaraty, Rio de Janeiro

Programa
Dia 06/07/06 - quinta-feira

Inauguração
9:00hs. às 10:00hs. : Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
Debates
As mesas de cada debate serão compostas por um moderador, e dois a três expositores.
No debate cada expositor terá dez minutos para fazer breve apresentação. Após essas introduções, será aberta ampla discussão com o público e entre os expositores, sob controle do moderador.

10:00hs às 11:30hs. : Debate 1 - "Nova Geografia Econômica"
Moderador: Ministro Roberto Azevedo
Expositores: Embaixador Clodoaldo Hugueney, Professora Maria da Conceição Tavares e Professor Luiz Gonzaga Belluzzo.

11:30hs às 13:00hs. : Debate 2 - "Pobreza, Migrações e Pandemias"
Moderadora: Ministra Ana Lucy Gentil Cabral Petersen
Expositores: Ministra Mariangela Rebuá de Andrade Simões e Professor Eduardo Rios.

14:30hs às 16:00hs. : Debate 3 - "América do Sul"
Moderador: Embaixador Jorge Taunay
Expositores: Doutor Armando Mariante, Professor Luiz Alberto Moniz Bandeira e Professor Paulo Nogueira Batista Jr.

16:00hs. às 17:30hs. : Debate 4 - "Energia"
Moderador: Ministro Antônio Simões
Expositores: Professor Luís Alfredo Salomão e Professor Marc Von Montagu.

17:30hs às 19:00hs.: Debate 5 - "Ciência e Tecnologia"
Moderador: Ministro Hadil Fontes da Rocha Vianna
Expositores: Doutor Luís Manuel Fernandes e Professor Fábio Erber.

Programa
Dia 07/07/06 - sexta-feira

8:00hs às 9:00hs. : Debate 6 - "Estados Unidos"
Moderador: Embaixador Gonçalo Mourão
Expositores: Professor Carlos Ivan Simonsen e Professor César Guimarães.

9:00hs às 10:00hs. : Debate 7 - "Europa"
Moderadora: Ministra Maria Edileuza Fontenelle Reis
Expositores: Embaixador Regis Arslanian e Professor Antonio Carlos Peixoto.

10:00hs às 11:30hs. : Debate 8 - "África"
Moderador: Embaixador Fernando Jacques de Magalhães Pimenta
Expositores: Professor Fernando Mourão e Embaixador Alberto da Costa e Silva.

11:30hs às 13:00hs. : Debate 9 - "Poder e Panorama Militar Internacional"
Moderador: Embaixador Antônio Patriota
Expositores: Embaixador Sérgio Duarte, Professor Gilberto Dupas e Conselheira Glivânia Maria de Oliveira.

14:30hs às 16:00hs. : Debate 10 - "Oriente Médio"
Moderador: Embaixador Sarkis Karmirian
Expositores: Embaixador Afonso Ouro Preto, Professor Nizar Messari e Professor Gilberto Sarfati.

16:00hs às 17:30hs. : Debate 11- "China e Índia"
Moderadora: Ministra Regina Dunlop
Expositores: Embaixador Luís Augusto de Castro Neves, Professor Carlos Aguiar de Medeiros e Embaixador José Vicente de Sá Pimentel.

17:30hs. : Encerramento

Esplanada dos Ministérios, Palácio Itamaraty, Anexo II, Sala 1 - 70170-900 Brasília, DF Telefones: (61) 3411-6033/6034; Fax: (61) 3411-9125 -
Rio de Janeiro: Telefax: (21) 233-2079/2318
E-Mail: funag@mre.gov.br - Home Page:http://www/funag.gov.br

sábado, 24 de junho de 2006

515) Assim marcha (ou não) a integração na América do Sul...

Reproduzo abaixo matéria veiculada originalmente no site argentino da Nueva Mayoria, um grupo de pesquisas acadêmicas de orientação pragmática, e reproduzido no site brasileiro do Instituto Millenium.
Chamao a atenção para dois trechos, logo ao início:
1) "Os chefes de Estado da Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, em uma declaração conjunta, concordaram em respeitar o direito de qualquer país andino de negociar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos..."
PRA: Esse posicionamento pode ter conseqüências para o Mercosul, onde se sabe que Uruguai e Paraguai reivindicam o mesmo direito. A diferença é que no Mercosul a união aduaneira e a aplicação da TEC sempre foram mais elaboradas e respeitadas do que na CAN, que formalmente era uma UZ, mas esta nunca chegou a funcionar na prática.

2) "...o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela (anunciou) que seu país se retiraria da Comunidade Andina de Nações (CAN) (...) por (esta) encontrar-se 'fatalmente ferida' dado ao fato de que o Peru e a Colômbia haviam assinado acordos comerciais bilaterais com os Estados Unidos."
PRA: Este argumento do presidente Chávez não procede e trata-se de mera escusa para encontrar um contencioso politico, uma vez que a Venezuela teria, de toda forma, de retirar-se inapelavelmente da UA da CAN, desde que anunciou que estava ingressando plenamente no Mercosul. A regra é simples: pode-se ser membro de quantas ZLCs se quiser, mas só se pode ser membro de uma única UA, que são exclusivas, dado o proóprio conceito gattiano de território aduaneiro e de tarifa aplicada.


Integração latinoamericana
Sexta-feira, 23 de Junho de 2006
Arturo Valenzuela (desde Washington)
para Nueva Mayoría

Algo surpreendente ocorreu em Quito esta semana. Os chefes de Estado da Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, em uma declaração conjunta, concordaram em respeitar o direito de qualquer país andino de negociar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, pedindo em troca à potência do norte a renovação das preferências comerciais que, desde 1991, permitem a entrada no mercado “estadounidense” de milhares de produtos da região. Estas preferências terminam no final do ano ao menos que o Congresso dos Estados Unidos as renove.

O surpreendente é que a reunião de cúpula tenha se realizado somente dois meses após o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, anunciar que seu país se retiraria da Comunidade Andina de Nações (CAN), criada para fomentar a integração regional, por encontrar-se “fatalmente ferida” dado ao fato de que o Peru e a Colômbia haviam assinado acordos comerciais bilaterais com os Estados Unidos.

Chávez esperava contar com o apoio decidido de Evo Morales, o presidente indígena da Bolívia, para lançar junto a Cuba a Alternativa Bolivariana para as Américas, um projeto de integração hemisférico que contrariaria a influência de Washington na região.

Também esperava que a eleição à presidência no Peru do nacionalista de esquerda Ollanta Humala provocasse uma guinada da política exterior daquele país, ajudando a afiançar as perspectivas do projeto bolivariano.

Sem dúvida, Ollanta perdeu a disputa presidencial frente a Alan García no Peru e o próprio Morales tem dado sinais de que quer se tornar independente de Chávez, ao se dar conta de que não lhe convêm que a Bolívia fique fora de um acordo regional com Washington, especialmente quando as indústrias de seus vizinhos, como, por exemplo, as têxteis, teriam acesso ao mercado da super potência. E assim, o grande ausente em Quito acabou por ser o próprio líder da República Bolivariana da Venezuela.

A reunião de cúpula em Quito demonstra duas realidades. A primeira é que o esforço de Chávez pela liderança de uma aliança hemisférica contraposta aos Estados Unidos, ao invés de gerar um maior consenso na região, tem provocado novos conflitos, contribuindo, por sua vez, a uma maior deterioração das instituições regionais já fragilizadas que foram elaboradas a duras penas para conseguir uma maior integração continental. O Mercosul já se encontrava debilitado pelas grandes assimetrias entre o Brasil e a Argentina por um lado, e, Uruguai e Paraguai, por outro quando, Chávez pediu para entrar no acordo comercial como país associado, exacerbando as difíceis relações bilaterais provocadas pelo conflito entre Montevidéu e Buenos Aires, pela construção das fábricas de celulose em território uruguaio que dá no Rio da Prata. E, ao sair da CAN, foi a Venezuela, e não seus vizinhos, quem deu o golpe de misericórdia a um acordo regional que poderia ter incrementado o comércio e a integração de seus países membros.

A segunda realidade é que é muito difícil para os países latino-americanos de se visualizar é a de um crescimento econômico sem investimento estrangeiro e acesso aos grandes mercados do mundo. É preciso lembrar que os Estados Unidos representam 75% do produto de todo o continente americano. Agregando ao México e ao Canadá se chega a mais de 85%. O restante dos países, incluindo o Brasil, produzem o resto. E como bem articulou Alan García, durante sua bem sucedida candidatura, não cabe à Venezuela impedir acordos que permitam a outros países obter acesso ao gigantesco mercado “estadounidense”, especialmente quando os Estados Unidos são de longe o principal sócio comercial de Caracas no mundo. Em outras palavras, e, apesar do prestígio do governo de Washington, os Estados Unidos continuam sendo muito importantes para o futuro econômico do continente.

Isto não significa que os países deveriam descuidar dos seus próprios interesses ao abrir suas economias à competição estrangeira. Muito discretamente, deveriam cobrar uma resposta mais clara por parte dos Estados Unidos e da Europa no que trata dos subsídios e das cotas agrícolas, que prejudica a competitividade dos produtos agrícolas da região.

Mas o livre comércio em si não é a panacéia que automaticamente vai gerar um maior bem-estar em um continente com atrasos econômicos e sociais.

Duas décadas após a introdução das reformas de primeira e segunda geração que estabeleceram disciplinas macroeconômicas e reformas estruturais que levaram à privatização de empresas estatais, entendemos melhor agora que o êxito econômico está também relacionado ao fortalecimento de instituições estatais, ao aprofundamento do estado de direito e à práticas políticas que incentivem a formulação de políticas públicas coerentes e responsáveis.

Mas, também se requer um maior esforço supranacional para melhor integrar as economias da região. O tema energético poderia ser o cerne da integração, como foi a Comunidade do Carvão e do Aço para os europeus no pós-guerra. Este esforço se deu, sem dúvida, com esquemas idealizados, demagógicos e excludentes, porém, com respostas claras, transparentes e práticas acompanhadas de uma vontade política de cooperação que para o momento está ausente nas Américas.

Tradução: Fernanda Vasconcelos

514) A imprensa americana e o 11 de setembro

Minhas respostas a uma dessas consultas que recebo regularmente de estudantes em busca de algum material para rechear trabalhos escolares, e que costumo responder bilateralmente. Coloco aqui, pois pode interessar outros igualmente.

1) Como você vê a imprensa norte-americana após o 11 de setembro?
Ela foi certamente impactada fortemente pelo episodio, e reagiu como toda a sociedade: indignacao suprema em face de um ataque covarde, criminoso e assassino. Alias, para a imprensa e a sociedade dos EUA os ataques não foram um simples episodio e sim uma reviravolta fundamental na questao da segurança e do terrorismo internacional, que ate entao eram preocupacoes relativamente distantes do americano medio.

2) Você acredita que o povo americano apoia o governo e seus planos?
Imediatamente apos os ataques, a aprovacao do e ao governo subiu a niveis historicos, o que se confirmou ainda durante a invasao do Afeganistao. Posteriormente, com a questao do Iraque, a sociedade e a imprensa se dividiram, mas ainda assim uma maioria aprovava a destituicao de Saddam Husseim, uma vez que estavam convencidos pelas alegacoes da presidencia quanto ao perigo representado pelo Iraque. Posteriormente, com a deterioracao da situacao da segurança no Iraque e as mortes crescentes de soldados americanos, a opiniao voltou-se contra o governo.

3) Você acha que a imprensa norte americana após o atentado, consegue ser IMPARCIAL?
Não existe uma unica imprensa americana, mas diferentes veiculos de comunicacao com conteudos e enfases diversos.
Os grandes canais de TV (com excecao da Fox, resolutamente governista e conservadora) e os grandes jornais de opiniao conseguem ser bastante objetivos na sua cobertura, oferecendo espaco para todos os fatos envolvendo a luta contra o terror, mesmo aqueles mais incomodos para o governo, como podem ser as torturas na prisao de Abu-Graib, a situacao indefinida dos prisioneiros em Guantanamo, os abusos cometidos pelas tropas no Iraque e outros eventos incomodos para o governo.
Não sei se isso significa ser imparcial, pois ela está obviamente comprometida com a luta contra o terrorismo, eximindo-se, por exemplo, de publicar dados que poderiam ser prejudiciais à seguranca dos EUA, mas creio que a grande imprensa dos EUA ainda se mantem bastante objetiva na cobertura desses processos.
Os melhores exemplos sao obviamente os dois grandes jornais, The New York Times e The Washington Post, que fazem uma cobertura honesta de todos os aspectos envolvidos na luta contra o terrorismo. Os grandes canais de TV tambem veiculam trechos importantes das declaracoes dos proprios terroristas, tais como transmitidos por canais como al-Jazira, apenas eliminando as cenas mais degradantes como degola de prisioneiros e outras cenas chocantes.
No computo geral, minha apreciação da imprensa americana é bastante positiva, pois ela consegue ser objetiva e não se subordina aos interesses dos governos de plantão, pensando mais em termos de sociedade e de nação.

513) A Embaixada dos EUA em Brasilia: um premio de consolacao?

Trechos finais de matéria do Valor Econômico desta Sexta-Feira 23 de junho de 2006, do correspondente em Washington, Ricardo Balthazar:

O novo embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, "um homem de negócios que fez fortuna com uma empresa de telefonia na internet chamada Net2Phone, levantou mais de US% 400 mil para candidatos do Partido Republicano nos últimos anos. Ele disputou a indicação do partido para concorrer a governador do Estado de Nova Jersey neste ano, mas perdeu a vaga para outro candidato. Anunciada logo depois, sua indicação como embaixador no Brasil foi vista por muitos como um prêmio de consolação".

Se ouso interpretar bem, os US$ 400 mil foram para vários candidatos do Partido Republicano, o que colocaria, digamos assim, a cotação de uma embaixada no Brasil, no ranking de contribuições financeiras, algo abaixo disso...

512) Verdureiros do Brasil, uni-vos (na conquista do poder...)

Amanhã eu vou conferir os preços no supermercado perto de casa. Se estiver superafaturado, seria o caso de sugerir uma CPI?

Do site do Josias de Souza, 21/06/2006
A Presidência vai à feira
Da coluna de Mônica Bergamo (para assinantes da Folha):

A Presidência da República abriu licitação para o fornecimento de hortifrutigranjeiros por seis meses ao Palácio do Planalto. As frutas devem ser "de elevada qualidade, sem defeitos, bem desenvolvidas e maduras". Não serão permitidas "manchas ou defeitos na casca". As verduras devem ser "frescas", isentas de "odor e sabor estranhos". Bactérias do grupo "coliforme de origem fecal" podem estar presentes "2 x 102/g", de acordo com o edital. Gasto estimado: R$ 27.347,00, ou R$ 4.557 por mês. Confira alguns preços abaixo:

ABACAXI PÉROLA
800 unidades - (R$ 3,90/un) R$ 3.120,00
ALFACE ROXA
50 maços - (R$ 1,30/mç) - R$ 65,00
BANANA PRATA
300 kg - (R$ 1,75/kg) - R$ 525,00
CEBOLA
50 kg- (R$ 1,75/kg) - R$ 87,50
GOIABA
600 kg - (R$ 3,90/kg) - R$ 2.340,00
LARANJA PÊRA
2.500 kg - (R$ 1,45/kg) - R$ 3.625,00
LIMÃO
100 kg - (R$ 2,50/kg) - R$ 250,00
MAÇÃ GALA
600 kg - (R$ 4,50/kg) - R$ 2.700,00
MAMÃO PAPAYA
200 kg - (R$ 2,90/kg) - R$ 580,00
MELANCIA
800 kg - (R$ 1,25/kg) - R$ 1.000,00
OVOS TIPO EXTRA
50 dúzias - (R$ 2,90/dz) - R$ 145
UVA RUBI
362 kg - (R$ 6,90/kg) - R$ 2.497

Escrito por Josias de Souza às 15h51

511) A batalha de Lepanto ainda nao terminou...

Abaixo, uma matéria sobre uma importante pesquisa de opinião pública que confirma o grande abismo existente entre as visões do mundo de povos islâmicos e ocidentais.

Para os que nao sabem ou se esqueceram, a batalha de Lepanto foi uma grande confrontação naval, perto do Tirreno, entre frotas islâmicas (otomanas) e européias, que no seculo XVI conseguiu refrear o ímpeto muçulmano na conquista da Europa. Foi uma espécie de Pirineus naval, ainda que os turcos tenham batido às portas de Viena pouco depois, mas a onda estava contida. Hoje seria preciso enterrar a Lepanto mental que ainda separa as duas grandes comunidades que continuam a se "enfrentar" em torno do Mediterrâneo, mas isso vai demorar mais um pouco...


"Great Divide" Seen in Muslim and Western Opinions
Jim Lobe

WASHINGTON, Jun (IPS) - A "great divide" separates the worldviews of Muslims and Westerners, according to the results of a major new survey which suggests that European Muslims, who held the most tolerant views, could be a bridge between the two groups.

"Many in the West see Muslims as fanatical, violent, and as lacking tolerance," according to an analysis of the survey by the Washington-based Pew Global Attitudes Project. "Muslims in the Middle East and Asia generally see Westerners as selfish, immoral and greedy -- as well as violent and fanatical."

But the survey also found that was less true among European Muslims. "In many ways, the views of Europe's Muslims represent a middle ground between the way Western publics and Muslims in the Middle East and Asia view each other," it said.

The survey and analysis, which were released by Pew here Thursday, found that positive views held by Muslims of al Qaeda leader Osama bin Laden and terror tactics associated with him have declined over the past year, quite substantially in Pakistan and Jordan, where suicide attacks killed more than 50 people in Amman hotels over the last year.

At the same time, the percentage of Muslims who believe that Arabs did not carry out the Sep. 11, 2001, attacks on New York and the Pentagon has increased. Majorities in Indonesia, Turkey, Egypt, Jordan and among the Muslim community in Britain doubt that Arabs had any role.

The survey, which was carried out in 13 countries from the beginning of April until mid-May, found that negative views of Muslims have become especially pronounced in Germany and Spain, where only 36 percent and 29 percent of respondents, respectively, expressed favourable opinions of Muslims. Both marked major declines from the last Pew poll one year ago.

By contrast, nearly two-thirds of French and British citizens said they had favourable views of Muslims. Fifty-six percent of Russians agreed with that opinion, as did 54 percent of U.S. respondents.

Interestingly, British and French respondents were the most upbeat as well about the prospects for democracy in Muslim countries. Six in 10 respondents in France and Britain said democracy can work well there, while only 49 percent of U.S. citizens and an average of four in 10 Spanish and Germans agreed.

More than 60 percent of Indonesians and Jordanians said they had favourable views of Christians, followed by 48 percent of Egyptians.

But only about one in four Pakistanis described their views as favourable, while only about one in seven Turks agreed, a possible reflection of growing anti-European and anti-U.S. opinion resulting from negotiations over Turkey's admission to the European Union and the popular anger there against the U.S. invasion of Iraq.

By contrast, Muslims living in Europe were much more positive about Christians, one of a number of indications in the survey that European Muslims are not only considerably less alienated from the societies in which they reside than many recent analyses have suggested, but also that they could act as a moderating force in the Muslim-Western divide.

Nine out of 10 French Muslims said they had positive views of Christians, followed by eight out of 10 Spanish Muslims (in spite of the strongly anti-Muslim views of most Spanish). Roughly seven out of 10 English and German Muslims also said their views of Christians were favourable.

Of all Muslim populations surveyed, French Muslims were by far the most positive toward Jews -- 71 percent said they had favourable opinions, roughly twice the percentage of Muslims in Britain, Germany and Spain.

Elsewhere in the Muslim world, views of Jews were far more negative: in Indonesia, 17 percent of respondents said they had favourable opinions; in Turkey, 15 percent; in Pakistan six percent; and in the two Arab countries countries surveyed, Egypt and Jordan, only two and one percent, respectively.

As to relations between Muslims and Westerners, majorities in 10 out of 12 countries described them as "generally bad". In Europe, the most negative views were found in Germany (70 percent said "generally bad") and France (66 percent). Fifty-five percent of U.S. respondents described it the same way.

Turkey was the most negative of the predominantly Muslim nations, with nearly two-thirds opting for "generally bad" -- although 77 percent of Nigerian Muslims made the same assessment -- followed by Egypt (58 percent), Jordan (54 percent), and Indonesia (53 percent). Pakistan, where a slight plurality said that relations were "generally good", was the only exception.

The Pew analysis concluded that Muslims hold "an aggrieved view of the West -- they are much more likely than Americans or Western Europeans to blame Western policies for their own lack of prosperity. For their part Western publics instead point to government corruption, lack of education and Islamic fundamentalism as the biggest obstacles to Muslim prosperity."

Thus, Muslims, particularly in Asia and the Middle East, tended to blame the controversy over the Danish cartoon depictions of Mohammad earlier this year on Western disrespect for Islam. Majorities in the U.S. and Europe, on the other hand, blamed the crisis on Muslim intolerance.

In many respects, the two groups hold mirror images, however. When asked to choose among a list of negative traits Muslim and non-Muslim respondents saw in the other group, the survey found that Muslims in the Middle East and Asia -- often by large majorities -- generally view Westerns as selfish, arrogant, and violent. European Muslims, particularly those in France and Spain, however, tended to be far less damning about the traits of non-Muslims than in predominantly Muslim countries.

At the same time, majorities of non-Muslims in Europe found Muslims to be fanatical and violent, although only minorities in Britain, the U.S. and France subscribed to that view.

The survey's findings suggested that French and Spanish Muslims were the least alienated from their surrounding societies, even if the general public in Spain was found to be the most hostile toward Muslims of any of the European societies covered by the poll.

Four in ten non-Muslim Spaniards said they believe that most or many Muslims in their country support Islamic extremism, but only 12 percent of Spanish Muslims agreed. Of the four minority publics surveyed, British Muslims are the most critical of their country and "come closer to views of Muslims around the world in their opinions of Westerners".

The religious divide was found to be surprisingly sharp in Nigeria, where, for example, nearly three out of four Muslims and Christians ascribed negative traits to the other groups. Nigerian Muslims also constituted a "conspicuous exception" to the trend toward declining confidence in bin Laden in the Muslim world.

More than six in 10 Nigerian Muslims said they have at least some confidence in the al Qaeda leader, up from 44 percent in 2003. In addition, nearly half of Nigeria's Muslims said that suicide bombings could be justified often or sometimes in the defence of Islam.

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sexta-feira, 23 de junho de 2006

510) Assim marcha a integracao (ou não...)

Brasil inicia ofensiva diplomática para acalmar Uruguai e Paraguai
Jornal Valor Econômico, 23/062006

O objetivo é tentar reagir ao descontentamento de Uruguai e Paraguai com o Mercosul

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, chegou na noite desta quinta-feira a Montevidéu acompanhado de funcionários de vários ministérios, órgãos governamentais e do BNDES, além de empresários. No domingo e na segunda o mesmo grupo estará em Assunção.

Amorim terá hoje reuniões com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, e com os principais ministros de seu gabinete.

Paralelamente, acontece em Montevidéu um seminário empresarial em que o vice-presidente do BNDES, Armando Mariante, explicará as possibilidades de aceder a financiamentos do banco.

Também está em estudo a formalização de um convênio entre a instituição de crédito brasileira e o uruguaio Banco de la República para financiar projetos uruguaios que demandem a aquisição de bens e serviços brasileiros.

O objetivo da viagem é tentar dar uma resposta prática às queixas de uruguaios e paraguaios, que reclamam que o Mercosul não tem sido capaz de melhorar suas possibilidades de desenvolvimento e inserção internacional, atuando, muitas vezes, como uma trava.

O próprio Amorim disse recentemente que o Brasil deveria esforçar-se mais para ajudar o desenvolvimento dos sócios menores.

"O mea culpa oficial do Brasil pelo seu destrato comercial ao Uruguai e a promessa de corrigi-lo é uma boa notícia se desta vez isso se cumprir", afirmou em editorial o jornal " El Observador ".

O texto diz que a viagem de Amorim é uma "esperança", mas que essa esperança tem de se traduzir em fatos concretos.

A crise no Mercosul se agravou com o conflito entre Uruguai e Argentina por causa da instalação de duas fábricas de polpa de celulose no lado uruguaio da fronteira.

Manifestantes argentinos bloquearam durante vários meses o trânsito entre os países, causando prejuízos ao Uruguai e violando um dos princípios do Mercosul, a livre circulação.

Na esteira do conflito, o Uruguai ressuscitou a idéia de buscar acordos comerciais fora do bloco, possibilidade que Brasil e Argentina rejeitam.

"Temos que demonstrar que, num processo de integração, somos capazes de ajudar aos sócios menores", disse Amorim na semana passada, durante visita a Buenos Aires.

Essa ajuda viria com a melhoria das condições de acesso dos produtos provenientes dos países pequenos ao mercado brasileiro e por meio da participação do Brasil em projetos locais de energia e infraestrutura.

Para isso, viajam com o chanceler funcionários dos ministérios do Desenvolvimento, Minas e Energia, Agricultura e de organismos de certificação como o Inmetro.

Até julho, a presidência pro-tempore do bloco será ocupada pela Argentina, e o cargo irá depois para o Brasil.

Uma das queixas uruguaias é que o governo de Buenos Aires usou sua posição para evitar que o Mercosul tratasse da questão das fábricas de celulose.

O Brasil apóia o argumento argentino de que o conflito, no que diz respeito à possível contaminação que as fábricas venham a causar, tem de ser resolvido de maneira bilateral, de acordo com a decisão da Corte Internacional de Haia, onde o caso está sendo discutido.

Mas o Brasil admite levar para um tribunal arbitral do Mercosul a queixa uruguaia em relação aos prejuízos causados pelos bloqueios. (Paulo Braga)

509) De volta ao tema dos EUA como poder imperial

O biógrafo de Keynes e autor de um "much acclaimed" The Road from Serfdom, Lord Skidelsky, volta ao tema dos EUA enquanto novo império.
Ver o artigo completo neste link. Abaixo um resumo.

Hot, Cold & Imperial
By Robert Skidelsky
The question of how the world should be run, and America's part in its running, is the subject of much academic and political discussion in Washington these days. The factual questions are: Is the United States on the road to becoming an empire like the Roman and British Empires before it? What are the prospects for such an enterprise in today's world? More speculatively, does globalization require an imperial underpinning? There are also questions of value: Is imperialism a good or bad thing? Should the United States sacrifice its republican institutions in order to fulfil an imperial vocation?

Para ler o artigo completo, follow the link.

508) Um embaixador do barulho?

Serviço público de informação. Da coluna diária de Cesar Maia (23/06/2006):

EDIÇÃO ESPECIAL E EXCLUSIVA!
O EMBAIXADOR-AGENTE DO SNI QUE DENUNCIAVA, PRENDIA E COMPRAVA TRAIDORES!

Todos aqueles que lutaram por um regime democrático não podem ficar calados frente a um fato gravíssimo que é um governo - de partido do qual participam tantos que lutaram pela mesma causa, que foram presos e aviltados- indenizar e promover um embaixador que se prestou aos papéis mais sórdidos no período ditatorial. Tantos democratas que lutaram -pagando com sua saúde, sua vida, seu futuro- se encontram hoje em atividades profissionais as mais diversas e em partidos políticos distintos, em situações diferentes. Mas esse passado nos faz convergir.

Sou daqueles que entende que anistia é anistia, e para todos os lados. Mas indenizar um servidor público que em condição de mando ocultou sua identidade de agente de espionagem e delação, na carreira diplomática, e agora -inacreditavelmente- promovê-lo na aposentadoria, a embaixador da Guiné, como prêmio especial e reparo do que fez, é inaceitável. É escandaloso. O próprio processo que refez a decisão da comissão dirigida pelo embaixador Ricúpero, o indenizou e lhe concedeu direitos, deveria ser revisto a bem da moralidade pública e da integridade democrática.

Tive ocasião -uns poucos anos atrás- contar em artigo na imprensa (clique no final), o que se fez na embaixada brasileira em Santiago cujos "porões” serviram para reunião preparatória dos golpistas no dia 7 de setembro, no aniversário de nossa Pátria. A repercussão no Chile foi enorme. Aqui -a investigação que pedi- não foi feita. E tudo em defesa da história do Itamaraty, que orgulha a todos nós brasileiros como padrão de serviço público. Se este ato for consumado, o Itamaraty estará sendo tão seviciado quanto foram os atingidos pelas sevícias praticadas ou estimuladas pelo embaixador-agente. Não vou fazer história para trás, sobre a segunda guerra mundial e as origens nazistas dele, pois não posso transferir responsabilidades por gerações. Mas os arquivos franceses podem contar. Mas não descarto que por educação ou por dna se possa explicar muito.

As notas abaixo são encaminhadas para leitura dos senhores senadores e para o próprio presidente da república e seu ministro de relações exteriores. Reflitam e não maculem a democracia e a diplomacia, brasileiras. Não se pede revanche. De forma alguma. Pede-se respeito. Respeito apenas.

DESRESPEITO AO SENADO !
Pensando que ainda estava na ditadura e que o Senado ainda era casa de simples ratificações dos atos do executivo, o embaixador dedo-duro, já tomava decisões como se o Senado fosse apenas uma formalidade, um passeio !

20/ 04/ 2006 Editor da UnB.
Embaixador quer UnB na Guiné
Mais nova representação brasileira no exterior pretende desenvolver trabalho de combate à Aids com ajuda da universidade
O embaixador do Brasil na Guiné, Jacques Fernandes Vieira Guilbauld, tem uma grande missão pela frente. É o responsável por implantar a representação brasileira no país e, antes mesmo de embarcar, já tem projetos a realizar. Uma de suas primeiras iniciativas visa a ajudar a Guiné a combater a epidemia de Aids, que já atinge 80% dos pouco mais de nove milhões de habitantes. Para concretizar seu plano, pretende levar uma equipe da Universidade de Brasília (UnB) para lá. Guilbauld fez o pedido diretamente ao reitor da instituição, Timothy Mulholland, em encontro realizado na tarde de quinta-feira, 20 de abril.

O CASO DO EMBAIXADOR AGENTE DO SNI !
MINISTRO DE RELAÇÕES EXTERIORES ENCAMINHOU O PEDIDO DE AGREMENT E OCULTOU, (OU FOI CÚMPLICE?), A EXPULSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO E SEU PASSADO TENEBROSO! É CASO DE AFASTAMENTO DO MINISTRO POR OMITIR INFORMAÇÃO RELEVANTE AO SENADO!

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Palácio Itamaraty
Nota nº 259 - 26/04/2006
Distribuição 22
Concessão de "agrément" ao Embaixador do Brasil na República da Guiné
O Governo da República da Guiné concedeu "agrément" ao Embaixador Jacques Claude François Michel Fernandes Vieira Guilbaud como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Brasil naquele país.

MAIS HISTÓRIAS DO EMBAIXADOR DEDO DURO !
ISTOÉ de 10 de setembro de 2003.
Chile
Foi na condição de “araponga” que o diplomata Jacques Guilbaud serviu no Chile. Cumprida a “tarefa” de espionar exilados, ele seguiu para Portugal em 1977. “Minha missão seria a de apurar, isto é, confirmar o envolvimento de diplomatas brasileiros com os soviéticos (KGB)”, escreveu Guilbaud ao advogado Francisco Arrais Rosal, referindo-se à polícia secreta da extinta União Soviética. Apesar de ter desempenhado um papel pouco nobre no período, Guilbaud conquistou do governo federal, no fim do ano passado, uma pensão mensal vitalícia de R$ 8.500, além de uma indenização de R$ 955 mil, como se tivesse sido vítima de perseguição pela ditadura brasileira.

Pelos registros do Itamaraty, o diplomata foi demitido em 1980, por abandono de emprego, quando servia no Consulado de Toronto, no Canadá. O embaixador Rubens Ricupero, hoje secretário-geral de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas (Unctad), em Genebra, na Suíça, presidiu a comissão que se deslocou para Toronto para apurar os motivos da ausência do diplomata. Como Guilbaud não atendia o telefone, um funcionário foi enviado a sua casa, mas ele se recusou a assinar uma citação. De uma segunda vez, quem atendeu foi a empregada, que ficou de chamar Guilbaud. “Passou um certo tempo e a rua foi invadida por carros de polícia, que prenderam nosso representante. Guilbaud chamara a polícia dizendo que éramos do esquadrão da morte e íamos exterminá-lo”, relata Ricupero. Curiosamente, o secretário-geral não foi ouvido pela Comissão de Anistia que decidiu pela indenização de Guilbaud.

O MACABRO CASO DO EMBAIXADOR DEDO-DURO !
Já em 2004 era denunciado !
CartaCapital, 14/7/04
“A LEI NÃO É PARA QUEM VENCEU”
Suzana Lisbôa, representante de familiares de desaparecidos e mortos, discorda de critérios e valores de indenizações. Desde a primeira Lei de Anistia, há 25 anos, a gaúcha Suzana Lisbôa está engajada na luta pelos direitos dos familiares de mortos e desaparecidos na ditadura.

CC: A quem cabe a decisão final quanto aos valores?
Ou aquele diplomata, Jacques Guilbaud, que prestava serviço para a ditadura. Se ele foi demitido injustamente, deve ser reintegrado ao Itamaraty, mas nunca pela Lei de Anistia, porque jamais teve participação política contra a ditadura. Essa lei não foi feita para quem venceu, e sim para quem perdeu aquela guerra. Mas, pelos critérios que essa comissão está julgando, vai acabar aprovando o pedido do Cabo Anselmo também, o que é um escárnio. (O Cabo Anselmo, informante da repressão, levou à morte dezenas de antigos companheiros. Deu entrada no pedido de indenização em 1º de abril deste ano.)

MAIS NOTÍCIAS DE CONACRI !
Quando se conhece a vida pregressa do Embaixador Jacques Guilbaud se fica ainda mais estarrecido. Ele prestava serviços ao SEDOC (Serviço de Documentação), do Itamaraty, que usava esse nome fantasia para encobrir suas relações diretas com o SNI. Dois funcionários estão vivos e serviram nesse serviço e poderão depor a respeito na Comissão de Relações Exteriores do Senado: os Ministros Murilo de Miranda Basto Filho e Agildo Sellos de Moura. Ambos residem em Brasília.

O Embaixador Francisco Soares Alvim, na Costa Rica, poderá contar como sua casa em Paris foi invadida por elementos daquele serviço, capitaneados pelo diplomata Paulo Sérgio Nery. Foi um ato de barbárie, cometido num território estrangeiro. As razões para sua reintegração à Carreira e, agora, para sua designação para um posto diplomático são falsas. Trabalhava com total independência, num canal próprio de comunicações com o SEDOC e o SNI. Nem o Embaixador, General Fontoura (ex-Chefe do SNI) sabia o que ele fazia. Comentava-se na época,no Itamaraty,que ele teria participado do recrutamento do Cabo Anselmo e do Almirante Aragão, que se venderam em troca de uma "pro labore" mensal.

MAIS E MAIS DA PERIGOSA CARREIRA DE AGENTE DO SNI !
Análise da justificativa apresentada pelo ministro das relações exteriores -dizem que assinada por ele e preparara pelo Sargento Garcia,( o Marco Aurélio, é claro). Menciona-se que, em 1974, ele fora nomeado Assistente e Subchefe da Assessoria de Documentação de Política Exterior - nome fantasia do órgão do Itamaraty que fazia interface com o SNI. Em seguida, já treinado,ele foi designado para as Embaixadas em Santiago do Chile e em Lisboa. De ambas foi expulso pelos respectivos Embaixadores, Espedito Rezende e Carlos Alberto da Fontoura. Isso consta por certo dos assentamentos funcionais dele. Não se menciona que o Sr. Guilbaud fora demitido do quadro de funcionários diplomáticos do Ministério das Relações Exteriores em 21/08/1980, "a bem do serviço público", com base nos itens 2, 3 e 4 do artigo 20, combinado com o artigo 209, do Estatuto do Funcionalismo Público Civil da União, por ter incorrido em "abandono de cargo, incontinência pública escandalosa e insubordinação grave em serviço".

Isso é grave, pois se quer induzir os Senadores a um erro de avaliação. Mais adiante, consta a promoção dele a Primeiro Secretário e a Ministro de Primeira Classe - sem passar pelos escalões de Conselheiro e Ministro de Segunda Classe. Os membros da Comissão de Relações Exteriores deveriam ouvir alguns diplomatas que acompanharam de perto as atividades de araponga do Sr. Guilbaud (Embaixador Cláudio Sotero Caio, Ministro Agildo Sellos de Moura, Conselheiro Murilo de Miranda Basto, todos eles aposentados e residentes em Brasília). Não se pode criar constrangimentos aos diplomatas da ativa.

SOBRE O EMBAIXADOR ARAPONGA ?
O Embaixador Claudio Sotero Caio tem um longo dossiê sobre o caso. Deve ser ouvido e ele está disposto a depor.

AQUI O ARTIGO CITADO NA INICIAL !
http://geocities.yahoo.com.br/blogdocm/artigojb.pdf
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Pesquisa e Edição : JCM
Para indicar um amigo : http://cesarmaia.blogspot.com/

quinta-feira, 22 de junho de 2006

507) Dimensions sociales de l'integration en Amerique du Sud

Anuncio a publicação, em site da Unesco, de meu trabalho apresentado em Montevidéu, no último mês de fevereiro, como segue:

La dimension sociale de l’intégration en Amérique du Sud: politiques stratégiques et options sociales

Mesa-redonda de reflexões sobre “Les Dimensions Sociales de l’intégration en Amérique du Sud: problématiques émergentes et multilatéralisme régional”, organizado pela Unesco e pelo Secretariado do Mercosul em Montevidéu (22-23.02.06).
Publicado nos anais do “Symposium de Haut Niveau sur les Dimensions Sociales des processus d’intégration régionale, no site da Unesco (Paris: Unesco, série Multilatéralisme régional, nº 6, 15 p.; SHS-2006/WS/MR/6)

disponível no link: http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001462/146221F.pdf

506) Discussão e análise da National Security Strategy dos EUA

O Real Instituto Elcano de Relações Internacionais, da Espanha, traz vários papers analíticos e material de referência sobre a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, de 2002, mas revista este ano. Recomendo particularmente a leitura do paper "La Estrategia de Seguridad Nacional de Estados Unidos de 2006", de Felix Arteaga, precedida pela consulta ao resumo em espanhol da NSS 2006, neste link.
Ver abaixo.

ALERTA ELCANO: Tres ARI sobre la National Security Strategy 2006
El pasado mes de marzo la Casa Blanca presentó la Estrategia de Seguridad Nacional (National Security Strategy), que recoge las líneas maestras de la política exterior estadounidense en los próximos años. Ésta es la primera revisión de la doctrina de seguridad nacional presentada en 2002, tras los ataques del 11-S, que situó la lucha contra el terrorismo internacional en el centro indiscutible de atención, como objetivo prioritario de la acción exterior de la Administración Bush.

Ante las importantes implicaciones del documento para la seguridad internacional, el Instituto Elcano acaba de publicar en su Web tres ARI que lo analizan desde diferentes puntos de vista: en primer lugar, el investigador principal de Estados Unidos y Diálogo Transatlántico Soeren Kern, hace un análisis teórico del documento afirmando que la versión revisada, aunque ideológicamente continuista respecto a la de 2002, “intenta combinar el idealismo de los neoconservadores con el pragmatismo de los realistas”; el resultado es la adopción de un nuevo paradigma, el neorrealismo. Isidro Sepúlveda, Director del Instituto Universitario General Gutiérrez Mellado, repasa las formas que ha adoptado la Iniciativa de Defensa Estratégica desde sus orígenes en la Guerra Fría, mostrándose muy crítico al considerar que ésta fue retomada en los noventa en “circunstancias y con un escenario internacional muy diferente para los que originalmente fue creado”. Por último, el profesor del mismo Instituto, Félix Arteaga, insiste en la necesidad de evaluar la Estrategia no sólo en base a su contenido, sino a los resultados, a la vez que hace una lectura del documento en clave española.

Los ARI están disponibles en:
¿Dónde están los neocons? (ARI), Soeren Kern
Promesa o peligro: la materialización de la Iniciativa de Defensa Estratégica (ARI), Isidro Sepúlveda
La Estrategia de Seguridad Nacional de Estados Unidos de 2006 (ARI), Félix Arteaga

Materiales de interés:
National Security Strategy 2006 (en inglés)
Estrategia de Seguridad Nacional 2006 (resumen en español)
National Security Strategy 2002 (en inglés)

Ir a la web del Real Instituto Elcano

quarta-feira, 21 de junho de 2006

505) Você já dormiu em colchao magnético? E nunca ficou grudado na cama, por ter um caráter de ferro?

Sempre me surpreenderei com a inventividade dos vendedores de qualquer coisa. O pessoal sabe edulcorar qualquer produto, com as mais inusitadas promessas.
Dentre o besteirol que recebo todos os dias prometendo maravilhas para melhorar minha vida, selecionei esta publicidade (da qual escondo a marca para não fazer publicidade):

Conheça nosso site: www.colchao........br

"Nossos produtos produzem efeitos energéticos equilibrantes sobre a circulação sanguínea, aliviam males como stress, dores musculares e de coluna, insônia, ansiedade, depressão e ajudam na desintoxicação do organismo. Invista em sua saúde, pois é durante a noite que recuperamos as energias e só dormindo um sono profundo e reparador é que estaremos revigorados para um novo dia.
SAÚDE, nosso bem mais importante."

Clique acima e veja o video demostrativo !!!!
Aguardamos sua visita, qualquer duvidas entre em contato que estaremos prontos a esclarecer.
Atenciosamente
XXXX Colchões Magnéticos - Cidade - Estado
vendas@colchao........br"

Não é uma maravilha? Pena que não é possível experimentar via video...

504) Nuestros hermanos y muy amigos bolivianos (pero con Ejercito...)

Morales diz que usará Exército contra brasileiros que ocupam leste da Bolívia
"Esta terra da Bolívia têm dono. Antes era terra de ninguém", afirma Morales
EFE, 21 de junho de 2006

LA PAZ - O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que recorrerá ao Exército para evitar que brasileiros possuam de forma ilegal terras no leste boliviano, principalmente no departamento amazônico de Pando. "Os pandinos, o movimento indígena, camponês, colonizador, estão pedindo que o Exército apareça. Vamos mandar o Exército para defender as terras do leste boliviano dos brasileiros", disse Morales.

O governante fez a advertência em um discurso a milhares de camponeses em um estádio de futebol da localidade de Punata, no departamento central de Cochabamba, onde falou sobre a revolução agrária que pretende implementar no país.

As autoridades de La Paz denunciaram nas últimas semanas que cidadãos do Brasil estão adquirindo terras de forma ilegal em áreas do território boliviano próximas à fronteira entre os dois países. "Esta terra da Bolívia têm dono. Antes, com certeza, era terra de ninguém, como quando a empresa siderúrgica brasileira EBX operava na localidade de Puerto Suárez, supostamente para construir uma indústria, (mas) sem respeitar as leis bolivianas", acrescentou.

Em abril passado, a EBX foi obrigada por Morales a abandonar o país com o argumento de que violou a Constituição ao se instalar a menos de 50 quilômetros da fronteira com o Brasil e ao construir fornos de fundição sem licença ambiental.

Morales também pediu às autoridades departamentais e municipais que façam o território ser respeitado, para que não ocorra como "antes, quando entrava qualquer brasileiro ou peruano" no povoado de Bolpebra, na tríplice fronteira. "Vamos assegurar a soberania de nossa terra", disse ao ratificar sua intenção de redistribuir os latifúndios ociosos entre os camponeses pobres do país.

503) Pausa para um pouco de humor: as frases mais mentirosas da humanidade

As Frases mais Mentirosas da Humanidade!!!

ADVOGADO:
- Esse processo é rápido.

POLITICO:
- Eu sempre trabalhei pelos pobres!

AMBULANTE:
- Qualquer coisa, Volta aqui que a gente troca.

ANFITRIÃO:
- Já vai? Ainda é cedo!

ANIVERSARIANTE:
- Presente? Sua presença é o mais importante...

BÊBADO:
- Sei perfeitamente o que estou dizendo.

CASAL SEM FILHOS:
- Visite-nos sempre, adoramos suas crianças!

CORRETOR DE IMÓVEIS:
- Em 6 meses colocarão: água, luz e telefone.

DELEGADO:
- Tomaremos providências.

DENTISTA:
- Não vai doer nada.

DESILUDIDA:
- Não quero mais saber de homem.

DEVEDOR:
- Amanhã, sem falta!

ENCANADOR:
- Muita pressão que vem DA rua.

FILHA DE 19 ANOS:
- Dormi na Casa de uma colega.

FILHO DE 19 ANOS:
- Antes das 11 estarei de Volta.

GERENTE DE BANCO:
- Trabalhamos com as taxas mais baixas do mercado.

HOMEM:
- Sou fiel!!! ( essa é a pior )

INIMIGO DO MORTO:
- Era um bom sujeito.

JOGADOR DE FUTEBOL:
- Vamos continuar trabalhando e forte.

LADRÃO:
- Isso aqui foi um homem que me deu.

MECÂNICO:
- É o carburador.

MUAMBEIRO:
- Tem garantia de fábrica.

NAMORADA:
- Pra dizer a verdade, nem beijar eu sei...

NAMORADO:
- Você foi a única mulher que eu realmente amei...

NOIVO:
- Casaremos o mais breve possível!

ORADOR:
- Apenas duas palavras...

OTIMISTA:
- Os últimos serão OS primeiros...

PEIXEIRO:
- Pode levar freguesa; está fresquinho...

POBRE:
- Se eu fosse milionário espalhava dinheiro pra todo
Mundo..

RECÉM-CASADO:
- Até que a morte nos separe.

SAPATEIRO:
- Depois alarga no pé.

SOGRA:
- Em briga de marido e mulher não me meto.

VAGABUNDO:
- Há 3 anos que procuro mas não acho nada.

VICIADO:
- Essa vai ser a última!

EU:
- Esta é a última mensagem que repasso!

LULA:
- Eu, não sei de nada!

502) Nossos amigos do G-20...

Plano alternativo já considera nova ministerial em julho
Assis Moreira
Valor Econômico, 21/06/2006

Um novo cenário se desenha para os 148 países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) tentarem evitar o fiasco total na rodada de negociações para liberalizar as trocas globais: uma nova reunião ministerial no fim de julho entre os principais países exportadores e importadores.

O plano atual do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, prevê que entre 25 a 30 ministros se reúnam na semana que vem em Genebra, para negociar um acordo sobre fórmulas e percentuais para cortar tarifas e subsídios agrícolas e industriais. Se tudo der certo, a negociação será então desbloqueada. Mas na hipótese de que isso não ocorra, poderia haver a reunião alternativa no fim de julho.

Já o Brasil e algumas outras nações acham que, se não houver avanço na semana que vem, os países vão esperar um "impulso político" da reunião entre chefes de Estado do G-8 (Estados Unidos, Alemanha, Japão, Grã-Bretanha, França, Itália, Canadá e Rússia) e de seis emergentes (Brasil, China, Índia, México, África do Sul e provavelmente Nigéria). Não está prevista reunião sobre comércio.

A discussão sobre a OMC, pelo que está previsto até o momento, ocorreria no meio da agenda centrada em combate a doenças e outros problemas. Nos círculos da OMC, a expectativa é que os chefes de Estado então dêem novas instruções a seus ministros para se reunirem de novo e só saírem com um acordo ou com o fiasco total.

A questão que esse cenário traz é como se poderá resolver as divergências entre os países três semanas depois. Quem mudará de posição nesse período? Como na OMC a experiência mostra que cada nação persiste até o último momento para arrancar concessões dos outros, nada pode ser descartado.

Numa conversa com jornalistas ontem cedo em Genebra, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, preferiu insistir na sua visão "esperançosa" de avanço na semana que vem. Mas deixou claro que, se os ministros vierem com as mesmas instruções, evidentemente a situação vai se complicar ainda mais.

"A UE precisa fazer um pouco mais em corte de tarifas agrícolas e os Estados Unidos substancialmente mais no corte de subsídios domésticos", cobrou o ministro. Amorim presidiu uma reunião do G-20, o grupo liderado pelo Brasil na negociação agrícola. E sua mensagem insistente foi a importância de se manter a unidade do grupo.

De fato, unidade há, no momento, até porque as perspectivas de avanço sobre questões essenciais são pequenas. Mas os sinais de divergências também são claros no grupo, especialmente sobre as flexibilidades para países em desenvolvimento no futuro acordo agrícola.

Exportadores como Argentina, Uruguai, mesmo Paraguai, preocupam-se com o protecionismo da China, Índia, Indonésia e outros países que são membros do G-20, mas também fazem parte do G-33.

O G-33 quer designar 20% de suas linhas tarifárias agrícolas como produtos especiais, sem compromisso de redução tarifária - comparado à proposta de 1% feita pelos EUA. Igualmente pede enorme flexibilidade para definir quais são esses produtos e para frear as importações. Ou seja, ter o direito de impor salvaguarda e sobretaxas, se o volume de importação de um produto agrícola aumentar mais de 5%, ou se o preço declinar quando comparado com uma média de preço de três anos anteriores.

Uruguai e Paraguai apresentaram na OMC um amplo documento defendendo que salvaguardas especiais não se convertam em instrumentos permanentes e sim sejam utilizadas apenas em situações de urgência e conjunturais. "Se não, obviamente vai ter mais distorções no mercado agrícola", disse o embaixador paraguaio, Rigoberto Gauto Vielman.

O agronegócio brasileiro também acompanha atento a questão. Cerca de 50% das exportações agrícolas brasileiras vão para os países em desenvolvimento. A esta altura, o setor quer pelo menos evitar perder mercado, porque isso poderia acontecer se prevalecer a posição de nove dos 21 países membros do G-20, liderados pela China, Índia e Indonésia.

501) Modelo indiano (se existe algum): artigo da Foreign Affairs

The India Model
Gurcharan Das

After being shackled by the government for decades, India's economy has become one of the world's strongest. The country's unique development model -- relying on domestic consumption and high-tech services -- has brought a quarter century of record growth despite an incompetent and heavy-handed state. But for that growth to continue, the state must start modernizing along with Indian society.

* Click for the full text neste link da Foreign Affairs.
Ou então neste link do meu blog Textos PRA.

500) Comemorando o 500º gol (isto é, post)

Este é o meu post sequencial número 500, e por isso vale uma comemoração.
Não é o 500º post absolutamente, pois, uma vez que disponho de quatro ou cinco outros blogs, eles são talvez o dobro disso, mas significa o 500º post num blog que considero como o principal instrumento de comunicação.
Fica registrado o evento, e depois eu volto com bolo e velinhas, ou melhor, com algum comentário menos idiota do que o que fiz acima...

499) Uma perda brutal: um amigo se vai... (in memoriam Paulo Joppert Crissiuma)

Fui informado, burocraticamente, pelo Boletim Diário do Ministério das Relações Exteriores, na data de hoje (21 de junho de 2006), desta notícia para mim brutal:

NOTAS DE FALECIMENTO
* Faleceu no último dia 18, em Houston, o Ministro de Segunda Classe Paulo Joppert Crissiuma.

Pressentimento é uma coisa que a gente não sabe explicar, mas que parece funcionar. Poucos dias atrás, talvez no próprio dia 18 ou 19, eu me lembrei do Paulo Joppert, meu grande amigo desde o início na carreira, nos idos de 1977, e me disse: preciso ligar para ele, em seu apartamento de Houston. Eu havia falado com ele aproximadamente um mês e meio atrás, assim como com sua mãe, no Rio de Janeiro, na mesma ocasião.
Ele me relatou então o sucesso da sua operação de transplante de medula, de um doador compatível, e as etapas ainda envolvidas na sua recuperação, que seriam longas e talvez duvidosas.
Mas, eu tinha sentido em sua postura, em sua voz, em sua ênfase e pensamentos, uma tremenda vontade de vencer. Tinha ficado emocionado, ao falar com ele, mas dissimulei meu sentimento, para lhe transmitir todo o meu carinho possível e toda a minha solidariedade na sua luta contra a doença.
Eu tinha, inclusive, alguns meses antes, me oferecido como possível doador, o que ele gentilmente descartou, com razão, em vista de todos os screennings científicos conduzidos pelo hospital de Houston para assegurar que o doador fosse, efetivamente, compatível no grau máximo com as necessidades do receptor.
Eu estava contente que Paulo Joppert já se encontrava fora do hospital, em flat privado, próximo do hospital, sendo assistido por um familiar, no caso uma irmã. Estava contente e esperava voltar a vê-lo em pouco tempo.
A notícia brutal, tal como transcrita acima, vem nos acordar para a triste realidade dos limites da medicina a determinadas doenças que afetam terrivelmente o ser humano. Nem tudo é possível o tempo todo. Tendo perdido meu pai em circunstâncias similares, ainda que não semelhantes, sei que, efetivamente, a medicina tem limites em face de males ainda difíceis e avassaladores.

De todo modo, eu não queria deixar passar um minuto sequer sem registrar meus sentimentos em face do que acabo de ler no Boletim.
Todos os meus sentimentos e minha solidariedade à família do Paulo Joppert Crissiuma, e minha lágrima de saudade a um amigo do peito, de quem eu gostava muito.
Vale.

498) O Português da política externa

Não, não estou querendo contar nenhuma piada de português diplomata. O meu Português é outro, é a própria última flor do Lácio, que anda sendo maltratada por aí, em todas as partes. Já sabíamos que a língua sofre nas novelas e nas entrevistas, para não dizer nada das augustas tribunas do Congresso, onde os funcionários da taquigrafia e os encarregados da redação dos anais, depois, tentam contornar os atentados continuamente perpetrados por suas excelências e outros nobres parlamentares contra o idioma indefeso.
Mas, o que surpreende é encontrar erros primários de português em publicações oficiais, como a que acabo agora de receber, da própria Presidência da República. Chegou-me de surpresa, no dia 19 de junho, um grosso e enorme envelope pardo, da PR, que aberto revelou pelo menos dez exemplares de um “jornal oficial”: “Brasil: um país de todos, Governo Federal” (Junho/2006, Ano 4). Fui direto à p. 31, que era o que me interessava mais de perto: “Relações Exteriores”, cujo título é prometedor: “Diálogo em novo patamar”.
Nada a comentar quanto à substância, que me pareceu correta, honesta, mais para o grandiloquente do que para o objetivo, mas propaganda oficial é assim mesmo, como já sabíamos pela teoria do Ricupero (em sua encarnação de ministro da Fazenda). Há uma sucessão de sucessos, como seria de se esperar, em vários continentes e foros mundiais, sem espaço para qualquer dúvida ou contestação. Leio: “O Brasil vem apostando [só apostando?] no fortalecimento de sua soberania e afirmando o seu papel no mundo”. Tudo bem, quem pode ser contra tal programa de afirmação nacional e engrandecimento da pátria?
Mas, o que leio que me ativou a corda linguística? Esta pérola: “Nesse período, o Brasil não se descuidou dos parceiros tradicionais na Europa e Estados Unidos”. Como “se descuidou”? Tropeços com parceiros não tradicionais? Mas, segue o texto: “Em 2005, o País encaminhou delegações a visitas dos chefes de Estado dos Estados Unidos, Espanha, França, Rússia, Portugal, Itália e Inglaterra [acho que deveria ser Reino Unido, mas vá lá].” Como é que o país pode enviar delegações a visitas de chefes de Estado? Para mim este é um dos vários insondáveis mistérios linguísticos deste texto.
Mais adiante vem um conceito que eu ainda não tinha encontrado na terminologia diplomática: se diz que prosseguem as articulações “com as demais nações para tornar o Brasil um membro efetivo do Conselho de Segurança da ONU”. Como efetivo? Trata-se de uma nova categoria de membros, entre os permanentes e os temporários?
Há outros exemplos, como este aqui: “As comunidades brasileiras no exterior, que já atingem 4 milhões de pessoas...”. Como atingem? Um verbo transitivo direto? Deve ser entendido no sentido de compreender ou de alcançar?
Enfim, nada contra a política externa, mas o Português deveria ser revisto, do contrário pode virar piada...

Brasília, 21 de junho de 2006

terça-feira, 20 de junho de 2006

497) Ops, não falharemos da próxima vez...

O número 5, correspondendo aos meses de julho, agosto e setembro de 2006 da revista "DEP" (Diplomacia, Estratégia e Política), editada pelo "Projeto Raúl Prebisch" de Brasilia (uma cobertura para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil), deverá trazer um artigo do presidente eleito (e provavelmente já empossado) do Peru, Alan Garcia, ou pelo menos de seu chanceler designado, que não sabemos ainda quem será...

Bem, o que escrevi acima é um chute, um monumental chute, mas ele tem alguma verossimilhança.
Pelo menos é o que eu interpreto da trajetória dessa revista que, criada pelo Secretário Geral das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, tem como vocação veicular as vozes autorizadas da diplomacia sul-americana, a começar pelos próprios representantes oficiais das chancelarias locais.
De fato, desde seu aparecimento, mais de um ano atrás, a revista tem limitado-se a publicar artigos de personalidades da e sobre a América do Sul, com destaque para seus porta-vozes oficiais, presidentes, chanceleres, augustos funcionários. Tudo isso dá uma tremenda sensação de "langue de bois", isto é, chapa branca, mas pelo menos se sabe o que as chancelarias têm a dizer, ou pelo menos o que elas querem que a gente acredite que elas pensam que nós acreditamos...(difícil de entender?; never mind...).

Mas, não é que no número 4 da DEP, correspondendo aos meses de abril a junho de 2006, a revista ousou ir além da "langue de bois"? Sim, ela publicou material "oposicionista".
Assim pelo menos interpreto a publicação de dois artigos que destoam do tom comedido e oficioso (para não dizer oficial) dos demais.
Vejamos: ao lado de artigos do chanceler argentino Jorge Taiana (sobre os "Objetivos e desafios da política exterior argentina"), do presidente Evo Morales (sobre a "Bolívia, fator de integração", sem sic), de Michelle Bachelet (sobre o "Programa de Governo, 2016-2010", do Chile) e, entre outros, do vice-presidente da República Bolivariana da Venezuela, José Vicente Rangel ("Há um outro mundo, e está neste"), comparecem dois artigos que poderiam ser classificados de "oposicionistas", ou pelo menos como contestadores.
O primeiro vem assinado por Germán Umaña Mendoza, professor associado da Universidade Nacional da Colômbia, e tem como título "A armadilha do bilateralismo".
O segundo foi assinado por ninguém menos que Ollanta Humala, o candidato presidencial derrotado por Alan Garcia, nas recentes eleições presidenciais do Peru, e tem como título "A Grande Transformação" (e trata-se, mais exatamente, de seu programa de governo, extremamente detalhado e bastante transparente por sinal).
O primeiro artigo é uma crítica ao bilateralismo nas relações comerciais e constitui uma bem fundamentada argumentação acadêmica sobre os malefícios da aceitação inquestionada dos princípios de política comercial dos países desenvolvidos, em especial dos EUA, pelos países em desenvolvimento. Uma seção do artigo tem como título "Colômbia: um mau exemplo para os países em desenvolvimento".

Considerando-se, agora, que Alvaro Uribe foi reconduzido com uma vitória aplastante à presidência da Colômbia e que Alan Garcia ganhou as eleições no Peru, o mínimo que se pode esperar de uma revista governista como a DEP é que ela traga, em seu próximo número artigos que reflitam essa nova realidade sul-americana.

Os artigos "oposicionistas" do número 4 podem não representar um "faux-pas", uma vez que a revista é livre para publicar todas as correntes de opinião, mas considerando-se que em sua trajetória até o momento ela foi relativamente governista em suas manifestações, espera-se o restabelecimento da balança.

Veremos, pois, em mais ou menos três meses...

496) Viva Samuel Morse, o antecessor dos blogs...

Leio na minha coluna do "This Day in History" que:

1840 Samuel Morse patents his telegraph

Eu creio haver postado, mais cedo neste ano, uma nota sobre a expedição do último telegrama pela Western Union, e o encerramento desta gloriosa fase da primeira internet da história.
A invenção de Morse (não a sua patente, que deve ter durando no máximo 15 ou 17 anos) aguentou firme por mais de um século e meio, mas de fato ela já vinha batendo pino desde que o telefone e o correio eletrônico fizeram suas respectivas entradas em cena (e, na verdade, os "telegramas" já eram transmitidos por telefone desde várias décadas).
Do Código Morse eu só cheguei a aprender os famosos três pontinhos, três longos sinais e três pontinhos dos sinais de SOS, mas sempre achei essa linguagem genial, tanto quanto a de surdos-mudos e o Braille.

Grandes invenções têm o poder de aguentar a passagem do tempo.
Agora que as autoridades penitenciárias estão proibindo sinais de celulares nos presídios, os criminosos e facínoras teriam interesse em conhecer o Código Morse, para ficar batucando de uma célula a outra até mandar alguma mensagem ao exterior.
Advogados criminosos (e parece que existem alguns) também vão precisar aprender Código Morse, mas não sei se a OAB vai oferecer esse curso.

Acho que a invenção de Morse não está de fato morta. Ela só está esperando, como o conde da Transilvânia...

495) Quem pode entender?: blogs e mais blogs...

Eu estava começando a achar que não havia mesmo fundamentos para conspirações, quando as velhas feiticeiras de Shakespeare voltam a me fazer surpresas.
Meu blog Diplomatzando - o antecessor de um só "z" deste aqui -- voltou temporariamente a funcionar e até chegou a aceitar dois novos posts sem problemas, estes aqui:

486) Nao acredito em teorias conspiratorias, mas...
e
487) Ultima forma, folks: parece que a mula desempacou...

Desconfiado, quis fazer novo teste, e preparei novo post, que transcrevo abaixo. E não é que, só para me desmentir, ele voltou a empacar outra vez?
Bem, até este aqui empacar por sua vez (e ele ficou fora do ar durante quase toda a segunda-feira 19/06/06), vou postar aqui exclusivamente.
Até que eu consiga pensar em algum post sobre a teoria e a prática das "teorias conspiratórias da história", fiquem com o meu post frustrado, que permanece escondido no Diplomatizando.
Até a próxima, guys (eu disse guys)...

Transcriação do meu frustrado post no Diplomatizando:

"488) Parece que o bichinho está andando de verdade...

Sorry, guys (eu disse guys...),
Não sei como explicar, mas este meu Diplomatizando desempacou e o meu Diplomatizzando, que nao abria, voltou a funcionar.
Como explicar? Eu sinceramente não sei.
O fato é que eu escrevi para o balcão de reclamações do free lunch (esqueci o endereço, mas foi algum e-mail do blog support deste maravilhoso empreendimento capitalista que desmente a frase de Milton Friedman) e, de repente, apareceu algum aviso na minha tela falando de Java script e de cookies (vocês sabem, aqueles biscoitinhos chineses que veem com alguma coisa escrita dentro e são a própria teoria conspiratória da história...)
Em todo caso, agora estou com excesso de blogs e como não posso vender nenhum, vou ter de compatibilizar todos eles.
Apesar de manter blogs para todos os gostos e funções, acho que eles estão comecando a ficar excessivos...
Quem sabe o meu primeiro, narcisístico, também volta a funcionar?
Não custa tentar...
Em todo caso, vou ter um sério problema de numeração e vou precisar de algum matemático para operar uma regressão..."

494) O Doutor Helio ataca outra vez...

Um prêmio pela pertinácia e constância na arte de salvar o Brasil
Paulo Roberto de Almeida

Tudo bem, eu sei que jovens estudantes costumam praticar intensamente "lavoisieries", ou seja, aquele velho habito de usar trabalhos antigos para fazer novos, segundo as demandas de professores diferentes, seguindo nisso um velho principio que aparentemente teria sido consolidado por Lavoisier, ao afirmar este que "na Natureza nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma..."
OK, OK, mas e quando esse tipo de prática é feita por veneráveis senhores de 83 anos?
O Doutor Helio Jaguaribe vem tentando salvar o Brasil desde os anos 50 pelo menos, ou seja, há mais de meio século, o que é digno de ser elogiado e mereceria mesmo um prêmio pela persistência.
A tendência foi retomada na redemocratizaçáo de 1985, quando o Doutor Hélio "vendeu" ao presidente Sarney o plano dito "Brasil 2000", ou seja a salvação precisava ser alcançada em menos de 15 anos, do contrário se fechariam as tais "janelas de oportunidades" e aí estaríamos irremediavelmente condenados ao caldeirão dos casos inviáveis, seriamos cozinhados em fogo lento por mais meio século pelo menos.
Passou o governo Sarney, veio o Collor e o Doutor Hélio "vendeu" novamente seu plano, devidamente "recauchutado", ao novo comandante em chefe, que tinha os seus próprios planos, certamente neoliberais (o que não impediu o Doutor Hélio de trabalhar para ele enquanto pôde).
Veio a "fernandécada" -- a expressão é do gentil ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa -- e o Doutor Hélio aplicou mais um pouco de Lavoisier nos seus planos salvacionistas e conseguiu descolar mais uma graninha do príncipe dos sociólogos, agora reconvertido em presidente "esqueçam-o-que-eu-escrevi" (o Doutor Hélio também poderia praticar essa refinada arte).
Passou a "fernandécada" e o Doutor Hélio se reconverteu em eleitor do paladino das massas trabalhadoras, não sem um olhar crítico em direção da política econômica neoliberal que ele passou a condenar com toda a veemência que se espera de um iluminado.
Na transição do "ancien régime" tucanês para o "nouveau régime" mudancês, o Doutor Hélio encontrou alguma maneira de compilar mais um plano salvacionista, que, como diz a matéria abaixo, permaneceu engavetado durante estes três últimos anos e meio.
Agora, o Doutor Hélio desenterra mais uma vez o seu plano e apresenta para o novo comandante em chefe, na esperança que ele possa pelo menos implementá-lo (mas, alto lá: sem essa horrível política econômica neoliberal, pois é isso que está matando o Brasil desde os anos 1980, adverte ele).
Acho que o Doutor Hélio merece um prêmio pela constância e pertinácia com que defende as suas idéias e propostas.
Proponho que ele se chame, adivinharam?, "Prêmio Lavoisier"...

Brasília, 19 junho 2006


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Consenso por um país mais justo
Aos 83 anos, o cientista social Hélio Jaguaribe aponta o caminho para o Brasil se tornar desenvolvido em 20 anos
(Boletim eletrônico do Congresso Nacional, em 19/06/2006, neste link)
Edson Sardinha
Elevar dos atuais US$ 3,6 mil para US$ 14 mil a renda per capita do brasileiro. Reduzir a taxa de desemprego de 18% para 5% e criar 38 milhões de novos postos de trabalho. Erradicar o analfabetismo (que hoje atinge 14% da população com mais de 10 anos de idade), diminuir o analfabetismo funcional de 30% para menos de 10% da população com mais de 15 anos e elevar o índice de escolaridade dos atuais 6,7 anos para 11 anos. Tudo isso a partir de um crescimento econômico anual superior a 6%. Realidade ou sonho? Essas são algumas das metas do documento "Brasil: para um projeto de consenso", que pretende incluir o país na lista das nações desenvolvidas em, no máximo, duas décadas.
Coordenado pelo sociólogo Hélio Jaguaribe e pelo economista João Paulo de Almeida Magalhães e relatado pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o projeto será entregue até agosto ao presidente Lula e ao candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. Uma versão da proposta foi apresentada sem sucesso aos candidatos ao Planalto em 2002.
Na época, ninguém encampou a idéia. Nem mesmo o relator Mercadante, que, por três anos e meio, foi líder do governo Lula no Senado. "Lula não estava interessado no projeto, mas em consolidar o poder do PT. Essa coisa não deu certo. Com as lições obtidas no primeiro mandato, na provável hipótese de vir a ser reeleito, Lula irá querer fazer coisas diferentes", acredita Jaguaribe.
Amigo há cinco décadas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e eleitor de Lula na eleição passada, o sociólogo defende a tese de que, sem um consenso suprapartidário sobre os principais objetivos do país a longo prazo, o Brasil não conseguirá dar o salto prometido e adiado sucessivamente pelos governos de plantão.
"O Brasil teve idéias a respeito do que lhe convinha apenas nos governos Vargas e Kubitschek. A partir daí ficou sem projeto. Isso é uma coisa grave porque, atualmente, estamos totalmente entregues às vicissitudes do mercado. E o mercado não opera necessariamente a favor dos países subdesenvolvidos e muito menos no sentido de acelerar o crescimento desses países", observa o professor.
Caminho do crescimento
Assinada por parlamentares de pensamentos tão divergentes quanto José Carlos Aleluia (PFL-BA), Jefferson Peres (PDT-AM) e Yeda Crusius (PSDB-RS), a proposta também apresenta estratégias de transição, como a superação da fragilidade fiscal do Estado, a revisão do papel do Mercosul, a discussão do acordo com a Alca e a implantação de uma Carta de Responsabilidade Econômica e Social.
Para retomar a rota do crescimento, afirma Jaguaribe, o Brasil terá de mudar a orientação de sua política econômica e contar com a vontade política do próximo presidente. "E liberação em grande massa de recursos para tornar possíveis esses projetos, o que significa corte vertiginoso de juros, protegido por medidas que evitem a crise cambial, e redução da carga fiscal. Com controle de câmbio, carga fiscal menor e juros pela metade, o Brasil passará a ter R$ 70 bilhões por ano para projetos prioritários", ensina.
Na avaliação dele, o país está no caminho certo para alcançar a segunda meta do projeto de consenso, ou seja, a erradicação da miséria. "O Brasil está hoje menos miserável do que estava quando Lula começou o governo. Essa política é correta, mas não é suficiente porque não está eliminando as causas da miséria. Está compensando os miseráveis com auxílio público. É preciso que os miseráveis tenham condições próprias para sobreviver. Isso significa crescimento econômico, educação e emprego", ressalta.
Lula na berlinda
Crítico do receituário neoliberal, Jaguaribe condena a continuidade da política econômica do governo FHC pelo governo Lula e avisa que não votará novamente no petista caso ele não sinalize com mudanças. "Se Lula não fizer uma ruptura com esse projeto neoliberal, não votarei nele em nenhum momento", alerta. "O governo Lula é um governo de boas intenções e modestas realizações", classifica. Na avaliação dele, Lula tornou-se um mito e, por isso, chega favorito às urnas em outubro, a despeito dos erros de seu governo. "Esse é um mito que não se destrói por argumentos puramente racionais. Ele resistiu aos maus aspectos do governo Lula", considera.
Do alto de seus 83 anos, Jaguaribe é um dos intelectuais mais respeitados do país. Nos anos 1950, fundou ao lado de outros estudiosos o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), que funcionou como núcleo irradiador de idéias e de políticas públicas inovadoras. Com o golpe militar de 1964, mudou-se para os Estados Unidos, onde lecionou até 1969, quando retornou ao Brasil.
Um dos fundadores do PSDB, Hélio Jaguaribe deixou a vida partidária em 1992 para ser secretário de Ciência e Tecnologia do governo Collor. Após o impeachment do presidente, decidiu dedicar-se exclusivamente à vida acadêmica. Atuando como pesquisador e decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes), cuja sede fica no Rio de Janeiro, o sociólogo continua um observador atento da cena política. Veja a íntegra da entrevista dele ao Congresso em Foco.
Congresso em Foco - O senhor tem dito que importa menos para o Brasil que o próximo presidente seja Lula ou Alckmin. O que importa é a definição de uma agenda púbica para o país. Que agenda é essa?
Hélio Jaguaribe - A idéia de consenso comanda a ação de todos os países desenvolvidos. Existe consenso na Grã-Bretanha, nos EUA, na Europa e no Japão a respeito dos principais objetivos desses países. O Brasil teve idéias a respeito do que lhe convinha apenas nos governos Vargas e Kubitschek. A partir daí ficou sem projeto. Isso é uma coisa grave porque, atualmente, estamos totalmente entregues às vicissitudes do mercado. E o mercado não opera necessariamente a favor dos países subdesenvolvidos e muito menos no sentido de acelerar o crescimento desses países. O Brasil está precisando desesperadamente de um consenso nacional a respeito dos seus objetivos fundamentais, independentemente da alternância democrática de partidos e lideranças. Seja Lula, seja Alckmin, seja quem for, o próximo presidente não pode continuar desprovido de projeto nacional como tem sido até agora. Essa iniciativa retoma um projeto que foi objeto de consenso parlamentar de alto nível em 2002 e que não teve seqüência porque o relator, que era o senador Aloizio Mercadante, passou a ter uma vida partidária muito ativa e não pôde se ocupar de uma idéia transpartidária e de consenso.
Qual o eixo desse projeto?
Isso vai depender da maneira com que essa idéia de consenso for assimilada pela classe política e admitida pelos candidatos. Fizemos uma primeira comunicação dessa nova redação do projeto de consenso ao presidente interino, Renan Calheiros, numa ausência de Lula. Estamos programando um encontro com o presidente da Fiesp este mês para programar um grande lançamento nacional, em data ainda a ser fixada, visando a conscientizar a classe política e os dois principais candidatos da absoluta necessidade de que certas medidas mínimas sejam objeto de seus programas de governo.
Que metas são essas?
São metas que se dividem em diversos aspectos. Entre os principais, destaco a retomada de um acelerado crescimento econômico e a organização das condições para que esse crescimento nos conduza a uma significativa redução das desigualdades socais e à erradicação da miséria. Para conseguir esse acentuado crescimento econômico, o Brasil precisa sair da estagnação. E isso não será possível se o país não tiver um crescimento anual superior a 6%, em vez dos atuais miseráveis 2% ou 3%, que estamos tendo nos últimos anos. O Brasil está estagnado há 25 anos. Não pode ficar estagnado no próximo quadriênio. Daí a necessidade de uma meta que fixe como prioridade absoluta o crescimento econômico superior a 6%.
Mas como fazer isso?
Com várias medidas, como a redução dos juros e da tributação excessiva e o estímulo à exportação e à empresa privada. O objetivo é o mais importante: adotar as questões necessárias para que o crescimento seja superior a 6% ao ano. Em segundo lugar, a meta da erradicação da miséria. Essa, aliás, está sendo, em parte, muito bem ativada no que diz respeito ao curto prazo, pelo governo Lula, que aumentou significativamente a quantidade de famílias indigentes que estão recebendo o Bolsa-Família. É uma medida necessária que corrige, num curto prazo, as condições miseráveis dessas pessoas. Mas não corrige a miséria. É uma aspirina. Temos de continuar com a Bolsa-Família, mas também caminhar para erradicar as condições que geraram essa miséria, o que significa oferecer mais educação e emprego.
Mas no discurso, professor, todos os partidos defendem isso. O que acontece que, quando chegam ao poder, eles não levam isso a cabo? O que fazer pra isso sair do discurso?
A sua pergunta é perfeitamente válida. Há duas condições fundamentais para que isso saia do discurso para a prática. Primeiro, uma excessiva vontade política de realizar esses objetivos, algo que não seja um marketing para ganhar votos mas um compromisso real dos candidatos para implementar essas políticas. Ponto dois: para que essas metas sejam viáveis, é preciso desengessar a União. As finanças da União estão completamente engessadas. Ela recebe uma gigantesca massa de recursos sob forma de tributos e não tem um centavo disponível. Tudo é consumido pelos juros, que absorvem mais de 20% da despesa federal e por uma outra série de despesas parasitárias. Se nós cortarmos os juros pela metade e eliminarmos essas despesas na mesma proporção, teremos verbas anuais da ordem de R$ 60 a R$ 70 bilhões para serem aplicadas nesses planos.
O senhor tem percebido preocupação dos candidatos a presidente em definir essas prioridades?
Estamos iniciando agora a segunda etapa do projeto, que foi muito bem elaborado por Mercadante em 2002, mas que, no governo Lula, ficou estagnado. Estamos tirando ele da geladeira, renovando as estatísticas e programando com a Fiesp o grande lançamento do projeto. Na medida em que o projeto alcançar audiência pública, ele tenderá a ser executado.
Mas não está claro que o PT e PSDB estão mais preocupados hoje com um projeto de poder do que com um projeto de governo?
Sim, é lamentável isso. Mas é preciso fazer uma distinção entre o presidente Lula e o PT. Embora seja a principal figura do PT, ele tem um estilo próprio, é independente do partido. Esperamos poder conscientizá-lo, por meio do projeto de consenso, da absoluta necessidade de adoção de metas mínimas que ponham o Brasil novamente no caminho do desenvolvimento e contribuam para eliminar as desigualdades, não apenas no curto prazo, mas de forma definitiva.
Sempre há embate entre as áreas econômica e social. O que fazer pra que essas duas áreas joguem no mesmo time?
Há duas condições fundamentais prévias. Vontade política, que não seja meramente retórica para o eleitorado mas efetivo compromisso pessoal do futuro presidente. E liberação em grande massa de recursos para tornar possíveis esses projetos, o que significa corte vertiginoso de juros, protegido por medidas que evitem a crise cambial, e redução da carga fiscal. Com controle de câmbio, carga fiscal menor e juros pela metade, o Brasil passará a ter R$ 70 bilhões por ano para projetos prioritários.
Mas isso é possível mesmo com o Congresso e o modelo eleitoral que temos?
O nosso modelo eleitoral está longe de ser o ideal. Em outubro vamos eleger Alckmin ou Lula. Os outros candidatos são irrelevantes. Qualquer dos dois que venha a ser eleito precisa executar um projeto que tire o Brasil do marasmo. Estou convencido de que eles vão ter essa disposição.
O senhor disse que o senador Aloizio Mercadante foi relator do projeto de Consenso. Mas o fato de ele não ter levado essa proposta adiante, como líder do governo, não é sintomático de que essas idéias não irão pra frente?
Como líder do governo, Mercadante tinha de seguir o que Lula queria naquela ocasião. E Lula não estava interessado no projeto, mas em consolidar o poder do PT. Essa coisa não deu certo. Por isso, creio que agora, com as lições obtidas no primeiro mandato, na provável hipótese de vir a ser reeleito, Lula irá querer fazer coisas diferentes.
O senhor é amigo do ex-presidente Fernando Henrique, mas votou em Lula nas últimas eleições. O senhor identifica avanços no governo Lula em relação ao governo FHC?
São governos muito diferentes. O governo Lula aumentou significativamente o número de famílias beneficiadas pela Bolsa-Família, que é uma invenção do governo FHC. Com isso, deu uma contribuição significativa para reduzir a massa de miséria do país. O Brasil está hoje menos miserável do que estava quando Lula começou o governo. Como lhe disse, essa política é correta, mas não é suficiente porque não está eliminando as causas da miséria. Está compensando os miseráveis com auxílio público. É preciso que os miseráveis tenham condições próprias para sobreviver. Isso significa crescimento econômico, educação e emprego.
Uma das metas do projeto de consenso é que a renda per capita do brasileiro chegue a US$ 14 mil por ano num prazo de 20 anos. O que fazer pra resolver esse problema crônico da distribuição de renda no Brasil até lá?
A primeira coisa é voltar a ter crescimento. Não se pode fazer nada com o país estagnado. Crescer 2% ou 3% ao ano é perpetuar a miséria. Com isso, o Brasil vai ficando cada vez mais perto da África. Para se livrar disso, o país precisa ter o que chamo de velocidade de escape, ou seja, um crescimento superior a 6%. Se atingirmos essa velocidade, passaremos a ter condições para acumular recursos adicionais para educação, saúde, investimentos etc.
Dois temas que devem ser levados a cabo durante o processo eleitoral são a corrupção e a segurança pública. Eles são obstáculos ao crescimento do país?
São medidas operacionais indispensáveis. Creio que é preciso fazer uma distinção entre as metas estruturais do que se pode chamar de metas contingentes. O combate à violência e à corrupção são metas importantíssimas de caráter contingente. O projeto de consenso não pode ser detalhado, isso não funciona. Ele deve ter um número muito pequeno de metas que todo mundo reconheça como indispensáveis para que, depois, cada candidato adote as medidas de acordo com o seu repertório.
A hoje improvável aproximação entre o PT e o PSDB é inevitável, na avaliação do senhor?
Estou convicto de que, a longo prazo, o PT e o PSDB representam a mesma idéia de um projeto de social-democracia do qual o Brasil precisa. Vamos imaginar que depois da reeleição de Lula, num prazo um pouco mais longo, se forme uma frente social-democrática neste país. É um objetivo de longo prazo. Num curto prazo o que importa é que os candidatos dos dois partidos assumam condições para o escape da miséria e do subdesenvolvimento.
O senhor já disse que o governo FHC era neoliberal. O governo Lula seguiu o mesmo caminho?
Também é totalmente neoliberal economicamente. Não pode continuar sendo. Para passarmos de uma política econômica neoliberal para uma política de equilíbrio e desenvolvimentista, as principais medidas a tomarmos são: a drástica redução de juros, o controle do câmbio e a redução do gasto público em atividades meios.
Oposição acusa governo Lula de aparelhar o Estado, de inchar a máquina administrativa. O senhor concorda com isso?
Claramente. O governo Lula é um governo de boas intenções e modestas realizações. Teve uma política externa bem orientada, embora nem sempre tenha tido êxito com ela. Teve uma política de correção da miséria extremamente feliz. Também teve muito êxito nas exportações. O ministro (do Desenvolvimento) Furlan (Luiz Fernando Furlan) revelou-se extremamente competente, conseguiu aumentar de maneira impressionante as exportações brasileiras, corrigindo o eterno déficit externo que vulnerava nosso país.
A última eleição foi ditada pela esperança de mudança. Mas não foi isso que se viu nesses três anos e meio de governo Lula. Os principais candidatos à Presidência são exatamente do PT e do PSDB. Isso não sepulta a esperança de mudança do eleitor?
No momento, estamos diante de um governo Lula que quer ser reeleito sem dizer o que pretende fazer no segundo mandato, e de um candidato, o Alckmin, que critica Lula, mas ainda não definiu o que pretende fazer. O último discurso foi um pouco melhor porque ele disse que tem compromisso com o crescimento econômico. Mas não disse como vai fazer isso. O período eleitoral está começando.
O senhor vota em Lula novamente?
Depende de como eles vão se posicionar. A manutenção dessa política econômica não interessa. Se Lula não fizer uma ruptura com esse projeto neoliberal, não votarei nele em nenhum momento.
O senhor votaria em Alckmin?
Se o Alckmin não tiver um projeto neoliberal, como parece que não vai ter, posso votar nele. As coisas estão pouco definidas agora. Uma pessoa que tenha o voto consciente ainda não pode se antecipar. Não voto por simpatia, voto por projetos.
Inclusive o senhor não votou no Serra mesmo ele sendo seu amigo.
É verdade, porque eu queria um projeto de renovação que, lamentavelmente, não houve.
Que cenário o senhor antevê para o final do mandato do presidente Lula? Chegou-se a acreditar que ele não chegaria ao final por causa da crise política...
O que salva Lula de seus erros e omissões é o fato de que ele se tornou um grande mito. O mito do operário presidente, o do filho de uma família de cortadores de cana que passa fome na infância e consegue, com o seu talento, galgar a condição de presidente da República. Esse é um mito que não se destrói por argumentos puramente racionais. Ele resistiu aos maus aspectos do governo Lula. Essa compra de votos do PT não tem precedente. Aliás, só teve precedente no partido bolchevique russo, que pegava dinheiro de qualquer maneira. Para eles, tudo o que fosse para o partido era legítimo. O PT entrou nessa mesma política, que é inaceitável.