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segunda-feira, 15 de julho de 2013

A nova "guerra" da Triplice Alianca - Pedro Luis Rodrigues (Coluna Claudio Humberto)

Um artigo cumprimentando o Paraguai por um ex-diplomata bem informado.

PEDRO LUIZ RODRIGUES
Coluna do Claudio Humberto, Diario do Poder: 14 de julho de 2013 às 9:00
Parabéns, Paraguai!
Está coberto de razões – legais e morais – o presidente-eleito do Paraguai, Horácio Cartes, que soube dizer à Argentina, Brasil e Uruguai (por coincidência, os mesmos países que no século 19 integraram a Tríplice Aliança) que recusou o convite hipócrita dos três para voltar ao Mercosul, de onde  foi retirado por intermédio de uma manobra  legal e moralmente  capenga, arquitetada pelo gestor da política externa do Partido dos Trabalhadores,  e que nos últimos anos tem prestado serviços ao Planalto – e desserviços à Nação e  ao Estado brasileiro – mero assessor internacional da Presidência, mas responsável, na prática, pela  definição das linhas da política externa brasileira na América do Sul e Cuba, o professor Marco Aurélio Garcia.
Em julho de 2012, o Congresso paraguaio determinou o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo. Os sócios do Mercosul recorreram à cláusula democrática para suspender o Paraguai da organização. Até aí, tudo dentro das regras. Mas o que aconteceu em seguida, arquitetada pelo mago planaltino, foi de uma calhordice de fazer corar de vergonha qualquer brasileiro admirador do Barão do Rio Branco: com o Paraguai fora da jogada, enfiou-se para dentro do Mercosul, pelas portas do fundo, a Venezuela.
Agora, com a maior desfaçatez, talvez por não acreditarem muito nos princípios éticos do vizinho,  os três do Mercosul, mais a Venezuela enfiada pela porta dos fundos, estenderam as mãos para o Paraguai, chamando-o de volta à organização.
Horácio Cartes deu a resposta que daria Rui Barbosa, se fosse chamado como consultor: “As características jurídicas do ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul, em julho de 2012, não estão conformes com as normas legais”. Não está legal a presença e, portanto não pode ser aceitável que quem não faça parte legalmente do jogo esteja na presidência da instituição.
Qualquer jurista brasileiro, desde que não sufocado em sua percepção por influências  ideológicas, concordará com Cartes de que o “o mero transcurso de tempo, ou decisões políticas posteriores, não restabelecem o império do direito”.
Ai como é triste para um país como o Brasil, que sempre pautou sua ação diplomática pela justiça e as leis, ter de ouvir tudo isso, sem poder reagir: “o direito concernente, internacional e nacional, deve ser reconhecido, respeitado e cumprido, tal como foi acordado.A política não é força, nem árbitro”.

 

Economia brasileira: BC tem festival de noticiais ruins (Focus, Julho 2013)

Bem, não se pode dizer que os "mercados" -- essa palavra sempre tão negativa, aos olhos dos companheiros -- estejam otimistas com o Brasil, ao contrário.
O importante é que o Banco Central também ficou mais realista, ainda que ele não seja isento de culpa, também.
Lembro que, em meados de 2011, quando a inflação já estava acima da meta central (4,5%), o presidente Alexandre Tombini prometeu, formalmente, em audiência no Congresso, que em 2012 a inflação já teria convergido para o centro da meta.
Não cumpriu em 2012, e não vai cumprir em 2013.
Se fosse nos EUA, já teria sido convocado pela Comissão de Economia da Câmara e do Senado para dar explicações, e se os parlamentares não estivesse contentes, seria dispensado do cargo.
No Brasil, todos são amigos... da inflação...
Paulo Roberto de Almeida

BACEN (15/07/2013) – BOLETIM SEMANAL FOCUS. PREVISÕES DO MERCADO.

MERCADO FINANCEIRO BAIXA PARA 2,31% PREVISÃO DE ALTA DO PIB DE 2013. EXPECTATIVA PARA O IPCA DESTE ANO PASSOU DE 5,81% PARA 5,80%. MERCADO SEGUE PREVENDO NOVA ALTA DE JUROS DE 0,5 PONTO EM AGOSTO. Os economistas do mercado financeiro baixaram, na semana passada, sua expectativa pra o crescimento do PIB de 2013 de 2,34% para 2,31%. Para o IPCA, que serve de referência para o sistema de metas de inflação, a estimativa do mercado financeiro para este ano caiu de 5,81% para 5,80% neste ano. Esta foi a nona queda consecutiva deste indicador. Para 2014 a previsão de crescimento da economia brasileira ficou estável em 2,80%. No primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, o PIB avançou somente 0,6% na comparação com os três últimos meses do ano passado - valor que ficou abaixo da previsão dos economistas. O MF informou recentemente que a meta do governo para o crescimento é de 3% neste ano, abaixo do que ainda consta no orçamento federal - que prevê uma alta de 3,5%. No mês passado, o BC baixou de 3,1% para 2,7% sua estimativa de expansão do PIB em 2013.
MERCADO REDUZ PREVISÃO DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA PELA 9ª VEZ SEGUIDA. Economistas de instituições financeiras elevaram sua projeção para a Selic em 2014, prevendo que o Banco Central seguirá com o aperto monetário no ano eleitoral, ao mesmo tempo em que mantiveram a perspectiva para a taxa básica de juros neste ano e reduziram as de inflação e crescimento. Os analistas consultados mantiveram a projeção de que a Selic encerrará este ano a 9,25% depois de o BC ter dado continuidade, na semana passada, ao ciclo de aperto monetário elevando a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a 8,5%. Para a reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, os analistas esperam nova alta de 0,5%, mantendo o ritmo de aperto monetário. Mas para o final de 2014 elevaram a perspectiva a 9,5%, ante 9,25% na pesquisa anterior. O mercado agora aguarda a divulgação na quinta-feira da ata da reunião da semana passada, em que a decisão de elevar a Selic foi unânime, em busca de mais indícios sobre os rumos da política monetária. Por sua vez, o Top 5, com as instituições que mais acertam as projeções no médio prazo, mostra que a estimativa para a Selic é de 9,5% neste ano, inalterado ante a semana anterior. Para 2014, por outro lado, a projeção foi reduzida a 9,5%, ante 9,75%.
FOCUS APONTA PARA MENOR CRESCIMENTO DO PIB NESTE ANO E MAIOR SELIC EM 2014. PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO ECONÔMICO CAIU DE 2,34% PARA 2,31% NESTE ANO; SELIC DEVE ATINGIR 9,50% NO PRÓXIMO ANO. As expectativas econômicas brasileiras divulgadas, projetam piora no crescimento econômico, com o PIB (Produto Interno Bruto) em 2,31% ao final deste ano, ante expectativa anterior de 2,34%. Para 2014, a expectativa de expansão manteve-se em 3,00%. Também projeta menor produção industrial, com expansão de 2,23% em 2013, ante 2,34% apresentados na semana anterior. Já a mediana de projeções para a Selic manteve-se em 9,25% neste ano. Para 2014, no entanto, os analistas consultados pelo BC acreditam em uma taxa maior do que o previsto anteriormente, em 9,50%. Para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o relatório indicou leve queda nas estimativas para 2013, com a inflação em 5,80% neste ano, ante perspectiva de 5,81%. Para 2014, a projeção manteve-se em 5,90%.
INFLAÇÃO. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o sistema de metas de inflação, a estimativa do mercado financeiro para este ano caiu de 5,81% para 5,80% neste ano. Esta foi a segunda queda consecutiva deste indicador. Para 2014, a previsão permaneceu estável em 5,90%. O BACEN afirmou que a inflação teria queda neste ano frente ao patamar registrado em 2012 (5,84%) e no ano de 2014. Embora acredita na desaceleração da inflação neste ano, o mercado continua prevendo, entretanto, crescimento da inflação em 2014. Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. O BC repetiu o argumento de que esse movimento de elevação da Selic colocará a inflação para baixo. Em relação ao IPCA, os agentes econômicos consultados no Focus reduziram a expectativa neste ano a 5,8%, ante 5,81% na pesquisa anterior. Para 2014, a projeção permaneceu em 5,9%. Já a expectativa para a inflação nos próximos 12 meses foi ligeiramente elevada a 5,68%, ante 5,67%. O nível elevado de preços continua preocupando ainda mais diante da fraqueza da economia brasileira, o que ficou evidenciado na queda de 1,4% do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) de maio, ante abril. O indicador é considerado uma espécie de sinalizador do PIB. Frente a esse cenário, os economistas baixaram pela nona semana seguida a expectativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano no Focus a 2,31%, ante 2,34% anteriormente. Para 2014, a projeção foi mantida em 2,8%.
TAXA DE JUROS. Após o aumento nos juros para 8,5% ao ano na semana passada, o mercado segue acreditando que, em agosto, haverá uma nova alta de 0,5 ponto percentual, para 9% ao ano. Para o fim deste ano, a estimativa permaneceu estável em 9,25% ao ano. Para o final de 2014, porém, a previsão subiu de 9,25% para 9,5% ao ano na última semana.
CÂMBIO. A projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2013 continuou em R$ 2,20 por dólar. Para o fechamento de 2014, a estimativa dos analistas dos bancos para o dólar subiu de R$ 2,22 para R$ 2,30. O Focus mostrou ainda que os economistas mantiveram a expectativa para o dólar no final deste ano em R$ 2,20.
BALANÇA COMERCIAL. A projeção dos economistas do mercado financeiro para o superávit da balança comercial (exportações menos importações) em 2013 ficou estável em US$ 6 bilhões na semana passada. Para 2014, a previsão de superávit comercial permaneceu em US$ 8 bilhões na última semana.
INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS. Para 2013, a projeção de entrada de investimentos no Brasil ficou inalterada em US$ 60 bilhões. Para2014, a estimativa dos analistas para o aporte de investimentos estrangeiros continuou em US$ 60 bilhões na última semana.

O Brasil em baixo crescimento estrutural: Persio Arida (Entrevista Estadao)

Em 2005 eu já comentava que o Brasil estava perfeitamente preparado para NÃO crescer, e aparentemente fui desmentido por vários anos de bonança chinesa. Agora que ela está acabando, os fatores que eu indicava neste artigo:

“Uma verdade inconveniente (ou sobre a impossibilidade de o Brasil crescer 5% ao ano)”, Brasília, 12 novembro 2006, 6 p. Disponível no site pessoal, link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/1682VerdadeInconvTabs.pdf. Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2006/11/637-uma-verdade-inconveniente_11.html#links). Publicado em Via Política (Porto Alegre; 12.11; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=15) e, com pequenos ajustes de forma e o subtítulo “(ou: por que o Brasil não cresce 5% ao ano...)”, em Espaço Acadêmico (ano 6, nº 67, dezembro 2006; ISSN: 1519-6186; link: http://www.espacoacademico.com.br/067/67pra.htm). 

se revelam plenamente válidos. Difícil ser profeta fora do prazo.
Em todo caso, leiam a entrevista do economista Persio Arida ao Estadão deste domingo, 14/07/2013.
Paulo Roberto de Almeida

Pibinho 2013: Para economista Persio Arida, crescimento do PIB ficará em torno de 1,8%

Minúsculo: PIB deve fechar abaixo de 2% e envergonhar o Governo

'O BRASIL PRECISA DE MENOS INTERVENCIONISMO'
Economista defende mudança radical na condução da política econômica 

O economista Persio Arida, um dos mais respeitados do País, defende uma guinada radical na condução da economia e faz uma proposta para arrepiar os desenvolvimentistas: "Uma política mais decididamente liberal e menos intervencionista, mais pró-mercado". Diz que um país como Brasil, que cobra impostos como se fosse a Inglaterra, mas não investe quase nada como contrapartida, "está fazendo algo de muito errado". E mais: acha que o País perdeu seu potencial de crescimento.

A receita de Arida prega que o governo faça tudo ao contrário do que fez até agora: corte seus gastos, acabe com os subsídios a empresas privadas, segure os bancos públicos na concessão de crédito, procure acordos comerciais com os Estados Unidos, Europa e Ásia e esqueça o Mercosul.

Sócio do banco BTG Pactual, um dos pais do Plano Real (que estabilizou a economia em 1994) e estrela do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Arida fez oposição ao regime militar e foi preso nos anos 70. Aos 61 anos, diz ter ficado entusiasmado com as manifestações de junho, que acompanhou pelo noticiário e ao vivo da janela de seu escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, palco de uma das passeatas. "Confesso que, dado o meu passado, fiquei com muita vontade de descer. Mas acabei achando que passei da idade para isso."

A seguir, os principais trechos da entrevista:


O dólar disparou, a economia está parando e a inflação continua alta. A economia desandou?

O Brasil enfrenta uma conjuntura internacional adversa, provocada pela desaceleração da China e pela normalização da taxa de juros dos Estados Unidos. O freio de arrumação chinês tem consequências na demanda por commodities, portanto, afeta os países emergentes. A economia americana, por sua vez, está em franca recuperação e a taxa de juros de longo prazo já está subindo. É natural que os capitais refluam para os Estados Unidos. Os efeitos desses movimentos no Brasil foram potencializados por uma economia que já vinha fraquejando há algum tempo. É lamentável constatar isso, mas nossa realidade hoje é de baixo crescimento estrutural. Os sinais são claros.


Quais são esses sinais?

O crescimento da massa salarial perdeu o vigor, a geração de novos empregos é cadente, o crédito em bancos privados como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) já está constante há um ano. A expansão de crédito é feita pelos bancos públicos, que obviamente seguem uma orientação governamental. Isso é mais preocupante quando se leva em conta que a política fiscal é expansionista e a taxa de juros estava baixa. Significa que nem dando muito gás a economia está crescendo. 


O que está dando errado?

O potencial de crescimento reflete a situação do País, mas também as políticas macroeconômicas. Acho que o Brasil teria muito a se beneficiar de uma menor intervenção estatal na economia, de uma redução dramática do volume de subsídios às empresas, de uma contração fiscal. Ou seja, da redução do tamanho do Estado, tirando menos impostos da sociedade e gastando menos. A abertura comercial também ajudaria muito. Claro que há entraves diplomáticos, tem Mercosul etc. Mas acho que fazer acordos de livre comércio com os parceiros comerciais que importam, que são Estados Unidos, Europa e Ásia, seria mais produtivo do que insistir no caminho do Mercosul. 


Isso é o contrário do que vem acontecendo...

É o contrário da tendência dos últimos anos, com certeza. Mas é um caminho que o Brasil precisa percorrer. Pense nas manifestações de junho. Longe de mim querer simplificar esse fenômeno social complexo, mas a tônica foi a demanda por um Estado mais eficiente. Nosso Estado é grande, a começar pela carga tributária, a maior entre os países emergentes. Cobramos impostos como país desenvolvido e entregamos serviços públicos de país subdesenvolvido. 


O sr. chegou a participar das manifestações?

Cheguei a olhar, mas não desci (uma das passeatas passou em frente à sede do BTG, em São Paulo). Confesso que, dado o meu passado, fiquei com muita vontade de descer, mas achei que já tinha passado da idade para isso. Mas, olha, a população brasileira está mais madura para o debate orçamentário do que as pessoas pensam. O debate antes era muito centrado no déficit. Hoje se discute também a qualidade do gasto. Uma coisa é ter um déficit pequeno com o Estado gastando todo seu dinheiro em subsídios. Outra coisa é ter um déficit pequeno com o Estado gastando todo seu dinheiro em infraestrutura. As pessoas estão prestando atenção.


Os críticos do governo defendem a troca da equipe econômica, inclusive do ministro Guido Mantega. O sr. concorda com essa avaliação?

Não cabe a mim avaliar isso. Mas acho que uma política decididamente mais liberal e menos intervencionista, mais pró-mercado, certamente aumentaria nosso potencial de crescimento. Isso passa por uma agenda muito diferente da agenda desenvolvimentista. Por exemplo: o volume de crédito precisa diminuir dramaticamente, os subsídios do Tesouro, a empresas ou setores específicos, têm de diminuir. São coisas que parecem intuitivamente boas, mas na verdade são ruins. 


Como o governo pode lidar ao mesmo tempo com o grito das ruas por mais investimentos, a pressão dos investidores pela redução dos gastos públicos e as eleições do ano que vem?

A pressão da sociedade não é por mais gastos. É por mais investimento em infraestrutura e por melhor eficiência na saúde. O problema no sistema de saúde, assim como na educação, não é que se gaste pouco - é que se gasta mal. Com relação às pressões orçamentárias típicas de anos eleitorais, isso não é só uma sina brasileira, os governos geralmente ampliam gastos nesses períodos. 


Vários investidores se dizem apreensivos com o desarranjo das contas públicas e com o crescente desequilíbrio das contas externas. Corremos o risco de entrar novamente em crise?

A combinação de uma conjuntura internacional adversa com o fraco potencial de crescimento do Brasil mais os efeitos da antecipação do calendário político criaram um ambiente de incerteza muito grande. É claro que isso tem um efeito ruim sobre a atividade econômica. Você vê estrangeiros que vendem seus investimentos para repatriar capital, que é uma das forças que levaram o dólar a subir. Está todo mundo mais preocupado com seu emprego, com sua renda, em poupar um pouco mais. Tudo isso diminui a demanda agregada da economia. 


Mas podemos entrar em crise ou não?

Olhando os componentes de demanda agregada, o consumo vai se retrair, o investimento também, gastos de governo ao menos não vão se expandir. Só vão crescer as exportações líquidas, pelo efeito da taxa de câmbio. Será que o ganho das exportações compensará a queda de consumo e investimento? Acho que não, o que significa que o PIB vai crescer menos. É bom lembrar também que houve uma forte subida da taxa de juros. Acho difícil escapar à conclusão de que o Brasil vai crescer ainda menos. 


Muitos analistas entendem que o governo se perdeu na condução da política econômica. O sr. concorda?

Não sei se perdido é o termo correto. Mas certamente ele não teve eficácia nas suas tentativas. Os investimentos em infraestrutura, por exemplo. O governo anunciou as concessões de rodovias, voltou atrás, anunciou de novo, melhorou as condições... Claramente é um processo em que não há sintonia entre o que o governo está fazendo e o que os investidores procuram. Veja as mudanças do quadro regulatório. Algumas delas foram desastradamente implementadas, como no caso de energia elétrica. O efeito sobre os investidores é devastador.


Quanto isso afeta?

É difícil para um investidor estrangeiro achar que o caso da energia elétrica foi um caso isolado e não vai se repetir em outras concessões. Qualquer que tenha sido a intenção original, o efeito é aumentar a incerteza sobre a economia brasileira. É ruim porque o que o Brasil mais precisa hoje é atrair capitais privados para infraestrutura. O País tem duas rotas de crescimento óbvias e ambas requerem mudanças na política estatal: uma é criar condições regulatórias para atrair capital privado para infraestrutura; a outra é diminuir o tamanho do Estado. É preciso ser duro na política fiscal para baixar juros. A gente tem de viabilizar inflação baixa e taxas de juros baixa. Os dois. 


Houve leniência com a inflação?

É fácil analisar depois. Na prática, desde que o sistema de metas foi anunciado, a inflação tem ficado muito mais acima da meta do que abaixo dela. De 1999 para cá, esse é o padrão, o que sugere que o Banco Central dos últimos três presidentes foi menos duro do que poderia ter sido na política monetária. Mas isso não é novo. O novo é a inflação ficar batendo no topo por tanto tempo e o fato de que as expectativas de inflação estão, digamos, desancoradas. Nesse sentido a situação é pior do que antes.


Por quê?

Antes, a inflação subia, mas, no longo prazo, as pessoas achavam que ela ia voltar para a meta. Agora, a inflação subiu e as pessoas não acham que vai voltar. Tão grave quanto ter deixado a inflação chegar no topo foi ter deixado as expectativas decolarem e ficarem desancoradas. Isso vai fazer o trabalho de trazer para a meta muito mais difícil do que poderia ter sido. Aliás, acho que a meta de 4,5% é muito elevada. O ideal seria baixar.


Agora? Para quanto?

Agora, não. Mais para a frente. O ideal seria fixar uma meta mais realista, 3% e agir de forma a efetivamente garanti-la.


Dois anos atrás o sr. foi o primeiro economista de peso a defender a redução dos juros...

Continuo gostando de juros baixos. Mas é preciso avaliar o contexto. Quando a política fiscal é muito expansionista, a taxa de juros tem de ser alta, para manter a inflação sob controle. Ou então é melhor desistir de manter a inflação sob controle - não tem mágica. A maneira de explorar ao máximo o potencial de crescimento da economia brasileira é viabilizar a taxa de juros baixa. Só que não pode ter inflação. 


Mas esse é o problema...

O ponto é que o Brasil precisa reduzir o custo de capital para crescer. Mas como ter taxa de juros e inflação baixas? O segredo é só um. Cortar gastos públicos, diminuir impostos e abrir a economia. Um País como o nosso, que arrecada 36% do PIB, uma taxação inglesa, e investe só 0,5% do PIB, está fazendo algo de muito errado. 


O governo parece convencido disso?

Várias medidas necessárias dependem de vontade política. A mais óbvia é mudar a lei de indexação do salário mínimo. É uma excrescência: o mínimo sobe automaticamente com o PIB, em termos reais. Quem ganha salário mínimo merece ter aumento real, é obvio que sim. Mas o problema não é esse. É que ele é piso para todas as negociações sindicais. A economia funciona como se tivesse choques de salário real e indexa as aposentadorias. Quando o País cresce, o valor real das aposentadorias do setor público cresce também. 


Mas isso é ruim?

O Brasil é o único país que conheço no mundo que dá compulsoriamente aumento real de pensão para aposentados. No fundo, está tirando renda dos segmentos ativos da sociedade e transferindo para os aposentados. Todo mundo tem o direito de se aposentar e ter uma boa renda. Mas ter aumentos reais automaticamente num país carente como o nosso? Reduzir o valor real das aposentadorias seria injusto, mas dar aumento automático também é injusto com os outros que trabalham.


Com que taxa de juros o sr. está trabalhando?

Eu acho que o nível de atividade vai surpreender para baixo, a inflação também, e a taxa de juros vai ter de subir menos do que se imagina. Algo entre 9,5% e 10% no máximo.


O sr. está imaginando uma recessão no Brasil?

Recessão, tecnicamente, tem muitas definições diferentes. Com certeza vamos crescer abaixo de 2%. Algo em torno de 1,8%.

Hotel Brasil: de Tegucigalpa a La Paz: diferentes hospedes - Mac Magolis

O Brasil já abrigou um ex-presidente, em sua embaixada em Honduras: tinha direito a todas as honras da casa e ao apoio completo do governo brasileiro, que se movimentou na OEA contra o governo de fato para fazer reconhecer os direitos do seu asilado "diplomático" (que no entanto fazia da Embaixada um palanque político). Durou o que durou, e um dia se conhecerá a história verdadeira do que esteve por trás da intrusão do chapeleiro maluco num recinto diplomático brasileiro.
Agora o Brasil abriga um senador de oposição, perseguido pelo governo de La Paz. Não se sabe quais ações fora do quadro bilateral o governo brasileiro está empreendendo para tirar o boliviano em questão de seu local de "residência" para um asilo a que tem direito, no Brasil ou em terceiro país. Provavelmente, ele não conta com o mesmo apoio político de que desfrutava o ex-presidente hondurenho.
Tudo uma questão de aliados, amigos, companheiros, vocês entendem...
Paulo Roberto de Almeida

O Snowden bolivariano

MAC MARGOLIS

O Estado de S.Paulo 

domingo, julho 14, 2013


No modesto quarto no primeiro andar de um prédio comercial, o asilado político ajeita-se como pode. Há 14 meses, seu mundo restringe-se a um cômodo de 20 metros quadrados na embaixada de uma nação amiga, mobiliado com uma cama, escrivaninha e frigobar. O banheiro é compartilhado. Tomar sol, apenas pela fresta da janela. Como todo refugiado, resta-lhe a escolha ingrata: entregar-se às autoridades ou aguentar firme até que consiga passagem para outra pátria.

Não é Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, que para evitar sua extradição para Suécia se pôs à mercê da Embaixada de Equador em Londres. Tampouco me refiro a Edward Snowden, o bisbilhoteiro americano que derramou segredos da espionagem de Washington e acabou confinado no aeroporto de Moscou.

O relato acima é de Roger Pinto, o Snowden bolivariano. Quem? Perguntaria o leitor. Esquecido nas manchetes e nos malabarismos diplomáticos dos dois refugiados mais célebres do planeta está o drama do boliviano que, desde maio de 2012, está preso na Embaixada do Brasil, em La Paz. Guardadas as proporções, seu caso é emblemático para América Latina, ainda sob o luar do finado caudilho Hugo Chávez, e um problemão para a diplomacia regional.

Senador pelo Departamento de Pando, leste da Bolívia, Roger Pinto é conservador, rico, politicamente articulado e um crítico implacável do governo do presidente Evo Morales. Oposicionista do bloco Convergência Nacional, já integrou um movimento pela independência administrativa e fiscal de um naco tropical do país. A proposta não vingou, mas conseguiu provocar urticária no governo de Evo.

Para piorar, Roger também acusou um integrante do governo de envolvimento com o narcotráfico internacional. Em seguida, ele se tornou alvo de uma chuva de processos, acusado de delitos dos mais diversos, desde corrupção a doações irregulares para uma universidade.

Entre petições e impropérios - e muitas ameaças de morte -, o senador optou pela retirada e bateu à porta da embaixada brasileira. Disse que era um perseguido político e pediu asilo. Brasília, corretamente, o concedeu e ficou por isso mesmo.

Pela Constituição boliviana, todo cidadão tem o direito de pleitear o asilo. No entanto, nos meandros da Carta redigida a dedo pelo partido governante, não há regras nem normas claras para conceder o salvo-conduto. Sem ele, a concessão de asilo cai no vazio. Eis o labirinto de Roger, um asilado entre quatro paredes.

Evo rebate a crítica com um argumento familiar. O senador não seria nenhum prisioneiro político, mas um criminoso comum. Logo, só cabe ao réu render-se à justiça. O argumento soa razoável, não fosse o magistrado boliviano togado pela mesma cartilha bolivariana.

Segundo a Fundação Nueva Democracia, que defende os direitos humanos na Bolívia, a Justiça virou joguete na mão do governo. Apenas nos últimos quatro meses de 2012, o grupo contabilizou 11 casos de suspensão ou de destituição de autoridades democraticamente eleitas, 21 casos de perseguição judicial por motivações políticas e 5 casos de suspensão de autoridades judiciais por causas políticas.

Segunda a Nueva Democracia, são "flagrantes violações de direitos humanos" atribuídas à atuação dos órgãos de segurança, ao Ministério Público e às autoridades da Justiça. Nas palavras de Jorge Quiroga, ex-presidente boliviano, "não se pode oferecer a um americano detido em Moscou o que não se cumpre com um boliviano em La Paz".

Aí está o fio condutor que une Roger Pinto a Edward Snowden e Julian Assange. Heróis ou bandidos, escolha você. Certamente, todos devem explicações pelos seus atos perante a Justiça. Mas que Justiça?

Brasil: Apres-moi le deluge? O que se vayan todos? - Carlos Alberto Montaner

Carlos A. Montaner: Brasil y las protestas

Brasil y el diluvio que viene

Infolatam
Miami, 23 junio 2013
Por CARLOS ALBERTO MONTANER

(Infolatam).- Es un espectáculo raro. Usualmente, los brasileros sólo se lanzaban a las calles durante los carnavales. Ahora lo hacen para protestar. ¿Qué ha pasado? Todo comenzó por un aumento de las tarifas del transporte público, pero ésa sólo fue la coartada. Había mar de fondo. La verdad profunda es que una buena parte de la sociedad está fatigada de la corrupción, la impunidad, la intrincada burocracia y la mala gestión que realiza el gobierno.
En Brasil se pagan impuestos de primer mundo, pero se reciben servicios de tercero. Eso irrita mucho. El 38% de la riqueza que crean los brasileros, el famoso PIB, va a parar a manos del gobierno. En Canadá, donde el Estado educa, cura y administra satisfactoriamente, es el 37.3. En España el 35.9. Los suizos, han construido uno de los estados más prósperos con sólo el 33.6. Pero desde la perspectiva brasilera tal vez lo más hiriente es el vecino Uruguay: el sector público uruguayo apenas consume el 28.9 del PIB  y el país está bastante más organizado y es notoriamente más habitable que su enorme vecino.
Claro que el PIB brasilero es pequeño o grande, según como se mire. Brasil tiene la sexta fuerza laboral del planeta con 107 millones de trabajadores. Por su tamaño, es la octava economía del mundo, pero cuando se divide la producción (US$2374 billones, o trillones si lo decimos en inglés) entre el conjunto de la población (201 millones de angustiados sobrevivientes), el país pasa a ocupar el mediocre puesto 106 del mundo. Incluso, seis países hispanoamericanos tienen mejor per cápita que Brasil, sin contar otra media docena de islas caribeñas que también lo superan.
En Brasil la burocracia es torpe hasta la crueldad y, con frecuencia, es corrupta. El transporte público es malo. La justicia resulta desesperantemente lenta. Las cárceles son un horror. En general, la educación y la salud pública son mediocres. La seguridad es una vaga ilusión desmentida por el acoso constante de los maleantes y el sonido de los disparos en las favelas. No hay una sola universidad brasilera entre las primeras 100 del planeta y sólo hallamos dos en la lista cuando analizamos 500. Apenas se publican investigaciones científicas originales. El país marcha a remolque de los centros creativos del mundo.
Naturalmente, hay algunas zonas de excelencia. Por sólo citar algunos casos: Petrobrás, donde el gobierno controla el 64% de las acciones, es la mayor compañía de América Latina y una de las más eficientes petroleras del mundo. Embraer es una buena fábrica de aviones de mediano tamaño fundada por el gobierno y luego privatizada. Oderbrecht es una excelente empresa de ingeniería civil que funciona a escala mundial. Lo malo y lo grave es que el tejido empresarial, en general, se aísla de la competencia exterior con aranceles y otras medidas proteccionistas que van en detrimento de los consumidores locales.
Simultáneamente, en la última década han salido de la pobreza decenas de millones de brasileros y el gobierno ha hecho un notable esfuerzo por solucionar el problema de la desnutrición en las zonas más desvalidas de la sociedad, pero esos logros, que nadie discute, no compensan el horrendo capítulo de la mala administración.
La presidente Dilma Rousseff, demagógicamente, ha respaldado a los manifestantes, como si las protestas no fueran contra su gobierno, pero Brasil, desde hace más de una década, ha sido administrado por la izquierda y la sociedad comienza a decir que el Partido de los Trabajadores –el de Lula, el de Dilma—está compuesto por ladrones y sinvergüenzas que se las arreglan para gozar de impunidad. Unos perfectos hipócritas que, sin abandonar el discurso de la reivindicación de los humildes, han resultado tan corruptos como la derecha y el centro, pero mucho menos eficientes.
El riesgo que implica esta actitud, si se generaliza, es que en el país se oiga un fatídico grito que destruye los partidos políticos y les abre la puerta a la aventura y el disparate: “que se vayan todos”. A ver si lo entienden: la democracia liberal es un sistema que sólo funciona y prevalece si se gobierna bien y con apego a la ley. De lo contrario, un día viene el diluvio

Ser um escritor significa ser antes de tudo um leitor - Nancy Hendrickson

Today's Writing Inspiration
By Nancy Hendrickson


Novelist John O'Hara wrote:


"Becoming the reader is the essence of becoming a writer."

Whether your book is fiction or non-fiction, memoir, how-to or poetry, try to see the finished product through the eyes of your reader. If you can't remove yourself far enough to be objective, read other works written in your genre. This will inspire you, give you new ideas, and get you back on your journey.  

You can't be a writer without being a reader.  So how about taking a few hours today and read? 

What I'm reading now:

  • The Story Template
  • Timbuctoo
  • Kingdom
  • Blind Faith
  • The Fire in Fiction
  • Sign Talker
  • Rock Your Plot
How about you???
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