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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Por que ainda se discute a possibilidade de uma moeda comum sul-americana? - Natan Cauduro (Beta Redação)

Por que ainda se discute a possibilidade de uma moeda comum sul-americana?

Interessante na teoria, criação da moeda comum encontra fortes barreiras na realidade econômica e política da América do Sul

Natan Cauduro
Nov 25 · 8 min read

Em junho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, marcaram presença nas manchetes de vários jornais brasileiros e estrangeiros com declarações sobre a possibilidade de criação de uma moeda comum com a Argentina. Um ano depois, a  decidiu revisitar o tema e descobrir se, afinal, há chances de uma moeda comum nascer na América do Sul.

Sonho x realidade

Ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula (2007–2011), Welber Barral comenta que, em teoria, a chance de se criar a moeda comum existe, mas a realidade econômica e política do continente inviabiliza a oportunidade. Ele também reforça que, para considerar tal moeda, faz-se necessário compreender sua equivalência na Europa: o euro.

O processo de criação do euro foi longo e apresentou uma série de complicações. Welber pontua algumas ações dos países europeus que foram essenciais para o nascimento da moeda: alinhamento macroeconômico; acordos sobre endividamento; e bases monetárias fortes (era o caso da Alemanha) que atuavam como geradoras de credibilidade para a moeda, tornando-a conversível (que pode ser trocada por outras moedas, como o dólar). “Não há nenhuma dessas coisas na América do Sul”, pontua o ex-secretário.

Em terras sul-americanas, Welber cita as taxas de endividamento altas e distintas de cada país como um dos grandes empecilhos, além de problemas na coordenação de políticas macroeconômicas entre as nações vizinhas. O continente não conta com uma moeda conversível, ao contrário da Alemanha e de sua moeda da época, o marco alemão. Outra dificuldade são as divergências de dados sobre a inflação de cada país. “Como se compara ou equipara o real brasileiro com o peso argentino sendo que eles [argentinos] estão com 50% de inflação?”, comenta.

Diplomata de carreira com atuação nas embaixadas de Paris e Washington, e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), Paulo Roberto de Almeida concorda que a América do Sul não está preparada para uma moeda comum. “Poucos países no mundo renunciam a suas moedas nacionais. Eu não conheço nenhum grande país que o tenha feito, a não ser como parte de um projeto mais amplo de mercado comum totalmente unificado, como é o caso da União Europeia”, conta.

“Se você tem um mercado unificado, não faz sentido manter moedas distintas para um mercado totalmente livre”, acrescenta Paulo Roberto.

O diplomata reforça que os países da América do Sul são díspares, divergentes e contraditórios, o que dificulta ainda mais a implementação de uma moeda comum. “Essa é a razão básica pela qual eu não acredito que nossos países estejam preparados para uma moeda comum, não única. Única é uma loucura, nem a Europa tem.”

Welber também destaca a importância dos Bancos Centrais na implementação de uma moeda comum. “Você ter uma moeda conversível não é porque você quer, mas é porque ela é aceita no mercado internacional.” Isso resulta, segundo o ex-secretário, em uma moeda com credibilidade, lastro, usada em operações com terceiros e que tenha fluxo livre aqui e no exterior. “A moeda brasileira não tem isso, então os bancos centrais teriam de regulamentar”, destaca Welber. Outra entidade importante nesse processo é o Conselho Monetário Nacional.

E se…

Num exercício de futurologia, o ex-secretário Welber Barral reflete sobre quais benefícios o Brasil teria caso uma moeda comum fosse implementada. Um deles seria o custo de câmbio, pois o mesmo não seria necessário, uma vez que todos os países utilizariam uma mesma moeda. Outro estaria em evitar a imprevisibilidade das moedas, como dólar e real, pois a variação de inflação é uma só, o que auxilia nas importações e exportações. Welber também pontua a percepção popular como sendo impactada positivamente quando viaja para outro país. “Ele (indivíduo) não quer fazer cálculo para saber quanto custa, se é mais caro ou mais barato. Já existe uma previsibilidade de custo”, comenta.

“É preciso ressaltar que uma moeda comum pode ser uma boa coisa em mercados comuns, o que está longe de ser o caso do Mercosul”, aponta o diplomata Paulo Roberto. “Quando e se o Mercosul chegar nessa fase, talvez seja interessante uma moeda comum”, mas ele ainda se mostra cético, em especial porque numa união entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o Brasil, sozinho, detém mais de 70% do mercado consumidor, o que inviabiliza a renúncia da soberania nacional sobre a moeda e o próprio mercado. “Você se prender a uma política comum para atender a um mercado secundário não é uma boa coisa”, analisa.

Não é a primeira vez

O governo Bolsonaro não foi o único a cogitar uma moeda comum sul-americana. O governo Lula (PT) também foi manchete por comentar tal possibilidade. O ex-secretário Welber lembra ainda de outras tentativas de unificação monetária. Uma delas foi nos anos 80 com o governo do ex-presidente José Sarney (MDB) com o uso do gaucho, uma moeda escritural entre Brasil e Argentina. Moeda escritural se equivale a depósitos bancários usados como forma de pagamento — cheques e cartões de crédito, por exemplo. De qualquer modo, nenhuma das tentativas foi efetivada.

Estando no governo Lula, Welber lembra que naquele período havia no Ministério alguns estudos e a possibilidade de criação de um Tribunal Arbitral para Investimentos, mas tudo era encabeçado pela União de Nações Sul-americanas (Unasul), não pelo Brasil. Com essa organização perdendo força, as ideias pararam no tempo.

Circula também a ideia de que, sendo o Brasil o maior dos países sul-americanos, é responsabilidade dele dar início a um programa político de criação de moeda única, mas Welber não vê o governo Bolsonaro interessado em tamanha empreitada. “Esse é um governo tipicamente isolacionista, então eu não espero nada positivo em geral, até por conta da pandemia e da crise (econômica). Ele (governo) está focado bastante numa agenda interna”, analisa.

“O Bolsonaro falou sobre criar a moeda do Mercosul ano passado. Eu não sei quem disse isso para ele, mas seguramente ele não tinha a menor ideia do que estava falando”, afirma Welber.

Paulo Roberto de Almeida tem uma opinião parecida sobre as manifestações do presidente e do ministro da Economia. Ele, inclusive, lembra de encontros com Paulo Guedes e, após ouvi-lo reclamar sobre o Mercosul, percebeu que o campo da política e economia internacional não era o forte do ministro. “O Paulo Guedes é um cara de mercado financeiro, de mercado de capitais, mercado de investimentos. Ele não entende de acordos internacionais, de economia política internacional, de tecnocracia, de estadismo, de diplomacia. Então o que o Bolsonaro e o Guedes falaram é uma bobagem monumental”, avalia.

Em junho de 2019, data das manifestações do presidente e do ministro, o chanceler Ernesto Araújo manifestou-se de forma esquiva, afirmando que “o Mercosul requer eficiência no comércio entre os membros, mas também que seja uma plataforma de abertura e de eficiência para o resto do mundo, como se vê em negociações estratégicas que estão perto de concluir, como a com a União Europeia”, segundo matéria da revista Veja.

Para Paulo Roberto de Almeida, um assunto como o de uma moeda comum “não pode ser política de governo, isso é uma política de Estado. Moeda é política de Estado”. Ele também afirma que o Itamaraty tem bons economistas, diplomatas e uma boa base de dados. “(a quantidade e qualidade de informações) do Itamaraty sobre o Mercosul e a União Europeia é perfeita”, destaca. O diplomata afirma que o chanceler Araújo deveria ser capaz de alertar ao presidente e ao ministro Guedes que a ideia de uma moeda comum é inviável. Paulo Roberto também recorda que Ernesto Araújo é um estudioso do Mercosul, inclusive com um livro sobre o tema publicado nos anos 90, e que o diplomata classifica como “muito bom”.

O livro mencionado chama-se Mercosul Hoje, publicado em 1998, pelos autores Sérgio Abreu, Lima Florêncio e Ernesto Henrique Fraga Araújo. O chanceler também possui sua tese, apresentada em 2008 no Instituto Rio Branco, intitulada O Mercosul: Negociações Extra-regionais.

Também em 2019, o Banco Central do Brasil emitiu nota sobre as declarações do presidente e do ministro da Economia. Na nota, é dito que “o Banco Central do Brasil não tem projetos ou estudos em andamento para uma união monetária com a Argentina. Há tão somente, como é natural na relação entre parceiros, diálogos sobre estabilidade macroeconômica, bem como debates acerca de redução de riscos e vulnerabilidades e fortalecimento institucional”.

 entrou em contato com o Banco Central do Brasil em busca de informações. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, “o posicionamento do BC continua o mesmo”.

A nota oficial pode soar vaga, mas antigos dirigentes do BC já se manifestaram sobre a ideia de uma moeda única. Foi o caso de Alexandre Schwartsman, que, em entrevista à Folha de S. Paulo, afirmou tratar-se de uma proposta sem sentido. Outra manifestação veio do também ex-dirigente do BC José Júlio Senna, no mesmo jornal. Ele afirma não ser otimista quanto ao resultado final de uma integração de moedas.


Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China - Tatiana Rosito (CEBC); matérias de imprensa

Português: http://cebc.org.br/download/5614/

Inglês: http://cebc.org.br/download/5615/ 

Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China

ACESSE (PORTUGUÊS) ACESSE (INGLÊS) ACESSE (MANDARIM)

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Tatiana Rosito – A pandemia da COVID-19 trouxe novos desafios para as relações Brasil-China num contexto de acirramento da rivalidade estratégica China-EUA e também da aceleração e ampliação de tendências globais que alteraram o cenário para a evolução das relações bilaterais. Ao encerrar-se o ano de 2020, o aprofun­damento dos laços comerciais e as expectativas na área de investimentos e cooperação tecnológica do Brasil com a China ocorrem ao tempo em que as ambições do diálogo político são redimensionadas e aumentam as incertezas em relação ao futuro. Nesse contexto, o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) entende ser oportuna a rea­lização de uma reflexão abrangente sobre as relações de longo prazo, que possa contribuir para a construção de estratégia brasileira para a China a ser amplamente debatida.

A crescente e emblemática inter-relação entre economia e segurança nacional oferece contornos institucionais à disputa China-EUA e ajuda a disseminá-la para o resto do mun­do. É muito possível que se conviva com um “decoupling” em setores relacionados à segu­rança nacional ou tecnologias duais, em paralelo a uma continuada integração comercial e financeira da China com o mundo, especialmente na área de serviços.

A China tem influência econômica evidente em diversos setores da economia brasileira via comércio e investimentos, mas essa influência é limitada se comparada ao impacto poten­cial da China através dos vetores de crescimento do século XXI, baseados na integração dos serviços à indústria e na economia digital, em que se configuram claramente dois polos muito distantes dos demais: China e Estados Unidos.

A China vem assumindo nos últimos anos um papel crescente e mais assertivo no cenário internacional, condizente com sua transformação em grande potência econômica. Ele se expressa não somente no peso da China como nação comerciante e investidora, mas tam­bém como participante ativa e engajada das instituições internacionais; crescente fonte de recursos para o financiamento do desenvolvimento e difusora de um modelo de desenvol­vimento; promotora da internacionalização da sua moeda, o renminbi; e participante ativo na definição de regras e padrões internacionais.

Lidar com a China envolve dinâmicas de cooperação e competição, com complementari­dades e assimetrias que remetem o Brasil à necessidade de repensar seu próprio caminho de desenvolvimento. A China desponta cada vez menos como competidora e ameaça e cada vez mais como referência e oportunidade, inclusive de como a ação governamental concertada pode estimular a transformação estrutural e a diversificação econômica. Por suas particularidades, relacionar-se com a China demanda dedicação, paciência e esforços que requerem estratégia de longo prazo. O Brasil também tem muito a oferecer à China e isso é parte importante de uma estratégia.

O governo federal publicou, em 2018, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômi­co e Social (ENDES) para o período 2020-2031, que foi revista e consolidada em janeiro de 2020 e atualizada recentemente pela Estratégia Federal de Desenvolvimento – EFD 2020-2031. A diretriz principal da ENDES é “elevar a renda e a qualidade de vida da população brasileira, com redução das desigualdades sociais e regionais”. A China e a Ásia podem dar importante contribuição para o alcance das diretrizes relacionadas não somente à inserção externa, mas também à economia, à infraestrutura e ao meio ambiente.

Os resultados do comércio Brasil-China nos últimos anos expressam uma agenda exito­sa de complementaridade com poucos paralelos no mundo. Mas também denotam que o Brasil não tem sido capaz de implementar a contento as suas declaradas prioridades nas relações com o principal parceiro comercial – diversificação e agregação de valor à pauta de exportações. A velocidade das transformações e o papel das tecnologias digitais requerem grandes esforços e coordenação se o Brasil quiser se beneficiar da China com agregação de valor aos seus produtos. Tão importante quanto o que o Brasil pode exportar para a China, é o que o Brasil importa ou pode importar da China, e como pode construir canais estáveis e eficientes para absorção de novas tecnologias em que a China oferece liderança crescente.

Aproveitar as oportunidades relacionadas à contínua transformação estrutural da China deve ser o foco de uma estratégia para aquele país que coloque a produtividade e a com­petitividade no centro. Há três principais caminhos: agregação de valor às exportações brasileiras, mediante intensificação das relações com o mercado chinês (inclusive mediante o e-commerce) e “descoberta” de novos nichos; adoção de tecnologias ou de partes das cadeias de produção que deixarão a China; e combinação de importações de commodities industriais chinesas com agregação de valor para consumo no Brasil ou exportação.

É preciso que Brasil e China confiram claramente ao comércio agrícola e a tudo o que ele representa em termos comerciais, de sustentabilidade e segurança alimentar no longo prazo a devida centralidade e previsibilidade em termos de compromissos estratégicos e diálogo maduro e profundo, mitigando riscos por meio do planejamento e do fortaleci­mento da confiança mútua. É imperativo para o Brasil buscar estabelecer com a China moldura de cooperação e de acordos comerciais formais que permitam reduzir os riscos da concentração da pauta e abrir caminho para necessária diversificação.

Uma agenda do Brasil para a China na área de infraestrutura demanda visão de longo pra­zo e envolve a aplicação da experiência recente e de bom senso para a solução de questões como mitigação de assimetrias de informação, aproximação de matriz de riscos e criação de ambiente favorável. O desafio principal é como promover, no novo ecossistema de PPPs em evolução no País, diálogo tempestivo e de qualidade entre investidores chineses, es­truturadores privados, bancos públicos e privados e governos. Possivelmente haverá dimi­nuição da ambição chinesa para projetos no exterior com a incerteza do ambiente político internacional. Isso aumenta a importância da fluidez do diálogo político e de sinalizações claras aos investidores.

O planejamento brasileiro pode se beneficiar de diálogo ampliado com empresas, aca­demia e think tanks, inclusive na identificação de temas para a contratação de estudos e realização permanente de agendas de seminários. Há grande potencial para a mobilização de recursos humanos e técnicos que podem contribuir para a construção de uma estraté­gia e de planos de governo. Essa reflexão não deve ocorrer somente no setor público ou voltada para ele, mas também no setor empresarial, nas universidades e no terceiro setor, o que contribuirá para elevar a qualidade e a consistência de uma estratégia nacional e das respectivas estratégias setoriais e empresariais. Este trabalho apresenta moldura e bases de uma estratégia com vistas a contribuir para reflexão abrangente e de longo prazo do Brasil sobre a China.

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Edição Especial 

Cobertura do lançamento do estudo "Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para China"

O Conselho Empresarial Brasil-China lançou hoje o documento "Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China", elaborado por Tatiana Rosito, diplomata e economista com 10 anos de experiência na Ásia. O estudo tem o objetivo de contribuir para o debate sobre a relação bilateral e a elaboração de políticas públicas relativas ao país asiático, propondo uma moldura para o relacionamento com a China desenhada em torno de três eixos (econômico, institucional e de sustentabilidade) e três agendas estruturantes (infraestrutura, finanças e tecnologia).

Acesse aqui o estudo completo

DESTAQUES DO DIA:

Empresários lançam estudo para defender negócios do Brasil com a China 
25/11/2020_Folha de S. Paulo, Portal Contexto 
Estratégia de longo prazo propõe ver país asiático como referência e oportunidade

Eduardo Cucolo (São Paulo) - Estudo encomendado pelo Conselho Empresarial Brasil-China propõe que os brasileiros olhem o parceiro asiático cada vez menos como competidor e ameaça e cada vez mais como referência e oportunidade, em especial para diversificar a pauta de exportação e absorver novas tecnologias.

O documento, que foi batizado de “Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China”, será divulgado nesta quinta-feira (26) pela entidade em um evento que prevê a presença do vice-presidente Hamilton Mourão.

[...] “Eu chamaria a atenção de que ele está sendo apresentado ao vice-presidente da República. Esperamos que receba uma boa acolhida por parte do governo brasileiro, mas lembraria que somos um conselho empresarial, formado por empresas privadas que têm interesses em fazer negócios com a China, em vender, investir e receber investimentos”, afirma Castro Neves. 

[...] “Tão importante quanto o que o Brasil pode exportar para a China é o que o Brasil importa ou pode importar e como pode construir canais estáveis e eficientes para absorção de novas tecnologias em que a China oferece liderança crescente”, diz o documento.

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Empresários lançam estratégia para incrementar negócios com a China, em meio a tensões com 5G 
26/11/2020_O Globo, O Vale 
Documento, que será entregue a Mourão, defende alinhamento dos dois países em torno de três prioridades comerciais: infraestrutura, tecnologia e finanças

Henrique Gomes Batista (São Paulo) - Apesar dos recentes ruídos entre Brasília e Pequim, depois das reações da embaixada chinesa às críticas feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro esta semana, Brasil e China devem revisar, em 2021, o plano decenal de cooperação entre as duas maiores economias emergentes do planeta.

[...] Para o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que publica nesta quinta-feira “Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China”, o momento é do Brasil focar em três áreas específicas: tecnologia, infraestrutura e finanças. 

[...] — Uma revisão sobre a nossa relação com a China acaba nos forçando a uma reflexão sobre a nossa ideia de desenvolvimento nacional. Uma abordagem de longo prazo nos permite aproveitar as oportunidades desta relação. A China pode ser uma porta de entrada para nós nas transformações do século 21 — afirmou a diplomata e economista Tatiana Rosito, autora do estudo que será entregue ao vice-presidente e especialista no país, depois de servir nas embaixadas do Brasil em Pequim e Cingapura e ser representante-chefe da Petrobras na China de 2017 a 2019.

[...] "Há muito o que fazer em matéria de dever de casa: investir em infraestrutura e capital humano, além de fortalecer e tornar mais ágil o ambiente de negócios, pré-requisitos essenciais para habilitar o Brasil a ser mais competitivo e eficiente no aproveitamento sustentável das janelas de oportunidade que a China oferece”, afirma, no documento, o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China.linha.gifEmpresários lançam nesta quinta estudo sobre as relações comerciais Brasil-China 

26/11/2020_Estado de S. Paulo 
Documento sugere o estreitamento das relações entre os dois países e a ampliação do comércio bilateral, apesar da recente troca de farpas envolvendo a rede 5G

Lorenna Rodrigues - [...] Apesar de o atual governo ter se distanciado diplomaticamente dos chineses, um estudo que será lançado nesta quinta-feira, 26, pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) sugere soluções que vão em caminho oposto, como a negociação de acordos comerciais e a ampliação da presença de representantes de instituições brasileiras no país asiático.

[...] A ideia do estudo é dar linhas gerais para a estratégia de relacionamento do Brasil com a China. Na visão de especialistas no assunto, isso será importante apesar da troca de farpas entre o governo Bolsonaro e representantes chineses, que, acreditam, não chegou no comércio entre os dois países, que continua em alta. 

[...] De acordo com Castro Neves, a ideia do estudo foi identificar as “enormes janelas de oportunidade” que a China oferece na área comercial. “O objetivo é mostrar que podemos ganhar mais na relação com a China, que pode contribuir mais para o nosso desenvolvimento”, completa a economista e diplomata Tatiana Rosito, especialista em Ásia e responsável pelo documento.

Uma das conclusões é que é necessário dar uma “moldura formal” para a relação entre os dois países, o que seria possível por meio de acordos como de facilitação de comércio, investimentos e bitributação. “Se nós não tivermos elementos objetivos colocados, como acordos comerciais e regulatórios, é muito difícil diversificar e agregar a pauta de exportações brasileira”, completa Tatiana.

[...] O estudo aponta ainda a necessidade de ampliar e reforçar a presença institucional brasileira na China. O documento também sugere “campanha de imagem” que faça o Brasil ser mais conhecido nos mercados chineses. Por enquanto, no entanto, a campanha que tem sido feita nas redes sociais pode acabar tendo o efeito contrário do desejado pelos empresários. 

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Brasil não deve discriminar 5G da China, diz entidade empresarial 
25/11/2020_Folha de S. Paulo 
Documento diz que é possível estabelecer cooperação e conciliar objetivos de segurança nacional

Eduardo Cucolo - A China está a caminho de se tornar uma potência tecnológica e digital e deve ser do interesse brasileiro potencializar as oportunidades para se beneficiar dessas mudanças, segundo o documento “Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China”, divulgado pelo CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China)

De acordo com o conselho, que reúne diplomatas brasileiros e empresários que mantêm interesses ou relações com a China, “essas parcerias podem se ver dificultadas caso se venham a estabelecer restrições à participação chinesa na área de infraestrutura de telecomunicações (e.g. 5G) ou mesmo pelo próprio ambiente internacional para atuação de empresas chinesas de alta tecnologia”.

“Por outro lado, essa pode ser uma oportunidade para o Brasil, se o país conseguir estabelecer plano e padrões de cooperação que sejam positivos para os dois lados e que se enquadrem nos objetivos de segurança nacional. Para a China, o mais importante é evitar atitudes discriminatórias”, diz o texto da proposta elaborada pela diplomata e economista Tatiana Rosito, que integra o Comitê Consultivo do CEBC.

[...] Segundo o conselho, a decisão do Brasil de vetar ou não a participação dos chineses no leilão do 5G previsto para o primeiro semestre de 2021 “constituirá um marco importante para o posicionamento brasileiro em relação ao binômio economia-segurança e à própria rivalidade estratégica China-EUA.” vm.giflinha.gif

Documento propõe “passo adiante” na relação com a China 
26/11/2020_Valor Econômico 
Propostas incluem acordos comerciais, redesenho de fundo e institucionalização de mecanismos permanentes para criação de estratégias nas relações com o país asiático 

Marta Watanabe (São Paulo) - O Brasil tem “histórias de sucesso” em relação às exportações para a China e à recepção de investimentos do país asiático. Mas mudanças na política chinesa e no cenário internacional demandam medidas para que se efetive a diversificação e a agregação de valor das exportações e, no campo dos investimentos se aproveitem oportunidades dadas pela complementaridade entre os dois países. Acordos comerciais, redesenho do Fundo Brasil-China e institucionalização de mecanismos permanentes para criação de estratégias nas relações com o país asiático, sob coordenação do governo federal, estão entre as ações que podem contribuir para isso.

As considerações constam do estudo “Bases para uma estratégia de longo prazo do Brasil para a China”, que deve ser divulgado hoje pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). De autoria da diplomata e economista Tatiana Rosito, ex-secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), o documento também aponta, no horizonte de curto prazo, para as expectativas em relação ao leilão do 5G, previsto para o primeiro semestre de 2021. A decisão, diz o documento, constituirá um marco importante para o posicionamento brasileiro em relação ao binômio economia-segurança e à própria rivalidade estratégica China-EUA. 

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Empresariado afasta visão da China como ameaça em estudo sobre parceria com o Brasil 
26/11/2020_Gazeta do Povo 
Cristina Seciuk - O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) lança nesta quinta-feira (26) um estudo que aposta na parceria entre os dois países como indutor de oportunidades para os negócios e a economia nacional, com acesso mais veloz a novas tecnologias e possibilidades de diversificação da exportação.

[...] A área de comércio e investimentos, caracterizada por Rosito como o "motor" da relação Brasil-China, é abordada tanto do ponto de vista da avaliação de êxitos e limites para as trocas entre os parceiros como das oportunidades abertas pela tecnologia – entre as quais o e-commerce, ainda pouco explorado pelo Brasil.

Rosito também analisa mudanças no cenário internacional, seus impactos para a China, o Brasil e as relações bilaterais, além de apresentar as transformações que a China deve experimentar até 2050 e os possíveis impactos desse movimento para o Brasil.

"A China desponta cada vez menos como competidora e ameaça e cada vez mais como referência e oportunidade, inclusive de como a ação governamental concertada pode estimular a transformação estrutural e a diversificação econômica", diz o documento. 

Conforme destacado no estudo, "a velocidade das transformações e o papel das tecnologias digitais requerem grandes esforços e coordenação se o Brasil quiser se beneficiar da China com agregação de valor aos seus produtos". "Tão importante quanto o que o Brasil pode exportar para a China é o que o Brasil importa ou pode importar da China, e como pode construir canais estáveis e eficientes para absorção de novas tecnologias em que a China oferece liderança crescente", avalia.

[...] O estudo tem por objetivo contribuir para o debate sobre a relação bilateral e a elaboração de políticas públicas relativas ao país asiático, como subsídio para os formuladores e executores da política exterior do Brasil para a China, segundo o presidente do CEBC, embaixador Luiz Augusto de Castro Neves.

Limitar atuação da China no 5G pode dificultar parcerias e investimentos, alertam empresários 
26/11/2020_Reuters Brasil, Uol 
Lisandra Paraguassu (Brasília) - Uma limitação à atuação da Huawei nas redes de 5G no Brasil poderia diminuir a atração de investimentos no país e dificultar parcerias com a China em diversas áreas, avalia o Conselho Empresarial Brasil-China, organismo que reúne empresários e diplomatas com interesses no país asiático.

O documento “Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China”, preparado pela diplomata Tatiana Rosito e divulgado hoje pelo CEBC, apontada que não apenas a China caminha para se tornar uma potência digital como esta é uma das principais metas do país para os próximos anos.

“A China está a caminho de tornar-se uma potência tecnológica e digital e deve ser do interesse brasileiro potencializar as oportunidades para que o Brasil possa se beneficiar das transformações chinesas nas mais diversas áreas, como economia digital (5G, computação em nuvem, internet das coisas), inteligência artificial, e-commerce”, diz o estudo.

A limitação de investimento estrangeiro com base em questões de segurança nacional, alerta o CEBC, pode ser feito com limitações em áreas sensíveis sem discriminar nacionalidades. De acordo com a autora do estudo, a legislação brasileira é aberta a investimentos estrangeiros e não prevê mecanismos de ‘screening’, como acontece nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, para limitar esses investimentos a alguns parceiros. Bastaria uma atuação ativa das agências reguladoras para garantir o cuidado em relação a questões de segurança nacional, sem necessidade de discriminar determinados países. 

“Tudo leva a crer que limites à atuação chinesa em certos setores não somente extrapolariam posições brasileiras tradicionais de não discriminação e tratamento nacional, mas também criariam insegurança jurídica e poderiam reduzir a atratividade dos investimentos no Brasil num momento em que o País precisará contar com a poupança externa para ultrapassar seus gargalos, sobretudo em infraestrutura”, diz o documento.

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Partidos nanicos perdem força e elegem só 1,1% dos vereadores em 2020 - Poder 360

 

Partidos nanicos perdem força e elegem só 1,1% dos vereadores em 2020

Os 10 partidos com menos eleitos

Em 2016, respondiam por 2,4%

Regra eleitoral mudou em 2020

Saiba onde as siglas vão melhor

Eleitores e mesários usando equipamentos de segurança e álcool gel em seção de votação em Valparaíso (GO)Sérgio Lima/Poder360 – 15.nov.2020

 e 
26.nov.2020 (quinta-feira) - 6h55
atualizado: 26.nov.2020 (quinta-feira) - 7h44

Os números das eleições municipais de 2020 mostram declínio de partidos pequenos no número de vereadores eleitos. Elas indicam que a redução no número de siglas, 1 dos objetivos das últimas mudanças no sistema político (cláusula de desempenho e proibição de coligações proporcionais), pode estar em andamento.

Dos 32 partidos que lançaram candidatos a vereador neste ano, os 10 que menos elegeram conseguiram 1,1% das cadeiras das Câmaras Municipais. É menos do que metade do percentual atingido pelas 10 siglas de pior desempenho em 2016: 2,4%.

 

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Levantamento do Poder360 mostra que 2012 foi o momento quando os partidos pequenos tiveram mais sucesso. Naquele ano, as 10 menores legendas elegeram 4,4% dos vereadores. Os dados foram analisados a partir de 2004, ano mais antigo com informações completas no repositório de dados do TSE.

Pela 1ª vez desde 2004 ano houve 4 legendas que lançaram candidatos, mas não elegeram ninguém. São elas: PCB, PSTU, PCO e a novata UP. Em 2016 foram duas as siglas que não elegeram ninguém, maior número até então.

Ao mesmo tempo, as 10 siglas que mais elegeram vereadores tiveram 74,6% dos eleitos neste ano. Em 2016, eram 71,7%.

MDB e PSDB elegeram menos candidatos aos Legislativos municipais neste ano. A perda no pelotão de cima, no entanto, foi mais que compensada por 1 aumento de eleitos de outros partidos médios e grandes, como DEM, PP e PSD.

CONTEXTO

As eleições de 2020 foram as primeiras sem coligações para cargos proporcionais. Ou seja, os partidos precisaram obter sozinhos (e não em coligação) votos para atingir o quociente partidário. Só ultrapassando essa barreira podem eleger 1 representante.

Também está em vigor a cláusula de desempenho, que inibiu o fenômeno dos puxadores de votos. Para ocupar uma das cadeiras ganhas pelo partido na Câmara Municipal, o candidato precisa ter ao menos 10% do número de votos relativo a essa vaga. Além disso, como a cláusula dificulta o acesso de legendas pequenas à Câmara dos Deputados, ela também afeta o financiamento dessas siglas. A lei eleitoral condiciona a distribuição de dinheiro público ao desempenho nas eleições para deputados.

A cláusula de desempenho foi aprovada em 2015. Antes disso, o Supremo Tribunal Federal derrubou, no ano de 2006, a cláusula de barreira aprovada em 1995. Caso a decisão do Tribunal tivesse sido outra, o país teria menos partidos com representados no Legislativo.

Uma quantidade elevada de partidos no Legislativo, seja federal, estadual ou municipal, faz com que sejam necessárias negociações políticas “no varejo”. A ideia por trás da regra é que, quando as siglas são menos numerosas, as articulações políticas são mais simples.

DOMÍNIO REGIONAL

A maior concentração nos principais partidos pode ser vista nos Estados. Em 2016 houve 3 casos em que uma sigla elegeu mais 20% dos vereadores dentro de 1 Estado. Em 2020, o fenômeno aconteceu 12 vezes.

Caso interessante é do Rio Grande do Sul. Lá, tanto em 2020 quanto em 2016, duas legendas ultrapassaram essa marca: MDB e PP.

Nenhum partido chegou perto de fazer 20% dos vereadores em nível nacional. O MDB foi quem mais elegeu em 2020. Seus 7.310 vereadores equivalem a 12,62% do total de eleitos do país.

Leia nesta tabela as informações referentes às eleições deste ano e nesta às eleições passadas. O Poder360 puxou os dados relativos a 2020 do sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta 3ª feira (24.nov.2020). O arquivo sobre 2016 está disponível no repositório de dados o Tribunal.

Em 15 Estados o posto de partido com mais vereadores mudou de mãos. O MDB perdeu 5. Tinha 13 em 2016 e passou para 8. Quem mais ganhou foi o DEM: foi de nenhum para 4.

Mesmo com a queda no número de vereadores nacionalmente, o MDB continua sendo o partido que lidera o número de eleitos em Câmaras Municipais de mais Estados (8 no total). O mapa a seguir mostra quais partidos detém mais vereadores em quais lugares.

A fatia que o partido com mais vereadores domina, porém, varia bastante. Enquanto o MDB tem 28,46% em Santa Catarina, o partido com mais vereadores do Rio de Janeiro, o DEM, tem apenas 8,19% do total de eleitos. Ou seja, o Estado tem fragmentação muito maior. O mapa interativo a seguir mostra Estado por Estado.

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Ainda uma mini-reflexão sobre o racismo e o nacionalismo — Paulo Roberto de Almeida

 Ainda uma mini-reflexão sobre o racismo e o nacionalismo 

Paulo Roberto de Almeida


Eu não diria que o racismo representa o que há de pior no ser humano, como acreditam alguns: a sensação de desconforto com a alteridade é praticamente natural na “raça” humana: deve ter existido no Cro-Magnon ao se confrontar com o Neandertal, se por acaso isso ocorreu. O racismo vem daí: é quase incontrolável nos grupos humanos diversificados.

Isto, evidentemente, não é uma justificativa para o racismo; apenas um alerta para se evitar simplificações indevidas com respeito a um dos fenômenos mais “comuns” na história humana.

Progressos civilizatórios podem minimizar os sentimentos racistas de pessoas simples (e até de algumas aparentemente “sofisticadas”), mas eles não evitam que tais sentimentos (até inconscientes) aflorem e floresçam em determinadas circunstâncias. O racismo que coexistiu e acompanhou o inconsciente alemão do romantismo nacionalista do Das Vaterlands, Das Volk, sem falar do Der Führer, é uma prova disso, numa sociedade que supostamente conviveu ou apreciou Kant, Goethe e Beethoven.

A tolerância “budista”, ou cristã, que prega a fraternidade e o amor ao próximo, qualquer que seja ele, aparece depois de alguma reflexão sobre o sentido da vida, e do respeito pela vida, costumes, aparência, linguagem e religião dos outros, diferentes.

O racismo pode vir junto com as formas mais canhestras de nacionalismo exclusivista, como no famoso Deutschland über Alles.

Aliás, se parece muito com Make America Great Again e com o “Brasil acima de tudo”, não é mesmo?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/11/2020


Mini-reflexão sobre as agruras existenciais de acadêmicos sobre as “teorias” do racismo e sua relação com o “capitalismo” - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre as agruras existenciais de acadêmicos sobre as “teorias” do racismo e sua relação com o “capitalismo”

Paulo Roberto de Almeida


Debate mais ou menos inútil para saber se as teorias racistas precedem ou não o “capitalismo”, esse superlativo conceitual que nem era usado por Marx — que preferia falar em modo de produção burguês —, mas que enche a boca de acadêmicos e de jornalistas. 

Sempre existiu racismo, em todos os tempos, latitudes e longitudes; se existiam teorias ou não, isso é coisa de acadêmicos. Fatos reais precedem teorias; se as teorias existem, pré-existem ou subsistem, isso não afeta minimamente a existência do racismo, ou dos fatos em seu redor.

Apenas acadêmicos precisam das muletas mentais das teorias para entenderem a realidade. Os historiadores mais sensatos preferem primeiro investigar os fatos: se o fazem com a ajuda das muletas mentais ou não, isso não afeta os fatos, desde que precisamente e honestamente expostos.

Em tempo: Darwin nunca teve nenhuma teoria racista; ele apenas andava atrás dos fatos, e só se angustiava com o fato desses fatos contradizerem o seu livro sagrado, daí a demora em expor a sua teoria da seleção natural. Só se decidiu pela ameaça de concorrente que chegou às mesmas conclusões por outras vias.

Quem construiu teorias equivocadas na sequência foram Gobineau e Spencer, dois acadêmicos equivocados, mas “convenientes” para os manipuladores que os seguiram, criando teorias estapafúrdias no seu seguimento. Rosenberg e Hitler, por exemplo, exageraram na dose, provocando uma das maiores tragédias, senão a maior, da Humanidade. Não eram teóricos, nem acadêmicos, mas seduziram muitos acadêmicos e jornalistas, assim como o populacho em geral.

Os fatos continuaram existindo, independentemente dos equívocos conceituais e das falcatruas monstruosas criadas em torno deles.

A teoria da seleção natural, aliás, continua subsistindo, a despeito da bestialidade do criacionismo, do desenho inteligente e de outras bobagens inventadas depois, que nem são coisas sustentáveis, de verdadeiros acadêmicos, e sim “produções” mambembes de fundamentalistas religiosos. 

Darwin morreu na sua religião, embora um pouco angustiado com a sua “descoberta” de fatos. Ele não os inventou; apenas expôs, com base na sua atenta observação da realidade.

De vez em quando é preciso colocar ordem na confusão mental.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 26/11/2020

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A diplomacia da estupidez se esmera em afundar o Brasil, moralmente e materialmente - embaixador Ricupero (Jovem Pan)

 Nota da embaixada chinesa é ‘gota que transbordou o copo’, diz ex-ministro da Fazenda

Para o diplomata Rubens Ricupero, posicionamento do país asiático deve ser entendido como uma grande divergência diplomática

Jovem Pan | 25/11/2020, 9h10

O posicionamento da embaixada chinesa após as acusações de espionagem feitas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, ao país, deve ser entendida como uma grande – e surpreendente – divergência. A avaliação é do diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero. O jurista destaca que não há, em sua longa experiência, episódios diplomáticos semelhantes ao acontecido e avalia as graves consequências que uma possível ruptura com o país asiático traria para a economia brasileira. “Deveria tomar muito a séria a advertência que cedo ou tarde a China vai reagir com alguma coisa forte. Se reagir com uma medida forte, o Brasil vai ficar muito mal, porque o que salva o balanço de pagamentos e o nosso comércio externo é a China. Exportamos 35% de tudo que vendemos para a China. A cada dólar que exportamos para os Estados Unidos, exportamos 3,4 dólares para os chineses. Então o governo está brincando com fogo”, avalia.

Rubens Ricupero afirma que não se trata de uma subserviência ao governo chinês, mas sim a manutenção de uma “relação normal de respeito mútuo”, como o Brasil adota com outros países. “Não me lembro que tivesse visto coisa semelhante, ela [nota da embaixada] é muito forte. Inclusive tem passagens até ameaçadoras. Acho que isso ocorreu como uma espécie de gota que transbordou o copo, porque o governo brasileiro, nos últimos meses, tem se esmerado em provocar a China. O governo Brasil faz questão, uma espécie de esporte, de hostilizar a China”, afirma. O diplomata aponta que as declarações feitas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro não, até mesmo, coisas “tolas”, mas analisa que, em contrapartida, os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro são graves. “Os insultos do Eduardo Bolsonaro são gratuitos, são até coisas tolas, mas o que o presidente faz, mas coisas que ele diz ou as ações que ele toma sobre a vacina [Coronavac], por exemplo, as declarações sobre a China e sobre o 5G vão acumulando um número grande de recriminações e queixas. E os chineses, que já foram muito humilhados pelos europeus, não muito suscetíveis e tem uma sensibilidade à flor da pele”, afirma, destacando que estes posicionamentos do governo frente ao país asiático são “consequências da estupidez”. “Não há outra palavra para explicar isso”, afirma.

A nota emitida pela embaixada da China nesta terça-feira, 23, foi publicada após Eduardo Bolsonaro, pelo Twitter, acusar Pequim de praticar espionagem. Na publicação na rede social, já apagada, o filho de Bolsonaro deu a entender que o Brasil seguiria o posicionamento de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de tentar proibir o avanço de empresas chinesas no mercado global do 5G. “O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Newtork (Rede Limpa), lançada pelo governo Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, afirmou, citando que o presidente brasileiro buscava “proteger seus participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas. Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”. No documento de 17 páginas, a embaixada afirma que a posição do deputado está na “contracorrente da opinião pública brasileira”, desrespeitando “os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia” e interferindo “na atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”. “Acreditamos que a sociedade brasileira, em geral, não endossa nem aceita esse tipo de postura. Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

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O valor da cooperação global - Editorial Estadão (O que fará agora, o chanceler acidental?)

 O valor da cooperação global

G-20 mostrou que Trump já é passado, e não só pela menção ao esforço global contra a pandemia.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo | 25/11/2020, 3h

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,o-valor-da-cooperacao-global,70003526920


O mais recente encontro do G-20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo, terminou com muitas incertezas acerca do combate à pandemia de covid-19 e dos devastadores efeitos econômicos por ela causados, mas ao menos serviu para recuperar a mensagem de que o mundo não superará a crise sem cooperação global.

“A inédita pandemia de covid-19 é uma poderosa lembrança de nossa interconectividade e de nossas vulnerabilidades”, diz a nota conjunta emitida ao final do encontro. E continua: “O vírus não respeita fronteiras. Combater essa pandemia demanda uma resposta transparente, robusta, coordenada, de larga escala e baseada na ciência, dentro do espírito de solidariedade. Estamos fortemente comprometidos em apresentar uma frente unida contra essa ameaça comum”.

Essa frente inclui a promessa de um esforço para fazer chegar a vacina aos países mais pobres, pois o grupo concluiu que não há como superar a crise causada pelo coronavírus sem que a doença esteja controlada em todo o mundo. Embora vago, esse compromisso é essencial e denota a conclusão, expressa pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, de que o desafio “só será vencido com um empenho global”.

O comunicado é chancelado por todos os chefes de Estado do G-20, inclusive Donald Trump, presidente dos EUA, e seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, ambos destacados líderes de um movimento irracional mundial destinado a minimizar a pandemia.

Se a assinatura de Bolsonaro vale o papel em que foi escrita, portanto, é lícito esperar que o presidente mude de atitude drasticamente e passe a entender a cooperação e a ciência como essenciais para enfrentar a crise. A esse respeito, o comunicado do G-20 é inequívoco: “Destacamos a urgente necessidade de controlar a disseminação do vírus, o que é a chave para a sustentação da recuperação da economia global”. Sendo assim, e ninguém de bom senso pode argumentar o contrário, Bolsonaro está obrigado a deixar imediatamente de lado sua campanha contra as medidas de prevenção destinadas a conter o coronavírus, a não ser que tenha assinado o comunicado sem o ter lido.

A participação de Bolsonaro na cúpula do G-20 não é por si mesma garantia de que o presidente compartilhe com seus colegas chefes de Estado o diagnóstico expresso no comunicado da reunião. Na sua vez de falar, o presidente brasileiro voltou a manifestar-se no conhecido tom defensivo e, como já se tornou habitual, esquivando-se de responsabilidades.

Depois, Bolsonaro faltou às sessões que discutiram a pandemia e as mudanças climáticas, os temas predominantes do mundo nos próximos anos, e não compareceu à sessão final. Seu mentor, Donald Trump, não foi muito melhor: fez apenas um discurso na abertura do encontro e foi jogar golfe.

De Trump não se esperava mesmo outra atitude, visto que se comportou dessa maneira desrespeitosa ao longo de todo o seu mandato e não seria agora, a semanas de deixar o cargo, que se emendaria. Mas Bolsonaro ainda tem dois longos anos de mandato pela frente, tempo mais que suficiente para ampliar ainda mais o isolamento brasileiro – agora sem o respaldo de um Trump derrotado pelas urnas.

A cúpula do G-20 mostrou que Trump já é passado, e não somente pela menção ao esforço global contra a pandemia. Além de enfatizar a necessidade de fortalecer a Organização Mundial da Saúde, tão vilipendiada por Trump e Bolsonaro, o grupo sublinhou que “o apoio ao sistema de comércio multilateral”, sabotado pelo atual governo norte-americano, “é hoje mais importante do que nunca”. Para completar, o G-20 reiterou os compromissos de proteção ao meio ambiente assumidos no Acordo de Paris, que Trump abandonou e Bolsonaro menosprezou.

Assim, soa cada vez mais caquética a campanha bolsonarista contra o “globalismo”, nome que o chanceler Ernesto Araújo dá ao multilateralismo, visto por ele como “estágio preparatório para o comunismo”. Como disse o premiê italiano, Giuseppe Conte, anfitrião do próximo encontro do G-20, “o multilateralismo não é uma opção”, mas sim “o único caminho sustentável” para o mundo.



Bolsonaro e a diplomacia da estupidez - Thomas Traumann (Veja)

 Bolsonaro e a diplomacia da estupidez

O Brasil briga com a China, com a União Europeia, com a Argentina e vai sentir o calor do novo governo Biden 

Thomas Traumann

Veja, 25/11/2020

https://veja.abril.com.br/blog/thomas-traumann/bolsonaro-e-a-diplomacia-da-estupidez/


Meu pai me contava que bastava uma lata de tinta para reconhecer um schmuck (idiota em ídiche). “Peça que ele pinte o chão de um quarto. O schmuck vai começar pela porta e, ao final, ficará preso em um canto cercado de tinta fresca por todos os lados”, dizia. A política externa brasileira é igualzinha ao estúpido da anedota. 

O governo da China parabenizou hoje o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, pela vitória, transformando o Brasil no único país que ainda acha que Donald Trump venceu a eleição de novembro. Não que isso tenha mais importância. Nesta semana, Biden indicou que o ex-veterano da guerra do Vietnã, ex-senador e ex-secretário de Estado John Kerry como seu czar do Meio Ambiente.  A função de Kerry será recolocar os Estados Unidos como signatário do Acordo Climático de Paris e incomodar os países que estão descumprindo a agenda mínima de proteção ambiental.  Ganha uma motosserra novinha quem adivinhar qual o primeiro país da lista de Kerry. 

Mas os Estados Unidos não são o único país do mundo. Tem a China. Na segunda-feira, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro postou um tuíte propagando que a China pretende usar a tecnologia 5G para espionar outros países. “Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, escreveu. A resposta da Embaixada China foi ameaçadora. “Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira e evitar ir longe demais no caminho equivocado tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, afirmou a embaixada. A China responde hoje por um terço das exportações brasileiras, sendo a maior compradora de ferro, soja e fundamental para o agro. 

Com a União Europeia, a relação é ainda pior. Jair Bolsonaro e Paulo Guedes já ofenderam a mulher do presidente da França, atacaram a Noruega e a Alemanha. A retórica de botequim da família Bolsonaro, Guedes e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, paralisou as conversas sobre o acordo comercial Mercosul-União Europeia, resultado de anos de tratativas dos diplomatas dos governos Lula, Dilma e Temer. 

Nem com os vizinhos a diplomacia da estupidez consegue conviver. Bolsonaro rompeu com a Argentina desde a eleição de Alberto Fernández, apoiou o golpe na Bolívia, atacou a ex-presidente do Chile e rompeu as pontes que faziam do Brasil um negociador para uma saída institucional para a Venezuela. O Brasil, que desde a volta da democracia era um ator relevante no cenário global, virou um pária. 

Em tese, o shmuck da anedota pode sair do quarto quando a tinta secar. Em tese ainda, na próxima vez ele pode começar a pintar pelos cantos e deixar a saída para o fim. Só em tese. É mais fácil Bolsonaro aumentar os ataques à China e piorar as relações com o mundo. Shmucks não aprendem.