Primeiro, Merval, depois Moreno, para assuntos que não têm absolutamente nada a ver com este blog, e que na verdade me repugnam.
Mas se destina, simplesmente, a registrar para a História, o quão baixo descemos na republiqueta dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida
Merval Pereira, O Globo, 28/04/2013
Os bastidores do processo administrativo disciplinar desencadeado desde fevereiro deste ano pela Controladoria Geral da União (CGU), vinculada à Presidência da República, contra Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo e “amiga íntima” do ex-presidente Lula, estão agitados.
As informações são de que Rose está inquieta, considera-se injustiçada e abandonada, e, assim como o núcleo petista ligado ao ex-presidente Lula, não perdoa a forma “implacável e fria” como a presidenta Dilma vem tratando muitos “companheiros”, não apenas no caso do mensalão, mas, sobretudo, pela maneira com que abraçou a bandeira de suposto combate à “corrupção”, atingindo importantes quadros do partido, entre os quais ela se insere.
O que se comenta nesses meios petistas é que a presidente só poupa quem lhe é conveniente, como no caso de sua amiga Erenice Guerra, que atua com desenvoltura em Brasília após ter sido exonerada da chefia da Casa Civil por tráfico de influência, ou no dos políticos do PR e do PDT que retornaram ao governo depois de enxotados por corrupção.
Muito citado ainda o caso do ministro Fernando Pimentel, que, mesmo sem ter explicado o dinheiro recebido em consultorias, foi tratado com benevolência pela presidente.
Desde a instauração da sindicância, as notícias têm vazado, o que revelaria, na opinião dela, interesse na deterioração de sua imagem, atingindo diretamente o próprio Lula e José Dirceu, pessoas próximas a Rose, como é conhecida. E a CGU tem sido implacável em detalhes até surpreendentes para ela.
O que irritou, de modo mais específico, Rosemary nos últimos vazamentos foi a notícia de que teria sido apreendida em seu poder a quantia de 33 mil reais em moeda sul-coreana (won), quando, segundo ela, consta do auto de apreensão a quantia de 33 mil won, o que faria toda a diferença. Essa quantia seria algo equivalente a um cafezinho na Coreia do Sul, como dez reais.
Foi apreendida ainda uma quantia em dólares (cerca de 20 mil) que, segundo Rosemary, fora comprada licitamente para uma viagem à Disney que faria em dezembro. Apesar do alto poder aquisitivo demonstrado nessa compra antecipada de dólares, Rose garante que todos os seus recursos estão declarados e nega enriquecimento ilícito.
Rosemary também demonstra indignação com a divulgação de sua hospedagem na embaixada em Roma como se tivesse cometido algum ilícito. Alega que essas hospedagens são comuns e que esteve lá na condição de amiga do ex-embaixador do Brasil em Roma José Viegas, ex-ministro da Defesa de Lula.
A defesa de Rosemary, aliás, está disposta a pedir o levantamento das pessoas que teriam se hospedado em todas as embaixadas brasileiras no exterior na gestão da presidenta Dilma, para averiguar se houve situações análogas, de modo a garantir a isonomia de tratamento.
Vários altos funcionários da República, como o ministro Gilberto Carvalho (ex-chefe de Rosemary), Beto Vasconcelos (número dois da Casa Civil) ou Erenice Guerra (ex-ministra da Casa Civil), foram arrolados pela defesa, o que possivelmente demonstra uma estratégia de esmiuçar os meandros da administração pública federal no tocante ao conceito de tráfico de influência, de que Rosemary é acusada.
Rosemary teria atuado para a nomeação de uma desembargadora e diretores da Agência Nacional de Águas e da Agência Nacional de Aviação Civil, e intermediado diversos negócios.
Seguindo o mesmo raciocínio dos “companheiros” de mensalão, Rosemary tem dito que sempre fez o que é comum em Brasília.
Segundo sua defesa, as ações estão “absolutamente dentro da cultura político-institucional brasileira, que demanda essa espécie de contato”. Se o processo administrativo disciplinar contra Rosemary vingar, ela não poderá mais fazer parte do serviço público federal, e certamente uma sanção terá desdobramentos muito negativos no processo penal a que responde.
Daí porque causa a Rosemary surpresa a fúria punitiva com que se lança o próprio governo federal contra ela. Ela identifica a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, como a responsável pelo rigor da investigação, e o núcleo petista que reclama disso vê na ministra e em seu marido, o ministro Paulo Bernardo, traços de deslealdade.
Até que ponto Rosemary aceitará passivamente servir de bode expiatório? Ou a presidenta Dilma não comanda seus burocratas, e as instituições atuam sob o comando de outros personagens? Rosemary não acredita nisso.
Enviado por Jorge Bastos Moreno - O Globo, 28.4.2013 / 14h58m
Rose fala
Eu e a minha mania de tentar interpretar matérias alheias, mas sem o subalterno interesse de desconstruí-las. No jornalismo, onde a inveja prevalece às vezes mais do que em outras profissões, é comum, diante de uma reportagem bombástica, como a de hoje do Merval, o exercício da desqualificação.
Claro que não vai acontecer isso porque Merval é Merval. É merecidamente do andar de cima. É mestre da notícia. Se ele pensa diferentemente do PT, nada o impede de buscar a informação, não importa onde esteja e nem que seja favorecido ou desfavorecido por ela, como fez agora, ao dar ouvidos jornalísticos a uma dileta amiga do ex-presidente Lula.
Ponto.
Mesmo assim, nós, a patuléia do jornalismo, não podemos de chamar a atenção para um fato: se foi a Rose, diretamente, ou através do advogado, que procurou o Merval ou, o que também é bem provável, Merval, com seu faro jornalístico, , soube que ali tinha notícia, não importa, a verdade é que ela está bem assessorada. Cliente e advogado, por mais que estejam antenados, por eles próprios, não saberiam escolher o repórter certo para a notícia certa. Escolheram ou foram escolhidos por alguém de extrema credibilidade e conceito. Logo, há um dedo político assessorando os dois. Falar com Merval é falar hoje com a média dos formadores de opinião.
Escrevo isto aqui agora, às duas e meia da tarde, e as repercussões da coluna do Merval varrem o país, como a matéria mais importante da mídia, não só deste domingo, como das últimas semanas, envolvendo o caso Rose.
Se alguém me perguntar, como já fizeram hoje dezenas de leitores e amigos, o que eu destacaria de mais importante nessa matéria, eu, repórter de varejo, diria: a denúncia de que há farras de brasileiros se hospedando em embaixadas mundo afora. Rose, quando sugere que se investigue, já tem vários nomes que, como disse, são capazes de escandalizar a República.
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