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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Kissinger, realista cinico, e assassinos deliberados: Stalin, Hitler, etc...

Meu amigo virtual Vinicius Portela observou, com razão, que, num trabalho dedicado ao realista cínico Henry Kissinger, eu tinha aproximado esse personagem de ditadores bem mais conhecidos.
Eis a passagem de meu trabalho:

"...Kissinger jogou o jogo de forma tão competente quanto todos os demais atores da grande política internacional, Stalin, Mao, Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min e todos os outros, ou seja, não há verdadeiramente apenas heróis de um lado e patifes do outro. Todos estão inevitavelmente comprometidos como pequenos e grandes atentados aos direitos humanos e aos valores democráticos."

Faz parte deste pequeno ensaio, agora disponível no link abaixo, deste mesmo blog:

O legado de Henry Kissinger
Paulo Roberto de Almeida
Mundorama, 05/06/2008


O velho Kissinger: o realismo cínico de um grande intelectual e um estadista sem escrúpulos (segunda-feira, 5 de julho de 2010)
Aproveitando a (duvidosa) homenagem que se faz o intelectual e homem de Estado (ver post Os novos Kissingers), transcrevo um artigo que escrevi em 2008. (no link acima) (...)

Bem, gostaria agora de retificar o que afirmei acima, num pequeno ensaio escrito muito rapidamente, sem o tempo necessário de reflexão e revisão.
Não, não creio que Kissinger possa ser colocado na companhia desses ditadores absolutos, déspostas sem escrúpulos e assassinos quânticos.

Stalin e Hitler ficariam bem na companhia de Mao Tsé-tung, Pol Pot e outros grandes assassinos da história (com h minúsculo no caso deles, embora eles certamente pertenceram à grande História). Os outros citados -- Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min -- pertencem a uma outra categoria de figuras históricas, alguns ditadores, outros simplesmente estadistas, outros personagens patéticos (como Kruschev, depois de ter sido um auxiliar devotado de Stalin), à qual tampouco pertence Kissinger.

Este poderia fazer companhia a Chou En-lai, Metternich, Thiers, Foster Dulles e outros estadistas e diplomatas, com a vantagem, talvez, que Kissinger tinha consistência intelectual e não era apenas um negociador frio e calculista como Thiers.
Antes de se tornar um homem de Estado, Kissinger foi um scholar, um estudioso, pesquisador da diplomacia, do equilíbrio de poderes e da dissuasão. Usou um pouco de sua bagagem intelectual quando esteve a serviço da diplomacia americana, mas basicamente deixou de lado alguns de seus valores acadêmicos para afirmar prioritariamente os interesses primários, muitas vezes brutais, dos Estados Unidos.
Não hesitava em ordenar operações da CIA, quando achava que algum ditadorzinho metido a besta -- ou seja, querendo jogar nos dois lados da balança, ou mesmo se alinhar com os interesses soviéticos -- poderia ameaçar posições fundamentais dos EUA.
Mas, não creio, sinceramente, que tenha ordenado massacres ou torturas de civis. O que ocorreu, e certamente ocorreram efeitos desse tipo nos golpes e operações em que ele esteve envolvido -- bombardeio do Vietnã do Norte, do Laos, golpe de Pinochet no Chile, complôs em Portugal, etc -- eram por ele considerados como "side effects" do grande jogo estratégico, no qual só havia um grande contendor, os outros sendo meros piões secundários, mesmo potências nucleares como França e Inglaterra.
A China, em sua época, não era ainda um contendor estratégico, mas um aliado involuntário no grande jogo com a União Soviética.
Kissinger acreditava no equilíbrio de poderes, um pouco como Castlereagh, e certamente não imaginava que seria possível desmantelar a União Soviética numa corrida armamentista e tecnológica como aquela conduzida por Ronald Reagan.
Ele provavelmente teria gostado de ter continuado a servir os EUA sob um presidente conservador como Reagan, mas provavelmente teria aceito servir qualquer presidente, já que não era um político, mas um estrategista.

Encerro este comentário me redimindo, portanto, do pequeno erro graciosamente levantado pelo Vinicius, a quem agradeço por ter me chamado a atenção para essa inconsistência em meu texto, e vou preparar um outro trabalho, talvez "necrológico", para fazer uma avaliação da obra de Kissinger, quando ele se despedir deste nosso mundo...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 7.07.2010)

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