Corporativismo faz Patriota enviar nova missão a Sydney
FSP, domingo, 07 / abril / 2013 | Caderno - Política
Insatisfeito com a sindicância instaurada para apurar denúncias de assédio moral contra o cônsul-geral brasileiro na cidade australiana, ministro cria comissão
Insatisfeito com a condução na apuração das denúncias de assédio moral contra Américo Dyott Fontenelle, cônsul-geral do Brasil na cidade australiana de Sydney, chefiada por Roberto Abdalla, embaixador do Brasil no Kuwait, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, resolveu agir. Ordenou, na última quarta-feira, que uma nova missão, composta por um conselheiro, um oficial de chancelaria e um assistente de chancelaria, fosse ao Consulado do Brasil em Sydney para a realização de novas investigações.
O conselheiro Adriano Silva Pucci chefiará as novas diligências. Será auxiliado pela oficial de Chancelaria Thálita Billerbeck e o assistente Guilherme Santana. Os funcionários serão ouvidos nos dias 15 e 16 deste mês. A determinação do ministro é para que todos os servidores estejam presentes nestas datas no local de trabalho.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) já encaminhou ao consulado comunicado reservado, ao qual o Correio teve acesso. Na prática, é um recado direto do ministro contra o corporativismo dos primeiros relatórios de Abdalla. Nos corredores do consulado do Brasil em Sydney, Abdalla é chamado de “embaixador abafa”.
Patriota esperava ser questionado a respeito do assunto pelos senadores, quarta-feira, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado. No entanto, o assunto não foi abordado.
Diante do corporativismo com que as investigações eram conduzidas, resolveu reformular a Comissão de Ética do Itaramaty. Inicialmente, era composta apenas por diplomatas. Na reformulação da equipe, um assistente de chancelaria será designado membro da comissão e um oficial de chancelaria, secretário executivo. O colegiado presta informações das investigações que conduz à Presidência da República.
Humilhações
Em duas denúncias encaminhadas ao Ministério das Relações Exteriores, o cônsul Américo Dyott Fontenelle é acusado de intimidar, humilhar e agredir subordinados verbalmente. O “caso Fontenelle” foi o estopim para o primeiro protesto contra assédio moral do Itamaraty, em fevereiro, e ajudou a tornar públicas denúncias informais de assédio moral, vindas de diferentes embaixadas do Brasil no exterior, que nunca haviam extrapolado os muros da instituição.
Antes de chegar a Sydney, o cônsul Américo Fontenelle já havia sido investigado por assédio moral em 2007, mas a sindicância foi arquivada pela “extrema dificuldade de se obterem provas materiais”, apesar dos “elementos testemunhais relevantes”.
No pedido de abertura de investigação disciplinar, é relatado que “a prática reiterada dos múltiplos tipos de assédio” provocaram pedidos de demissão de oito contratados locais e a “remoção prematura” de seis funcionários do quadro permanente nos últimos dois anos.
Abdalla comunicou ao Correio que não poderia falar porque a investigação estava em curso. Fontenelle afirmou, por e-mail, que também não poderia se pronunciar. Relatou apenas que era inocente.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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Um comentário:
O primeiro relatório, de Toronto, não me lembro de que Embaixador, foi um insulto. Dizia "há testemunhos fortes, mas testemunho não prova nada, então vamos arquivar". Ora, se testemunhos já estão excluídos a priori, sem valor de prova, nem se precisava ter mandado uma missão de investigação. Fica estabelecido que ou se apresentam imagens filmadas, e-mails, etc., ou a denúncia nem vai ser acolhida. Não sei se alguém à época percebeu o absurdo disso.
E agora essa. Chatíssimo para o Embaixador Abdalla, uma pessoa respeitada, ter sido exposto dessa forma. Ao que parece, havia apresentado internamente um relatório final tipo "pizza", igual ao de Toronto, a despeito dos depoimentos contundentes (e até comoventes). Mas por quê? Achou que era isso que se esperava dele?
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