Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
President
Ronald Reagan and Soviet leader Mikhail Gorbachev at a signing ceremony
for the Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty in the White House on
Dec. 8, 1987. (Barry Thumma/AP)
By Mikhail Gorbachev
The Washington Post, October 11 at 11:00 AM
Mikhail Gorbachev was leader of the Soviet Union from 1985 to 1991.
This December will mark the 30th anniversary of the signing of the treaty
between the Soviet Union and United States on the elimination of
intermediate- and shorter-range missiles. This was the start of the
process of radically cutting back nuclear arsenals, which was continued
with the 1991 and 2010 strategic arms reduction treaties and the agreements reducing tactical nuclear weapons.
The scale of the process launched in 1987 is evidenced by the fact that, as Russia and the United States reported to the Non-Proliferation Treaty Review Conference
in 2015, 80 percent of the nuclear weapons accumulated during the Cold
War have been decommissioned and destroyed. Another important fact is
that, despite the recent serious deterioration in bilateral relations,
both sides have been complying with the strategic weapons agreements.
The Intermediate-Range Nuclear Forces (INF) Treaty, however, is now in jeopardy.
It has proved to be the most vulnerable link in the system of limiting
and reducing weapons of mass destruction. There have been calls on both
sides for scrapping the agreement.
So what is happening, what is the problem, and what needs to be done?
Both
sides have raised issues of compliance, accusing the other of violating
or circumventing the treaty’s key provisions. From the sidelines,
lacking fuller information, it is difficult to evaluate those
accusations. But one thing is clear: The problem has a political as well
as a technical aspect. It is up to the political leaders to take
action.
Therefore I am making an appeal to the presidents of Russia and the United States.
Relations
between the two nations are in a severe crisis. A way out must be
sought, and there is one well-tested means available for accomplishing
this: a dialogue based on mutual respect.
It will not be easy to
cut through the logjam of issues on both sides. But neither was our
dialogue easy three decades ago. It had its critics and detractors, who
tried to derail it.
In the final analysis, it was the political
will of the two nations’ leaders that proved decisive. And that is
what’s needed now. This is what our two countries’ citizens and people
everywhere expect from the presidents of Russia and the United States.
I
call upon Russia and the United States to prepare and hold a full-scale
summit on the entire range of issues. It is far from normal that the
presidents of major nuclear powers meet merely “on the margins” of international gatherings. I hope that the process of preparing a proper summit is in the works even now.
I
believe that the summit meeting should focus on the problems of
reducing nuclear weapons and strengthening strategic stability. For
should the system of nuclear arms control collapse, as may well happen
if the INF Treaty is scrapped, the consequences, both direct and
indirect, will be disastrous.
The closer that nuclear weapons are
deployed to borders, the more dangerous they are: There is less time
for a decision and greater risk of catastrophic error. And what will
happen to the Nuclear Non-Proliferation Treaty if the nuclear arms race
begins anew? I am afraid it will be ruined.
If, however, the INF
Treaty is saved, it will send a powerful signal to the world that the
two biggest nuclear powers are aware of their responsibility and take
their obligations seriously. Everyone will breathe a sigh of relief, and
relations between Russia and the United States will finally get off the
ground again.
I
am confident that preparing a joint presidential statement on the two
nations’ commitment to the INF Treaty is a realistic goal.
Simultaneously, the technical issues could be resolved; for this
purpose, the joint control commission under the INF Treaty could resume
its work. I am convinced that, with an impetus from the two presidents,
the generals and diplomats would be able to reach agreement.
We
are living in a troubled world. It is particularly disturbing that
relations between the major nuclear powers, Russia and the United
States, have become a serious source of tensions and a hostage to
domestic politics. It is time to return to sanity. I am sure that even
inveterate opponents of normalizing U.S.-Russian relations will not dare
object to the two presidents. These critics have no arguments on their
side, for the very fact that the INF Treaty has been in effect for 30
years proves that it serves the security interests of our two countries
and of the world.
In any undertaking, it is important to take the
first step. In 1987, the first step in the difficult but vitally
important process of ridding the world of nuclear weapons was the INF
Treaty. Today, we face a dual challenge of preventing the collapse of
the system of nuclear agreements and reversing the downward spiral in
U.S.-Russian relations. It is time to take the first step.
SÃO PAULO - O trabalho "A desigualdade vista do topo: a concentração de renda entre os ricos no Brasil, 1926-2013", publicado em 2016 pelo pesquisador Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, venceu o prêmio Capes 2017 de melhor tese de doutorado em sociologia.
Souza é doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em desigualdade e pobreza. No trabalho, orientado por Marcelo Medeiros, também do Ipea, Souza elaborou a série mais longa disponível até hoje sobre qual é a fatia da renda nacional apropriada pelo topo mais rico ao longo da história.
"É um prêmio muito importante. E o trabalho também. A pesquisa do Pedro é mais do que um estudo sobre desigualdade, ela conta a história da economia brasileira sob uma perspectiva nova, a da concentração da renda ao longo do tempo", afirmou Marcelo Medeiros.
Os cálculos de Souza já indicavam, no ano passado, que em 2013, da renda total do país, 51,5% ficavam nas mãos dos 10% mais ricos, ante 49,4% em 2000. A fatia do 1% mais rico (com renda média de R$ 635 mil por ano, ou R$ 53 mil por mês) também permaneceu elevada, nos cálculos de Souza: era de 22,2% e passou a 22,9% em 2013. "Houve mais uma redistribuição, digamos assim, entre os 80% mais pobres, e não dos mais ricos para os mais pobres", diz Souza.
Souza, junto com seus colegas de Ipea Fábio Castro e Marcelo Medeiros, foi autor dos trabalhos pioneiros, no Brasil, com uso de dados do Imposto de Renda para calcular desigualdade social. Informações sobre o IR começaram a ser divulgadas regularmente e em detalhes pela Receita Federal em 2014.
A metodologia, que ganhou visibilidade nos trabalhos do francês Thomas Piketty, ameniza um problema observado nas pesquisas domiciliares de renda no mundo todo, baseadas em entrevistas de uma amostra de famílias, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE: elas captam mal as rendas mais altas, que acabam subestimadas. No IR, a obrigação legal da declaração torna a amostra mais abrangente e realista.
Leia as reportagens que o Valor já publicou a respeito do trabalho acadêmico de Souza:
“Foi duro dar a ordem para eliminar o Che”
EL PAÍS, 9/10/207
O agente cubano da CIA que participou da captura de Che Guevara na Bolívia, Félix Rodríguez, recebe a reportagem aos seus 76 anos em sua casa de Miami rodeado de recordações de sua carreira de soldado da Guerra Fria. Pistolas, punhais, granadas e fotografias suas com presidentes dos EUA e espiões que já não existem. A produtora espanhola Scenic Rights prepara um documentário sobre sua vida. Veterano do Vietnã e envolvido no combate à insurgência na América Central, Rodríguez afirma que a CIA queria o guerrilheiro vivo para interrogá-lo, mas o Governo da Bolívia ordenou a sua execução. “Tentei salvá-lo, sem sucesso”, diz, apesar de considerar Ernesto Guevara de la Serna “um assassino”. Ao lado, em uma mesinha, tem uma velha pistola Star de fabricação espanhola. “Cuidado se pegar, está carregada. Eu sempre tenho algo por perto, caso necessário”, diz o homem que aparece com ares de satisfação à direita de Che em sua última foto – esfarrapado, de pé – antes de ser executado por um sargento boliviano.
–Essa é sua última imagem vivo.
–Sim –responde–. A última tirada antes de ele morrer.
–Em La Higuera.
–Exato. Em La Higuera.
–Quem tirou a foto?
–A foto foi tirada pelo piloto do helicóptero, o major boliviano Jaime Niño de Guzmán.
–Quem pediu para a foto ser tirada e para que?
Rodríguez, codinome El Gato em seus tempos de operações especiais, precisa entrar em detalhes para responder a esta pergunta. Retornar em sua memória à Bolívia no ano de 1967 e contar aquilo detalhadamente. “Me deixe contar a história”, diz.
Durante 20 minutos, pega o fio e o estende do momento em que o avisam da queda de Guevara até uma câmera retratar seu último olhar.
O monólogo –abreviado– diz assim:
“Nós recebemos a informação da captura do Che no domingo oito de outubro pela manhã. Um grupo de jovens soldadinhos que falavam quéchua, aymara e guarani foi treinado para ir na vanguarda do batalhão para recolher informações e inteligência em roupas civis, porque assim era mais fácil falar com os camponeses. E essas pessoas em roupas civis retornam às sete da noite, no sábado, e dão a informação ao capitão Gary Prado de que um camponês lhes mostrou uma área chamada La Quebrada del Yuro onde estavam escondidos os guerrilheiros; porque esse camponês tinha uma plantação bem perto dali e os viu.
Então, com essa informação o capitão Gary Prado cerca a Quebrada del Yuro às sete da noite. E no domingo oito de outubro começa a avançar de manhã e aí começa o tiroteio. Nessa operação o Che é ferido na perna esquerda, um tiro entre o joelho e o tornozelo, mas nada muito sério. Lá morre a maior parte dos guerrilheiros e morrem alguns soldados, e é onde cai preso Che Guevara, que estava sendo auxiliado para tentar escapar por Simeón Cuba Sarabia, codinome Willy, um guerrilheiro boliviano baixinho, moreninho, com uma barba enorme, acho que uma barba maior do que a dos próprios cubanos, e esse não tinha um arranhão. Che é preso com ele. E no momento em que vão prendê-lo, os soldadinhos me contam, Che diz: “Não atirem que sou o Che. Eu valho mais vivo do que morto para vocês”. E então o levam e o mandam à escolinha de La Higuera e o colocam – olhando a escolinha de frente – na sala da esquerda, e atrás dele, no mesmo quartinho, colocam os cadáveres dos cubanos.
Aí então eles me mandam a informação de manhã em código, que dizia: “Papai cansado”, o que significava que o líder da guerrilha estava preso e vivo. Mas não sabíamos se “Papai” era Che Guevara ou se era Inti Peredo, que era o líder da guerrilha do lado boliviano. De modo que voamos à área de operações e verificamos que “Papai cansado” era Che Guevara.
O estrangeiro. Não disseram o Che, disseram “o estrangeiro".
Essa noite tivemos uma recepção em um hotelzinho de Vallegrande, com velas porque não havia eletricidade, e eu peguei duas garrafas de scotch que havia comprado havia tempos para um evento como este, para comemorar. Isso era na noite de domingo, o dia em que ele foi preso.
No dia seguinte, nove de outubro, às sete da manhã decolamos em um pequeno helicóptero pilotado por Niño de Guzmán. Aterrissamos ao lado da escolinha onde Che estava preso e estavam nos esperando todos os oficiais do batalhão, entre eles o tenente coronel Selich que estava com toda sua documentação. Che usava uma bolsa de couro como as que as mulheres carregam, grande, de cor clara, e dentro tinha um livro grande que era um diário com os meses escritos em alemão, de 67, mas claro, escrito por ele em espanhol. Dentro tinha uma série de fotografias da família, medicamentos para a asma, livrinhos para mensagens em código numérico de uma só via, que são impossíveis de se decifrar. Tinha alguns caderninhos negros de espiral escritos à máquina de escrever e assinados por um tal Ariel, que eram as mensagens que ele recebia de Cuba. Mas ele não podia transmitir a Cuba porque Cuba lhe deu para isso um transmissor quebrado, porque ele foi enviado para lá para ser morto. Porque Che era pró-China e Cuba dependida da URSS. Ou seja, os soviéticos não tinham nenhum interesse no sucesso de Che Guevara na Bolívia. Foi deixado só, para que o matassem ali, definitivamente.
Então entramos na escolinha e em uma sala estava o Che jogado no chão, com as mãos e os pés amarrados embaixo de uma janela que havia ao lado da porta, e atrás os dois cadáveres. O único que falou foi o coronel Centeno Anaya. Fazia perguntas, mas o Che olhava para ele e não respondia nada. Nem falou com ele. A tal ponto que o coronel disse: “Escuta, você é um estrangeiro, invadiu meu país. Pelo menos poderia ter a cortesia de responder”. Nada.
Aí pergunto ao coronel se pode me fornecer a documentação do Che para fotografá-la para meu Governo e ele dá ordem ao tenente-coronel Selich que entregue tudo para mim. Ele me entrega aquela carteira de couro e vou trabalhar com a documentação em outro lugar. Ia fotografando o diário e voltava para falar com o Che. Entrava e saía constantemente, de manhã até a uma da tarde. Quando estava fazendo isso toca o telefone e um dos soldados me diz: “Meu capitão, uma ligação”. Vou até o telefone e me dão “ordens superiores: 500–600”. Era um código muito simples que tínhamos estipulado.
500 era o Che Guevara.
600, morto.
700, mantê-lo vivo.
Peço que repitam. Voltam a confirmar.
“Ordens do Alto Comando: 500–600”.
Quando Centeno Anaya chega, eu o chamo de lado e digo: “Coronel, chegaram instruções do seu Governo para eliminar o prisioneiro. As do meu Governo são de tentar salvar a vida dele e temos helicópteros e aviões para levá-lo ao Panamá para um interrogatório”. Ele responde: “Olha, Félix, as ordens são do Presidente e do Comandante das Forças Armadas”. Olhou para o relógio e disse: “Você tem até as duas da tarde para interrogá-lo. E às duas horas você pode executá-lo da maneira que quiser porque sabemos o dano que fez para seu país. Mas eu quero que você, às duas da tarde, me traga o cadáver do Che Guevara”. Eu respondi: “Coronel, tentei que o senhor mudasse de idéia, mas se não chegar uma contraordem dou minha palavra de homem que vou entregar o cadáver do Che”.
Mais tarde, ao falar com o Che, vem o piloto Niño de Guzmán com uma câmera Pentax do chefe de Inteligência. “Meu capitão, o major Saucedo quer uma foto com o prisioneiro”. Olho para o Che e digo: “Comandante, você se importa?”. Ele disse: “Não me importo”. Então caminhamos. Ele andava com dificuldade pela bala na perna esquerda. Saímos da escolinha e foi aí que paramos para fazer aquela foto. Eu dou minha própria câmera ao piloto e digo ao Che: “Comandante, olhe o passarinho”. Ele começou a rir, porque é o que falamos em Cuba para as crianças.
“Criança, olhe o passarinho”.
Na verdade, acho que ele estava rindo no momento em que a foto foi batida. Mas, obviamente, mudou para esta expressão que você vê agora. Eu usava o uniforme das tropas especiais dos EUA, mas sem nenhuma insígnia. Eu tinha aí 26 anos. Ele, 39. Parecia um mendigo. As roupas estavam surradas, sujas. Não tinha botas, eram uns pedaços de couro amarrados nos pés. O cabelo ensebado. Realmente, às vezes eu estava falando com ele e não prestava atenção ao que estava dizendo, porque nunca o tinha visto pessoalmente, mas me lembrava das imagens do Che quando visitou Moscou, quando estava com os russos ou quando visitou Mao Zedong em Pequim. Aquele homem arrogante, com aqueles casacos bonitos. E ver este homem agora como um cara que estava pedindo esmola. Dava pena.
- Qual foi para você o maior defeito e a maior virtude do Che?
- Virtude acho que não tinha nenhuma. O que posso dizer é que o homem era dedicado aos seus ideais, que obviamente estavam errados e foram um desastre total. E que nos próprios treinamentos, me disse gente que treinou com ele, era muito persistente. Estava cansado, morto e tentava continuar. Não desistia. Mas, por outro lado, foi um assassino que gostava de matar pessoas e estava cheio de ódio pelo inimigo. Uma pessoa que mandou fuzilar milhares de cubanos.
- A captura dele foi a maior conquista de sua carreira?
- Uma das principais, embora seja a que ficou mais famosa.
- Existe alguma operação que não gosta de se lembrar?
- Possivelmente o episódio mais duro foi precisamente quando tive que comunicar a ordem, de parte do Governo boliviano, para que eliminassem o Che. Embora também tenha pensado no desastre causado em minha pátria no momento em que deixaram Fidel Castro em liberdade.
- Comunicou a ordem na frente de Guevara?
- Não, eu recebo a comunicação e depois entro na sala, paro na frente dele e digo: “Comandante, sinto muito, é uma ordem superior”. E ele entendeu perfeitamente o que eu estava dizendo.
- O que ele disse?
- “É melhor assim. Eu nunca deveria ter caído prisioneiro vivo”. Então tirou o cachimbo e disse: “Quero dar este cachimbo a um soldado boliviano que se portou bem comigo”. Guardei o cachimbo e perguntei: “Quer algo para sua família?”. E ele me respondeu, diria que de forma sarcástica: “Bem, se puder diga a Fidel que logo verá uma revolução triunfante na América”. Eu interpreto como se tivesse dito a Fidel: “Você me abandonou, mas isso vai triunfar de qualquer maneira”. Depois mudou de expressão e disse: “Se puder, diga para a minha mulher se casar de novo e tentar ser feliz”. Essas foram suas últimas palavras. Ele se aproximou de mim, apertamos as mãos, demos um abraço, ele deu uns passos para trás e ficou parado pensando que era eu que ia matá-lo.
- O que aconteceu com o cachimbo?
- Olha, foi uma das coisas que me arrependo. Tirei o tabaco e guardei. Inclusive na culatra de um dos revólveres que uso tenho parte do fumo da última vez que ele usou, enfiada em um vidrinho. Depois veio o sargento Mario Terán dizendo: “Meu capitão, quero o cachimbo! Eu o matei, eu mereço!”. E eu, que por dentro, não queria ter que cumprir um desejo dele, sabendo tudo que tinha feito com a minha pátria, peguei o cachimbo e dei ao sargento: “Tome, para que se lembre do seu feito” [diz com tom de rechaço]. Pegou o cachimbo, abaixou a cabeça e foi embora.
- O que mais chamou sua atenção quando viu o Che?
- Ver um homem tão destruído.
- O que sentiu ao falar com ele?
- Naquele momento, honestamente, não tinha percepção do que estava acontecendo, a magnitude que tinha aquela operação. Para mim, era mais uma operação. Para mim, o Che Guevara não era grande coisa, não era a figura que Cuba depois fabricou.
- Ficou surpreso com algo que ele disse?
- Toda vez que eu fazia perguntas de interesse tático para nós, ele respondia: “Você sabe que não posso responder isso”. Por outro lado, houve um momento em que começamos a falar sobre a economia cubana, e ele começou a culpar o embargo americano por tudo. Disse a ele: “Comandante, você foi presidente do Banco da Nação e nem era economista” Então, ele respondeu: “Você sabe como cheguei a presidente do Banco?”. E me conta: “Um dia entendi que Fidel estava pedindo um comunista dedicado e levantei minha mão. Mas estava pedindo um economista dedicado”.
- Presenciou a execução dele?
- Não. Não tinha nenhum interesse em ver aquilo. Fui para outro lugar e me sentei em um banquinho a uns cem metros para tomar notas. Ouvi uma rajada curta e anotei: uma e quinze da tarde. A hora exata em que foi executado.
Em 06/09/17 o Banco Central divulgou a nova taxa SELIC em 8,25% ao ano e a estupidez coletiva brasileira não consegue explicar o motivo pelo qual as taxas de mercado do crédito livre no mês de agosto de 2017 estavam em média a 36,7% ao ano, ou seja: 4,45 vezes maiores. Ficando a impressão de que os bancos são os ladrões dessa fortuna, quando na verdade é o próprio governo.
A aberração do depósito compulsório no Brasil
Ricardo Bergamini
Premissas básicas com base na média do ano de 2016:
1 – Custo de carregamento da dívida interna da União: 13,00% ao ano (Fonte: Ministério da Fazenda)
2 – Percentual do depósito compulsório total (remunerado e sem remuneração): 78,12% (Fonte Banco Central).
A - Se um banco tivesse a quantia de 100 dinheiros disponíveis para aplicação ele teria duas opções:
A.1 - Comprar títulos do governo federal, nesse caso seria isento do depósito compulsório e receberia no final de um ano 13,00% de 100 dinheiros, ou seja: 13,00 dinheiros.
A.2 - Emprestar ao público (empresas e famílias), nesse caso o banco teria que recolher ao Banco Central 78,12% dos 100 dinheiros disponíveis, ou seja: 78,12 dinheiros, ficando com apenas 21,88 dinheiros para emprestar.
Para obter o mesmo ganho que teria na aplicação de títulos públicos de 13,00 dinheiros no ano, o banco teria que empresta os 21,88 dinheiros restantes a uma taxa correspondente a 4,57 maiores do que a taxa de aplicação nos títulos públicos de 13,00% ao ano, nesse caso seria a uma taxa de 59,41% ao ano.
Resumo do exemplo hipotético:
I - Aplicação em títulos federais - 100 dinheiros a 13,00% ao ano daria um rendimento de 13,00 dinheiros em um ano.
II – Aplicação de 21,88 dinheiros a uma taxa de 59,41% ao ano daria um rendimento de 13,00 dinheiros em um ano.
Conclusão:
Em vista do acima demonstrado, se a taxa SELIC no Brasil tivesse sido em 2016 iguais a dos Estados Unidos de 1,00% ao ano, apenas pelo efeito do depósito compulsório, o custo médio dos juros de mercado teria sido de 4,57% ao ano.
Spread Bancário
É composto das seguintes despesas: administrativa, inadimplência, custo com depósito compulsório sem remuneração, tributos, impostos, taxas e lucro.
O percentual varia em função de cada tipo de operação, bem como de banco para banco.
Nota: Cabe lembrar que, como na nossa análise não consideramos que alguns depósitos compulsórios são remunerados, é óbvio que há uma pequena divergência entre a taxa apurada no estudo (59,41% ao ano) e a taxa oficial apurada pelo Banco Central para os créditos livres que foi de 52,00% ao ano em 2016.
Recebi hoje as provas dos dois volumes que preparamos, Rogério de Souza Farias e eu, com as obras mais importantes do grande estadista brasileiro de origem gaúcha. Em uma semana vão estar disponíveis na Biblioteca Digital da Funag.
Por enquanto, limitei-me a postar as capas, a registrar os meus textos nestes dois volumes e transcrever o sumário geral da obra:
1267. “O chanceler no conflito global
(1939-1945)”, Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério
de Souza Farias (organizadores), Oswaldo
Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 1o.
volume; ISBN: 978-85-7631-696-1, pp. 197-233. Relação de Originais n. 3160.
1268. “O estadista
econômico”, in: Sérgio Eduardo
Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias
(organizadores), Oswaldo Aranha: um
estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 2o. volume; ISBN: 978-85-7631-697-8,
pp. 569-599. Relação de Originais n. 3161.
1269. “O estadista
político”, in: Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério
de Souza Farias (organizadores), Oswaldo
Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 2o.
volume; ISBN: 978-85-7631-697-8, pp. 745-759. Relação de Originais n. 3162.
Oswaldo Aranha: um
estadista brasileiro
Sérgio Eduardo Moreira Lima,
Paulo Roberto de Almeida e
Rogério de Souza Farias
(organizadores)
Brasília: Funag, 2017, 2 volumes
1o. volume; ISBN: 978-85-7631-696-1
2o. volume; ISBN: 978-85-7631-697-8
Sumário
volume 1
Prefácio. Oswaldo Aranha: diplomata e estadista
Sérgio
E. Moreira Lima
Cronologia
Oswaldo
Aranha: the evolution of his strategic vision
Stanley Hilton
Parte
I: Diplomacia hemisférica
(1934-1939)
Introdução geral
Rogério de Souza Farias
O homem de virtù.
Oswaldo Aranha em Washington (1934-1937)
Carlos Leopoldo G. de Oliveira
Textos
Oswaldo Aranha
Entre a Europa e a
América (1934)
A chegada nos Estados
Unidos (1934)
Um elogio à
civilização americana (1936)
Limite, fronteira e
paz (1937)
Retorno da Embaixada
em Washington (1937)
Posse no Ministério
das Relações Exteriores (1938)
Paz para a
América: assinatura da paz do Chaco (1938)
A vulnerabilidade
das Américas (1939)
Pan-americanismo
(1939)
Retorno da Missão
aos Estados Unidos (1939)
Avaliação da Missão
Aranha (1939)
ReassumindoItamaraty (1939)
Parte
II: O chanceler no conflito global
(1939-1945)
Introdução
Paulo Roberto de Almeida
Oswaldo Aranha e os refugiados judeus
Fábio Koifman
Textos
Oswaldo Aranha
Fronteiras e
limites: a política do Brasil (1939)
A preparação para a
guerra (1939)
Conferência sobre a
história diplomática brasileira (1940)
Reunião de
consulta dos chanceleres americanos (1942)
O papel do
Itamaraty na política do Brasil (1942)
O torpedeamento de
navios brasileiros (1942)
O Brasil e a
comunidade britânica (1942)
A carta a Vargas:
planejando o pós-guerra (1943)
A América no cenário
internacional (1943)
Um ano da entrada
do Brasil na guerra (1943)
A Sociedade dos
Amigos da América (1945)
Comício das quatro
liberdades (1945)
Liga da Defesa
Nacional (1945)
Parte
III - Multilateralismo e pós-guerra
(1947-1958)
Introdução
Rogério de Souza Farias
Textos
Oswaldo Aranha
A conception of world order (1947)
Homenagem nas
Nações Unidas (1947)
A profile of Brazil
(1947)
Sessão Especial da
ONU: Partilha da Palestina (1947)
Abertura da II Assembleia
Geral da ONU (1947)
A new order through the United Nations (1947)
A crise da consciência
universal (1948)
Regional systems and the future of UN (1948)
A ONU e a nova
ordem mundial (1948)
Entre a paz e a
guerra (1949)
Formatura no
Instituto Rio Branco (1950)
O Brasil e o
pós-guerra (1950)
Estados Unidos e
Brasil na Guerra Fria (1953)
A última missão na
ONU (1957)
Um balanço da Assembleia
Geral da ONU (1957)
Dez anos nas Nações
Unidas (1957)
Reatamento das
relações com a União Soviética (1958)
Discurso na ESG: o
bloco soviético (1958)
volume2
Parte IV - O estadista
econômico
Introdução
Paulo Roberto de Almeida
Textos
Oswaldo Aranha
Renegociação da
dívida externa (1934)
Nacionalismo econômico
na Constituinte (1934)
Comparando as
economias do Brasil e dos Estados Unidos (1936)
Soluções nacionais
para os problemas de cada país (1937)
Tratado de
integração econômica Brasil-Argentina (1941)
The rise of
interdependence (1947)
De volta ao Ministério
da Fazenda (1953)
A situação
financeira e econômica do país (1953)
O parlamento e as
finanças (1953)
Os fundamentos do
Plano Aranha (1953)
O problema da
dívida brasileira (1954)
O café e o Brasil
(1954)
Parte V - O estadista político
Introdução
Paulo Roberto de Almeida
Textos
Oswaldo Aranha
A Revolução (1930)
Despedida do Ministério
da Justiça (1931)
Roosevelt: o único
estadista mundial (1945)
A relevância de Rui
Barbosa (1945)
Democracia, Estado
Novo e relações internacionais (1945)
Transcrevo o texto, já postado neste espaço, para melhor leitura dos interessados:
Construindo a nação pelos seus diplomatas: o paradigma
Ricupero
Paulo Roberto de Almeida
Em meados do século XX,
os candidatos à carreira diplomática tinham uma única obra para estudar a
política externa brasileira: a de Pandiá Calógeras, publicada em torno de 1930,
equivocadamente intitulada A Política
Exterior do Império, quando partia, na verdade, da Idade Média portuguesa e
chegava apenas até a queda de Rosas, em 1852. Trinta anos depois, os candidatos
passaram a se preparar pelo livro de Carlos Delgado de Carvalho, História Diplomática do Brasil,
publicado uma única vez em 1959 e durante muitos anos desaparecido das
livrarias e bibliotecas. No início dos anos 1990, passou a ocupar o seu lugar o
livro História da Política Exterior do
Brasil, da dupla Amado Cervo e Clodoaldo Bueno. Finalmente, a partir de
agora uma nova obra já nasce clássica: A
Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal,
2017, 780 p.), do embaixador Rubens Ricupero, ministro da Fazenda quando da
introdução do Real, secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o
Comércio e Desenvolvimento nos anos 1990, atualmente aposentado.
O imenso trabalho não é
uma simples história diplomática, mas sim uma história do Brasil e uma reflexão
sobre seu processo de desenvolvimento tal como influenciado, e em vários
episódios determinado, por diplomatas que se confundem com estadistas, aliás desde
antes da independência, uma vez que a obra parte da Restauração (1680), ainda
antes primeira configuração da futura nação por um diplomata brasileiro a
serviço do rei português: Alexandre de Gusmão, principal negociador do Tratado
de Madri (1750). Desde então, diplomatas nunca deixaram de figurar entre os
pais fundadores do país independente, entre os construtores do Estado, entre os
defensores dos interesses no entorno regional, como o Visconde do Rio Branco, e
entre os definidores de suas fronteiras atuais, como o seu filho, o Barão, já
objeto de obras anteriores de Ricupero.
O Barão do Rio Branco,
aliás, é um dos poucos brasileiros a ter figurado em cédulas de quase todos os
regimes monetários do Brasil, e um dos raros diplomatas do mundo a se tornar
herói nacional ainda em vida. Ricupero conhece como poucos outros diplomatas,
historiadores ou pesquisadores acadêmicos a história diplomática do Brasil, as
relações regionais e o contexto internacional do mundo ocidental desde o início
da era moderna, professor que foi, durante anos, no Instituto Rio Branco e no
curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Formou gerações
de diplomatas e de candidatos à carreira, assim como assessorou ministros e
presidentes desde o início dos anos 1960, quando foi o orador de sua turma, na
presidência Jânio Quadros.
Uma simples mirada pelo
sumário da obra confirma a amplitude da análise: são dezenas de capítulos,
vários com múltiplas seções, em onze grandes partes ordenadas cronologicamente,
de 1680 a 2016, mais uma introdução e uma décima-segunda parte sobre a
diplomacia brasileira em perspectiva histórica. Um posfácio, atualíssimo, vem
datado de 26 de julho de 2017, no qual ele confessa que escrever o livro foi
“quase um exame de consciência... que recolhe experiências e reflexões de uma existência”
(p. 744). Ricupero concluiu o texto principal pouco depois do impeachment da
presidente que produziu a maior recessão da história do Brasil, e o fecho
definitivo quando uma nova crise “ameaça engolir” o seu sucessor. O núcleo
central da obra é composto por uma análise, profundamente embasada no
conhecimento da história, dos grandes episódios que marcaram a construção da
nação pela ação do seu corpo de diplomatas e dos estadistas que serviram ao
Estado nessa vertente da mais importante política pública cujo itinerário – à
diferença das políticas econômicas ou das educacionais – pode ser considerado como
plenamente exitoso.
A diplomacia brasileira
começou por ser portuguesa, mas se metamorfoseou em brasileira pouco depois, e
a ruptura entre uma e outra deu-se na superação da aliança inglesa, que era a
base da política defensiva de Portugal no grande concerto europeu. Já na Regência
existe uma “busca da afirmação da autonomia” (p. 703), conceito que veio a ser
retomado numa fase recente da política externa, mas que Ricupero demonstra
existir embebido na boa política exterior do Império. A construção dos valores
da diplomacia do Brasil se dá nessa época, seguido pela confiança no Direito
como construtor da paz, o princípio maior seguido pelo Barão do Rio Branco em
sua diplomacia de equilíbrio entre as grandes potências da sua época. Vem também
do Barão a noção de que uma chancelaria de qualidade superior devia estar
focada na “produção de conhecimento, a ser extraído dos arquivos, das
bibliotecas, do estudo dos mapas” (p. 710). Esse contato persistente, constante,
apaixonante pela história, constitui, aliás, um traço que Ricupero partilha com
o Barão, o seu modelo de diplomata exemplar, objeto de uma fotobiografia que
ele compôs com seu antigo chefe, o embaixador João Hermes Pereira de Araujo,
com quem ele construiu o Pacto Amazônico, completando assim o arco da
cooperação regional sul-americana iniciada por Rio Branco setenta anos antes.
O livro não é, como já
se disse, uma simples história diplomática, mas sim um grande panorama de mais
de três séculos da história brasileira, uma vez que nele, como diz Ricupero,
“tentou-se jamais separar a narrativa da evolução da política externa da
História com maiúscula, envolvente e global, política, social, econômica. A
diplomacia em geral fez sua parte e até não se saiu mal em comparação a alguns
outros setores. Chegou-se, porém, ao ponto extremo em que não mais é possível
que um setor possa continuar a construir, se outros elementos mais poderosos,
como o sistema político, comprazem-se em demolir. A partir de agora, mais ainda
que no passado, a construção do Brasil terá de ser integral, e a contribuição
da diplomacia na edificação dependerá da regeneração do todo” (p. 738-9). O
paradigma diplomático já foi oferecido nesta obra; falta construir o da nação.
Simon Schama
is erudite to the point of self-parody. A conversation with him will
range across continents and epochs at breakneck speed, the references to
kings, painters, writers and scholars coming so fast that just as
you’ve placed one, another has taken its place. When we meet, in the
Academicians’ Room at the Royal Academy – the closest the New York-based
Schama has to a London club – we have barely sat down before he has
recommended The Five, a novel by Vladimir Jabotinsky,
the intellectual godfather of Likud-style “revisionist” Zionism who
died in 1940 (“It’s frighteningly good. It’s strangely
sub-Dostoevskian”) and offered a description of the architecture visible
in the demilitarised zone that separates North and South Korea
(“pseudo-Mussolini, neoclassical, colossalist columns”).
Such range befits the university professor of art history and history
at Columbia University, who also writes for the Financial Times and is a
frequent contributor to Question Time,
the man who has made more than 40 TV documentaries and is the face of
three landmark BBC series, each aiming to tell the definitive television
history of, respectively, Britain, art and the Jews.
He was in Prague this week, filming Civilisations,
the long-awaited successor to the Kenneth Clark series still regarded
as a milestone in TV history. That is due to air in early 2018, with
Schama fronting five of the nine programmes (Mary Beard and David Olusoga will present two each). But although The Story of the Jews
was broadcast in 2013, that project is also ongoing. The original
commission to write a single, stand-alone companion to the TV series has
ballooned into something much bigger: this week the second instalment
of what will be a three-volume survey of 3,000 years of Jewish history
will be published. Belonging: The Story of the Jews 1492-1900 is a magnificent
achievement, shortlisted yesterday for the Baillie Gifford prize for
non-fiction. It is an 800-page parade of bustlingly vital characters
from across the globe, assorted scholars and charlatans, rabbis and
impresarios, mystics and mavericks, all painted in luminous colour. We
meet Leone de Sommi Portaleone of Mantua, a 16th-century
actor-manager-impresario in the Donald Wolfit mould,
thought to be the author of the first book of stagecraft, whom Schama
anoints as “the first unapologetically Jewish showman we know anything
about”. We are introduced to Daniel Mendoza, the prizefighter who was
the champion of England in the 1790s, and to Captain Uriah Levy, who
became the owner of Monticello, the derelict home of Thomas Jefferson,
and who spent the 1840s fighting a lonely campaign to end flogging as
the punishment of choice in the US navy.
Advertisement
As
befits a historian of the visual arts, Schama’s eye is drawn again and
again to colour. In 19th-century Poland, we learn that “Jews thronged
the marketplace, smoking, gossiping and dispatching lads and girls out
to sleeve-tug passing custom … The market women of Galicia, wives and
grandmothers, presided over their shops and stalls in black velvet
‘coronets’ coiled at the brim with ropes of glittering crystals and faux
pearls.” Clothes are a particular interest, as is furniture and food.
(Schama is a serious cook.) If our mouth isn’t watering at the “pigeon
dainties baked in rose water and sugar” served along with “goose livers
chopped with Corinth raisins” in Galata, across the Golden Horn from
Constantinople in the 16th century, then we are gazing at the dandyish Theodor Herzl, founder of modern political Zionism, as he pulls on a pair of “‘delicate’ grey gloves” for his meeting with Kaiser Wilhelm.
For anyone raised on traditional Jewish histories, especially those
of the textbook variety, this is a radical departure. In place of
abstractions and –isms, Schama uses individual tales, often drawn from
surviving memoirs and autobiographies, to point to the larger eddies and
currents that swirled in the Jewish world. The great intellectual
movements – Kabbalah, Hassidism, the Enlightenment, communism or early
Zionism – are all here. But they are rooted in the stories of real human
beings, who work and love and mourn and die like anyone else.
This goes deeper than a mere matter of narrative style. By offering
such a throbbing cavalcade of characters, Schama is defying several key
assumptions, even stereotypes, about Jewish history and Jews themselves.
For one thing, his is painstakingly a story of the whole Jewish world
rather than just the Ashkenazi or European end of it that dominates most
scholarship. Belonging takes us to Turkey, to Syria, even to
China, as well as treading the more familiar terrain of Germany, Poland
and France. (Schama tells me the third and final volume will begin with
the Jews of Ethiopia.) He shows us Jews who are physical as well as
cerebral, boxers as well as rabbis.
Above all, while much Jewish history can read like a sorrowful trudge
through disaster, plague and pogrom, Schama’s book teems with life
rather than death. “I didn’t actually wear a smiley face on my lapel
while I was writing it,” he says, but “there are just naturally moments
of pure, in-your-face, relentless vitality”.
Meanwhile, those who imagine that the Jewish longing for Jerusalem
and Zion began in the 20th century, if not as a post-1945 response to
the Holocaust, might be shocked to learn that not only was there a
substantial Jewish population in Palestine throughout this period –
Schama introduces us to the Arabic-speaking Musta’arabi Jews of Safed –
but, at intervals, “messianic electrical surges” would pulse through the
wider diaspora, “the travelling tribe, telling them they needed to get
to Jerusalem asap”. The book closes with Herzl, but he is only the last
of a long line of would-be heirs to Moses that pop up, each itching to
lead the Jews to Zion.
Why, I ask Schama, did he decide to call this volume Belonging?
“I suppose it’s about: should we stay or should we go?” he says. In
each time and each place, Schama discovers Jews who put down deep roots,
some of which remained planted for many centuries. He focuses on the
surprisingly close relationships they often enjoyed with their
non-Jewish neighbours, on their great adventures and improbable
successes, the favour they found in the eyes of dukes and princesses,
sultans and generals. One chapter is called “Cohabitations”, and his
interest is in those Jewish communities that came up with a viable,
comfortable answer to that perennial question: can you become part of
wider society without losing those things that bind you together and
make you who you are?
“That’s why the little eccentric Chinese chapter is important to me,”
he says. “I wanted to test the waters about where actually it was
possible to bring off that trick of cohabitation, where you’re allowed
to have two allegiances simultaneously, if not completely
unproblematically.” Jewish life flourished in Holland, for example, for
two and a half centuries: “It was a struggle, but it was a struggle that
was more or less won.”
Advertisement
Still,
there are shadows that the book can never escape. The Dutch Jewish
story was snuffed out with astonishing efficiency following the Nazi
invasion. “The percentage of Jews who survived the Dutch occupation was
one of the smallest in Europe,” he notes glumly.
Such facts can’t help but shape the lens through which the reader
views what Schama reveals. He gives a full portrait, for instance, of Moses Mendelssohn, the 18th-century German-Jewish philosopher who came to symbolise the haskalah,
or Jewish enlightenment. Mendelssohn successfully married traditional
Jewish faith to the emerging modern spirit of inquiry. He was lionised
in his day (he beat Immanuel Kant
into second place in an essay-writing competition), and was fervent in
his conviction that devout Judaism and patriotic loyalty to Germany were
wholly compatible. To that end, Mendelssohn set about the monumental
task of translating the core Jewish text – the five books of Moses or Chumash – into German.
A century later, and before he had arrived at Zionism, Herzl would go
a stage further. In 1893, Schama reports, Herzl set out what he
believed was the logical next step for Jews who felt undeniably at home
among the German-speaking peoples. He suggested a negotiation with the
pope to bring about the wholesale conversion of Austria’s Jews. Always
the showman, Herzl did not imagine this being done on the quiet: “There
would be a procession in broad daylight to St Stephen’s Cathedral where a
mass baptism would take place,” Schama writes.
The author does not labour the point because he does not need to. You
read about a Mendelssohn or (early) Herzl, and their earnest faith in
the Germans’ (or Austrians’) close embrace, and the poignancy is sharp
and bitter. Because we know how that story ended.
And this, surely, is the terrible challenge of writing the history of
the Jews, especially European Jews, before the 20th century. How to
make it read like something other than a heartbreaking prelude to the
horror of the Shoah?
“The Death Star is of course orbiting the show,” concedes Schama.
“It’s just orbiting around. You’re never going to get away from it. But I
wanted it not to be driven by the Death Star. I always say this is a
book about ... vitality more than mortality.”
Still, even if he doesn’t linger on that Death Star, he lets you know
it’s there. So in the opening chapter, when a skinny stranger “fetches
up in Venice” in 1523, claiming to be David, the lost king of Israel and
possibly the messiah, Schama mentions, as if in an aside, that the Jews
of Venice were at that time confined to a ghetto, constructed just
seven years earlier.
Advertisement
Later,
he dwells longer on the deliberations of the French revolutionaries as
they debated whether to emancipate the Jews among them than he does on
the way the great terror of 1793 hit the Jews hard. Only briefly does he
let us know that Strasbourg hosted a book burning; that in Metz, Torah
scrolls were publicly destroyed; that Jewish men were dragged from their
beds at night, so that their beards might be ritually shaved off in
public. All of this is an eerie pre-echo of the Nazi calamity to come,
but Schama lets us make that connection for ourselves.
The result is a tension between Schama’s own fizzing exuberance and
the ultimate bleakness of the material. Surely the lesson that emerges
from the four centuries he’s recorded in Belonging is that, one
way or another, the Jewish attempt to live as a minority proved doomed
to failure – maybe not right away, but eventually. After all, again and
again, a Jewish community settled in a new land, felt at home and was
then uprooted, often violently. I put to him the image evoked by the
Israeli novelist Amos Oz: that the Jewish project of living for 2,000
years like almost no other people on earth – permanently stateless, in a
shifting diaspora – was a performance that the rest of the world
watched, sometimes with amusement, occasionally hurling cabbages at the
stage, until, in the middle of the 20th century, they decided they’d had
enough and slaughtered the actor.
“You’re right. All the parameters, all the outlines are saddening.
Wherever you look, the dawns are false. But the morning that follows the
dawn can last a very long time.” And those dawns are not just long;
they can be dazzlingly beautiful. “We’ll take them,” Schama says.
Advertisement
Besides,
he adds, “There is one huge exception.” He means America, the place
Jews called the Goldene Medina, the golden land. Isn’t this where Jews
have, at long last, been fully accepted, integrated and welcomed on an
equal footing with their fellow citizens? Then Schama stops himself.
“Except we did see swastikas in Charlottesville a few weeks ago.”
He thinks about that for a while. Schama has been a vociferous critic
of Donald Trump, dispensing with all academic restraint and unloading
on the US president in tweets of relentless bile. He regularly refers to
the Trump White House as a “kakistocracy”:
rule by the worst and least qualified citizens. After this week’s Las
Vegas shooting, Schama tweeted: “Trump signed bill allowing mentally ill
to buy guns thus becoming an enabler of massacre. For this alone he
should be driven from office.”
Yet, when we meet, he hesitates at the thought that Trump’s ascent
means American Jews’ trust in their country could one day be thought as
naive as the faith Mendelssohn and the others placed long ago in the
land they called home.
“I do worry about something like that. But look: Trump is not writing Mein Kampf,
he has not actually built a movement around the annihilation of the
Jews. That is not the case. He’s a stumbling, lazy, egomaniacal
opportunist … I think it’ll end up being fine. I’m not being Pollyanna
about that.”
He locates the danger posed by Trump elsewhere. “The slippage into an
authoritarian state, that I’m much more pessimistic about … the attacks
on the press and the dumb notion that congressional procedure is too
trivial and frustrating … the prospect of some real upheaval or
challenge to the US constitution – that is extremely serious.”
These are not abstract considerations for Schama, who has lived in
the US since 1979. He already had plenty of relatives in New York and St
Louis, but what lured him from Oxford, England, to Cambridge,
Massachusetts, was an offer he couldn’t refuse. “I had a try-out at
Harvard and was working on what would become The Embarrassment of Riches[subtitled An Interpretation of Dutch Culture in the Golden Age].
What I really wanted to do was combine history, art history and a bit
of anthropology and actually teach my enthusiasms across the
disciplines. And I remember one of the most astonishing things that was
ever said to me; the chairman of the history department at Harvard said:
‘And what would you like to teach?’ All those years in Oxford and
Cambridge – it’s not as bad now, I think, as it was then – you were told
what you had to cover: it was repeal of the Corn Laws coming out of
your every orifice.” The “cross-disciplinary freedom” that Harvard
offered him felt, he says, like “a great exhilaration”.
Advertisement
He
moved from Harvard to Columbia in 1993, after his wife, the
California-born geneticist Virginia Papaioannou, was offered a job
there. At Columbia, the “teaching is really when I want to do it” –
mainly narrative non-fiction in the creative writing school, combined
with “a bit of art history. I haven’t taught in the history department
for a long time”.
He does most of his writing at home in Westchester, outside the city,
in a small study with a view of the Hudson valley. He was able to do
that, in part, because this new book did not entail “deep archival
burrowing”, but rather ploughing his way through published diaries,
biographies and histories. Surely a TV historian has armies of
researchers generating crates of material, leaving him simply to knit it
all together into elegant prose? Not a bit of it.
“The reason why that never works for me, is that everything is about
improbable free associations. No researchers would have come up with
Abraham Colorni,” the Jew from 16th-century Mantua who was an engineer,
statistician, magician and, crucially, escapologist. “Such a perfect
metaphor,” Schama says. “If you have a great library like Columbia, an
open stacks library, I mean that’s fantastic, because so often it’s the
book next to the one you’re hunting for that suddenly wags, crooks the
fingers and says: ‘Come hither, I’m what you’re actually looking for.’”
Which is why he prefers the London Library to the British Library,
because he can creep along the stacks: “shelf-cruising”, he calls it.
The Butler Library at Columbia is Schama’s regular haunt, not least
because he can borrow the books he finds. He takes them home, filling
his study with tottering piles. “My dad said – one of the best wisdoms
of Arthur Schama that I took much too seriously – ‘Never trust a man
with a tidy desk’.”
For a book of this scope, that has serious logistical implications.
“I have a holding station. Literally, I have a mini book repository in
our garage. And so I move Renaissance Italy out and move Hassidism in.”
And while he’s reading, he’s constantly filling dozens of small jotters
with notes, all of them methodically colour-coded. “One colour would be
for quotations, one colour would be for the analytic structure.” For the
chapter on Hassidism, he filled 30 such notebooks. Only then comes the
writing: “The structure and shape and thoughts and first pages are
handwritten,” he says. “And then you hit the laptop.” Belonging took three years, on and off, as he juggled
Columbia, his newspaper columns and TV. (Schama is 72, but his energy
seems to be infinite.) Nevertheless, I tell him, it reads as if it was
written at a clip. The pace suggests it came easily. He nods. “Sometimes
the thing writes itself: you’re just a ventriloquist. And there are
plenty of times where you can’t find a sentence to put together, you get
stuck. I didn’t get stuck very much in this book because it’s a room
full of Jews shouting at each other. So, it’s the easiest thing in the
world.”
I ask him about Britain. With his 15-part TV history and his role as
historical oracle during BBC coverage of royal funerals and the like,
he’s become the de facto national chronicler. Will he ever come back to
stay?
“Ah, Britain!” he writes, when we exchange emails later. “Old
elephant syndrome, so heart and head yearn to return, notwithstanding
the self-mutilation called Brexit. BUT my children and grandchildren in
USA, so the vicinity of my grandsons’ smiles is where I must be. But who
knows, when the new Spurs stadium opens …”
And where does Britain stand in his rollcall of “cohabitations”? How
have British Jews managed to reconcile their different identities? Could
Britain be the place where Jews have finally made it work?
Advertisement
He
returns to his father who, the book tells us, yearned to be an actor,
but was denied his ambition by his parents. “We would go to shul [synagogue] every Shabbat
[Saturday] and we certainly wouldn’t get in a car or a bus [prohibited
on the Sabbath], and the next day, not every Sunday, we would take a
little boat ride. My dad would turn into something like Mr Toad from Wind in the Willows,
and we’d take a launch down the Thames, and he would – from the back,
at the steering wheel – recite Shakespeare off by heart. He read Dickens
to my sister and me on Sundays as well.”
His feelings for the old country endure, but Brexit and the swelling
of nationalism have clearly come as a blow. Is his opposition partly a
Jewish thing? “Well yeah,” he says, with something like a sigh. “It
presses all the tribal psychological buttons really. It’s bound to. We
are suitcase people.” •Belonging: The Story of the Jews 1492–1900 is published by Bodley Head. To order a copy for £21.25 (RRP £25) go to bookshop.theguardian.com or call 0330 333 6846. Free UK p&p over £10, online orders only. Phone orders min p&p of £1.99.