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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O pouco ufanismo dos numeros de crescimento - Samuel Pessoa

Folha de S.Paulo, 21/10/2012 - 03h00

Baixo crescimento do Brasil

Samuel Pessoa
Recentemente o FMI divulgou a atualização do relatório do panorama da economia mundial com a revisão (para pior) da taxa de crescimento para as principais economias em 2012.
Fomos informados de que o FMI espera que o crescimento econômico mundial real, isto é, controlando pela inflação nos diversos países, será de 3,3%, e não 3,5%, como se imaginava anteriormente. Os países desenvolvidos crescerão menos, o que motivou a revisão para baixo.
Não foi notado que, apesar da revisão para baixo, a taxa de crescimento de 3,3% ao ano está longe de ser um péssimo resultado. Esse foi o crescimento médio dos 20 anos de 1980 até 1999.
Editoria de Arte/Folhapress
Ou seja, as economias emergentes, quase que sozinhas, visto o péssimo desempenho da Europa e o desempenho ruim dos EUA, estão conseguindo rodar a economia mundial à mesma taxa que vigorou em boa parte do último quarto do século 20.
A divulgação das projeções do FMI é uma boa oportunidade para avaliarmos como está caminhando a economia brasileira em comparação com as demais economias latino-americanas.
Também é uma boa oportunidade para olharmos para o crescimento da economia brasileira de uma perspectiva de longo prazo.
A tabela acima apresenta a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) real para a América Latina (primeira linha), para o Brasil (quarta linha) e para os demais países da América Latina excluindo os países da América Central para diversos períodos.
Na coluna 1, considerei o período que coincide com o mandato do presidente FHC; na coluna 2, o período que coincide com o mandato do presidente Lula; e, na coluna 3, os dois últimos anos, incluindo a previsão para 2012 do FMI, que coincide com os primeiros dois anos do mandato da presidente Dilma.
Além do Brasil, a tabela considera dez outros países latino-americanos: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Três fatos se depreendem da tabela. Primeiro, tanto no governo FHC quanto no governo Lula, o crescimento do Brasil foi muito próximo do crescimento da América Latina: 0,1 ponto percentual a mais para o governo FHC e 0,1 ponto percentual a menos para o governo Lula.
Ou seja, toda a aceleração de crescimento que houve do governo FHC para o governo Lula foi compartilhada pela América Latina.
Segundo, se compararmos o crescimento da economia brasileira com os demais dez países da tabela, houve piora significativa do governo FHC para o governo Lula.
No governo FHC, o crescimento da economia brasileira foi maior do que o crescimento de 6 dos 10 países da tabela. No governo Lula, somente ficamos à frente do México. Todos os demais nove países apresentaram um desempenho de crescimento superior ao nosso.
Terceiro, nosso desempenho no biênio 2011-2012 está bastante aquém do desempenho da América Latina: 2,1% para nós em comparação a 3,8% para a América Latina. Novamente, dos dez outros países da tabela, nosso desempenho só não é pior do que o do Paraguai.
Assim, parece que algo ocorreu nos últimos anos que aparentemente reduziu a capacidade de crescimento da economia brasileira a valores significativamente inferiores aos da América Latina. Esse é um tema que certamente motivará muita pesquisa nos próximos anos.
De qualquer forma, para todos os períodos, o desempenho foi relativamente ruim. Há sinais de que os governos têm sido ruins? Em particular, é sinal de desempenho ruim da atual administração? Não necessariamente.
O fato de o atual governo e de o anterior serem extremamente populares sugere que a prioridade da sociedade não tem sido o máximo crescimento econômico. Outros fatores devem determinar a forma como o eleitor tem escolhido os governantes.
Penso que o eleitor mediano tem priorizado governos que reduzam a desigualdade e elevem a renda e o consumo. Esse objetivo tem sido compatível com o desempenho medíocre de crescimento da economia brasileira. Não sabemos até quando. Mas me parece que só haverá alteração do padrão de escolha política da sociedade quando esse modelo de baixo crescimento e melhora da desigualdade, da renda e do consumo testar seus limites.
SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Escreve aos domingos nesta coluna.

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