Isso me faz lembrar os tempos de Lima Barreto (que acho que começou a beber e ficou louco de tanta loucura contemplada), autor de memoráveis palavras sinceras (ainda que trágico-cômicas) sobre nossa República tão infeliz. Acho que vamos pelo mesmo caminho, na literatura e na vida real.
Espero não ter o mesmo destino de Lima Barreto, não sem antes escrever algumas páginas tão memoráveis quanto as que ele redigiu naqueles tempos confusos...
E agora? Seria trágico-cômico, ou cômico-trágico?
Paulo Roberto de Almeida
“Os grupos de juventude apresentaram a Dilma uma variada pauta de reivindicações, que passa pela taxação de grandes fortunas, descriminalização do aborto, repressão à violência policial e mais investimentos em políticas para os jovens. O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), se comprometeu a enviar para a presidente um relatório sobre os excessos cometidos pela polícia durante as manifestações país afora.”
Conselho Nacional de Juventude (Conjure), UBES, Movimento Sem-Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Marcha Mundial das Mulheres, Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Levante Popular da Juventude, Rede Fale, Hip Hop, Forum de Juventude de BH, União da Juventude Socialista (UJS), Juventude do PT (JPT), UPL, JSB, JSPDT, JPMDB, UNE, PJ, CTB, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Marcha das Vadias, Fora do Eixo e Agência Solano Trindade.
A presidente recebeu também representantes do movimento gay e se disse contra qualquer discriminação — ainda bem! Leio no Globo Online o que segue em vermelho. Volto em seguida:
(…)
Representantes de movimentos gays recebidos pela presidente disseram que saem satisfeitos com o encontro. Segundo eles, a presidente disse que é dever do Estado impedir violência e discriminação contra à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Os participantes disseram, no entanto, que quando eles criticaram o polêmico projeto que propõe a “cura gay”, que tramita no Congresso, Dilma não se pronunciou sobre o assunto.
“Saímos daqui felizes. A presidente disse que o Estado tem o dever de impedir a violência e a discriminação de qualquer natureza”, disse Toni Reis, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
O grupo levou à presidente uma pauta que pede, entre outras coisas, a criminalização da homofobia. Presente ao encontro, a ministra da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, disse que Dilma cobrou iniciativas para aumentar as estatísticas existentes sobre a violência praticada contra esses grupos.
(…)
É impressionante que a imprensa continue a reportar a existência de um projeto de “cura gay”. Isso não existe. A verdade é bem outra, como já deixei claro aqui. Algumas pessoas se irritam quando confrontadas com os fatos? Fazer o quê? Acredito que sua causa pode conviver com os fatos. O projeto contra a homofobia é o PLC 122, que continua autoritário mesmo na versão versão de Marta Suplicy. “Ah, não adianta você criticar porque o primeiro vai ser recusado, e o segundo aprovado”, escreveu anteontem um rapaz, que me dirigiu algumas ofensas. Ainda que seja assim, por que eu deveria dizer que existe um projeto que não existe e que é democrática uma proposta autoritária? Eu não escrevo para ganhar ou perder. Nem ganho nem perco nada. Escrevo o que acho que devo escrever. Não vou endossar uma inverdade só para não chatear as pessoas… Convenham, não é? Os militantes da causa não precisam do meu apoio. Já contam com a esmagadora maioria da imprensa a seu favor.
Conforme venho afirmando desde a segunda, dia 17, quando teve início, digamos assim, a nacionalização dos protestos, os vetores políticos todos passaram a apontar para, como é mesmo?, o “progressismo”!
Um comentário:
Parodiando Machado de Assis, o Brasil atual mereceria um conto intitulado "A Surrealista República". Os debates políticos, as manifestações públicas, as retóricas de todos os gêneros de escrevinhadores (o mais das vezes tão explosivas quanto bombas de chocolate)são de transformar Dali num paisagista clássico.
Há um trecho do romance As Naus, do genial português António Lobo Antunes, que me fez rir escandalosamente, como é de meu feitio. O narrador nos descreve a cena de Dom Manuel, o Venturoso, dirigindo um velho ford, sendo parado por uma blitz. Ele tenta explicar pacientemente ao policial que ele é o rei de Portugal, exibindo velhos pergaminhos à autoridade de trânsito, mas tudo é em vão: Dom Manuel é obrigado a soprar o bafômetro como qualquer cidadão português. No banco de trás do ford, a púrpura e o arminho da capa do rei observam a cena com a aura de um certo tédio.
A criatividade de Lobo Antunes sempre fornece "um plus a mais" à minha imaginação plagiadora. Criemos, na mente e em palavras, a seguinte cena: A chefe das vadias aguarda, ao lado do papa Francisco, uma audiência com nossa presidente. A presidente Ladies-First manda entrar a vadia mor em primeiro lugar. O papa pode esperar. E enquanto espera, pode perfeitamente benzer os animaizinhos de estimação do Planalto, bebendo caipirinha feita com 51 (cachaça mineira é luxo demais para quem é) e ouvindo rumba cubana em vez de um depressivo tango negro.
Sem imaginação literária não se sobrevive no Brasil atual.
Mas tem uma coisa, falando só um pouquinho sério: se é verdade que cura gay é o que há de ridículo, por outro lado, o conceito de perversidade para Freud (perversidade do sentido de desvio, sem nenhuma conotação moral pejorativa)inclui a homossexualidade no seu amplo território.
Ser hetero é mais fácil, além de ser mais funcional do que ser homo. A natureza exige procriação para perseverar. Isto seria discutível?
Eu sou diabética, em parte devido à carga genética herdada por mim. Trata-se de uma doença auto-imune. Daí será que posso dizer que meu organismo é tão saudável quanto um outro que não tem problemas na condução da glicose para o organismo?
Ai, ai... Muita ideologia e pouca filosofia, os males do Brasil são!
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