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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Stalinismo diplomático em ação no Itamaraty - Clipping de notícias deliberadamente censurado

Sempre leio o Clipping do Itamaraty, uma vez que transcreve as principais matérias de imprensa que têm a ver com a política externa e a diplomacia brasileira, sem precisar ir a cada um dos órgãos que publicaram tais matérias.
Ontem, como transcrevi aqui, foi publicado um artigo meu no Estadão chamado "O Senado e a diplomacia", perfeitamente enquadrado, portanto, nesta seleção dos artigos dessa temática. Aliás, o artigo de Paulo Delgado aparecia ao lado do meu, na p. A2 do Estadão, que foi transcrito devidamente, como aparece nesta relação: 

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Seleção Diária da Imprensa Nacional
Quarta-feira, 14 de agosto de 2019

O artigo de Paulo Delgado, antigo deputado do PT por MG, hoje desfiliado do PT, tem a ver apenas marginalmente com a diplomacia e a política externa e tenho o prazer de transcrevê-lo in fine.
Antes, informo sobre a publicação da versão publicada pelo Estadão de meu artigo, e da versão completa, publicada pelo site do Livres, do qual sou membro do Conselho Acadêmico.

3497. “O Senado e a diplomacia”, Brasília, 3 agosto 2019, 3 p. Publicado em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/); republicado no blog Diplomatizzando (15/08/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/08/o-senado-e-diplomacia-paulo-roberto-de_15.html). Relação de Publicados n. 1319. 

Depois da censura absurda exercida contra um prefácio do embaixador Rubens Ricupero à biografia do Alexandre de Gusmão, escrita pelo embaixador Synesio Sampaio Goes, o Itamaraty confirma sua vocação censória.
Na terça-feira feira, depois que publicaram o anúncio de minha posse no IHG-DF numa versão matinal desse clipping, a mesma nota foi excluída logo em seguida, provavelmente pelas mesmas mãos censórias que se exercem contra mim no Itamaraty.
Não imaginei que o stalinismo diplomático se exercesse com tamanha prepotência no Itamaraty. Nem o prefácio do embaixador Ricupero, que tratava unicamente do século XVIII e do Alexandre de Gusmão, nem o convite à minha posse, na cadeira Tobias Barreto, um jurista do século XIX, têm algo a ver com a atual diplomacia olavo-bolsonarista.
Trata-se apenas de vocação censória e sectária dirigida a pessoas, não à matéria substantiva.
Paulo Roberto de Almeida



PAULO DELGADO SOCIÓLOGO

Blow-up é a ampliação do negativo. Ao revelar a cena e desconfiar da aparência do presidente, que fala em mudança e age como se não a quisesse, o Parlamento entendeu o recado. Partiu para agenda própria e precisa de ímpeto pontual e permanente diante do quotidiano disperso e ambíguo do Executivo.

Tem ainda a temporada no inferno por que passam o Judiciário e o Ministério Público. Seria bom os dois interromperem por um momento a troca de ofensas para explicarem, em nota conjunta, o que é mesmo a justiça para todos.

Convenhamos, não dá mais para alguém dizer essas coisas desse jeito. Sem modos nunca houve sociedade livre. Tem sido comum presidentes desfrutarem uma perigosa liberdade de expressão visando a dirigir os sentimentos da Nação para si próprios. Opiniões e atitudes nesse cargo deveriam ser fatos políticos extraordinários, e não o retrato dos princípios pessoais que estão por trás deles.

Ninguém é herdeiro das lutas do povo por ganhar uma eleição. Especialmente numa época em que milhões de mensagens angulam a percepção do eleitor numa determinada direção, violando sua privacidade. O escondido embaralha os critérios da pessoa, o flagrante esconde o principal. O truque da eleição continua.

Perder o equilíbrio da aparência para ser notícia contém uma carga de orgulho que, contrariada, pode desabar em violência. O insulto é uma forma de defesa. Nomear os outros para segregá-los, simplificando o sentido de tudo, revela um Brasil gigante anêmico.

Nada do que só fecha a porta ao entendimento é liberalismo. Tudo esconde seu oposto, especialmente venenosas atitudes cênicas. E ao deixar a economia se conduzir liberal, enquanto deixa claro que o que vale são acertos de contas, o presidente revela um mal inconsciente em sua compreensão das coisas. Explica a seus eleitores o que quer condenar supondo a rendição do País, que não gosta. Mais rígido, mais se enrola no paradoxo.

Se o Executivo não encara a imensidão de possibilidades que são a liberdade e a diversidade humana, sendo ela a única que pode realmente produzir o resultado econômico e cultural que faz qualquer governo dar certo, melhor o Congresso dar as cartas.

Querer prosperar economicamente sob um governo liberal e ao mesmo tempo ampliar o sectarismo sobre a sociedade é uma equação inexistente. A estagnação econômica permanecerá se não for enfrentada com a árdua missão de governar com autoridade, discernimento e sacrifício. Aqui é assim: a dificuldade no poder ampara o emocionalismo retrógrado do populismo brasileiro.

O coração do povo é mais vasto do que se supõe. Mira o futuro. Polêmicas políticas são piadas velhas. Provocam emoção num tipo de mercado paralelo onde opera uma cabeça de negócios superada.

Polêmicas morais, de querer costurar a letra escarlate em pessoas e instituições, nenhum governo transitório pode se pretender senhor assim. O erro nessa área será devastador se a razão que vê em tudo uma desordem inexistente preparar a justificativa para uma ordem indesejada. É risco na veia governar por antagonismos.

Muitos equívocos entre nós são fruto do esquecimento, que vem depressa. Sempre ficamos sabendo tarde demais que a oportunidade criada pela idiossincrasia das autoridades costuma ser cozida e comida para ser entregue em endereço certo. Assim, tudo pode começar a deturpar o comércio de bens democráticos e ampliar a fragilidade da vida política.

O Parlamento é a principal instituição do País. Existe uma afinidade vocacional e originária no bom parlamentar que é ser responsável sem precisar ser governista em tudo. Sua urgência é romper o despreocupado estado de espírito com os grandes desafios da hora e exercer o papel de organizar o debate nacional compondo interesses conflitantes e legítimos.

Em relação à ordem econômica, é mantra dizer que as economias bem-sucedidas se diferenciam pela duração dos períodos de crescimento. Já é consenso que a boa economia nem deve ser tratada como uma peça de moralidade, nem deve ser imoral.

O País está paralisado por uma espécie de “fada da confiança” vestida pela incerteza que é a natureza do estilo do presidente. E continua dividido entre os economistas sociais, certos de que é a desigualdade que está refreando a demanda, esmagando nossa recuperação e mantendo a crise permanente; e os economistas liberais, convencidos de que a ideia do crescimento é uma onda, traduzida na velha imagem de que é a maré alta que levanta todos os barcos.

Há expectativa e temor no Congresso de que a recuperação do País não seja compatível com o calor que emana do controle político desse presidencialismo de atritos. Só esfriando os ânimos se diminui o potencial da combustão que está no ar.

Outro desafio para a ação parlamentar é deter a tendência de mais um presidente querer inventar uma política externa. Fato que mais nos afasta da hipótese de termos algum papel na balança de poder mundial. Situação possível se o Senado não impedir que o Itamaraty continue a acumular desequilíbrios. É um erro político centrar o debate da ocupação do posto de Washington como problema familiar.

Não se trata de ofender o presidente, mas salvá-lo do risco de sonhar com grandezas que não nos dizem respeito, que é embarcar na encruzilhada em que Trump meteu os EUA com essa ideia de reconstruir o “Sistema de Yalta”, redividir o mundo em áreas de influência e apostar em conflitos regionais.

Se isso acontecer, o Brasil assumirá contornos que podem esfacelar nossa ordem continental, enfraquecer nossa força de poder brando em temas transnacionais, pôr em dúvida nossa legitimidade em operações de paz e quebrar nossa agricultura na OCDE ao ampliar a repercussão desse proselitismo ambiental equivocado. Um Brasil big stick e antieuropeu é um contrassenso cultural e um irrealismo político-militar inédito em 130 anos de História da República.

Só esfriando os ânimos se diminui o potencial da combustão que está no ar

O Senado e a diplomacia - Paulo Roberto de Almeida (versão original)

Eis abaixo a versão completa de meu artigo publicado de forma resumida na edição de ontem, 14/08/2019, no jornal O Estado de S.Paulo


O Senado e a diplomacia


Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, lotado na Divisão do Arquivo; professor no Uniceub, Brasília; organizador, com o embaixador Rubens Barbosa, do livro: Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (São Paulo: Saraiva, 2012);
Publicado, em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/). Relação de Publicados n. 1319. 

Historicamente, durante décadas, chanceleres brasileiros foram selecionados dentre os parlamentares, na verdade por mais de um século, no Império e na maior parte da República. Eram recrutados mais na Assembleia Geral – a Câmara do Império – do que no Senado. Mas os senadores vitalícios prestavam relevantes serviços quando no Conselho de Estado, cuja área diplomática teve papel decisivo, ainda que meramente consultivo, no encaminhamento de processos decisórios que marcaram época nos anais de nossa diplomacia, com ênfase nos assuntos regionais – sobretudo no Prata – e nas relações com as grandes potências. Vale consultar os pareceres do Conselho, vários assinados por senadores, todos eles publicados.
Quando não eram parlamentares eram grandes tribunos, juristas, ou jornalistas e professores. O Visconde do Rio Branco combinava todas essas qualidades: chefe de governo, várias vezes ministro, instituiu o cargo de consultor jurídico na antiga Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, iniciativa retomada por seu filho no Ministério das Relações Exteriores da República. O Parlamento preservava inteira autonomia e controlava de perto os atos do ministro, como na recusa do acordo que o primeiro chanceler republicano, Quintino Bocaiúva, fez com a Argentina, pelo qual ela abocanharia boa parte do atual território de Santa Catarina. Ruy Barbosa, antigo membro do Conselho de Estado, primeiro ministro da Fazenda da República, senador, não foi chanceler, mas desempenhou funções diplomáticas, a mais famosa delas como delegado na segunda Conferência da Paz da Haia, em 1907.
O sucessor do Barão do Rio Branco, Lauro Muller, era parlamentar, assim como Nilo Peçanha e também Epitácio Pessoa, senador, designado chefe da delegação às negociações de paz de 1919, aliás, eleito presidente mesmo estando em Paris. Oswaldo Aranha (embaixador em Washington antes), Afonso Arinos de Mello Franco, San Tiago Dantas, foram brilhantes parlamentares que serviram como chanceleres, assim como, mais recentemente, os senadores Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes.
Chefes de missões diplomáticas, embora mais raramente, podiam ser designados dentre notáveis nomes da política ou da magistratura. No Império e na República velha, os diplomatas no exterior formavam uma carreira distinta da dos funcionários da Secretaria de Estado, e ambas da dos cônsules, que eram considerados simples negociantes de “secos e molhados”. As carreiras foram unificadas nos anos 1930; desde então, missões permanentes no exterior foram tradicionalmente ocupadas por funcionários de carreira. Ainda assim, tivemos um “barão” da imprensa – Assis Chateaubriand, em Londres –, e um banqueiro, Walter Moreira Salles, duas vezes embaixador em Washington. Mas sempre sob o rigoroso escrutínio da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal. Esta chegou a recusar uma ou outra designação – sequer chamou para sabatina um preferido do general Ernesto Geisel – e, mais recentemente, recusou aprovação a um outro nome, justamente por considerar que havia abuso de parentesco (era irmão do ministro da vez, diplomata).
A tendência de se designar diplomatas de carreira como chanceleres – limitada nos regimes anteriores – se ampliou durante o período militar, com uma sobrevida temporária durante os governos do PT. No período de transição voltaram os senadores, e outros haveria para o exercício do cargo, mas o governo Bolsonaro preferiu um diplomata de carreira, aliás, um que jamais foi embaixador – ou seja, chefe de missão permanente – ou que tenha exercido relevantes serviços na diplomacia. Agora, cogita nomear alguém totalmente sem experiência nas lides internacionais como representante diplomático junto à mais importante embaixada do Brasil no exterior. A Comissão de Relações Exteriores jamais se defrontou com um caso desse tipo, tanto mais inédito por se tratar de nepotismo explícito, ou de claro “filhotismo”.
Não existem precedentes na carreira, ou fora dela, embora filhos de presidentes ou de ministros tenham exercido chefias de postos. Um – Rodrigues Alves Filho –, foi admitido depois da morte do pai; outro – Afonso Arinos, filho –, sem conexão com as funções eletivas do pai e a despeito delas: como é a norma desde 1946, ele e todos os outros têm de passar no concurso do Instituto Rio Branco. Alguns, educados no exterior, nunca lograram êxito nos exames, notoriamente difíceis, talvez por deficiências no Português. Seria de se presumir que o atual indicado seja um exímio conhecedor das relações internacionais, tenha domínio perfeito do inglês e de várias outras matérias, além de uma boa familiaridade com a agenda diplomática brasileira e mundial, que é o que se exige nos concursos de admissão. Ele já tentou alguma vez?
Não considerando o aspecto moral da indicação – segundo a senadora Simone Tebet um “erro estratégico” do presidente –, resta a questão, a ser cuidadosamente examinada pelos senadores, da capacidade do indicado para tal função. Cabe registrar seu notório apreço pelo atual presidente americano – visível em visitas com o boné da reeleição –, o que já seria um impedimento substantivo a um seguimento isento, independente, das políticas daquele país. Não se trata apenas da hipótese de um opositor ser eleito em novembro de 2020, mas do diálogo que se deve manter com amplos setores da sociedade americana, cuja maioria urbana e mais educada esmagou, com milhões de votos, o vencedor no colégio eleitoral.
Que tipo de informação objetiva – que é o mínimo que se espera de um embaixador – poderá oferecer à chancelaria brasileira, contendo uma análise equilibrada das políticas de um governo com o qual está empaticamente identificado? Como seria ele visto na Câmara, atualmente dominada por uma maioria de oposição ao presidente? Como vai ser com os diplomatas profissionais, dotados de maior experiência em assuntos internacionais do que ele mesmo? E o que farão os ministros, conselheiros, secretários mais antigos, ao se defrontar com um chefe de posto notoriamente despreparado para tratar dos mais diversos assuntos da agenda bilateral, hemisférica e internacional, financeira, política e cultural, como é o caso dessa embaixada que vale quase por uma chancelaria inteira?
A CREDN-SF tem um imenso desafio pela frente, uma vez que o que está em causa é a própria credibilidade da diplomacia brasileira junto ao país com o qual já tínhamos relações ainda antes da independência, e laços formais desde 1824. O primeiro embaixador do Brasil, designado por Rio Branco em 1905, se chamava Joaquim Nabuco, elevado a essa categoria sem precedentes na diplomacia brasileira justamente para servir em Washington.

Brasília, 3/08/2019; publicado, em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/). Relação de Publicados n. 1319.

Ler Tocqueville para entender a America - Contardo Calligaris

Eduardo em Washington

Enquanto espera a sabatina, poderia ler Da Democracia na América, de Tocqueville

Paul Hollander, que morreu poucos meses atrás, escreveu repetidamente, desde 1995, sobre o antiamericanismo. Sociólogo, fugiu da Hungria para os Estados Unidos em 1956, quando seu país foi ocupado pelos soviéticos. Não estranha que tenha sido um crítico atento a qualquer esquerdismo fácil.
​Hollander fazia a seguinte distinção: 
1) Existem críticas legítimas e merecidas à política estrangeira dos Estados Unidos e ao modo de vida de seus cidadãos; 
2) E também existe o antiamericanismo propriamente dito, graças ao qual cada um culpa os EUA por todas as injustiças que acometem seu próprio país, mesmo que os EUA tenham pouco ou nada a ver com isso.
No Brasil é fácil ouvir que a ditadura militar foi uma trama da CIA, sustentada por uma frota dos EUA presente ao longo da costa brasileira para dissuadir qualquer reação contra o golpe de 1964. 
Agora, é certo que os EUA, menos de dois anos depois da crise dos mísseis soviéticos em Cuba, não gostariam que o Brasil entrasse no bloco comunista. Mas também é certo que eles se prontificaram a intervir (caso precisasse) mais do que intervieram. Culpar os EUA pelo golpe é um jeito de negar o peso e o tamanho das paixões totalitárias e fascistas que se expressavam nas marchas da Família com Deus pela Liberdade e que continuam vivas no Brasil de hoje.
Moral da história, em geral, o antiamericanismo serve para fazer de conta que nossos países não são responsáveis por suas mazelas: foi a culpa do tio Sam. 
Inversamente, o que é o filoamericanismo e para o que serve?
Na fim da Segunda Guerra, para um europeu, era uma forma de gratidão. Durante a Guerra Fria, era uma maneira de se declarar anticomunista. 
Mas hoje o filoamericanismo parece ser apenas uma adulação servil, que mal esconde um sentimento de inferioridade e uma decepção histórica por não ter dado certo. Ao filoamericanismo, em geral, os americanos destinam um desprezo condescendente, tipo: lá vem de novo o papagaio de pirata na hora do selfie… 
Enfim, para ser embaixador do Brasil em Washington, certamente não é bom ser estupidamente antiamericano e tampouco é bom ser estupidamente filoamericano.
O presidente Bolsonaro afirmou que o filho Eduardo, que ele gostaria de ver embaixador em Washington, fala inglês e fritou hamburguesas nos EUA. 
O inglês fluente é irrelevante de tão básico. Mas fico feliz com as hamburguesas. Admiro, no modo de vida dos EUA, o fato de que os jovens de classe média façam trabalhos manuais sem por isso se sentirem aviltados socialmente. 
Além disso, a experiência ajudará Eduardo a simpatizar com o grande número de brasileiros que vivem nos EUA sem visto de trabalho: para alguns, fazer faxinas ou fritar hamburguesas nos EUA é socialmente mais digno do que ser professor no Brasil. Enfim, graças às hamburguesas, Eduardo embaixador vai saber protegê-los e representá-los com carinho.
Mas vamos ao que mais importa. Um embaixador representa o governo do momento, mas, além ou aquém disso, representa o país —o que é bem mais complexo.
Tudo bem, qualquer aluno do Instituto Rio Branco lê, e ainda dá para encontrar num sebo, os três volumes de “Intérpretes do Brasil” da Nova Aguilar (ed. Silviano Santiago). Os colegas de Eduardo o ajudarão com  o resto da bibliografia.
Agora, os EUA não são menos complexos do que o Brasil. Mas não é nada irremediável: Eduardo adorará, suponho, aproveitar sua estada para se inscrever em um mestrado ou em uma pós-graduação em estudos americanos. 
O curso certamente o ajudará a ser o melhor embaixador possível. Se ele precisar de um tema de pesquisa, lembro justamente que quase nada foi escrito sobre filoamericanismo. Um orientador? Sem hesitar: Louis Menand, autor da melhor obra sobre as origens do pragmatismo americano, “The Mataphysical Club” (2001). 
Enfim, enquanto espera a sabatina do Senado, Eduardo poderia ler (ou reler) “Da Democracia na América” (1835), de Tocqueville, só para se lembrar que a simpatia pelos Estados Unidos não exclui a capacidade de crítica. 
Quem sabe, Eduardo, embaixador em Washington, possa escrever de lá despachos que, falando dos EUA, jogarão uma luz singular sobre o próprio Brasil.
Por exemplo: “Pai, imagina que aqui eles pensam que as leis (e a própria Constituição) não existem para proteger as maiorias, como você bem lembrou, mas para proteger (pasme!) as minorias! Esses americanos são bizarros!”.

Embaixada em Washington: Rubens Ricupero e Roberto Abdenur (Época)

Não é para qualquer um

    DOIS EX-EMBAIXADORES BRASILEIROS NOS ESTADOS UNIDOS EXPLICAM POR QUE ACHAM QUE EDUARDO BOLSONARO NÃO DEVE SE MUDAR PARA WASHINGTON
    por Ruan de Sousa Gabriel
    Revista Época, 15/08/2019

    Na quinta-feira 8 de agosto, o Itamaraty foi informado de que o governo americano aprovou a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), terceiro filho do presidente Jair Bolsonaro, para ser o embaixador brasileiro em Washington. Antes disso, o presidente americano, Donald Trump, já havia elogiado a nomeação de Eduardo para a embaixada. "Eu acho o filho dele (de Jair Bolsonaro) excelente. Ele é um jovem brilhante, maravilhoso. Estou muito feliz com a indicação", disse Trump. Em defesa da indicação do filho, o presidente Bolsonaro tem reforçado que a interlocução de Eduardo com os americanos è um ponto a seu favor - além do fato de ter morado nos Estados Unidos e de ser o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
    O sinal verde dos Estados Unidos, no entanto, não quer dizer que Eduardo já pode Começar a arrumar as malas e preparar a mudança para a elegante residência que aparece nesta foto. Ele ainda precisa passar por algumas etapas de aprovação no Senado. Primeiro uma sabatina e depois duas votações: uma na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CRE) c outra no plenária Se aprovado, Eduardo poderá assumir a embaixada - caso não seja impedido pela Justiça. Na segunda feira 12, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com um pedido de liminar - decisão provisória - para barrar a nomeação O MPF considera o filho do presidente desqualificado para o cargo e defende que os indicadas a embaixadas precisam de, no mínimo, três anos de experiência diplomática no currículo Na sexta-feira 9, o partido Cidadania entrou com um mandado de segurança coletivo preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando uma limitar que impeça a indicação, por considerá-la nepotismo.
    ÉPOCA conversou com dois ex-embaixadores brasileiros em Washington sobre a nomeação de Eduardo: Rubens Ricupero, que serviu entre 1991 e 1993, e Roberto Abdenur. que chefiou a embaixada entre 2004 e 2007. Ricupero chegou a Washington depois de uma longa carreira diplomática. De volta ao Brasil, ele foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal no governo Itamar Franco e ministro da Fazenda durante a implantação do Plano Real. Abdenur foi embaixador no Equador, na China, na Alemanha e na Áustria antes de seguir para os Estados Unidos. Tanto Ricupero quanto Abdenur consideram equivocada a nomeação de Eduardo. Confira a seguir as principais razões apresentadas.
    Falta de qualificação
    RUBENS RICUPERO Falta a Eduardo qualificação, experiência, maturidade, peso intelectual e cultural. O posto de embaixador em Washington é, para quase todos os países, o mais importante de tipo bilateral. Todas as nações de peso diplomático, praticamente sem exceção, têm diplomatas de carreira em Washington. É verdade que, em circunstâncias excepcionais, uma pessoa que não é da carreira pode ser um excelente embaixador. O Brasil teve Oswaldo Aranha, que era uma grande figura no Brasil, um homem de grande estatura e que havia sido ministro da Fazenda. Era uma figura impar, respeitada pela sociedade. O outro exemplo foi Walther Moreira Salles, que esteve à frente da embaixada numa época em que o Brasil passava por grandes problemas cm termos de dívida, de balanço de pagamentos. Ele era, na época, o banqueiro brasileiro que gozava de melhores conexões com os bancos internacionais. Eduardo, por sua vez, é uma pessoa de um nível muito modesta
    ROBERTO ABDENUR Eduardo não tem quase nenhuma experiência internacional. Não tem nenhuma experiência em negociação bilateral ou multilateral. Jamais participou de uma conferência internacional. A tradição, a regra não escrita, é que sejam nomeados embaixadores em estado adiantado da carreira, com larga experiência, que já tenham chefiado dois, três, quatro postos antes. Washington foi meu quinto posto. Fui antes embaixador no Equador, na China, na Alemanha e na Áustria, além de ter sido secretário-geral do Itamaraty. A embaixada em Washington é a única que tem um alcance universal do ponto de vista do itamaraty e do governo brasileiro, porque os Estados Unidos estão presentes e atuantes em praticamente todas as questões internacionais. Então, é preciso ser capaz de acompanhar a evolução, no plano internacional, de múltiplos acontecimentos políticos, econômicos, de segurança e ambientais. A embaixada em Washington .abastece as demais embaixadas brasileiras com análises das políticas externa interna americanas. O embaixador em Washington tem multiplicidade de tarefas.
    Incapacidade de diálogo
    RR Eduardo é o representante na América Latina do movimento fundado pelo americano Steve Bannon, que é da extremíssima-direita. Portanto, Eduardo está no ponto mais extremo do espectro das opiniões de direita. Ele tem opiniões muito extremadas na política internacional, mais favoráveis a soluções bélicas. Normalmente, um embaixador precisa ter uma posição muito equilibrada, porque é representante do pais, não de um partido ou um governo. Ele é a própria encarnação do pais que representa. Para isso, é preciso alguém que não seja um extremista de esquerda ou de direita. É preciso que seja alguém que esteja dentro dc um mínimo denominador comum das opiniões.
    RA Esse rapaz se fez fotografar com um boné escrito "Trump 2020". Isso deve ter pegado muito mal junto aos democratas, que hoje têm poder político efetivo porque controlam a Câmara dos Deputados e estão investindo contra Trump. Se esse rapaz for embaixador, poderá ser um vínculo útil com a administração Trump, mas não terá interlocução com o conjunto do sistema político americano. O Congresso americano tem uma imensa importância na definição das questões de comércio exterior, por exemplo. Já existe entre os democratas uma visão negativa do Brasil de Jair Bolsonaro por causa das políticas regressivas que o presidente está aplicando neste momento, negacionistas em relação às mudanças climáticas, às questões indígenas, aos direitos humanos e por aí vai. Isso só fará piorar se esse rapaz for embaixador.
    Adesão aos EUA
    RR Uma vez, dando uma entrevista à televisão americana, Eduardo qualificou os imigrantes brasileiros irregulares como vagabundos, indivíduos que não mereciam ser acolhidos. Ele disse que muitos deles eram até criminosos. Um dos deveres do embaixador do Brasil é proteger seus cidadãos. Eu, quando fui embaixador lá, lidei com inúmeros casos de brasileiros maltratados pela policia da Imigração. Tomei uma iniciativa pioneira: organizei a primeira reunião dc todas os cônsules do Brasil no país com a polícia da Imigração, o Departamento de Justiça e o Departamento de Estado para ver se poderíamos ter um protocolo de atitudes para que nossos nacionais não fossem maltratados. Isso é uma coisa sagrada. A atitude de Eduardo revela uma coisa muito grave. Ele, talvez por ser jovem, por ler morado lá, por ter esse entusiasmo pelos Estados Unidos, identifica-se muito com os americanos. Eduardo quer ser simpático aos americanos e. ao dar uma entrevista, acha que uma das maneiras de obter o aplauso americano é condenar seus compatriotas que estão lá procurando uma vida melhor. Isso na diplomacia é gravíssimo. O maior defeito que um diplomata pode ter é se identificar mais com o país no qual ele está do que com o seu.
    RA O embaixador precisa conhecer extensamente as grandes questões internacionais, preparar relatórios - os chamados telegramas - com análises sofisticadas dos principais fatos e tendências que ocorrem no mundo. não apenas nos listados Unidos. O Brasil está e vai continuar sofrendo duras pressões americanas para esfriar suas relações com a China. E será extremamente danoso ao Brasil se cedermos 1 milímetro nisso
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    Para ser oficializado como embaixador nos Estados Unidos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro ainda precisa ser aprovado pelos senadores.

    Herois, vilões e o Judiciário disfuncional - Carlos Alberto Sardenberg

    Sim, precisamos de heróis

    Coluna publicada em O Globo - Economia 14 de agosto de 2019
    Nesta semana, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, disse que a Lava Jato não é uma instituição e que o Brasil não precisa de heróis, mas de projetos.
    Data vênia, cabe discordar. Primeiro, o Brasil precisa, sim, de heróis, por uma razão simples: há muitos vilões entre nós, e vilões em posição de mando. E também porque certas mudanças só ocorrem quando são promovidas por lideranças reconhecidas pela sociedade.
    Esse reconhecimento não precisa ser pelo voto. Joaquim Barbosa nunca disputou uma eleição, jamais fez campanha ou coisa parecida. Mas tornou-se um presidenciável pela sua atuação – tão forte quanto inesperada – no processo do mensalão. Foi uma mudança e tanto, não é mesmo?
    O STF, mais conhecido por atrasar ad infinitum os casos envolvendo os agentes públicos com foro privilegiado, dedicou-se inteiramente, por meses, a julgar corruptos de primeiro escalão. Sob a clara liderança de Joaquim Barbosa. Se um herói é alguém sem o qual certas mudanças não ocorreriam, então o ex-ministro tornou-se um deles.
    O que nos leva ao caso Lava Jato. Se o STF quebrou o gelo e colocou a corrupção na mira do Judiciário, a Lava Jato culminou o processo. Formalmente, trata-se de uma operação, uma simples força-tarefa – “reles” tarefa, gostariam alguns – mas alguém duvida que, na sociedade, tornou-se uma instituição superior?
    Sérgio Moro também não disputou eleição, não fez campanhas, mas se tornou uma forte liderança moral e política. Um herói, no modo como Joaquim Barbosa.
    A resistência à Lava Jato revela, em setores jurídicos, uma combinação de inveja e ciúme. Como pode um simples juiz de primeira instância – de novo, um “reles” juiz? – tornar-se uma figura nacional?
    Não entenderam que Moro encarna uma profunda mudança – e mudança para o bem. Ou entenderam e não estão gostando.
    Cabe nessa história o procurador Deltan Dallagnol. A operação envolve uma legião de promotores, agentes da Polícia Federal, auditores da Receita, e funcionários do Coaf, Conselho de Controle de Atividades Financeiras – todos eles heróis pelos papéis exercidos e que levaram para a cadeia os vilões do primeiro escalão. Todos eles eram, por assim dizer, “menores” que os alvos. Todos ouviram, em algum momento, “sabem com quem estão falando?” E mesmo assim foram para cima.
    O primeiro procurador da Lava Jato foi Carlos Fernando dos Santos Lima, uma liderança mais discreta. Mas Dallagnol, seu substituto, encarna a ousadia dos mais jovens enfrentando um poder superior. Daí seus exageros. Mas como queriam que se quebrasse uma quadrilha de políticos, empresários e agentes públicos, instalada no comando de instituições? Pedindo licença, faz favor?
    Tirante os lulistas extremados, ninguém entre os críticos da Lava Jato diz que não houve roubalheira. Ou que a operação não pegou ladrões.
    Dizem criticar apenas os métodos – ou o “direito penal de Curitiba”, como diz o ministro Gilmar Mendes.
    Acontece que existe mesmo um direito penal de Curitiba. Trata-se de algo como um novo contrato social ou a reinterpretação de normas e mais, especialmente, um novo modo de fazer. Não apenas a Lava Jato encontrou lavagem de dinheiro onde o velho direito via simples caixa dois, como a operação foi fulminante na apuração e julgamento.
    No fundo, a legião dos adversários da Lava Jato está incomodada porque que a operação se tornou uma instituição nacional, tanto que não se consegue encerrá-la, e com alguns heróis de peso. Mas por isso mesmo, há um esforço para limitar o sistema de investigação.
    Dias Toffoli, que certamente não é um herói, mas o presidente de uma instituição, praticamente suspendeu as atividades do Coaf. O ministro Alexandre de Moraes suspendeu fiscalizações da Receita federal envolvendo 133 agentes públicos, inclusive os ministros Gilmar Mendes e o próprio Dias Toffoli, e ainda mandou suspender auditores fiscais.
    E agora surgem essas conversas para alterar a estrutura desses órgãos.
    Ora, sem Coaf e sem Receita, não tem Lava Jato. Só falta proibirem as operações da Polícia Federal.
    Seria esse o triunfo das instituições?
    Na verdade, seria o triunfo dos anti-heróis.

    Supremacistas brancos: a escória da humanidade - The Economist

    What is “White Nationalism”?

    Governments have underestimated a growing, and murderous, threat

    THE SURGE in terrorist attacks by white nationalists includes, this year, the massacres in Christchurch (51 dead) and El Paso (22 dead). Often the killers cite fears of white “replacement” and draw inspiration from other, similar atrocities, especially Anders Breivik’s slaughter in 2011 of 77 people in Oslo and a nearby island. But what is white nationalism, and where did it come from?
    The phenomenon is hard to define because of its ideological and geographical fractiousness. Broadly, white nationalists want to achieve an ethno-state of, and for, whites. Some do their best to avoid overtly claiming that any race is inferior, arguing that each should have its own ethno-state. The majority, however, are white supremacists, who also believe that races form a normative hierarchy with whiteness at the top. They demand policies ranging from stricter controls on immigration to wholesale ethnic cleansing, or even genocide. All this is often tied to the fear of “white genocide”, or white “replacement”, ie, the notion that the “white race” is being squeezed out of existence through its own low birth rate, miscegenation and more prolific reproduction by non-white people.
    Modern white nationalism, which has spread across the world, first emerged in America after the civil war. With the end of slavery, states took action to preserve the privileged position of American Protestants of western European heritage, including “Jim Crow” laws that enforced segregation. Others took to paramilitary violence and lynchings. The fixation with being white grew with increased immigration, especially of Chinese people, Irish Catholics, southern Europeans and Jews. New immigration acts were designed to restrict the number of new arrivals. Madison Grant’s “The Passing of the Great Race”, published in 1916, melded nativist sentiment with eugenics to produce a theory of white supremacy and “race suicide”. Adolf Hitler reportedly wrote to Grant, stating that the book was “his bible”.
    Though discredited by the war against Nazism and later by the civil-rights struggles of the 1950s and 60s, white nationalism experienced a resurgence towards the end of the 20th century, leading to a number of violent attacks in America and Europe.
    In 1988 David Lane wrote “The White Genocide Manifesto”, giving a new name to Grant’s theory of “race suicide”. This text introduced the world to white nationalism’s rallying cry: “We must secure the existence of our people and a future for white children”, a phrase canonised by white nationalists as “the 14 words”. Beyond a core belief in white superiority, white nationalists vary widely in their views. Some share the deep suspicion of the federal government found in militia groups; some embrace a revisionist history of the civil war that glorifies the Confederacy; some believe in anti-Semitic conspiracies about global Jewish control, including the theory that an internationalist Jewish elite is responsible for encouraging immigration. “”The Turner Diaries”, a white-nationalist dystopic fantasy published in 1978 by William Luther Pierce, told the story of an armed insurrection against the federal government by defenders of the white race. It influenced both Lane and Timothy McVeigh, a disenchanted army veteran and gun-rights enthusiast who carried out the Oklahoma City bombing, killing 168 people in 1995.
    White nationalism evolved rapidly with the advent of the internet. It has picked up the irony-tinged discourse of the darker corners of cyberspace to couch political views in a humour that never reveals whether the writer is serious or not. This allows white nationalists to use non-believers, just in it “for the lulz [laughs]”, to spread their message to a wider audience. In Europe, meanwhile, white nationalists agonised about a supposed Islamic invasion, particularly after 9/11 and the rise of global jihadism. In “The Great Replacement”, Renaud Camus claimed true Frenchmen were being supplanted by immigrants from Africa and the Middle East, encouraged by a “replacist” elite. American white nationalists have incorporated Muslims into their taxonomy of invading races but remain mostly focused on Latinos, blacks and Jews. 
    Donald Trump’s critics accuse him of being a white nationalist. That goes beyond the evidence. However, his words do play into the supremacist ideology. For example, in 2017 he described a “Unite the Right” march in Charlottesville, Virginia, as “people protesting very quietly the taking down the statue of Robert E. Lee”, a surprisingly gentle way of describing self-proclaimed Nazis marching with tiki torches and chanting “Jews will not replace us”. Last year right-wing extremists killed more people in America than in any year since 1995, the year of the Oklahoma City bombing. The vast majority of these were by white supremacists. It is a threat that authorities in the West have taken too lightly.

    quarta-feira, 14 de agosto de 2019

    Mini-tratado de cropologia e fixação anal - anatomia do olavo-bolsonarismo

    Eu acho que estamos precisando de um psicanalista político, para analisar os discursos, que eventualmente refletem um pensamento – mas nem sempre –, dos dois principais atores "filosóficos" (vá lá) da doutrina fundamental do governo.
    Essa fixação em "cocô", no caso do habitante do cerrado central, e em geografia anal, no caso do sofista da Virgínia, são indicadores que está na hora de contratar um psicanalista...
    Paulo Roberto de Almeida

    Bolsonaro assume papel de ditador e fala em 'acabar' e 'varrer' a esquerda do Brasil

    Em um discurso típico de ditador, durante ato na cidade de Parnaíba, no Piauí, Jair Bolsonaro falou em "acabar" com os comunistas e "mandar essa cambada" para a Venezuela ou para Cuba; "O cocô é essa raça de corruptos e comunistas. Nas próximas eleições, vamos varrer essa turma vermelha do Brasil", atacou; para o PSOL, "Bolsonaro adere à mesma fórmula usada pelas ditaduras latino-americanas, pelo nazismo, pelo macartismo"


    Bolsonaro discursa em Parnaíba, no Piauí
    Bolsonaro discursa em Parnaíba, no Piauí (Foto: Alan Santos/PR)

    Em um evento político para celebrar o aniversário da cidade de Parnaíba, no Piauí, onde foi inaugurar uma escola com seu nome e homenagear um militar, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso típico de ditador nesta quarta-feira 14. Fala similar já havia sido feita por ele durante a campanha presidencial, quando falou em "metralhar a petralhada".
    Nesta quarta, Bolsonaro falou em "acabar" com os comunistas e "mandar essa cambada" para a Venezuela ou para Cuba. Em seu discurso, ele também voltou a ofender o Nordeste e a falar em "cocô", como fez na última segunda-feira 12, quando sugeriu que o brasileiro alternasse os dias para fazer cocô como medida de preservação do meio ambiente.
    "O Mão Santa me disse agora há pouco que nós vamos acabar com o cocô no Brasil. O cocô é essa raça de corruptos e comunistas. Nas próximas eleições, vamos varrer essa turma vermelha do Brasil. Já que na Venezuela está bom, vou mandar essa cambada para lá. Quem quiser um pouco mais para o norte, vai até Cuba, lá deve ser muito bom também", declarou no Piauí.
    Ele também chamou de "bandidos de esquerda" os integrantes da chapa de centro-esquerda na Argentina, Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que venceu as primárias contra o presidente Mauricio Macri. E disse que o país está "mergulhado no caos"...