Pois é, cada país tem a máfia que merece. A deles, a dos sicilianos, a legítima, vivia de crimes, assassinatos, tráficos, contrabandos, extorsões, mas tudo à margem da lei, não apenas da Itália, mas também em outros países, notadamente nos EUA, onde ela virou objeto dos melhores filmes de Hollywood, o que glamorizou um pouco o crime ordinário. Mas, seja na Sicília, seja na Itália, seja nos EUA, a máfia nunca chegou ao poder, embora tenha tentado: intimidou figuras políticas, comprou policiais e juízes, chegou a ter senadores, cantores, e talvez até um governandor. Mas nunca chegou à preeminência que alcançou em certos lugares.
Como neste nosso país, por exemplo, onde a máfia alcançou completo sucesso, não apenas em termos de poder econômico e político, mas sucesso de mídia, de publicidade, até de respeitabilidade, quem diria? Se trata da mais formidável inversão moral a que já pudemos assistir. Mafiosos completos, embora de uma espécie diferente dos sicilianos, conseguem se distinguir na sociedade.
Bem, quem tem um Maluf como aliado deve ser mesmo o padrinho dos padrinhos, o poderoso chefão, o próprio Godfather em pessoa.
Paulo Roberto de Almeida
Reinaldo Azevedo, 07/02/2013
às 4:59
Existe
um lugar no Brasil em que roubar dinheiro do Banco do Brasil, comprar a
consciência alheia, vender a própria consciência, usar dinheiro público
em benefício pessoal e formar uma quadrilha para cometer crimes
transformam as pessoas em guias morais, em celebridades, em referências
positivas. E não é numa das “comunidades” a que as UPPs ainda não
chegaram. Nada disso! O lugar em que o crime compensa e em que
criminosos já condenados pela Justiça são disputados para uma fotografia
é o PT. Não fosse a sujeição, nesse caso, voluntária e não fossem os
fãs e seus ídolos formados pela mesma têmpera moral, eu juro que iria
sugerir a Dilma que mandasse uma UPP para o partido. O objetivo seria
libertar aquela pobre gente de seus algozes espirituais. Mas não há
inocentes por ali. Todo mundo sabe o que todo mundo sabe. E, mesmo
assim, o clima é de festa, de euforia, de algazarra.
A Folha informa que
lideranças do partido fizeram em São Paulo, nesta quarta, uma festa em
homenagem aos 78 anos de Ricardo Zarattini. Os convidados de honra eram
José Dirceu, Delúbio Soares e os deputados José Genoino e João Paulo
Cunha. Quando estão juntos, os patriotas somam exatos 36 anos de cadeia.
Mesmo
assim, conta a reportagem, os quatro eram muito assediados para tirar
fotografias. Imagino. Uns queriam sair ao lado do condenado a 10 anos e
10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha — Dirceu. Outros,
quem sabe não se sentindo à altura do chefe do grupo, escolhiam a
corrupção passiva, o peculato e a lavagem de dinheiro e reservavam seu
melhor sorriso para posar ao lado dos 9 anos e 4 meses de João Paulo.
Delúbio rivalizava nos crimes com Dirceu, mas sua pena foi menor: 8 anos
11 meses. É o bastante para deixar honrado quem posa a seu lado.
Genoino, com os mesmos crimes desses dois, levou apenas 6 anos e 11
meses. Sabia de tudo, participou de tudo, mas parece que o STF não o
considerou esperto o bastante para estar no comando — embora fosse
presidente da legenda.
No morro,
os bandidos provam o seu poder, impõem a ordem e mobilizam um séquito de
admiradores exibindo suas pistolas e seus fuzis. Os mensaleiros, em
pleno regime democrático e de direito, exibem suas penas quase como
galardões conquistados por seu amor à causa. Não é de espantar que os
valentes agora comecem a mobilizar a delinquência política
latino-americana para vir em seu socorro, a exemplo do embaixador da
Venezuela no Brasil, o tal Maximilien Sánchez.
Na festa,
João Paulo aproveitou para desfilar seu humor inteligente e sua
picardia, dando uma pista de qual será seu destino quando for
oficializada a cassação de seu mandato e a suspensão dos direitos
políticos: “Dirceu, Genoino e Delúbio foram condenados sem provas. Eu
fui condenado contra as provas. Isso não é mensalão, é ‘mentirão’”. O
piadista, nesse momento, acusava o Supremo Tribunal Federal de promover
uma mentira. Até Marcola é mais respeitoso com a Justiça, não é mesmo?
Por Reinaldo Azevedo
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