Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
1401) Muro de Berlim: vinte anos de seu final
Aproveito para informar sobre um seminário que será realizado na UnB, conforme notícia provisória aqui postada:
Seminário “Além do Muro” - UnB
Quinta-feira, dia 12 de novembro de 2009
Auditório da Reitoria
Programa provisório:
9.00: Abertura
9.15: Palestra do Prof. Dr. Edgar Wolfrum, Universidade de Heidelberg:
Breves comentários dos professores Estevão Martins e Wolfgang Döpcke (UnB)
14.30:Mesa Redonda I: Muros simbólicos e reais
Hartmut Günther (UnB): “(I)mobilidade e (des)apego: Reflexões sobre um muro”.
Gustavo Lins Ribeiro (UnB): “A queda de todos os muros”.
16.30: Mesa redonda II: O mundo após a queda
Paulo Roberto Almeida: “Outros mundos possíveis: processos históricos alternativos, antes e depois do muro de Berlim”
Virgílio Caixeta Arraes (UnB); “Estados Unidos: da liderança eufórica à crise de confiança (1989-2009)”.
18.00: encerramento
Berlim 1989-2009: As tragédias do muro
Histórias das travessias proibidas que acabaram bem-sucedidas, e das fugas desesperadas que não tiveram o mesmo destino.
Hugo Souza.
Opinião e Notícia, 29/09/2009
No dia 15 de agosto de 1961 Conrad Schumann foi designado para cuidar que ninguém atravessasse a cerca de arames farpados da Bernauer Strasse, em Berlim, nos idos em que o muro ainda não era muro, mas apenas uma rede de alambrados provisórios, que desde então, e literalmente, dividiam a cidade em metades politicamente antagônicas. Soldado da República Democrática Alemã (RDA), a comunista, Schumann não pensou duas vezes quando se viu sozinho montando guarda na fronteira em construção: jogou seu fuzil para o lado e escapuliu para a metade ocidental. Parece piada, mas foi realmente uma das primeiras fugas da RDA pelo Muro de Berlim, antes mesmo de o muro propriamente dito estar completamente de pé.
Naqueles tempos pré-muro, ou de muro cheirando a cimento fresco, as tensões da divisão de fato da Alemanha em Alemanhas apenas começavam, mas a linha divisória mais famosa da história já servia de palco para algumas das maiores tensões da Guerra Fria, como as semanas a fio em que tanques norte-americanos e soviéticos permaneceram estacionados frente a frente no Checkpoint Charlie, o mais famoso posto de controle do Muro de Berlim.
Em seguida, muitas outras fugas, algumas célebres, repetiram-se ao longo dos 28 anos de 155 quilômetros de concreto que separavam um povo em dois. Em 1963, um grupo começou a construir sob o muro um túnel de 145 metros de extensão e 80 centímetros de diâmetro, pelo qual nos dia 3 e 4 de outubro de 1964 nada menos do que 57 pessoas deixaram a RDA antes que a polícia do regime descobrisse o vazamento, por assim dizer. Muitos anos mais tarde, duas famílias da Alemanha Oriental passaram despercebidas pelos guardas a bordo de um balão de ar quente, cruzando a fronteira pelo céu na noite do dia 16 para o dia 17 de setembro de 1979.
Muitos outros não tiveram a mesma sorte. Pelo menos 136 pessoas foram mortas em incidentes que aconteceram entre 1961 e 1989 junto ao muro de Berlim. A maioria era de homens jovens, com idades entre 16 e 30 anos. Noventa e nove delas foram mortas enquanto tentavam passar do lado oriental para o lado ocidental. Os dados são do Centro de Pesquisa de História Contemporânea de Potsdam.
Assim como as fugas, houve também vítimas célebres dos guardas de fronteira. A primeira vítima fatal dos disparos de soldados da República Democrática Alemã chamava-se Günter Litfin, alvejado no dia 24 de agosto de 1961. Outro caso de maior repercussão foi o de Peter Fechter, que tombou morto perto do Checkpoint Charlie no dia 17 de agosto de 1962, quando tentava ir para o lado ocidental a fim de procurar a irmã. Tinha 18 anos de idade.
Entre os mortos estão também oito guardas de fronteira da RDA, como Reinhold Huhn, assassinado também em 1962, no dia 18 de junho, por um Fluchthelfer (pessoas que ajudavam cidadãos do leste a atravessar a fronteira ilegalmente). Em fevereiro de 1989, nove meses antes da queda, o Muro de Berlim fazia sua última vítima fatal, um jovem de 20 anos chamado Chris Gueffroy, que tentou fugir acreditando na informação passada a ele por um soldado de que a ordem para atirar havia sido suspensa.
Não havia. A Schiessbefehl (”ordem de atirar”, em português) persistia. Esta determinação da cúpula do regime comunista da Alemanha Oriental rendeu processos judiciais que se arrastaram até o ano de 2004. Os chamados “processos de Schiessbefehl”, de responsabilização pelas mortes por disparos saídos dos fuzis dos guardas do muro, terminaram com 11 condenados à prisão e 35 absolvidos, entre militares e políticos da RDA.
Hoje, na frente do museu do Checkpoint Charlie — o posto de controle onde Peter Fechter perdeu a vida enquanto tentava resolver um drama familiar — um berlinense chamado Wolfgang Kolditz ganha a vida se fantasiando de guarda de fronteira e carimbando postais comprados por turistas que visitam aquela que permanecerá para sempre como a mais famosa cidade partida da história, ainda que atualmente os muros pós-Guerra Fria continuem fazendo vítimas que já não gozam de tanto glamour póstumo.
Escrito por: Hugo Souza
Um comentário:
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E por falar em muros...
ResponderExcluirHá um excelente texto do Le Monde diplomatique intitulado "Les murs de la peur" que foi incluído na prova escrita de francês do Instituto Rio Branco em 2008. Diga-se de passagem que ele não se refere especificamente ao muro de Berlim. O texto é de 2006 e, para quem quiser conferir, encontra-se na página eletrônica: http://www.monde-diplomatique.fr/2006/10/PAQUOT/14047