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Aviso aos Navegantes
(sobre alguns fatos recorrentes, em face dos quais é
impossível calar...)
Paulo Roberto de Almeida
Por que o aviso, por que
aos navegantes?
“Aviso aos navegantes” é
uma expressão muito antiga, originalmente usada na navegação costeira ou de
cabotagem, mas que adquiriu o status de frase corriqueira, quando se pretende
avisar alguém de alguma mudança inopinada no cenário habitual, ou alertar os
incautos sobre alguns cuidados que convém tomar no ambiente em que se está ou em
caminhos que se atravessa. No contexto aqui usado a expressão se refere, apenas
e tão somente, a uma advertência de minha parte aos que, por acaso frequentando
estas páginas, possam eventualmente considerar que alguns dos posts aqui inseridos,
ou algo da linguagem aqui utilizada são suscetíveis, justamente, de ferir
suscetibilidades ou de trazer algum tipo de desconforto aos que por aqui
navegam distraidamente e possam se sentir “atingidos” por qualquer mensagem
subliminar ou claramente dirigida (como é meu hábito, talvez péssimo, não
costumo esconder o que penso sobre certas coisas).
Em outros termos, “aviso
aos navegantes” não tem muito a ver com o que vou dizer aqui, a não ser de
forma alegórica, ou simbólica, mas eu digo mesmo assim. O aviso, na verdade, é
uma forma de resposta aos que me alertam sobre a inconveniência de certas
frases ou comentários aqui postados, que possam eventualmente ter sido
considerados como provocatórios demais, quem sabe até ofensivos aos olhos e
ouvidos (e o que mais couber) de certas pessoas, ou personagens da vida pública,
alarmados (com razão) com a crueza, ou aspereza de postagens de natureza
puramente informativa (mas sobre isso eu não preciso me desculpar, já que sou
apenas mensageiro, neste caso) ou seus acompanhamentos opinativos ou até
condenatórios (mas isso eu tenho direito de fazer, e não me eximo de fazê-lo).
Que horror, não é mesmo?
Os navegantes, por sua
vez, são todos aqueles que por aqui passam, ou que a este espaço são levados,
ou trazidos, ou induzidos (que sabe abduzidos?) em virtude dessas repetições
involuntárias e incontroláveis neste vasto espaço cibernético que constitui o
imenso free lunch que nos é oferecido
pelo capitalismo monopolista virtual, para alegria de alguns e desespero de outros
(em todo caso, thanks Blogspot, muito
obrigado Google, pela oportunidade de dar a palavra a quem tem o que dizer).
Feita a explicação
introdutória quanto aos dois termos, passemos à substância, ou seja, ao próprio
aviso aos navegantes. Ele é motivado pelo fato de que vozes certamente amigas
(podem ser inimigas, também, o que não faz muita diferença) me pedem por vezes
para exercer moderação neste espaço de puro divertissement,
querendo com isso dizer que devo manter uma atitude ponderada, ou de comedimento,
em face das muitas surpresas (muitas delas extremamente desagradáveis,
reconheçamos) que nos traz o noticiário cotidiano sobre certos usos e costumes
não exatamente recomendáveis mas que andam se disseminando de forma
exageradamente rápida na terra dita dos papagaios. Os que são bem informados –
a maioria que frequenta este espaço, assim espero – sabem precisamente do que
estou falando: aos muitos casos surpreendentes que pipocam todos os dias no
noticiário político, mas que mais bem fariam se fossem acomodados nas páginas
policiais ou na dos crimes hediondos.
De fato, é incrível: nem
bem termina um escândalo (na verdade, eles nunca terminam), logo começa outro,
e depois mais outro, e mais um, logo adiante, talvez até nos mesmos locais e
com os mesmos personagens do primeiro, numa inacreditável sequência de “mal
feitos” sucessivos, abusos repetidos, com a mesma “cara-de-pau” de alguns
aloprados dos quais nem sabíamos a existência. Incrível capacidade possuem os
companheiros para acumular patifarias sobre patifarias, fraudes sobre fraudes,
um crime depois do outro, malversações bizarras depois de mistificações
primárias. Mas não só os companheiros, e suas quadrilhas habituais e outras
menos conhecidas, mas também categorias nunca antes imaginadas, que julgávamos
impolutas, como juízes, delegados e procuradores desta republiqueta
jabuticabal, que resolvem igualmente contribuir com sua cota de malfeitorias
para agravar o ambiente de degradação moral e de decadência institucional que
já contaminou vastos territórios e espaços da já citada terra dos papagaios (e
de vários outros animais, no sentido estrito e no figurado).
Aos alarmados, aos que me
alertam, quando apenas me limito a transcrever esses causos por aqui, informo
simplesmente que não sou culpado de nada, a não ser pelo fato de me constituir
numa espécie de mensageiro de notícias mal cheirosas, extremamente
desagradáveis. A mim elas me atingem de modo particularmente doloroso,
respeitador que sou das leis e regras desta terra – por mais absurdas que algumas
sejam – e também como contribuinte compulsório da cornucópia de impostos que
somos obrigados a recolher – e muitos outros mais que nem precisamos recolher –
e cujo resultado acaba sendo desviado não só pelos patifes declarados, mas
igualmente por todos aqueles companheiros que vivem e se locupletam
indevidamente do dinheiro público, isto é, do meu, do seu, do nosso dinheiro. E
por que eu teria de ter, para sermos mais diretos, toda esta indignação?
Creio que deve ser por
revolta, talvez ingênua, pela incapacidade de reação à altura, por impossibilidade
de assistir passivamente ao festival de crimes que desaba, literalmente, sobre
todos nós, e também por certo espírito anarquista, o que me impele a sempre
protestar quando contemplo abusos de autoridades, pela natural aversão ao
arbítrio dos poderosos, ou simples indignação em face das fraudes recorrentes
cometidas por aqueles que se locupletam a partir do duro labor dos
contribuintes honestos e obrigados, mas que são virtualmente impotentes frente
a esse cenário de horrores repetidos. Daí o grito virtual, daí a denúncia, daí
as manifestações de inconformidade, por mais inócuos e inoperantes que estas
pareçam, ou possam de fato ser, num quadro de desmazelos repetidos e jamais
terminados. Bem, eu pelo menos tento fazer a minha parte, neste trabalho de
formiguinha cibernética.
E o que eu poderia dizer
aos que, alarmados pelo desvio de funções deste espaço que deveria ser apenas
de estudo e análise de questões internacionais, me recomendam moderação e
prudência, contenção e discrição, talvez até conformismo e silêncio? Não sei
exatamente o que fazer, e por isso mesmo este “aviso aos navegantes”, um tanto
quanto frustrante, em face de tantas irregularidades recorrentes, em presença
de tamanha fragilidade defensiva de todos aqueles, como eu, que assistimos a
essas cenas de horror republicano, de fato estupefatos e quase desalentados
pela nossa impotência quando já adivinhamos a impunidade e a retomada mais
adiante dos mesmos feitos.
O que, portanto, poderia
eu responder aos que me recomendam, ainda assim, moderação e prudência, talvez
omissão e esquecimento?
Talvez isto: alguém
precisa levantar-se e proclamar as velhas virtudes da honestidade cidadã,
antigos hábitos de correção republicana, modestas práticas de adesão à verdade,
de coerência com as regras e valores transmitidos por aqueles que nos
precederam neste largo itinerário da barbárie à civilização, de simples
coerência com lógica elementar que pretende a superioridade do bem contra o
mal, do acatamento ao direito em face da contravenção, da decência contra o
crime.
E poderia ser de outra
forma? Alguém, abertamente, seria contra tudo isso que conta com meu
assentimento, ou a favor de tudo aquilo que merece minha condenação sem
compromisso, sem meias palavras, sem qualquer complacência? Creio que não. Se
alguém tiver algo contra minha atitude, seria preciso dizer franca e
abertamente, talvez até anonimamente. Em todo caso, continuarei fazendo o que
sempre fiz, talvez ao custo de alguns percalços funcionais, de certas
conveniências e oportunidades nos ambientes que frequento, no plano social ou
profissional.
Sinto muito pela
contrariedade ou incômodo que tal tipo de atitude possa causar em certos
“navegantes”. Alguém – e tenho certeza de que são muitos, como eu – precisa assumir
o ônus de atitudes contrarianista, quando elas se dirigem ao bem comum e a
favor da elevação dos padrões de cidadania.
Afina de contas, se todos
seguirmos essas simples regras de indignação cidadã, quem sabe não poderia esta
terra dos papagaios, em algum dia não muito distante, se converter numa nação
mais decente na qual se viver, talvez até um país mais normal, mais conforme
aos nossos ideais republicanos, e, por isso mesmo, menos desgostoso de se
contemplar, simplesmente mais limpo? É tudo o que espero...
São Paulo-Brasília, 25 de novembro de 2012
Um comentário:
Prezado Sr. As estruturas químicas se formam por afinidade de seus componentes, seja para formar um veneno, seja para formar um elixir. Analogamente os homens procuram se introduzir nos grupos que lhes sejam amistosos. Minha irmã tem uma teoria curiosa, mas que bem cabe ao cotidiano. Ela chama de teoria das prateleiras e explica que os homens se encontram distribuídos em prateleiras de tal forma que é a afinidade ou frequência vibratória que as mantém separadas ou unidas. Isso não significa que não exista contato entre todas, mas de forma fortuita, eventual, circunstancial. Cada prateleira se caracteriza por sentimentos, gostos, identidade cultural, intelectual, etc. O que mais a define é a procura espontânea, aquela que pode ser identificada pela amizade, pela simpatia, por alguma afinidade específica. Se me perguntarem quais as coisas que me atraem eu começaria por aquelas que ma satisfazem intelectualmente, aquelas que me causam prazer e que envolvem companheiros de longa data e sólida formação moral. Reconheço a existência como uma forma de evolução humana, portanto um processo em que as pessoas estão divididas em grupos afins. Existem aqueles que são quantitativamente relevantes e existem aqueles (poucos) que são qualitativamente importantes. E o mundo não é governado por estes últimos, mas pela massa - vide Ortega y Gasset - que experimentam o poder, mas que, pela forma que o fazem, terão muitos resultados negativos. Será exatamente a colheita que os fará perceber que as sementes plantadas não são as mais úteis a si mesmos. Por isso tenho a visão individualista. O processo começa pelo ser, pela busca em se tornar melhor hoje do que se foi ontem e se tornar amanhã melhor do que é hoje. Ao adquirir conhecimento, arrasta-se consigo o inevitável idealismo, aquele que prevê uma sociedade mais humana, mais harmônica, mais pacífica, mais justa, mas que acredita que deva ser espontânea e não por decreto. Dificilmente encontramos obras coletivas e se a achamos é certo que alguém a imaginou e a dirigiu para sua consecução. Por isso o individualismo, mas não o egoísta, primário, animal que tão somente vê a si e sua prole como importantes. O que se espera, no processo, é que o direito da força se dobre à força do direito. É por essa razão que se procura no mundo cibernético, em particular o da informática, meios afins,onde as vozes se juntam com a pretensão de trazer mais qualidade ao meio. A vontade que se tem, diante de forças tão expressivas e intensas é deixar estar para ver como é que fica, mas alguma coisa íntima, subjetiva, nos faz discursar, mesmo que seja para ouvidos moucos. Cada ser humano expressa uma capacidade única de compreender o mundo que o cerca. E cada um se encontra num estágio e é exatamente ele que o chama para o grupo afim. A grande massa espelha esse comportamento médio em cada cultura. O que se pode fazer por si é o esforço de aumentar o nível de compreensão e com isso elevar o do meio onde se vive. E não encontro outro meio senão o de elevar-se moralmente. Onde eu encontrar em alguém esse discurso, eu me disponho a segui-lo, pois está em acordo com a minha "prateleira".
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