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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 22 de janeiro de 2011

A diferenca entre nos e os muito ricos - um exemplo

Se não estou enganado, o romancista americano Scott Fitzgerald, do Great Gatsby (1928, creio), escreveu uma vez que a diferença entre os ricos e nós é que eles, os ricos, têm dinheiro, muito dinheiro.
Também acho, mas eles também vivem cercados de empregados em grandes mansões, recheadas de obras de arte.
Aqui abaixo um exemplo da espécie, eu diria da pior espécie, que por acaso também é um dos grandes crápulas da criminalidade de colarinho branco no Brasil.
Não sei como um juiz deixa que um crápula desses acumule um débito de aluguel de mais de um milhão de reais. Vai ver o juiz também tem muuuuito dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida

Ex-dono do Banco Santos é despejado de casa do Morumbi por dever aluguel
MARIO CESAR CARVALHO
FOLHA DE SÃO PAULO, 20/01/2011

O ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, que controlava o Banco Santos, foi despejado da casa em que morava no Morumbi, na zona sul de São Paulo. Ele não pagava o aluguel mensal de R$ 20 mil desde 2004. A dívida já alcançara R$ 1,727 milhão.

Edemar estava na casa por volta das 11h de hoje e recebeu Vânio Aguiar, o administrador judicial da massa falida do banco, e um oficial de Justiça.

Ex-banqueiro teve que deixar a mansão no Morumbi, em São Paulo, onde morava desde 2004 com a família
Segundo Vânio, ele tentou reverter a ordem de despejo até o último momento e não retirara nem roupas nem objetos pessoais da casa.

Edemar contou a Aguiar que ele e a mulher, Marcia Cid Ferreira, estavam de mudança para um flat.

O ex-banqueiro foi um dos mais importantes mecenas do país no final do século passado e ficou famoso pelas exposições que realizou na Bienal, como a "Brasil 500 Anos", apanhado da arte brasileira desde a chegada de Cabral, em 1500.

Após a quebra do Banco Santos, em novembro de 2004, foi condenado a 21 anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Edemar, que recorre em liberdade, nega ter praticado esses crimes e diz que o banco não estava quebrado quando sofreu intervenção do Banco Central. O rombo, segundo o BC, era de R$ 2,5 bilhões.

A ordem de despejo foi dada pelo juiz Régis Rodrigues Bonvicino, da 1ª Vara Cível de Pinheiros, a pedido da massa falida do Banco Santos. A casa pertence à Atalanta, empresa criada pelo próprio Edemar, mas que foi retirada do seu controle.

Bonvicino determinou o despejo, o pagamento da dívida e a permanência dos e todos os bens no imóvel.

Edemar tinha uma coleção de arte avaliada entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões.

Algumas das obras mais caras foram enviadas para fora do país com a quebra do banco, mas acabaram recuperadas pelo FBI (a polícia federal dos Estados Unidos).

Parte da coleção, porém, continua na casa. Entre outros artistas, Edemar tem telas do americano Frank Stella e do alemão Anselm Kiefer e esculturas dos brasileiros Brecheret e Tunga.

O imóvel e as obras passam para a massa falida, ordenou o juiz, e devem ser vendidos "para satisfazer credores".

Bonvicino escreveu na decisão que Edemar e a mulher "não têm qualquer direito líquido e certo de permanecer no bem, porque possui ao menos duas outras residências, estando descaracterizado o conceito de bem de família para uma mansão de 4 mil metros quadrados de área construída e terreno de 8 mil metros quadrados".

Projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake, a casa com a fachada de concreto aparente custou R$ 142,7 milhões, de acordo com documentos contábeis de Edemar revelados pela Folhaem 2005.

A mesa de mogno da sala de jantar, para 20 pessoas, consumiu US$ 390 mil (R$ 652 mil). Uma luminária do alemão Ingo Maurer custou 262,5 mil euros (R$ 592 mil).

A decoração da casa foi feita pelo arquiteto norte-americano Peter Marino, que assina as lojas da Channel.

A Folha procurou o advogado de Edemar, Luis Corvo, em seu escritório, mas ele não ligou de volta.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A ideologia do afrobrasileirismo - um artigo PRA de 2004

Para complementar a informação iniciada em dois posts abaixo, em que registro a reação irada de um militante da causa negra no Brasil -- não exatamente um afrobrasileiro, no máximo um afrodescendente -- a meu artigo sobre essa ideologia nefasta, importada, racista e divisiva, transcrevo abaixo o artigo em questão, não sem antes lançar um desafio a meu irado leitor:

Desafio esse militante a provar, de fato (ou seja, com base em evidências explícitas e não apenas baseadas em autodeclaração), que ele é um afro-brasileiro, ou seja, um brasileiro que conserva traços culturais, linguísticos, gastronômicos, ideológicos, ou quaisquer outros que sejam especificamente africanos e exclusivamente africanos, e não apenas brasileiros, ou seja, integrando elementos culturais de diversas culturas que foram incorporadas ao mainstream do Brasil, nesse imenso cadinho que constitui a sociedade nacional.
Provando, merece ganhar um ou dois livros, a sua escolha.
Paulo Roberto de Almeida

Rumo a um novo apartheid?: Sobre a ideologia afro-brasileira
Paulo Roberto de Almeida, Sociólogo (ítalo e luso-descendente).
revista Espaço Acadêmico (Ano IV, nº 40, setembro 2004)
link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm

Faço questão de me comprometer, igualmente, com o combate às discriminações. Adotaremos políticas afirmativas para garantir direitos iguais a todos, sem distinção de gênero, etnia, raça, condição física, crença religiosa ou opção sexual. Queremos eliminar as desigualdades, valorizando as diferenças.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003)

1. Colocando a questão
Um espectro parece rondar, atualmente, a sociedade brasileira: o do apartheid. Refiro-me à possibilidade de surgimento, disseminação e consolidação de uma nova forma, não menos insidiosa do que a tradicional (já suficientemente conhecida e combatida), de apartheid. Trata-se de um apartheid social – não necessariamente racial –, baseado numa nova separação cultural e ideológica, e portanto mental, dos brasileiros. Eles passariam a ser divididos em duas categorias fundamentais: a dos afrodescendentes, de um lado, a de todos os demais brasileiros, de outro.

Antes que alguém me acuse de “inimigo dos afrodescendentes” quero deixar bem claro que reconheço, sim, a existência de uma enorme defasagem social, educacional, cultural e profissional atuando em desfavor dos chamados “afro-brasileiros”, que é o resultado histórico das condições sociais de pobreza e desigualdade que sempre atingiram com maior acuidade a população de origem negra. Também sou, sim, explicitamente, a favor de políticas de ação afirmativa e de favorecimento educacional para os brasileiros pobres em geral e, em especial, no que for possível, com ênfase acrescida na situação da população negra. Mas quero deixar manifesto, desde já, que não acredito que qualquer tipo de “reserva de mercado” nos exames vestibulares de ingresso no terceiro ciclo represente uma mudança dramática da situação dos mais desfavorecidos, brasileiros pobres em geral e populações negras em particular.

A questão das cotas no vestibular é um aspecto menor, não o mais importante, de um problema maior, que é a desigualdade de chances que vitima os negros e mulatos brasileiros nas várias vertentes de uma inserção social que teima em ser persistentemente lenta, na educação, no emprego, nas possibilidades de ascensão social, enfim. Tenho dúvidas, porém, de que políticas de promoção desse tipo devam ser conduzidas como resultado de algum tipo de consciência (ou “remorso”) quanto à necessidade de reparação histórica à comunidade negra pelos males sofridos desde o tráfico e a escravidão (e nas fases seguintes de discriminação de fato ou de indiferença “ativa”). Também rejeito as alegações dos que são contrários às cotas universitárias pela suposta necessidade de preservar ensino de qualidade e sistema de mérito nas universidades públicas (elas já estão, de fato, trabalhando em uma situação “sub-ótima” no que respeita seus presumidos “padrões de qualidade” ou de “excelência”, em razão das muitas disfunções acumuladas ao longo de anos e anos de democratismo populista, de irresponsabilidade no controle do desempenho de seus professores, de corporativismo exacerbado e outros males).

O que pretendo tratar neste ensaio é uma outra questão: a da emergência e atual afirmação, ainda que incipiente, de uma ideologia do “afrobrasileirismo” (à falta de uma melhor definição).

2. Um problema não apenas conceitual
Em primeiro lugar, recuso a qualificação de “afro-brasileiros”, ainda que aceite a realidade de que temos, obviamente, “afrodescendentes”. Mas os nossos brasileiros “afrodescendentes” são tão africanos, hoje, quanto eu sou português ou italiano pela minha ascendência, ou seja, hoje em dia quase nada, ou de fato absolutamente nada. Somos todos brasileiros, e apenas brasileiros, ponto.

Isso se deu ao cabo de um imenso e bem sucedido experimento de miscigenação étnica e cultural, um processo único no mundo, já suficientemente explorado por autores vários – entre eles Gilberto Freyre – para ser novamente explorado aqui. Somos o verdadeiro melting-pot do mundo, muito mais do nos Estados Unidos, que conservaram vários traços de apartheid racial ou étnico. Não existem afro-brasileiros no Brasil, assim como não existem AfroAmericans nos EUA: existem negros americanos ou brasileiros negros, mulatos e das mais variadas colorações, que foram trazidos ao Brasil – ou aos EUA – como escravos e que se converteram em brasileiros – ou americanos – como quaisquer outros, independentemente de serem, e permanecerem, desfavorecidos nos planos social, profissional e até do reconhecimento cultural. Nos EUA, a condição estritamente material é até mais favorável aos negros, bem mais do que no Brasil, diga-se de passagem, mas o isolamento cultural – e racial – é bem maior, em virtude da segregação legal que acabou criando duas culturas e até mesmo dois “universos mentais”, totalmente distintos e em grande medida opostos. Todo e qualquer processo de miscigenação racial – ou étnica, para evitar uma terminologia indevida – é único e original, e o nosso foi verdadeiramente de miscigenação, à diferença dos EUA, onde jamais ocorreu (salvo de maneira extremamente marginal) qualquer “osmose” racial entre negros e as demais comunidades formadoras da população americana.

Quando digo que recuso o “afrobrasileirismo” é porque acredito que esse conceito não é o resultado de uma condição étnica, cultural ou mesmo histórica, mas sim uma ideologia, politicamente importada e artificialmente explorada, que pode contribuir, também no Brasil, para a criação do mesmo sistema de aparteísmo racial ou cultural que se constata existir nos Estados Unidos. Não creio que seja bom para o Brasil, aliás para os próprios “afrodescendentes” – quer reconheço existir, como disse –, aderirmos a uma ideologia que vai contra todos os princípios do nosso bem sucedido melting-pot, introduzindo em seu lugar a divisão, a diferenciação e o apartheid. A promoção dos valores “negros” não deveria em princípio ser feita em detrimento de valores universais e igualitários que estão na base de nosso sistema constitucional e cultural.

Muito bem, diriam os “afrodescendentes”, como resolver o problema da desigualdade de fato que impede, basicamente, a maior parte dos “negros” e assemelhados de entrarem na universidade e de galgarem postos profissionais mais condizentes com o perfil de ascensão social que se deseja para todos, inclusive os milhões de brasileiros pobres, brancos ou mestiços de outras etnias, que também sofrem os mesmos problemas? Como reconheço que a “solução universal” da melhoria da qualidade das escolas públicas pode ser uma quimera irrealizável no curto prazo, sou absolutamente a favor de bolsas de estudo (e outras formas de ajuda) generosamente distribuídas a “afrodescendentes” candidatos a ingressar em nossas escolas, de maneira a habilitá-los a prestar um vestibular nas mesmas condições (ou quase) que os demais.

Ainda que esta medida possa ser injusta do ponto de vista do branco pobre, igualmente morador de favelas ou zonas rurais periféricas, creio que ela pode e deve representar um começo de ação afirmativa no sentido de resgatar todo o sofrimento imposto pela sociedade nacional – majoritariamente branca, pelos seus estratos dirigentes e pelas suas decisões políticas, reconheça-se – à sua comunidade negra brasileira e outros estratos desfavorecidos. Aliás, acho que as universidades públicas poderiam e deveriam começar a oferecer cursinhos pré-vestibulares nos quais elas passariam a admitir, de modo maciço, todos os brasileiros pobres, em especial os negros e mulatos. Os estados deveriam desenvolver programas extensivos de bolsas de estudos (gratuitas, isto é, sem reembolso) dirigidas prioritariamente aos estratos de baixa renda, em especial os negros.

Trata-se de um sistema de “cotas”, sem qualquer “reserva de mercado” e baseado inteiramente no princípio da meritocracia, que permanece um sistema válido de seleção de candidatos a quaisquer cargos ou escolas públicas. Os negros – e outros pobres – do Brasil precisam de programas intensos de formação educacional e de preparação profissional: bolsas e cursos de preparação podem fazer a diferença positiva, sem introduzir a “diferença negativa” do regime de cotas baseadas em critérios raciais ou demográficos de escassa legitimidade democrática.

3. Agora ao coração do problema: a ideologia do “afrobrasileirismo”
Acredito que o “afro-brasileirismo” é um conceito em busca de definição, até mesmo entre seus promotores mais ativos. Não sou um conhecedor extenso da literatura a esse respeito, mas não me lembro de ter lido uma definição que fosse sociologicamente sustentável sobre essa “condição”. Por isso pretendo abordar o problema de um ponto de vista histórico, antropológico e, em seguida, político-ideológico.

As definições raciais brasileiras são tão diversificadas quanto a plasticidade da língua nacional, ou como a própria realidade étnica subjacente às populações que aqui se misturaram ao longo dos séculos. Sobretudo a partir da “importação” de negros africanos, entre os séculos 16 e 19, mas também com base nos elementos autóctones e nas muitas etnias imigradas desde a independência, constituiu-se um povo legitimamente brasileiro, dotado de características singulares no conjunto dos “povos novos” — a definição é devida ao antropólogo Darcy Ribeiro — e que é certamente original do ponto de vista das relações interétnicas e culturais que essas comunidades mantêm entre si. Pode-se indicar a preservação de certos traços “culturais”, gastronômicos ou religiosos no interior desses diversos elementos constitutivos do povo brasileiro, mas dificilmente se poderá apontar, entre eles, diferenças significativas ou considerar que seus modernos representantes possam reivindicar um “pertencimento” geográfico outro que não ao próprio Brasil.

Entretanto, a partir da importação acrítica de um conceito estranho à cultura e às tradições sociais brasileiras, a questão da “alteridade” étnico-geográfica começa agora a ser colocada em questão no caso dos negros e mulatos brasileiros. Com efeito, a partir de uma matriz importada dos Estados Unidos está sendo introduzida no Brasil a concepção segundo a qual, dentre os diversos segmentos da população brasileira, se encontrariam, não mais negros, pardos e mulatos (e suas infinitas variações subjetivas), mas um grupo novo na paisagem social do país: os afro-brasileiros. Tal como apresentada por seus proponentes, tratar-se-ia não apenas de uma nova categoria (ou classificação) étnico-cultural, mas de todo um programa político de promoção social e da identidade cultural desse segmento talvez majoritário no País.

Em que medida essa proposta é demograficamente pertinente, sociologicamente consistente, historicamente sustentável, etnicamente adequada e “politicamente correta”? Desde já esclareço minha posição por um ceticismo de princípio em relação a esse tipo de conceito e à “realidade” que o sustenta. Não creio que a noção de “afro-brasileiro” seja positiva do ponto de vista da integração social das diversas vertentes do povo brasileiro, podendo mesmo ser negativo para o programa que supostamente deveria ser o de todos os cidadãos nacionais: superar a velha segregação racial que ainda persiste apesar dos avanços logrados, em lugar de construir um novo apartheid racial.

Este é exatamente o ponto que constitui o objeto destas minhas reflexões pouco sistemáticas: em última instância, a proposta dos afro-brasileiros, se implementada como programa político, redundaria na substituição da velha discriminação racial contra negros e mulatos, combatida por gerações inteiras da causa negra brasileira, por um novo tipo de apartheid, a exemplo daquele que se constituiu nos Estados Unidos depois da abolição da escravidão. Ele significa, sinteticamente falando, a separação e a promoção de atitudes, comportamentos e práticas sociais exclusivamente reservados às populações de origem negra, com todas as suas implicações negativas para a integração ampliada das diversas componentes do povo brasileiro.

Antes, contudo, que se queira ver nos propósitos do autor algum elemento de racismo antinegro ou de descaracterização da luta antidiscriminação conduzida por muitos movimentos militantes da causa negra, gostaria de deixar bem claro minha posição de partida. Creio, como muitos outros sociólogos ou simples cidadãos, que o mito da “democracia racial” brasileira é exatamente isso, um mito, mascarando as muitas práticas não institucionais de discriminação de fato que, ainda hoje, dificultam a afirmação econômica, a ascensão social e a auto-estima psicológica dos negros e mestiços do Brasil. São bastante conhecidos os problemas que afetam negros e mulatos no Brasil: menor escolarização, renda inferior e chances reduzidas de mobilidade ascensional, seja no emprego, seja em outros canais de inclusividade social. A pobreza que atinge os negros e outras camadas mestiças não é simplesmente pobreza, mas vem acoplada a outros problemas que alguns sociólogos chamam de “ciclo cumulativo de desvantagens”.

Feito o diagnóstico sumário e bem estabelecida a justificativa para uma política (ou políticas setoriais) de promoção ativa desses segmentos — às quais sou amplamente favorável, geralmente num sentido não diretamente discriminatório, mas incidindo de forma preferencial, e concentrada, nas populações pobres — a questão que pretendo colocar neste pequeno ensaio é esta aqui: em que a ideologia afro-brasileira pode contribuir para a superação dessas desvantagens cumulativas que penalizam obviamente com maior acuidade aqueles que são objeto de sua atenção?

4. As conseqüências ideológicas do “afro-brasileirismo”: o novo apartheid
Quando utilizo o conceito de ideologia para referir-me ao programa político “afro-brasileiro” pretendo denotar exatamente essa característica básica do termo: trata-se de uma importação acrítica, mais ou menos clandestina — pois que não reconhecida de forma cabal, e sem o pagamento do devido copyright —, de um conceito racial-geográfico pronto e acabado e que se refere a uma experiência histórica e social alheia às realidades brasileiras, qual seja a dos Estados Unidos. Como pretendo discutir, subsistem problemas enormes, e não apenas de ordem epistemológica, à incorporação ingênua desse conceito ao universo racial, social e político brasileiro.

O que seria um afro-brasileiro? Trata-se tão simplesmente de um brasileiro dotado de ascendência africana? Certamente, mas em que sentido esse brasileiro negro, da era contemporânea, continua sendo africano? Provavelmente tanto quanto eu, neto de imigrantes portugueses e italianos, continuo sendo europeu, ou seja: nada, ou quase nada. Sou tão “europeu” quanto meu concidadão negro é “africano”, ou seja muito pouco, apenas por vagas identidades ancestrais que nos definem muito pouco em nossa atual identidade. Quero crer que somos ambos apenas e tão somente brasileiros.

Em outros termos, não apenas é difícil, mas afigura-se impossível definir grupos humanos mediante uma origem indistintamente “continental”, uma vez que pessoas e núcleos familiares se afiliam a determinados grupos humanos com identidades mais restritas do que o âmbito geográfico continental. Mormente no caso dos atuais brasileiros negros, trazidos ao Brasil como escravos em lotes individuais (em alguns casos do mesmo grupo de origem), suas tribos e etnias de origem perderam-se irremediavelmente, logo em seguida, na terrível mistura humana realizada pelos escravagistas e depois pela sociedade de “acolhimento”. Assim como parece difícil, no Brasil contemporâneo, falar de “eurobrasileiros” ou “ásiobrasileiros”, seria virtualmente impossível, nas condições ainda mais desestruturadoras da “imigração” africana, justificar a existência dessa categoria recriada de “afro-brasileiros”.

A rigor, pretendendo atribuir uma origem geográfica a todos os outros imigrantes voluntários, poderíamos falar de “ítalo-brasileiros”, ou “nipo-brasileiros”, por exemplo, pois eles possuem características sociais e culturais similares, identificando-se pela língua ou pelos costumes comuns, inclusive religiosos e alimentares. Ora, tal não ocorre com os supostos “afro-brasileiros” — ou ocorreria em escala muito menor, apenas no caso de certos grupos lingüísticos e religiosos concentrados na Bahia, identificados com a religião islâmica —, uma vez que eles são o resultado da mais trágica e desumana “emigração” conhecida em toda a história da humanidade, processo ocorrido ao longo de séculos e séculos de transferência forçada de lotes inteiros de indivíduos, arrancados de grupos de origem que poderiam ser bantos, ovambos, ibos, haussas ou quaisquer outros capturados pelos mercadores. Contrariamente aos imigrantes voluntários, eles não tiveram condições de preservar — salvo casos extremamente restritos — línguas ou costumes de origem, que de resto se espalhavam por várias regiões africanas. Um história sem dúvida alguma trágica, mas esta é a herança de vários séculos de escravismo e de colonização do Novo Mundo.

Não se trata, assim, de uma realidade brasileira, pois esta é uma história universal. Ou seja, não existem afro-brasileiros, assim como não existem afroamericanos ou afroqualquer outra nacionalidade que se queira. Existem negros, ou mestiços, americanos, brasileiros, colombianos, venezuelanos, cubanos, e vários outros mais, em resumo, cidadãos negros ou mulatos que se tornaram cidadãos de seus atuais estados nacionais. Se isto é um fato, como se justifica o aparecimento e consolidação dessa ideologia racialista?

Segundo minha interpretação, essa construção ideológica apenas surge como resultado da situação peculiar dos negros americanos, submetidos durante décadas e décadas a uma situação de apartheid de fato e de direito que os converteu em cidadãos de uma categoria à parte nos Estados Unidos. Eles já não eram africanos, a qualquer título — tanto porque o tráfico foi precocemente substituído pela “criação” de escravos —, mas não possuíam os direitos e franquias dos demais americanos, de origem branca e européia. A situação se agravou, paradoxalmente, depois da guerra civil, uma vez que a segregação foi sendo lentamente construída ao longo do último terço do século 19 e início do século 20 (aqui com o consentimento e o estímulo do governo federal e da Suprema Corte). A evolução terminológica acompanhou a tomada de consciência do problema negro nos Estados Unidos: eles primeiro foram “negros”, no sentido mais pejorativo do termo, isto é niggers, depois se converteram, numa conotação menos agressiva, em colored ou black people, para serem finalmente enquadrados, até com o seu consentimento, nessa categoria aparentemente inocente de African Americans.

Este o termo oficial — falso, hipócrita, de fato irreal e historicamente não fundamentado — sob o qual são atualmente identificados os negros americanos, aliás bem mais negros do que no Brasil, pois que não dispondo do mesmo “estoque” (inicial ou produzido) de mestiços e mulatos e dos “fluxos e refluxos” de outras categorias intermediárias. Compreende-se sua utilização, nos Estados Unidos, num sentido parcialmente ideológico, pois que servindo para fundamentar uma luta pela afirmação de direitos civis e, concomitantemente, pela promoção da igualdade de chances nos mercados laboral e educacional, luta sustentada tradicionalmente pela Associação Nacional para o Avanço do Povo de Cor (NAACP). Menos compreensível parece ser a introdução no Brasil, de forma consciente, de um conceito de separação, não de inclusão, que seria supostamente o objetivo maior de todos as categorias de brasileiros.

Aparentemente, porém, os negros brasileiros não desejam ser simplesmente brasileiros, mas sim esta outra condição, irreal e construída, de “afro-brasileiros”. Que tipo de conseqüência poderia ter esta atitude para a (des)construção da nação brasileira?

5. A revolução cultural em marcha: a valorização das diferenças
Transcrevo novamente, para comentar, a frase destacada em epígrafe, retirada de um dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, certamente preparada por um militante da chamada “causa negra” para apoiar as políticas de promoção de direitos das minorias e de grupos sociais desfavorecidos, adotadas conscientemente pelo governo: “Faço questão de me comprometer, igualmente, com o combate às discriminações. Adotaremos políticas afirmativas para garantir direitos iguais a todos, sem distinção de gênero, etnia, raça, condição física, crença religiosa ou opção sexual. Queremos eliminar as desigualdades, valorizando as diferenças.”

Minha opinião é a de que “garantia de direitos iguais” deve existir, em princípio, via criação de condições ou oportunidades iguais para todos, o que se dá geralmente por meio da educação (essencialmente nos dois primeiros ciclos de ensino e na vertente técnico-profissional). Políticas afirmativas são, por definição, discriminatórias em sua essência e intenção, o que acarreta o risco de criar novas formas de apartheid social ou racial, num país que deveria eliminar as desigualdades eliminando também as diferenças, por meio da miscigenação ativa, não via exaltação de valores étnicos ou raciais exclusivos (e portanto excludentes).

Antevejo um sério problema “político” em relação ao que acabo de expor, isto é, a promoção de uma política de “miscigenação ativa”, que entendo ser a única solução efetiva para os males – não só no Brasil, mas em todo mundo – da discriminação e do racismo: os militantes da “causa negra” me acusarão de tentativa de “branqueamento”, quando não do “crime de etnocídio”, ao pretender eliminar o problema via mistura racial. Eu responderia de imediato que é isso mesmo, pretendo não apenas “acabar” com a “raça negra” – mesmo não concordando com tal caracterização – mas também com a “raça branca” (e a “asiática”, e a “médio-oriental”) e outras tantas mais que podem existir neste país tão variado, e instintivamente tão integrado, como é o Brasil. A eliminação das diferenças de “raça” – essa palavra tão enganosa e deformadora, mas ainda assim tão útil do ponto de vista daqueles que se colocam do ponto de vista das diferenças, que não é o meu – é a única forma efetiva de se cortar pela raiz qualquer sentimento de rejeição em face da “alteridade”, pelo simples motivo de que não haveria mais, pelo menos idealmente, nenhum tipo de “alteridade” estritamente definida.

Creio mesmo que o Brasil encontra-se muito mais perto de realizar esse ideal da miscigenação “hegemônica” antes que qualquer outro povo do mundo. Os EUA poderão ser, talvez, e de certa forma já são, o primeiro país “multinacional” do planeta, haja vista a constante imigração e o afluxo ininterrupto dos mais diversos povos naquele país continente. Mas eles demorarão um certo tempo, se é que conseguirão de verdade chegar à condição desejável, para atingir a etapa que reputo indispensável e necessária de ser ou constituir progressivamente uma sociedade verdadeiramente “multirracial”. Acho que o Brasil encontra-se mais perto desse ideal, ainda que sua “inclusividade nacional” seja bem inferior à dos EUA. Não importa: o relevante é a atitude mental e o comportamento social subjacentes à esse ideal de miscigenação, e nisso o Brasil parece imbatível.

O único obstáculo a esse estado de “abolição de fronteiras étnicas” – uma imensa revolução no caminho de um gênero humano potencialmente “globalizado” – é representado, precisamente, pela ideologia das “diferenças”. Por que a “diferença” teria de ser um valor em si, independentemente e à parte da diversidade cultural entre povos distintos, o que é um fato da história? O perigo que vejo nesse “culto das diferenças”, em especial em se tratando de grupos étnicos, é justamente o da separação, o do apartheid.

Registre-se, aliás, que não vejo a promoção das “diferenças” como iniciativa política de qualquer outro grupo racial ou étnico no Brasil, à exceção dos próprios negros ou “afrodescendentes”. Atribuo essa especificidade “política” à história de discriminação social e mesmo de racismo aberto ou velado que reconheço ter existido e que ainda existe no Brasil. Compreendo sua existência, mas não creio, sinceramente, que ela seja boa, desejável ou até mesmo funcional do ponto de vista das políticas de promoção ativa de inclusão social, de igualdade de fato, racial e cultural, e do ponto de vista da construção de uma “nacionalidade brasileira” inclusiva e abrangente.

A ideologia afro-brasileira representa a negação de tudo o que representamos como nação e como povo. Não creio que os afrodescendentes brasileiros estarão mais bem servidos, do ponto de vista cultural, material ou mesmo espiritual, com uma ideologia grupal que exalta a diferença e promove a separação. Acredito mesmo que os militantes da causa negra não deveriam jactar-se de defender a causa de uma ideologia importada, que não tem nada a ver com a realidade brasileira e que resultaria, afinal de contas, numa construção artificial do ponto de vista da história e da psicologia social dos negros.

As discriminações devem ser efetivamente combatidas, não pela criação de novas formas de discriminação, tanto mais patéticas quanto voluntariamente adotadas, em nome de uma ideologia importada que não visa, de fato, promover a inclusão social, mas o desenvolvimento separado e combinado dos vários grupos étnicos em que se divide, até aqui, a população nacional de grandes países multi-étnicos como o Brasil e os EUA. Uma sociedade verdadeiramente integrada, como pode chegar a ser a sociedade brasileira em futuro não muito distante – se não socialmente, mas pelo menos do ponto de vista “racial” –, representa uma sociedade na qual não apenas as discriminações de fato sejam uma relíquia do passado mas também uma formação social na qual o racismo se torne uma hipótese inexistente até do ponto de vista teórico, pela impossibilidade prática de qualquer tipo de “separação racial”.

Isto é o que eu penso, de verdade. Se ouso parodiar o líder negro Martin Luther King, incansável batalhador das causas cívicas (e não da causa racial) nos EUA, eu diria, simplesmente: “eu tive um sonho…”

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Stratfor: Brasil (ou Brazil) na berlinda...

Eu tinha sido solicitado a falar com a analista do Stratfor, Reva Bhalla, mas por razões de calendário de viagem e de férias, não foi possível. Fico satisfeito de encontrar em minha caixa este material, que vem seguido de um video, que infelizmente, na minha incompetência técnica, não sei colocar aqui.
Ainda não li, e não vi o video. depois comento.
Paulo Roberto de Almeida

Agenda: Brazil at a Crossroads
Stratfor, January 21, 2011

Latin America analyst Reva Bhalla discusses the challenges new Brazilian President Dilma Rousseff will face on crime, defense, the economy and foreign affairs in 2011.

Editor’s Note: Transcripts are generated using speech-recognition technology. Therefore, STRATFOR cannot guarantee their complete accuracy.

Colin: Brazil’s President Dilma Rousseff is no newcomer to politics, after all she was her predecessor’s chief of staff. 2011 is shaping up as having a very full agenda. Apart from recovery from deadly floods, where the death toll is approaching 800, there is much to be done. A full half of one percent increase in interest rates reminded us the economy is overheating.

Welcome to Agenda where I’m joined by webcam to STRATFOR’s Latin America analyst Reva Bhalla. Reva, let’s start by discussing the new president’s agenda.

Reva: Well Colin, Dilma Rousseff has a lot of items on her plate. Everything from major defense deals that she has to make decisions on, security issues with the country’s favela issue to important decisions Brazil has to take as it is emerging as a major regional power. One thing to keep in mind is that Dilma may not have the charisma as Lula, but she has a reputation for being very non-ideological, very technocratic. She employs this sort of no-nonsense attitude with her staff and she expects her staff to come to her with a plan B in pretty much every proposal. So she’s very much in the process of re-evaluating a lot of major decisions right now, including the jet fighter deal, which is taking a lot of attention these days. Colin: Who’s in the frame to win the jet fighter contract?

Reva: Well, toward the end of the Lula administration, it seemed pretty clear that Brazil would go ahead and opt for the French Rafale jet, for mainly political and strategic reasons. Now Dilma has basically re-opened the bidding process. U.S. firm Boeing is trying to sweeten the deal, but Brazil is very concerned about being tied to certain congressional constraints in agreeing to the U.S. deal, something that Brazil is very irked by especially when it comes to technology transfers. Now the Swedish Gripen offers more to Brazil in terms of price and performance, but we think this decision is still going to boil down to mainly a political and strategic decision in that Brazil is more likely to lean more toward the French jet.

Colin: Brazilian interest rates are very high, up half of one percent this week and more to come. That’s forcing the currency up, which might have two harmful effects: attracting hot money and damaging exports. ? Reva: Brazil maintains very strict fiscal policy and for good reason considering that the country was mired in an economic crisis just less than two decades ago. Now, in trying to keep inflation under control, Brazil has kept extremely high interest rates — right now it’s at about 11.25 percent. Now, with a government that is likely very unwilling to cut down on public spending, there are serious side effects to this kind of policy. One of those side effects is the boost to the country’s already appreciating currency. Now the stronger the Brazilian real gets, the less competitive Brazilian exports are on the open market. The Brazilian government really doesn’t have any good options in trying to deal with this currency crisis, but it’s transforming slowly and slowly into more of a political issue, especially as business and trade unions especially in the financial hub of Sao Paulo are applying more pressure on the state to do something to protect Brazilian industry. Again, Brazil doesn’t have very good options in dealing with this, but it is definitely an issue that is going to be pre-occupying the state in the coming year.

Colin: Let’s turn to resources. Can Brazil really realize its dream and become a major oil exporter? ?Reva: Well, its going to be difficult, but Brazil is definitely dedicated to this project. By the “project,” we are referring to the pre-salt fields — Brazil’s offshore deepwater fields that could potentially make Brazil a major oil exporter in the years to come. Now, this is going to require a lot of investment. We have already seen Brazil’s Petrobras employ some rather unorthodox means of capitalizing this endeavor. But the Brazilian government has made clear it’s going to be dedicating its resources in hopes of realizing this geopolitical dream.

Colin: What about domestic political problems like crime and drugs?

Reva: Now, Brazil faces a major challenge ahead to both pacify and integrate major favelas in the city of Rio de Janeiro. They’ve been employing a strategy called the UPP strategy that basically involves first overt military force that drives the drug-traffickers out and then a long-term police occupation. Now, this is an impressive model that’s worked on a small scale but replicating it on a larger scale is going to be extremely difficult. What’s happened so far is that a lot of the drug-traffickers in Complexo Alemao, which was the last favela targeted, are simply being displaced. Now that has side effects, especially when more drug-trafficking activity is just going from favela to favela or coming more from the favelas into city centers. Also, these drug-trafficking groups, particularly Comando Vermelho, the main group in Rio, they’re extremely well armed. And, if the state keeps pushing them in this pacification campaign, they do have the means of perhaps selectively carrying out attacks and trying to pressure the state to backing off of this offensive.

Colin: The other so-called BRIC countries are Russia, India and China. To what extent is Brazil joining them on the global scene?

Reva: Well, Brazil is most definitely emerging on the global scene; it’s no longer this insular power that it has been for decades now. And so of course we see a lot of countries reacting to that. You know, Brazil is interacting with the French on major defense deals, with the Chinese in this deepening economic relationship, also with the Indians where Brazil and India face a lot of competition with each other in certain industries. And so Brazil is learning more and more how to assert itself on the global scene and we can expect Brazil to fumble in a lot of respects. You know, Brazil is also trying to involve itself in issues that are very distant from the South American continent. For example, in very thorny Middle East issues. But, while this attracts a lot of attention, Brazil is slowly gradually attempting to assume this leadership role but it may not necessarily want to make very hard decisions or deal with the negative repercussions that may be attached to such a role.

Colin: Reva, it’s good to have you with us on Agenda, I’m sure we’ll talk again soon.

Reva: Certainly Brazil is a high priority for STRATFOR and we will be watching all these issues closely.

A ideologia do afrobrasileirismo: uma reacao tardia...

Recebi, em minha caixa da UnB (sim, ainda tenho uma, mesmo depois de anos sem dar aulas naquela universidade bizarra), a mensagem abaixo, que reproduzo tal qual, sem o e-mail de origem (por razões óbvias), que protesta contra um artigo meu de 2004.
Demorou seis anos, portanto, para que alguém resolvesse protestar, defendendo as cores (se ouso dizer) do afrobrasileirismo, essa ideologia que pretende que o Brasil se divide em pretos, de um lado, e todo o resto, do outro, sendo que os pretos (ou negros, ou afrobrasileiros, como voces quiserem), seriam uma "minoria" discriminada.
"Minoria" apenas para os militantes racistas da raça negra -- sorry, mas eles adoram se identificar com a "raça negra", seja lá o que isso queira dizer --, pois, segundo a última PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, 2009-2010) a população autodeclarada como sendo afrodescendente é de 53% por cento do total, ou mais (sempre aumentando, claro, pois muitos estão de olho em políticas discriminatórias a favor deles, com base em cotas raciais e similares).
Bem, não pretendo responder agora ao Marcus, mas vou remeter a meu artigo, e depois retomar o assunto, em algum novo trabalho sobre a ideologia afrobrasileira.
Vale a pena este debate, pois ele é um dos mais importantes da sociedade brasileira contemporânea. Dele depende saber se vamos criar uma sociedade inclusive, verdadeiramente multirracial, misturada, miscigenada -- como aliás já acontece na prática -- ou se vamos caminhar para uma sociedade segmentada em "raças", ou, sendo mais preciso, uma sociedade dividida em pretos, de um lado (e segundo os ideólogos do afrobrasileirismo todo e qualquer mulato é negro por definição), e, do outro, todo o resto da sociedade, amarelos, brancos, levemente avermelhados, acobreados (como os índios, por exemplo), enfim, todo esse povo que não merece receber o rótulo de "afrobrasileiro" e que, portanto, não deve fazer juz a nenhuma política dita de ação afirmativa, na verdade de cunho racista, mesmo tendo de pagar a conta dos anos de escravidão e injustiça que todos nós, não-negros, devemos como reparação aos ditos afrodescendentes.
Disso depende, como eu disse, se vamos viver numa sociedade de Apartheid, ou numa sociedade "normal", o que eles dizem que a sociedade brasileira nunca foi, por ser racista e discriminatória contra os negros mesmo sem reconhecer. Enfim, vocês conhecem toda a argumentação e não preciso me estender agora. Mas prometo voltar...
Paulo Roberto de Almeida

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Eis a mensagem recebida: (tal qual)

From: ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| |||||||
Subject: Rumo a um novo Apartheid - Sobre a ideologia Afro-brasileira
Date: 21 de janeiro de 2011 18:49:15 BRST
To: Paulo Roberto de Almeida - UnB

Em primeiro lugar... Não está sendo implantado um apartheid no Brasil. Sempre existiu um Apartheid aqui. No entanto, diferentemente de outros países que são abertamente racistas, o Brasil é um país de falsidades e dissimulações... Tudo aqui é por debaixo dos panos.

Nós afro-brasileiros, temos sido SISTEMATICAMENTE prejudicados ao longo da história desse país. E não adianta nem falar que a exclusão é social e não racial porque, no caso dos afro-brasileiros, é tanto social quanto racial.

As cotas não acirraram o racismo, como muitos afirmaram e desejaram.

Outra coisa:
Você escreveu: ...recuso a qualificação de “afro-brasileiros”...

Quem é você pra recusar ou aceitar alguma coisa... Nós negros é que devemos nos definir da forma que acharmos mais adequada... Você não tem nada com isso!

Como se já não bastasse todos os anos de escravidão, e uma abolição feita de forma a empurrar os negros para as margens da sociedade, mantendo-nos em condições de extrema pobreza, que nos expôs à mortalidade infantil, desnutrição, doenças e mazelas sociais... Ainda temos que esperar que os branquinhos nos digam como devemos nos definir?

Eu sou afro-brasileiro, e ponto final.

Duvido que algum negro já tenha lhe dito que você está errado ao definir-se como “ítalo e luso-brasileiro”... Então, vê se cuida da tua vida!!!

Marcus.


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O Marcus protesta contra este meu artigo:

472. “Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira
revista Espaço Acadêmico (Ano IV, nº 40, setembro 2004)
link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm
Relação de Trabalhos nº 1322.

Suponho que ele ainda esteja disponível no mesmo URL, do contrário podem me pedir.

O Marcus está manifestamente com raiva desse meu artigo. Então, em lugar de argumentar contra minhas posições, ele simplesmente me "convida", ou ordena, a ficar fora da discussão:

"Quem é você pra recusar ou aceitar alguma coisa... Nós negros é que devemos nos definir da forma que acharmos mais adequada... Você não tem nada com isso!"

ou no final:

"Então, vê se cuida da tua vida!!!"

Bem, isso pode ser típico da UnB, ou de certos alunos da UnB: em lugar de argumentar com base em regras simples do diálogo socrático, eles colocam logo um monte de !!!s, como se isso fosse um substituto para um debate racional.

Vou responder ao Marcus, e a todos os que pensam como ele, mas não agora.
Por enquanto eu apenas gostaria de dizer o seguinte:

Não vou ficar fora disso, e tenho muito a fazer, além de cuidar da minha vida. Sou um simples brasileiro, como o Marcus, cidadão consciente, como ele parece ser -- embora um tantinho exaltado e dado a repentes de agressividade -- pagador de impostos, como ele certamente é -- pelo menos indiretamente -- e pretendo exercer em toda a plenitude meus direitos de cidadão.
Entre esses direitos se inclui o de contribuir para a construção de uma sociedade inclusiva -- como ele parece também pretender -- sem os laivos do racismo e do Apartheid, uma sociedade que não precise catalogar e carimbar os seus filhos com qualquer rótulo racial ou geográfico, que os una como brasileiros, de preferência miscigenados, misturados, sem uma cor precisa, a não ser aquela cor morena que parece predominar no Brasil (mas isso pode despertar acusações de "etnocídio" em certas áreas, que pretendem a preservação da "raça negra").
Por isso mesmo, vou continuar exercendo meu direito de expressar minha opinião, em toda liberdade, sem constrangimentos de qualquer espécie, e sem ceder a ameaças de quem quer que seja.

Voltarei ao debate Marcus. Aguarde...

Paulo Roberto de Almeida

Precisao nos calculos, nos trilhoes de digitos...

Acho que não precisava tanto para saber o valor exato de Pi, mas sempre tem gente que não se contenta com imprecisões...
O problema seria o que fazer com toda essa certeza...
E atenção, os cálculos ainda não terminaram...
Sabe-se lá se terminarão um dia...
Paulo Roberto de Almeida

Empresário japonês conquista novo recorde mundial por cálculo do Pi
Reuters, 21 de janeiro de 2011

Shigeru Kondo chegou a 5 trilhões de casas do conceito matemático em agosto do ano passado

TÓQUIO - Um empresário japonês de 54 anos, usando um computador construído em casa, calculou o conceito matemático Pi (3,14159) com 5 trilhões de casas em agosto do ano passado e marcou um novo recorde mundial, reconhecido com um certificado pelo Guinness World Records na semana passada.

Shigeru Kondo, engenheiro de sistemas em uma empresa de alimentos em Nagano, no centro do país, calculou a razão da circunferência de um círculo por seu diâmetro e quase duplicou a precisão do recorde anterior, de 2,7 trilhões de dígitos. Ele começou o processo como um hobby.

"Eu realmente quero elogiar meu computador, que fez os cálculos por três meses sem reclamar", disse Kondo ao jornal Chunichi Shimbun. O executivo dividiu a honra com o estudante de ciência da computação dos EUA Alexander Yee, que programou o software e manteve contato com Kondo por e-mail.

Usando peças de armazéns locais e lojas online, o engenheiro montou um computador que conta com dois processadores avançados da Intel e 20 discos rígidos externos. Após 90 dias de processamento ininterrupto, Kondo obteve a sequência de 5 trilhões de números. Ele verificou o resultado com diferentes métodos, o que levou 64 horas adicionais.

O recorde anterior havia sido estabelecido por um consultor de software francês em janeiro de 2010. Calcular um Pi mais preciso, que tende ao infinito, é um desafio para estudiosos há milhares de anos, desde que esse parâmetro foi utilizado no Egito Antigo.

Kondo tenta agora calcular o número com até 10 trilhões de casas. "Se tudo correr bem, devo chegar a esse ponto em julho. Estou realmente ansioso para isso", afirmou.

China: o que vai acontecer em 2011 - McKinsey’s Shanghai office

Esta é a opinião de um "analista empresarial", ou executivo de consultoria, baseado em Shanghai. Pode ser que as coisas sejam diferentes, e a tendência é sempre ser um pouco pior do que as previsões, mas com a China nunca se sabe...
Paulo Roberto de Almeida

What might happen in China this year?
Gordon Orr
McKinsey’s Shanghai office, January 2011

Despite inflation, bankruptcies, and other problems, industrial enterprises should remain highly profitable.

Gordon Orr, a director in McKinsey’s Shanghai office, peers into 2011 and finds ways China may once again surprise the world.

Inflation in food prices will take longer than expected to control. The drivers of inflation are much more structural than cyclical. Indeed, the entire system is now so highly stressed that one snowstorm brings large spikes in food and energy prices as coal runs short. When ice shuts down the roads, as it does today in much of southwestern China, agricultural products simply cannot get to market.

Chinese consumption patterns are shifting as people become wealthier—more meat eating requires more cereals to feed the animals. The food supply chain, running at the limit, is close to breaking, and the pressures this problem creates will lead to further food quality crises. What’s more, price caps won’t be effective in creating a better balance between supply and demand. Rising food prices are a pan-Asian issue: inflation has recently surged in Indonesia (chilies), India (onions), and South Korea (cabbage and now beef as a result of foot-and-mouth disease). China, given its large absolute demand for so many agricultural products, will shape food prices across Asia.

A major second- or third-tier Chinese city will see demonstrations over food price rises, unemployment, or both, on a much larger scale than anything that has occurred in recent years. The demonstrators will probably be satisfied quickly by local action to increase financial support for them and to replace local-government leaders. Yet concerns over copycat actions elsewhere will lead to a nationwide preemptive program to support the urban unemployed.

Middle-class bankruptcies will expand dramatically. Buyers have aggressively bought multiple properties with every penny of free cash flow. All that is needed for a wave of bankruptcies is further interest rate rises (targeting inflation) that result in a blip down in house prices just as mortgage payments rise. We have seen this before across major cities in Asia. The government will probably decide that it cannot bail such people out, as that would be seen as rewarding recklessness among the haves at the expense of the have-nots. There is already significant noise on the Internet to the effect that government leaders are completely out of touch with the true cost of urban housing. These leaders must take material action to show that they are aligned with the hopes of people just getting on the real-estate ladder.

Minimum wages will rise, but productivity gains will outstrip labor costs. The profitability of industrial enterprises remained high at the end of 2010—indeed, higher, in many cases, than it had been a year earlier, despite the minimum-wage increases rolled out in 2010—and will probably remain high. Yet a government seeking to enhance its stature with lower-income workers will find that increasing minimum wages, perhaps by 15 to 20 percent, is an easy lever to pull. Once again, multinationals, especially Asian multinationals, will find themselves being monitored first for compliance. More broadly, 2011 is likely to see further increases in the number of complaints that blue-collar workers bring in the legal system against employers for failure to pay overtime and to give employees the required time off from work.

China’s economic growth will be lower than expected. The rollback of subsidies to consumers will, in 2011, lead to a slow start for consumption, which will never quite catch up during the year. In recent months, for example, automotive purchases accounted for 20 percent of consumption. With the rollback of subsidies, the imposition of quotas in Beijing (and probably other cities), and increased prices for license plates and parking, car sales are likely to plateau if not fall in 2011. This problem will be exacerbated by food price inflation, which will cause lower-income workers to cut back on nonfood and other discretionary expenditures.

China will step up its “invest out” program in the new five-year plan. The government may well seek to double the country’s cumulative outbound investment within the next five years. There will be resistance by governments in some countries (probably in Africa, Eastern Europe, and Latin America) where public opinion is not yet convinced that so much Chinese ownership of key assets is really attractive. This opposition will visibly upset China’s leaders, who may decide to sell the bonds of the reluctant governments and to increase the challenges that enterprises from these nations face in selling to Chinese state entities.

The state will again try to reduce its ownership role in business. If the government relaunches its program to sell off more of its stake in companies, domestic share prices will probably decline or at least remain flat. The program will also soak up much of the liquidity currently supporting Chinese IPOs, thus reducing the ability of entrepreneurs to cash out quickly through them. Also, private-equity firms that have been investing in pre-IPO growth stocks in China may hold on to these investments longer than planned.

Gordon Orr is a director in McKinsey’s Shanghai office.

The fall of the (still) mighty dollar - Barry Eichengreen

Um tema do momento, um grande autor, quase o "romance" do dólar, ou sua biografia não autorizada...
Paulo Roberto de Almeida

The rise and fall of the dollar
The Economist, Jan 20th 2011

Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System.
By Barry Eichengreen
Oxford University Press; 224 pages; $27.95.
To be published in Britain by OUP next month; £14.99

THE dollar’s ascendance to the rank of world’s most important currency is often remembered as having been slow and gradual, mirroring the decline of sterling and Britain’s historic economic dominance. In fact, it was surprisingly swift. From a standing start in 1914, the dollar had overtaken sterling in international importance by 1925. The first world war played a part, but so did a lesser-known factor. America had surpassed Britain as the world’s largest economic power as early as 1870, but it had a stunted financial system: its banks could not open branches abroad, it had no central bank and panics were common. All these things discouraged international use of the dollar.
This began to change with the creation of the Federal Reserve in 1913, providing stability to the American banking system. Benjamin Strong, the Fed’s de facto leader in its early years, saw how the deep and liquid market for trade acceptances - the IOUs that were used to finance shipments of goods - helped the Bank of England to manage credit conditions. The Fed used its clout to nurture a similar market in America. This hastened the migration of international financial activity from London to New York, and from sterling to the dollar.
Whether the dollar will share sterling’s fate is a common question in geopolitical circles. After all, it is only a matter of time before China’s GDP overtakes America’s. But as Barry Eichengreen shows in a fascinating and readable account of the dollar’s rise and potential fall, reserve-currency status depends on far more than GDP. It is also a function of strategic and military relationships, laws, institutions and incumbency.
Mr Eichengreen, who teaches at the University of California, Berkeley, is an international monetary historian whose research into how the gold standard propagated the Great Depression was the basis for his seminal 1992 book, “Golden Fetters”. His latest work is less about the future of the financial system than its history, and skilfully told history it is too. Mr Eichengreen sprinkles his economics with memorable sketches of economic and political leaders. Jimmy Carter, apparently, handicapped his efforts to reduce Germany’s trade surplus by addressing the more formal Helmut Schmidt, the German chancellor, by his first name.
The book’s title was inspired by Valéry Giscard d’Estaing, France’s finance minister in the 1960s, who once described the enormous benefit America derived from the dollar’s reserve status as its “exorbitant privilege”. The world’s need for dollars lets America borrow at lower cost. American companies are spared the hassle of transacting in another currency. Those suitcases of dollars so beloved of international arms smugglers and drug kingpins all represent interest-free loans to America.
That the world remains so dollar-centric, given America’s shrinking share of world output, is something of an anomaly. This could be explained for most of the post-war period by lack of competition. Japan discouraged international use of the yen for fear of elevating its value and hurting its exports. The presence of the Red Army on West Germany’s borders hung over the Deutschmark, and in any case Germany regarded support of the dollar as an intrinsic part of its military alliance with America.
Mr Eichengreen does not think the dollar is about to be vanquished as sterling was. Rather, he foresees a “multipolar” system of international currencies. Reunification shifted Germany’s priorities from supporting America to binding itself more closely to Europe, resulting in the creation of the first significant competitor to the dollar, the euro. Mr Eichengreen could have devoted more attention to the strains that Europe’s sovereign-debt crisis have placed on the euro. His book is optimistic, noting that political rather than economic imperatives have always driven the euro. Mr Schmidt sold monetary integration to Germany’s sceptical central bank by invoking Auschwitz. Yet Mr Eichengreen’s recent writings betray a pessimism about the euro’s future that is not visible in his book.
And what of China? As was true of America and the dollar a century ago, China’s currency does not enjoy anywhere near the clout that could be expected from the size of the Chinese economy. As with Japan, China has discouraged internationalisation of its currency for fear that inflows of capital would lift its value and curb Chinese exports. It has learned, however, from Japan’s mistakes, and is gradually liberalising the use of its currency. But China is still much further behind than America was in 1914; it will be decades before the yuan rivals the dollar’s leadership.
The chapter on the international financial crisis is an unsatisfying rehash of the usual explanations, such as loose monetary policy, sloppy underwriting and derivatives. Mr Eichengreen underplays the role that China played, through its accumulation of dollars, in financing America’s housing bubble. He thinks the crisis will accelerate the shift to a multipolar currency system, but that the dollar will not collapse. That would take profound economic mismanagement by America itself, in particular, unchecked budget deficits. It was Britain’s dismal economic performance, not the dethronement of sterling, that cost it its great-power status after 1945. “The only plausible scenario for a dollar crash”, Mr Eichengreen concludes, “is one in which we bring it upon ourselves".

Estatisticas da sexta-feira: visitas ao site

Meu medidor gratuito, sempre de visita nas sextas-feiras, me informa sobre o total de visitas a este blog:

Diplomatizzando
-- Site Summary ---
Visits
Total ...................... 147,884
Page Views
Total ...................... 214,396


Meus agradecimentos aos meus leitores habituais e visitantes ocasionais.
Serviços úteis também são fonte de satisfação intelectual.
Paulo Roberto de Almeida

Historia do pensamento economico: grandes autores

Um arquivo importante, para saber da vida e da obra dos grandes economistas:

McMaster University
Archive for the History of Economic Thought
http://socserv.mcmaster.ca/econ/ugcm/3ll3/

"This archive is an attempt to collect in one place a large number of significant texts in the history of economic thought. I have tried to cast my nets as wide as possible including representative texts of all of the major thinkers and schools of thought; and most of the sub-fields of economics. The archive is a work in progress that may never be completed. The field of economic thought is a very large one. The texts are posted primarily for the use of students who might not otherwise have access to these writings. They are to be used strictly for non-commercial educational purposes. There are mirror sites at the University of Bristol (maintained by Tony Brewer) and at the University of Melbourne (maintained by Robert Dixon). There are as well, many other sites that might be of interest." - Rod Hay

Rod Hay passed away suddenly on May 18, 2008 at the age of 60. The Department of Economics at McMaster will maintain this site in his memory. Here is a brief commemoration of his life.

List of Authors Included in this Archive

A
Abbott, Edith
Acton, John
Alison, William
Anderson, James
Andréadès, Andreas
Anonymous
Arbuthnot, John
Aristotle
Asgill, John
Ashley, William James
B
Babbage, Charles
Bacon, Francis
Baden-Powell, B. H.
Bagehot, Walter
Baldwin, Simeon
Ballard, Adolphus
Banfield, Thomas C.
Barber, William J.
Barbon, Nicholas
Barbour, W.T.
Barry, Patrick
Bastiat, Frédéric
Beard, Charles
Beccaria, Cesare
Bentham, Jeremy
Berglund, Abraham
Bisschop, W. R.
Blackie, John Stuart
Blake, William
Böhm-Bawerk, Eugen
Bonar, James
Bosanquet, Bernard
Bosanquet, Charles
Bluntschli, Johann
Boisguilbert
Bolingbroke, Henry St. John
Berkeley, George
Botero, Giovanni
Bradley, Harriett
Bray, John F.
Bryce, James
Bücher, Carl
Buckland, William
Burke, Edmund
Bury, John Bagwell
Byles, John Barnard
C
Cairnes, John E.
Cannan, Edwin
Cantillon, Richard
Carey, Henry
Carlyle, R. W.
Carlyle, Thomas
Cassel, Gustav
Chapman, Sydney
Child, Josiah
Clapham, John
Clarendon, Edward
Clark, Alice
Clark, John Bates
Cobbett, William
Coke, Edward
Coke, Roger
Comte, Auguste
Condillac, Étienne Bonnet de
Condorcet
Commons, John Rogers
Cook, William Wilson
Cooley, Charles Horton
Copeland, Melvin
Croce, Benedetto
Cunningham, William
D
Daggett, Stuart
Dalrymple, John
Davanzati, Bernardo
D'Avenant
Davenport, Frances G.
Davies, A. Emil
Davis, Joseph
Davis, John P.
Decker, Matthew
Defoe, Daniel
Dicey, Albert Venn
Digges, Dudley
Dill, Samuel
Dunbar, James
Durkheim, Emile
Dutt, R. C.
E
Edgeworth, Francis Ysidro
Edwards, George W.
Ellis, Thomas Peter
Elton, Charles
Ely, Richard
F
Ferguson, Adam
Ferguson, William Scott
Fetter, Frank Albert
Fichte, J. G.
Figgis, John
Fisher, Irving
Fiske, John
Fortescue, John
Fortrey, Samuel
Frank, Tenney
Freeman, Edward Augustus
Freund, Ernst
Fustel de Coulanges, Denis
G
Galiani, Ferdinando
Gentleman, Tobias
Gervaise, Isaac
Giblin, L.F.
Gierke, Otto
Gilbart, James William
Goddard, Thomas
Godwin, William
Gomme, George Laurence
Gras, Norman
Gray, Howard Levi
Greeley, Horace
Green, T.H.
Gross, Charles
Grotius, Hugo
Gumplowicz, Ludwig
H
Hale, Mathew
Halliday, William R.
Hammonds, J.L. and Barbara
Haney, Lewis H.
Harrington, James
Harrod, Roy
Hasbach, Wilhelm
Haskins, Charles Homer
Haverfield, Francis John
Hazard, Blanche
Hegel, G.W.F
Heitland, William E.
Hemmeon, Morley
Herbert, Claude-Jacques
Higgs, Henry
Hildreth, Richard
Hobbes, Thomas
Hobhouse, L.T.
Hobson, John Atkinson
Hodgskin, Thomas
Holbach
Hollander, Jacob
Hone, Nathaniel J.
Hornick, Philipp
Hourwich, Isaac
Hull, Charles
Hume, David
Hutcheson, Francis
I
Ihering, Rudolf
Ingram, John Kells
J
Jenks, Jeremiah
Jeudwine, J.W.
Jevons, William Stanley
Jocelyn, J.
Jones, Richard
Joplin, Thomas
K
Kant, Immanuel
Kellog, Edward
Kemble, John
Kennett, R. H.
Keynes, John Maynard
Keynes, John Neville
Klein, Julius
Knapp, Georg Friedrich
Knight, Frank
Knoop, Douglas
Korkunov, Nikolai
Kovalevsky, Maxim
Kropotkin, Petr Alekseevich
Kyrk, Hazel
L
Labriola, Antonio
Lapsley, G.T.
Laski, Harold
Laveleye, Emile
Lauderdale
Law, John
Le Bon, Gustave
Letourneau, Charles
Leslie, T.E. Cliffe
Levett, Elizabeth
Levy, Hermann
Lewis, George Randall
Lieber, Francis
Liefmann, Robert
Liesse, André
List, Fredrich
Lloyd, Henry Demarest
Lloyd, William Foster
Locke, John
Loeb, Isador
M
Macaulay, Catharine
Macgregor, D.H.
Macrosty, Henry
Majumdar, Ramesh Chandra
Maine, Henry Sumner
Maitland, Frederic
Malinowski, Bronislaw
Malthus, Thomas Robert
Malynes, Gerard de
Mandeville, Bernard
Marriott, J.A.R.
Marshall, Alfred
Martyn, Henry
Marx, Karl
Mavor, James
McCosh, James
McCulloch, John Ramsey
McDougall, William
McFadden, Daniel
Menger, Carl
Merriam, Charles
Michels, Robert
Mill, James
Mill, John Stuart
Millar, John
Mises, Ludwig
Misselden, Edward
Monroe, Arthur E.
Montague, Gilbert
Montesquieu, Charles de Secondat
Moore, Henry Ludwell
Moore, Margaret F.
Mun, Thomas
Murray, Alice Effie
Murray, James
N
Nasse, Erwin
Newcomb, Simon
Newton, Isaac
Nicholson, John Shield
Niebuhr, Bartold Georg
North, Dudley
North, Roger
O
O'Brien, George
Oman, Charles
Owen, Robert
P
Paine, Tom
Palmer, Neobard
Pantaleoni, Maffeo
Pareto, Vilfredo
Patten, Simon
Petty, William
Phear, John B.
Pigou, Arthur Cecil
Pirenne, Henri
Pollard, A. F.
Poole, Reginald Lane
Power, Eileen
Priestley, Joseph
Proudhon, Pierre-Joseph
Putnam, Bertha
Q
Quesnay, François
R
Rae, John
Ramsey, Frank P.
Ranke, Leopold
Ravenstone, Piercy
Rees, J. Morgan
Renard, Georges
Ricardo, David
Riesser, Jacob
Roberts, Lewes
Robertston, William
Rogers, Thorold
Roscher, William
Rostovtzeff, Mikhail Ivanovich
Round, Horace
Rousseau, Jean-Jacques
Rowntree, B. Seebohm
Ruskin, John
S
Sargent, Arthur John
Say, Jean-Baptiste
Scherer, James
Schmoller, Gustav
Schumpeter, Joseph
Scott, William Robert
Scrutton, Thomas
Sée, Henri
Seebohm, Frederic
Seebohm, Hugh
Selden, John
Seligman, Edwin
Senior, Nassau William
Sidgwick, Henry
Sigel, Feodor Feodorvich
Simmel, Georg
Sismondi, Jean-Charles-Léonard
Small, Albion
Smith, Adam
Smith, Peshine
Smith, J. Toulmin
Sombart, Werner
Spelman, Henry
Spencer, Herbert
Stephen, James
Stephen, Leslie
Steuart, James
Steward, Dugald
Streightoff, Frank
Stubbs, William
Sumner, William Graham
Swift, Jonathan
Syme, David
T
Tait, James
Tarde, Gabriel
Taylor, Frederick W.
Thomson, Robert Ellis
Tooke, Thomas
Torrens, Robert
Tout, Thomas Frederick
Townsend, Joseph
Toynbee, Arnold
Treitschke, Heinrich Gothard
Tucker, Josiah
Turgot, Anne-Robert-Jacques
U
Unwin, George
Ure, Andrew
V
Vanderlint, Jacob
Van Hise, Charles
Vaughan, Rice
Veblen, Thorstein
Vinogradoff, Paul
Von Halle, Ernst
W
Wakefield, Edward Gibbon
Walker, Amasa
Walker, Francis Amasa
Wallas, Graham
Walras, Léon
Ward, Lester
Weber, Max
Wells, David A.
West, Edward
Westerfield, Ray
Whale, P. Barrett
Whewell, William
Whitaker, Albert Conser
Wicksell, Johan Gustaf Knut
Wicksteed, Phillip Henry
Wieser, Fredrich
Williams, John H.
X
Xenophon
Y
Young, Allyn
Young, Arthur

Acordos de investimento: que falta faz um na Bolívia

No início dos anos 1990, o Brasil assinou diversos acordos de promoção e proteção recíproca de investimentos (APPIs), alguns deles assinados pelo então chanceler de Itamar Franco, que seria também chanceler do presidente "nunca antes".
Pois bem: nunca antes na história deste país, acordos internacionais negociados pelo Executivo sofreram barragem tão explícita, e desonesta intelectualmente, como os APPIs enfrentaram no Congresso nacional, oposição articulada sobretudo pelo PT.
Essa oposição e recusa de acordos de investimento continuou durante todo o governo do "nunca antes", mesmo numa época em que o Brasil já se tinha tornado um grande investidor na América do Sul e esses acordos protegeriam, pelo menos um pouco, nossos ativos e interesses na região (como depois se viu no infeliz caso da nacionalização dos hidrocarburantes na Bolívia, aliás de forma ilegal, mas sem a proteção de um acordo bilateral de investimentos, o que acarretou prejuizos à Petrobras).
A mesma história se repete hoje, no mesmo país, como revela abaixo esta matéria da coluna diária de Cesar Maia.
Infelizes investidores brasileiros: reclamem deste governo que está aí.
Paulo Roberto de Almeida

INVESTIDORES BRASILEIROS NA BOLÍVIA E INSEGURANÇA JURÍDICA!
Cesar Maia, 21/01/2011

1. Empresários brasileiros na Bolívia -em Santa Cruz de La Sierra- têm três linhas de investimentos. Na soja, cujo capital investido (seus ativos) já alcança 1 bilhão de dólares. Exportam soja e óleo de soja. E é soja orgânica. Na pecuária, em gado nelore principalmente. E, finalmente, em mineração.

2. A complexa legislação boliviana termina criando um quadro de insegurança jurídica. Nos últimos meses, com o diesel (usado no refino de cocaína) sendo contingenciado, as compras para tratores, máquinas e caminhões passaram a servir de pretexto para constranger os produtores.

3. As mineradoras nas regiões próximas a fronteira com o Brasil tiveram suas atividades suspensas até nova ordem, acarretando desemprego e imobilização dos investimentos. Um investimento de 80 milhões de dólares em forno, do empresário Eike Batista, foi bloqueado por concorrente. Agora, o governo e o concorrente querem comprar por 5 milhões de dólares.

4. O regime de tributação do Brasil para empresários brasileiros no exterior não leva em conta a tributação já ocorrida na Bolívia. Com isso, as aplicações financeiras dos empresários brasileiros têm que ser feitas nos EUA e não no Brasil, como preferem.

5. Já está na hora das autoridades brasileiras se reunirem com os empresários brasileiros que vivem na Bolívia e depois com o governo boliviano, para dar segurança jurídica aos investidores. E a comissão de relações exteriores de senado se aproximar do problema. E o ministério da agricultura se aprofundar em questão tão delicada.

Da pouca nobre arte de matar pessoas pela incompetencia...

O título do post é meu, mas apenas o título. Todo o resto é matéria de imprensa.
Sem comentários. E precisa?
Paulo Roberto de Almeida

Sob Lula, governo vetou plano anti-desastres no PAC
Blog Josias de Souza, 21/01/2011

Ainda sob a presidência de Lula, o governo elaborou um plano de prevenção contra desastres naturais. Pronto há dois anos, ficou no papel.

Previa a instalação de radares capazes de antever fenômenos climáticos como o excesso de chuvas que produziu mais de 760 mortos na região serrana do Rio.

Orçado em R$ 115 milhões o projeto seria incluído no PAC. Não foi. Tentou-se injetá-lo no PAC2. Mas o ministro Paulo Bernardo, então no Planejamento, vetou.

As informações foram repassadas, nesta quinta (20), a uma comissão do Congresso. Revelou-as Luiz Antonio Barreto (na foto lá do alto).

Ele comanda a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Demissionário, Luiz Barreto será substituído por Carlos Nobre, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A saída iminente como que destravou a língua do expositor. Ele contou que, depois de refugado pelos gestores do PAC, o plano anti-desastres foi lipoaspirado.

Sérgio Rezende, então ministro da Ciência e Tecnologia, pediu que Luiz Barreto incluísse o novo sistema num programa do próprio ministério.

Chama-se PCTI (Plano de Ação da Ciência, Tecnologia e Inovação). Em agosto do ano passado, criou-se um grupo de trabalho.

Mexe daqui, revisa dali os técnicos reduziram o investimento de R$ 115 milhões para R$ 36 milhões. Ainda assim, o governo não liberou a verba.

Falando a congressistas que interromperam o recesso para tratar das cheias do Rio, Luiz Barreto declarou-se “indignado” com o ocorrido.

Em tom assertivo, disse que, mesmo com o gasto mais modesto, o sistema de radares terá potencial para evitar a repetição da usina de cadáveres do Rio.

“Se nós gastarmos adequadamente R$ 36 milhões ao longo deste ano, não morre ninguém no ano que vem”, disse.

Luiz Barreto elogiou o substituto Carlos Nobre, escolhido por Aloizio Mercadante, novo ministro da Ciência e Tecnologia.

De resto, disse acreditar que o plano será desengavetado: “A solução existe, não custa um rio de dinheiro e está em boas mãos”.

O mais curioso é que, acossado pelos desastres que pipocaram em vários Estados, o governo viu-se compelido a liberar R$ 780 milhões para socorrer as vítimas.

Mais do que os R$ 115 milhões que seriam sorvidos pelo plano de prevenção de desastres. Muito mais do que os R$ 36 milhões da versão lipoaspirada.

A Grande Transformacao - Kemal Dervis

Kemal Dervis, économiste de la Brookings Institution, à Washington
"Comment redistribuer la nouvelle richesse ?"
Bilan du Monde, 20.01.2011

Dans un entretien accordé au Bilan du monde (en vente en kiosques depuis le 17 janvier), l'économiste Kemal Dervis explique que le rattrapage de l'Occident par les pays émergents est un fait acquis. Mais ce basculement de l'histoire laisse entier le problème des inégalités entre les nations, comme en leur sein.

Les économistes se disputent pour savoir si la bonne santé économique des pays du Sud est encore liée à celle des pays du Nord, ou s’ils ont acquis une dynamique propre qui signifierait, à terme, le déclin de la domination économique occidentale au profit des nouvelles nations émergentes. Quelle est votre opinion ?

Kemal Dervis : En termes de produit intérieur brut (PIB), il y a bien une convergence entre pays avancés et émergents depuis la fin des années 1980 : ces derniers croissent plus vite que les premiers. Mais cela ne devient globalement le cas, en PIB par tête, qu’à partir de 1999, une fois passée la crise asiatique de 1997.

Cette convergence s’accélère à partir de 2008, parce que la crise touche d’abord et plus fortement les pays avancés ; et elle devrait encore s’accélérer dans les cinq années à venir, si l’on en croit les prévisions du Fonds monétaire international, en PIB comme en PIB par tête.

C’est donc une tendance durable et inédite, et non une période intermédiaire, en attendant un rebond spectaculaire des pays avancés ou un ralentissement marqué de la croissance des pays émergents. Nous sommes bel et bien entrés dans une nouvelle ère historique.

Pourtant, les pays émergents aussi ont vu leurs performances érodées par la crise, tout comme les pays avancés.

Certes, mais le découplage concerne les tendances structurelles de la croissance, et non les cycles économiques de court terme. Si l’on élimine les effets de ces cycles des tendances longues, il s’avère que le découplage des taux de croissance intervient dès les années 1980 pour les pays d’Asie de l’Est et du Sud-Est, et à partir de 2000 pour l’ensemble des pays émergents comme pour les pays les moins avancés (PMA, les plus pauvres de la planète). Il y a aussi une plus forte corrélation entre les émergents et les PMA qu’entre les émergents et les pays riches.

A l’inverse, si l’on ne considère que les évolutions cycliques, alors, le couplage demeure, en raison de l’interdépendance croissante entre les économies de la planète, due à la progression des échanges et des flux financiers mais aussi aux facteurs psychologiques : la panique financière, tout comme l’exubérance, est contagieuse.

Comment expliquez-vous cette convergence ?

La technologie travaille désormais en faveur de la convergence, parce que les transferts de technologies sont de plus en plus rapides. La mondialisation a accéléré le rattrapage technologique de beaucoup de pays émergents.

De plus, surtout en Asie, le taux d’épargne y est beaucoup plus élevé que dans les vieilles économies du Nord. Cela leur permet d’investir beaucoup plus, d’importer les technologies à grande échelle et de réaliser des gains de productivité impressionnants. Au cours des dix dernières années, la part de PIB consacrée aux investissements par les pays de l’Asie émergente s’est élevée à 37% en moyenne, contre 20% à 22% dans les autres pays émergents et 18% seulement dans les pays avancés. Ces augmentations de productivité liée à l’investissement et à l’adaptation de technologies importées se développent aussi à l’intérieur d’un même pays, entre les régions, voire entre les entreprises.

Les réserves de productivité demeurent encore très importantes, même en Chine, parce qu’il reste beaucoup de régions et d’entreprises qui pourront suivre l’exemple des régions et des entreprises les plus avancées. Les facteurs démographiques sont aussi un avantage important. Sauf en Chine, la population est plus jeune que dans les pays avancés, et un pourcentage plus élevé de la population peut donc être économiquement actif.

Cela signifie-t-il un déclin des économies occidentales ?

Non, les pays avancés ne vont pas s’appauvrir, mais ils croîtront moins vite, et il sera difficile pour leurs populations, psychologiquement et politiquement, de voir le PIB par tête augmenter trois fois plus vite dans d’autres pays, même si leur niveau de vie moyen restera plus que trois fois supérieur.

Pour la première fois depuis des siècles, les plus grandes puissances économiques mondiales ne seront plus, dans dix ou vingt ans, celles qui auront le plus haut niveau de vie moyen. Cela ne manquera pas de créer des tensions majeures dans l’ordre économique international. Le mouvement du G7 vers le G20 reflète le début de ce rééquilibrage.

Existe-t-il un lien entre ce basculement de la création de richesses et l’accroissement du chômage et des inégalités dans les pays avancés ?

Oui, car l’accélération des échanges entraîne une compétition sur le travail par la baisse des coûts, ce qui engendre des délocalisations et restructurations qui contribuent souvent à une concentration des revenus au sein des économies nationales.

Les nouvelles économies d’échelle et la mondialisation sont plus favorables au capital et au travail qualifié, plus mobiles que le travail peu qualifié. La croissance des inégalités, non seulement au sein des pays avancés, mais aussi dans beaucoup des pays émergents, est le facteur le plus préoccupant de cette nouvelle donne.

Mais il existe des moyens politiques d’y remédier. Après tout, les mêmes forces de la mondialisation et de la diffusion technologique ont touché également l’Europe et les Etats-Unis ; pourtant, la distribution des revenus y est sensiblement différente, surtout avec les pays scandinaves, parce que d’autres aspects entrent en jeu : les institutions, les rapports de forces politiques et sociaux, la façon dont les politiques publiques sont capturées ou pas par des intérêts économiques privés.

Certains économistes "intégristes" du marché sous-estiment l’importance de la politique et de la négociation sociale dans la détermination de la distribution des revenus. Du côté des émergents, on peut également lutter pour une meilleure redistribution : regardez l’exemple du Brésil de Lula qui a réussi à faire baisser les inégalités, bien qu’elles y demeurent élevées !

Mais le rythme de croissance actuel des pays émergents est-il soutenable ?

Beaucoup de variables sont difficiles à prédire. Mais je pense qu’à moyen terme, sur les dix ou vingt prochaines années, les grandes tendances que j’ai évoquées plus haut sont assez claires, bien que, dans chaque pays, des circonstances particulières peuvent freiner ou accélérer le mouvement. La gestion politique de l’équilibre social va jouer un rôle important. Sur le plus long terme, je ne pense pas que, même à l’horizon de la seconde moitié du XXIe siècle, il y aura nécessairement une pénurie de ressources naturelles qui bloquerait la croissance.

Mais nous aurons besoin de technologies révolutionnaires pour protéger le climat et économiser certaines ressources limitées. Et ces technologies ne pourront se développer à temps que si les politiques économiques encouragent leur développement, ainsi que des comportements respectueux de l’écologie de notre planète.

La croissance économique est-elle le seul indicateur à considérer ?

Bien sûr que non, même s’il est important.

Les pays qui ont connu la plus forte croissance de leur revenu national sur la période 1970-2010, par exemple la Chine, ne sont pas forcément ceux qui ont connu la plus forte croissance de leur indicateur de développement humain (IDH, qui inclut des données sur l’espérance de vie, le niveau d’éducation…), comme Oman ou le Népal.

Par ailleurs, le PIB moyen par tête masque souvent une inégalité croissante des revenus à l’intérieur d’un même pays, voire un appauvrissement des groupes les plus vulnérables, souvent lié a l’insuffisance de ce que l’Organisation internationale du travail appelle le "travail décent". Ce qui pose une fois de plus la question de la répartition de cette nouvelle richesse et de la gestion de l’équilibre social. Et cette question n’est pas seulement économique, elle est aussi politique.

Propos recueillis par Antoine Reverchon

"Bilan du monde" 2011. La situation économique internationale. Le Monde, 188 pages, en vente en kiosques 9,95 euros.

Un théoricien et un praticien de l'économie globalisée
Kemal Dervis a rejoint, en mars 2009, la Brookings Institution, un think tank proche du Parti démocrate basé à Washington, où il est vice-président et directeur du "Global Economy and Development Program".
Né en 1949 à Istanbul, d’un père turc et d’une mère germano-néerlandaise, Kemal Dervis a étudié à la London School of Economics et à Princeton.
En 1977, il rejoint la Banque mondiale, où il occupe diverses fonctions jusqu’en 2001, et y gère, en particulier, les programmes de réduction de la pauvreté.
En mars 2001, il est nommé ministre de l’économie dans le gouvernement turc de Bülent Ecevit, où il devra affronter les effets locaux de la crise économique mondiale. Il démissionne en 2002.
En 2005, il prend la direction du Programme des Nations unies pour le développement (PNUD).
Kemal Dervis a notamment publié, avec Ceren Ozer, A Better Globalization : Legitimacy, Governance and Reform (Brookings Institution, 2008).

Le "Bilan du monde"
Le Bilan du monde 2011, édité par Le Monde, en vente en kiosques depuis le 17 janvier, dresse un panorama de la situation économique internationale au cours de l'année écoulée. Une partie thématique analyse les faits marquants de 2010 – la Chine superpuissance, l'euro en crise, le tournant de la rigueur, la peur du déclassement, la guerre des monnaies, etc. – rassemblés dans trois grands chapitres (International, France, Entreprises) et illustrés par une série de portraits (Zhou Xiaochuan, Xavier Musca, Marius Kloppers).
Les journalistes et correspondants du Monde ont été mis à contribution pour le traditionnel "Atlas" de 179 pays, de l'Afghanistan au Zimbabwe. Chaque fiche-pays est accompagnée d'une carte qu'accompagnent des données de base (chef de l'Etat, premier ministre, superficie, population, monnaie, etc.). Des encadrés traitent plus particulièrement des paradis fiscaux, du Kosovo (pas encore reconnu par les Nations unies) ou de la Palestine.

Ce Bilan du monde, enfin, contient un CD-Rom réalisé par Le Monde, en partenariat exclusif avec l'Insee, sur "Les revenus et le patrimoine des ménages".

Bilan du monde 2011, 188 pages, en vente en kiosques 9,95 euros.

Anjos da guarda: virtuais e reais - Paulo R de Almeida

Anjo da Guarda: consiga o seu (virtualmente é mais fácil)
Paulo Roberto de Almeida

Antigamente era aquela dificuldade: a gente precisava disputar o “nosso” anjo da guarda quase no muque, contra a concorrência de outros pretendentes, por vezes um próprio irmão. De fato, todas as nossas avós (enfim, duas, no máximo), tias idosas, até as nossas mães nos instruíam a observar um comportamento exemplar para ter direito a um anjo da guarda particular, algo como um seguro extra em caso de necessidades extremas. Era um problema cumprir esses requisitos estritos, com tanta oportunidade para se fazer bobagens na rua, na ida e na volta da escola, na corrida à padaria para comprar pão e leite, enfim, em qualquer momento e lugar: pular muro para roubar goiaba, esconder uma bola – qualquer bola – de algum menino rico que andasse correndo solta pelas esquinas, tentar praticar algum voyeurismo ocasional...
As promessas de se conseguir um, exclusivo, eram reforçadas em ocasiões especiais: Natal, Paixão de Cristo, Ascensão, até nos momentos de crisma, lava-pés ou qualquer outra festa religiosa. Sempre pairava a promessa e a ameaça: “comporte-se direito, menino, pois o seu anjo da guarda está de olho em você!”. Ops: então, mesmo sem merecer, a gente tinha um alcaguete olhando por cima do ombro da gente, penetrando em nossos cérebros maléficos, desvendando nossas mais soturnas intenções? Mas, se eu justamente não tinha sido comportado a ponto de merecer esse acompanhante gentil, bonzinho, sempre sorridente com seu ar angelical, como é que, assim de repente, ele aparece sem avisar?
Enfim, não me perguntem os detalhes, mas o anjo da guarda era um personagem importante antes das primeiras desilusões religiosas, aí por volta dos doze ou catorze anos, quando a gente recusava toda aquela mitologia cristã e, os menos “alienados”, passávamos a cultuar outros “santos”: Marx, Lênin, Guevara, alguns até o Stalin ou o Mao (tem gosto para tudo...). Os que continuavam aderindo, porém, à liturgia cristã, ainda “guardavam” os seus anjos da guarda particulares, mas estes eram em número cada vez mais escasso, uma raridade ao alcance exclusivo dos mais bem comportados e certinhos. Aparentemente tinha as suas vantagens, pois sempre se podia invocar o personagem com asinhas caso algum perigo rondasse o navegante mais distraído. Em época de exames, também podia ser providencial.

Depois, muito depois – e tem regime militar no meio, redemocratização, hiperinflação, corrupção, enfim problemas velhos e novos – os anjos da guarda saíram de moda, o que pode ser considerado realmente uma pena: eles nunca fizeram mal a ninguém, e estavam sempre disponíveis para ouvir uma súplica. Não se tem certeza de que eles “funcionassem” de fato, mas sempre dava aquela segurança psicológica que não era mais garantida pela família, doravante fragmentada e instável. Chato ter de enfrentar algum desafio qualquer, sem ter um confidente particular e um apoio de tipo espiritual em caso de necessidade. Estávamos irremediavelmente sós, em um mundo hostil...

Pena mesmo, inclusive porque não se tratava de requerer dos anjos da guarda mais do que eles podiam oferecer, num mundo definitivamente secularizado e quase ateu. Os anjos do final do século 20, já não tinham mais o mesmo papel que desempenharam no passado: anunciar grandes mudanças, aparições divinas, libertação dos oprimidos, expulsão do Paraíso ou mesmo, em alguns casos, algumas catástrofes anunciadas de antemão por profetas tidos por malucos. O anjo da anunciação ou, seu contraparte, o anjo vingador combinam com os quadros antigos, um pouco menos com os modernos. No século 20, sem que tal fato tenha a ver com o “Exército da Salvação”, ocorreu uma proliferação de anjos da guarda, protetores das crianças e dos desvalidos, eventualmente de alguns bêbados. Por vezes, como nos desenhos de Walt Disney, eles apareciam em dupla: um anjinho com lira e coroa, de um lado, um diabinho vermelho com sua cauda em ponta de flecha, do outro.
Aparentemente, nos tempos antigos, todo mundo podia aspirar a ter o seu anjo da guarda particular e mesmo, para os crentes de hoje, a promessa não arrefeceu. Enfim, sempre tem gente que não merece. Esse pessoal do “caixa 2” dos partidos políticos, por exemplo, eles certamente devem ter vários, pois nunca vão para a cadeia, mas sinceramente eles não mereciam essa distinção. Cegos e estropiados em geral poderiam ficar com uma quota extra, alocando-se a eles os que retiraríamos desses bandidos dos “recursos não contabilizados”.
De minha parte, deixei de acreditar em anjos muito cedo, mas confesso que uma volta atrás não seria de todo mau, pois que acreditar em sua existência não implicaria, necessariamente, a (re)adesão a uma religião em particular, pois os anjos, como qualquer fenômeno de marketing, prescindem de alguma mensagem espiritual mais elevada. A prova é dada pelo próprio Natal, cada vez menos um festa religiosa, cada vez mais uma festa tout court, com o lado dos presentes e das comilanças suplantando o espírito da natividade e dos valores cristãos.
O que eu esperaria de meu anjo, se ele se materializasse, assim de repente, na minha frente? Deixo de lado o gênero, para não ser acusado de qualquer perversão, e passo imediatamente às qualidades angelicais que imagino possam estar registradas em sua carteira de trabalho. Em primeiro lugar, ele deveria ter olhos vivos e brilhantes e sorriso sempre à mostra, o que significa um bom começo, para empatia recíproca. Depois, eu faria um pequeno teste de conhecimento histórico, para ver se o “meu” anjo conhece seus antecedentes bíblicos e suas várias encarnações ao longo dos tempos. Não sou nada religioso, mas tenho grande respeito pelas religiões e acho que a cultura religiosa é indispensável a qualquer cidadão que se pretenda humanista e iluminista (pode ser uma contradictio in adjecto, mas prefiro assim do que um anjo sem cultura religiosa, pois aí, sim, que seria uma contradição).
Em terceiro lugar, ele precisaria vir animado de uma forte disposição para aguentar discussões filosóficas, debates teóricos, conversas bizantinas (ma non troppo), tertúlias acadêmicas e outros embates intelectuais, com eventuais notas de rodapés e referências bibliográficas acompanhando as legendas ou os “balõenzinhos” de nossas conversas (sim, a cenografia é importante, pois anjos verdadeiros não vivem fora dos cenários adequados: ninguém imagina, por exemplo, um anjo numa mesa de botequim, embora isso não seja impossível). Finalmente, esse candidato a meu anjo particular não poderia ter reivindicações trabalhistas – como férias, décimo-terceiro, licença remunerada e outros direitos conquistados na luta de classes dos últimos dois séculos – ou sequer horário de oito horas e semana de cinco dias. Anjo tem de ser em tempo integral, como corresponde ao sentido de sua nobre missão.
A bem da verdade, acho que já conquistei um anjo particular, mas ele vive em um universo paralelo, numa dimensão própria, ou está protegido por alguma redoma virtual, e com ele falo – ou imagino falar – regularmente, na minha própria imaginação. Tive sorte, claro, e nem tive de procurar muito, já que o meu anjo simplesmente apareceu, numa dessas aparições de tipo bíblico, sem que eu saiba explicar como ou por quê. O “meu” anjo relê cuidadosamente todos os meus textos, esses que eu escrevo in tutta fretta madrugada adentro, ensaios que dão muitas voltas e acabam emergindo num estilo estropiado, vários atentados à gramática, à sintaxe, torturados e tortuosos como se estivessem saindo de um campo de batalha – o que não deixa de ser verdade, pois estou sempre em alguma batalha de ideias – enfim, trabalhos escritos que seriam muito piores do que quando publicados porque, justamente, o meu anjo da guarda particular passou por ali e salpicou o texto de anotações, dúvidas, correções, alertas e outros beliscões virtuais, para ver se eu aprendo, finalmente a conjugar e a combinar os transitivos indiretos.
Enfim, depois de alguns anos de existência virtual, espero que ele não me abandone, dada minha forte propensão ao debate, por vezes interminável, meu espírito altamente crítico e minhas exigências quanto a conteúdo e substância. Nunca aceito o argumento da autoridade – como os anjos devem gostar de invocar – mas apenas a autoridade do argumento, o que me garante, justamente, algumas diatribes com quem se julga autoridade (estrito senso). Meu anjo não pode simplesmente me proteger, ele tem de provar que a relação de custo-benefício indica ser essa a melhor solução em face de recursos escassos e de usos alternativos dos fatores de produção. Ele não pode ser simplesmente espiritual, mas tem de embasar essa espiritualidade num forte substrato de racionalidade, estilo grego, se é que percebem, ou então de acordo com a tradição empirista anglossaxã.
Com tudo isso, o meu anjo não pode ser um chato, como costumam ser alguns “intelectuais” (ou candidatos a tal). Ele também não precisa vir de camisolão – sinceramente ridículo – e dispenso as asas, pois hoje em dia o carro não é uma má opção. Estou pronto a compartilhar com ele a minha biblioteca, mas tenho de avisar que nunca aprendi aramaico, hebraico antigo ou grego, as supostas línguas bíblicas. Pode aposentar a lira, mas adoro saxofone e os ritmos de jazz em geral. Bandolim e chorinho também são aceitáveis, junto com uma boa disposição para ficar acordado madrugada adentro, noites à fio. Minha produção geralmente começa depois da meia noite e vai até onde o corpo e o espírito aguentarem. Algum anjo se habilita? Candidatos munidos de currículo Lattes, por favor...

Para terminar, também tenho anjo da guarda não virtual, ou seja, real, na verdade, não apenas um, mas dois. Dois simpáticos yorkshires que, invariavelmente, na batida das 22hs, vêm me arrancar de minha labuta de computador, para um incontornável passeio de quase uma hora em volta do quarteirão. Eles não respondem muito a minhas questões, e assim me deixam com as notícias do rádio ou as músicas do meu iPod. Independentemente dessas limitações no diálogo, eles correspondem inteiramente ao que se requer de um anjo da guarda: são fiéis, estão sempre ao alcance da mão (e também do chinelo e da barra da calça), mesmo sem exibir asas, que na verdade são substituídas pelo “trote” rápido.
Em face da concorrência, creio que são os melhores anjos da guarda não virtuais disponíveis no mercado. Não recomendo gatos, a despeito de sua limpeza proverbial: eles só pensam em si mesmos e são tão inescrutáveis quanto os caminhos do Senhor. Cachorros são mais compatíveis com nossas necessidades de solidariedade e de companhia. Claro, eles requerem algum investimento inicial no adestramento, sobretudo para não ficar limpando a casa todo dia. Mas, depois disso, eles parecem se comportar melhor do que os anjos da guarda verdadeiros: eles dividem tranquilamente a torta de creme, sem recorrer a esses avisos subliminares de que aquilo não é bom para o seu colesterol... Anjos da guarda verdadeiros estão sempre controlando o seu peso. Cachorros partilham de seus desejos mais secretos por alguma contravenção alimentar.
Salvem os anjos da guarda, virtuais e reais...

Brasília, 20 de janeiro de 2010.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Cultura util: para que serve um boi?

Sim, sim, aquela história: do boi só se perde o berro. Ora, nem isso.
Aprendam um pouco, e surpreendam amigos pouco "bovinos"...
Paulo Roberto de Almeida

Você Sabe Para Que Serve Um Boi?

Muitas pessoas à primeira vista podem achar que a resposta para essa pergunta é óbvia: para produzir carne. A resposta não é tão simples assim... ele serve para produzir carne também, mas são produzidos inúmeros outros produtos a partir de um boi. Muitos desses produtos, nem mesmo os próprios pecuaristas sabem que foram produzidos a partir do produto que ele criou e vendeu ao frigorífico.

Esse é um assunto muito interessante, e com certeza vai surpreender muita gente, pois a maioria das pessoas não tem idéia do que um boi pode originar... Não vamos nem comentar sobre a carne, pois acho que todas as pessoas sabem o destino desse componente.

Vamos então começar pelo componente mais externo do boi: o couro. Além da utilização óbvia para a confecção de sapatos, cintos e roupas, o couro dá origem à gelatina neutra que será usada na indústria alimentícia na fabricação de maria-mole, chiclete, suspiros, recheios, coberturas, iogurtes, sorvetes, cremes, etc. A gelatina neutra também é usada na clarificação de vinho, cerveja e suco de frutas e em produtos dietéticos.

Na indústria farmacêutica ela é utilizada em cápsulas duras ou moles, comprimidos, drágeas, emulsões, óleos, esponjas medicinais, etc. Além disso, ela produz a gelatina fotográfica que é usada em filmes de artes gráficas, papéis fotográficos e filmes radiológicos.

A gelatina hidrolisada é usada em cosméticos, dietéticos, bebidas, alimentos líquidos e em outros processos químicos. A gelatina industrial é usada na fabricação de adesivos, abrasivos, fósforos, capsulação de corantes, etc.

Depois podemos falar de crinas e pelos que serão usadas para produção de escovas de enceradeira, escovas para armas de fogo, escovas para lavagem de garrafas, vassoura de pelo e brocha de pintor. Também são usados em luvas de boxe, poétrix (jóias e próteses). Além disto, são usados nos filtros de ar e óleo combustível dos carros.

O sebo produzido tem utilização na indústria química, nos curtumes, nas industrias de sabão, de cosméticos, indústria alimentícia, de tintas, de explosivos, indústria farmacêutica, indústria de pneus, de lápis, fábrica de velas, etc.

Os cascos e chifres são usados em artesanatos, na formação de madrepérola e pérolas artificiais. O produto da moagem entra na composição do pó de extintor de incêndios, o óleo entra na composição dos óleos da indústria aeronáutica como aditivo no lubrificante dos aviões.

A bílis é usada na indústria química e de bebidas e na indústria farmacêutica, onde os sais biliares entram na composição de remédios digestivos, reagentes para pesquisas e pomadas para contusões.

A mucosa do estômago é usada na indústria de laticínios para a fabricação do coalho. Outras mucosas e glândulas são usadas na industria farmacêutica fornecendo diversas substâncias como insulina, hormônios da reprodução, enzimas digestivas, outros compostos enzimáticos, histamina, heparina, imunoestimulantes, glucagon, oxitocina, somatotrofina bovina (hormônio do crescimento), neurotransmissores, tiroxina (hormônio da tireóide), cerebrosídeos, etc, sendo estas substancias usadas na fabricação de remédios para uso humano.

Além disso tudo, há muitos outros subprodutos aproveitados como, por exemplo: conteúdo rumenal, usado como adubo orgânico e na produção de biogás, farinha de carne e ossos usada na fabricação de rações para cães e gatos, os intestinos são usados na fabricação de fios cirúrgicos, cordas para raquete de tênis, etc.

Dessa forma, não é exagero nenhum dizer que absolutamente tudo do boi é aproveitado, podemos dizer de forma simbólica que até o berro é aproveitado, pois pode ser gravado e utilizado em músicas e trilhas sonoras de filmes e novelas.

A pecuária e o abate de bovinos além de gerar riquezas e empregos diretamente, contribui sobremaneira para o funcionamento de diversos outros setores. Se o abate de bovinos parar haverá paralisação direta de 49 dos mais variados segmentos industriais. A pecuária é, portanto um dos principais geradores de riquezas para o país, e deve passar a ser tratada como tal. Para isso é necessária a mobilização de todo o setor para que todas essas informações cheguem à opinião pública. É para isso que trabalha o SIC, participe você também!

Fonte consultada: folheto elaborado pela APR-MT Associação dos Produtores Rurais do Mato Grosso
Autor: Leandro Bovo, médico veterinário pela UNESP Jaboticabal e Gerente Administrativo do SIC.

http://www.sic.org.br/praqueserve.asp