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domingo, 19 de junho de 2011

Segredo eterno? So na confissao (e para quem acredita...)

Eu já disse o que penso a respeito dessa tal sensibilidade de "documentos históricos", que justificaria segredo eterno para certos documentos: uma escapatória a guardar documentos que tem pouco a ver com a história, e sim com a reputação de certas pessoas, talvez até coisa menos elevada e nobre...
Nenhum país de respeito pode pretender esconder sua história: os que assim o fazem se tornam suspeitos de conivência com coisas pouco dignas do registro histórico, e talvez merecedoras de outro tipo de registro...
Paulo Roberto de Almeida

Fiquei desapontado com apoio de Dilma ao sigilo eterno de documentos, afirma historiador
FERNANDA ODILLA, BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 19/06/2011

Membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho afirma ter ficado "desapontado" com o recuo e apoio da presidente Dilma Rousseff ao sigilo eterno de determinados documentos oficiais.

"A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável da história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país", afirma o pesquisador.

Ele garante não nenhum episódio da história brasileira que não possa ser divulgado, em especial sobre temas como a delimitação de fronteiras brasileiras e a Guerra do Paraguai (1864-1870) --citados pelos que são contrários ao projeto que tramita no Senado e prevê a divulgação de todos os papéis oficiais.

Para o pesquisador, o grande problema é a falta de pessoal especializado para catalogar e disponibilizar documentos. Leia, abaixo, a entrevista com José Murilo de Carvalho, que respondeu por escrito as perguntas da Folha.

Folha - O Sr. acredita haver alguma circunstância em que é preciso manter o sigilo eterno de documentos oficiais? Por que?
José Murilo de Carvalho - Não. Segredo perpétuo só o da confissão. A história é dinâmica, tudo muda, mudam os valores, a política interna, a política externa, os próprios estados nacionais surgem e desaparecem.

Na avaliação do sr. há um tempo ideal máximo para se manter um documento com acesso restrito?
Não há tempo máximo ideal. Depende do momento, da prática dos outros países, da conjuntura interna e internacional. O que era um prazo bom em certo momento já pode parecer inaceitável em uma sociedade mais democratizada. Os prazos estabelecidos no projeto aprovado pela Câmara são razoáveis e estão de acordo com as tendências atuais.

Quem deveria participar da classificação de documentos oficiais?
Primeiro, claro, deve haver uma lei classificando os documentos de acordo com seu grau de importância e das possíveis consequências. Feito isso, a liberação deve ser automática assim que decorra o prazo estabelecido. Caso possa haver prorrogação do sigilo, como no projeto aprovado pela Câmara, uma comissão avaliará se deve ser ele prolongado ou não. Essa comissão deve ser mista. Pode, por exemplo, incluir representante do Itamaraty (caso o documento tenha a ver com política externa), do Ministério da Justiça (no caso de política interna), do Congresso, do Judiciário, da OAB, das Universidades (historiadores).

Pela experiência do senhor, quais episódios relevantes da história brasileira podem ainda ser objeto de informações e documentos com conteúdo protegido por sigilo?
Episódio, nenhum. Há, naturalmente, negociações internacionais que podem exigir um prazo para liberação. O do projeto da Câmara (25 anos, renováveis uma vez) é mais do que suficiente. Há também documentos que podem atingir a honra de vítimas de tortura que devem ser tratados com cuidado.

Há risco de desconstruir mitos, personalidades e patronos com a divulgação de documentos hoje mantidos sob sigilo? Ou esses mitos já foram todos desconstruídos?
Se há riscos, é mais uma razão para abrir os arquivos. Mitos têm que ser destruídos em nome da maturidade democrática. Renan dizia que nações se criam à base de esquecimento, ocultação e mesmo mentira histórica. Mas hoje não se trata mais de construir a nação. Ela já existe. E para mantê-la, hoje, é necessário construir a sociedade democrática. Isso inclui o direito de informação sobre a própria história. A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável dessa história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país.

Em relação à Guerra do Paraguai e à disputa pelo território hoje ocupado pelo Acre, o sr. tem conhecimento de papéis com conteúdo capaz de provocar ameaça ao Estado? Em relação a esses dois episódios, há alguma informação ainda não revelada ou hoje alvo de especulação?
Participei, no governo FHC, quando Celso Lafer era Ministro das RE [Relações Exteriores], de uma comissão do Itamaraty para examinar a liberação dos documentos. Sobre a Guerra, não encontramos nada que justificasse o segredo, muito menos o eterno. Mais ainda, a comissão convidou um diplomata aposentado, especialista em tratados internacionais de fronteiras e ele garantiu que a abertura não traria qualquer risco, pois são atos jurídicos perfeitos. Escondem o seu passado países inseguros, autoritários. Países maduros com sociedades democráticas não têm medo de enfrentar seu passado, seja ele qual for

O Itamaraty garante no arquivo do MRE não há mais nada protegido por sigilo em relação à Guerra do Paraguai. Acredita que absolutamente tudo sobre o episódio está aberto a consulta?
No Arquivo do Itamaraty, o grande problema é a falta de pessoal técnico para classificar, catalogar e disponibilizar os documentos. Como parece estar proibida a contratação desse pessoal, o país e os historiadores ficam privados de uma extraordinária fonte de pesquisa. Fora isso, é até tedioso ficar discutindo a abertura dos documentos da Guerra.

Na avaliação do sr., os defensores do sigilo eterno têm receio de que?
Há que perguntar a eles. E a posição da presidente Dilma? Fiquei desapontado com seu apoio ao segredo e ocultamento perpétuos. Esperava dela a mesma posição que adotou em relação à comissão da verdade. Os documentos da ditadura são muito mais delicados do que os de cem anos atrás. Nesse ponto, a posição do ex-presidente Lula, apoiando o projeto da Câmara, está mais de acordo com os novos tempos democráticos.

A tragedia grega do euro: desafios epicos...- Kenneth Rogoff

O título é meu, mas a análise é de um dos economistas mais respeitados da atualidade.
A questão é simples: o euro tem futuro?
Parece que sim, mas vai ter de entrar em alguma academia de fisioterapia, ou estação de águas, para fazer um bom recondicionamento antes de se colocar novamente em marcha.
O problema, como sempre, não é tanto o euro, mas o que fazem deles governos irresponsáveis.
Velha questão, soluções clássicas: regime de emagrecimento, educação espartana, hábitos sóbrios, sem se perder na bebida ou em festinhas muito caras. Nem sempre se tem uma tia rica -- estilos EUA ou Alemanha -- para pagar a conta do seu cartão de crédito. Um dia isso acaba...
Paulo Roberto de Almeida

El euro, en la encrucijada
KENNETH ROGOFF
El País, 19/06/2011

Europa se encuentra en una crisis constitucional. Nadie parece tener el poder de imponer una resolución razonable a la crisis de la deuda de sus países periféricos. En lugar de reestructurar la carga de deuda manifiestamente insostenible de Portugal, Irlanda y Grecia (los llamados países PIG, por sus iniciales), los políticos y legisladores están presionando para que se adopten paquetes de rescate cada vez más grandes con condiciones de austeridad cada vez menos realistas. Por desgracia, no están solo "pateando" el problema para más adelante, sino empujando una bola de nieve montaña abajo.

Es cierto que, de momento, el problema sigue siendo económicamente manejable. El crecimiento de la eurozona es respetable, y los PIG representan solo el 6% de su PIB. Pero al argumentar obstinadamente que estos países se enfrentan a una crisis de liquidez, en lugar de un problema de solvencia, los funcionarios del euro están poniendo en riesgo todo el sistema. Importantes economías de la eurozona, como España e Italia, padecen grandes problemas de endeudamiento, especialmente si se tiene en cuenta su crecimiento anémico y una manifiesta falta de competitividad. Lo último que necesitan es que se haga creer a la gente que ya hay en marcha una unión implícita de transferencias y que las reformas y la reestructuración económica pueden esperar.

Los funcionarios de la Unión Europea sostienen que sería catastrófico reestructurar las deudas de cualquier miembro de forma proactiva. Es ciertamente el caso del contagio que ocurriría si se reestructura la deuda griega. Dejará de propagarse solo cuando Alemania erija un cortafuegos firme y creíble, probablemente en torno a la deuda de los gobiernos centrales español e italiano. Este es exactamente el tipo de solución realista que uno vería en una zona monetaria verdaderamente integrada. Así que, ¿por qué los líderes europeos encuentran tan inimaginable esta solución intermedia?

Tal vez es porque creen que no tienen en funcionamiento los mecanismos de gobernanza necesarios para tomar decisiones difíciles, para elegir ganadores y perdedores. Las instituciones fracturadas y débiles de la Unión Europea disponen de menos del 2% del PIB de la eurozona en ingresos fiscales. Cualquier tipo de decisión audaz esencialmente requiere unanimidad. Es un "todos para uno y uno para todos", independientemente de su tamaño, posición de deuda y capacidad de rendición de cuentas. No tiene sentido elaborar un plan B si no hay autoridad o capacidad para ejecutarlo.

¿Puede Europa tener suerte? ¿Hay alguna posibilidad de que la bola de nieve de deuda, disfuncionalidad y dudas se deshaga sin causar daño antes de que cobre más fuerza?

En medio de tanta incertidumbre, todo es posible. Si el crecimiento de la eurozona supera ampliamente las expectativas en los próximos años, los balances de los bancos se fortalecerían y los bolsillos de los contribuyentes alemanes se volverían más voluminosos. Los países periféricos podrían experimentar un crecimiento suficiente para ir cumpliendo sus ambiciosos compromisos de austeridad.

Sin embargo, es mucho más probable que la estrategia de hoy conduzca a un estallido y a una restructuración desordenada. ¿Por qué el pueblo griego (por no hablar de los irlandeses y los portugueses) tendrían que aceptar años de austeridad y lento crecimiento a fin de conseguir apuntalar los sistemas bancarios francés y alemán, a menos que reciban grandes sobornos para hacerlo? Como el profesor de Stanford Jeremy Bulow y yo mostramos en nuestro trabajo sobre la deuda soberana en la década de 1980, rara vez se puede exprimir a los países para que realicen pagos netos (pagos menos nuevos préstamos) a entidades extranjeras de más de unos cuantos puntos porcentuales y por algunos años. La actual estrategia de la UE y el Fondo Monetario Internacional pide que estos pagos se realicen a lo largo de una o dos décadas. Tiene que hacerlo, no sea que los contribuyentes alemanes se rebelen ante la perspectiva de tener que pagar por Europa a perpetuidad.

Quizás esta vez sea diferente. Tal vez el encanto de pertenecer a una creciente moneda de reserva haga que una recesión y austeridad sostenidas sean posibles de maneras rara vez vistas en la historia. Lo dudo.

Es cierto que, contra todos los pronósticos y la lógica histórica, parece que Europa va a mantener el liderazgo del FMI. Notablemente, en su resignación a la aparentemente inevitable elección del primer puesto, los líderes de los mercados emergentes no parecen darse cuenta de que todavía deben desafiar la prerrogativa de los Estados Unidos de nombrar al extremadamente poderoso número dos del Fondo. El FMI ya ha sido extraordinariamente generoso con los países PIG. Una vez que se enclave el nuevo equipo pro rescate, solo podemos esperar más generosidad, sin importar si estos países adhieren a sus programas.

Por desgracia, un FMI con gran permisividad es lo último que Europa necesita en estos momentos. Con su crisis constitucional, hemos llegado exactamente al momento en que el FMI debe ayudar a la eurozona a tomar decisiones difíciles que no puede adoptar por sí misma. El Fondo debe crear programas para Portugal, Irlanda y Grecia que restablezcan la competitividad y reduzcan la deuda, y les ofrezcan una esperanza realista de un retorno al crecimiento económico. El FMI debe impedir que los europeos permitan que su parálisis constitucional convierta la bola de nieve de la eurozona en una avalancha mundial.

En ausencia del FMI, la única institución con capacidad de actuar es el ferozmente independiente Banco Central Europeo. Pero si el BCE asume por completo el papel de "prestamista de último recurso", en última instancia, caerá en la insolvencia él mismo. No es manera de asegurar el futuro de la moneda única.

El final de cualquier crisis es difícil de predecir. Tal vez sea suficiente un colapso mayor de la tasa de cambio del euro, generando un auge de las exportaciones. Tal vez Europa entre en un auge de todos modos. Pero es difícil ver cómo la moneda única puede sobrevivir mucho tiempo más sin un paso decisivo hacia una unión fiscal más sólida.

Kenneth Rogoff es profesor de Economía y Políticas públicas en la Universidad de Harvard y fue economista en jefe del FMI.

Brasil-UE: a tal de relacao estrategica (tem muitas...)

Preocupaciones brasileñas
JOSÉ IGNACIOTORREBLANCA
El País, 17/06/2011

La cuestión no es si Brasil es socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es socio estratégico para Brasil

Escribo desde Brasilia, un festival de arquitectura y urbanismo que provoca sensaciones encontradas. Se celebra el XVIII Foro Brasil-Europa y he venido a encontrar la respuesta a una pregunta aparentemente sencilla. Brasil, dicen los documentos oficiales que se manejan en Bruselas, es un socio estratégico para la UE. Que la UE se fije en Brasil es fácil de entender: es ya la octava potencia económica del mundo, habiendo sobrepasado a miembros tradicionales del G-7 como Canadá e Italia, y va camino de convertirse en la quinta. Aquí, el efecto de la crisis ha sido tan leve como increíble el efecto rebote posterior: en 2010 el país creció a un 7.5%, así que lo que en realidad preocupa es un posible sobrecalentamiento de la economía. Brasil tiene algunas cosas de las que los europeos carecemos: una población joven, ingentes recursos naturales, una cesta energética en la que hasta el 40% de su consumo tiene su origen en energías renovables y un entorno geopolítico completamente favorable, pues carece de rivales o enemigos de peso. Para colmo de la envidia, tiene un superávit comercial con China, algo que en Europa cuesta siquiera imaginar. Estamos pues ante una potencia económica, energética y medioambiental de crucial importancia para la Unión Europea.

De todos los BRIC (Brasil, Rusia, India y China), Brasil es el más afín a Europa; además es una democracia y tiene una economía de mercado abierta, lo que no todos los BRIC pueden decir. Como dicen algunos aquí, Brasil es el "extremo Occidente", así que, al menos en teoría, deberíamos jugar en el mismo equipo. La cuestión no es entonces si Brasil es un socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es un socio estratégico para Brasil. Para responder a esta pregunta me ha parecido primero necesario averiguar qué quiere Brasil y qué le preocupa. Con las entrevistas que he hecho en el Ministerio de Exteriores brasileño y las ponencias de los participantes he elaborado una lista de preocupaciones.

Por un lado, les preocupa que la UE esté dejando pasar la oportunidad de cerrar las negociaciones comerciales con Mercosur. La presidencia española de la UE desbloqueó las negociaciones, pero los avances han sido escasos, cosa que atribuyen al proteccionismo agrícola de la UE y a los ciclos electorales europeos. También están preocupados por las no-admisiones de turistas brasileños a territorio Schengen y las condiciones, dicen que humillantes, en las que se gestionan estas repatriaciones. De igual forma, protestan por el bloqueo europeo a las exportaciones de etanol (Brasil es el primer exportador mundial), así como por la indiferencia de los europeos a la hora de calcular el impacto de sus regulaciones sobre la industria brasileña (se cita como ejemplo la directiva REACH sobre productos químicos, cuyas 273 páginas de normas obligan a las empresas brasileñas a invertir ingentes recursos en entender cómo aplicarla correctamente).

Otra preocupación es que los organismos internacionales estén llenos de europeos y que estos les presionen para secundar sus posiciones sin a cambio satisfacer los objetivos brasileños. Brasil ha hecho del logro de un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas un elemento central de su política exterior, pero los europeos no apoyarán esa demanda mientras siga prefiriendo alinearse con Rusia y China antes que con ella en las votaciones. Brasil se abstuvo en la votación del Consejo de Seguridad de la ONU sobre Libia. Lejos de arrepentirse, los brasileños señalan que los bombardeos de la OTAN sobre Trípoli en busca de Gadafi exceden el mandato original de la Resolución 1.973 y confirman que hicieron lo adecuado.

Pero si algo preocupa de verdad aquí es la desindustrialización. Brasil lo ha apostado prácticamente todo a la exportación de materias primas: además de dos millones de barriles de petróleo, el país es el primero del mundo en exportaciones de café, azúcar, tabaco y vacuno, y segundo en exportaciones de soja. Aunque China compra una gran parte de esas materias, a cambio inunda su mercado de manufacturas baratas con un yuan artificialmente devaluado, lo que tiene el efecto de hundir la industria nacional y desplazar los productos brasileños de sus mercados naturales latinoamericanos, también por cierto de los africanos (nótese que en la última década Brasil ha quintuplicado su comercio con África y abierto 35 nuevas embajadas). Esta lista de preocupaciones, tan diferente de las nuestras, es la madeja que Europa tiene que desenredar si quiere ser escuchada por Brasil. Hacerlo no parece precisamente fácil, pero sí inevitable si se quiere ser estratégico para Brasil.

Twitter: @jitorreblanca

sábado, 18 de junho de 2011

O governo constroi agora a crise futura...

Existem pessoas que pretendem que tudo vai bem, no melhor dos mundos. São os otimistas, ou inconscientes...
Existem outras, entre as quais me incluo, que pretendem ver um pouco além do que nos oferecem políticos, economistas irresponsáveis e outros aventureiros.
Sempre se deve ver um pouco mais longe do que a conjuntura imediata...
É o que nos oferece este editorial:

Governo e política salarial estimulam a inadimplência
Editorial - O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2011

Nas últimas semanas aumentou bastante a inadimplência, sinal de excesso de demanda, renda insuficiente e endividamento além da renda. O mais urgente desafio para o Brasil, hoje, é aumentar a poupança, tanto a do governo quanto a das famílias, isto é, reduzir o consumo que o governo de Lula estimulou por diversos meios, como o crédito em consignação, a expansão do crédito subsidiado e a redução da taxa de juros - embora ela ainda seja muito alta, em grande parte por causa da poupança insuficiente.

Apesar desse quadro, podemos considerar que a economia brasileira na realidade estimula a inadimplência, que está mais elevada em razão de uma política habitacional que criou um endividamento suplementar, que poderia ser positivo se fosse acompanhado por medidas que restringissem as vendas a prestações e o uso dos cartões de crédito.

O estímulo à inadimplência tem, no momento, duas fontes principais: a política de gastos do governo e a perspectiva de aumentos salariais generosos já neste ano - e, mais ainda, a perspectiva de um aumento maior no próximo ano sem nenhuma justificativa vinculada a um aumento paralelo da produtividade.

O governo federal está prevendo para este ano um aumento de 10% das suas receitas e considera que poderá aumentar seus gastos numa proporção ligeiramente inferior à elevação das receitas, porém muito acima do crescimento do PIB. Nessa situação, o País não eleva sua poupança interna e até recorre à poupança externa. Não aparece uma decisão firme de conter realmente os dispêndios para se obter poupança. Não há dúvida de que as famílias contam, inconscientemente, com o aumento dos gastos governamentais que têm um papel importante na liquidez da economia. Assim, mantêm seus gastos apostando numa melhora futura que lhes permitirá honrar seus atrasados.

A política salarial, num clima de quase pleno emprego, tem efeito ainda mais nocivo, pois leva as famílias a não se preocupar muito com as suas dívidas, que pretendem saldar por meio dos aumentos que receberão neste ano, fugindo a qualquer preocupação com o futuro e sem pensar muito nos efeitos inflacionários desses reajustes, que, na realidade, reduzem o poder aquisitivo. A perspectiva é agravada quando se leva em conta que, no próximo ano, o salário mínimo será aumentado em cerca de 14% justamente para as famílias mais endividadas, que sacam sobre o futuro sem levar em conta que o plano de ter casa própria justificaria, na verdade, um aumento da poupança.

Celebrando o segredo e a impunidade: uma mania em certos circulos...

Não sei se outras pessoas admitem ser chanadas de idiotas. Eu não admito. Mas admito minha total falta de poder para mudar o que me parece ser uma agressão imbecil à minha inteligência.
O governo está dizendo que eu não sou capaz de controlar o que o governo faz, e que eu faria melhor ficando quieto enquanto ele gasta o meu dinheiro, aquele que eu ganho com o meu trabalho e que ele arrecada por impostos diretos, indiretos, contribuições, taxas e um sem número de outras fórmulas usadas para extorquir dinheiro dos brasileiros.
O governo está pedindo que eu seja um idiota calado, o que me recuso a ser.
Como disse, e repito, não tenho poderes para impedir isso. Acredito que a oposição, ou brasileiros dignos que trabalham nessa área, podem, devem, na verdade, impugnar essa legislação celerada do governo que lhe permite gastar dinheiro sem controle e sem prestar contas.
Não é possível fazer a toda uma nação de idiota, chamar-nos a todos de imbecis.
Não admito isso, mas a única coisa que posso fazer, no momento, é protestar por este modesto instrumento, e tornar outros leitores conscientes de que o governo pretende chamá-los de idiotas e usar como sabe o seu dinheiro, com a repetição de tudo aquilo que sabemos que acontece quando se trata de dinheiro público e hordas, enxames, ratazanas de sugadores contumazes dos recursos coletivos. A mim não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida

Sigilo para a bandalheira
Editorial - O Estado de S.Paulo
17 de junho de 2011

Se fosse permitido brincar com coisa séria, poderia se dizer que o governo ganhou a final de um campeonato com um gol de mão, em impedimento, depois dos acréscimos. É a comparação que ocorre diante da aprovação, tarde da noite de anteontem, do texto básico da Medida Provisória (MP) 527, que institui regras especiais para a realização de obras e serviços relacionados com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Ou, no jargão oficial, o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O texto afinal vitorioso foi apoiado por 272 deputados; outros 76 votaram contra e 3 se abstiveram.

Desde o ano passado, o Planalto vinha tentando driblar os dispositivos da Lei 8.666, que regulamenta as licitações oficiais, a pretexto de assegurar a modernização, a toque de caixa, da negligenciada infraestrutura nacional, para o País não passar vergonha nos dois maiores eventos esportivos do globo. Na quinta tentativa de legislar sobre a matéria no bojo de outras propostas, o governo terminou por alojá-la na MP que trata da criação da Secretaria de Aviação Civil. A oposição insistiu, com bons motivos, para que o assunto fosse objeto de um projeto específico. Mas, determinado a mostrar força e serviço depois da paralisia provocada pelo escândalo Palocci, o Planalto deu as costas à alternativa.

Já para a base aliada não faltaram concessões. É o caso da inclusão de aeroportos em capitais a 350 quilômetros de uma sede da Copa no novo regime de obras. Originalmente, o tratamento especial se restringia às cidades-sede. Além disso, esses municípios poderão tomar empréstimos até 2013 sem levar em conta seu limite de endividamento. Mas isso ainda é detalhe perto das facilidades que compõem o RDC. A principal delas desobriga as empresas interessadas de apresentar o projeto básico da empreitada antes da licitação. A MP chama isso de "contratação integrada". O nome mais adequado seria "contratação no escuro".

O governo alega que as contratadas não poderão fazer aditivos para aumentar o preço que pediram no momento da concorrência. Mas não parece excluída a hipótese de o governo aumentar até quanto bem entender o valor de um contrato. Na Lei de Licitações, o teto varia de 25% (no caso de obras novas) a 50% (quando se tratar de reformas). Se assim é, uma porta se fecha enquanto outra se escancara. Mas o gol de placa da MP - gol contra o dever elementar do setor público de dizer sem subterfúgios o que faz com o dinheiro do contribuinte - é a cláusula que livra o governo de informar à sociedade quanto pretendia gastar com determinada obra ou serviço. É a desfaçatez do orçamento secreto.

Assim como o contratado não precisou fazer um projeto para vencer a licitação, o contratante (União, Estado ou município) poderá ocultar o valor que estava disposto a desembolsar. No limite, o País ficará sem saber se a Copa custou menos ou mais do que o previsto - e por quê. Na primeira versão desse verdadeiro habeas corpus preventivo para a bandalheira, o governo ainda aceitava que os órgãos fiscalizadores, como os Tribunais de Contas, poderiam exigir informações sobre as importâncias em jogo a qualquer momento - antes ou depois da licitação. E poderiam também divulgar os dados recebidos. O Planalto deve ter concluído, delubianamente, que "transparência assim já é burrice".

E, na undécima hora, baixou as persianas por completo. Os órgãos de controle não só perderam a prerrogativa de se manter informados em qualquer etapa da obra - o governo é que decidirá o que lhes repassar e quando -, como ainda ficarão proibidos de tornar pública a documentação obtida. Atribui-se à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o argumento de que a Constituição admite o sigilo quando do interesse do Estado e da sociedade. É tratar os brasileiros como um ajuntamento de pascácios. O único interesse que essa obscenidade preservará será o da corrupção. O sigilo impedirá um Tribunal de Contas de instruir um processo em casos suspeitos.

A votação da MP não está concluída. A Câmara ficou de deliberar no próximo dia 28 sobre os destaques acrescidos ao texto. Quem sabe será possível então torná-lo um pouco menos acintoso.

Contra a divisao politica do Brasil: uma simples homenagem

Certas pessoas, em especial certos políticos, só conseguem viver, e alguns até prosperar, semeando a cizânia, a divisão, a oposição, entre pessoas, entre as classes (ou o que lhes parecer ser uma sociedade dividida em classes), entre partidos, enfim, categorias inteiras de cidadãos divididos.
Já se viu muito disso aqui no Brasil e em certos países vizinhos: é aquela coisa do "nós e eles", do "povo e a elites", dos "pobres e ricos", sempre contra, sempre em contradições, sempre em posturas opostas dos "bonzinhos" e "malvados", dos "virtuosos" e dos "perversos", enfim, uma maneira de ganhar dividindo, fragmentando, esquartejando, denegrindo os outros para poder realçar suas "qualidades" (muitas vezes falt de).

Não sou especial admirador dos supostos "grandes homens": todos tem seus motivos, suas fraquezas, suas ambições. Muitos se lançam na vida política por vaidade, mais do que por desejo sincero de ajudar o país e a sociedade. Mas alguns acabam fazendo mais bem do que mal, por possuírem melhores
qualidades pessoais e algumas noções de administração. Outros pensam fazer o bem, e acabam provocando problemas que vão se refletir mais adiante, ainda que possam trazer benefícios no curto prazo. Se eles ainda tentam dividir a sociedade, para promover seus objetivos pessoais, então, o mal que fazem é incomensurável. Mas isso só se pode perceber depois...
Não creio que se deva ser reverencial a FHC, mas concordo em que ele foi um dos melhores presidentes que tivemos, talvez não o melhor (pois isso depende de um julgamento mais ponderado, e objetivo), mas certamente um dos melhores, mais responsáveis, em todo caso.
Quanto a seu sucessor, um julgamento objetivo ainda não foi feito. Mas ele será feito, inclusive por mim, quando a ocasião for conveniente.
Minha modesta homenagem, e minha advertência estão feitas...
Paulo Roberto de Almeida

FHC, o presidente mais importante da história do Brasil, faz 80 anos hoje
Reinaldo Azevedo, 18/06/2011

O Brasil teve dois presidentes da República realmente fundamentais para a sua história: Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardozo. O primeiro descobriu o poder do estado na definição dos rumos de um país; o segundo, o poder da sociedade. Essas coisas não são um campeonato, mas, se eu tivesse de escolher, é evidente que ficaria com FHC. Com ele, não só o Brasil criou os marcos fundamentais para ocupar um lugar de destaque entre as economias emergentes como viu avançar o controle democrático do poder e do estado.

Na sexta-feira, dia 10, estive na Sala São Paulo, na festa que comemorou os seus 80 anos. FHC está de bem com a vida, feliz, ciente do seu legado e atento aos desafios presentes, com a lucidez de sempre. Fez uma brevíssima saudação aos convidados, exaltando, uma vez mais, a tolerância, a civilidade e a alegria de viver. Tendo prestado um enorme serviço aos brasileiros e ao Brasil, ele nos lembra que podemos, sim, ter um bom futuro.

Curiosamente, ou até por isto, o mais importante presidente da nossa história sofreu um tentativa de desconstrução inédita, com uma virulência como jamais se viu. Nem mesmo a ditadura avançou contra a herança do regime deposto pela “revolução” com a violência retórica com que Luiz Inácio Lula da Silva atacou o seu antecessor — nada menos do que o líder que havia posto fim ao ciclo da superinflação, que havia estabelecido os fundamentos do equilíbrio macroeconômico, que havia vencido alguns entraves históricos ao desenvolvimento. Não só isso: criou e consolidou as bases dos programas sociais no país, que, bem…, o Lula de oposição, ele sim!, chamava de “esmola”, o que está documentado em vídeo. O Apedeuta referia-se aos programas reunidos no Bolsa Família.

Oito anos de ataques implacáveis, sustentados pela mais poderosa máquina de propaganda jamais montada no país! Lula contou, ainda, com o auxílio pressuroso de setores da imprensa e do colunismo adesista, que se referiam — e alguns o fazem até agora — à “privataria” da era tucana, à “ruína” do governo FHC, ao “neoliberalismo” e a fantasias várias para tentar minimizar o papel definidor que o “homem do Real” teve na história do país.

Até ontem à noite, que se soubesse, Lula ainda não havia dado os parabéns àquele que tem a pretensão de ter como rival. Talvez não o faça. O misto de arrogância e insegurança intelectual do petista o impede de reconhecer a obra alheia, a grandeza alheia e até a gentileza alheia. Só conhece a prepotência e a subserviência. Não podendo se impor ao antecessor sob qualquer critério que se queira, então se sente diminuído — e, por essa razão, ataca.

Lula e o PT precisavam criar a farsa da ruptura com o passado para que seu projeto ganhasse identidade. Em certa medida e por um bom tempo, foram bem-sucedidos, ficando para a história o papel de fazer justiça a FHC, o que, de certo modo, já começou a acontecer, mas não sem revelar, contraditoriamente, um traço de morbidez do processo político brasileiro. Explico daqui a pouquinho.

Qualquer reconstituição minimamente honesta da história do país dos últimos 16 anos há de distinguir o homem que quebrou paradigmas e fundou a novidade daquele que teve, sim, o mérito de não tentar surfar contra a onda; há de distinguir o reformador fundamental do estado daquele que o submeteu, em muitos aspectos, a uma involução; há de distinguir o que atuou de olho no futuro daquele que buscou reescrever o passado. FHC sabe que lugar há de lhe reservar a história. E Lula também. E só por isso o tucano é capaz de reconhecer méritos no governo do petista, mas o petista jamais será capaz de reconhecer méritos no governo do tucano.

Em entrevista ao Correio Braziliense, FHC especulou, com algum humor, que Lula talvez tenha algum “problema psicológico” com ele. Tem, sim!, e já escrevi a respeito. Uma história sentimental do petista vai revelar o homem que se construiu eliminando os que o antecederam.

No sindicato, destruiu a velha-guarda na qual se ancorou para subir; no movimento sindical nacional, esmagou antigas lideranças para se tornar o grande líder; na esquerda, tratou com menosprezo ícones do pré-64, como Leonel Brizola (que o chamava de “sapo barbudo”) e Miguel Arraes; no próprio PT, desmoralizou todos aqueles que, ainda que minimamente, ousaram desafiá-lo. Não por acaso, no filme hagiográfico “O Filho do Brasil”, permitiu que o “pai” — refiro-me à entidade freudiana — fosse morto uma vez mais. Lula só sabe existir destruindo. Sua identidade estava, em sua cabeça ao menos, em ser um anti-FHC. De maneira escancarada, sempre fez questão de opor a sua ignorância à sabedoria do outro, destacando que ignorância é força. O esforço, no entanto, e já há sinais evidentes disso, vai se revelando inútil. À medida que o tempo passa, a obra de FHC se agiganta.

Estado mórbido
Aqui e ai já se começa a fazer justiça a FHC — de modo mais acentuado depois que a presidente Dilma Rousseff destacou o papel do tucano na estabilidade econômica e seu espírito democrático. Pois é… A mensagem da presidente parece ter, sei lá, destravado as consciências ou, ao menos, liberado setores da imprensa para reconhecer o óbvio. “Se até Dilma está dizendo, então deve ser mesmo verdade…” A “PeTite aguda” é uma doença do espírito que subordina a inteligência a comandos puramente ideológicos, a despeito dos fatos. É um estado mórbido — e o principal sintoma desse mal é a falta de independência.

Mas deixemos essa gente pra lá. FHC faz 80 anos. Vida longa àquele que nos libertou da condenação ao atraso e soube enxergar, contra a metafísica então influente da política brasileira, que a chave dessa libertação estava em pôr mais sociedade no estado, em vez de mais estado na sociedade.

Parabéns, presidente Fernando Henrique Cardoso!

Um filme, dois cenarios, uma unica realidade...

Estou revendo, na TV, o primeiro filme da série The Goodfather (O Poderoso Chefão, em português), e acabo de ouvir a frase de um dos cappi da mafia, quando ele se dirige ao demais, reunidos pelo dito cujo:


"Don Corleone conseguiu controlar tantos juízes e políticos em Nova York. Ele devia compartilhar com todos nós..."

Mutatis mutandis, me parece algo aplicável em outros países também...

Alguns pretendem dizer que senadores e juízes não matam ninguém. Diferença sutil, talvez...

Oliveira Lima: biblioteca em Washington recupera seu legado (OESP)

Transcrevo, mais abaixo, a íntegra da matéria que o Estadão publica neste sábado sobre

Oliveira Lima e seu legado

Frequentei regularmente, enquanto servia na Embaixada brasileira na capital americana, a biblioteca que leva o seu nome na Catholic University of America, lendo muitos livros do próprio escritor e vários outros. Desfrutei então da amizade de seu diretor, Thomas Cohen, e de sua bibliotecária principal, Angela Leal, a quem sou muito grato pelas gentilezas prestadas ao longo de minhas pesquisas.
Tive a chance, depois, de republicar um volume pouco conhecido de Oliveira Lima, escrito em seu primeiro posto diplomático, justamente Washington, quando ele redigiu vários artigos de imprensa, depois reunidos neste livro:

Manuel de Oliveira Lima:
Nos Estados Unidos: impressões políticas e sociais
(Brasilia: Senado federal, Conselho Editorial, 2009; 424 p.)
Ver minha introdução, "O império em ascensão (por um de seus espectadores)", neste link de meu site.

Devo dizer também que participei, recentemente, da apresentação e defesa de uma tese do Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, do Itamaraty. sobre o historiador-diplomata e sua obra, como segue:

Maria Theresa Diniz Forster:
Oliveira Lima e as Relações Exteriores do Brasil: o legado de um pioneiro e sua relevância atual para a diplomacia brasileira
(Brasília: Instituto Rio Branco, LVI Curso de Altos Estudos, 2011)

Em meu parecer, e na banca, defendi que a mesma fosse editada (com pequenas mudanças formais, pois está excelente), de preferência em formato comercial, para alcançar um público mais vasto, assim como fossem implementadas duas de suas recomendações principais, como transcrevo do trecho final de meu parecer:

"Talvez coubesse seguir a própria recomendação do autor – de que o Itamaraty crie um “Prêmio Oliveira Lima” para ser concedido à melhor monografia ou tese anual de temática histórica – aplicando-a exatamente a esta obra, que bem mereceria inaugurar tal distinção. Pode-se também sugerir o estímulo a bolsas de estudo – para diplomatas ou acadêmicos, indiferentemente – voltadas precipuamente para explorar o filão documental, bibliográfico e artístico da Biblioteca Oliveira Lima de Washington, uma vez que a riqueza dos materiais ali depositados ainda não foi sequer mapeada em toda a sua extensão, para não mencionar o próprio trabalho sobre fontes diplomáticas originais. A tese merece, sem hesitação, todos os elogios por desvendar esses aspectos do legado de Oliveira Lima."

Por fim, cabe referir ao excelente audiovisual elaborado pela mesma jornalista que fez a matéria, Laura Greenhalgh, coordenadora do caderno Sabático, do Estadão, que traz belíssimas imagens e o relato da vida de Oliveira Lima:

O legado de Oliveira Lima
O diplomata recifense doou a uma universidade norte-americana a maior biblioteca brasiliana existente fora do País. Assista ao documentário fotográfico, narrado por Laura Greenhalgh
(neste link).
Bom proveito...
Paulo Roberto de Almeida

Biblioteca em Washington recupera legado de Oliveira Lima
Laura Greenhalgh
O Estado de S.Paulo, Sábado, 18 de junho de 2011

Visita à Oliveira Lima Library, no câmpus da Universidade Católica da América, em Washington, recupera o legado do historiador brasileiro que trocou as altas rodas da diplomacia para se dedicar à maior biblioteca brasiliana fora do País

Para quem circula no mundo dos livros, e particularmente no das bibliotecas, a grife Oliveira Lima soa como algo mítico. Mas para quem não tem tanta afinidade com o meio, este sobrenome de origem portuguesa, tão comum nos cartórios brasileiros, passa discreto, sem chamar atenção.
Oliveira Lima e seu farto bigode em foto de 1924 - Oliveira Lima Library

Como discreta é a pequena placa grudada a uma porta no subsolo da biblioteca central da Universidade Católica da América, em Washington (UCA). Lê-se nela: The Oliveira Lima Library. Tocando a campainha, a porta branca de escritório se abre e, em vez de um almoxarifado, vê-se a primeira de um conjunto de quatro salas abarrotadas de livros raros e obras de arte. Quem destrava a fechadura é a única funcionária do lugar: a americana Maria Angela Leal, filha de mãe colombiana e pai cubano, formada em estudos latino-americanos na Universidade Stanford (com especialização em literatura brasileira), e que é capaz de saudar o visitante num português surpreendente. É a bibliotecária chefe, mas sem equipe a coordenar, de uma coleção brasiliana de importância comparável à do bibliófilo José Mindlin (1914-2010), doada para a USP, e mesmo à da Biblioteca Nacional, no Rio. Além de ser a única brasiliana fora do Brasil a constituir uma biblioteca em si mesma, e não parte de uma biblioteca geral - como brasilianas recolhidas às universidades Brown, Stanford ou Texas.

O legado do bibliófilo pernambucano Manoel de Oliveira Lima (1867-1928), diplomata, historiador e jornalista (foi colaborador do Estado de 1904 a 1923), é impressionante até para os padrões atuais: são 58 mil livros, perfazendo históricas conexões entre Portugal e Brasil desde os primeiros anos pós-Descobrimento, cerca de 600 obras de arte, entre pinturas, aquarelas, gravuras, mapas, esculturas, mais de 200 mil páginas de correspondência envolvendo 1.400 missivistas e ainda seis dezenas de grossos álbuns de recortes de jornais, o que já denuncia o espírito obstinado que paira por entre as estantes. Pois a formação desse acervo confunde-se com a vida de um intelectual contaminado pela paixão da leitura, que mesmo envolvido em altas missões da diplomacia, jamais abriu mão de produzir história, incendiar polêmicas políticas ou culturais de seu tempo e, fundamentalmente, colecionar livros raros. Mas como é mesmo que a brasiliana Oliveira Lima foi parar no basement de uma biblioteca americana? A resposta poderia partir deste ponto.

Encaixotando os livros. Aposentado da carreira diplomática ao fim de uma sequência desgastante de desentendimentos com o Barão do Rio Branco - de grandes amigos na carrière viraram desafetos irreconciliáveis -, Oliveira Lima resolveu um belo dia viver em Washington. Já era um nome respeitado nos círculos acadêmicos americanos, afinal foi dele o primeiro curso sobre História do Brasil ministrado nos EUA (em Harvard), o que lhe terá rendido convite posterior para um tour por 12 universidades americanas, como conferencista - itinerário que ele cumpriu de trem, acompanhado por Flora Cavalcanti de Albuquerque, sua mulher e cúmplice na bibliofilia. Pois em 1916, o grand seigneur terrible do Itamaraty decide doar, em vida, seus milhares de livros para a única universidade pontifícia de Washington, de onde foi professor. Deverá ter pesado na escolha o fato de o casamento não ter lhe dado herdeiros.

A doação foi consumada em troca de apoio logístico. Como o casal dividia o acervo em endereços que mantinha em Londres, Bruxelas e Lisboa, e como a universidade se dispunha a reunir e trasladar os milhares de livros para os EUA, o doador aceitou a proposta, impondo duas condições: 1. que sua brasiliana fosse uma instituição com identidade própria e autonomia no câmpus; 2. que ele próprio fosse contratado como o primeiro bibliotecário a chefiar a instituição. Condições atendidas, navios zarparam em 1920 da Europa carregando um acervo que prima não só pelo volume, mas pela qualidade de seus títulos. Thomas Cohen, brasilianista e stanfordiano como Maria, há 21 anos à frente da Oliveira Lima Library, comenta: "Embora o acervo focalize a história colonial brasileira e a primeira República, Oliveira Lima jamais quis que esse patrimônio seguisse para o Brasil. Expressou o desejo em testamento, preocupado com o risco de dispersão dos livros quando ele e Flora não mais vivessem".

Assim, há mais de 90 anos essa brasiliana vive no câmpus da Universidade Católica da América e seria injusto afirmar que o desejo de preservação do doador não tenha sido atendido. Foi. Mas trata-se de vida modesta demais para um patrimônio que mereceria sede própria, ampla o suficiente para tirar de caixas e arquivos abarrotados os milhares de documentos colecionados pelo bibliófilo, sem falar nas obras de arte, que poderiam formatar exposições temporárias, itinerantes, permanentes. Cohen sonha fazer da Oliveira Lima um centro de estudos brasileiros em Washington aberto a pesquisadores e ao público em geral, mas para isso busca investidores tanto no Brasil quanto nos EUA. Sabe-se que a dotação orçamentária da universidade paga despesas básicas de manutenção e pouco sobra para a compra de títulos novos que tenham a ver com as vigas mestras da brasiliana. Quanto ao patrimônio pessoal dos Oliveira Lima, deixado por Manoel e por Flora para constituir o fundo de preservação da biblioteca, se rarefez com o tempo. Afinal, eram gente de cultura, não de grande fortuna. Hoje, a preocupação de dar não só uma sede digna, mas visibilidade a esse legado, se justifica mais do que nunca: quando for totalmente digitalizada, quem poderá garantir que a Oliveira Lima Library não vá parar num depósito de livros, numa dessas warehouses inimagináveis?

Caçador de raridades. A pergunta pode parecer apocalíptica, mas está no centro do debate atual sobre o futuro das bibliotecas acadêmicas nos Estados Unidos. E, no caso específico, a situação se complica pela quantidade de obras de arte do acervo. Em seus deslocamentos pelo mundo, como diplomata, Oliveira Lima adquiria livros raros de marchands que também comercializavam pinturas, mapas ou gravuras de boa procedência. Foi de um deles, Frederic Müller, que comprou uma paisagem de Pernambuco pintada por Frans Post (1612-1680), artista holandês que veio ao Brasil na comitiva de Maurício de Nassau. Trata-se de obra de tanto valor que Cohen aceitou tirá-la do subsolo e emprestá-la à National Gallery of Art, de Washington. Lá a tela vive em melhor estado de conservação e segurança, ao lado de mestres como Vermeer e Rembrandt.

Outros itens atingem esse patamar de importância, como a tela de Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) retratando o Largo do Machado, no Rio; o único busto em bronze de d. Pedro I, moldado pelo escultor Marc Ferrez (1788-1850); a única cópia colorida existente de Rerum per Octenium in Brasilia, de Gaspar Barleus (1584-1648), obra sobre os oito anos de administração de Nassau no Brasil, ilustrada com aquarelas de Frans Post; o primeiro livro em francês sobre o País, do franciscano Andre Thevet (1502-1590) - La Singularité de la France Anthartique (circa 1556); belos retratos a óleo de d. João VI, personagem de alentada biografia escrita por Oliveira Lima; enfim, livros raros e obras de arte vão se entrelaçando de forma a moldar o universo intelectual de um homem saído de Pernambuco para crescer nos salões da Europa, sem perder de vista seu país de origem: a onda abolicionista, a transição do regime monárquico para o republicano, o Brasil no concerto das nações, o palco da Primeira Guerra Mundial... O sociólogo Gilberto Freyre, de quem Oliveira Lima foi grande amigo e com quem se correspondeu pela vida afora, dizia que ele tinha "um quadro mental lusitano, com certas gaucheries". E que sofria da incontinência da pena. Afinal, como explicar esse intelectual que trocou a fogueira das vaidades da diplomacia - sendo ele próprio muito vaidoso - para se dedicar ao mundo introspectivo dos livros e da arte?

Um quixote gordo. Oliveira Lima nasceu em Pernambuco, filho de um negociante português que fez fortuna no comércio do açúcar. Quando estava com 6 anos, o pai decidiu voltar a Portugal com a família e lá se foi o garoto, de olho comprido no que ficou para trás. Tanto que fundou em Lisboa, aos 15, uma revista chamada Correio do Brasil. Com 21, o então aluno de Teófilo Braga se formou na Academia Superior de Letras e passou a colaborar na Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós. É nesse ponto que decide voltar à terra natal para ingressar no serviço diplomático.

Casou-se com Flora, filha de senhor de engenho em Cachoeirinha (PE), e passou a ocupar postos de representação a partir de 1890: primeiro em Lisboa, depois Berlim, Washington (sob o comando do diplomata Salvador de Mendonça, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, a ABL), Londres (onde assistiria aos funerais da rainha Victoria), Tóquio (quando mergulhou em estudos sociológicos sobre os japoneses), Caracas (depois de driblar ordens de Rio Branco de seguir para Lima), Estocolmo e Bruxelas (quando chegou a ministro plenipotenciário da embaixada).

Nesse trânsito de vida, além de acumular livros, reservava tempo para escrever em média 15 cartas por dia (daí o total de 200 mil arquivadas na biblioteca). Entre seus missivistas, de Machado de Assis a Gilberto Freyre, se encontra a nata das letras luso-brasileiras, fora intelectuais europeus e americanos, como o geólogo e bibliófilo John Casper Brenner, que doaria uma brasiliana de 1.600 volumes para a Universidade Stanford, na Califórnia. Analisando-se essas cartas (e muito há para ser analisado), emergem os confrontos políticos e embates intelectuais em que Oliveira Lima se meteu, a ponto de Freyre o chamar de "Quixote Gordo". Há, por exemplo, a longa correspondência com Joaquim Nabuco, em que se vê de início um jovem republicano a trocar farpas com o abolicionista célebre, exilado por defender a monarquia. Acompanhando a correspondência entre ambos por mais tempo, percebe-se como trocam de posição: mais tarde Nabuco defenderia a República e Oliveira Lima a atacaria, criticando as oligarquias no poder.

Ao tomar posse na ABL, em 1902, na cadeira 39, proferiu um discurso oceânico exaltando a figura do historiador Francisco Varnhagen (1816-1878), mas aproveitou para ajustar contas com a diplomacia brasileira ("deixou de ser arte para virar uma profissão"). Não faltaram alfinetadas ao chanceler Rio Branco. Um dos pontos de divergência entre ambos era a anexação do Acre, alvo do inconformismo de Oliveira Lima. Considerava o País grande (e mal administrado) demais para ganhar outro naco territorial. Não houve acordo entre Quixote Gordo e Juca Paranhos - este, filho do Visconde de Rio Branco, figurão do império.

Entre patranhas e artimanhas do Itamaraty - foi tachado de monarquista ao criticar republicanos e germanófilo por defender a neutralidade brasileira na Primeira Guerra Mundial -, Oliveira Lima preferiu aposentar-se da diplomacia para se dedicar ao jornalismo, à crítica literária e, acima de tudo, aos livros que colecionou e escreveu.

As missões de representação renderam várias obras, como Nos EUA (1899), No Japão (1914), Na Argentina (1919). Além da biografia de d. João VI, deixou outras obras históricas, como Memórias Sobre o Descobrimento do Brasil e História Diplomática do Brasil, alguns títulos escritos originalmente em francês, como Machado de Assis et Son Oeuvre Littéraire ou Sept Ans de Republique au Brésil, e ainda teve tempo de escrever suas Memórias, obra editada nos anos 30 por Flora, já viúva, e Gilberto Freyre.

Quixote Gordo fez a alegria dos chargistas com seu corpanzil de pernas afinadas e barriga proeminente, embora a obesidade lhe tenha causado inúmeros problemas de saúde. Na foto da página ao lado, em que aparece com a cúpula da Universidade Católica da América, quatro anos depois da chegada dos livros à biblioteca, se vê como estava magro, rosto abatido e flácido, olhar melancólico. Trabalhou na sua brasiliana até morrer, quando foi substituído por Flora (que mais tarde contrataria o historiador português Mauricio Cardozo, ex-aluno de Gilberto Freyre, 45 anos depois substituído pelo brasilianista Richard Morse, e por fim substituído por um de seus alunos, Thomas Cohen). A residência do casal em Columbia Heights, não distante da universidade, foi vendida após a morte de Flora e o produto da transação também ficou para a biblioteca. Oliveira Lima não quis outras glórias. Da lápide de seu túmulo no Cemitério Mont Olivet, na capital americana, nem seu nome consta. Apenas o epitáfio: "Aqui jaz um amigo dos livros".

Veja também:
Diálogos e atritos em torno do Brasil
Em debate, o peso do acúmulo de papéis

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Diálogos e atritos em torno do Brasil
Antonio Arnoni Prado
O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2011

As relações entre Oliveira Lima, Nabuco e Sérgio Buarque

Quando se iniciou na crítica, ainda adolescente, à frente do Correio do Brasil - revista que fundou em Lisboa com apenas 15 anos de idade -, Oliveira Lima talvez pensasse em fazer dessa modesta incursão editorial uma afirmação acadêmica do aluno aplicado que ele sempre foi. Ou, mesmo, em amenizar a distância da pátria com uma razão de trabalho que o reintegrasse à cultura do país de origem, de que tanto se ressentia.

Como é natural, não escapou - nesses esboços precoces - à indefinição de critérios e ao arroubo dos juízos críticos, que nem sempre correspondiam à verdade dos fatos e dos temas analisados. É um desses arroubos que o aproxima de Joaquim Nabuco no dia 14 de outubro de 1882, quando este último, então correspondente do Jornal do Commercio na Inglaterra, decide enviar ao jovem diretor do Correio uma carta de agradecimento por haver recebido da revista uma singela nota biográfica.

Na carta, depois de agradecer a simpática deferência e em particular o privilégio do retrato que a encimava, Nabuco nos dá bem a medida do que foram aqueles escritos arrebatados do rapazinho Lima em Portugal. Num primeiro momento, por registrar a surpresa de haver sido biografado por um menino ainda em botão, que desabrochava "encantado pelo sol da pátria". E em seguida por tentar desfazer o tom excessivamente idealizado do artigo, fazendo ver ao rapaz que - bem ao contrário do que o seu texto sugeria - nada havia de desterro em sua recente expatriação para Londres. "O meu desterro em Londres não é voluntário" - escreve Nabuco, por certo aludindo ao fato de que, mesmo depois de haver lançado com André Rebouças a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, não conseguira eleger-se para o primeiro distrito da Corte. "Se se pode chamar de desterro, acrescenta, ele me foi imposto por circunstâncias inteiramente alheias à minha vontade", o que nem de longe permitia afirmar, como fazia o Correio, que ele estivesse na Europa representando para a escravidão "o papel de Victor Hugo para o Segundo Império nem o de Luiz Zorilla para com a monarquia dos Bourbons". Muito ao contrário, Nabuco explica, estava ali simplesmente tratando de ganhar a vida como "um emigrado que deixara o Brasil por discordar da escravidão que o infestava".

Mais tarde, já na carreira diplomática como primeiro secretário da Legação Brasileira em Washington, sob as ordens de Salvador de Mendonça, e tendo acabado de publicar, além dos Aspectos da Literatura Colonial Brasileira, uma série de artigos que apareceram na Nouvelle Revue sob o título de Sept Ans de Republique au Brésil, Lima discordará de Nabuco em relação aos acontecimentos que se seguiram à deposição de Pedro II.

É do próprio Nabuco, em carta de 28 de novembro de 1896, a impressão de um Oliveira Lima cheio de esperanças no regime que se instalara no Brasil em novembro de 1889. "Infelizmente - escreve então ao ex-crítico do Correio do Brasil -, o seu espírito sofre do mal oposto ao que me atacou, o seu otimismo é tão doentio como o meu pessimismo, ainda que a sua doença seja mais alegre e divertida do que a minha." É que, naquela altura, a República significava para Nabuco uma espécie de anuência nacional prestes a precipitar o Brasil na irremediável decadência das repúblicas hispano-americanas, coisa contra a qual - a seu ver - só a Monarquia, de que era então um dos paladinos ilustres, poderia evitar.

Ardor ideológico. O reparo de Nabuco vinha também como resposta tardia ao tom restritivo com que, anos antes, Oliveira Lima comentara pelas páginas do Correio do Brasil o livro O Abolicionismo, que o autor de Minha Formação publicara em Londres, em 1883. Naquele texto, apesar de reconhecer em Nabuco o estilo simples e enérgico que o consagrou, Lima considerava que o ardor ideológico o impedia de perceber a verdade, levando-o a alguns exageros incontornáveis, como por exemplo o de afirmar que a Igreja brasileira nada fizera em favor da Abolição e o de dizer que a lei Rio Branco revelara defeitos e pouco espírito humanitário, quando de fato - contra-argumenta - se tratava de um diplomata sincero e verdadeiramente abolicionista, na real significação da palavra.

A verdade é que essa controvérsia isolada entre o então editor do Correio do Brasil e o célebre monarquista exilado na Europa representou, na trajetória de Oliveira Lima, uma espécie de revelação premonitória que a resposta retardada de Nabuco vinha agora confirmar. De um lado, pela transformação das convicções políticas em jogo, que acabarão depois se invertendo: Nabuco passando-se para as hostes republicanas, cujo regime defenderá com brilho na esfera internacional e em particular nos Estados Unidos, onde seria inclusive nosso primeiro embaixador; Oliveira Lima convertendo-se aos quadros da Monarquia, em razão da qual acabaria se indispondo com o governo republicano, que passará por cima de sua inestimável contribuição diplomática e o abandonará à própria sorte, até a decisão de exilar-se nos Estados Unidos, onde passará o resto da vida e acabará sepultado. E, de outro, pelo percurso intelectual voltado para o cosmopolitismo da belle époque (os salões, os espetáculos, as salas de conferência) e o fascínio pela oratória institucional, temperado pela nota inventiva da historiografia de Oliveira Martins, que o estimulava a ver na história dos homens e de sua cultura um exercício de "ressurreição artisticamente construída".

Compreende-se, assim, que, ao imaginar, na base de sua crítica madura, a construção hermenêutica de um panteão nacional inspirado nos modelos consagrados pela tradição lusitana, o método de Oliveira Lima, mais do que descrever, analisar e avaliar a produção dos escritores brasileiros dentro do seu próprio sistema literário, o que fará é convertê-los num segmento secundário do sistema de origem, suprimindo na própria fonte não apenas a autenticidade dos temas e dos processos não codificados, como também a representatividade da comunicação efetiva dos autores com o seu público, para não falar da representatividade da própria língua, cuja expressão e pesquisa quase nunca mereceram dele um registro que se livrasse da mera notação de exotismo ou do excessivo pendor nativista, como o demonstram, por exemplo, as suas análises sobre Gregório de Matos e José de Alencar.

Referências. Isso sem falar que o Machado de Assis, visto por ele, só é grande quando transformado num discípulo dos clássicos da língua - um Vieira, um Almeida Garrett, a quem Machado teria o mérito de nivelar-se pela "simplicidade do estilo" e pela "perspectiva inteiramente nova e original". É justamente essa a referência hermenêutica do panteão concebido por Oliveira Lima, pois é dele que irradiam as virtudes estético-literárias hauridas nos "espíritos superiores da imaginação e do pensamento", tomados como verdadeira tábua de princípios a fundamentar o universo de sua crítica. Além de Machado de Assis, lá estão - alinhados num mesmo patamar - Rui Barbosa, Olavo Bilac, Euclides da Cunha, Coelho Neto, Salvador de Mendonça - todos eles, para o autor do D. João VI no Brasil, espíritos em que de algum modo reverbera a vocação do primeiro Joaquim Nabuco, cujo "sentimento brasileiro" se destacava por haver sido polido na imaginação europeia.

Um bom modo de avaliar o seu legado é compreender como se amplia a distância entre as tarefas dos "espíritos construtores" - que Oliveira Lima foi buscar em Oliveira Martins para traduzir a grandeza moral dos nossos "homens representativos" (um João Ribeiro, um Euclides da Cunha, um José Veríssimo) - e a ação antipassadista dos modernistas fora da ordem, inspirado na qual um crítico como Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, romperia em 1926 com o tradicionalismo da falsa vanguarda. Se aos primeiros, valorizados na crítica de Oliveira Lima pela aliança entre "grandeza moral e a imaginação cintilante", cabia zelar pela "expansão dinâmica da inteligência brasileira e pela integridade clássica do vernáculo", aos segundos tocava desviar aquele dinamismo para a pesquisa da expressão original da língua rústica e das nossas falas populares em estado puro.

Sabemos hoje até onde a crítica de Sérgio nos levou a duvidar de que mesmo antes da nossa independência política - como queria Oliveira Lima - já dispúnhamos de uma expressão literária nacional, por mais civilizadora que aparentasse ser. Hoje é possível dizer que, à medida que veio ampliando, a partir de Raízes do Brasil, o alcance de suas análises, mais se aprofundaram as convicções com que, na evolução de seu método, Sérgio descartou do nosso horizonte as tarefas "do crítico restaurador" que projetava nos acontecimentos do passado uma espécie de sentimento cultural de nostalgia, interessado em rastrear no tempo a figuração dos mitos da nossa identidade literária. Daí o empenho, na crítica de Sérgio, não apenas pelas assimetrias culturais que se expandiam com o novo século, mas sobretudo pelo espírito de resistência e ruptura frente aos fatores responsáveis pelo atraso que nos submetiam desde a colônia.

ANTONIO ARNONI PRADO, PROFESSOR DE LITERATURA NA UNICAMP, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DE ITINERÁRIO DE UMA FALSA VANGUARDA (EDITORA 34, 2010) E DOIS LETRADOS E O BRASIL NAÇÃO - A CRÍTICA DE OLIVEIRA LIMA E SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, A SAIR NO SEGUNDO SEMESTRE

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Em debate, o peso do acúmulo de papéis
Raquel Cozer
O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2011

Depositária do acervo bibliográfico e documental do Brasil, a Biblioteca Nacional voltou a comandar as políticas do livro e da leitura - reacendendo a discussão sobre os melhores rumos de suas funções.

O anúncio foi feito com pompa em São Paulo, onde desembarcou, na última quarta-feira, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim. Instaurou-se o Circuito Nacional de Feiras de Livros, projeto de estímulo a festivais do gênero "que já nasce com 75 eventos até dezembro em todo território nacional", como reafirmou depois a FBN por e-mail. Por enquanto, o circuito fez apenas catalogar feiras já existentes, mas o número parece cair bem. "A ideia é dobrar a quantidade até 2014", afirmou Galeno, já de volta ao Rio, no dia seguinte, por telefone ao Sabático.

Galeno gosta de números. Com menos de seis meses na presidência da instituição, ainda precisa checar com assessores um ou outro cômputo que passará a reiterar em entrevistas, mas a tendência é que logo discorra sobre eles com o desembaraço com que hoje cita dados do mercado e de políticas do livro. E números na Fundação Biblioteca Nacional andam ainda mais assíduos desde que, em janeiro, com a divulgação de seu nome à presidência, veio também a público a informação de que a FBN passaria a comandar a Diretoria de Livro, Leitura e Literatura, antes vinculada à Secretaria de Articulação Institucional do MinC. Com isso, em vez de seguir dividindo com a DLLL a coordenação das políticas de livro e leitura implantadas no País, a Fundação aglutinou todo o trabalho.

A decisão culminou, meses depois, com o pedido de demissão de José Castilho Marques Neto. O presidente da Editora Unesp atuava desde 2006 como secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, o conjunto de projetos que norteia as ações públicas na área. Exercia o cargo representando a sociedade civil, sem receber recursos do governo. Ao deixar o PNLL, enviou à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, carta crítica à "concentração de toda a gestão da política de leitura na Fundação Biblioteca Nacional". Destacou: 1. que a decisão contrariava o trabalho encaminhado pelo governo anterior (lentamente, cabe dizer) para a criação de um instituto ou uma secretaria de fomento à leitura; e 2. que a alteração transferia todo o poder decisório nesse debate para o governo, já que o secretário executivo agora responde ao presidente da FBN.

Castilho e Galeno são reconhecidos pelo empenho com a causa do livro no Brasil. O primeiro, que já foi diretor da Biblioteca Mário de Andrade, acaba de ser eleito à presidência da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu). O segundo foi secretário de Cultura de Ribeirão Preto quando Antonio Palocci era prefeito, tendo criado a feira de livros local. Castilho substituiu Galeno na coordenação do PNLL em 2006 - naquela ocasião, na primeira queda de Palocci, seu afilhado político também saiu do governo, deixando o plano em suspenso. Com as participações de Galeno e Castilho, o PNLL afirmou-se como modelo para implantação de bibliotecas públicas.

A demissão de Castilho repercutiu na discussão sobre a imagem de fragilidade da ministra, mas outro debate ligado ao imbróglio manteve-se restrito a círculos fechados. E refere-se mais especificamente à instituição Biblioteca Nacional. Deveria a depositária do patrimônio bibliográfico e documental do País, responsável por preservar a memória e representar o Brasil perante outras bibliotecas nacionais do mundo, imiscuir-se em políticas que envolvem também interesses do mercado, como o incentivo à produção editorial e a organização de feiras?

Mandos e desmandos dos governos sobre essa questão nas últimas décadas ajudaram a emperrar iniciativas de cada gestão da FBN. Um exemplo é o programa de bolsas para tradução de literatura brasileira no exterior. O instrumento de difusão foi implantado quando Affonso Romano de Sant’Anna presidia a FBN (1990-96) e se tornou irregular nos anos seguintes. Em 2010, a essa altura do ano, 20 bolsas já haviam sido concedidas - no total, foram 68. Este ano, ainda não houve edital, só a promessa do primeiro para breve. Com a homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt 2013, Galeno já se comprometeu a ampliar o programa, mas agentes que trabalham com literatura brasileira no exterior questionam a demora.

Aníbal Bragança, professor da Universidade Federal Fluminense e estudioso da história do fomento à leitura no Brasil, diz que a sujeição dessas políticas à FBN "tem sido há muito questionada". "Entende-se que deva existir um órgão do governo responsável pelas políticas do livro e leitura, e que a Biblioteca Nacional deva dedicar-se à missão de preservação do patrimônio e acessibilidade para pesquisadores". Estudioso do mercado editorial, o antropólogo Felipe Lindoso pensa da mesma forma, mas, assim como Bragança, diz confiar na experiência de Galeno.

O presidente da FBN afirma que uma prioridade é plantar as bases de um "organizado sistema de livro e leitura". Dentro da Fundação? "Não", afirma. "Será outra instituição". Quanto tempo isso leva não se sabe. Castilho, que segue de longe a movimentação, acha estranho. "A partir do momento em que tudo se concentra, funcionários, departamentos, tudo dentro de determinada estrutura, a tendência é a inércia. Vai tirar tudo de um lugar para pôr em outro? Espero estar equivocado, mas me parece contra a lógica e a história das estruturas de governo." "Havia uma duplicidade que não fazia sentido", justifica Galeno, "como duas áreas, uma em Brasília e outra no Rio, com mesmo nome, Coordenação Geral do Livro e Leitura".

Não poucos veem um projeto político pessoal na iniciativa de Galeno de atrair para seu comando políticas públicas bem vistas no País. Há pouco, circulou no PT de Ribeirão Preto que ele teria disponibilizado o nome para pré-candidatura às eleições locais em 2012. Isso foi antes da segunda queda de Palocci, cujo nome passou então a ser aventado. "Tenho atuado em todos os lados da política pública do livro e da leitura, dentro e fora do governo, há 20 anos. E também há 20 anos alguém diz que vou tentar cargo eletivo na minha cidade, e isso nunca ocorreu", diz Galeno, que teve cerca de 16 mil votos na candidatura a deputado estadual em 2010.

Idas e vindas. Monteiro Lobato, ainda nos anos 20, foi um dos primeiros defensores de um instituto público para fomento ao livro e à leitura no Brasil. O Instituto Nacional do Livro saiu do papel em 1937. "Depois de quase 70 anos há pouco, se há, para se comemorar", anotou Aníbal Bragança em estudo de 2007. Apesar de vitórias no apoio às bibliotecas públicas e no serviço de publicações - este dirigido até 1944 por Sérgio Buarque de Hollanda -, o INL atravessaria décadas com mais infortúnios que sucessos, chegando enfraquecido ao fim da ditadura militar.

Num dos capítulos do recém-lançado Ler o Mundo (Global), Affonso Romano de Sant’Anna recorda o momento em que assumiu a FBN: "Em 1990, o recém-instalado governo Collor iniciou uma reforma (a que outros também chamam de desmonte) de várias instituições federais. O País assistia atônito e siderado ao que estava acontecendo". Foi dentro desse "desmonte" que a Biblioteca Nacional recebeu o prefixo Fundação, passando a agregar o INL. "No lugar do INL, o governo mandava instalar um precaríssimo Departamento Nacional do Livro nos quadros da FBN, com apenas três ou quatro funcionários." A gestão de Sant’Anna atravessou bem sucedida seis anos e seis ministros da Cultura.

Em 2003, nomeado secretário do Livro e da Leitura, Waly Salomão quis recriar o instituto. Sua morte, meses depois, interrompeu o projeto, mas estava plantada a semente de uma divisão: parte das políticas ficou na FBN, parte migrou para Brasília. O que Galeno frisa para explicar a volta de toda a política à FBN é justamente a divisão feita por Collor entre Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca Nacional em si. Ele planeja inclusive comemorar, em breve, a "maioridade" da FBN, que completará 21 anos, embora a casa ainda celebre em 2011 efeméride nobre, os 200 anos da abertura do acervo ao público. "Com a ‘refundação’ da Fundação, que é o que está ocorrendo, a FBN passa de novo a ser a ponta de lança da política do livro, leitura e bibliotecas. E aí há que matar três leões de manhã e três tigres à tarde, e de noite espantar os lobos", afirma Sant’Anna.

Portugal. A pouca atenção que o assunto recebe no Brasil difere do desconforto que se viu em Portugal quando, em 1992, o país viveu situação similar. Maria Leonor Machado Sousa, então presidente da Biblioteca Nacional portuguesa, lembra-se de quando soube que a instituição agregaria as políticas do Instituto Português do Livro e Leitura: "Toda gente de bom senso estava contra, mas o secretário quis assim". Intelectuais entregaram ao governo um abaixo-assinado, e o assunto foi parar nos jornais. "Não fazia sentido. A Biblioteca Nacional tem de estar voltada ao passado, para preservar a cultura do País, e o Instituto do Livro, ao futuro, para desenvolver o leitor e o livro."

O protesto não surtiu efeito. Foi preciso mudar o governo para, em 1997, as instituições serem separadas. O atual presidente da BN portuguesa, Jorge Couto, considera aquela junção mal sucedida: "Mantiveram-se instituições estanques, não houve transversalidade nem intercomunicabilidade". Ele próprio corre o risco - ou corria, antes de o Partido Socialista ser derrotado nas últimas eleições pelo Partido Social Democrata - de passar pela experiência. Com a crise em Portugal, o governo que se encerra na próxima terça havia optado por voltar a unir as instituições, para cortar gastos. "Parece-me que o novo governo tem dúvidas quanto à bondade da solução. O assunto encontra-se em aberto e somente nos próximos tempos haverá uma decisão final."

Professor de História do Brasil na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Couto lembra uma coincidência entre as bibliotecas dos dois países - ambas foram criadas por dom João VI. A de Portugal surgiu como Real Biblioteca Pública da Corte em 1796; a do Brasil teve como origem 60 mil itens da Real Biblioteca da Ajuda, cujo acervo chegou a partir de 1810. Hoje com mais de 9 milhões de itens, entre livros, mapas e outros documentos - o dobro do volume de material da BN portuguesa -, a Biblioteca Nacional brasileira é a oitava do gênero no mundo, segundo a Unesco.

Galeno tem uma infinidade de planos para a Biblioteca Nacional, incluindo exposições que "atraiam mais o público" e o desenvolvimento da Biblioteca Nacional Digital. Entre as questões da BN que merecem atenção está a segurança. Há pouco, o jornal O Globo revelou o furto de duas primeiras edições da revista em quadrinhos nacional O Tico-Tico, de 1905 - ocorreu no ano passado, após um investimento milionário para evitar problemas do tipo. Outra questão é a saturação da sede da biblioteca, no centro do Rio, e a necessidade de reformas no prédio anexo, no cais do porto. No ano passado, o BNDES anunciou repasse de R$ 31,7 milhões para recuperação dos prédios e manutenção do acervo. Acontece que as obras só começam no fim deste ano, com previsão de término para 28 meses depois, Apenas em 2010, a BN recebeu 97 mil obras referentes a Depósito Legal, o recebimento de dois exemplares de cada publicação produzida em território nacional. Até as obras estarem concluídas, serão mais 200 mil volumes.

Quer jogar na tela do computador? Pague duas vezes o preco dos EUA...

Explicação de um especialista do setor sobre a razão de os jogos video serem tão pouco disseminados no Brasil, a despeito de um mercado potencial dos maiores do mundo:

James Portnow, directeur du studio américain Rainmaker Games évoque avec étonnement le prix prohibitif des jeux vidéo : "Les jeux sortis aux USA il y a six mois sont vendus officiellement pour 250 reals, soit environ 140 dollars (98 euros). Toutes les consoles que j'ai vues étaient vendues une fois et demie voire deux fois plus cher qu'aux Etats-Unis." En effet, en 2009, les taxes atteignaient 233 % du prix d'importation pour un jeu : un prix tel que 85 % de la population ne peut se permettre cette dépense.

Isto vale para qualquer outra coisa, também.
Quando é que os brasileiros vão se convencer que eles estão sendo espoliados, pela ordem:
1) por um Estado extrator, espoliativo, predatório (acrescentem outros adjetivos...)
2) por comerciantes gananciosos que pretendem fazer lucro excessivo
3) por um mercado pouco competitivo, sujeito a cartéis e monopólios
4) por todos esses fatores reunidos e vários outros mais que me dispenso de citar aqui?????

Enfim, quem quiser ler esta matéria do Le Monde, siga o link:

Le Brésil, nouvel eldorado du jeu vidéo ?

Civilizacao Maia: coloquio e exposicao sobre seu desaparecimento (Paris)

O Le Monde Magazine deste final de semana trata de um colóquio e de uma exposição grandiosa no Quai Branli, em Paris, dedicados ao misterioso desaparecimento da civilização Maia, aos quais eu provavelmente não vou poder ver ou assistir. Muitas perguntas ainda sem respostas sobre um dos mais impressionantes desaparecimentos (por duas vezes) de uma das mais bem organizadas civilizações complexas, desde a antiguidade até quase a chegada dos espanhois na América central; o que temos são algumas respostas parciais, interessantes.
Sobre o assunto do colapso das civilizações, permito-me recomendar o livro de Jared Diamond, chamado Colapso, precisamente.
Paulo Roberto de Almeida

"Le Monde Magazine" : Mayas, autodestruction d'une civilisation
Stéphane Foucart
LE MONDE Week-end MAGAZINE, 17.06.11
Tikal, une des plus grandes cités mayas de la période classique, a perdu 90 % de sa population en moins de deux générations, au IXe siècle. RD Hansen/Fares

GUATEMALA, ENVOYÉ SPÉCIAL - Des pyramides gigantesques perdues dans la forêt pluviale ; des temples oubliés envahis par la végétation ; d'imposants blocs de calcaire renversés par les racines d'arbres centenaires. Les images d'Epinal de cités majestueuses reprises par la jungle et la nature sauvage en ont fait l'une des plus captivantes énigmes archéologiques. Pourquoi, vers 850 de notre ère, la civilisation maya classique a-t-elle sombré ? A quelle catastrophe ou quel enchaînement d'événements peut bien tenir ce qui nous semble la fin d'un monde ? En quelques décennies, les dynasties s'éteignent, des centaines de cités-Etats se vident de leur population, des régions habitées pendant un millénaire voient leurs habitants partir pour ne plus revenir. Le pourquoi et le comment de cet effondrement seront au cœur d'un colloque international organisé au Musée du quai Branly les 1er et 2 juillet, dans la foulée de l'exposition "Mayas, de l'aube au crépuscule".

Il faudra cependant plus d'un colloque pour trancher ces questions. Elles hantent les chercheurs depuis presque un siècle, sans qu'aucun consensus ne se dégage. Bien sûr, certaines théories n'ont plus guère de partisans : épidémies fulgurantes, "invasions barbares", tremblements de terre en série… Toutes les causes simples et exogènes sont désormais écartées de manière quasi certaine. Reste une combinaison de facteurs régulièrement invoqués : sécheresses en cascade, remise en cause du statut des rois, récurrence de conflits meurtriers entre les principales cités-Etats qui se partagent, via de complexes systèmes d'allégeance, la grande région centrée sur l'actuel Guatemala.

Chaque cité semble avoir vécu une agonie particulière. Ici, la guerre a été prépondérante. Là, une forte baisse des rendements agricoles a peut-être primé. Ailleurs encore, le détournement de voies commerciales a pu avoir son importance… "Mais le problème, à se dire qu'un grand nombre de facteurs régionaux ont ainsi été impliqués, c'est que nous avons quand même bien affaire à un effondrement généralisé, rappelle Dominique Michelet (CNRS, université Paris-I), qui a dirigé pendant une décennie les fouilles de Rio Bec, au Mexique. Toutes les cités-Etats des basses terres s'effondrent dans un laps de temps assez court. Il faut tenir compte du caractère global de ce phénomène." Manquerait donc au moins une pièce au puzzle.

Pour Richard Hansen (université de l'Idaho), "un effondrement est toujours causé par plusieurs facteurs". "Mais la particularité d'un tel effondrement est que la population, une fois qu'elle a quitté les centres urbains, n'y revient pas, ajoute l'archéologue américain. Cette absence de toute réinstallation ne peut être le fait que d'une dégradation de l'environnement : les gens ne reviennent pas simplement parce qu'ils ne le peuvent pas. Aujourd'hui, si personne ne retourne vivre à Tchernobyl, c'est parce que l'environnement ne le permet pas."

Ler a íntegra da matéria neste link de meu blog de textos, ou no site do próprio jornal.

Pausa para... vida de cachorro (de restaurante)

Não se pode dizer que esses cachorros sejam mal alimentados:

http://www.youtube.com/watch_popup?v=EVwlMVYqMu4&vq=medium#t=125

A ignorancia historica e o politicamente correto - David McCullough

O politicamente correto é uma praga que começou na sociedade americana, dominou rapidamente toda a academia, e está se espalhando pelo mundo com uma velocidade impressionante.
Ele tem o poder de censurar os mais ousados e promover a ignorância accross the board...

THE WEEKEND INTERVIEW: David McCullough
Don't Know Much About History
By BRIAN BOLDUC
The Wall Street Journal, JUNE 18, 2011

The popular historian David McCullough says textbooks have become 'so politically correct as to be comic.' Meanwhile, the likes of Thomas Edison get little attention.

Boston - 'We're raising young people who are, by and large, historically illiterate," David McCullough tells me on a recent afternoon in a quiet meeting room at the Boston Public Library. Having lectured at more than 100 colleges and universities over the past 25 years, he says, "I know how much these young people—even at the most esteemed institutions of higher learning—don't know." Slowly, he shakes his head in dismay. "It's shocking."

He's right. This week, the Department of Education released the 2010 National Assessment of Educational Progress, which found that only 12% of high-school seniors have a firm grasp of our nation's history. And consider: Just 2% of those students understand the significance of Brown v. Board of Education.

Mr. McCullough began worrying about the history gap some 20 years ago, when a college sophomore approached him after an appearance at "a very good university in the Midwest." She thanked him for coming and admitted, "Until I heard your talk this morning, I never realized the original 13 colonies were all on the East Coast." Remembering the incident, Mr. McCullough's snow-white eyebrows curl in pain. "I thought, 'What have we been doing so wrong that this obviously bright young woman could get this far and not know that?'"

Answer: We've been teaching history poorly. And Mr. McCullough wants us to amend our ways.

The 77-year-old author has been doing his part—he's written nine books over the last four decades, including his most recent, "The Greater Journey: Americans in Paris," a story of young Americans who studied in a culturally dominant France in the 19th century to perfect their talents. He's won two Pulitzer Prizes, two National Book Awards and the Presidential Medal of Freedom, the nation's highest civilian award.

"History is a source of strength," he says. "It sets higher standards for all of us." But helping to ensure that the next generation measures up, he says, will be a daunting task.

One problem is personnel. "People who come out of college with a degree in education and not a degree in a subject are severely handicapped in their capacity to teach effectively," Mr. McCullough argues. "Because they're often assigned to teach subjects about which they know little or nothing." The great teachers love what they're teaching, he says, and "you can't love something you don't know anymore than you can love someone you don't know."

Another problem is method. "History is often taught in categories—women's history, African American history, environmental history—so that many of the students have no sense of chronology. They have no idea what followed what."

What's more, many textbooks have become "so politically correct as to be comic. Very minor characters that are currently fashionable are given considerable space, whereas people of major consequence farther back"—such as, say, Thomas Edison—"are given very little space or none at all."

Mr. McCullough's eyebrows leap at his final point: "And they're so badly written. They're boring! Historians are never required to write for people other than historians." Yet he also adds quickly, "Most of them are doing excellent work. I draw on their excellent work. I admire some of them more than anybody I know. But, by and large, they haven't learned to write very well."

Unlike Mr. McCullough. His new book possesses the same vitality that won his biography of John Adams critical and popular acclaim. And "The Greater Journey" was an even more elaborate tapestry to sew. "In writing conventional history or biography, the plot and the characters are pretty well set for you," Mr. McCullough says. "But with this, I put in or left out as I wished."

Luckily, he is judicious in his choice of characters, and he weaves together their seemingly disconnected lives seamlessly. In Mr. McCullough's Paris, Samuel F. B. Morse, the future inventor of the telegraph, tries his hand at painting, scooching on a scaffold in the Louvre as he makes copies of famous portraits. Outside, his friend, the novelist James Fenimore Cooper, braves a cholera epidemic to visit Morse at the museum every day.

Across the Seine River, Oliver Wendell Holmes, a student at the École de Médecine, watches surgeons dissect cadavers—a procedure that was banned in Massachusetts until 1831. Meanwhile, Charles Sumner, who would become a powerful senator from the Bay State, attends lectures at the Sorbonne, where he notices blacks seated among whites. Soon, he realizes "the distance between free blacks and whites among us is derived from education, and does not exist in the nature of things." To diminish that distance, Sumner dedicates his life to abolition. Through these vignettes—and many more—Mr. McCullough highlights these Americans' ambition to excel.

Mr. McCullough learned to write from a series of great teachers, most notably Thornton Wilder, the Pulitzer Prize winning playwright and novelist who was also a resident scholar at Yale, where Mr. McCullough graduated in 1951. To this day, he remembers Wilder's teaching that a good writer preserves "an air of freedom" in his prose, so that the reader won't know how a story will end—even if he's reading a history book.

"You know that the Brooklyn Bridge exists," Mr. McCullough explains, referring to one of his former subjects. "I've got to get you so involved in the story of how it was done that you begin to wonder, 'Oh my God! Are they ever going to be able to do this?'" Thus, via his writing style, he hopes to impart a lesson of history: "There's no such thing as a foreseeable future."

Wilder's example, he believes, provides another lesson. "Teachers are the most important people in our society. They need far more pay, obviously, but they need more encouragement. They need more respect. They need more appreciation from all of us. And we shouldn't do anything to hinder them or to make their job harder."

Despite his indictment of what's wrong with our teaching of history, Mr. McCullough maintains a cheerful demeanor as we talk. His dress is simple: a sedate blue blazer with grey slacks and a dark plaid tie—a tribute to his Scotch-Irish heritage. Yet this plain costume doesn't detract from the former off-Broadway actor's performance: His face does all the talking.

It's not their fault our children are ignorant, he says animatedly. "It's our fault," he says, pointing to his chest. "I mean the parents and grandparents of the oncoming generation. We have to talk about history, talk about the books we love, the biographies and histories." He continues, "We should all take our children to historic places. Go to Gettysburg. Go to the Capitol."

And teach history, he says—while tapping three fingers on the table between us—with "the lab technique." In other words, "give the student a problem to work on."

"If I were teaching a class," he says, "I would tell my students, 'I want you to do a documentary on the building at the corner of Fifth Avenue and 42nd Street. Or I want to you to interview Farmer Jones or former sergeant Fred or whatever." He adds, "I have been feeling increasingly that history ought to be understood and taught to be considerably more than just politics and the military."

What about textbooks? "I'd take one of those textbooks. I'd clip off all the numbers on the pages. I'd pull out three pages here, two pages there, five pages here—all the way through. I'd put them aside, mix them all up, and give them to you and three other students and say, 'Put it back in order and tell me what's missing.'" You'd know that book inside and out.

Mr. McCullough advises us to concentrate on grade school. "Grade school children, as we all know, can learn a foreign language in a flash," he says. "They can learn anything in a flash. The brain at that stage in life is like a sponge. And one of the ways they get it is through art: drawing, making things out of clay, constructing models, and dramatic productions. If you play the part of Abigail Adams or Johnny Appleseed in a fourth-grade play, you're never going to forget it as long as you live."

"We're too concentrated on having our children learn the answers," he summarizes. "I would teach them how to ask questions—because that's how you learn."

Fittingly, Mr. McCullough says he got the idea for "The Greater Journey" by asking a question. One day he was stuck in traffic near Sheridan Circle in Washington, D.C. In the center of the circle stood the statue of "good ol' Phil Sheridan," a Union general in the Civil War, "with the requisite pigeon on his head."

Staring at the statue, Mr. McCullough wondered: "How many people that go around this circle every day have any idea who that is?" (My guess: Nobody.) As he was mulling this over, George Gershwin's "Rhapsody in Blue" came on the radio, and a realization rushed over him: America's artists and musicians were too little appreciated. "The Gershwin side of American accomplishment"—and here Mr. McCullough looks me straight in the eye—"is too seldom given credit."

Thanks to Mr. McCullough, our ledger of historical appreciation is a bit more balanced.

Mr. Bolduc is a fellow at the National Review Institute.

A economia deles triunfou...

Recebi, agora, um video do Instituto Von Mises (ou seja, da escola austríaca), contestando argumentos do economista americano Robert Reich, da esquerda liberal, como se diz nos EUA, ou seja, defendendo posições anticapitalista, anunciando, como seria de se esperar, as catástrofes habituais a partir da presente crise nos EUA.
Enfim, parece que seu último livro foi traduzido e publicado no Brasil, e os professores keynesianos, como também existem por aqui, andam recomendando para que os alunos o leiam.
Nada de muito diferente do que se faz há muitos anos com Celso Furtado, os cepalianos em geral e os anticapitalistas em particular...
Este é o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mXm4j2ORYcg#at=12

Não creio que ele contribua em alguma medida para diminuir o quantum de irrealismo (ou de irrealidade) que existe nas aulas de economia do Brasil.
Esse é apenas o resultado de um longo desenvolvimento intelectual (para pior, quero dizer).

Terminei de ler, há dois dias, este livro sobre a famosa controvérsia entre planejamento e liberalismo na economia brasileira:

Instituto Roberto Simonsen, Cadernos 1
As raízes do Pensamento Industrial Brasileiro: 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
(São Paulo: Conselhos Superiores da FIESP, 2010)

O livro retraça todos os documentos relevantes do famoso debate, entre 1944 e 1945, que opôs o economista Eugenio Gudin ao industrialista Roberto Simonsen.
A despeito do fato de Gudin ter vencido intelectualmente -- e suas teses sobre a produtividade, as vantagens comparativas e o papel do Estado --, quem ganhou, na prática, foi Simonsen.

Todas as teses de Gudin foram recusadas não apenas pela academia brasileira (com poucas exceções) e sobretudo pelas lideranças políticas, e todas as "teses" de Simonsen foram não só acolhidas na academia como, em especial, postas em prática pelo Estado brasileiro, ao longo desses últimos 60 anos. Nesse sentido, Simonsen foi um vencedor.

Talvez seja por isso que o Brasil cresceu, à base de injeções estatais e com muitos subsídios públicos e proteção estatal às indústrias nacionais (e estrangeiras aqui instaladas), mas não se desenvolveu o suficiente para ingressar no clube dos países avançados, como a Coréia do Sul, por exemplo.
Tem gente que acha que fizemos tudo certo, e que fomos vítimas da exploração estrangeira, ou das perversidades naturais do capitalismo, felizmente refreado pela ação estatal, sábia como sempre.
Não partilho, obviamente, dessa visão, mas procuro ler todos os argumentos, a favor ou contra as políticas públicas que determinam se vamos crescer muito ou pouco, certo ou por vias deformadas.
Por isso li esse livro.
Recomendo que leiam também.
Transcrevo abaixo o sumário, retirando as notas um pouco desconexas que fiz pelo meio...


Livro I (17)
As raízes do pensamento industrial brasileiro: seminário comemorativo aos 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
Exposições (19), Sérgio Amaral (20); Carlos Henrique Cardim (26); Antonio Delfim Netto (52); Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida (67); José Ricardo Roriz Coelho (70), Comentários de Ant. Delfim Netto (75)

Livro II (89)
A controvérsia do planejamento na economia brasileira: coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo
90, Introdução, Carlos von Doellinger
92, Ambiente Histórico
106 O debate
110 Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948)
112 Eugenio Gudin (1886-1986)

114 A planificação da Economia brasileira
Roberto Simonsen: Parecer apresentado ao Conselho de Política Industrial e Comercial, em 16 de agosto de 1944
116 Enriquecimento ilusório
118 A situação brasileira vista pelos técnicos americanos
122 Ainda a situação brasileira
125 Problemas do pós-guerra
126 Padrões de vida
127 A renda nacional
129 A planificação econômica
131 Duas questões básicas
133 Conclusões

142 Rumos de politica econômica
Eugenio Gudin: Relatório apresentado à Comissão de Planejamento Economico sobre o documento “A Planificação da Economia Brasileira”
Parte I
161 1 – Renda nacional
166 2 Donde surgiu a mística do plano
191 3 As esferas de ação do Estado e da economia privada
200 4 O sentido de nosso planejamento
Parte II
204 1 O problema monetário
209 2 O equilíbrio econômico
222 3 Comércio exterior
242 4 Industrialização e produtividade
267 Conclusões

278 O planejamento da economia brasileira
Roberto Simonsen – réplica ao Sr. Eugenio Gudin, na Comissão de Planejamento Econômico
279 A evolução econômica
(...) [23 seções]
356 As conclusões do Sr. Gudin

363 A Comissao de Planejamento Economico
363 Anexos
Cópia da correspondência trocada entre o Sr. Oswaldo Gomes da Costa Miranda, diretor do Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho, e o Sr. Eugenio Gudin

374 Carta à Comissão de Planejamento
Eugenio Gudin: Carta sobre a réplica do Dr. Roberto Simonsen
377 I Renda nacional
386 II Planejamento e intervencionismo do Estado
389 III Guerra à Industria Nacional
392 Quanto ao Mais
398 Anexo

=======

Esse debate foi reeditado também pelo Ipea, mas sendo o Ipea atual o que é, eles fizeram "estudos" amplamente favoráveis às posições de Simonsen, em favor do planejamento e da intervenção estatal, obviamente.

AUTORIA: Simonsen, Roberto Cochrane, 1889-1948
TÍTULO: A Controvérsia do planejamento na economia brasileira / Roberto C. Simonsen, Eugênio Gudin ; [introdução de Carlos Von Doellinger ; apresentação da terceira edição por João Paulo dos Reis Velloso].
EDIÇÃO: 3. ed.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 196 p.
ISBN: 9788578110444
Resumo: Parecer, relatório e réplicas redigidos por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin em debate sobre o tema planejamento na primeira metade do século XX. A controvérsia entre desenvolvimentismo, representado por Simonsen, e liberalismo, Gudin, é explicitada em posicionamentos divergentes sobre planificação da economia brasileira e industrialização.
Alcance temporal: 1932-1944
NOTAS: No verso da folha-de-rosto : "Coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo."
Incl. ref.

TÍTULO: Desenvolvimento : o debate pioneiro de 1944-1945 / ensaios e comentários de Aloísio Teixeira, Gilberto Maringoni, Denise Lobato Gentil.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 130 p.
ISBN: 9788578110412
Resumo: Ensaios e comentários sobre o debate econômico entre duas correntes do pensamento, desenvolvimentismo e liberalismo, protagonizadas por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin no governo Getúlio Vargas, 1944-1945. A primeira parte da obra confronta Simonsen e Gudin e evidencia o reflexo do posicionamento destes dois pensadores nas décadas posteriores ao debate. A segunda parte apresenta os personagens a partir de suas influências teóricas, idéias e realizações.
Alcance temporal: 1944-1945

Um profundo problema psicologico: Lula freudiano...

Não é só freudiano, talvez seja mais o senso comum, tipo complexo de inferioridade.
Em todo caso é demencial, e profundamente revelador do que assistimos nos últimos oito ou dez anos. Na verdade, acho que começa muito antes, na infância, mas foi adquirindo tonalidades mais graves na idade adulta, chegando à exacerbação durante os anos passados no cerrado central.
Levados ao extremo, personalidades como essas podem ser perigosas.
Não digo que vão sair por aí, assassinando pessoas, pelo menos não na realidade, apenas virtualmente. Elas precisam "matar" pessoas mais bem sucedidas, para se mostrar superiores, vencedoras.
Mas, antes de matar pessoas, essas pessoas são capazes de assassinar um país inteiro, pelas suas políticas inconsequentes, não necessariamente genocidárias, mas certamente suicidárias: elas podem compromenter o futuro do país durante anos e anos à frente...
Paulo Roberto de Almeida

FHC diz que Lula deve ter “algum problema psicológico”
Folha Online, 17/06/2011

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que completa 80 anos neste sábado (18), afirmou em entrevista ao jornal “Correio Braziliense” que não sente mágoa do também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que se dá bem com o petista quando se encontram. Mas, segundo o tucano, a relação entre os dois não é mais civilizada porque Lula “tem dificuldade em fazer gestos” com ele.

Lula não se manifestou a respeito do aniversário de 80 anos de FHC, que ganhou um site especial para a ocasião e recebeu, inclusive, uma carta elogiosa da presidente Dilma Rousseff.

Ao jornal, o tucano afirmou que não acha estranho a falta de comunicação com o rival político. “Ele nunca me ligou por aniversário algum. O Lula e eu, quando estamos juntos, nos damos bem. Agora, ele deve ter algum problema psicológico, tem dificuldade em fazer gestos comigo.”

Ele garantiu não estar magoado, mas lamentou a situação. “Não é que me doa. Mas, do ponto de vista do Brasil, ex-presidente é bom que tenha uma relação civilizada. Infelizmente, não pude ter uma relação mais civilizada com o Lula”, disse.

Para FHC, porém, a manifestação de Dilma sobre seus 80 anos não é uma demonstração de que ela deseja brigar com seu antecessor e aliado. “Acho que ela entendeu que era melhor a distensão do que um clima crispado. Mas acho que para aí. Não acho que ela queira brigar com Lula.”

Na entrevista, o ex-presidente também afirmou que a guerra entre o PSDB e o PT –a quem chamou de “rei da infâmia”– é falsa e baseia-se essencialmente na disputa pelo poder. Para ele, vários dos projetos de governo das duas legendas são parecidos, tanto do ponto de vista empresarial quanto o social.

“O que discrepa [entre os dois partidos]? O PT mantém uma certa visão de partido, Estado e sociedade que é diferente do PSDB. O PT ainda acredita que o melhor para o país é que um partido, eles, ocupe o Estado e que o Estado mude a sociedade. O PSDB não vai nessa direção. É mais republicano, no sentido de separar mais”, disse o tucano.