segunda-feira, 2 de novembro de 2009

1468) O passado sinistro do Itamaraty, segundo um anti-imperialista de ocasiao...

O autor da matéria lamenta que uma cubana, no caso a irmã de Fidel, Juanita, tenha sido recrutada para trabalhar para a CIA por meio da embaixatriz brasileira em Havana, esposa do Embaixador Vasco Leitão da Cunha, de notórias simpatias pró-americanas. Curiosamente, Vasco Leitão assumiu uma posição pró-cubana, ou melhor pró-Fidel, quando Manoel Pio Correia, no Itamaraty, tentava aprovar moção de censura contra a Cuba de Fidel na OEA, como este último relata em seu livro de memórias aqui citado.
Creio que ele está enganado ao dizer que Pio Correa espionou para a CIA: ele sempre foi anti-comunista, honestamente se ouso dizer (pois confessa quase tudo o que fez contra os comunistas em seu livro de memórias), mas não há registro de que tenha trabalhado para a CIA. Cooperou, sim, com os objetivos norte-americanos no âmbito da Guerra Fria, assim como outros diplomatas mantinham simpatias por Cuba e pela União Soviética no mesmo período.
Creio que essa época tem de ser vista com menos paixão e mais isenção, como tentei fazer neste meu trabalho sobre o mesmo período:

Paulo Roberto de Almeida:
“Do alinhamento recalcitrante à colaboração relutante: o Itamaraty em tempos de AI-5” In: Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Ventapane Freitas (orgs.), “Tempo Negro, temperatura sufocante": Estado e Sociedade no Brasil do AI-5 (Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, Contraponto, 2008; 396 p. ISBN 978-85-7866-002-4; p. 65-89). (ver o livro neste link).

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Juanita e o passado sinistro do Itamaraty
Argemiro Ferreira
Carta Maior, 1.11.2009

Há uma particularidade insólita sobre nosso ministério das Relações Exteriores, o velho Itamaraty. Sempre desfrutou de boa imagem, menos por merecê-la do que pela prática nefasta, talvez de muitos anos, de varrer a sujeira para debaixo do tapete. Atravessou, por exemplo, todo o período da ditadura militar como se vivéssemos no melhor dos mundos, enquanto perseguia diplomatas - intelectuais como Antonio Houaiss, Vinícius de Morais, João Cabral de Melo Neto entre muitos. E prestou-se a papéis indignos mesmo antes do golpe de 1964.

Vale a pena lembrar tais coisas embora neste momento o Itamaraty, com o ministro Celso Amorim à frente, conduza com sucesso uma política externa exemplar. O que sugere revisitar a questão é a iniciativa de uma cubana de Miami, 76 anos de idade, notória pelo detalhe de ser irmã de Fidel e Raul Castro, de revelar num prolixo livro de memórias (
Fidel y Raúl, Mis Hermanos – La Historia Secreta, 432 páginas), ter sido agente da CIA, central de espionagem dos EUA, graças à diplomacia brasileira.

Juanita Castro não fez a revelação nesses termos, mas o que escreveu (ou o que escreveu para ela a co-autora mexicana Maria Antonieta Collins, especialista em livros de auto-ajuda que ensinam dietas, receitas, como lidar com ex-maridos, livrar-se do vício do cartão de crédito, etc) permite chegar a tal conclusão. Sem atribuir explicitiamente a carreira de espiã à nossa diplomacia, ela diz ter sido recrutada para a atividade pouco nobre através da mulher do embaixador Vasco Leitão da Cunha, que então servia em Havana.

O péssimo exemplo da embaixatriz
É conveniente esclarecer que, entre outras coisas, agora Juanita se diz traída duas vezes - uma pelo irmão Fidel, a outra pela CIA e os EUA. No primeiro caso, a gente entende: como governante Fidel optou por cuidar dos problemas do país, não dos interesses da família. Quanto ao país que a recebeu, queixou-se de que a CIA no governo do presidente Nixon, eleito em 1968, pediu a ela para mudar o discurso e sustar os ataques a Cuba e Fidel - ou seja, dizer o contrário do que dizia até então.

Mas voltemos à diplomacia. Como chefe da missão do Brasil, o embaixador Leitão da Cunha recebera Juanita como asilada em 1958, ainda no governo JK. Ela alegara correr risco por ser irmã de Fidel, então líder dos guerrilheiros que lutavam contra o ditador Fulgencio Batista. Vitoriosa a revolução no primeiro dia de 1959, ela deixou a embaixada. E em 1961, depois do fracasso (em abril) da invasão da CIA (na baía dos Porcos) a embaixatriz Virginia Leitão, ciente da atividade dela contra o governo revolucionário do irmão, chamou-a para uma conversa. E sugeriu que passasse a colaborar “com uns amigos que conhecem seu trabalho (contra o governo) e querem ajudá-la”.

De acordo com a versão, Virginia encarregou-se de promover o encontro de Juanita com um dos “amigos”, Tony Sforza, então usando o codinome “Enrique”, depois de ter atuado um tempo sob o disfarce de jogador e frequentador de cassinos, com o codinome “Frank Stevens”. Logo depois Juanita passava a operar como agente da CIA em território cubano, com o codinome “Donna”. A se acreditar no livro, durante quase três anos (até 1964, quando foi para os EUA), ela “protegia”, inclusive escondendo em sua casa, críticos e opositores da revolução.

A
s relações promíscuas de diplomatas
Daí em diante Juanita foi usada permanentemente pela CIA como arma de propaganda. A ligação dela com a espionagem americana não era segredo. Já em 1975, no seu livro
Inside the Company - CIA Diary, o ex-espião Philip Agee, citou-a como “agente de propaganda da CIA”. E num livro póstumo de 2005, Spymaster - My Life in the CIA, o célebre Ted Schackley, controvertido ex-chefe de operações da agência, revelou publicamente, pela primeira vez, que o contato da CIA com Juanita Castro tinha sido feito através da embaixatriz brasileira Virginia Leitão da Cunha.

Difícil é entender porque o fato ainda era ocultado no Brasil e porque não se tenta saber mais sobre as relações promíscuas de diplomatas e gente direta ou indiretamente ligada ao Itamaraty, dentro e fora do país? O mesmo livro que fizera (em 1975) a primeira referência à relação de Juanita com a CIA também registrara que no Uruguai, na década de 1960, o embaixador brasileiro Manuel Pio Corrêa atuara como espião da CIA.

Mas só em julho de 2007, graças a série de reportagens do
Correio Braziliense durante quatro dias seguidos, o país soube a extensão do papel de Corrêa. Depois de passar pelo Uruguai e pela Argentina ele foi premiado com a secretaria geral do Itamaraty e usou o cargo - e os superpoderes recebidos no governo Castello Branco - para criar insólita máquina de espionagem no ministério, com alcance mundial. Um certo Centro de Informações do Exterior (CIEX) dedicava-se a monitorar em toda parte, com a ajuda de nossos diplomatas, os exilados brasileiros e críticos do regime militar.

D. Hélder e a espionagem de Pio Corrêa
Por alguma razão desconhecida a grande mídia do resto do país, cúmplice do golpe de 1964 e beneficiária da ditadura durante 20 anos, preferiu praticamente ignorar o conteúdo daquelas reportagens. Mas um dos efeitos conspícuos da ação do CIEX pode ter sido a campanha mundial orquestrada pela diplomacia brasileira para impedir a concessão do prêmio Nobel da Paz ao arcebispo Hélder Câmara, que denunciava torturas e abusos contra os direitos humanos no Brasil. A maquinação torpe devia ser hoje motivo de estudo e repúdio na formação dos futuros diplomatas.

Mas os segredos do Itamaraty, ao contrário, parecem intocáveis. No seu livro de memórias,
O mundo em que vivi, o próprio Pio Corrêa, ao negar perseguição a Vinícius de Moraes (que se desligou, alega ele, num acordo amistoso) vangloriou-se de ter demitido “pederastas”, “vagabundos” e “bêbados”. Houaiss e João Cabral já eram perseguidos antes da ditadura, como alvos de campanha macarthista liderada, ainda no início da guerra fria, pela Tribuna da Imprensa ao tempo de Carlos Lacerda, que os denunciava como subversivos em manchetes de primeira página.

Seria no mínimo saudável arejar esse passado recente e não perpetuar o sigilo. O Itamaraty foi suspeito antes de ocultar seus erros e ainda os gastos elevados, como se fosse uma caixa preta. O fato de alguém como Virginia Leitão da Cunha - cujo marido ocupou altos cargos, foi até ministro do Exterior da ditadura - ter atuado como espiã a serviço de potência estrangeira, dentro da embaixada brasileira, e recrutado agente para serviço de espionagem de outro país, é vergonha que tem de ser exposta à execração pública, para o exemplo nunca ser seguido. E se deixar de ser feita coisa parecida em relação aos Pio Corrêa da vida, a impunidade funcionará como estímulo no futuro ao mesmo comportamento deprimente - que revela subserviência e rebaixa a qualidade de nossa diplomacia.

http://argemiroferreira.wordpress.com/


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PS Paulo Roberto de Almeida:
Cabe registrar aqui mais um comentário pessoal, baseado em meu parco conhecimento da vida e das posições do Embaixador Vasco Leitão da Cunha, que deixou um livro de memórias, chamado Diplomacia em Alto Mar.
Enquanto foi representante diplomáatico brasileiro, Vasco Leitao abrigou, na Embaixada do Brasil em Havana, muitos opositores de Batista, na fase revolucionaria, e depois muitos opositores de Fidel, após a vitoria da revoluçnao. Ou seja, fez seu trabalho diplomatico, sem olhar ideologias e paixoes revolucionarias, de um lado e de outro.
Pode-se dizer que era um ecletico, ou um gentleman, como muitos se referem a ele. Em todo caso, era um embaixador ao velho estilo, com todos os tiques e trejeitos dos diplomatas punhos de renda, e tambem, um defensor consciente da opcao americana para o Brasil, um conservador sincero e honesto. O pessoal de esquerda pode chama-lo de reacionario, por causa de sua adesao ao movimento militar em 1964, mas isso porque esse pessoal tambem tem uma visao maniqueista do mundo, um pouco como o Pio Correa, um anticomunista profissional...
Cada um tem direito a sua opiniao, e de expo-la livremente, sem esses maniqueismos tao ridiculos como os de Argemiro Ferreira no arquivo abaixo. Como se outros nao tivessem espionado para os sovieticos.
Mas, claro, apenas a CIA é pecaminosa, ilegitima, desrespeitadora da soberania brasileira e interessada em subordinar o Brasil aos interesses americanos. A URSS e a KGB estavam sinceramente comprometidas com o desenvolvimento brasileiro...
Certos maniqueistas só vem o problema de um lado...

6 comentários:

  1. Caro PRA,

    aproveitando o assunto dessa postagem, você conhece o história do Vasili Mitrokhin, o arquivista da KGB que copiou trechos dos documentos por décadas a fio e fugiu para o Ocidente logo que a URSS acabou? Estou lendo o livro dele e há algumas menções interessantes ao Brasil, que copio abaixo. Any guesses sobre a identidade de IZOT e ALEKS?

    Abraço,
    Alat

    “Among the DGI operations in Angola carried out to assist the KGB was a penetration of the Brazilian embassy to obtain intelligence on its cipher system. A technical specialist from KGB’s Sixteenth (SIGINT) Directorate flew out from Moscow with equipment which enabled a DGI agent to photograph the wiring of the embassy’s Swiss-made TS-803 cipher machine” (k-22, 150, apud Andrew & Mitrokhin 2005:96).

    “The KGB’s best intelligence on Brazil probably came from its increasing ability to intercept Brazil’s diplomatic traffic. By 1979 the radio-intercept post (codenamed KLEN) in the Brasilia residency was able to intercept 19,000 coded cables sent and received by the Foreign Ministry as well as approximately 2,000 other classified official communications” (k-22, 128 apud Andrew & Mitrokhin 2005:105)

    “SIGINT enabled the Center to monitor some of the activities of probably its most important Brazilian agent, codenamed IZOT, who was recruited while serving as Brazilian ambassador in the Soviet bloc. As well as providing intelligence and recruitment leads to three other diplomats, IZOT also on occasion included in his reports information (probably disinformation) provided by the KGB” (Andrew & Mitrokhin 2005:105).

    “IZOT is the highest-ranking Brazilian agent identified in the files noted by Mitrokhin. He provided recruitment leads on three fellow diplomats, including the ambassador of a NATO country in Prague. IZOT had himself been talent-spotted for the KGB by another Brazilian ambassador, an agent codenamed ALEKS; k-22, 235-7, apud Andrew & Mitrokhin 2005:521, n. 68).

    A referência é

    ANDREW, CHRISTOPHER & MITROKHIN, VASILI. The World Was Going Our Way: The KGB and the Battle for the Third World. New York: Basic Books, 2005.

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  2. Paulo,

    Argemiro Ferreira, nesse texto, me lembra do general Muricy no filme de Sílvio Tendler, Jango. Quando Muricy fala, parece história da carochinha. Diferente de outros generais que realmente foram protagonistas daqueles acontecimentos (aqui me eximo de juízo de valor). Houve muito jogo de cena, mas o 31 de março em Minas foi decidido no primeiro de abril no Rio de Janeiro. E a guarnição mineira sequer recebeu o combustível gasto.

    O que quero dizer com isso: independente de como os agentes justifiquem suas ações e de terem ou não uma visão muito clara dos fatos, normalmente têm uma visão muito mais rica sobre os envolvidos nos eventos decisivos do que aqueles que não são tomadores de decisão. Aos que ficam de fora e que são preguiçosos intelectualmente, restam as histórias da carochinha, simplistas, maniqueístas e idealizadas. Eu posso estar enganado, já que talvez faça injustiça ao oficial-general do Exército, pois vi o filme quando era mais novo e já faz uns 6 anos, mas penso poder dizer que nesse aspecto o general e o jornalista se assemelham.

    Abraços,

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  3. De fato, meu caro Vinicius Portella, a pior história que possa haver é aquela maniqueista, mesquinhamente enviesada para um dos lados, sem procurar contemplar o problema em todas as suas dimensões. Aliás, não se trata de história, mas de política da mais militante e sectária, seja da direita ou da esquerda.
    O Brasil mereceria algo melhor escrito ou comentado. Tentei oferecer uma visão menos passional neste trabalho:
    “Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964”, Espaço Acadêmico (ano 9, n. 95, abril 2009; link: http://www.espacoacademico.com.br/095/95pra.htm; pdf: http://www.espacoacademico.com.br/095/95pra.pdf).

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  4. Paulo,

    A que trejeitos de "punhos de renda", de diplomata do antigo feitio tu te referes?
    Penso que li por cima um texto teu sobre as mudanças decorridas da crescente profissionalização do Itamaraty durante o séc. XX, mas nunca li nada mais sobre a questão.

    Se pudesses indicar-nos fontes que tratem disso, creio que seria uma grande contribuição a quem se interesse por tal assunto.

    Abraços,

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  5. Vinicius,
    O Vasco Leitao da Cunha era um diplomata a moda antiga, daqueles estilo belle epoque, mais preocupados com a forma do que com o conteudo, que alias para ele passava por uma estreita alianca com os EUA, contra alguns de nossos vizinhos malucos...

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  6. PRA,

    Não vou entrar na polêmica do q já foi dito e escrito... Mas preste atenção ao seguinte: Juanita declara ter sido agente da CIA, perfeito! Depois, declara ter passado a informação sobre a instalação dos mísseis soviéticos em Cuba à Dna. Ninanha e que esta, por sua vêz, a teria passado à CIA... EPA! afinal, se Juanita era agente da CIA pq não passou a informação diretamente àquela agência? Dna. Nininha seria tão poderosa a ponto de ter gerado a malfadada açã da Baía dos POrcos?!!! só rindo... quem não a coheceu é que "compra"!
    Transcrevo, a seguir, matéria veiculada hoje no JB:
    "Nininha Leitão da Cunha, quem diria, era agente dupla!O high está de sirenes ligadas. E com todas as suas parabólicas apontadas para a varanda do Country Club, onde não se fala de outra coisa: Nininha Leitão da Cunha. Isto é, a saudosa embaixatriz brasileira Virgínia Leitão da Cunha, mulher do embaixador do Brasil em Cuba, Vasco Leitão da Cunha. Desde que a irmã de Fidel Castro, Juanita, abriu o verbo e resolveu contar, na televisão americana, que foi agente da CIA a convite de Nininha, uma bomba explodiu nas bases da alta sociedade brasileira. Segundo disse Juanita, e é o que ela conta em seu livro de memórias que acaba de ser lançado, foi Nininha quem a levou ao encontro da CIA, à qual ela serviu como espiã de 1961 a 1964, ajudando os Estados Unidos a enfraquecerem o regime de Fidel em Cuba, uau!...

    O mais espantoso para o nosso high tradicional é que, enquanto Nininha levava Juanita para servir à CIA, ela na mesma época trazia seu darling Fidel Castro ao Brasil, junto com Vasco , quando o ditador cubano foi recebido em grande estilo no país. Os Leitão da Cunha, considerados grandes amigos de Castr o, levaram o comandante pra lá e pra cá e o trouxeram até ao Rio de Janeiro, onde ele foi recebido pelo suprassumo da elite: a grande matriarca dos Nabuco, dona Maria do Carmo, na casa famosa da Rua Icatu, onde Fidel foi homenageado com um jantar memorável...

    Diz a lenda (e não é lenda, é fato) que Fidel Castr o ficou encantado com Nininha Nabuco, hoje Nininha Magalhães Lins, mãe do Zé Luca.

    E ficou mesmo, pois, até hoje, quando encontra brasileiros, Fidel pergunta se conhecem a Nininha...

    Vou falar mais sobre a embaixatriz Nininha Leitão da Cunha. Ela e Vasco tiveram dois filhos: Pedro e Isabel, que foi casada com o embaixador Mauri Gurgel Valente, por sua vez ex-marido da escritora Clarice Lispector.

    Nininha tinha uma irmã gêmea, Chica Duvivier, que se casou três vezes, com os sobrenomes, por ordem, Corrêa do Lago, Boavista e Duvivier. Com Jorge Corrêa do Lago, ela teve a filha Ter esa, que mora na Espanha. Com Roberto Boavista, ela teve a filha Heloisa, a embaixatriz Antonio Cantuária...

    Nininha e Chica morreram do mesmo Mal de Alzheimer. Elas eram muito parecidas, apesar de não serem gêmeas idênticas. E ficaram ainda mais parecidas depois das cirurgias plásticas com o mesmo cirurgião. Eram muito chiques, charmosíssimas, faziam um grande sucesso social, eram muito inteligentes, cultas, bonitonas, mulheres que faziam a diferença em qualquer acontecimento. O que ninguém podia imaginar é que a grande dama de sociedade Nininha fosse também uma Mata Hari tropical, capaz de encantar Fidel Castro e tornar-se amicíssima dele e, ao mesmo tempo, capaz de entregar a irmã dele, Juanita, nos braços da CIA..."

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