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Minhas Previsões Imprevisíveis
para 2013
(não custa continuar
tentando, para ver se em algum ano dá certo...)
Paulo Roberto de Almeida
Como faço a cada ano (salvo
nos bissextos), vou continuar meu tresloucado exercício de fazer previsões ao
contrário, isto é, minhas expectativas para o que não tem nenhuma chance de
acontecer no ano que pronto se iniciará. É claro que, dada a múltipla natureza
bizarra, sempre inovadora, criadora, simpática e decepcionante, e até mesmo
surpreendente deste país surrealista que se chama Brasil, corremos o sério
risco de sermos desmentidos, e sairmos humilhados, pela absolutamente
inacreditável realização de algumas dessas previsões malucas. As surpresas
podem ocorrer, especialmente as vindas de certas esferas da alta política, previsíveis
na sua imprevisibilidade, e que costumam confirmar aquela máxima do Barão de
Itararé: de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Mas isso fica pela
conta do seguro contra acidentes não previstos, que renovo a cada ano nessa
época, para evitar, justamente, ser processado por algum leitor, e aí cair
naquela previsão ainda mais imprevisível de ter o caso julgado por um “auto”
tribunal em menos de 20 anos, o que atrapalharia sobremaneira minha
aposentadoria.
Sem mais delongas e
tergiversações, vamos pois à lista atualizada das previsões imprevisíveis para
2013. Se algumas delas se realizar, os leitores podem me cobrar a conta, mas
apenas em 2014, quando terei um estoque inteiramente novo de ofertas do
impossível.
Começo pelo mais comum,
frequente e corriqueiro: corrupção. Se não sobrevier o fim do mundo antes,
vamos ficar inteiramente livres de qualquer novo caso de “malfeitos” em 2013.
Tendo aprendido com sua própria experiência, na carne, por assim dizer, os
companheiros vão inaugurar uma tecnologia inteiramente nova de combate à
corrupção, pela simples razão de que – como a nova nota fiscal que já declara
os impostos – a corrupção já virá integrada a todos os negócios públicos. O Partido
dos Companheiros está criando uma Secretaria Especial de Negócios
Não-Contabilizados, aqui se antecipando ao financiamento público das campanhas
eleitorais, o que vai facilitar tremendamente as coisas. Transpondo a
tecnologia para o nível estatal, vai ser possível nos livrarmos inteiramente da
corrupção, em virtude do expediente já referido de sua integração oficial,
formal e carimbada, em todas as transações que envolvem instituições e agentes
públicos. Vai ser assim uma espécie de CPMF destinada inteiramente ao caixa 2,
mas de forma explícita. Resolvido o problema, não é mesmo?
Fim do Mundo: parece que não
deu certo desta vez, mas não custa apostar mais um pouco, inclusive porque esta
catástrofe natural – ou dos deuses? – vai resolver todos os outros problemas,
inclusive a obrigação deste escriba ficar perdendo tempo neste tipo de
besteirol. As apostas ficaram um pouco mais caras, dada a frustração com as
últimas cinco previsões e meia. Também: os maias têm aquela escrita complicada,
impossível de ler, e números que não são em base decimal. Mais passons...
Economia: depois do insucesso dos quinze
últimos pacotes de estímulo à economia, o governo promete que não vai mais
fazer pacotinhos de estímulo à economia; pode ser um pacotão, de tempos em
tempos, mas essa coisa de a presidente e o ministro da Fazenda anunciarem, a
cada semana, que “estão tomando medidas para estimular a economia” vai
finalmente sair de moda. E não tem mais essa coisa de improvisações setoriais;
doravante só terão direito a pacotes de estímulos, pacotões, na verdade, os
setores minoritários, que já gozam de várias cotas de favor. Isso muda! Os
afrodescendentes, por exemplo: com base na auto-declaração, eles já são mais de
55% da população brasileira. Todos os pacotes de favor serão agora para setores
minoritários e prejudicados nas políticas dos últimos anos, como os loiros de
olhos azuis, coitados.
Política: o Congresso proclama sua
independência, enfim! Só vai trabalhar para o governo nas quartas-feiras,
quando o expediente é total. Nas terças e quintas, e só em regime de meio
expediente, trabalhará para ele mesmo, que ninguém é de ferro. Estão abolindo o
14o. e o 15o. salários, mas vão criar a semana de
expediente ainda mais reduzido. E já avisaram; só vão cassar companheiros
legisladores em anos bissextos. O Stalin Sem Gulag, aliás, aproveita para
mandar dizer que a luta continua, agora dentro da cadeia, com o apoio do PCC,
que é um partido quase alinhado com suas teses.
Justiça: o Supremo diz vai
parar de se meter na vida dos demais poderes; mas já avisou que não quer nenhum
parlamentar se metendo na fixação dos seus próprios salários, que devem ser
proporcionais aos quatro milhões de casos “a julgar”, parados há mais de oito
anos nos escaninhos dessas varas que já viraram palácios de papel. Também vão
modernizar o figurino: aquelas togas incomodas ficam sempre caindo e
atrapalhando o movimento dos braços; vão adotar um simples avental, com os
dizeres mais do que atuais: A justiça é cega...
Esporte: a Seleção de
futebol da França se exila por completo na Bélgica, por razões fiscais. Os
integrantes da seleção da Bélgica, por sua vez, fazem greve para não ter de
pagar imposto de renda e ameaçam se exilar no vizinho Luxemburgo. A seleção
brasileira adota um uniforme mais largo e mais comprido, daqueles antigos, para
acomodar todas as mensagens publicitárias que a CBF negociou com importantes
empresas multinacionais e várias estatais tupiniquins. Alguns jogadores vão
negociar tatuagens publicitárias na barriga e no bum-bum (este mais caro). Mas,
na copa das confederações, a seleção brasileira perde da seleção do Burundi por
1 a 0. Pano...
Economia mundial: a
gangorra continua. Depois que o Brasil perdeu a condição de sexta economia
mundial, para se converter na oitava economia, o governo reagiu e, via
flutuação cambial do Banco Central, conseguiu trazê-la de volta para a sétima
posição; os mercados reagem, fazem dois ataques especulativos e levam o Brasil
à nona posição, mas o governo faz novo pacote e consegue trazer a economia para
a oitava posição outra vez; os mercados, só de birra, provocam fuga de capitais
e arrastam o Brasil para a décima-segunda posição; governo, emburrado e amuado
desiste de brincar de gangorra cambial. Enquanto isso, a China e os Estados
Unidos criam um programa conjunto de manipulações cambiais: pronto, era o que
faltava para o governo brasileiro se enfurecer de vez; mas o seu tsunami
financeiro não passa de uma marolinha...
Economia doméstica: o
Ministério do Planejamento cria o PAC-III, com taxa de realização
pré-programada em 35,7% dos recursos empenhados (incluídos restos a pagar...);
o TCU também criou um software novo, de embargo preventivo das obras suspeitas
de irregularidades: ele também vem pré-programado para embargar metade das
obras, inclusive retroativamente, do PAC-I e do PAC-II, mas aí se descobre que
as obras paradas são mais do que 75% do total dos volumes empenhados;
Economia sentimental: o governo
cria o plano Brasil Amoroso, para distribuir beijos e abraços a quem vive sem
companhia; Senadores mais sentimentais que outros, como Suplicy e Buarque, pensam
instituir uma Bolsa Carinho, de meio salário de senador, para os contemplados
no programa; executivo reage e cria o vale-beijo.
Cultura: as editoras
brasileiras pedem proteção contra a Amazon, e querem taxa especial sobre o
livro eletrônico, para compensar os custos que tem de estocar um monte de papel
impresso que não vende; a Amazon resolve diversificar suas operações nacionais e
começa a vender tapioca express-delivery. Deputado Aldo Rebelo reage, e diz que
só pode se estiver escrito em língua nacional.
Política Externa: Cuba decide
ingressar no Mercosul, antes do Paraguai voltar, e diz que tem direito a receber
metade das verbas do Fundo de Recuperação e Apoio à Correção das Assimetrias
Sociais Socialistas (FRACASSO), criado na cúpula do meio do ano. Guiana e Suriname
reagem e dizem que também querem entrar no Mercosul para se beneficiar do maná
brasileiro, à razão de 70% do total. Ministros decidem então criar uma Casa da
Moeda do Mercosul (CMM), o mais novo órgão do vasto empreendimento
integracionista, que não cessa de se ampliar no continente e surpreender o
mundo pela sua criatividade e versatilidade. Obama diz que EUA consideram se
tornar membro associado do Mercosul. É a apoteose...
Fim do Mundo, outra vez:
guru de Cabrobó da Serra diz que ele descobriu um erro de cálculo no calendário
maia, e atrasa o fim do mundo para meados de 2014, o que permite passar o fim
de ano sem maiores preocupações com seguro de vida.
Bom ano a todos...
Brasília, 20 de dezembro de 2012
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