sábado, 31 de outubro de 2009

1467) De volta ao problema do Estado e da política

Um leitor deste blog formulou um comentário a propósito deste post:

sábado, 31 de outubro de 2009
1462) A volta do Estado?, Não, segundo Mailson da Nobrega

Ele escreveu o seguinte:
Euclides Vega disse...
"As mudanças tinham o apoio do eleitorado, que elegeu e reelegeu os líderes que conduziram as reformas."
Professor, essa é a única coisa que me deixa intrigado: tanto os estatistas como os liberais dizem que suas políticas tem o apoio do eleitorado. Não sei, parece-me que o eleitorado, por mais educado que seja, não é capaz de compreender as tecnicidades do sistema financeiro. Talvez, a economia 'popular' e somente esta, pese no voto, e quanto mais quanto maior for a educação e menores forem as demais questões políticas. Estou sendo por demais óbvio?
Sábado, Outubro 31, 2009 7:07:00

Eu lhe respondi o que segue:

Esta é a questão clássica, que perturbou muitas mentes instintivamente democráticas -- como Tocqueville, por exemplo -- mas que se preocupavam com a qualidade da democracia, ou sua sustentabilidade, em face dos simplismos políticos, da demagogia, dos abusos da liberdade. Não nos esqueçamos que, até o século 18, o conceito de democracia era basicamente depreciativo, ou seja, querendo significar o governo do povinho miudo, das massas ignaras, das turbas manipuláveis e, portanto, um regime condenável.
Para alguns gregos, como Aristóteles, a democracia tinha sempre uma degeneração qualquer.
Muitos escritores do início ainda do século 19 se opunham à "democracia", pois não pretendiam que seus países caíssem nas mãos de populistas e demagogos, dada a tendência do povinho miudo em seguir aqueles que faziam as promessas mais mirabolantes.
De fato, todos os governantes dizem que suas políticas foram previamente sancionadas nas urnas -- posto que eles ganharam por número de votos -- e que portanto eles têm todo o direito de implementar "aquelas" políticas que receberam "consagração" nas urnas.
Sabemos que isso não é verdade, pois que dificilmente você desce a detalhes orçamentários e de organização e funcionamento do Estado durante uma campanha eleitoral, assim como você nunca discute a forma e o conteúdo de muitas politicas setoriais que são apresentadas genericamente durante a campanha.
Portanto, a alegação não se sustenta e você não está sendo óbvio, apenas traduzindo um dilema que é nosso e de todo sistema político.
Nenhum eleitorado, por mais educado que seja, pode dar um voto tão preciso e focado, que alcance as definições técnicas de um sistema financeiro ou mesmo a organização educacional, por exemplo. Isso é impossivel.
Daí que o Parlamento tem um enorme papel e uma grande responsabilidade. Quando os representantes parlamentares são despreparados e corruptos, então a situação se complica. Claro, num país pode existir uma burocracia esclarecida e bem intencionada, mas o papel dos líderes políticos é fundamental.
Não existem soluções simplistas, ou fáceis, a este dilema eterno.

Paulo Roberto de Almeida
31.10.2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.