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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ilusoes comerciais (e anticomerciais) brasileiras...

Vou ser cruel, mas de vez em quando é preciso.
Os companheiros desmantelaram, implodiram, eliminaram (com muito orgulho para eles e o bando de basbaques que os sustentam) as negociações comerciais hemisféricas propostas pelos EUA sob o signo da Alca, o acordo de livre comércio das Américas.
Para eles, não se tratava de acordo de integração -- nunca foi, mas ele ignoram isso e nunca souberam distinguir um acordo comercial de um prato de abobrinhas -- mas sim de um tratado de anexação, como várias vezes repetido pelo guia genial dos povos. Ou seja, anexação de todos os coitadinhos latino-americanos pelo império malvado, hegemônico, arrogante e..., claro, imperialista.
Os companheiros nunca entenderam de comércio, menos ainda de finanças, mas isso não é o que importa: bastava se cercarem de bons expertos -- diplomatas e outros -- para ter a melhor informação possível sobre como funcionam essas coisas, o projeto do Mercosul, a proposta da Alca, seu impacto sobre a economia brasileira, as oportunidades e desafios assim criados, os custos e benefícios do processo. Mas não foi isso que ocorreu: os "especialistas" da área, seja por subserviência e sabujice aos companheiros, seja por ideologia simplificadora, anti-imperialismo primário, ignorância econômica -- provavelmente uma mistura de tudo isso -- acharam sim, que era preciso sabotar o processo da Alca e fazer uma aliança dos pobres e oprimidos, os coitadinhos da América do Sul (já que o México já tinha se "vendido" ao imperialismo), para enfrentar o dragão da maldade, o império capitalista. Conseguiram, com a ajuda dos companheiros Hugo e Nestor, implodiram a Alca, e se orgulharam disso, tanto que sairam cantando vantagem por.
Teve até um especialista que se aproveitou da recessão no México, na crise americana de 2007-2008, para alertar nós, os pobres incautos, como teria sido ruim para o Brasil se tivessemos aderido à Alca: imaginem, em lugar de um pequeno crescimento, disse ele, teríamos tido uma megarecessão. Não sei se acreditava no que dizia, ou se o fazia mesmo por desonestidade intelectual, mas o fato é que disse essa barbaridade sem tamanho, que além de tudo é uma mentira consumada.
Ao mesmo tempo que desmantelavam as malvadas pretensões imperialistas no hemisfério, os companheiros se achavam sumamente espertos, ao achar que iriam concluir um acordo muito rapidamente com os bonzinhos dos europeus, que como todos sabem não são arrogantes, nunca foram imperialistas e só querem o nosso bem, a começar porque eles também têm um baita mercado comum que só vive de fazer bondades para os seus membros e os associados simpáticos, como nós.
Os companheiros não desconfiavam -- e os especialistas se "esqueceram de avisar -- que os bonzinhos europeus só tinham embarcado nessa aventura de um acordo comercial com o Mercosul porque temiam perder vantagens para os americanos no hemisfério. Qualquer criança -- mas não os companheiros, claro -- podia adivinhar que, afastada a Alca, afastava-se ipso facto a necessidade de os bonzinhos europeus continuarem bonzinhos conosco, e assim as negociações birregionais foram se arrastando pelos últimos 17 anos...
Ao mesmo tempo os companheiros -- nisso secundados pelos especialistas malucos -- inventaram a tal de "nova geografia comercial mundial", e achavam que todos os pobrezinhos do mundo iriam se unir para transacionar entre si, sem toda aquela "dependência" dos mais ricos, que além de tudo eram arrogantes e assimétricos. E assim fomos nós, fazendo magnifícos acordos com Índia, África do Sul e um bando de outros periféricos, achando que os ricos já eram.
Deu no que deu...
Sim, ficou pior desde então, porque pelo menos, no governo companheiro anterior, ainda se acreditava na possibilidade de se concluir a Rodada Doha, assim os companheiros não exerceram todos os seus talentos protecionistas e anti-livre-cambistas. Agora que ninguém mais acredita em rodada nenhuma, vamos deitar e rolar, com os argentinos, nessa farra protecionista descarada.
Assim vai o mundo, ou melhor, o Brasil, o Mercosul e os companheiros.
Depois não digam que não avisei: posso mostrar dezenas de artigos meus, desde antes da assunção dos companheiros no poder, e especialmente no começo do seu reino maravilhoso, chamando a atenção para essas evidências evidentíssimas, mas os companheiros não acreditavam nelas, claro. Nem os especialistas, mas esses são piores do que os companheiros. Estes podem ser no máximo acusados de ignorância ou ingenuidade. Aqueles exibiram má-fé, desonestidade e sabujice, apenas isto. E já é muito, não acham?
Paulo Roberto de Almeida

Acordo comercial entre EUA e Europa divide governo brasileiro

Enquanto diplomatas querem buscar novos acordos de comércio, equipe econômica espera resolver primeiro disputas no Mercosul

15 de fevereiro de 2013 | 2h 10
LISANDRA PARAGUASSU, IURI DANTAS / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
 
A notícia de que os Estados Unidos e os 27 países da União Europeia iniciaram negociações para um acordo de livre comércio foi recebida de maneira contraditória pelo governo brasileiro. A diplomacia aposta em usar o caso como exemplo para convencer a equipe econômica sobre a importância de acordos regionais de comércio. Os responsáveis pela política comercial, no entanto, não veem chances de avanço para o Brasil sem que se resolvam questões internas do Mercosul.
A extensão, ou "ambição", do acordo EUA-UE indicará o tamanho do impacto na economia brasileira, na avaliação do Itamaraty. Se ficar limitado a bens e normas, o impacto não será tão significativo para o Brasil, na visão dos diplomatas. Mas a inclusão de serviços e compras governamentais pode reduzir a participação de empresas brasileiras nestes setores, porque companhias americanas e europeias teriam mais vantagens em competir entre si nos dois mercados.
O Itamaraty começou ontem a mapear os impactos do acordo transatlântico para o Brasil. O relatório, que será apresentado à presidente Dilma Rousseff, fica pronto em algumas semanas.
De início, as negociações entre UE e EUA vão consumir mais tempo dos negociadores europeus. Isso no momento em que o Brasil tenta retomar, de forma efetiva, as negociações de acordo de livre comércio entre o Mercosul e os europeus. O Itamaraty não vê prejuízos para essas negociações com a decisão anunciada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, no início da semana.
Silêncio. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, evitou comentar o tema. Internamente, a equipe do ministro avalia que o Brasil tem as mãos amarradas porque só pode negociar em bloco e a Argentina resiste a acordos desse tipo. Por outro, os técnicos mais experientes da Pasta sabem que a vontade dos europeus de conseguir um pedaço do mercado brasileiro não representa vontade política suficiente para derrubar os pesados subsídios agrícolas, tema central para os brasileiros nas discussões com a UE.
Diante deste cenário, o Palácio do Planalto optou por maior cautela em relação ao diálogo Estados Unidos e UE. O governo preferiu não se comprometer com comentários públicos e escolheu o Itamaraty como porta-voz da questão. A presidente conversou com Pimentel ontem no Palácio do Alvorada. A ideia é seguir com o trabalho e apresentar, nos próximos meses, proposta de acordo aos europeus.
A Confederação Nacional de Agricultura (CNA) identifica um prejuízo claro às pretensões brasileiras. As negociações de um acordo UE-Mercosul, que se arrastam há mais de dez anos, devem ficar em segundo plano para os europeus. "Há necessidade de se repensar a política comercial brasileira", afirmou Thiago Masson, coordenador da área internacional da entidade.
Nesta conversa com a UE, interessa ao Brasil derrubar os subsídios agrícolas e obter mais acesso para produtos nacionais. A Europa, como os EUA, tenta uma saída para sua indústria manufatureira. Sob uma severa crise econômica, alto desemprego e dívidas soberanas em lento ajuste, a indústria do continente cortou preços para reduzir seus estoques. Parte do governo brasileiro teme uma invasão ainda maior destes produtos no mercado nacional, em caso de um acordo entre Mercosul e UE, Daí a importância de se obter redução nos subsídios europeus.
Outro fator de preocupação para o País em relação ao possível acordo entre americanos e europeus são as normas. Atualmente, boa parte das normas de segurança sanitária, de qualidade para produtos, entre outras, são negociadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O problema é que as negociações entre EUA e União Europeia podem resultar em normativos próprios. E essas regras tenderiam, naturalmente, a ser seguidas pela OMC, FAO e até outros parceiros comerciais do País.

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