Brasil
e China criaram ontem um grupo de trabalho para facilitar e promover
investimentos, cuja tarefa será tratar de necessidades relacionadas a
projetos específicos, do treinamento de recursos humanos à concessão de
vistos, passando pela transferência de tecnologia.
"O
padrão de relacionamento entre o Brasil e a China mudou", afirmou o
secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, Alessandro Teixeira.
Segundo
ele, os chineses "entenderam a conversa" e deixaram de falar de compra
de minas e de terras no Brasil. "A conversa agora é como eu faço
parceria do ponto de vista industrial", observou Teixeira, citando os
exemplos de investimentos no setor automotivo e o aumento da presença
chinesa na Zona Franca de Manaus.
O
secretário executivo lembrou que cinco montadoras chinesas investem ou
anunciaram investimentos em fábricas no Brasil: Chery, JAC, Foton, Great
Wall e Sinotruck.
Fluxo. A criação do
grupo de trabalho foi aprovada em Pequim durante reunião da subcomissão
de indústria e tecnologia da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de
Concertação e Cooperação (Cosban), principal órgão de "diálogo" entre os
dois países.
Apesar de o organismo
tratar de investimentos nos dois sentidos, está claro que o fluxo de
recursos da China para o Brasil é bem maior que o verificado em sentido
contrário.
No ano passado, o país
asiático investiu US$ 60 bilhões no exterior e ficou em quinto lugar no
ranking global. O valor se aproxima do total de US$ 66,7 bilhões que o
Brasil recebeu em investimentos estrangeiros em 2011. Na avaliação do
secretário executivo, o valor ficará em torno de US$ 60 bilhões neste
ano, dos quais entre 6% a 10% terão origem na China.
Além
de Alessandro Teixeira, participaram do encontro em Pequim o secretário
executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Emilio Garofalo, e a
secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.
Além
de atrair investimentos para o setor industrial, o governo tenta
aumentar e diversificar as exportações brasileiras para a China, que
devem apresentar neste ano a primeira queda em pelo menos uma década.
Os
embarques são dominadas por dois produtos, soja e minério de ferro, que
representaram quase 70% das vendas de US$ 35 bilhões à China nos
primeiros dez meses de 2011.
Potencial.
A tarefa de diversificação deverá ser ajudada pela decisão das
autoridades de Pequim de facilitar a importação de 421 produtos, pela
redução de alíquotas e concessão de financiamento em condições
favoráveis.
O Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior acredita que o Brasil tem
potencial para vender 200 desses itens, entre os quais estão máquinas
agrícolas, máquinas para celulose e equipamentos elétricos.
Porém,
os eventuais negócios dependerão da competitividade de setores
industriais, de sua capacidade de adaptar produtos às demandas chinesas e
da escala para atender um mercado gigantesco, ressaltou Teixeira.
"Estamos
estudando a pauta para preparar nossa estratégia do próximo ano", disse
o secretário. Segundo Prazeres, a política chinesa de estímulo às
importações já começa a se refletir nos embarques brasileiros.
O
exemplo mais expressivo é o aumento de 5.000% em dez meses na venda de
filtros de ar, um dos itens da lista de produtos de Pequim. As
exportações do produto passaram de um valor insignificante em 2011 para
US$ 24 milhões no período de janeiro a outubro de 2012.
Enquanto
a venda de minério de ferro caiu 25% neste ano em razão da queda no
preço internacional do produto, os embarques de produtos manufaturados
aumentaram 17%, de US$ 1,6 bilhão para US$ 1,9 bilhão no período de
janeiro a outubro. No caso de aviões, a expansão foi de 44%, para US$
696,7 milhões.
Na opinião de Teixeira,
a ofensiva para ampliar e diversificar as exportações para a China será
favorecida pelo início das operações no Brasil do Banco da China e do
Banco de Desenvolvimento da China, que poderão financiar as compras
chinesas de produtos nacionais.
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