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sábado, 29 de julho de 2017

A Republica dos Sem-Vergonhas - Jose Neumanne 

A república dos sem-vergonha


Sob a égide de Temer, Lula e Cunha, Congresso tenta favorecer a corrupção

*José Nêumanne, O Estado de S.Paulo

26 Julho 2017 | 03h03

O historiador cearense Capistrano de Abreu (1853-1927), colega de classe de padre Cícero Romão Batista no seminário de Fortaleza, não ficou famoso por causa disso, mas por uma piada, seu projeto de Constituição, que rezava, categórico: “Artigo 1.º : Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. Artigo 2.º: Revogam-se as disposições em contrário”.

Nenhum de nossos projetos constitucionais teve o poder de síntese dessa chacota, que de tão atual se tornou denúncia. A cada nova legislação este país se torna cada vez mais a “república dos sem-vergonha”. E a sociedade dos otários espoliados. A primeira página do Estado de anteontem registrou: Câmara quer mudar delação premiada e prisão preventiva. E a notícia a que ela se refere, da lavra de Isadora Peron, da sucursal de Brasília, completou: “Também estudam revogar o entendimento de que penas podem começar a ser cumpridas após condenação em segunda instância”.

Na mesma edição deste jornal, que se notabilizou pelas lutas pela abolição da escravatura, pela proclamação da República, contra o Estado Novo e a ditadura militar, os repórteres de política Pedro Venceslau e Valmar Hupsel Filho relataram a saga de Vicente Cândido (PT-SP) para promover uma reforma política que inclua um Fundo Partidário de, no mínimo, R$ 3,5 bilhões; o distritão, em que só os mais votados para deputado se elegem; e, last but not least, a “emenda Lula”. Esta merece destaque especial, por impedir que postulantes a mandatos eletivos sejam presos oito meses antes da data marcada para a eleição, mesmo que só venham a ter suas candidaturas registradas oficialmente quatro meses após esse prazo. O nome do presidenciável do Partido dos Trabalhadores (PT), no qual milita Sua Candidez, é usado como marca registrada da emenda por atender ao fato de que Luiz Inácio Lula da Silva acaba de ser condenado a nove anos e meio de prisão e proibido de ocupar cargos públicos por sete anos pelo juiz Sergio Moro, na Operação Lava Jato.

A proibição de prender quem avoque sua condição de candidato é a mais abjeta das propostas do nada cândido (claro, impoluto) relator, mas não é a que produzirá, se for aprovada pelo Congresso Nacional, mais prejuízos, em todos os sentidos, para a cidadania. As medidas cinicamente propostas pelo “nobilíssimo” parlamentar produzem, em conjunto, um despautério que provocaria a aceleração do enriquecimento dos partidos e de seus representantes, em particular os dirigentes, sob a égide de um sistema corrupto e que trava a produção e o consumo, empobrecendo a Nação. O financiamento público das milionárias campanhas eleitorais legaliza a tunga ao bolso furado do cidadão.

Ex-sócio do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que não sai do País para não ser preso pela Interpol, Sua Candura-mor, o deputado ecumênico, integra o lobby a favor da legalização dos cassinos e foi um dos idealizadores da campanha de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara. A reforma ressuscita uma ideia que nunca pareceu ter muito futuro e sempre foi apregoada pelo presidente Michel Temer: o distritão. Trata-se da volta do tílburi ao Vale do Silício, pois reduz a pó as tentativas vãs de tonificar a democracia, dando mais força aos partidos, e estimula o coronelismo partidário, usando falsamente a modernização, confundindo-a com voto distrital.

O Estado noticiou que o patrimônio de Cândido aumentou nove vezes nos últimos nove anos (descontada a inflação no período). Neste momento, em que as arenas da Copa do Mundo da Fifa em 2014 – de cuja lei foi relator – têm as contas devassadas por suspeitas de corrupção e um juiz espanhol mandou prender o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, o eclético parlamentar achou um parceiro no Senado: o relator da reforma política e líder do governo Temer na Casa, Romero Jucá (PMDB-AP).

Enquanto Cândido e Jucá providenciam a engorda dos cofres partidários para garantir as campanhas perdulárias, que vinham sendo feitas à custa de propinas milionárias, a comissão especial da reforma do Código de Processo Penal (CPP) batalha pelo abrandamento da legislação de combate à corrupção no Brasil.

A reforma do CPP, que é de 1941, foi aprovada no Senado em 2010. Na Câmara ficou esquecida até o ano passado e foi desengavetada durante o mandarinato do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba. O presidente da comissão especial que discute as mudanças na Casa, deputado Danilo Forte (PSB-CE), que apareceu recentemente na lambança de Temer ao tentar atravessar a adesão dos dissidentes do PSB ao DEM, discorda de presos fecharem acordos de delação premiada com procuradores.

Forte também considera que é preciso punir juiz que desrespeite as regras da condução coercitiva, que deveria ser empregada apenas se uma pessoa se negar a prestar depoimento. O presidente da comissão especial parece até ter inspirado sua ideia na recente decisão de Nicolás Maduro, que ameaçou de prisão os juízes que o Parlamento da Venezuela – de maioria oposicionista e contra a Constituinte que ele quer eleger no domingo, no modelo da pregada por Dilma – escolheu para a Suprema Corte.

A reforma política de Cândido e Jucá e as mudanças no CPP propostas por Forte, aliado de Temer, evidenciam tentativas de adaptar as leis eleitorais e penais do País aos interesses pessoais de chefões políticos encalacrados nas operações, Lava Jato entre elas, inspiradas em convenções da ONU, da OEA e da OCDE contra a roubalheira geral, importadas por Fernando Henrique e Dilma e agora ameaçadas pelos que defendem a impunidade de quem for flagrado. Esse “acordão”, que denota fraqueza e sordidez, põe o Brasil, já na contramão da prosperidade, também na trilha oposta da luta contra o roubo. Aqui a vergonha empobrece o portador.

*Jornalista, poeta e escritor

Em defesa de Lula e do lulopetismo diplomático: entrevista Celso Amorim

Registrando, por enquanto...


POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

BBC Brasil – 'Toma lá, dá cá' em Brasília é 'quase sexo explícito', diz Celso Amorim / Entrevista / Celso Amorim

Julia Carneiro

 BBC, 28/07/2017 

O ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Amorim diz que uma reforma política precisa estar na plataforma do próximo presidente do Brasil e que mudar o sistema eleitoral é essencial para coibir a troca de favores entre Planalto e Congresso em Brasília, realizada sem cerimônia, "na frente de todo mundo".

 

"Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito", diz em entrevista à BBC Brasil, em seu apartamento com vista para a Praia de Copacabana, na zona sul do Rio.

 

Chanceler mais longevo da história brasileira, durante todo o governo Lula e em parte do governo de Itamar Franco, Amorim faz duras críticas à política externa do governo Temer e do atual ministro Aloysio Nunes (PSDB). Após os anos de aumento da influência global no governo Lula, Amorim diz que o Brasil saiu de cena e está "cumprindo tabela".

 

"Nos melhores momentos, (a política externa) é passiva. Nos piores, é desastrada", afirma, considerando um erro a postura adotada em relação à Venezuela. Para Amorim, ao fazer uma crítica "tão frontal" ao governo de Nicolás Maduro, o governo brasileiro perdeu a possibilidade de diálogo, interlocução ou intermediação de conflitos.

 

Mesmo diante do acirramento da crise na Venezuela, o ex-ministro não faz mea-culpa em relação à proximidade gestada entre o governo Lula e de Hugo Chávez, o líder venezuelano à época.

 

Nem vê problemas na estratégia de aproximação com países africanos que abriu as portas para negócios brasileiros - entre eles, lucrativos contratos com a construtora Odebrecht, que, como se descobriria mais tarde, pagou mais de R$ 1 bilhão em benefícios ilegais em Moçambique e Angola.

 

"O que as empresas brasileiras fizeram, eu não sei. E não sabia. Agora, também posso dizer que não é diferente do que fizeram empresas francesas, espanholas, americanas", afirma ele, dizendo que casos de corrupção internacionais estão longe de ser exclusividade brasileira e o que o Brasil estaria cometendo que chama de "automortificação" no escrutínio global a suas empresas.

 

Apesar dos cinco processos enfrentados pelo ex-presidente Lula, Amorim considera que "não pode haver um cenário presidencial" sem o petista em 2018. Para o chanceler, ele próprio filiado ao PT, Lula seria a única pessoa com capacidade para derrotar "as ameaças de direita e de extrema-direita". Ele considera as acusações contra o ex-presidente "ridículas" e "descabidas".

 

"Tenho certeza que nenhuma dessas acusações se sustentará. Acho que as pessoas percebem que as acusações são infundadas", considera. "Acho que o povo não vai cair nessa, e que o Lula tem muita chance de ser eleito."

 

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

 

BBC Brasil - Primeiro queria saber como o senhor vê a política externa do Brasil no momento. A gente viu muitas guinadas no país ao longo do último ano e agora o governo acaba de assumir a presidência do Mercosul...

 

Celso Amorim - (interrompendo) Mal se percebe, não?

 

BBC Brasil - Como o senhor vê o papel que o Brasil está desempenhando?

 

Amorim - A política externa obviamente teve uma queda brutal. Você não percebe mais a presença do Brasil. Eu me recordo que, quando presidia reuniões do Mercosul, eram entrevistas sem parar, jornais, canais de TV, sempre tinha uma coisa nova, algo palpitante, ainda que fosse para criticar. Agora, não tem nada. Dá impressão que você está cumprindo tabela.

 

O Brasil estava presente em quase tudo que aconteceu de importante no mundo, da Rodada de Doha às questões da reforma da ONU, passando pelo Oriente Médio, Teerã, integração da América do Sul... Hoje, o que eu vejo é uma coisa passiva. Nos melhores momentos é passiva. Nos piores, é desastrada.

 

BBC Brasil - O Brasil assume o Mercosul em um momento de crise acirrada na Venezuela. A situação está crítica, com a eleição da Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro marcada para domingo. Como o senhor vê as ações do Brasil em relação à Venezuela?

 

Amorim - O governo brasileiro adotou uma posição de crítica tão frontal ao governo venezuelano que deixou de ser um interlocutor. Na situação atual, o Brasil sumiu. Porque se colocou em uma posição em que não há diálogo.

 

E em vez de ter presente que o mais importante é a paz na Venezuela, a paz social e política, resolveu tomar um lado, e o lado contrário ao do governo. Eu não vou entrar nem no mérito das posições do governo Maduro, mas se você quer agir como um país que tem influência, você não pode tomar partido.

 

BBC Brasil - Mas havia muitas críticas à proximidade dos governo do PT em relação ao ex-presidente Hugo Chávez e de Maduro, à falta de posicionamento em relação a violações de direitos humanos e de liberdades democráticas.

 

Amorim - Isso é totalmente injusto. Claro que Lula, nós todos, tínhamos simpatia pelo desejo do Chávez de afirmar uma independência em relação aos EUA, e de fazer um governo mais voltado para a população pobre.

 

Agora, veja bem. Quando havia um problema sério entre Colômbia e Venezuela, o Uribe (o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe) vinha correndo falar com o Lula. Nós tínhamos diálogos com todos. Essa ideia de que a gente passava a mão na cabeça dos bolivarianos, de que o Brasil era leniente, é totalmente errada.

 

Havia uma proximidade. Havia muito esforço de persuasão. O Brasil criou o Grupo de Países Amigos da Venezuela, teve uma liderança indiscutível. Foi o Brasil que convenceu, persuadiu, com jeito, sem agressividade, o presidente Chávez a fazer o referendo revogatório e a aceitar que a OEA (Organização dos Estados Americanos) fosse observadora. Algo impensável hoje, devido ao clima de hostilidade.

 

É fundamental o diálogo na Venezuela. É dificílimo, mas tem que haver. Não adianta você apoiar a solução do governo ou da oposição. Você tem que trabalhar pelo diálogo.

 

BBC Brasil - O senhor não faz nenhuma autocrítica pelo fato de o governo Lula nunca ter questionado tendências antidemocráticas na Venezuela, ainda mais agora que a situação se agravou tanto?

 

Amorim - Não, não faço, porque não somos nós que temos que decidir para onde vai o povo venezuelano. A gente pode atuar numa crise para facilitar o diálogo. Coisa que o presidente Lula sempre tentou fazer. Mas há um limite do que você pode fazer.

 

BBC Brasil - Dentro do próprio PT há um racha em relação à questão da Constituinte, com a presidente atual do partido, Gleisi Hoffmann, declarando apoio à convocação feita por Maduro, e outros quadros do partido desconfortáveis com esse apoio público. Como o senhor vê essa questão?

 

Amorim - Eu não sei se tem um racha. O PT não tem força para fazer isso (influir na questão). Você tem que perguntar ao governo. O governo é que tem força para agir de uma maneira ou de outra. Você tem trabalhar pelo diálogo, e o governo não está tentando fazer nada parecido com isso.

 

O PT está fazendo uma manifestação de simpatia. Embora eu ache que a Constituinte não vá resolver problema nenhum, eu até entendo (esse movimento). Tem que haver um pouco de entendimento, e no momento não há nenhum. O importante é você tentar promover um diálogo, que é difícil. Mas diplomacia é para isso, para as coisas difíceis.

 

BBC Brasil - O senhor é filiado ao PT. Se não concorda com a Constituinte, lhe causa desconforto a defesa pública do partido?

 

Amorim - Sou filiado, mas não sou do diretório, não participo das decisões. Não vou dizer que causa desconforto. Eu acho que a Constituinte não vai solucionar o problema e é passível de críticas. Mas não estou no governo, não tenho como influir. Se tivesse, eu me manifestaria.

 

O (ex-presidente da Espanha José Luiz Rodríguez) Zapatero, o (presidente colombiano Juan Manuel) Santos, essas pessoas estão tentando mediar. Tem que se fazer as coisas de outra maneira. Teria talvez que chamar Cuba para participar. Mas qual é o diálogo que o governo brasileiro tem com Cuba, se Cuba nem sequer dá agrément (consentimento à nomeação de diplomata estrangeiro para atuar no território de um país) para o embaixador brasileiro?

 

Isso tem a ver com a falta de legitimidade do governo atual. Você não dá um golpe impunemente. Você pode conseguir o poder, mas paga um preço.

 

BBC Brasil - Após o impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff visitou diversos países para falar sobre seu afastamento e transmitir a perspectiva do PT de que ela foi vítima de um golpe. O senhor acha que a comunidade estrangeira se convenceu de que teria havido um golpe?

 

Amorim - Olha, eu acho que essas coisas semânticas... Eu, pessoalmente, acho que foi um golpe. As formalidades foram seguidas, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso estão funcionando, então não é um golpe militar, claro. Mas se você teve uma eleição que elegeu uma chapa com um determinado projeto de país - pode até ter errado na execução, isso é outro problema - mas um projeto que pressupõe maior inclusão social, autonomia na política internacional, não incluía privatizações como as que estão sendo feitas agora, nada disso. E você substitui, através do impeachment, por um projeto oposto - isso é um golpe, a meu ver. Ainda que os meios não tenham sido ilegais do ponto de vista formal.

 

Como você pode comparar o Lula, um homem que a maioria ainda responde que foi o melhor presidente do país, com o Eduardo Cunha, gente?

 

A sensação que eu vejo fora do Brasil é de perplexidade. As pessoas nem entendem o que está acontecendo no Brasil. As condenações do Lula são percebidas como uma coisa política, direcionada. Como você pode comparar o Lula, um homem que a maioria ainda responde que foi o melhor presidente do país, com o Eduardo Cunha, gente? O sujeito tinha contas na Suíça, é um manipulador. São entidades totalmente diferentes. Isso já mostra que a cabeça dessa pessoa que julgou não é uma cabeça... sei lá. Não vou falar mais nada.

 

BBC Brasil - Mas o Lula foi condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro e enfrenta quatro outros processos. Como o senhor vê a sucessão presidencial para 2018?

 

Amorim - Primeiramente, eu presumo que não pode haver um cenário presidencial sem o Lula. Nessa coisa não tem que ter plano B.

 

As eleições de 2018 serão muito importantes, e temos riscos até da (ascensão de um candidato de) extrema-direita, graças à campanha feita no Brasil. O objetivo foi desmoralizar o PT, mas desmoralizou a política. Os candidatos que se apresentam como não-políticos, da extrema-direita ou da direita mesmo, podem se beneficiar disso.

 

O Lula é a única pessoa que tem capacidade de mobilizar o povo para derrotar essas ameaças de direita e de extrema-direita.

 

O Lula é a única pessoa que tem capacidade de mobilizar o povo para derrotar essas ameaças de direita e de extrema-direita. Não é nem para ganhar do PSDB tradicional, não, é para ganhar de pessoas que são antipolíticas e antidemocráticas.

 

BBC Brasil - Mas para além das dúvidas que pairam sobre o futuro político do Lula, ele enfrenta uma série de acusações de corrupção. Como isso se concilia com a ética demandada por um candidato a presidente?

 

Amorim - Mas você tem que se perguntar por que esses processos foram abertos. Não existe materialidade do crime. "Por que tinha intenção?" Como é que você faz uma relação de causa e efeito para aferir um eventual benefício para uma empresa? São coisas totalmente descabidas.

 

Criminalizaram o fato de o Lula receber determinada quantia pelas palestras que fez. Gente, isso é o que faz o Clinton, o Bush... já que a gente gosta de ver exemplos fora. Quase todos esses líderes têm uma fundação. Você acha que eles tiraram dinheiro do bolso deles para botar na fundação? O Instituto Lula é auditado com uma lupa que eu nunca vi aplicada a outros institutos. Eu não tenho nada contra o Instituto Fernando Henrique Cardoso, acho bom que haja. Mas são critérios diferentes, nunca ninguém nunca pensou (em fiscalizar).

 

BBC Brasil - Mas há acusações muito sérias de corrupção envolvendo o PT - outros partidos também, claro - e o período de governo do Lula, como as centenas de milhões de reais desviados da Petrobras.

 

Amorim - Eu sei, houve acusações, não tenho como fazer aferições, mas posso falar das impressões que existem. Muitas dessas coisas na Petrobras, que não são defensáveis, já aconteciam antes, e não foram investigadas com o mesmo rigor. Agora o João Vaccari Neto, que era o tesoureiro do PT, acabou de ser absolvido. Claro que depois de você criar uma imagem dessas...

 

As acusações contra o Lula são absolutamente ridículas. Um dos processos tem a ver com a aquisição dos aviões (36 caças suecos comprados durante o governo Dilma). Eu posso dizer para você, e poderia dizer a um juiz, se ele por acaso me chamar: A influência do Lula na compra dos aviões suecos foi zero. Zero. Até porque a preferência de seu governo eram os aviões franceses, porque estávamos com uma aliança estratégica com a França. Mas a escolha das Forças Armadas era pelos caças suecos. A escolha da Aeronáutica era essa.

 

Tudo se amontoa. Em um dos processos, um sujeito se propõe a fazer determinada coisa para ter influência, e aí porque ele propôs, você incrimina a pessoa sobre a qual ele faria o lobby. Tenha dó. A questão é que tem que descobrir alguma coisa sobre o Lula. Tem que inventar.

 

Os outros estão acusados de ter contas na Suíça, tem mala sendo carregada, até filmada. Não tem cabimento. Tenho certeza que nenhuma dessas acusações se sustentará. E acho que as pessoas percebem que as acusações são infundadas. Acho que o povo não vai cair nessa, e que o Lula tem muita chance de ser eleito.

 

BBC Brasil - Em uma palestra recente em Cabo Verde, o senhor defendeu a necessidade de um entendimento entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. De que maneira?

 

Amorim - Isso, um entendimento para fazer a reforma política. Eu acho que tem que fazer parte da plataforma política do próximo presidente convocar uma Constituinte para promover uma reforma política e mudar o sistema eleitoral.

 

Todos os problemas que ocorreram - Mensalão, Petrolão - estão ligados a financiamento de campanha. E isso está ligado ao alto custo da eleição. Se a eleição for cara, você pode fazer as proibições que fizer que o dinheiro vai continuar aparecendo, seja por caixa 2, caixa 3, caixa 4.

 

Eu respeito o Fernando Henrique, ele não é como a maioria de políticos da centro-direita brasileira. Ele tem influência e pode ajudar a fazer uma reforma política que dê legitimidade ao poder no Brasil.

 

Senão, fica impossível. Com o Congresso sendo eleito da maneira como é eleito hoje, qualquer governante vai ser obrigado a entrar em negociação.

 

Não estou falando de negociar politicamente. Isso é normal. Em qualquer país do mundo, você faz concessões para fazer uma coalizão. Não é isso. O problema é você ter que negociar favores, verba. Como você está vendo agora. Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito.

 

BBC Brasil - O que o senhor diz que é quase sexo explícito? As negociações entre o governo e o Congresso? O toma lá dá cá?

 

Amorim - Isso. É impressionante. Na frente de todo mundo. Eu nunca vi isso. Falaram tão mal da Dilma, mas a Dilma não mudou a composição de Comissão nenhuma (referência à substituição de última hora de membros da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em julho para rejeitar denúncia contra Temer). E isso de pessoas do mesmo partido, como o deputado que soube pelo jornal que tinha sido substituído por outro.

 

BBC Brasil - Recentemente especulou-se na imprensa que o PT poderia indicar o seu nome para se candidatar ao governo do Estado do Rio em 2018. O senhor foi sondado? Está cogitando voltar para a política?

 

Amorim - Eu nunca saí da vida política, sempre mantive boas relações, mas nunca cheguei a me posicionar como candidato a nada. Fico envaidecido, mas, honestamente, tentando ver de fora e me desvincular emocionalmente, não acho que eu seja um bom nome. Acho que tem que ser uma pessoa mais jovem, que possa enfrentar os problemas atuais.

 

Se eu puder ajudar para que um governo voltado para justiça social e para a autonomia no Brasil ganhe a eleição, farei o que for possível. Mas não sei se uma eventual candidatura ao governo do Rio ajudaria com isso. Eu acho que não.

 

BBC Brasil - A operação Lava Jato descortinou esquemas de corrupção de empreiteiras, sobretudo da Odebrecht, muito além das fronteiras brasileiras, incluindo nos países africanos dos quais o Brasil se aproximou durante o governo Lula, como parte da política de aproximação Sul-Sul. Diante da corrupção revelada, como o senhor olha para essa estratégia em retrospecto?

Amorim - Olha, o que as empresas brasileiras fizeram, eu não sei. E não sabia. Agora, também posso dizer que não é diferente do que fizeram empresas francesas, espanholas, americanas, porque era como essas empresas agiam.

 

Empresas americanas, alemãs, também foram acusadas disso ou daquilo. A Volkswagen, por exemplo, com aquele software (que mascarava as emissões de carbono). Claro que ninguém vai justificar essas coisas erradas, mas não é por isso que você vai fechar a possibilidade de estar presente em outros países.

 

O nível de colaboração com a justiça estrangeira, com países mais poderosos que o Brasil, é uma coisa que nunca vi acontecer. São assuntos nossos, para serem resolvidos aqui.

 

Se propinas foram pagas, isso é lamentável e tem que ser punido. Mas eu nunca vi uma campanha acirrada, nem da justiça americana, nem da justiça alemã, para destruir todas as suas empresas. Você teria que ir corrigindo as coisas, mandar embora as pessoas ligadas àquelas práticas, e ir consertando.

 

Aqui, o nível de colaboração com a justiça estrangeira, com países mais poderosos que o Brasil, é uma coisa que nunca vi acontecer. São assuntos nossos, para serem resolvidos aqui.

 

BBC Brasil - O senhor está falando das colaborações para investigar a corrupção no exterior, como da Petrobras e da Odebrecht?

 

Amorim - Sim, porque houve um compartilhamento de dados com a Justiça Americana que teve efeitos graves. Acho que tínhamos que resolver os problemas aqui, e quem quisesse, que viesse pedir para saber mais.

 

Você não vê outros países fazerem isso. Da maneira que foi feito, dá a impressão que só as empresas brasileiras fizeram isso (pagaram propina para obter contratos).

 

Eu não vou nem mencionar os países, mas nós já perdemos concorrências de maneiras muito suspeitas, onde sabíamos que tínhamos condições melhores para determinado contrato. Na hora H ganhava uma outra companhia, de um país europeu ou de uma ex-potência colonial.

 

Um erro não justifica o outro, mas nós fizemos uma automortificação, não é? Você vai sanear as empresas, mas você vai levar muito tempo para recuperar a credibilidade.

 

BBC Brasil - O senhor acha que a Lava Jato virou uma automortificação?

 

Amorim - Em boa parte. É muito delicado falar desse assunto, porque eu não quero defender de modo algum as ações erradas que foram praticadas. Agora, eu acho que sim, houve uma automortificação. Na maneira como foi levado, a maneira como a imprensa tratava...

 

Se há uma área em que o Obama falhou, foi na área do comércio, porque ele não fez nenhum esforço para reviver a Rodada de Doha numa época em que isso ainda era possível.

Você ter uma ação política em favor de uma empresa é parte da ação comercial de um país no exterior. Por exemplo, a Boeing queria vender o seu avião no Brasil. A Hillary Clinton me escreveu uma carta. A Condoleezza Rice já tinha levantado o assunto comigo.

 

Agora, acho que tudo ficou criminalizado indistintamente. Fez-se uma generalização errada e vai levar muito tempo para que isso seja corrigido. Se convenções internacionais anticorrupção já existem há algum tempo, é porque corrupção havia, né? Acho que isso tinha que ser visto de forma menos ingênua, de modo a não achar que eram só as brasileiras. Ainda que com a punição adequada aqui dentro.

 

BBC Brasil - O governo do presidente norte-americano Donald Trump acaba de completar seis meses, e lá também o dia a dia tem sido de sucessivas crises. Como o senhor vê o impacto de seu governo até agora?

 

Amorim - Eu não tenho nenhuma simpatia pessoal pelo Trump. Em muitas coisas ele representa um risco, porque a linguagem dele, em vez de apaziguar, atiça conflitos. Mesmo vendo todos os defeitos do Trump, acho que ele fez uma coisa positiva, que foi acabar com a TPP (a Parceria Transpacífico, ou Transpacific Partnership). Se há uma área em que o Obama, na minha opinião, falhou, foi na área do comércio, porque ele não fez nenhum esforço para reviver a Rodada de Doha numa época em que isso ainda era possível.

O TPP tinha o objetivo geopolítico de limitar a ação da China. Houve uma fragmentação do comércio internacional na época do Obama. Tudo bem que o Trump não vai defender a OMC (Organização Mundial do Comércio), mas terminar com o TPP eu acho positivo, pelo menos esse realismo nos poupa da conversa fiada em que a mídia entrava, falando que o Brasil está isolado, e é o Brasil é o único país que não tem acordo... mentira. Nenhum dos Brics é parte de nenhum desses acordos.

 

Mas não é bom falar que o Trump está certo porque ele é uma pessoa machista, contra imigrantes, racista. O que está fazendo com o México é uma barbaridade. Eu acho, aliás que a América Latina tem que se posicionar. Por que o Mercosul não dá uma declaração criticando o que o Trump está fazendo com o México?

 

Eu acho, aliás que a América Latina tem que se posicionar. Por que o Mercosul não dá uma declaração criticando o que o Trump está fazendo com o México?

 

BBC Brasil - Condenando o muro que ele quer construir?

 

Amorim - O muro, que evidentemente viola os direitos humanos, e também o que eles estão fazendo no Nafta, obrigando o México a fazer mais concessões para manter o acordo. O México já fez vários sacrifícios para entrar para o Nafta. Sobretudo a agricultura mexicana sofreu muito. Cadê a coragem dos que falam mal da Venezuela e do Maduro nesse momento? Não vejo.

 

BBC Brasil - O mais recente ranking que mede os países com maior soft power no mundo recentemente mostrou que a França ultrapassou os Estados Unidos. Por outro lado, o Brasil caiu e está quase saindo da lista...

 

Amorim - Quando o Brasil estava fortíssimo! O soft power existe como potencial. Se não há uma diplomacia ativa, ele se perde. Foi o que o governo do presidente Lula procurou fazer. Eu sempre disse que a política externa brasileira era ativa e altiva. O Brasil pode, sim, fazer as coisas. Aquela história do "yes, we can" (o slogan de Barack Obama). Sim, nós podemos. Sim, o Brasil pode trabalhar pela unidade sul-americana. Sim, o Brasil pode trabalhar pela paz na Venezuela. Sim, o Brasil pode fazer um acordo com os Brics. Sim, o Brasil pode ter uma política africana. Pode ter havido erros aqui e ali, mas era isso que nós tentamos fazer.

 

Nem tudo se perde. Alguma coisa fica. E quando a gente tiver um governo mais legítimo, vamos poder novamente usar as coisas que criamos, os Brics, o Ibas (Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul), o diálogo com os árabes, a boa relação com a África. A gente vai poder voltar.

 

Espero que seja um governo voltado para a justiça social, porque isso é essencial. O Brasil não é uma empresa. Não basta ter o balanço adequado e estar tendo lucro. O Brasil é um povo.

 

BBC Brasil - E como está esse Brasil hoje? Qual é a sua sensação como brasileiro?

 

Amorim - Olha, eu seria tentado a fazer uma frase de efeito e dizer: "O Brasil não está". Tirando o período negro da ditadura militar, é o pior momento em que eu já vi o Brasil. Inclusive em matéria de credibilidade internacional.

 

Mas o Brasil é um país grande, a diplomacia tem tradição, as Forças Armadas vão exigir que projetos importantes continuem, temos instituições de primeiríssima qualidade, como a Fiocruz, que luta pela saúde brasileira.

 

O Brasil tem que voltar a ter o peso e a credibilidade que perdeu. Agora, o Brasil está cumprindo tabela. Na realidade, não pode fazer muito mais do que isso. Mas eu acho que vai se recuperar. Agora como, e quando, eu não sei.

ITAMARATY

Oswaldo Aranha: a man for all seasons - Paulo Roberto de Almeida

Com meu amigo e colega no IPRI Rogério de Souza Farias, mais a colaboração de Carlos Leopoldo, estamos compondo um "reader" de artigos, palestras, discursos e conferências de Oswaldo Aranha, tudo contextualizado historicamente e acrescido de algumas cartas indispensáveis para retraçar o perfil e a obra de um estadista que teria levado o Brasil por outros caminhos, se por acaso tivesse sido guindado à condição de presidente. Por certo lhe faltou aquela ambição que animou outros personagens da política brasileira, como JK, Jânio, ou mesmo Carlos Lacerda. Mas Aranha também foi "obstado" por aquele mesmo a quem considerava um "irmão maior" na política, o ditador Getúlio Vargas. Esperamos ter esse livro pronto até outubro, para acompanhar o lançamento em Brasília da magnífica fotobiografia de Pedro Corrêa do Lago, feita com a colaboração de seu irmão Luiz, ambos netos de Oswaldo Aranha.

O texto que transcrevo abaixo é retirado de um outro artigo meu, sobre "dez grandes derrotados de nossa história", mas eu os considero vencedores em pensamento. O original foi publicado em Spotniks, de onde retirei este trecho:

7) Oswaldo Aranha

https://spotniks.com/wp-content/uploads/2016/02/OswaldoAranha.jpg

OswaldoAranha

Paradoxalmente, só foi derrotado quando finalmente chegou ao momento de maior glória, e pelo próprio homem que ajudou a colocar no poder. A “estrela da revolução liberal” de 1930, foi de fato o homem que “liquidou” a República Velha, ante as hesitações e dúvidas de Getúlio Vargas quanto às chances de vitória do movimento contra Washington Luís e seu presidente eleito do bolso do colete. Não fossem os esforços decididos de Aranha, no sentido de unir gaúchos e mineiros, e de aliciar forças decisivas no Exército e nas tropas estaduais militarizadas, a revolução de 1930 não seria o marco da modernização do Brasil e da construção de um Estado moderno, não mais a “República carcomida” das oligarquias do café-com-leite. Sucessivamente ministro da Justiça, da Fazenda (quando ele encaminha os problemas da dívida externa e dos estoques de café) e embaixador em Washington, Aranha estava no auge de sua glória quando decide abandonar, por desgosto, seu posto diplomático, na sequência do Estado Novo, em novembro de 1937, que repudiou imediatamente.

Foi apenas sua amizade com Vargas, e a necessidade que este tinha de manter as melhores relações possíveis com os americanos – a despeito de suas notórias simpatias pelos regimes fascistas da Europa – que explicam seu retorno à política, como chanceler do Estado Novo, de março de 1938 a agosto de 1944. Sua ação à frente do Itamaraty foi decisiva para conter a inclinação de muitos dos expoentes do regime por uma aliança com as potências nazifascistas, aparentemente invencíveis no início dos anos 1940, e para ancorar vigorosamente o Brasil no grupo das Nações Aliadas.

Aranha sempre foi um candidato natural das forças democráticas à presidência da República: hipoteticamente em 1934, numa eventual escolha alternativa pela Constituinte (e provavelmente por isso, Vargas decidiu manda-lo para Washington); talvez em 1938, se as eleições previstas não tivessem sido cortadas pelo golpe de Estado; possivelmente ao final do Estado Novo, quando Vargas ainda manobrava para continuar, depois indicando um sucessor de sua escolha; em 1950, quando foi sondado, mas preferiu deixar o terreno livre para o ex-ditador; ou ainda, e finalmente, à morte deste, nas eleições de 1955, disputadas por muitos candidatos bem menos qualificados do que ele. Foi uma pena que sua falta de ambição, e sua fidelidade irrestrita ao “irmão maior” que era Vargas, obstaram que ele galgasse o posto mais alto da República.

Para se ter uma ideia de como o Brasil poderia ter sido diferente, se ele tivesse ascendido ao comando da nação, basta ler a carta que Aranha enviou a Vargas para que este discutisse os assuntos da guerra e da paz no encontro que o ditador teria em Natal com Franklin Roosevelt, em janeiro de 1943. O maquiavélico ditador não só o afastou traiçoeiramente dessas conversações, mas também impediu um encontro especial que se realizaria em Washington com o presidente americano no mesmo mês em que Aranha foi humilhado pela polícia política do regime, no triste episódio da Sociedade das Américas, em agosto de 1944, o que acabou determinando sua saída da chancelaria.

Naquela carta, Aranha delineou não apenas um esquema de aliança com os EUA, para ganhar a guerra, mas também uma estreita cooperação para participar da nova ordem mundial a partir da restauração da paz; ele incluiu, sobretudo, um programa inteiro de modernização industrial e de capacitação do Brasil, com ajuda americana, de molde a realmente impulsionar o grande deslanche do país à condição de potência regional (num esquema não muito diferente da aliança não escrita defendida por Rio Branco, e mais enfaticamente por Nabuco, no começo do século). O Brasil teria sido um país muito diferente do que foi o caso, e certamente melhor, se Oswaldo Aranha tivesse ascendido à presidência e imprimido um estilo de governança e de políticas econômicas bem mais abertas e propensas à integração na política e na economia mundiais.

Paulo Roberto de Almeida 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Livraria Saraiva: livros Paulo R. Almeida

Tendo adquirido recentemente um livro pelo sistema de vendas online da Saraiva, aproveitei o app para fazer uma busca sob meu nome. Eis o que apareceu, com duas ou três intrusões de homônimos:

SaraivaSaraiva
Resultados para: Livros Paulo Roberto de Almeida
19 produtos

1)//www.saraiva.com.br/o-homem-que-pensou-o-brasil-trajetoria-intelectual-de-roberto-campos-9523629.html

O Homem Que Pensou o Brasil - Trajetória...
Almeida, Paulo Roberto De

2) //www.saraiva.com.br/integracao-regional-uma-introducao-col-temas-essenciais-em-ri-vol-3-4887979.html

Integração Regional - Uma Introdução - Col....
Almeida,Paulo Roberto de

3) //www.saraiva.com.br/relaes-internacionais-e-poltica-externa-do-brasil-3693478.html

Relações Internacionais e Política Externa do...
Almeida, Paulo Roberto De

4) //www.saraiva.com.br/nunca-antes-na-diplomacia-a-politica-externa-brasileira-em-tempos-nao-convencionais-7865017.html

Nunca Antes na Diplomacia... - A Política...
Almeida, Paulo Roberto De

5) //www.saraiva.com.br/integracao-regional-uma-introducao-col-temas-essenciais-em-ri-vol-3-5157005.html
e-book

Integração Regional - Uma Introdução - Col....
Almeida,Paulo Roberto de

6) //www.saraiva.com.br/relacoes-brasil-estados-unidos-assimetrias-e-convergencias-186909.html

Relações Brasil - Estados Unidos -...
Barbosa,Rubens Antônio; Almeida,Paulo Roberto de

7) //www.saraiva.com.br/velhos-e-novos-manifestos-424873.html

Velhos e Novos Manifestos
Almeida,Paulo Roberto de

8) //www.saraiva.com.br/a-grande-mudanca-124462.html

A Grande Mudança
Almeida,Paulo Roberto de

9) //www.saraiva.com.br/relacoes-brasil-estados-unidos-assimetrias-e-convergencias-2606429.html
-10%

Relações Brasil - Estados Unidos -...
Barbosa,Rubens Antônio; Almeida,Paulo Roberto de

10) //www.saraiva.com.br/relacoes-brasil-estados-unidos-1-edicao-3868629.html
e-book-10%

RELAÇÕES BRASIL-ESTADOS UNIDOS - 1ª edição
RUBENS ANTÔNIO BARBOSA; PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

11) //www.saraiva.com.br/os-primeiros-anos-do-seculo-xxi-o-brasil-e-as-relacoes-internacionais-contemporaneas-100836.html

Os Primeiros Anos do Século XXI - O Brasil e...
Almeida,Paulo Roberto de

12) //www.saraiva.com.br/o-brasil-dos-brasilianistas-um-guia-dos-estudos-sobre-o-brasil-nos-estados-unidos-1945-2000-104695.html

O Brasil dos Brasilianistas - Um Guia dos...
Barbosa,Rubens Antônio; Almeida,Paulo Roberto de; Eakin,Marshall C.

13) //www.saraiva.com.br/o-estudo-das-relaes-internacionais-do-brasil-1571623.html

O Estudo das Relações Internacionais do...
Almeida,Paulo Roberto de

14) //www.saraiva.com.br/formacao-da-diplomacia-economica-no-brasil-464745.html

Formacao da Diplomacia Economica no Brasil
Almeida,Paulo Roberto de

15) //www.saraiva.com.br/o-brasil-e-o-multilateralismo-economico-428572.html

O Brasil e o Multilateralismo Economico
Almeida,Paulo Roberto de

16) //www.saraiva.com.br/o-estudo-das-relacoes-internacionais-do-brasi-429857.html
-10%

O Estudo das Relacoes Internacionais do Brasil

Almeida,Paulo Roberto de

Como a China destruiu o Brasil - Paulo Gala

Nosso parceiro estratégico, o mais querido dos companheiros.

A China “destruiu” o Brasil com dois golpes fatais

Paulo Gala, 28/07/2017

A China deu dois golpes fatais no Brasil nos últimos 20 anos. Por um lado desalojou nossa industria no mercado interno e no mercado mundial com custos baratos, dumping, cambio ultra competitivo e escalas de produção sem precedentes. Por outro lado ao consumir nossa soja e nosso mineiro de ferro forçou nossa especializacao produtiva nesse sentido, ampliando os mecanismos de doença holandesa. Desmontamos nossas industrias e nos tornamos meros fornecedores da matérias primas brutas e importadores de bens industriais da China. O dumping cambial chinês foi encontrado aqui com sobrevalorização de nossa moeda graças ao boom de preços das commodities provocado pela própria China.

Sistema politico-eleitoral no Brasil: proposta de reformas - Cesar Maia

 O ex-prefeito Cesar Maia apresenta aqui reflexões muito interessantes para uma reforma provisória, e uma de corte mais definitivo, para a nova configuração eleitoral-partidária para um Brasil governável, ou seja, para eliminar o grande foco de tensão permanente no Brasil, que é a diferença entre a maioria presidencial, direta, e a falta de maioria no parlamento, dada a proporcionalidade deformada que temos hoje.
Eu acrescentaria o fim do Fundo Partidário, que até mais do que o sistema distrital misto para a representação dos deputados, contribuiria enormemente para o fim da fragmentação partidária hoje existente. Mas, acrescento, não acredito que os parlamentares, atuais e futuros, votem o fim do seu próprio financiamento. Mas a sociedade precisaria pressionar nesse sentido.
Paulo Roberto de Almeida

Da coluna diária do ex-prefeito do RJ, Cesar Maia, 28/07/2017
NÃO HÁ REFORMA POLÍTICO-ELEITORAL NEUTRA! O VOTO DISTRITAL MISTO E O SISTEMA PROVISÓRIO DE TRANSIÇÃO! 

1. Quando se debate a necessidade de uma reforma político-eleitoral com urgência, no Brasil, a primeira pergunta a fazer é em relação a seus objetivos. E que distorções do sistema atual pretende superar. Muitos elogiam o sistema alemão do voto distrital-misto - 50% na lista partidária e 50% nominal.
2. Mas por que a Alemanha adotou esse sistema no pós-guerra? A resposta é simples. Os traumas do pré-guerra exigiam um sistema eleitoral que eliminasse os riscos de crescimento de partidos de extrema direita e de extrema esquerda. Nesse sentido, o voto Distrital Misto deu absolutamente certo na Alemanha.
3. O voto distrital puro uninominal, como no Reino Unido e nos Estados Unidos, reduz o peso ideológico do voto e aproxima o eleitor dos eleitos. Mais ainda no Reino Unido, com distritos com cerca de 40 mil eleitores. Nos EUA são distritos de cerca de 600 mil eleitores.
4. As distorções do atual voto proporcional aberto brasileiro são conhecidas. O maior adversário de um candidato a deputado é aquele -de sua própria legenda- cujo perfil político mais se aproxima do dele. Nesse sentido, é fratricida. Por outro lado, com financiamento eleitoral aberto para empresas, a probabilidade do poder econômico formar suas bancadas é muito grande. Bem, desde 2016 essa distorção foi eliminada, com a proibição do financiamento eleitoral por empresas.
5. O voto proporcional aberto estimula a criação de bancadas das corporações. É o que a prática vem demonstrando, o voto proporcional aberto brasileiro multiplica os partidos e pulveriza os parlamentos. Ou seja, aumenta a possibilidade de ingovernabilidade. No Brasil, há muitas eleições, esse sistema limitou quase sempre a menos de 20% o maior partido na Câmara de Deputados.
6. A Câmara de Deputados brasileira tem 28 partidos com deputados e o maior deles (o PMDB) tem uns 15% dos deputados. Com isso, o presidente precisa construir todo tipo de acordos para ter uma maioria para governar.
7. Por isso tudo, o debate leva a um sistema que reduza drasticamente o número de partidos e limite a eleição de deputados carregados pelas legendas e com votação inexpressiva. Fala-se em proibição das coligações na eleição parlamentar e da cláusula de barreira em que um partido precisa atingir uma certa porcentagem dos votos para entrar no parlamento.
8. Essas são medidas positivas, mas, mesmo que sejam positivas, são paliativas e sozinhas não atingiriam os objetivos maiores.
9. A prioridade para a representatividade e para um sistema operacional e governável conduz para uma reforma eleitoral que aponte, de uma outra forma, para um desenho distrital - seja uni ou plurinominal, seja majoritário ou proporcional, misto ou não.
10. No entanto, o desenho dos distritos em quaisquer das hipóteses não é tarefa para poucos meses, seja pela complexidade dos recortes, seja pela necessidade de aprovações legislativas ou confirmações jurídicas.
11. Portanto, há a exigência de um sistema provisório entre duas eleições, ou seja, 4 anos. E este sistema provisório tem que ser coerente com o definitivo, especialmente em relação ao ordenamento parlamentar e a governabilidade, garantindo um parlamento que forme maiorias, ou seja, com um número muito menor de partidos.
12. A menos que se queira fazer uma reforma que terá que ser reformada em pouco tempo, só há dois caminhos para uma primeira e única legislatura: o voto em lista ou o chamado distritão com eleição dos mais votados. Qualquer um destes garantirá a preliminar da governabilidade.
13. As críticas à ambos são conhecidas. E seriam consensuais se fosse para um novo sistema permanente. Mas não é assim. Ambos, lastreados pela proibição da coligação na proporcional e pela cláusula de barreira, resultariam no desenho de um parlamento governável, abrindo o tempo e as portas para um sistema distrital -digamos- misto que é o que conduz a um maior consenso.
14. Mas o voto em lista tem um defeito insuperável como sistema intermediário: inibe e mesmo impede que a reforma eleitoral aponte também para uma reforma político-partidária.
15. Sendo assim, com esse ou aquele problema, que um ou outro apontam, o Distritão cumpre amplamente as necessidades do melhor sistema provisório e de transição. Eleições autofinanciáveis e de custo extremamente baixo. E eventuais e pontuais distorções, essas serão naturalmente corrigidas pelo voto distrital misto, na legislatura seguinte.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Os animais mais rapidos do mundo: e os menos rapidos?

Uma coisa interessante seria comparar a velocidade da tartaruga marinha com a de sua prima terrestre. Ambas são lentas mas a terrestre deve ficar no extremo esquerdo inferior deste gráfico feito pelos cientistas e apresentado na matéria da Economist.
Eu não sei onde ficaria: provavelmente a um terço do Usain Bolt, ou menos...
Paulo Roberto de Almeida

Animal speeds: Race to the middle
A study published this month examines the relationship between animals’ size and their speed. It finds that the top speed of an animal (or fish) rises in tandem with body mass up to a certain point, after which it declines. Though bigger beasts do have the highest theoretical maximum velocity, they tire before reaching it. The result suggests that a race between a man and an elephant would be close to a fair contest,  writes our data team






Percursos Diplomaticos: entrevistas sobre a diplomacia brasileira, no Instituto Rio Branco

Primeiro o link:
http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/percursos-diplomaticos
Agora a informação:

Percursos Diplomáticos



Esta série inscreve-se numa programação conjunta do Instituto Rio Branco (IRBr) e do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), destinada a propiciar encontros de personalidades da diplomacia brasileira com estudantes do IRBr, diplomatas e comunidade acadêmica de modo geral, com o objetivo de permitir um debate aberto sobre carreiras e experiências de vida vinculadas à política externa e à diplomacia brasileira, em um ambiente informal.

Abaixo uma relação, na ordem cronológica inversa, dos encontros já realizados nesta série, e dos já programados.
24/11/2017: Roberto Abdenur: (a confirmar)
29/09/2017: Rubens Barbosa
21/07/2017: José Alfredo Graça Lima (vídeo em breve)
26/05/2017: Marcos Azambuja
 https://youtu.be/nIrbyk1MtOE
17/03/2017: Rubens Ricupero
 https://youtu.be/OzrS1Fw-ZAk

Última atualização em Terça, 25 de Julho de 2017, 15h23

Comprando um novo iPad: comparando precos no Brasil (1 iPad) e nos EUA (2 iPads)

Pensando em comprar o seu novo iPad?
Comparei os preços no Brasil e nos EUA: entrei nos sites oficiais da Apple em cada país, e coloquei exatamente a mesma configuração para o meu possível próximo iPad.
Conclusão: pelo preço de UM, no Brasil, você compraria DOIS, nos EUA.
Paulo Roberto de Almeida

No Brasil: 
  • Preço do Item:R$ 6.799,00
  • Preço Final: R$ 6.799,00
Número de peça: MPHG2BZ/A

    • Preço do Item:R$ 1.049,00
    • Preço Final: R$ 1.049,00

  • Número de peça: MPTL2BZ/A

    • Preço do Item:R$ 379,00
    • Preço Final: R$ 379,00

  • Número de peça: MQ092ZM/A
     
    Detalhamento do custo total
    Subtotal da sacola R$ 8.227,00
    Frete gratuito R$ 0,00
    Valor do pedido R$ 8.227,00
    Em até 12x de R$ 685,58
    R$ 7.404,30 à vista (10% de desconto)

    Taxa de câmbio em 27 de julho de 2017: R$3,15/US$ 1.-
    Valor em dólar: US$ 2.350 à vista e US$ 2.611 em até 12 vezes.


    Nos EUA:

    Items in Your Bag

    Part number: PPHG2LL/A


    • Item Price:$159.00
    • Line Price: $159.00

  • Part number: MPTL2LL/A

    • Item Price:$49.00
    • Line Price: $49.00

  • Part number: MQ092ZM/A

    Total cost breakdown
    Bag Subtotal $1,087.00
    Free Shipping $0.00
    Estimated Tax
    Total $1,087.00

    Valor equivalente em reais à taxa de 3,15: R$ 3.424
    Valor comprado no Brasil: R$ 7.404,30 à vista
    Diferença: R$ 3.980,30 ou  53% a mais.
    Comparando com a compra nos EUA: US$ 2.350 à vista, ou seja, US$ 1.263 a mais.

    Conclusão: você poderia comprar DOIS iPads, nos EUA, e ainda sobraria quase 200 dólares.
    Ou então VIAJAR a Miami, comprar o seu iPad e voltar ao Brasil.
    Que tal?
    Paulo Roberto de Almeida

    Personagens da política externa lulopetista: um aliado da ditadura cubana

    Faltam algumas informações essenciais para compreender a ação política do personagem aqui retratado na determinação da diplomacia lulopetista: tratou-se de um dos mais fiéis aliados (eu até diria servidores) da ditadura comunista cubana no partido neobolchevique a que serviu durante todo o período. Nenhuma, repito nenhuma, de suas ações deixou de ter essa referência básica no trabalho de "assessoria". Os militares costumam chamar isso de "traição à pátria ".

    Paulo Roberto de Almeida 


     Morre o principal operador brasileiro de política internacional 

    / Coluna / Matias Spektor

    Folha de S. Paulo, 27/07/2017

    Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático dos governos do PT, morreu em 20 de julho passado, aos 76 anos. Sua vida ilustra como poucas outras a trajetória de quem chegou ao poder na Nova República.

    Entrando para a política na adolescência, ele galgou posições no movimento estudantil nos governos de Jânio e Jango. Com o golpe, veio o exílio. À época, sua subsistência dependeu da possante rede transnacional de solidariedade que albergou dezenas de exilados brasileiros em países como Uruguai, Chile, Cuba e França.

    Nisso, Marco Aurélio nada teve de singular. A sua é a experiência coletiva de numerosos quadros de partidos como PT, PMDB e PSDB. Juntos, eles viveram o cosmopolitismo internacionalista que nenhum outro conjunto de lideranças políticas, de lá para cá, teve a chance de experimentar.

    Quando o ciclo eleitoral começou, em 1989, Marco Aurélio virou o homem de Lula para a área internacional. Na década de trabalho que transcorreu entre as campanhas e a chegada ao Palácio do Planalto, ele construiu um acervo impressionante de contatos. Não há registro histórico de outro político brasileiro -excetuando Lula e FHC- com tamanho acesso a lideranças em tantos países mundo afora.

    Marco Aurélio virou assessor diplomático do presidente, mas essa nunca foi a sua única função. Cabia a ele mediar as facções rivais dentro do PT, vazar notícias à imprensa, e montar estratégias de sobrevivência, depois que os escândalos de corrupção começaram a pipocar. Coube a ele preparar Dilma para assumir a Presidência.

    Todo mundo pensava nele como ideólogo, mas essa imagem está longe de ser verdade. Marco Aurélio representava o exato oposto: o pragmatismo cru que é marca registrada de seu grupo. 

    Quando fundou o Foro de São Paulo, ao contrário do que se pensa, seu objetivo nunca foi o de criar uma internacional socialista latino-americana. Antes, ele operava para isolar os grupos que ainda acreditavam na luta armada ou na revolução e, dessa forma, dificultavam o projeto petista de chegar ao poder pela via eleitoral.

    Quando Marco Aurélio costurou o apoio brasileiro a Hugo Chávez e Nicolás Maduro, a Néstor Kirchner e a Rafael Correa, o fez de olho na criação do ambiente regional que ele pensava ser mais vantajoso para o futuro do PT. Por isso, diante de sua atuação externa, o tucanato sentia repugnância. Poucas políticas públicas criaram mais cizânia entre petistas e tucanos que a política externa.

    A sua morte coincide com o fim do arco histórico que vai do golpe de 1964 à Operação Lava Jato. Quem escrever sua biografia contará a história do caminho que percorremos até aqui.

    Personagens da política externa lulopetista: um aliado da ditadura cubana

    Faltam algumas informações essenciais para compreender a ação política do personagem aqui retratado na determinação da diplomacia lulopetista: tratou-se de um dos mais fiéis aliados (eu até diria servidores) da ditadura comunista cubana no partido neobolchevique a que serviu durante todo o período. Nenhuma, repito nenhuma, de suas ações deixou de ter essa referência básica no trabalho de "assessoria". Os militares costumam chamar isso de "traição à pátria ".

    Paulo Roberto de Almeida 


     Morre o principal operador brasileiro de política internacional 

    / Coluna / Matias Spektor

    Folha de S. Paulo, 27/07/2017

    Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático dos governos do PT, morreu em 20 de julho passado, aos 76 anos. Sua vida ilustra como poucas outras a trajetória de quem chegou ao poder na Nova República.

    Entrando para a política na adolescência, ele galgou posições no movimento estudantil nos governos de Jânio e Jango. Com o golpe, veio o exílio. À época, sua subsistência dependeu da possante rede transnacional de solidariedade que albergou dezenas de exilados brasileiros em países como Uruguai, Chile, Cuba e França.

    Nisso, Marco Aurélio nada teve de singular. A sua é a experiência coletiva de numerosos quadros de partidos como PT, PMDB e PSDB. Juntos, eles viveram o cosmopolitismo internacionalista que nenhum outro conjunto de lideranças políticas, de lá para cá, teve a chance de experimentar.

    Quando o ciclo eleitoral começou, em 1989, Marco Aurélio virou o homem de Lula para a área internacional. Na década de trabalho que transcorreu entre as campanhas e a chegada ao Palácio do Planalto, ele construiu um acervo impressionante de contatos. Não há registro histórico de outro político brasileiro -excetuando Lula e FHC- com tamanho acesso a lideranças em tantos países mundo afora.

    Marco Aurélio virou assessor diplomático do presidente, mas essa nunca foi a sua única função. Cabia a ele mediar as facções rivais dentro do PT, vazar notícias à imprensa, e montar estratégias de sobrevivência, depois que os escândalos de corrupção começaram a pipocar. Coube a ele preparar Dilma para assumir a Presidência.

    Todo mundo pensava nele como ideólogo, mas essa imagem está longe de ser verdade. Marco Aurélio representava o exato oposto: o pragmatismo cru que é marca registrada de seu grupo. 

    Quando fundou o Foro de São Paulo, ao contrário do que se pensa, seu objetivo nunca foi o de criar uma internacional socialista latino-americana. Antes, ele operava para isolar os grupos que ainda acreditavam na luta armada ou na revolução e, dessa forma, dificultavam o projeto petista de chegar ao poder pela via eleitoral.

    Quando Marco Aurélio costurou o apoio brasileiro a Hugo Chávez e Nicolás Maduro, a Néstor Kirchner e a Rafael Correa, o fez de olho na criação do ambiente regional que ele pensava ser mais vantajoso para o futuro do PT. Por isso, diante de sua atuação externa, o tucanato sentia repugnância. Poucas políticas públicas criaram mais cizânia entre petistas e tucanos que a política externa.

    A sua morte coincide com o fim do arco histórico que vai do golpe de 1964 à Operação Lava Jato. Quem escrever sua biografia contará a história do caminho que percorremos até aqui.

    PISA: estudantes brasileiros continuam a exceder, para baixo...

    (Da coluna diária do ex-prefeito Cesar Maia, 27/07/2017)

    PISA: ESTUDANTES BRASILEIROS TIVERAM BAIXÍSSIMO DESEMPENHO EM FINANÇAS!

    (Folha de SP, 24) 1. Mesmo os estudantes brasileiros mais ricos tiveram baixíssimo desempenho na prova de conhecimento de finanças, em avaliação feita pelo Pisa, teste internacional do aprendizagem de jovens conduzido a cada três anos. Na prova de 2015, os estudantes brasileiros atingiram nota média de 393 pontos, a pior entre os 15 países avaliados nesse quesito específico, atrás do Peru (403 pontos) e do Chile (432 pontos).
            
    2. Entre os três países com melhores notas no teste de finanças, dois são emergentes. No topo do ranking, os chineses somaram 566 pontos, seguidos pelos estudantes canadenses e pelos russos. A prova específica de conhecimentos financeiros é aplicada desde 2012, mas o Brasil fez o teste pela primeira vez em 2015.
            
    3. No Pisa, as três habilidades tradicionais -leitura, matemática e ciências- são testadas há bem mais tempo, desde 2000. Na versão mais recente, reuniram 70 países.  Ana Maria Bonomi Barufi, economista do Bradesco, mostra que a variável renda tem efeito relevante não só sobre as habilidades tradicionais mas também sobre o conhecimento financeiro dos jovens em todo o mundo.
            
    4. Nos 15 países analisados, uma comparação entre 25% dos estudantes mais pobres e os 25% mais ricos mostra uma diferença de ao menos 40 pontos na nota média dos alunos dos dois grupos. A disparidade maior foi verificada na China, com um fosso de 132 pontos entre a nota média dos mais pobres e a nota média dos mais ricos.  Ainda assim, surpreende que a nota dos estudantes chineses menos favorecidos supera a dos mais ricos de países como Peru, Chile, Eslováquia, Lituânia e Brasil.
            
    5. A Rússia registrou a menor diferença entre as notas de conhecimento em finanças de estudantes mais pobres e mais ricos, de 46 pontos.  No caso do Brasil, chama a atenção que mesmo os estudantes mais ricos não conseguem sobressair quando comparados a seus pares de outros países. A nota média do grupo brasileiro com renda familiar mais alta foi de 441 pontos, a lanterna entre todos os estudantes mais ricos.
            
    6. Já os estudantes brasileiros mais pobres alcançaram nota média de 364 pontos. Comparados apenas com estudantes de renda mais baixa de outros países, conseguem ficar à frente do Peru. Barufi identifica ainda uma correlação positiva entre o PIB per capita -um indicador de riqueza de um país- e a nota obtida no Pisa em conhecimentos financeiros.
            
    7. A comparação também mostra atraso do Brasil em relação a outros países. Pelo nível de PIB per capita exibido pelo Brasil, a nota dos alunos brasileiros deveria ser cerca de 40 pontos maior, diz a economista. Barufi reconhece que o nível de conhecimento financeiro do brasileiro preocupa. Mas diz que os números devem ser vistos com cuidado porque o Brasil está, no geral, sendo comparado com países mais avançados. De qualquer modo, diz ela, é certo que os estudantes brasileiros precisam desenvolver a habilidade, relevante para que consigam planejar melhor suas vidas e seu futuro.
            
    8. Nesse jogo, a escola tem contribuição importante a dar. Eslováquia, Peru, Holanda, Lituânia e Bélgica estão entre os países que já adotaram política nacional para o ensino de finanças pessoais. "Mas o papel tem que ser da sociedade", diz Barufi. Enquanto tal movimento não toma corpo, alternativas para avançar na formação de jovens mais preparados para lidar com finanças podem ser formuladas, diz Barufi, como campanhas virtuais de conscientização sobre o tema.