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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Deformacoes da industrializacao brasileira - Marco Antonio Rocha


Pequena história de um grande equívoco
Marco Antonio Rocha
O Estado de S. Paulo, 27/08/2012

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil protocolou na semana passada um pedido de investigação de salvaguarda para vestuário porque está havendo um "surto" de importações de roupas no País que causa prejuízo à indústria nacional. Essa era a notícia na sexta-feira.
Não era uma notícia eletrizante, mas serve de gancho para a gente analisar um longo processo de formação da chamada indústria nacional e criticar uma estratégia que sempre nos pareceu equivocada e fora de foco. Pois, na verdade, está havendo "surto" de importações de muita coisa, e várias indústrias nacionais ou já foram para o brejo ou simplesmente viraram importadoras, barracões de montagem.
Esse processo passou, em resumo, pelo seguinte: na primeira metade do século passado, país forte era país que tivesse uma indústria forte, principalmente baseada no binômio do carvão e do aço. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Itália estavam no bloco das nações fortes - tinham carvão, tinham aço e tinham uma indústria forte, de navios, de trens, de máquinas para fazer máquinas. O Brasil não tinha nada, ou quase nada disso. Era a razão do nosso atraso. "O Brasil é um país essencialmente agrícola", diziam muitos, inclusive um presidente da República, de maneira resignada e conformista. "O quê? Uma indústria siderúrgica nos trópicos? Só pode ser brincadeira", ironizou um magnata inglês quando ouviu falar de uma pretensão brasileira por volta da 1.ª Guerra Mundial. Claro que ele não sabia, mas já tinha existido uma, muito tempo antes, no Brasil colônia, a Real Fábrica de Ferro de Sorocaba, em São Paulo, ainda hoje monumento histórico na cidade. Não era bem uma usina siderúrgica, mas dava para fabricar enxadas, machados e arados.
Descrença, falta de know-how, boas receitas externas da exportação de café desde meados do século 19 ajudaram a criar boa dose de resignação com a falta de indústrias no País e com o atraso nesse quesito.
Em 1930, Getúlio Vargas chega ao poder e o mote passa a ser "industrialização" a toque de caixa. A vinda da Belgo-Mineira para o Brasil quebrou o tabu de que siderurgia não prosperava nos trópicos e gerou pretensões mais avantajadas. Logo se começou a pensar numa grande siderúrgica em Volta Redonda. A 2.ª Guerra Mundial e suas demandas bélicas, de transportes, de navios, de armas e munições e de matérias-primas, dariam ao Brasil as oportunidades na área da indústria metalúrgica e manufatureira, além das condições financeiras para enfim arrancar dos americanos a tecnologia e a grana para a construção da Cia. Siderúrgica Nacional, a CSN. Lá está ela, ainda hoje alimentando com seus produtos o parque manufatureiro nacional.
Creio que, a partir daí, ou seja, da década de 1940, é que começou a estratégia equivocada para beneficiar esse parque manufatureiro, baseada na ideia de que era preciso "substituir importações" e, na sua derivada, "brecar importações" para "proteger" a nascente e ascendente indústria nacional. O Imposto de Importação foi o grande instrumento dessa estratégia, e o consumidor brasileiro compareceu como refém de um parque industrial, que afinal nem era tão nacional assim, pois indústrias estrangeiras vieram se instalar aqui para aproveitar as vantagens do curral mercadológico que o governo criara. Nos casos em que o mercado interno tinha escala suficiente, era vantagem vir para cá e livrar-se dos dissabores da concorrência internacional.
Em 1952, ainda com Getúlio, criou-se o BNDE (o "s" veio depois), para dar alento à indústria "nacional". Algumas montadoras que por aqui estavam logo se propuserem a fabricar no Brasil carros "nacionais", com grande alarde e festejos. A grana era do BNDE, a rede de vendas elas já tinham e o Imposto de Importação era o guardião dos produtos. A importação de Chevrolets, Fords, Citroëns, Audis e Mercedes tornou-se absolutamente proibitiva.
(Lembrança: desde 1948 e por alguns anos adiante, um vasto número de táxis, em São Paulo e em muitas cidades do interior, eram Mercedes-diesel, então baratíssimos. De 1955 em diante, viraram carros de magnatas.)
Essa estratégia criou uma indústria dependente da proteção e do financiamento do governo. Que hoje se debate com o desafio de como ganhar o mundo.
O equívoco teve duas pernas: uma, que a melhor defesa era a defesa, quando, na verdade, no mundo dos negócios a melhor defesa é o ataque. Outra, que é função da indústria elevar o nome da Pátria.
O que se vê, no entanto, é que o que importa no mundo de hoje é a marca. A Mitsubishi, a Canon, a Yamaha, a Sony, a Kia; ou a Volvo, a Volkswagen, a Chevrolet, a Telefunken, a Fiat podem ter fábricas em qualquer país - o consumidor mundial busca a marca, não a procedência.
Criar vários produtos brasileiros e marcas brasileiras internacionalmente aceitáveis, como bandeiras e símbolos de qualidade, teria sido a melhor estratégia. Ênfase em merchandising, mais do que em fabricação. Esses produtos e marcas levariam para o mundo todo uma rede de fornecedores industriais nacionais, que estariam hoje competindo, e não se defendendo. Um país emergente com uma indústria submergente, como a que temos, não vai a lugar nenhum.

* JORNALISTA
E-MAIL: MARCOANTONIO.ROCHA@GRUPOESTADO.COM.BR

Em paises normais, policia nao faz greve; em paises normais...

Manifestamente, o Brasil não é um país normal. Países em que forças de segurança fazem greve, dispondo de estabilidade, e que ainda podem fazer chantagem contra os simples cidadãos, contra todos os brasileiros, de fato.
Um dia, o Brasil vai ser um país normal. Mas acho que isso vai demorar muito tempo para acontecer, muito tempo...
Paulo Roberto de Almeida 

PF recusa proposta e mantém greve

Serviços como emissão de passaportes e registro de armas serão ainda mais prejudicados com a decisão

27 de agosto de 2012
VANNILDO MENDES - Agência Estado
BRASÍLIA - Foi frustrante para o governo a primeira notícia recebida dos servidores federais, após o esforço de negociações para pôr fim à greve que tumultua os serviços públicos há mais de três meses. Servidores da Polícia Federal, primeiros a concluírem a consulta às bases nos estados, recusaram nesta segunda a proposta de 15,8% de reajuste, em três parcelas anuais de 5%. Decidiram preparar calendário de greves e protestos até o fim do ano.
Policiais Federais rejeitaram o reajuste de 15,8% proposto pelo governo - Clayton de Souza/AE
Clayton de Souza/AE
Policiais Federais rejeitaram o reajuste de 15,8% proposto pelo governo
Como consequência, serviços como emissão de passaportes e de registro de armas ficarão ainda mais prejudicados em locais como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, onde há grandes filas. Serão afetadas investigações de rotina e operações de combate à corrupção e ao crime organizado. O controle do tráfico de drogas e armas nas fronteiras também deve ser prejudicado.
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) informou que a categoria dispensa o reajuste e não abre mão da reestruturação da carreira e sua equiparação com as demais categorias de nível superior. "Desde o início deixamos claro que não estamos negociando índice, mas sim a reestruturação da carreira. Não queremos esse aumento, nossa luta é antiga e independe desse prazo de 31 de agosto", afirmou o diretor de Estratégia Sindical da entidade, Paulo Paes.
Hoje, só delegados têm o reconhecimento de carreira de nível superior. Agentes, escrivães, papiloscopistas e servidores administrativos ganham como profissionais de nível médio, embora se exija deles curso superior. Caso a medida fosse adotada, o impacto seria de mais de 60% na folha salarial de mais de 10 mil policiais. O governo não admite abrir exceção.
A situação tende a se acirrar porque a presidente Dilma Rousseff já avisou que não aceitará prejuízos à segurança pública, ilegalidades ou excessos dos policiais, que costumam usar armas nos seus protestos. Ela determinou que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, corte o ponto dos faltosos e puna com rigor, inclusive com demissão, os que cometerem excessos.
Definição. Termina nesta terça o prazo para que todas as categorias respondam se aceitam o índice linear de 15,8% oferecido pelo governo. As que rejeitarem ficarão sem aumento no orçamento de 2013, cujo projeto de lei será enviado pelo Executivo ao Congresso na sexta-feira.
Até agora, saíram da greve docentes e técnicos das instituições federais de ensino, além dos agentes do Departamento Penitenciário Nacional.
Dirigentes sindicais dos servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) comunicaram que vão assinar o acordo, mesma posição sinalizada pelos fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura.
A maior parte das categorias fazia consultas às bases nesta segunda. a tendência é que a maioria assine o acordo e encerre a greve. Para facilitar a negociação, o governo admitiu reverter o corte dos dias parados, que só será negociado caso a caso com as categorias que retornarem ao trabalho.

International Affairs Resources - Wayne Selcher

Eu já tinha postado aqui, muito tempo atrás, a mesma informação, do meu amigo Wayne Selcher, que já deu aulas na UnB. Agora Mundorama renova a postagem, o que me dá prazer de retransmitir: 




O Prof. Wayne Selcher, brasilianista e professor emérito de Estudos Internacionais do Elizabethtown College, nos Estados Unidos, informa a atualização do projeto de divulgação científica Biblioteca Virtual sobre os Assuntos Internacionais, recém reformatada, parte do sistema mundial de Bibliotecas Virtuais WWW. Este website amplo contem mais de 2000 links anotados, criteriosamente selecionados, e atualizados com frequência, em 35 áreas dos assuntos internacionais. Reconhecido por muitas entidades acadêmicas principais, atuantes em Internet, destina-se ao uso pelos pesquisadores, jornalistas, empresários, diplomatas, professores, e universitários, entre outros. O website se situa entre os 5 ou 10 mais referidos em Google, e outros buscadores principais, com os têrmos “international affairs,” “international studies,” e “international relations,” entre outros da área.
A WWW Virtual Library: International Affairs Resources se acessa aqui.
(http://www2.etown.edu/vl/)

De volta ao custo Brasil - Sandra Rios, Pedro M Veiga


De volta à agenda do custo Brasil 
Pedro da Motta Veiga e Sandra Polonio Rios *
O Estado de S.Paulo, 25 de agosto de 2012

A estratégia de enfrentamento da crise internacional e da perda de dinamismo da indústria com a mobilização de vasto arsenal de medidas de política industrial e comercial parece ter atingido seus limites. O próprio governo vem sinalizando, nos últimos tempos, para alterações no mix de instrumentos de políticas para lidar com esses desafios.
Com o modelo de crescimento apoiado na expansão - principalmente por meio do crédito - do consumo doméstico, à política industrial e comercial se atribuiu o papel de garantir que os benefícios daquela expansão não fossem capturados pelas importações, mas, sim, pela produção doméstica. Incentivos diversos e subsídios foram concedidos à indústria, ao tempo em que se aumentava, por meio de elevações tarifárias e crescente ativismo na área do antidumping, a proteção à produção doméstica.
A percepção dos limites da estratégia de crescimento baseada na ampliação do consumo ocorreu em paralelo à constatação das fragilidades da visão de política que orientou a ação do governo na esfera industrial e comercial, no período em que a apreciação do real levou a culpa pelas dificuldades da indústria.
De um lado, parece claro que a panóplia de medidas e instrumentos mobilizados pelo governo não fará mais do que eventualmente aliviar a situação de curto prazo de algumas empresas e setores específicos. A regra é um conjunto de medidas adotadas para tentar resolver problemas específicos de diferentes setores, por meio da desoneração de folha de pagamento, estabelecimento de margens de preferências nas compras governamentais, etc.
De outro lado, o espaço fiscal para políticas industriais intensivas em subsídios governamentais é hoje nitidamente mais reduzido do que no passado recente. O baixo nível de crescimento tem afetado negativamente a arrecadação federal nos últimos meses e, além disso, há pressões sobre as contas públicas vindas de outras áreas e setores que concorrem com a demanda por incentivos de política industrial.
Neste cenário, o próprio governo parece estar promovendo um deslocamento da ênfase da agenda industrial. Ao que tudo indica, esta se distanciará dos instrumentos voltados para enfrentar situações consideradas emergenciais ou conjunturais - sem que tais instrumentos sejam desmobilizados, no entanto - e focalizará em temas predominantemente "horizontais", que afetam todos os setores da indústria.
Esse ressurgimento da agenda do "custo Brasil" - atribuído pela imprensa à decisão pessoal da presidente da República - deverá se materializar numa série de medidas relacionadas à redução do custo da energia elétrica, à simplificação da carga tributária e à abertura de novas oportunidades de investimento privado em setores de infraestrutura e logística, por meio de concessões, parcerias público-privadas, etc.
O reconhecimento de que o custo Brasil é um dos principais fatores que afetam a competitividade da indústria brasileira é em si positivo, pois evita o diagnóstico fácil que atribui esse problema a situações conjunturais ou à taxa de câmbio. O problema de competitividade da indústria brasileira é estrutural e é para esta realidade que o resgate da agenda do custo Brasil aponta. 
Porém, o otimismo em relação ao novo foco da política não deve ser exagerado. O tema da carga tributária, presente em diversas declarações da presidente, parece ter sido deixado de lado, pelo menos por enquanto. A redução do custo de energia também não faz parte do primeiro "pacote" de medidas, que está focado em infraestrutura de transportes. Mesmo nessa área, a agenda está sendo "fatiada", começando-se pelo anúncio de medidas em áreas consideradas mais "fáceis", como rodovias e ferrovias.
Não se deve minimizar as dificuldades de toda ordem para abordar a agenda do custo Brasil: há, em todos os temas, resistências fortes dos interesses públicos e privados estabelecidos e não é por acaso que esta agenda - identificada há quase 20 anos - pouco avançou. Ainda assim, o retorno dessa agenda ao centro do debate de políticas públicas é motivo para comemoração.

* DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (CINDES)

Em boca fechada nao entra mosquito; e o que mais fica de fora?

Muita coisa, certamente. Cada um imagine como, por que, em que condições, pessoas e instituições escolhem aplicar um auto-zipper...
[Received from David V. Fleischer:]


Stacey Berger
Research Associate at the Council on Hemispheric Affairs
– Posted on August 24, 2012
On July 20, 2012, Brazil’s Foreign Minister, Antonio Patriota, announced the withdrawal of all Brazilian diplomats from Syria due to the intensified fighting and violence throughout the country. Though, for Brasilia, this was a note-worthy step, it should not be regarded as a clear political move intended to condemn the Bashar al-Assad regime.[1] While the situation in Syria worsens with each passing day, Brazil has yet to apply any sort of pressure on Damascus. Brazil certainly is a rising economic superpower, but the foreign policy dictated by Brasilia disappointingly indicates it has yet to achieve a similar status in the diplomatic arena.

Source: The Economist
When Brazil originally served on the 15-member United Nations Security Council in 2011, it abstained from voting on the first draft resolution condemning Syria, while 9 of 15 members of the council members voted in favor.[2] Brazilian officials have provided various reasons as to why the government abstained from voting, one of which involves the concept of “Responsibility while Protecting.” Brazilian President, Dilma Rousseff, developed this notion to express concerns within the framework of the associated but substantially different “Responsibility to Protect” doctrine. This concept espouses that Brasilia understands its responsibility to protect civilians in armed battle abroad, but must think of its own civilians first and foremost.[3]
Although it is a priority for Brasilia to protect the highest interest of its populace, Brazil sees itself as rising into a role of global leadership, and therefore must face up to conflicts such as the one encountered in the Syrian uprising. And if Brasilia truly wishes to see itself gain a permanent seat on the UN Security Council—a desire frequently heard in Brasilia—it will have to take a hard stance on Syria, especially because President Assad has committed a deplorable level of UN human right violations, “from arrests of political activists to torture and killings on a massive scale.”[4]
The ability to strike a severe posture toward the Assad regime should come easily enough for President Rousseff, due to her history as a leading political adversary against Brazil’s military dictatorship. In 1970, the government jailed Rousseff for three years where interrogators tortured her on numerous occasions. Despite her harsh personal experiences, Rousseff still claims to be unashamed of her past as a guerrilla.[5][6] Therefore, Rousseff, due to this evolutionary background, does not seem like the leader that would readily shirk from conflict, particularly when a possible outcome could relate directly to Brazil’s strategic interests. Yet, Rousseff first introduced the “Responsibility while Protecting” concept, and then has adhered to the policy of silence.[7]
Alongside the notion of “Responsibility while Protecting,” some Latin American experts have justified Brazil’s abstention on the Syrian vote by claiming the draft resolution will lead to foreign intervention. Regarding Syria, this type of direct action has been off the negotiating table, as many worry that the vote can be seen as just another instance of imperialist motivation that might generate anti-Western sentiments and conjure up a negative backlash from Russia and China, both important trading partners for Brazil.[8] But the Brazilian concept to preserve westernization in a noble light as well as to maintain strategic alliances pays the price of countless lives lost.

Source: The Washington Post
In August of 2011, the India-Brazil-South Africa dialogue forum (IBSA), composed of the nations with non-permanent seats on the U.N. Security Council in 2011, sent a delegation to speak with the Syrian foreign minister and president. This discussion proved to be unfruitful and Nadim Houry, Deputy Middle East Director of Human Rights Watch, observed, “Their efforts at private dialogue have achieved nothing, and hundreds more Syrians have died in the meantime.”[9] Shortly after the Security Council vetoed the draft resolution, IBSA engaged in a Heads of State and Government Dialogue Forum on October 17, 2011, but failed to even mention Syria.[10]
As of now, Brazil has only reduced trade with Syria; the Brazil-Syria trade volume decreased by $178 million USD from 2010 to 2011. But this figure does not include the indirect trade Brazil has been able to maintain with Syria. The president of the Arab-Brazilian Chamber of Commerce reported, “from experience, some Brazilian companies have sold to Lebanon, and from there, follow the goods to Syria.”[11] The Brazilian government has condemned the violence in Syria, but actions speak louder than words. In that sense, the most bold action Brazil has taken has been voting in favor on the most recent resolution passed by the United Nations General Assembly, A/RES/66/253 B, which demands an end to violence in Syria, a completely unenforceable initiative.[12]
It is clear by now that Brazil has maintained nothing but a passive position toward the Syrian regime, but it still has a chance to prove itself as a rising global leader, obtain a spot on the U.N. Security Council, and help mend the desperately tangled situation in Syria.  In October of this year, the third ASPA summit, composed of the heads of state and government from South America and Arab nations, will be in Lima, a forum where a discussion on the catastrophic Syrian situation is scheduled to take place.[13] Brazil should lead by example by cutting off all diplomatic and trade relations with the Syrian government, and urge other countries to do the same. This would be a great chance to send the Syrian government a strong message about their human rights violations as well as positively influence Brazil’s reputation as a serious rising power.
Please accept this article as a free contribution from COHA, but if re-posting, please afford authorial and institutional attribution.
Exclusive rights can be negotiated.

[1] Jordan, Lucy. “Brazil Removes Diplomats from Syria.” The Rio Times, June 24, 2012. Accessed August 16, 2012 http://riotimesonline.com/brazil-news/front-page/brazil-removes-diplomats-from-syria/#
[2] Charbonneau, Louis. “Russia, China veto U.N. resolution condemning Syria.” Reuters, October 4, 2011. Accessed August 16, 2012. http://www.reuters.com/article/2011/10/05/us-syria-un-idUSTRE7937M220111005
[3] Maria Luiza Ribeiro Viotti. “Responsibility while Protecting: Elements for the Development and Promotion of a Concept.” Paper presented to the U.N Security Council, November 11, 2011.
[4] Mohamed, Saira. “The U.N. Security Council and the Crisis in Syria.” Insights 16.11 (2012) Accessed August 16, 2012. http://www.asil.org/pdfs/insights/insight120326.pdf
[5] O’Shaugnessy, Hugh. “Former Guerrilla Dilma Rousseff Set to be the World’s Most Powerful Woman.” The Independent, September 26, 2010. Accessed August 16, 2012 http://www.independent.co.uk/news/world/americas/former-guerrilla-dilma-rousseff-set-to-be-the-worlds-most-powerful-woman-2089916.html
[6] Romero, Simon. “Leaders Torture in the ‘70s Stirs Ghosts in Brazil.” The New York Times, August 4, 2012. Accessed August 16, 2012. http://www.nytimes.com/2012/08/05/world/americas/president-rousseffs-decades-old-torture-detailed.html?ref=world
[7] Foley, Conor. “Welcome to Brazil’s Version of ‘Responsibility to Protect.’” The Guardian, April 10, 2012. Accessed August 16, 2012. http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2012/apr/10/diplomacy-brazilian-style
[8] Spektor, Matias. “The Arab Spring, Seen From Brazil.” The New Y.ork Times, December 23, 2011. Accessed August 16, 2012. http://latitude.blogs.nytimes.com/2011/12/23/the-arab-spring-seen-from-brazil/
[9] “IBSA: Push Syria to End Bloodshed.” Human Rights Watch, October 16, 2011. Accessed August 16, 2012 http://www.hrw.org/news/2011/10/16/ibsa-push-syria-end-bloodshed
[10] “Africa: India-Brazil-S.A (IBSA) Dialogue Forum Fifth Summit of Heads of State and Government Tshwane Declaration.” All Africa, October 18, 2011. Accessed August 16, 2012. http://allafrica.com/stories/201110190947.html
[11] “Brazilian Trade with Syria Declines.” Nuqudy, February 2, 2012. Accessed August 16, 2012. http://english.nuqudy.com/Levant/Brazilian_Trade_wit-1065
[12] “Brazil Slowly Moves Towards Condemning Syria Violence.” Ya Libnan, February 10, 2012. Accessed August 16, 2012. http://www.yalibnan.com/2012/02/10/brazil-slowly-moves-towards-condemning-syria-violence/; “General Assembly, In Resolution, Demands All in Syria ‘Immediately and Visibly’ Commit to Ending Violence That Secretary-General Says is Ripping Country Apart.” Resolution Presented to the U.N. General Assembly, NY, New York, August 3, 2012.
[13] “Peru Will Host Leaders’ Summit of Arab and South America Countries in October.” Mecro Press, August 11, 2012. Accessed 16, 2012. http://en.mercopress.com/2012/08/11/peru-will-host-leaders-summit-of-arab-and-south-america-countries-in-october

Brasil: um pais de assistidos? Trigemeos?

O Brasil, sem dúvida, está sendo transformado, ou melhor, dividido, em dois países: o dos que pagam e o dos que recebem...
O que acontece com esses políticos demagogos que todos os dias criam um benefício qualquer com o dinheiro dos outros?
Pensam que somos idiotas?
Ou que metade dos brasileiros são seres apáticos e dependentes?
Paulo Roberto de Almeida 


PARA TODAS AS CLASSES

Santa Catarina cria auxílio-trigêmeos

Benefício será pago até as crianças completarem seis anos de idade

A partir desta segunda-feira, 27, famílias de Santa Catarina que tiverem trigêmeos passarão a receber um auxílio do governo do estado no valor de R$ 357 mensais por bebê.O auxílio-trigêmeos será pago até as crianças completarem seis anos de idade. O pagamento do benefício está previsto em uma lei aprovada em 2010 e regulamentada em abril deste ano. Oitenta famílias já estão cadastradas na Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação (SST) para receber o auxílio.

Equívoco na lei?

O pagamento será feito a famílias de todas as classes sociais, o que, segundo João José Cândido da Silva, secretário da SST, não é compatível com a Política de Assistência Social. “O benefício extrapola o direito à assistência social, que deve ser dirigida a quem dela precisar. Vamos trabalhar para direcionar a aplicação da lei para as pessoas necessitadas”, disse em entrevista ao portal G1.

Para receber o benefício, as crianças precisam ter nascido em Santa Catarina e seus pais precisam ter residência no estado há pelo menos dois anos, de forma ininterrupta. O auxílio também está condicionado à permanência no estado.

Venezuela: uma fraude eleitoral em gestacao (C.A. Montaner)


Carlos Alberto Montaner: elecciones en Venezuela

Chávez y la trampa que se avecina

Infolatam
Madrid, 26 agosto 2012
Por CARLOS ALBERTO MONTANER
Parece inevitable que Henrique Capriles sacará muchos más votos que Hugo Chávez en las elecciones del 7 de octubre próximo en Venezuela. La última encuesta de Consultores 21, una empresa extremadamente fiable, arroja un empate real entre ambos candidatos. Chávez aparece con 45.9 por ciento de los votos y Capriles con 45.8. La tendencia de Chávez es a declinar. La de Capriles es ascendente. Pero hay otro dato clave medido por Alfredo Keller, un prestigioso escudriñador de la opinión pública: entre un 16 y un 20 por ciento de los encuestados tienen miedo y ocultan o tergiversan sus verdaderas intenciones de voto. Le temen, naturalmente, al gobierno, no a la oposición.
Como me dijo Eric Ekvall, un notable asesor político que hace años llegó a Venezuela en el equipo de Joe Napolitano, el mejor estratega de campañas que se recuerda (el de John F. Kennedy) y allí se quedó: “el Flaco Capriles se ha convertido en un candidato extraordinario. Donde llega, arrasa. Tiene el impacto emocional de un rock star. Transmite una imbatible imagen de juventud, seguridad y decencia. Chávez, en cambio, está física y políticamente agotado. Después de 14 años de mentiras ya no le creen nada. El incidente de la hidroeléctrica en el que los obreros lo callaron con sus gritos ante las cámaras de la televisión es todo un ejemplo de la verdadera percepción popular”.
Tiene sentido. Los venezolanos poseen razones para sentirse profundamente insatisfechos con la minuciosa incapacidad de Hugo Chávez. Cuando se les pregunta cuál es el principal problema del país, de forma casi unánime responden que es “la inseguridad”. Durante la presidencia de Chávez han muerto violentamente muchos más venezolanos (150 000) que soldados norteamericanos en las guerras (sumadas) de Corea, Vietnam e Irak.
Los asesinatos, secuestros express y extorsiones forman parte de la aterrorizada vida cotidiana de los venezolanos. ¿Cómo la sociedad puede sentirse protegida si en las cárceles, un universo cerrado y supuestamente controlado por el gobierno, las bandas de matones, sin duda asociadas a la policía, se enfrentan con armas largas y dejan 26 muertos en sólo una batalla? Eso no es un país, sino un matadero.
“El problema –me sigue diciendo Eric Ekvall— es que el gobierno de Chávez no va a reconocer la victoria de Capriles. Prepara un fraude monumental basado en la manipulación de las computadoras. Hay dos millones de votantes virtuales, realmente inexistentes, que pueden distribuir a su antojo la noche de las elecciones, como ya hicieron en el referéndum revocatorio del 2004. Esa consulta la perdió Chávez 59 a 41, pero sus técnicos invirtieron los resultados. Las elecciones por computadoras son el medio ideal para cometer fraude”.
Inmediatamente, me entrega un ejemplar del número de noviembre de 2011 de la prestigiosa revista académica norteamericana Statistical Science. Trae seis impecables y convincentes estudios de matemáticos y físicos de primer rango universitario que demuestran por qué y cómo, realmente, Chávez perdió esa consulta (que le costaba el poder), pero alteró los resultados para continuar mandando contra la voluntad democrática de sus compatriotas. El fraude se comete en el Registro Electoral. Mientras en la última década la población ha crecido un 14 por ciento, el Registro Electoral lo ha hecho un 58. Ahí se cocina la trampa.
La manera política de “vender” el fraude, de acuerdo con la opinión de este experto en procesos electorales, la inventó el PRI mexicano hace muchos años. Primero, unos encuestadores contratados para esos fines innobles presentan ciertos resultados falsos que “demuestran” la abrumadora preferencia de los votantes por Chávez. Segundo,  el aparato de propaganda del gobierno machaca a la opinión pública con esa información, mientras una serie de mensajeros de alto rango salen a comunicar los resultados previstos a todos los centros de poder internacionales. Tercero, los resultados de los comicios se ajustan a las previsiones. Ya no hay shock cognitivo que despierte sospechas. Ocurrió lo que, supuestamente, afirmaban las encuestas.
“¿Hay manera de evitar esa estafa monumental –pregunto?”. Ekvall me responde tajantemente: “sólo si Capriles logra reclutar 200 000 activistas dispuestos a custodiar permanentemente los resultados de las 150 000 máquinas de votar, y si él, sus partidarios y las instituciones que lo apoyan, están dispuestos a no dejarse robar las elecciones a ningún precio, cualquiera que sea el sacrificio que haya que realizar. No estoy seguro de que logre reclutar esa masa de activistas. Capriles tiene votantes y simpatizantes, no militantes duros y decididos”.
Ése es el panorama. Dios coja confesados a los venezolanos.

A dificuldade de inovar no Brasil - Ciencia Hoje online



A dificuldade de inovar

Apesar das políticas voltadas para a inovação, distância entre universidade e empresa continua grande e produção industrial brasileira desacelera. Governo, academia e indústria debatem estratégias para tornar a ciência brasileira mais competitiva.
Por: Marcelo Garcia
Ciência Hoje online, em 21/08/2012 
A dificuldade de inovar
Superar a resistência histórica das empresas à inovação pode impulsionar a competitividade do país no mercado internacional. Hoje, o Brasil importa tecnologia e produtos industrializados em diversas áreas. (foto: Flickr/ MorBCN – CC BY-NC-SA 2.0)
Segundo o Relatório de Competitividade Global de 2012, o Brasil é o 53º país do mundo em inovação, cinco posições acima da que ocupa no Índice Global de Inovação. O Barômetro Global da Inovação, que avalia a percepção do ambiente de inovação de 22 países, nos coloca no 17º lugar do grupo. Os dados são recentes, mas o quadro nem tanto: apesar de ocupar posição louvável na produção científica mundial (13ª), o Brasil ainda não cobriu o fosso que separa seu setor produtivo das universidades e segue com dificuldade de inovar.
As iniciativas, leis e políticas de estímulo e investimento que caracterizam o ambiente de inovação brasileiro foram o foco do Congresso da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), realizado na semana passada, em Brasília. Cientistas, representantes de instituições públicas de pesquisa e empresários discutiram aquele que consideram um dos principais gargalos nacionais: como transformar a excelência da pesquisa científica brasileira em práticas inovadoras.
Presente ao evento, o ministro de Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp destacou a importância de fortalecer a relação entre universidade e setor produtivo e voltou a defender o papel das instituições científicas e tecnológicas nesse processo.
“O Brasil tem boas bases científica e industrial, mas os dois caminhos se desenvolveram separadamente; as empresas nacionais nunca se preocuparam em competir no mercado global”, afirmou. “O papel das entidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação é criar pontes entre os dois universos.”

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a evolução da inovação no Brasil


Beija sapo

Fechar esse ‘ciclo de inovação’ depende da superação da histórica aversão ao risco das empresas brasileiras. Segundo o diretor representante daFraunhofer no Brasil, Eckart Bierdümpel, somente cinco em cada mil ideias inovadoras conseguem ser lançadas com algum sucesso. “Ou seja, é preciso beijar muitos sapos para conseguir um príncipe”, completou.
Rezende: “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”
Para o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) Jorge Ávila, a criação de um ambiente favorável à inovação passa justamente pela redução do risco. “Isso pode ser alcançado por medidas como a coparticipação do Estado e a desoneração tributária, por exemplo”, destacou, “além de necessários avanços na área de propriedade intelectual e industrial.”
O ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Sergio Rezende lembrou, no entanto, que a própria discussão sobre inovação é recente nas empresas. “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”, afirmou. “Em todo país com industrialização moderna, o governo teve papel central na criação de um ambiente favorável à inovação, com investimento educacional, estímulo à pesquisa nas empresas e à interação com a universidade, além de incentivos fiscais.”

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a posição do setor empresarial na cadeia de inovação

Um incentivo adicional à inovação pode estar nos resultados de uma pesquisa apresentada pela consultoria Innoscience. O grupo acompanhou durante cinco anos as 31 empresas nacionais de capital aberto mais inovadoras e registrou uma valorização 100% maior de suas ações em relação às das empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de São Paulo. 

A política da inovação

Colocada como prioridade nos últimos governos, a inovação ganhou nos anos 2000 diversas regulamentações e iniciativas a ela direcionadas, como a própria Lei de Inovação e a Lei do Bem, que visam estimular a parceria público-privada e o investimento empresarial na área.
“Inovar para competir, competir para crescer”, lema do Plano Brasil Maior, política industrial lançada no ano passado, reflete bem esse ímpeto inovador – também representado pela criação de redes como o Sistema Brasileiro de Tecnologia e de iniciativas como a Empresa Brasileira de Inovação Industrial e o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em tramitação no Congresso Nacional.
Mesmo com a proposta de  elevar o investimento em C,T&I para 1,8% do PIB,  governo  realizou corte de mais de 20% no orçamento da área em 2012
Paradoxalmente, o país vive umquadro de desaceleração da produção industrial nos últimos anos, destacado pelo gerente executivo de inovação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, Jefferson Gomes. “Há algumas décadas, a indústria de transformação já representou quase 30% do PIB brasileiro, mas hoje não chega a 15%”, lamentou. Gomes apresentou o projeto de instalação dos institutos Senai de inovação, que visam auxiliar as empresas brasileiras a inovar. 
O próprio investimento governamental em ciência, tecnologia e inovação derrapou no início do ano. Mesmo tendo assumido o compromisso eleitoral de elevar o investimento na área para 1,8% do PIB até 2015, como lembrou Rezende, o governo federal anunciou um corte de mais de 20% do orçamento da pasta para este ano – a princípio um reflexo da crise global que não sinaliza mudanças nos rumos da política nacional.

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a legislação e as políticas de inovação do Brasil

O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Glauco Arbix defendeu a prioridade de investimento em ciência, tecnologia e inovação, além da educação, nesse momento de crise. “Qualquer outro discurso é paliativo; precisamos agregar valor ao que produzimos ou continuaremos a viver de soluços.” Arbix também comentou sobre o processo de transformação da Finep em uma agência de fomento, que poderá dar mais flexibilidade para a instituição atuar na gestão de risco tecnológico e no estímulo à inovação no país.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line

Carta a mim mesmo, 20 anos à frente - Paulo Roberto de Almeida


Carta a mim mesmo, 20 anos à frente

Paulo Roberto de Almeida 

(Anywhere), 27 de Agosto de 2032


Bom dia Paulê,
Estou lhe escrevendo vinte anos à frente do seu tempo, no que é, obviamente, apenas um recurso literário para falar de várias coisas destas últimas duas décadas, como uma espécie de balanço, e de especulação sobre o futuro, o que todos temos o direito de fazer. Como você vai receber, vai ler, ou reler, esta carta daqui a exatas duas décadas (vou ajustar minha agenda eletrônica para isso, como uma garrafa atirada ao mar, e programada para chegar ao seu porto, à sua praia, na data exata que vai acima), posso esquecer as questões do presente e me concentrar no que será o seu mundo em 2032. Feita esta introdução técnica, vamos ao que interessa.

Bom dia, portanto!
Em 2032, você já está aposentado há mais de dez anos e suponho que você ainda esteja vivo, se a medicina e a sua saúde assim o permitirem. Enfim, esta carta só tem sentido se você estiver vivo e com plena capacidade de trabalho ainda, a despeito da idade avançada. Se não fosse assim, eu teria feito esta carta apenas uma década mais à frente, quando o Brasil estiver completando dois séculos de independência, e você tendo se aposentado apenas dois anos atrás. Não importa, vamos manter a ficção de que sua boa disposição para o trabalho e as tecnologias médicas o permitirão chegar a 2032 e que ali começa nossa aventura prospectiva. O que serão, como serão o mundo, a América Latina e o Brasil, vinte anos mais a frente, e o que eu terei feito, em face e no contexto dessa interação, no intervalo que nos separa do ponto de destino?
Sei que minhas capacidades prospectivas são limitadas, ou até deficientes, a julgar pelo que pude “prever” nos últimos dez anos. Mas vou tentar mesmo assim. Em 2002, por exemplo, eu tinha absoluta certeza de que os companheiros que então chegavam no poder iriam praticar uma política econômica conservadora, ou de corte neoliberal, como eles depreciativamente se referiam às orientações então em curso no governo anterior. Não estou inventando nada agora: está tudo documentado em meu livro A Grande Mudança e não mudaria uma palavra do que escrevi ainda antes da eleição de Lula (ver aqui: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/58GrdeMudanca.html). Nisso fui presciente, embora esperasse alguma deterioração maior da posição fiscal, em vista dos previsíveis gastos sociais. Não esperava, está claro, a amplitude dos “investimentos” sociais, embora esperasse todos os benefícios feitos a banqueiros, industriais e outros membros da elite (velhas e novas, oportunistas ou não), e já previa, de certa forma, o aumento da carga fiscal, via tributos diretos ou indiretos. Meu grande erro – mas creio que esse foi de todos – foi acreditar que as alegações sobre a “ética na política” eram verdadeiras, e nisso pratiquei a mesma ingenuidade de muitos observadores: o governo dos companheiros revelou-se o mais corrupto já conhecido na história do Brasil, e isso porque o partido – habituado a velhas práticas bolcheviques da pior espécie – já era inerentemente corrupto em sua formação e em suas práticas políticas.
Independentemente dessas previsões, mais ou menos certas, o fato é que o Brasil conheceu certos progressos sociais, mais à custa de redistribuição de renda e de estímulo ao consumo do que de investimentos produtivos, e uma grande involução política, institucional e educacional, com um aumento inédito da corrupção em todas as esferas, e uma deterioração sensível das instituições públicas, a despeito mesmo da relativa profissionalização das carreiras de Estado (mas convertidas numa classe de mandarins que se apossou do Estado como coisa própria). Os mesmos dez anos que vão de 2002 a 2012 foram minha travessia do deserto, em todo caso muito produtivas em termos de diversos trabalhos acadêmicos, alguns livros e muitos artigos publicados, sem contar as centenas de working files, aguardando uma oportunidade para emergir do pipeline da produção intelectual. Os dez anos seguintes, até 2022, foram os mais felizes no plano pessoal, com uma produção ainda mais intensa, embora o Brasil tenha avançado muito pouco, em termos educacionais e institucionais, para grande tristeza minha.
E o que fiz depois, até chegar neste momento, vinte anos à frente desta carta, dez anos além de meu retiro profissional, e bastante mais maduro e satisfeito comigo mesmo? Fiz aquilo que sempre fiz, em toda minha vida, talvez em maior volume e extensão, sempre quando possível: li, intensamente; escrevi, compulsivamente; publiquei, no ritmo possível, dado pelas editoras ou permitido pelas novas formas de comunicação; ensinei, bastante, o tempo todo, diretamente e à distância, para apenas um punhado de alunos presenciais, a cada vez, mas provavelmente para milhares de outros, desconhecidos, à distância, sem sequer saber quem tomava conhecimento de meus materiais didáticos, dispersos nas correntes sempre multiplicadas da internet; viajei, a cada oportunidade oferecida pelos compromissos acadêmicos e visitei dezenas de novos lugares, por puro interesse cultural e curiosidade propriamente turística; também pratiquei gastronomia, das melhores, sempre acompanhando as viagens e desfrutando de novas cidades, grandes e pequenas, nos mais diversos cantos do planeta, que percorri como poucos que conheço.

Chegamos, pois, a 2032, Paulê, e você faz agora a reconsideração dos anos que se passaram, e passa a explicar, ao seu alter ego de 2012, como o mundo, a região, o Brasil se encontram, no estado que é o deles, o que eles são, neste período que já assiste ao meu ocaso. Vou tentar ser apenas sugestivo, uma vez que trabalho com tendências, não com certezas ou determinações obrigatórias.
O mundo não é muito diferente do que era no tempo em que foi pensada esta carta, embora ele certamente seja mais rico, mais seguro e mais estável, no plano da segurança e da paz internacionais. Os EUA e China, e as potências menores (ou seja Rússia e o que sobrou das grandes do século 20) jamais vieram a se enfrentar numa guerra, que necessariamente seria ou global, ou por atores interpostos (ou seja, local, ou “setorial”). Eles sempre mantiveram muitos pontos de conflito entre eles, e continuaram a gastar enormes somas com sua preparação militar, mas foram gastos inúteis, pelo menos no cenário traçado pelos seus estrategistas. Todo esse equipamento foi usado contra “vilões pés-de-chinelo”, se ouso dizer, ou seja, os ditadores remanescentes do planeta, uma espécie em quase extinção, pelo menos aqueles realmente malvados, não os ditadores de opereta, como os temos na América Latina, ou aqueles ridicularizados por Sacha Cohen no cinema. A própria China já enfrentou crises políticas, nos últimos 20 anos, e se encaminhou muito lentamente para um tipo de “democracia”, muito deficiente, é verdade, mas ainda assim, não mais o monopólio absoluto do PCC (enfim, um pouco parecida com aquela “democracia de fachada” que Max Weber apontava no caso do governo provisório saído da revolução de fevereiro de 1917, na Rússia).
Os países da América Latina terão melhorado um pouco, não muito: políticos corruptos, bandidos, traficantes, continuarão a frequentar o cenário, mas não mais dominarão países inteiros, como ainda ocorre atualmente. Infelizmente, a educação e a equalização de chances terão progredido muito lentamente em certos países, entre eles o Brasil, graças às políticas absolutamente erradas que adotamos durante o reinado dos companheiros (que pode se prolongar bem mais do que o desejável, em virtude da mediocridade da oposição política, ou seja, das forças centristas, para lidar com um partido neobolchevique a vocação totalitária).

Não se iluda, portanto, Paulê, você terá passado os vinte anos que o separam desta data exatamente na posição em que estava em 2012: em minoria absoluta no país e na região, lutando contra a mediocridade intelectual, contra a erosão da moralidade na vida política, contra a indigência intelectual (acho que o segundo termo não se aplica) na academia, contra os mandarins do Estado extorsivo, ou seja, em verdadeiro bunker isolado, em uma espécie de quilombo de resistência contra os novos bárbaros. Não fique triste, Paulê, seu trabalho será reconhecido por alguns poucos, um pequeno bando de libertários que acredita naqueles velhos valores que não mais prevalecem – talvez nunca tenham prevalecido – entre nós, o da honestidade intelectual, o da tolerância política, o da democracia sem adjetivos, o da responsabilidade individual, do mérito e do esforço próprio. Tudo isso vai ser muito difícil de defender, mas eles acabarão prevalecendo, um dia... Talvez não para que você possa contemplar uma sociedade que você gostaria de ver implantada no Brasil, mas vai ocorrer. Seu trabalho é o de não desistir, persistir, lutar, resistir, continuar...
Os vinte anos decorridos desde então terão sido os melhores de sua vida, Paulê, e você estará orgulhará disso, mesmo sem glórias e sem vitórias. A paz com sua consciência, o fato de estar bem consigo mesmo, a certeza de que você estará lutando pelas boas causas são suas maiores recompensas.
Fique tranquilo e trabalhe. Até 2032, quando você abrir esta carta novamente...

Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 27 de agosto de 2012; revisto em 30/09/2012]