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terça-feira, 4 de maio de 2021

Tocqueville revisitado, sobre os dois grandes impérios - Alexis (para os íntimos), Paulo Roberto de Almeida

 Adaptando Tocqueville para o século XXI

Paulo Roberto de Almeida


No capítulo final da primeira parte de sua mais famosa obra, De la Démocratie en Amérique, o grande pensador liberal antecipa (ele escrevia em meados dos 1830) um desenvolvimento que só tomaria sentido a partir de 1946, ou seja mais de um século depois:

“Il y a aujourd’hui sur la terre deux grands peuples qui, partis de points différents, s’avancent vers le même but: ce sont les Russes et les Anglo-Américains. (...)

L’Américain lutte contre les obstacles que lui oppose la nature; le Russe est aux prises avec les hommes. L’un combat le désert et la barbarie, l’autre la civilisation revêtue de toutes ses armes. (...) 

Leur point de départ est différent, leurs voies diverses, mais néanmoins chacun d’eux semble appelé par un desseinnsecret de la Providence à tenir un jour dans ses mains les destinées de la moitié du monde.”


Quando Tocqueville escreveu estas linhas, a Rússia começava a se mover, e a China já enfrentava desde um século antes uma decadência que se arrastaria ainda por um século mais. 

Um Tocqueville revisitado — o que costumo fazer nos meus clássicos revisitados —, a partir dos anos 1990, colocaria a China no lugar da Rússia, sem dúvida alguma.

Pela releitura:

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 4/05/2021

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Ler Tocqueville para entender a America - Contardo Calligaris

Eduardo em Washington

Enquanto espera a sabatina, poderia ler Da Democracia na América, de Tocqueville

Paul Hollander, que morreu poucos meses atrás, escreveu repetidamente, desde 1995, sobre o antiamericanismo. Sociólogo, fugiu da Hungria para os Estados Unidos em 1956, quando seu país foi ocupado pelos soviéticos. Não estranha que tenha sido um crítico atento a qualquer esquerdismo fácil.
​Hollander fazia a seguinte distinção: 
1) Existem críticas legítimas e merecidas à política estrangeira dos Estados Unidos e ao modo de vida de seus cidadãos; 
2) E também existe o antiamericanismo propriamente dito, graças ao qual cada um culpa os EUA por todas as injustiças que acometem seu próprio país, mesmo que os EUA tenham pouco ou nada a ver com isso.
No Brasil é fácil ouvir que a ditadura militar foi uma trama da CIA, sustentada por uma frota dos EUA presente ao longo da costa brasileira para dissuadir qualquer reação contra o golpe de 1964. 
Agora, é certo que os EUA, menos de dois anos depois da crise dos mísseis soviéticos em Cuba, não gostariam que o Brasil entrasse no bloco comunista. Mas também é certo que eles se prontificaram a intervir (caso precisasse) mais do que intervieram. Culpar os EUA pelo golpe é um jeito de negar o peso e o tamanho das paixões totalitárias e fascistas que se expressavam nas marchas da Família com Deus pela Liberdade e que continuam vivas no Brasil de hoje.
Moral da história, em geral, o antiamericanismo serve para fazer de conta que nossos países não são responsáveis por suas mazelas: foi a culpa do tio Sam. 
Inversamente, o que é o filoamericanismo e para o que serve?
Na fim da Segunda Guerra, para um europeu, era uma forma de gratidão. Durante a Guerra Fria, era uma maneira de se declarar anticomunista. 
Mas hoje o filoamericanismo parece ser apenas uma adulação servil, que mal esconde um sentimento de inferioridade e uma decepção histórica por não ter dado certo. Ao filoamericanismo, em geral, os americanos destinam um desprezo condescendente, tipo: lá vem de novo o papagaio de pirata na hora do selfie… 
Enfim, para ser embaixador do Brasil em Washington, certamente não é bom ser estupidamente antiamericano e tampouco é bom ser estupidamente filoamericano.
O presidente Bolsonaro afirmou que o filho Eduardo, que ele gostaria de ver embaixador em Washington, fala inglês e fritou hamburguesas nos EUA. 
O inglês fluente é irrelevante de tão básico. Mas fico feliz com as hamburguesas. Admiro, no modo de vida dos EUA, o fato de que os jovens de classe média façam trabalhos manuais sem por isso se sentirem aviltados socialmente. 
Além disso, a experiência ajudará Eduardo a simpatizar com o grande número de brasileiros que vivem nos EUA sem visto de trabalho: para alguns, fazer faxinas ou fritar hamburguesas nos EUA é socialmente mais digno do que ser professor no Brasil. Enfim, graças às hamburguesas, Eduardo embaixador vai saber protegê-los e representá-los com carinho.
Mas vamos ao que mais importa. Um embaixador representa o governo do momento, mas, além ou aquém disso, representa o país —o que é bem mais complexo.
Tudo bem, qualquer aluno do Instituto Rio Branco lê, e ainda dá para encontrar num sebo, os três volumes de “Intérpretes do Brasil” da Nova Aguilar (ed. Silviano Santiago). Os colegas de Eduardo o ajudarão com  o resto da bibliografia.
Agora, os EUA não são menos complexos do que o Brasil. Mas não é nada irremediável: Eduardo adorará, suponho, aproveitar sua estada para se inscrever em um mestrado ou em uma pós-graduação em estudos americanos. 
O curso certamente o ajudará a ser o melhor embaixador possível. Se ele precisar de um tema de pesquisa, lembro justamente que quase nada foi escrito sobre filoamericanismo. Um orientador? Sem hesitar: Louis Menand, autor da melhor obra sobre as origens do pragmatismo americano, “The Mataphysical Club” (2001). 
Enfim, enquanto espera a sabatina do Senado, Eduardo poderia ler (ou reler) “Da Democracia na América” (1835), de Tocqueville, só para se lembrar que a simpatia pelos Estados Unidos não exclui a capacidade de crítica. 
Quem sabe, Eduardo, embaixador em Washington, possa escrever de lá despachos que, falando dos EUA, jogarão uma luz singular sobre o próprio Brasil.
Por exemplo: “Pai, imagina que aqui eles pensam que as leis (e a própria Constituição) não existem para proteger as maiorias, como você bem lembrou, mas para proteger (pasme!) as minorias! Esses americanos são bizarros!”.

domingo, 17 de junho de 2018

De la (Non) Democratie en Amerique (Latine): a Tocqueville report - Paulo Roberto de Almeida

De la (Non) Démocratie en Amérique (Latine):
A Tocqueville report on the state of governance in Latin America


Paulo Roberto de Almeida,
acting as an Assistant to M. Alexis de Tocqueville,
for a Report commissioned by the World Bank.
26th Estoril Political Forum, IEP-UCP (June 25-27, 2018)

Foreword by the assistant rapporteur - Paulo Roberto de Almeida
Preliminary report to the World Bank - Monsieur Alexis de Tocqueville
1. Latin Americans compared to the Americans of the North
2. Of the social conditions in the two parts of the American hemisphere 
3. Of the sovereignty principle in Latin America, or its absence
4. What happened to Latin America, that denied its people an expected progress?
5. What went wrong in Latin American, while Asia-Pacific went forward?
6. Progresses and blockages in Latin America: as time goes by…
7. What to expect from (and for) Latin America in the near future?
In a manner of conclusion, promising a full and complete report.


Abstract:Within a conceptual framework based on Tocqueville’s classic work about Democracy in America– freedom, democracy, equality, political organization, government and administrative centralization, etc. – this essay – drafted in the form of a report from Alexis de Tocqueville to the World Bank, at the demand of its Board – deals with the relative backwardness of Latin American countries, in terms of democratic principles, political accountability, insufficient economic and social development, social inequalities, adopting an historical and comparative perspective (with Asia-Pacific countries, for instance). The region has fragmented itself recently between globalizers, reluctant governments (protectionists and nationalists), and the so-called “Bolivarians”. Finally, it tackles the current and future challenges of Latin American countries, also in a comparative perspective with the Asia-Pacific region, and concludes that most of the problems at the source of the backwardness of the continent, and its peculiar difficulties to adapt and to insert into modernity and globalization are due to especially inept and corrupt elites, of all kinds and social origins. 
Key words: Latin America; Asia-Pacific; comparative analysis; Alexis de Tocqueville; development; globalization; democracy; economic freedom; elites.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Tocqueville, sobre academicos e politicos: correto sobre ambos... - comentario por Paulo R. Almeida

Retraduzido do inglês:

Eu já cruzei com homens de letras que escreveram sobre a história sem ter tomado parte em assuntos públicos, e com políticos que se ocuparam de produzir eventos sem jamais pensar sobre eles.
Eu observei que os primeiros estão sempre inclinados a buscar causas gerais, enquanto os segundos, vivendo em meio a fatos diários desvinculados entre si, são levados a acreditar que tudo é devido a incidentes específicos, e que os fios que eles movimentam são os mesmos que movimentam o mundo.
É de se presumir que ambos estão igualmente equivocados.

Alexis de Tocqueville

Extraído do frontspício do clássico de Graham Allison e Philip Zelikow:
Essence of Decision: Explaining the Cuban Missile Crisis
(2nd edition; New York: Longman, 1999, 416 p.; ISBN: 0-321-01349-2)

Na introdução a esse clássico, os autores dizem que "The Cuban missile crisis stands as a seminal event." (p. 1), no sentido em que ela sucitou uma nova fase da Guerra Fria, novos procedimentos, e alguma contenção na corrida maluca aos extremos que estava representada pela "doutrina" do MAD, Mutual Assured Destruction, ou seja, o pacto de aniquilamento recíproco que guiava as estratégias (ou táticas?) de dissuasão entre os dois principais contendores da Guerra Fria.
O mesmo poderia ser dito, e foi dito por George Kennan, da Grande Guerra (1914-1918), descrita por ele como "the greater seminal event of the 20th century", aquele do qual derivaram todas as tragédias do século mais mortal de toda a história humana.

Voltando ao Tocqueville, preciso buscar o locus dessa citação, mas desde já concordo com o publicista e grande pensador francês: acadêmicos estão sempre pretendendo generalizar eventos singulares e deles extrair causas gerais, geralmente inutilmente, enquando políticos, que são homens práticos, vivem apenas cada momento, sem pensar nos antecedentes ou consequentes.
Enfim, para que servem os pensadores que ficam encontrando falhas em todos os demais mortais comuns? 
Para nosso prazer intelectual, unicamente.
Acho que isso basta...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29/07/2017