No discurso com que acolheu o presidente Obama, a presidente Dilma -- quem quiser que escreva e fale "presidenta", o que é simplesmente errado, ou mais do que isso, absolutamente inexistente, pelo menos nas gramáticas normais -- disse isto:
"Há uma semana, senhor Presidente, entrou em vigor o Tratado Constitutivo da Unasul, que deverá reforçar ainda mais a unidade no nosso continente. O Brasil está empenhado na consolidação de um entorno de paz, segurança, democracia, cooperação e crescimento com justiça social. Neste ambiente é que deve frutificar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos."
Bem, não sei o que fazem os EUA nesta frase, já que ela trata da Unasul, que está reservada, ao que parece, para os países da América do Sul. Se os EUA pedirem para entrar, não vão poder.
Aliás, não se disse que a Unasul foi criada especificamente com o objetivo de afastar os países sul-americanos do império, ou para afastar o império da América do Sul. Enfim, cada um tem o direito de fazer clubes exclusivos com quem quiser.
O que não se pode, depois, é ofender a lógica, e falar de um continente, e depois dizer que é "nesse ambiente" [qual?] é que devem frutificar relações...
Como, se o coitado do império está excluído?
Ou será que o Brasil vai propor que os EUA sejam um "membro pleno da Unasul em processo de adesão"?
Sempre se pode inovar, quando se trata de criar uma "nova geografia"...
Em todo caso, pode-se registrar que não só os assessores de Obama o induzem ao erro. Os assessores da presidenta também a induzem à falta de lógica...
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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2 comentários:
Caro,
De fato o termo "presidenta" estava já dicionarizado antes da brilhante inovação. Mas, sendo um dicionário um livro descritivo, de referência, isso não quer dizer muito. A inteligência pressupõe que os homens usem as palavras e não o contrário. Enfim, faço esta retificação, mas concordo com você quanto à censura ao uso do termo, tão rapidamente disseminado, graças a um consórcio de pobreza estilística, demagogia e bajulação.
Dr. PRA,
Primeiro devo dizer que estou feliz, depois de ter chegado a não sei qual dos seus blogs por meio de uma pesquisa no Google, por finalmente ter encontrado o 'diplomatizzando' atual, com posts recentes, o qual pretendo acompanhar.
Agora sim entrando no assunto da presidenta: eu até simpatizava com o uso desse termo, reconhecendo sua dicionarização, antes do mandato daquela que prefere assim ser chamada. No momento, estaria indiferente a isso se não considerasse que faz parte igualmente do processo que fabricou a própria figura para a eleição.
Sobre o teor do discurso dela, independentemente de sua artificialidade como personalidade política, uma coisa me é certa - não sinto vergonha ao vê-la falar, representando-me. Ainda que com falta de lógica. O que não se dava com o ocupante anterior do cargo.
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