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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mensalao e outras corrupcoes: o que se ve, e o que nao se ve...

O economista Frederic Bastiat ficou famoso pelo seu recurso genial a um tipo de metodologia analítica que ilustra de maneira muito simples, e absolutamente correta, os efeitos visíveis e invisíveis de qualquer medida de política pública que incida sobre os agentes econômicos e seus ativos: o que se vê, e o que não se vê.
De fato, o universo econômico é dominado, como não poderia deixar de ser no mundo contemporâneo, por medidas governamentais. Os Estados, ou os governos, determinam tudo, inclusive a liberação total dos fluxos, se por acaso dominados por uma ideologia liberal, ou libertária, ou o intervencionismo mais completo e absoluto, como nos sistemas comunistas defuntos (nem todos) e nos fascismos enterrados. Ficou, porém, e o keynesianismo é apenas uma variante mais light e insidiosa dessa realidade, o fato da intervenção governamental, para regular, liberar, constranger, taxar, etc.
E qualquer medida econômica possui, justamente, o seu lado visível, que é o que se pretende, sempre com boas intenções, e o seu lado menos visível, até obscuro, que são os efeitos indesejados, imprevistos, até inéditos, que é o que se obtem quando governos iluminados pretendem ditar às pessoas e empresas o que elas podem, ou não podem fazer com os seus ativos.
Em política, também é assim, e mais do que tudo ela tem muitos lados invisíveis que não sabemos como as coisas se deram, exatamente, e só uma pequena parte vem à tona.
Assim é, assim foi, e assim será, com o julgamento mais famoso ocorrido no Brasil contemporâneo, o do Mensalão, pelo qual um bando de meliantes travestidos de políticos foi pego com a boca na botija. O bandido mais condenado, coitado, é provavelmente, o menos culpado de todos, pois é evidente que o famoso operador financeiro da quadrilha do Mensalão não teria feito nada daquilo se não tivesse carta branca do chefe da quadrilha, que deveria ter recebido uma pena três vezes maior.
Assim ocorre, também, com o outro lado da história, sequer presente na história do Mensalão: o chefão maior, o capo di tutti i capi, não apareceu, mas foi ele o responsável final de tudo isso.
O mesmo ocorre no atual escândalo chamado de Rosegate, a amante do capo, que nunca teria feito o que fez se não autorizada, talvez até instruída pelo mesmo obscurso personagem.
Talvez haja um processo rumoroso, talvez não. Talvez o criminoso maior apareça, talvez não. Não sabemos ainda o que vai acontecer.
Uma coisa é certa: nunca saberemos exatamente o que aconteceu, pois os bandidos não vão confessar.
Quem conhece a história toda?
Eles próprios, claro. Mas também tem outros que sabem, que assistiram, que espionaram, que talvez chantageiem os personagens principais, e não apenas em torno desses dois casos tristemente famosos. Tem muitos outros episódios que não sabemos, que sequer desconfiamos e que nunca iremos saber.
Quem sabe algo a respeito? Eu tenho um palpite, apenas isto: um palpite.
Os cubanos sabem de muitas coisas...
Vão revelar? Não em público, apenas para os próprios interessados, para usar na medida de suas necessidades.
E quando a história der as suas voltas, vão queimar os papeis por que isso os compromete também.
Grandes bandidos se esforçam para não deixar pegadas.
É isso. Por enquanto fiquem com uma crônica do Mensalão, que conta apenas uma parte da história...
Paulo Roberto de Almeida 

O jornalismo independente ilumina a paisagem infestada de repórteres invertebrados e colunistas estatizados
Augusto Nunes, 23/02/2013

Na edição impressa de VEJA, comentei o livro do jornalista Merval Pereira sobre o julgamento do mensalão. Segue-se o texto. (AN)

Numa paisagem infestada de repórteres invertebrados, críticos construtivos, colunistas estatizados e analistas que combatem valentemente quem ousa discordar do governo, o espaço ocupado por jornalistas nascidos sob o signo da independência e condenados a amar a verdade acima de todas as coisas parece perturbadoramente acanhado. É mesmo diminuto, mas não há motivos para inquietação.

Os integrantes dessa linhagem nunca foram muitos. Mas cada um vale por uma multidão, comprova Merval Pereira em Mensalão – O dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil (Editora Record; 285 páginas; 34,90 reais). “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, ensinou Cláudio Abramo.

É o que Merval tem feito há mais de 40 anos, ao longo dos quais brilhou como repórter de campo ou exercendo cargos de chefia nas Organizações Globo, no Jornal do Brasil e em VEJA. É o que faz todos os dias em sua coluna no Globo e nos comentários para a GloboNews e para a rádio CBN. Foi o que fez durante os quatro meses e meio em que milhões de brasileiros acompanharam ─ primeiro com ceticismo, em seguida com esperança, enfim com justificado entusiasmo ─ o julgamento da quadrilha que tentou a captura do Estado Democrático de Direito até ser desbaratada em meados de 2005.

Aos 63 anos, eleito há quase dois para a Academia Brasileira de Letras, o jornalista carioca reconstitui essa metamorfose fascinante no livro que reúne 86 artigos publicados na página 4 do Globo, precedidos por um pedagógico prefácio do ex-ministro Carlos Ayres Britto e completados por dois textos, até agora inéditos, que induzem o mais descrente dos leitores a acreditar que o Brasil nunca mais será o mesmo. Começou a mudar ─ para melhor.

Como adverte o posfácio, nenhuma decisão judicial é capaz de iluminar da noite para o dia a face escura de um país. Se no Brasil Maravilha que Lula inventou é possível até erradicar a miséria por decreto, no Brasil real os avanços são mais demorados. O Supremo não erradicou a corrupção. Ao condenar uma organização criminosa comandada por figurões federais, contudo, revogou a norma não escrita segundo a qual alguns são mais iguais que os outros, embora todos sejam iguais perante a lei.

Ao contrário do miserável-brasileiro, o brasileiro corrupto não virou uma espécie extinta. Mas ninguém mais pode considerar-se condenado à perpétua impunidade. Veja-se o escândalo protagonizado por Rosemary Noronha e seus comparsas. Um jipe doado a um dirigente do PT por serviços prestados a uma empresa privada, exemplifica Merval, “equivale à operação plástica para a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, em troca talvez de uma audiência marcada”.

Nem existem diferenças notáveis, lembra o autor, entre arranjar emprego para a ex-mulher do político poderoso ou premiar com um cruzeiro marítimo a secretária que diz que conversa com o ex-presidente todos os dias. O caso Rose sugere que o país é o de sempre. Visto de perto, informa aos gritos que as coisas mudaram.

Há um ano, como demonstra o livro, Lula estava em campanha para adiar o julgamento do mensalão ou absolver todos os culpados. Confiante no apoio de gente que nomeou, como o presidente Ayres Britto ou o relator Joaquim Barbosa, enxergou subordinados obedientes onde havia juízes honrados. Decidido a ganhar de goleada, recorreu à chantagem para enquadrar Gilmar Mendes. A vítima do achaque contou o que acontecera e Lula preferiu acompanhar o julgamento pela TV Justiça.

Atropelado em novembro pela Operação Porto Seguro, que apurou as bandalheiras da turma de Rose, o mais falante dos palanqueiros foge da história há mais de três meses. “Depois do julgamento do mensalão, há mais chance de o poderoso de plantão, apanhado com a boca na botija, pagar por seus crimes, até mesmo na cadeia”, constata Merval. É verdade, confirma a estridente mudez de Lula.

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