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sexta-feira, 1 de março de 2019

Rubens Ricupero: um intelectual na diplomacia - Paulo Roberto de Almeida (2017)



Paulo Roberto de Almeida
Diplomata e professor (www.pralmeida.org)

Desconcertado com o tom “muito pessimista” das palavras do orador da turma do Instituto Rio Branco que se formava em meados de 1961, como observou rapidamente ao final de uma alocução que ameaçava a todos com o aniquilamento nuclear, o presidente Jânio Quadros, escolhido paraninfo da turma, tentou improvisar argumentos um pouco mais otimistas em seu discurso no velho Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro. Tal se deu em reação à mensagem central transmitida pelo jovem diplomata a colegas, superiores e familiares, provavelmente também chocados com a crueza do alerta: “Nós, os que hoje temos vinte anos... não sabemos se nos será dado o tempo de ler os grandes livros, ouvir a música dos Mestres,... explorar a multiforme beleza do mundo... numa época em que a variação do humor dos estadistas ou a distração dos operadores de radar  pode, a qualquer momento, precipitar o Apocalipse.”
Não sabemos se a plateia se recompôs, ou se o presidente conseguiu insuflar algum entusiasmo nos diplomatas que então iniciavam sua vida profissional, numa conjuntura em que a crise dos mísseis soviéticos em Cuba ainda não tinha colocado o mundo à beira do precipício, ou em que, no próprio cenário político brasileiro, adensavam-se as nuvens sombrias da crise política que surpreenderia a todos logo adiante. Menos de dois meses depois, Jânio Quadros renunciava, deixando o país mergulhado no estupor de um grave impasse institucional, agregando, portanto, aos temores já provocados pela confrontação entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Assim foi o início da carreira diplomática de Rubens Ricupero, escolhido orador da turma de 1960 pelas suas qualidades naturais de arguto analista e de sintetizador refinado das complexidades e matizes das relações internacionais e da posição do Brasil no sistema bipolar. Trabalhando no gabinete do ministro San Tiago Dantas, numa fase em que o parlamentarismo temporariamente vigente não conseguia encaminhar os problemas de desequilíbrio econômico externo e os desafios representados pelo clima de Guerra Fria, então no seu auge, o jovem Ricupero teve, por assim dizer, o seu batismo de fogo, naqueles anos em que o Brasil ensaiava um experimento de política externa independente, em meio às pressões americanas por uma postura mais alinhada.
O realinhamento ocorreu, de fato, a partir de abril de 1964, quando o jovem diplomata – Cônsul de Terceira Classe, segundo a denominação vigente na época – já tinha sido deslocado para o seu primeiro posto, Viena, aliás, um dos cenários clássicos da Guerra Fria. Promovido a Segundo Secretário em outubro daquele ano, Ricupero voltou ao anticomunismo da periferia em 1996, quando foi removido para Buenos Aires, onde os militares seguiam o exemplo de seus colegas brasileiros e também derrubavam um presidente civil, democraticamente eleito. As etapas seguintes de ascensão na carreira foram todas por merecimento, e de forma brilhante: Primeiro Secretário em setembro de 1970, quando já estava em Quito; Conselheiro em janeiro de 1973, quando era chefe da Divisão de Difusão Cultural; deslocado a Washington, entre 1974 e 1977, de onde voltou para chefiar, até 1980, a Divisão da América Meridional-II (países do Cone Sul), mas já promovido a Ministro de Segunda Classe, o penúltimo degrau, desde abril de 1978.
Americanista confirmado, e dotado de amplos conhecimentos históricos e sociológicos sobre toda a região, exerceu-se então como chefe do Departamento das Américas durante toda a primeira metade dos anos 1980, tendo sido promovido a Ministro de Primeira Classe (embaixador) em junho de 1982. Foi como diplomata experiente, portanto, que assistiu ao declínio do regime militar no Brasil e à transição ao regime democrático, sob a liderança de Tancredo Neves, de quem foi assessor especial e a quem acompanhou numa viagem internacional pré-posse, que talvez tenha precipitado sua doença e desenlace fatal. Como assessor internacional de José Sarney, de 1985 a 1987, Ricupero participou, e foi um dos mentores decisivos, do processo de aproximação do Brasil com seus vizinhos, tendo ajudado a costurar alguns dos grandes tratados de cooperação regional, em especial a montagem da integração no Cone Sul, que desembocaria no Mercosul. Desde o final da década anterior, também ministrou diferentes matérias no curso de relações internacionais da UnB, o único então existente no Brasil, além das aulas de política externa brasileira no Instituto Rio Branco.
Quando ingressei no Itamaraty, no final de 1977 – por concurso direto e não através do Rio Branco –, sua palestra sobre a diplomacia americana do Brasil foi uma das duas únicas que me impressionaram favoravelmente, no mar de platitudes burocráticas que foi então servido aos recém admitidos. Foi para mim um prazer, portanto, tê-lo como chefe na Delegação junto aos organismos internacionais em Genebra, entre 1987 e 1990, ao início da Rodada Uruguai do Gatt, da qual iria resultar a criação da OMC, alguns anos depois. Ricupero já estava servindo no posto mais importante da diplomacia brasileira, a embaixada em Washington (1991-92), de onde o presidente Itamar Franco o retirou para servir como ministro extraordinário da Amazônia legal e dos recursos hídricos, em homenagem a seu brilhante desempenho durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada pouco antes no Rio de Janeiro.
Daí a assumir o cargo de Ministro da Fazenda, em abril de 1994, no momento mais crucial do agônico esforço que o Brasil empreendia para uma estabilização há muito esperada no plano macroeconômico, foi o reconhecimento natural de suas qualidades de comunicador tranquilo e de talentoso operador da introdução do Plano Real, em julho desse ano. Uma moeda, mais até do que a expressão de um valor, é antes de qualquer outra coisa, uma questão de confiança, uma forma da identidade nacional, algo que Ricupero soube inculcar com grande maestria na psicologia de um povo já frustrado por diversos planos fracassados de combate à inflação. Sua figura, de certo modo franciscana, como introdutor do real, tem muito a ver com o sucesso desse processo de estabilização, implementado em meio a muitas dúvidas, no Brasil e no exterior: o FMI, por exemplo, não o apoiou, e o PT torcia pelo seu fracasso, chamando-o de “estelionato eleitoral”.
Sua saída inesperada da Fazenda, em setembro de 1994, na sequência de palavras impensadas antes de uma entrevista televisa, representou um “ponto fora da curva”, numa carreira de outro modo brilhante, que o conduziu ainda à embaixada do Brasil na Itália, terra de seus ancestrais, e à direção geral a Unctad – a Conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento – novamente em Genebra, por dois mandatos. Foi ele que conseguiu realizar no Brasil – em São Paulo, em 1997 – a única conferência desse órgão criado em grande medida pelos esforços da diplomacia brasileira, em 1964.
Aposentado, voltou às lides acadêmicas – das quais, na verdade, nunca se afastou, já que sempre esteve à frente do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial – desta vez na direção da Faculdade de Economia da FAAP-SP, que também abriga um curso de relações internacionais. A aposentadoria tampouco o eximiu de se exercer em tarefas de consultoria internacional, em órgãos intergovernamentais, junto a empresas multinacionais ou em fundações de corte intelectual, como os chamados think tanks. Desde os primeiros prêmios obtidos por seus resultados brilhantes no Instituto Rio Branco, Ricupero também acumulou, ao longo da vida profissional, um número expressivo de honrarias e de ordens nacionais, no Brasil e em diversos outros países, aos quais esteve ligado, diplomaticamente ou afetivamente.
Independentemente, porém, de todos os cargos, funções e missões em que se desempenhou, o que mais distingue Ricupero, como a poucos de seus colegas, é a sua qualidade de pensador e de formulador de posições diplomáticas. O Itamaraty, por certo, é conhecido por abrigar inúmeros intelectuais: escritores, artistas, personalidades refinadas que abrilhantaram as letras e as artes do Brasil (e algumas vezes do mundo, como alguns poetas, músicos e até ensaístas). Mas são poucos os que verdadeiramente integram o pequeno círculo de intelectuais reflexivos que podem, facilmente, desmentir uma antiga expressão que dizem existir nessa carreira disciplinada e hierárquica: “Você só assina artigos quando não mais os escreve” (o que significa que muitos secretários são os que de fato escrevem os textos, como eu mesmo fiz no curso inicial de minha carreira, que depois são publicados sob a assinatura de embaixadores). Basta olhar de relance a lista de suas publicações para constatar a riqueza e a diversidade de sua produção intelectual: só na Biblioteca do Itamaraty, em Brasília, são mais de quarenta entradas sob o seu nome, o que não inclui, por certo, as dezenas, ou centenas, de artigos de imprensa – na Folha de São Paulo, por exemplo – escritos em linguagem límpida e compreensível aos leigos, eventualmente coletados em alguns dos livros que publicou, como, por exemplo, Esperança e Ação (Paz e Terra, 2002).
Muito requisitado para todo tipo de pronunciamento conjuntural e de demandas práticas, vindas de todos os lados, Ricupero ainda assim conseguiu produzir alguns textos de referência no pensamento diplomático ou mesmo no terreno historiográfico. São bem, conhecidos, por exemplo, seus ensaios sobre a inserção mundial, sobre o relacionamento hemisférico do Brasil e sobre o comércio internacional– vários recolhidos na coletânea Visões do Brasil: ensaios sobre a história e a inserção internacional do Brasil (Record, 1995) – e sobre os dilemas do Brasil na globalização – título, aliás, de um dos seus livros (Senac, 2001) –, além dos seus artigos dominicais, na Folha, e até um livrinho editado por esse jornal, sobre o projeto americano da Alca (2003).
Menos conhecidos são os seus trabalhos de maior fôlego em termos de pesquisa histórica, em especial sobre: a diplomacia brasileira ao longo do século XX (em grande medida sobre as relações americanas), vários dos quais compilados na coletânea acima indicada; sobre o Barão do Rio Branco, uma referência obrigatória na vida de todo diplomata, mas uma fonte de fecundas reflexões comparativas para este pensador de visão larga; um bem fundamentado ensaio comemorativo sobre o problema da “abertura dos portos”, que aliás se estende aos tratados de 1810, em livro coletivo homônimo, (Senac-SP, 2008); e o mais recente estudo sobre o Brasil no mundo ao início do século XIX, no qual Ricupero traça um panorama dos desafios colocados ao “império”, um gigante com pés de barro, na conjuntura da independência, publicado no primeiro volume – Crise Colonial e Independência, 1808-1830 (Fundación Mapfre-Objetiva, 2011) – de uma coleção sobre a História do Brasil Nação, 1808-2010, numa série dedicada à América Latina na história contemporânea.
Em 2017 ele publicou sua obra síntese, A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal Editores, 2017), que não é uma simples história diplomática, mas sim uma história do Brasil e uma reflexão sobre seu processo de desenvolvimento. O núcleo central da obra é composto por uma análise, profundamente embasada no conhecimento da história, dos grandes episódios que marcaram a construção da nação pela ação do seu corpo de diplomatas e dos estadistas que serviram ao Estado nessa vertente da mais importante política pública, cujo itinerário – à diferença das políticas econômicas ou das educacionais – pode ser considerado como exitoso.
O que justamente distingue a escrita refinada e elegante de Ricupero é sua “fascinação metodológica com a História”, como bem apontou no prefácio à coletânea Visões do Brasil o embaixador Gelson Fonseca. Isso no plano formal; no terreno substantivo é certamente sua angústia com os problemas do Brasil – a injustiça, a pobreza, a desigualdade – e o empenho em vê-lo emergir no cenário internacional como um interlocutor de peso na definição de soluções aos grandes problemas da humanidade. Uma atitude humanista, no sentido propriamente renascentista, ou iluminista, da palavra, combinada a uma vocação de pensador da inserção internacional do Brasil. De fato, Ricupero é um dos poucos intelectuais do Itamaraty que merece, legitimamente, essa designação!
Brasília, 27 de setembro de 2017.

Rubens Ricupero: aniversario do George Kennan brasileiro: 82 anos


Hoje é o aniversário de um dos grandes diplomatas brasileiros, à altura dos maiores nomes de estadistas brasileiros.
Nossos melhores votos de felicidades pelo seu natalício, e meus votos, assim como de Carmen Lícia, de longos anos de produção intelectual, a serviço do Brasil e do Itamaraty.
Reproduzo abaixo alguns links para matérias, trabalhos ou informações sobre ele, cabendo destacar, uma vez mais, o seu magnífico livro sobre o Itamaraty na construção da nação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1 de março de 2019


Rubens Ricupero GCIH (São Paulo, 1 de março de 1937) é um jurista (formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo), historiador e ...

Rubens Ricupero. Formação Acadêmica. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, turma Clovis ...

Veja as reportagens especias sobre Rubens Ricupero no canal de tópicos do Estadão.
23 de nov de 2018 - Para o ex-embaixador Rubens Ricupero, o mal-estar causado por declarações de Bolsonaro e sua equipe com países estrangeiros é um risco ...
3 dias atrás - Rubens Ricupero: palestra sobre politica externa no Cebri-RJ (25/02/2019). Política externa: desafios e contradições. Rubens Ricupero.

19 de jan de 2019 - 247 - Diplomata de carreira entre 1961 e 2004, o ex-ministro Rubens Ricuperodisse ao Valor que o tom adotado na quinta-feira (17) pelo ...
23 horas atrás - Um dos maiores pensadores da política externa do Brasil, o embaixador aposentado Rubens Ricupero, autor de A diplomacia na construção ...

O BNDES no governo Bolsonaro - Armando Castelar Pinheiro

Armando Castelar Pinheiro*: O BNDES no governo Bolsonaro 

- Valor Econômico, 1/03/2019
 
Banco precisa alavancar financiamento privado; por exemplo, por meio da securitização dos créditos concedidos
 
Com a crise financeira internacional, em 2008, o BNDES virou um braço auxiliar da política fiscal. A ideia era estimular a demanda doméstica dando elevado volume de subsídios, tanto explícitos, como no Programa de Sustentação do Investimento, como implícitos, via TJLP baixa, por vezes abaixo da própria inflação. Essa política se manteve mesmo depois de a economia ter se recuperado do choque de 2008-09. Foi a época dos campeões nacionais, dos empréstimos para governos de países amigos etc.
 
A partir de 2015, a crise fiscal e, depois, a troca de governo, colocaram um freio nessa política, primeiro parando e depois revertendo parcialmente a transferência de recursos do Tesouro para o BNDES. A criação da TLP reforçou a mudança de rumo, estimulando as grandes empresas a se financiar no mercado de capitais, além de levar a um uso mais transparente de subsídios e ajudar na gestão da política monetária.
 
O governo Bolsonaro já mostrou que quer continuar avançando nessa nova direção. O ministro da Economia já avisou que espera que o BNDES devolva mais recursos ao Tesouro, que pretende limitar a expansão do crédito público e que deseja privatizar a maioria, senão todas as participações acionárias dos bancos públicos e empresas estatais não essenciais às suas atividades principais.
 
Tudo isso fez com que, desde 2016, o BNDES ande em busca de um novo papel. O debate, porém, tem ficado muito circunscrito e, a meu ver, ainda não produziu uma resposta satisfatória sobre que papel deveria ser esse.

Dois estudos que mergulham fundo nessa questão são o de Claudio Frischtak e coautores para o Banco Mundial (Towards a More Effective BNDES: bit.ly/2uW9Yt5) e o de Breno Albuquerque e coautores, publicado como Texto para Discussão (TD) do BNDES (Os Bancos de Desenvolvimento e o Papel do BNDES:bit.ly/2VpGNJo).
 
O primeiro foi escrito antes da criação da TLP e por isso foca em parte no uso mais racional de subsídios. Além disso, sugere mudanças de governança; o maior uso de fundos captados no mercado de capitais; que o BNDES também comece a fornecer serviços de consultoria e assistência técnica (por exemplo, para governos subnacionais); que conceda mais garantias, em vez de créditos; que os empréstimos a pequenas e médias empresas se restrinjam às mais progressivas e com projetos com maior impacto sobre o crescimento; que foque nas externalidades de coordenação ao apoiar programas setoriais e, por fim, que tenha um papel importante no financiamento da infraestrutura.
 
O TD do BNDES, publicado em dezembro de 2018, já considera a TLP. Ele traz várias recomendações sobre a necessidade de transparência, não só na divulgação de dados das operações de crédito, mas também na explicitação de objetivos e metas e da posterior avaliação dos resultados. Também recomenda várias áreas de atuação: estímulos à participação do setor privado na operação de serviços públicos; crédito a micro, pequenas e médias empresas; fortalecimento do mercado de finanças sociais, inclusive como investidor anjo; estímulo à concorrência e apoio a projetos de educação.
 
Em que pese a qualidade e o cuidado dos autores com os fundamentos econômicos, os dois trabalhos revelam a ainda predominante falta de clareza sobre qual deve ser o papel do BNDES. A questão, me parece, não deveria ser em que áreas há coisas boas que o banco pode, em princípio, fazer, mas sim qual a melhor forma de se usar o BNDES para promover o desenvolvimento.
 
A meu juízo, essa falta de clareza vem de, nas últimas décadas, o governo ter visto o BNDES apenas como um transferidor de subsídios e ter deixado para o próprio banco definir onde alocá-los. Isso deveria mudar. O governo deveria ser mais claro e focado sobre o mandato que dá ao banco. Investir em projetos com externalidades positivas, por exemplo, é um objetivo amplo demais. O governo deveria eleger quais as áreas prioritárias, qual o foco, quais as metas e qual o cronograma com que o BNDES deveria atuar. Isso aumentaria a transparência e facilitaria a coordenação com outras políticas, permitindo à sociedade de fato avaliar a atuação da instituição.
 
A entrevista do presidente do BNDES ao Valor de segunda passada vai um pouco na direção de dar foco à atuação do banco, ao indicar prioridade para financiar a infraestrutura. Me parece o foco correto, dadas as necessidades do país e o fato de o financiamento à infraestrutura requerer, não subsídios, mas um banco capaz de analisar os projetos e monitorar a sua execução. Mas é preciso ir além, também alavancando o financiamento privado; por exemplo, via a securitização dos créditos concedidos uma vez que os projetos financiados entrem em operação.
 
Trata-se de uma área crítica para o desenvolvimento do país e de um desafio que, apesar de grande, o BNDES tem condições de superar. Mas para isso é preciso foco quase total, abandonando atividades que roubam escala e impedem a necessária especialização, além de nelas a contribuição efetiva do banco não ficar clara.
 
Como se vê, é um debate instigante e do qual a sociedade deveria participar mais ativamente.
 
*Armando Castelar Pinheiro é coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV e professor do IE/UFRJ.

República Federal paga pensão a colaboradores da Alemanha nazista



Qui sont les 54 Français liés au régime nazi qui perçoivent encore une pension de l'Etat allemand ?

Ils sont 54 à vivre sur le sol français et avoir bénéficié d\'une prestation du gouvernement allemand au titre de la Seconde Guerre mondiale.
Ils sont 54 à vivre sur le sol français et avoir bénéficié d'une prestation du gouvernement allemand au titre de la Seconde Guerre mondiale. (BAPTISTE BOYER / FRANCEINFO)
Cette prestation ne concerne "que des victimes de guerre" et exclut des versements à "une personne qui aurait commis un crime de guerre". Mais en France, l'affaire suscite un profond malaise.
"Rente pour service rendu au IIIe Reich""collabo". Fin février, les parlementaires belges n'ont pas eu de mots assez forts pour fustiger une allocation versée par l'Allemagne au titre de la Seconde Guerre mondiale. Selon eux, ces pensions ont été accordées à des collaborateurs belges du régime nazi, membres de la Waffen-SS, condamnés après-guerre dans leur pays. Et la Belgique pourrait ne pas être la seule nation concernée. Selon le ministère du Travail allemand, 2 033 personnes ont touché ces pensions le mois dernier, dans le monde. 
L'affaire a suscité un profond malaise en France, Jean-Luc Mélenchon appelant à interdire le versement de cette pension, encadrée par une loi allemande de 1951. Paris a même demandé à Berlin d'expliciter le profil des bénéficiaires en France, mercredi 27 février. Car parmi les bénéficiaires figurent 54 personnes vivant sur le sol français. Qui sont-elles exactement ? D'anciens collaborateurs nazis en font-ils partie ? Pour l'instant, personne à Paris ne connaît leur identité. "Nous n’avions pas connaissance de cette pension", a même reconnu la secrétaire d'Etat auprès de la ministre des Armées, Geneviève Darrieussecq. Franceinfo a donc tenté d'en savoir plus. 

Un montant maximum de 1 300 euros

Contacté par franceinfo, le ministère fédéral du Travail et des Affaires sociales allemand est catégorique sur les conditions de versement de la prestation, d'un montant maximum de 1 300 euros. Selon la loi fédérale sur l'assistance aux victimes de guerre de 1951 qui encadre son versement, elle concerne les personnes ayant subi des dommages pour leur santé au cours de la Seconde Guerre mondiale.
"Les bénéficiaires peuvent donc être d'anciens soldats de la Wehrmacht [l'armée allemande du IIIe Reich] ou des victimes civiles de la guerre. Parmi eux, il peut y avoir, par exemple, des personnes ayant perdu un membre lors d'un bombardement", explique le ministère. Et de préciser que cela ne consiste pas en une pension réservée à des combattants ayant servi dans l'armée allemande. 
Aucune prestation de ce type n'est versée par l'Allemagne pour service rendu dans la Wehrmacht ou dans la Waffen-SS.Le porte-parole du ministère du Travail allemand à franceinfo
Si le ministère assure ne pas connaître le nom des récipiendiaires, il indique que parmi les 54 personnes concernées en France figurent des ressortissants français et des Allemands qui résident sur le territoire français. 

Aucun condamné pour "crime de guerre"

Selon le ministère, aucun des 54 n'a toutefois été condamné pour "crime de guerre". La loi de 1951 a d'ailleurs été renforcée dans ce sens à la fin 1997 : elle exclut "tout demandeur ayant violé les principes d'humanité ou l'Etat de droit pendant le régime nazi." En vertu de cette règle, le ministère précise à franceinfo que l'octroi de la prestation a été refusé dans 99 cas depuis 1998.
Dans le détail, le versement de ces indemnités revient aux seize Länder, les Etats fédérés qui forment l'Allemagne. Ces derniers examinent les demandes et ont toute autorité pour accorder, refuser ou retirer la prestation.
Pour ce qui est du profil des récipiendiaires, "le ministère local de la Sarre examine actuellement si d'anciens membres de la Waffen-SS pourraient figurer parmi ces bénéficiaires", précise le porte-parole du ministère fédéral du Travail et des Affaires sociales allemand. En effet, d'anciens soldats, enrôlés de gré ou de force dans la Wehrmacht, peuvent percevoir cette prestation. Contacté par franceinfo, le ministère local de la Sarre, qui gère les bénéficiaires qui résident en France, n'a pas répondu à nos sollicitations.  

La question des "malgré-nous", enrôlés de force 

Parmi les pistes explorées par les autorités allemandes figure ainsi le cas des "malgré-nous" et "malgré-elles", ces 135 000 Alsaciens et Mosellans enrôlés de force dans la Wehrmacht pendant la Seconde Guerre mondiale. A partir de 1941, le régime nazi avait mis en place des campagnes de recrutement et déclaré obligatoire le service militaire dans l'armée allemande pour tous les jeunes Français de la région Alsace-Moselle. "S’ils n’y allaient pas, leurs proches étaient déportés dans les camps de travail", explique Gérard Michel, de l'Association des déportés, évadés, incorporés de force (ADEIF), à franceinfo. 
Certains d'entre eux font-ils partie des 54 personnes concernées par le versement de cette pension controversée ? Non, répond avec véhémence une des membres de l'ADEIF du Bas-Rhin, contactée par franceinfo. "A notre connaissance, il n'y a pas de 'malgré-nous' parmi les 54. En tout cas, aucun n'a fait de demande pour la percevoir."  Même son de cloche du côté de l'historien Nicolas Mengus, qui gère le site malgre-nous.eu. Selon lui, aucun "malgré-nous" ou "malgré-elles" ne touche une pension de l’Allemagne, même en tant que victime de guerre. En effet, en 1945, les "malgré-nous" ont été reconnus par le gouvernement français comme des anciens combattants.
Les enrôlés de force ont obtenu la carte d’ancien combattant de l’armée française et touchent à ce titre une pension du ministère des Armées.Nicolas Mengus, historien à franceinfo
Deux autres procédures pour une plus grande reconnaissance de ces anciens combattants sont d'ailleurs en cours, dont l'une visant à faire reconnaître leur incorporation de force comme un crime contre l'humanité. "Mais peut-être y a-t-il, parmi les 54, des 'enrôlés de force' qui n'ont pas été reconnus comme tels par la France et qui, en tant que victimes de guerre, ont demandé une prise en charge en Allemagne ?", se questionne, auprès de franceinfo, l'historien Frédéric Stroh, spécialiste de l'incorporation de force. 

Les "volontaires" de la Wehrmacht

De leur côté, 8 000 Français se sont engagés volontairement dans l’armée allemande pour combattre sous cet uniforme. Les plus controversés sont ceux de la "Charlemagne" (la division française de la Waffen-SS), qui se sont engagés par conviction politique, rappelle l'historien Geoffrey Diebold, auteur d'un mémoire de recherche sur Les Engagés volontaires alsaciens dans la Wehrmacht et la Waffen-SS, de 1940 à 1945. Certains ayant collaboré avec le régime nazi pourraient donc figurer dans la liste des 54 personnes.
Reste à connaître l'histoire exacte de tous ces engagés. Car d'autres "volontaires", la plupart jeunes et issus de milieu modeste, n'ont pas eu "grand choix" au moment de signer leur engagement dans l'armée allemande, assure Geoffrey Diebold, qui a étudié les dossiers des 2 428 engagés alsaciens, dont 1 442 ont signé pour la Wehrmacht et 872 pour la Waffen-SS (l'affectation des 114 autres n'est pas connue).
Des circonstances expliquent leur ralliement : certains se sont engagés pour éviter d'aller sur le front russe, en choisissant la marine ou l'aviation allemande ; d'autres fuyaient une situation familiale compliquée ou cédaient à la pression de parents pro-nazis. 
Les officiers allemands faisaient de la propagande dans les écoles. A la fin de leur discours, ils faisaient signer aux élèves un papier. Une fois rentrés chez eux, ils comprenaient qu'ils s'étaient engagés.Geoffrey Diebold, historienà franceinfo   
L'historien rappelle également que parmi les "volontaires", certains avaient été arrêtés parce qu'ils affichaient une attitude "anti-nazie". La police du IIIe Reich leur laissait alors le choix entre l'engagement volontaire ou le camp de concentration. 
Sans information officielle de la part du gouvernement allemand, difficile de se faire une idée précise des bénéficiaires. Pour l'historien Nicolas Mingus, la discrétion, voire la gêne, en vigueur outre-Rhin s'explique par un souci de précaution. "Il y a des rancœurs très vives encore qui peuvent être attisées parce qu'ils touchent une pension. Il ne faut pas que cela devienne une chasse aux sorcières. Tant qu'on ne sait pas qui c'est et les conditions de leur entrée dans l'armée allemande, comment juger ?"